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West-fall

24.06.10
A influência que as obras de Bernardo de Brito e Florião do Campo (ou Floriano de Ocampo) tiveram na cultura portuguesa e ibérica é importantíssima.
Mito ou não, a lenda do fundador Tubal, neto de Noé, influenciou a cultura ibérica durante toda a Idade Moderna, e só foi abandonada, diria mesmo anulada, já na Idade Contemporânea.
Qualquer historiador sério não pode estudar a literatura e a mentalidade entre os séculos XV a XVIII sem ter em atenção os mitos que se fortaleciam com a afirmação da identidade ibérica, fruto da expansão dos descobrimentos. 
Hoje temos ainda algumas obras que referem Floriano de Ocampo como um propagandista ao serviço de Filipe II e dos Habsburgos... é natural que sim, mas uma coisa é analisar criticamente a obra, outra coisa é ignorar qualquer referência, como se o assunto não tivesse existido. Ainda hoje os registos evidenciam que tocar nesse assunto tem aspecto de "doença contagiosa" que se evita, ou se toca com muita precaução e desdém!
10º Trabalho: Hércules contra Gerião (monstro de 3 corpos)
[os 3 corpos seriam os filhos de Gerião]
[imagem]

Com a derrota dos Habsburgos na Guerra dos Trinta Anos, e com o Tratado de Westphalia (1648), para além da balcanização da Alemanha (a chamada Deutsche Welle), a Espanha dos Habsburgos acabou por ceder o seu papel de grande potência mundial para a França, Holanda, Suécia e Dinamarca... Após o Tratado dos Pirinéus (1659), esta paz entre França e Espanha deixou o restaurado Portugal numa situação de fragilidade perante as novas potências, depois de 80 anos sem autonomia militar.
Esta situação foi ainda sentida internamente em Portugal, traduzindo-se numa procura de apoio na Inglaterra, com o casamento de D. Catarina de Bragança e Charles II de Inglaterra, e também numa guerra interna entre os irmãos D. Afonso VI e D. Pedro II. 
Tal como o Infante Duarte de Bragança foi sacrificado, também D. Afonso VI acabou por morrer em cativeiro, sendo mais uma vítima dessa Paz de Vestfália, decidida a reescrever a História mundial. 
A partir de D. Pedro II, seria claro que Portugal não iria arriscar de novo a sua perda de independência com guerras desnecessárias. Contaria com a diplomacia e com uma política de alianças europeia, que foi especialmente fortalecida com o Tratado de Methuen (1703), mas nunca mais teve uma armada capaz de ser ofensiva, limitando-se a gerir com dificuldade a defesa dos já imensos territórios.
O aspecto mais sinistro desta história não terá sido tanto o fim da independência, mas muito mais o fim da memória colectiva... Não foi uma alteração significativa, no sentido em que essa perda de memória ocorrera já no acordo de D. Manuel com os Reis Católicos, e depois com os Habsburgos espanhóis... a América perdera-se progressivamente, e só D. Sebastião terá tentado restaurar essa independência, de forma intempestiva, com as consequências conhecidas.

Após a queda do Império Romano, a História tinha sido reescrita pelos sucessores Godos, incapazes de aceitar o legado cultural dos ocupados, superior ao dos ocupantes. Esta terá sido a primeira Revolução Cultural, para um apagamento da memória. A situação parece de tal forma caricata, que a roda era uma invenção menosprezada para a locomoção da nobreza e combate, sendo usada mais pelo povo nos seus trabalhos.
O Renascimento, iniciado na Alta Idade Média, especialmente após as Cruzadas, e a influência árabe peninsular, levou a alguma mudança de mentalidades, e a um reencontro com toda a mitologia e herança cultural deixada pelos Romanos e Gregos. Esse reencontro foi tímido, lento, e algo escondido do poder e valores culturais instituídos... Terá tido talvez a maior expressão em Portugal após o Infante D. Pedro até D. João II, mas depois a influência dominante abafadora manteve-se pelo apoio generalizado ao papado, e pelo chancelado poder dos Habsburgos. 
A Paz de Vestfália irá terminar isso, parecendo haver uma decisão de reescrever a História... mas no sentido também de omitir parte dos legados do Renascimento, ibéricos, e de outras culturas orientais, distribuindo as descobertas pelos diversos novos vencedores. Apesar de tudo, entra em curso mais uma Revolução Cultural do Esquecimento, de apropriação de conhecimento alheio, chancelado sob a forma de descoberta, quando aceite e divulgada pelos demais. Terá sido assim com uma parte das navegações portuguesas (e da antiguidade), mas também com outras descobertas técnicas e científicas orientais. 
Até hoje essa história foi assim colada, mantendo-se esse acordo de omissão!

A escravatura surge aqui como elemento condutor perturbante. Sendo característica da antiguidade, será de perguntar em que altura da História os descendentes dos escravos romanos se libertaram dessa sua condição de classe inferior?
A República Romana sofreu três revoltas de escravos, sendo a de Spartacus, a que teve a mais profunda influência, por ter sido a última e a que mais ameaçou a solidez da República. A revolta acabou por ser contida e reprimida de forma exemplar, com a crucificação dos milhares de sobreviventes ao longo da Via Ápia. Essa decisão de Marco Licínio Crasso, é na minha opinião a verdadeira razão para a expressão "Erro Crasso". Porquê? Porque a cruz passou a ser um símbolo entre as centenas de milhares de escravos, que viam de forma revoltada o destino que Roma lhes reservava. A situação deverá ter passado a ser muito instável... pequenas cruzes passariam de mão em mão, simbolizando uma nova revolta iminente. Exactamente ao mesmo tempo a República precisou de poderes ditatoriais, conferidos ao triunvirato com César, e depois seguir-se-à a época Imperial. A república acaba por sucumbir a essa necessidade de mão forte, e os imperadores acabam por instituir a filosofia do "pão e circo".
A sociedade romana torna-se mais violenta, para conter a possibilidade de nova revolta. Mas, ao mesmo tempo, por via da universalização da religião cristã por Paulo de Tarso (São Paulo), os escravos acabam por aceitar uma filosofia completamente diferente que se irá impor como estratégia inteligente. A cruz representando a ira, contra a chacina da Via Ápia, passa a representar uma cruz de abnegação, de uma religião que promove o sacrifício e a submissão... o ideal para uma religião de escravos! Não será acidental que a Via Ápia contenha muitas das sepulturas dos primeiros cristãos. A filosofia cristã estabiliza o Império e acaba por impor-se dentro da sua estrutura a partir de Constantino. Será talvez por isso que a revolta de Spartacus será a última revolta significativa de escravos, esse pilar base da sociedade romana resignara-se culturalmente à sua condição, por influência da religião.

