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Oscar Point... coordenadas 74°35′S 164°53′E - trata-se um ponto/cabo na Antártida, no Mar de Ross, estando parcialmente sob o gelo. Apesar da expedição que o identificou ser inglesa, era comandada por um norueguês Borchgrevink, que assim honrava Oscar II, rei da Suécia e Noruega.

Já voltaremos ao assunto complicado... para já referimos que não longe está o cabo Washington e o Monte Melbourne. Aproveitamos a ocasião para colocar umas imagens da Antártida, talvez não exactamente dessa zona, mas que merecem ser conhecidas:



As formações de gelo com esta dimensão deixam-me sem outros comentários, e a estória das ondas instantaneamente geladas fazem pouco sentido, e as explicações "mais científicas" deixam muito a desejar igualmente.

A estória prossegue por outro lado, citando Ramusio (1560):
... [o Rei de Portugal] nè vogliono che si sappian nè queste nè molte altre cose. & sopra tutto è vietato il poter navigar oltra il capo di Buona Speranza à dritta linea verso il polo Antartico, dove é opinione appresso tutti il pilotti Portoghesi chi vi sia un grandissimo continente di terra ferma, la qual corra levante & ponente sotto il polo Antartico. & dicono che altre volte uno eccellente huomo Fiorentino detto Amerigo Vespuccio con certe navi de i detti Re la trovò & scorse per grande spatio, ma che dapoi é stato prohibito che alcun vi possa andare.
Pareceria estranho dar a Américo Vespúcio a honra de um tão grande continente como a América, por opinião cartográfica de Waldseemüller, ou por outra pequena razão.
Aqui vemos algo completamente diferente... como diria Bartolomeu Marchioni, banqueiro florentino ao serviço da Rainha D. Leonor... Américo teria "tido duro trabalho e recolhido escasso benefício"!
Ramusio entende que Américo Vespúcio terá prosseguido a viagem para além do Chile, na direcção do continente Antártico, na frota de Gonçalo Coelho (1451-1512) expedida por Fernão de Noronha.
Consta que terá então dito que tinha estado num novo mundo, ao qual chamaria "Novus Orbis" porque os antigos o desconheciam... e que desejava retornar e chegar ao Oriente pelo Sul, aproveitando-se dos ventos austrais (segundo o historiador Hugh Thomas - cf.wikipedia)
Releio a citação de Camões, a propósito da nau de Coelho:
Agora sobre as nuvens os subiam
As ondas de Netuno furibundo;
Agora a ver parece que desciam
As íntimas entranhas do Profundo.
Noto, Austro, Bóreas, Aquilo queriam
Arruinar a máquina do mundo:
A noite negra e feia se alumia
Com os raios, em que o Pólo todo ardia.
Suficiente para sustentar uma viagem de Coelho e Vespúcio até às "íntimas entranhas do Profundo", a um Pólo que "alumiava a noite negra" mostrando a "máquina do mundo"...

Voltamos agora a Oscar II, que recebe o nome que Napoleão escolheu para seu pai, um nome que lembra Oscar Wilde e a citação: "America had often been discovered before Columbus, but it had always been hushed up". Agora a América de Américo era outra...
As explorações polares suecas e norueguesas, com Oscar II, tiveram como epílogo Amundsen, mas convém não esquecer outro nome explosivo...  Nobel cujo nome se liga à revelação que Ascanio Sobrero (o inventor da nitroglicerina) lhe fez, e que levou ao dinamite - coisa que enriqueceu um, e não o outro.

O prémio Nobel, que dá uma variação Noble ao seu detentor, foi definido pelo mesmo rei Oscar da Suécia e da Noruega.
Faltaria um prémio apropriado para uma indústria que se iria afirmar... a cinematográfica - e é claro que foi o nome do tio/primo da secretária, nem poderia ser outra coisa!
Coisa de gods ou goths, lá da Gothia.
E é claro que numa transmissão em directo, nada melhor que um delay temporal para evitar asneiras!
O mundo fica assim poupado às asneiras em directo... não as vernaculares, mas sim as de alguém que pense que pode revelar novidades nos media!

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publicado às 19:09

A Héron de Alexandria é atribuído o primeiro engenho a vapor

A eólipila de Héron (Séc. I)

(... entre outras invenções), ainda que o mesmo engenho possa ser atribuído um século antes a Vitrúvio, afinal o mesmo homem que muito inspirou Leonardo

O engenho a vapor foi então enterrado ou vaporizado durante 1500 anos, como tantas outras coisas, até que se registou o seu reaparecimento em 1543, em Barcelona, com Blasco de Garay e o primeiro barco a vapor de