O fim do Império Romano terminou com a Escravatura, mas substitui-a de facto pela Servidão. Uma forma dissimulada de escravatura generalizada que imperou na Idade Média, com uma pequena aristocracia dominante. O crescimento do comércio simbolizado pelas Repúblicas italianas (Veneza, e também Génova, Florença...), por Portugal (com a Rés-pública), e depois pela Holanda, fez crescer uma pressão da nova burguesia sobre a aristocracia europeia.
O problema da República acabou por ser de novo colocado, primeiro com Cromwell na Inglaterra, mas tal como com Napoleão em França, e com as jovens repúblicas do Século XX, todas acabaram por evoluir no sentido de guerras civis, seguidas de poder despótico (outros casos são - Lenine na Rússia, Mussolini na Itália, Salazar em Portugal, Hitler na Alemanha, Franco em Espanha). Os "jovens" republicanos ao chegar ao poder não têm hipótese de segurar os jogos de bastidores, com toda a rede de segredos e cumplicidades na aristocracia estabelecida. Só o conseguirão fazer após a 2ª Guerra Mundial com o apoio de uma grande república (os E.U.A.), que floresceu fora da influência directa da Europa, e com o apoio necessário de uma "organização de bastidores iluminista", que retomou a herança secreta dos templários, e que foi aprendendo com os erros da Revolução Francesa e sucedâneos.
A consequência foi também o final da época mítica da tradição da cavalaria, os registos antigos e as tradições populares foram sacrificados ao pragmático sucesso da Revolução Industrial. Como Wagner ilustrou de forma épica, ficariam enterrados no Crepúsculo dos Deuses, os mitos antigos, como Artur e a Távola Redonda, Parseval e Lohengrin, Tristão e Isolda, e tantos outros conhecidos, e outros depois desconhecidos, como Tubal, Ibero, Hércules, Luso, etc... bem como todo o registo de navegações oceânicas de Ulisses, Salomão, Ptolomeu, etc...
É essa pesada herança de ocultação que pesa ainda sobre o mundo contemporâneo!

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publicado às 08:23

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24.06.10
A influência que as obras de Bernardo de Brito e Florião do Campo (ou Floriano de Ocampo) tiveram na cultura portuguesa e ibérica é importantíssima.
Mito ou não, a lenda do fundador Tubal, neto de Noé, influenciou a cultura ibérica durante toda a Idade Moderna, e só foi abandonada, diria mesmo anulada, já na Idade Contemporânea.
Qualquer historiador sério não pode estudar a literatura e a mentalidade entre os séculos XV a XVIII sem ter em atenção os mitos que se fortaleciam com a afirmação da identidade ibérica, fruto da expansão dos descobrimentos. 
Hoje temos ainda algumas obras que referem Floriano de Ocampo como um propagandista ao serviço de Filipe II e dos Habsburgos... é natural que sim, mas uma coisa é analisar criticamente a obra, outra coisa é ignorar qualquer referência, como se o assunto não tivesse existido. Ainda hoje os registos evidenciam que tocar nesse assunto tem aspecto de "doença contagiosa" que se evita, ou se toca com muita precaução e desdém!
10º Trabalho: Hércules contra Gerião (monstro de 3 corpos)
[os 3 corpos seriam os filhos de Gerião]
[imagem]

Com a derrota dos Habsburgos na Guerra dos Trinta Anos, e com o Tratado de Westphalia (1648), para além da balcanização da Alemanha (a chamada Deutsche Welle), a Espanha dos Habsburgos acabou por ceder o seu papel de grande potência mundial para a França, Holanda, Suécia e Dinamarca... Após o Tratado dos Pirinéus (1659), esta paz entre França e Espanha deixou o restaurado Portugal numa situação de fragilidade perante as novas potências, depois de 80 anos sem autonomia militar.
Esta situação foi ainda sentida internamente em Portugal, traduzindo-se numa procura de apoio na Inglaterra, com o casamento de D. Catarina de Bragança e Charles II de Inglaterra, e também numa guerra interna entre os irmãos D. Afonso VI e D. Pedro II. 
Tal como o Infante Duarte de Bragança foi sacrificado, também D. Afonso VI acabou por morrer em cativeiro, sendo mais uma vítima dessa Paz de Vestfália, decidida a reescrever a História mundial. 
A partir de D. Pedro II, seria claro que Portugal não iria arriscar de novo a sua perda de independência com guerras desnecessárias. Contaria com a diplomacia e com uma política de alianças europeia, que foi especialmente fortalecida com o Tratado de Methuen (1703), mas nunca mais teve uma armada capaz de ser ofensiva, limitando-se a gerir com dificuldade a defesa dos já imensos territórios.
O aspecto mais sinistro desta história não terá sido tanto o fim da independência, mas muito mais o fim da memória colectiva... Não foi uma alteração significativa, no sentido em que essa perda de memória ocorrera já no acordo de D. Manuel com os Reis Católicos, e depois com os Habsburgos espanhóis... a América perdera-se progressivamente, e só D. Sebastião terá tentado restaurar essa independência, de forma intempestiva, com as consequências conhecidas.

Após a queda do Império Romano, a História tinha sido reescrita pelos sucessores Godos, incapazes de aceitar o legado cultural dos ocupados, superior ao dos ocupantes. Esta terá sido a primeira Revolução Cultural, para um apagamento da memória. A situação parece de tal forma caricata, que a roda era uma invenção menosprezada para a locomoção da nobreza e combate, sendo usada mais pelo povo nos seus trabalhos.
O Renascimento, iniciado na Alta Idade Média, especialmente após as Cruzadas, e a influência árabe peninsular, levou a alguma mudança de mentalidades, e a um reencontro com toda a mitologia e herança cultural deixada pelos Romanos e Gregos. Esse reencontro foi tímido, lento, e algo escondido do poder e valores culturais instituídos... Terá tido talvez a maior expressão em Portugal após o Infante D. Pedro até D. João II, mas depois a influência dominante abafadora manteve-se pelo apoio generalizado ao papado, e pelo chancelado poder dos Habsburgos. 
A Paz de Vestfália irá terminar isso, parecendo haver uma decisão de reescrever a História... mas no sentido também de omitir parte dos legados do Renascimento, ibéricos, e de outras culturas orientais, distribuindo as descobertas pelos diversos novos vencedores. Apesar de tudo, entra em curso mais uma Revolução Cultural do Esquecimento, de apropriação de conhecimento alheio, chancelado sob a forma de descoberta, quando aceite e divulgada pelos demais. Terá sido assim com uma parte das navegações portuguesas (e da antiguidade), mas também com outras descobertas técnicas e científicas orientais. 
Até hoje essa história foi assim colada, mantendo-se esse acordo de omissão!

A escravatura surge aqui como elemento condutor perturbante. Sendo característica da antiguidade, será de perguntar em que altura da História os descendentes dos escravos romanos se libertaram dessa sua condição de classe inferior?
A República Romana sofreu três revoltas de escravos, sendo a de Spartacus, a que teve a mais profunda influência, por ter sido a última e a que mais ameaçou a solidez da República. A revolta acabou por ser contida e reprimida de forma exemplar, com a crucificação dos milhares de sobreviventes ao longo da Via Ápia. Essa decisão de Marco Licínio Crasso, é na minha opinião a verdadeira razão para a expressão "Erro Crasso". Porquê? Porque a cruz passou a ser um símbolo entre as centenas de milhares de escravos, que viam de forma revoltada o destino que Roma lhes reservava. A situação deverá ter passado a ser muito instável... pequenas cruzes passariam de mão em mão, simbolizando uma nova revolta iminente. Exactamente ao mesmo tempo a República precisou de poderes ditatoriais, conferidos ao triunvirato com César, e depois seguir-se-à a época Imperial. A república acaba por sucumbir a essa necessidade de mão forte, e os imperadores acabam por instituir a filosofia do "pão e circo".
A sociedade romana torna-se mais violenta, para conter a possibilidade de nova revolta. Mas, ao mesmo tempo, por via da universalização da religião cristã por Paulo de Tarso (São Paulo), os escravos acabam por aceitar uma filosofia completamente diferente que se irá impor como estratégia inteligente. A cruz representando a ira, contra a chacina da Via Ápia, passa a representar uma cruz de abnegação, de uma religião que promove o sacrifício e a submissão... o ideal para uma religião de escravos! Não será acidental que a Via Ápia contenha muitas das sepulturas dos primeiros cristãos. A filosofia cristã estabiliza o Império e acaba por impor-se dentro da sua estrutura a partir de Constantino. Será talvez por isso que a revolta de Spartacus será a última revolta significativa de escravos, esse pilar base da sociedade romana resignara-se culturalmente à sua condição, por influência da religião.

O fim do Império Romano terminou com a Escravatura, mas substitui-a de facto pela Servidão. Uma forma dissimulada de escravatura generalizada que imperou na Idade Média, com uma pequena aristocracia dominante. O crescimento do comércio simbolizado pelas Repúblicas italianas (Veneza, e também Génova, Florença...), por Portugal (com a Rés-pública), e depois pela Holanda, fez crescer uma pressão da nova burguesia sobre a aristocracia europeia.
O problema da República acabou por ser de novo colocado, primeiro com Cromwell na Inglaterra, mas tal como com Napoleão em França, e com as jovens repúblicas do Século XX, todas acabaram por evoluir no sentido de guerras civis, seguidas de poder despótico (outros casos são - Lenine na Rússia, Mussolini na Itália, Salazar em Portugal, Hitler na Alemanha, Franco em Espanha). Os "jovens" republicanos ao chegar ao poder não têm hipótese de segurar os jogos de bastidores, com toda a rede de segredos e cumplicidades na aristocracia estabelecida. Só o conseguirão fazer após a 2ª Guerra Mundial com o apoio de uma grande república (os E.U.A.), que floresceu fora da influência directa da Europa, e com o apoio necessário de uma "organização de bastidores iluminista", que retomou a herança secreta dos templários, e que foi aprendendo com os erros da Revolução Francesa e sucedâneos.
A consequência foi também o final da época mítica da tradição da cavalaria, os registos antigos e as tradições populares foram sacrificados ao pragmático sucesso da Revolução Industrial. Como Wagner ilustrou de forma épica, ficariam enterrados no Crepúsculo dos Deuses, os mitos antigos, como Artur e a Távola Redonda, Parseval e Lohengrin, Tristão e Isolda, e tantos outros conhecidos, e outros depois desconhecidos, como Tubal, Ibero, Hércules, Luso, etc... bem como todo o registo de navegações oceânicas de Ulisses, Salomão, Ptolomeu, etc...
É essa pesada herança de ocultação que pesa ainda sobre o mundo contemporâneo!

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West-fall

24.06.10
A influência que as obras de Bernardo de Brito e Florião do Campo (ou Floriano de Ocampo) tiveram na cultura portuguesa e ibérica é importantíssima.
Mito ou não, a lenda do fundador Tubal, neto de Noé, influenciou a cultura ibérica durante toda a Idade Moderna, e só foi abandonada, diria mesmo anulada, já na Idade Contemporânea.
Qualquer historiador sério não pode estudar a literatura e a mentalidade entre os séculos XV a XVIII sem ter em atenção os mitos que se fortaleciam com a afirmação da identidade ibérica, fruto da expansão dos descobrimentos. 
Hoje temos ainda algumas obras que referem Floriano de Ocampo como um propagandista ao serviço de Filipe II e dos Habsburgos... é natural que sim, mas uma coisa é analisar criticamente a obra, outra coisa é ignorar qualquer referência, como se o assunto não tivesse existido. Ainda hoje os registos evidenciam que tocar nesse assunto tem aspecto de "doença contagiosa" que se evita, ou se toca com muita precaução e desdém!
10º Trabalho: Hércules contra Gerião (monstro de 3 corpos)
[os 3 corpos seriam os filhos de Gerião]


Com a derrota dos Habsburgos na Guerra dos Trinta Anos, e com o Tratado de Westphalia (1648), para além da balcanização da Alemanha (a chamada Deutsche Welle), a Espanha dos Habsburgos acabou por ceder o seu papel de grande potência mundial para a França, Holanda, Suécia e Dinamarca... Após o Tratado dos Pirinéus (1659), esta paz entre França e Espanha deixou o restaurado Portugal numa situação de fragilidade perante as novas potências, depois de 80 anos sem autonomia militar.
Esta situação foi ainda sentida internamente em Portugal, traduzindo-se numa procura de apoio na Inglaterra, com o casamento de D. Catarina de Bragança e Charles II de Inglaterra, e também numa guerra interna entre os irmãos D. Afonso VI e D. Pedro II. 
Tal como o Infante Duarte de Bragança foi sacrificado, também D. Afonso VI acabou por morrer em cativeiro, sendo mais uma vítima dessa Paz de Vestfália, decidida a reescrever a História mundial. 
A partir de D. Pedro II, seria claro que Portugal não iria arriscar de novo a sua perda de independência com guerras desnecessárias. Contaria com a diplomacia e com uma política de alianças europeia, que foi especialmente fortalecida com o Tratado de Methuen (1703), mas nunca mais teve uma armada capaz de ser ofensiva, limitando-se a gerir com dificuldade a defesa dos já imensos territórios.
O aspecto mais sinistro desta história não terá sido tanto o fim da independência, mas muito mais o fim da memória colectiva... Não foi uma alteração significativa, no sentido em que essa perda de memória ocorrera já no acordo de D. Manuel com os Reis Católicos, e depois com os Habsburgos espanhóis... a América perdera-se progressivamente, e só D. Sebastião terá tentado restaurar essa independência, de forma intempestiva, com as consequências conhecidas.

Após a queda do Império Romano, a História tinha sido reescrita pelos sucessores Godos, incapazes de aceitar o legado cultural dos ocupados, superior ao dos ocupantes. Esta terá sido a primeira Revolução Cultural, para um apagamento da memória. A situação parece de tal forma caricata, que a roda era uma invenção menosprezada para a locomoção da nobreza e combate, sendo usada mais pelo povo nos seus trabalhos.
O Renascimento, iniciado na Alta Idade Média, especialmente após as Cruzadas, e a influência árabe peninsular, levou a alguma mudança de mentalidades, e a um reencontro com toda a mitologia e herança cultural deixada pelos Romanos e Gregos. Esse reencontro foi tímido, lento, e algo escondido do poder e valores culturais instituídos... Terá tido talvez a maior expressão em Portugal após o Infante D. Pedro até D. João II, mas depois a influência dominante abafadora manteve-se pelo apoio generalizado ao papado, e pelo chancelado poder dos Habsburgos. 
A Paz de Vestfália irá terminar isso, parecendo haver uma decisão de reescrever a História... mas no sentido também de omitir parte dos legados do Renascimento, ibéricos, e de outras culturas orientais, distribuindo as descobertas pelos diversos novos vencedores. Apesar de tudo, entra em curso mais uma Revolução Cultural do Esquecimento, de apropriação de conhecimento alheio, chancelado sob a forma de descoberta, quando aceite e divulgada pelos demais. Terá sido assim com uma parte das navegações portuguesas (e da antiguidade), mas também com outras descobertas técnicas e científicas orientais. 
Até hoje essa história foi assim colada, mantendo-se esse acordo de omissão!

A escravatura surge aqui como elemento condutor perturbante. Sendo característica da antiguidade, será de perguntar em que altura da História os descendentes dos escravos romanos se libertaram dessa sua condição de classe inferior?
A República Romana sofreu três revoltas de escravos, sendo a de Spartacus, a que teve a mais profunda influência, por ter sido a última e a que mais ameaçou a solidez da República. A revolta acabou por ser contida e reprimida de forma exemplar, com a crucificação dos milhares de sobreviventes ao longo da Via Ápia. Essa decisão de Marco Licínio Crasso, é na minha opinião a verdadeira razão para a expressão "Erro Crasso". Porquê? Porque a cruz passou a ser um símbolo entre as centenas de milhares de escravos, que viam de forma revoltada o destino que Roma lhes reservava. A situação deverá ter passado a ser muito instável... pequenas cruzes passariam de mão em mão, simbolizando uma nova revolta iminente. Exactamente ao mesmo tempo a República precisou de poderes ditatoriais, conferidos ao triunvirato com César, e depois seguir-se-à a época Imperial. A república acaba por sucumbir a essa necessidade de mão forte, e os imperadores acabam por instituir a filosofia do "pão e circo".
A sociedade romana torna-se mais violenta, para conter a possibilidade de nova revolta. Mas, ao mesmo tempo, por via da universalização da religião cristã por Paulo de Tarso (São Paulo), os escravos acabam por aceitar uma filosofia completamente diferente que se irá impor como estratégia inteligente. A cruz representando a ira, contra a chacina da Via Ápia, passa a representar uma cruz de abnegação, de uma religião que promove o sacrifício e a submissão... o ideal para uma religião de escravos! Não será acidental que a Via Ápia contenha muitas das sepulturas dos primeiros cristãos. A filosofia cristã estabiliza o Império e acaba por impor-se dentro da sua estrutura a partir de Constantino. Será talvez por isso que a revolta de Spartacus será a última revolta significativa de escravos, esse pilar base da sociedade romana resignara-se culturalmente à sua condição, por influência da religião.

O fim do Império Romano terminou com a Escravatura, mas substitui-a de facto pela Servidão. Uma forma dissimulada de escravatura generalizada que imperou na Idade Média, com uma pequena aristocracia dominante. O crescimento do comércio simbolizado pelas Repúblicas italianas (Veneza, e também Génova, Florença...), por Portugal (com a Rés-pública), e depois pela Holanda, fez crescer uma pressão da nova burguesia sobre a aristocracia europeia.
O problema da República acabou por ser de novo colocado, primeiro com Cromwell na Inglaterra, mas tal como com Napoleão em França, e com as jovens repúblicas do Século XX, todas acabaram por evoluir no sentido de guerras civis, seguidas de poder despótico (outros casos são - Lenine na Rússia, Mussolini na Itália, Salazar em Portugal, Hitler na Alemanha, Franco em Espanha). Os "jovens" republicanos ao chegar ao poder não têm hipótese de segurar os jogos de bastidores, com toda a rede de segredos e cumplicidades na aristocracia estabelecida. Só o conseguirão fazer após a 2ª Guerra Mundial com o apoio de uma grande república (os E.U.A.), que floresceu fora da influência directa da Europa, e com o apoio necessário de uma "organização de bastidores iluminista", que retomou a herança secreta dos templários, e que foi aprendendo com os erros da Revolução Francesa e sucedâneos.
A consequência foi também o final da época mítica da tradição da cavalaria, os registos antigos e as tradições populares foram sacrificados ao pragmático sucesso da Revolução Industrial. Como Wagner ilustrou de forma épica, ficariam enterrados no Crepúsculo dos Deuses, os mitos antigos, como Artur e a Távola Redonda, Parseval e Lohengrin, Tristão e Isolda, e tantos outros conhecidos, e outros depois desconhecidos, como Tubal, Ibero, Hércules, Luso, etc... bem como todo o registo de navegações oceânicas de Ulisses, Salomão, Ptolomeu, etc...
É essa pesada herança de ocultação que pesa ainda sobre o mundo contemporâneo!

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Brito & Bluteau

24.06.10
O padre jesuíta Raphael Bluteau (1638-1734), de ascendência francesa, viveu quase sempre em Portugal, e independentemente doutras considerações, tem uma obra notável:
Vocabulário Portuguez e Latino, (1712-1721)
que é talvez uma das primeiras enciclopédias, e claramente anterior à celebrada obra de Diderot e d'Alembert.
[Só alguns volumes estão disponíveis online: encontrei para as letras: A; B,C; O,P; T,U,V,X,Z]
Acerca da palavra Briga diz o seguinte:
BRIGA. Palavra gótica, que significava ajuntamento de gente, porque os Godos se ajuntavam em certos lugares, para consultarem sobre o modo de se defender sobre os que quisessem agravar. E daqui veio o verbo "Abrigar-se". Cresceram depois estas Brigas e vieram a compor cidades, conservando este mesmo nome, como Meróbriga, Flaviobriga, etc. E por quanto estes ajuntamentos ou Brigas se faziam sem cabeça, e sem pessoa de maior autoridade, à qual se obedecesse, havia nelas confusões (e pendências), que depois foram chamadas Brigas, não só em Hespanha, mas também em Itália, França, Inglaterra, etc. como se pode ver em papéis antigos, com que alega Ch. du Fresne no seu Glossário, explicando a palavra Briga. Diz o P. Fr. Bernardo de Britto, Tom. I da Monarchia Lusitana (fol. 14) que alega com Beroso, e outros antigos autores, que todas as cidades de Portugal e outras de Espanha, cujos nomes acabavam em Briga, como Lacobriga, no Algarve junto donde está agora a Vila de Lagos, Cetobriga, perto de Setuval, Medrobriga, junto a Portalegre, etc., adquiriram este nome em memória de Brigo, filho d'el Rey Jubalda, o qual sucedeu no Reino a seu pai, foi Senhor de Hespanha, e teve particular amor aos Lusitanos. Hoje entre nós Briga vem a ser o mesmo que Peleja. Pugna, Fem. Cic. Concertatio,onis. Fem. Terent. Houve uma grande briga: Magna pugna faita est.  (...) Briga de palavras: Rixa (...)

Esta descrição de Bluteau é particularmente interessante. Para além da variada informação, que chega a ser curiosa nos conceitos "briga", "rixa", "abrigar", mostra já a concepção jesuíta francesa de du Fresne que confrontava a versão portuguesa de Bernardo de Brito na sua monumental:
Monarchia Lusitana
Bluteau não subtrai a informação de Brito, como acontecerá posteriormente. Nesta fase, início do Séc. XVIII, há ainda lugar às duas informações, mas nota-se já que o processo de "Revolução Cultural" está em curso... e passado pouco mais de um século, Alexandre Herculano terminará a tarefa, ignorando por completo qualquer informação baseada nos antigos cronistas.
Vejamos ainda como a tese de Du Fresne tem falhas óbvias... se o sufixo "briga" tivesse a sua origem nos Godos, então não se compreenderia a sua presença no nome de cidades na Hispânia, nomes adoptados pelos romanos, muito antes da chegada dos Godos. Poderia haver uma mistura entre as noções de Celtas e Godos sob uma mesma designação, mas Bluteau identifica distintamente os Celtas, colocando-os na Gália, também no Alentejo e Andaluzia, e dizendo que os Romanos lhes chamavam simplesmente Gallos.
Conclui-se assim que, por altura de Luis XIV, foi iniciada uma tentativa de história alternativa, identificada nesta passagem. Não muito sólida inicialmente, como constatamos nesta simples incoerência, mas que foi progressivamente corrigida, substituindo as versões anteriores.
Centocellas (perto de Belmonte)
Raphael Bluteau fala ainda de Centum Cellas.
CENTOCELLAS. Lugar da Lusitânia, tão antigo que dele faz menção Luitprando (c. 960) nos fragmentos (num. 255). Segunda a imemorial tradição este lugar é do Bispado da Guarda, junto ao rio Zêzere, perto de Belmonte, onde permanece a antiquissima Ermida de S. Cornélio, vizinha a uma Torre Quadrada de obra Romana, rasgada em muitas janelas, e acompanhada de várias e antigas ruínas, célebres vestígios de uma grande povoação. A cujo sítio chamam ainda hoje os vizinhos Centocellas, e afirmam, que este foi o lugar do desterro de São Cornélio (c. 250), e aquela Torre é aonde esteve preso, em cuja memória se erigiu a Ermida de seu nome. Vide Mon. Lusit. tom. 2. fol. 116.
De facto, Bernardo de Brito diz basicamente isso, no segundo volume (pág. 159) constante na Torre do Tombo:

... No Bispado da Guarda, junto ao Rio Zêzere, está uma Ermida antiga deste Santo, e junto dela uma torre de obra Romana, cercada de muitas janelas, onde há pedras de grandeza considerável, e havia outras que dali têm levado para várias partes, a qual obra se chama até hoje Centocellas, e querem afirmar os moradores daquela terra, que de tradição imemorial de seus antepassados, lhe ficou, ser aquela torre a própria em que S. Cornélio esteve desterrado e preso. Refiro o que há, que afirmar isto com certeza não mo consente a pouca evidência da História.

Para aqueles que denegriram sempre a fundamentação de Bernardo de Brito, a última frase é bastante elucidativa do trabalho cuidadoso e sustentado que levou a cabo. Nos excertos que li nota-se o cuidado em citar, nas margens laterais das folhas, as obras anteriores que usava, algo notável para o Séc. XVI.  

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publicado às 00:22

Brito & Bluteau

24.06.10
O padre jesuíta Raphael Bluteau (1638-1734), de ascendência francesa, viveu quase sempre em Portugal, e independentemente doutras considerações, tem uma obra notável:
Vocabulário Portuguez e Latino, (1712-1721)
que é talvez uma das primeiras enciclopédias, e claramente anterior à celebrada obra de Diderot e d'Alembert.
[Só alguns volumes estão disponíveis online: encontrei para as letras: A; B,C; O,P; T,U,V,X,Z]
Acerca da palavra Briga diz o seguinte:
BRIGA. Palavra gótica, que significava ajuntamento de gente, porque os Godos se ajuntavam em certos lugares, para consultarem sobre o modo de se defender sobre os que quisessem agravar. E daqui veio o verbo "Abrigar-se". Cresceram depois estas Brigas e vieram a compor cidades, conservando este mesmo nome, como Meróbriga, Flaviobriga, etc. E por quanto estes ajuntamentos ou Brigas se faziam sem cabeça, e sem pessoa de maior autoridade, à qual se obedecesse, havia nelas confusões (e pendências), que depois foram chamadas Brigas, não só em Hespanha, mas também em Itália, França, Inglaterra, etc. como se pode ver em papéis antigos, com que alega Ch. du Fresne no seu Glossário, explicando a palavra Briga. Diz o P. Fr. Bernardo de Britto, Tom. I da Monarchia Lusitana (fol. 14) que alega com Beroso, e outros antigos autores, que todas as cidades de Portugal e outras de Espanha, cujos nomes acabavam em Briga, como Lacobriga, no Algarve junto donde está agora a Vila de Lagos, Cetobriga, perto de Setuval, Medrobriga, junto a Portalegre, etc., adquiriram este nome em memória de Brigo, filho d'el Rey Jubalda, o qual sucedeu no Reino a seu pai, foi Senhor de Hespanha, e teve particular amor aos Lusitanos. Hoje entre nós Briga vem a ser o mesmo que Peleja. Pugna, Fem. Cic. Concertatio,onis. Fem. Terent. Houve uma grande briga: Magna pugna faita est.  (...) Briga de palavras: Rixa (...)

Esta descrição de Bluteau é particularmente interessante. Para além da variada informação, que chega a ser curiosa nos conceitos "briga", "rixa", "abrigar", mostra já a concepção jesuíta francesa de du Fresne que confrontava a versão portuguesa de Bernardo de Brito na sua monumental:
Monarchia Lusitana
Bluteau não subtrai a informação de Brito, como acontecerá posteriormente. Nesta fase, início do Séc. XVIII, há ainda lugar às duas informações, mas nota-se já que o processo de "Revolução Cultural" está em curso... e passado pouco mais de um século, Alexandre Herculano terminará a tarefa, ignorando por completo qualquer informação baseada nos antigos cronistas.
Vejamos ainda como a tese de Du Fresne tem falhas óbvias... se o sufixo "briga" tivesse a sua origem nos Godos, então não se compreenderia a sua presença no nome de cidades na Hispânia, nomes adoptados pelos romanos, muito antes da chegada dos Godos. Poderia haver uma mistura entre as noções de Celtas e Godos sob uma mesma designação, mas Bluteau identifica distintamente os Celtas, colocando-os na Gália, também no Alentejo e Andaluzia, e dizendo que os Romanos lhes chamavam simplesmente Gallos.
Conclui-se assim que, por altura de Luis XIV, foi iniciada uma tentativa de história alternativa, identificada nesta passagem. Não muito sólida inicialmente, como constatamos nesta simples incoerência, mas que foi progressivamente corrigida, substituindo as versões anteriores.
Centocellas (perto de Belmonte)
Raphael Bluteau fala ainda de Centum Cellas.
CENTOCELLAS. Lugar da Lusitânia, tão antigo que dele faz menção Luitprando (c. 960) nos fragmentos (num. 255). Segunda a imemorial tradição este lugar é do Bispado da Guarda, junto ao rio Zêzere, perto de Belmonte, onde permanece a antiquissima Ermida de S. Cornélio, vizinha a uma Torre Quadrada de obra Romana, rasgada em muitas janelas, e acompanhada de várias e antigas ruínas, célebres vestígios de uma grande povoação. A cujo sítio chamam ainda hoje os vizinhos Centocellas, e afirmam, que este foi o lugar do desterro de São Cornélio (c. 250), e aquela Torre é aonde esteve preso, em cuja memória se erigiu a Ermida de seu nome. Vide Mon. Lusit. tom. 2. fol. 116.
De facto, Bernardo de Brito diz basicamente isso, no segundo volume (pág. 159) constante na Torre do Tombo:

... No Bispado da Guarda, junto ao Rio Zêzere, está uma Ermida antiga deste Santo, e junto dela uma torre de obra Romana, cercada de muitas janelas, onde há pedras de grandeza considerável, e havia outras que dali têm levado para várias partes, a qual obra se chama até hoje Centocellas, e querem afirmar os moradores daquela terra, que de tradição imemorial de seus antepassados, lhe ficou, ser aquela torre a própria em que S. Cornélio esteve desterrado e preso. Refiro o que há, que afirmar isto com certeza não mo consente a pouca evidência da História.

Para aqueles que denegriram sempre a fundamentação de Bernardo de Brito, a última frase é bastante elucidativa do trabalho cuidadoso e sustentado que levou a cabo. Nos excertos que li nota-se o cuidado em citar, nas margens laterais das folhas, as obras anteriores que usava, algo notável para o Séc. XVI.  

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publicado às 00:22

Brito & Bluteau

23.06.10
O padre jesuíta Raphael Bluteau (1638-1734), de ascendência francesa, viveu quase sempre em Portugal, e independentemente doutras considerações, tem uma obra notável:
Vocabulário Portuguez e Latino, (1712-1721)
que é talvez uma das primeiras enciclopédias, e claramente anterior à celebrada obra de Diderot e d'Alembert.
[Só alguns volumes estão disponíveis online: encontrei para as letras: A; B,C; O,P; T,U,V,X,Z]
Acerca da palavra Briga diz o seguinte:
BRIGA. Palavra gótica, que significava ajuntamento de gente, porque os Godos se ajuntavam em certos lugares, para consultarem sobre o modo de se defender sobre os que quisessem agravar. E daqui veio o verbo "Abrigar-se". Cresceram depois estas Brigas e vieram a compor cidades, conservando este mesmo nome, como Meróbriga, Flaviobriga, etc. E por quanto estes ajuntamentos ou Brigas se faziam sem cabeça, e sem pessoa de maior autoridade, à qual se obedecesse, havia nelas confusões (e pendências), que depois foram chamadas Brigas, não só em Hespanha, mas também em Itália, França, Inglaterra, etc. como se pode ver em papéis antigos, com que alega Ch. du Fresne no seu Glossário, explicando a palavra Briga. Diz o P. Fr. Bernardo de Britto, Tom. I da Monarchia Lusitana (fol. 14) que alega com Beroso, e outros antigos autores, que todas as cidades de Portugal e outras de Espanha, cujos nomes acabavam em Briga, como Lacobriga, no Algarve junto donde está agora a Vila de Lagos, Cetobriga, perto de Setuval, Medrobriga, junto a Portalegre, etc., adquiriram este nome em memória de Brigo, filho d'el Rey Jubalda, o qual sucedeu no Reino a seu pai, foi Senhor de Hespanha, e teve particular amor aos Lusitanos. Hoje entre nós Briga vem a ser o mesmo que Peleja. Pugna, Fem. Cic. Concertatio,onis. Fem. Terent. Houve uma grande briga: Magna pugna faita est.  (...) Briga de palavras: Rixa (...)

Esta descrição de Bluteau é particularmente interessante. Para além da variada informação, que chega a ser curiosa nos conceitos "briga", "rixa", "abrigar", mostra já a concepção jesuíta francesa de du Fresne que confrontava a versão portuguesa de Bernardo de Brito na sua monumental:
Monarchia Lusitana
Bluteau não subtrai a informação de Brito, como acontecerá posteriormente. Nesta fase, início do Séc. XVIII, há ainda lugar às duas informações, mas nota-se já que o processo de "Revolução Cultural" está em curso... e passado pouco mais de um século, Alexandre Herculano terminará a tarefa, ignorando por completo qualquer informação baseada nos antigos cronistas.
Vejamos ainda como a tese de Du Fresne tem falhas óbvias... se o sufixo "briga" tivesse a sua origem nos Godos, então não se compreenderia a sua presença no nome de cidades na Hispânia, nomes adoptados pelos romanos, muito antes da chegada dos Godos. Poderia haver uma mistura entre as noções de Celtas e Godos sob uma mesma designação, mas Bluteau identifica distintamente os Celtas, colocando-os na Gália, também no Alentejo e Andaluzia, e dizendo que os Romanos lhes chamavam simplesmente Gallos.
Conclui-se assim que, por altura de Luis XIV, foi iniciada uma tentativa de história alternativa, identificada nesta passagem. Não muito sólida inicialmente, como constatamos nesta simples incoerência, mas que foi progressivamente corrigida, substituindo as versões anteriores.
Centocellas (perto de Belmonte)
Raphael Bluteau fala ainda de Centum Cellas.
CENTOCELLAS. Lugar da Lusitânia, tão antigo que dele faz menção Luitprando (c. 960) nos fragmentos (num. 255). Segunda a imemorial tradição este lugar é do Bispado da Guarda, junto ao rio Zêzere, perto de Belmonte, onde permanece a antiquissima Ermida de S. Cornélio, vizinha a uma Torre Quadrada de obra Romana, rasgada em muitas janelas, e acompanhada de várias e antigas ruínas, célebres vestígios de uma grande povoação. A cujo sítio chamam ainda hoje os vizinhos Centocellas, e afirmam, que este foi o lugar do desterro de São Cornélio (c. 250), e aquela Torre é aonde esteve preso, em cuja memória se erigiu a Ermida de seu nome. Vide Mon. Lusit. tom. 2. fol. 116.
De facto, Bernardo de Brito diz basicamente isso, no segundo volume (pág. 159) constante na Torre do Tombo:

... No Bispado da Guarda, junto ao Rio Zêzere, está uma Ermida antiga deste Santo, e junto dela uma torre de obra Romana, cercada de muitas janelas, onde há pedras de grandeza considerável, e havia outras que dali têm levado para várias partes, a qual obra se chama até hoje Centocellas, e querem afirmar os moradores daquela terra, que de tradição imemorial de seus antepassados, lhe ficou, ser aquela torre a própria em que S. Cornélio esteve desterrado e preso. Refiro o que há, que afirmar isto com certeza não mo consente a pouca evidência da História.

Para aqueles que denegriram sempre a fundamentação de Bernardo de Brito, a última frase é bastante elucidativa do trabalho cuidadoso e sustentado que levou a cabo. Nos excertos que li nota-se o cuidado em citar, nas margens laterais das folhas, as obras anteriores que usava, algo notável para o Séc. XVI.  

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publicado às 16:22

Caminho de Salomão (Fundação José Saramago)

José Saramago terminou o seu caminho de mortal, deixando-nos um valioso legado... descobri hoje este Caminho de Salomão, e como diria a sua mulher Pilar, um caminho pelo "Portugal Profundo" que é um profundo Portugal. 
Começa o caminho com Camões, quiçá complemento ao Ensaio sobre a Cegueira...
Faltou a Saramago escrever o Ensaio sobre a Mudez... ou se calhar escreveu, mas por naturalidade do título, ninguém o ouviu.

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publicado às 18:58

Caminho de Salomão (Fundação José Saramago)

José Saramago terminou o seu caminho de mortal, deixando-nos um valioso legado... descobri hoje este Caminho de Salomão, e como diria a sua mulher Pilar, um caminho pelo "Portugal Profundo" que é um profundo Portugal. 
Começa o caminho com Camões, quiçá complemento ao Ensaio sobre a Cegueira...
Faltou a Saramago escrever o Ensaio sobre a Mudez... ou se calhar escreveu, mas por naturalidade do título, ninguém o ouviu.

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Caminho de Salomão (Fundação José Saramago)

José Saramago terminou o seu caminho de mortal, deixando-nos um valioso legado... descobri hoje este Caminho de Salomão, e como diria a sua mulher Pilar, um caminho pelo "Portugal Profundo" que é um profundo Portugal. 
Começa o caminho com Camões, quiçá complemento ao Ensaio sobre a Cegueira...
Faltou a Saramago escrever o Ensaio sobre a Mudez... ou se calhar escreveu, mas por naturalidade do título, ninguém o ouviu.

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publicado às 10:58

Mapa de João Teixeira Albernaz (1600-60)

No mapa de Juan de La Cosa de 1500, talvez o primeiro mapa espanhol (após a escola catalã), aparece uma imagem de São Cristovão, aludindo a uma relação entre as viagens do outro Cristovão - Colombo, e o santo padroeiro dos viajantes, cuja imagem era associada a transportar o menino Jesus. 
Muitos mapas dos Séculos XVI (fins) e XVII aparecem decorados com figuras de Nossa Senhora e do menino, resultado da crescente da afirmação do catolicismo, que invocava uma devoção à Imaculada Conceição, tornando-se uma característica acentuada elevada a padroeira nacional em 1646. Na devoção nacional e espanhola, como marca distintiva de implantação do catolicismo no povo, Nossa Senhora vai substituir progressivamente o papel de Jesus Cristo, a ponto da maioria das procissões e festas populares lhe serem dedicadas, sendo talvez uma assinalável excepção as festas do Senhor Santo Cristo nos Açores.  
É interessante que em paralelo começa a desenvolver-se em Portugal um culto a Santo António, associando-o também à imagem do menino Jesus, talvez por iniciativa dos franciscanos. 

Nesse sentido, é curioso apresentar aqui um mapa de João Teixeira Albernaz, que coloca uma imagem de Nossa Senhora, central, mas o menino Jesus está ao colo de Santo António... a poente.

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publicado às 19:25

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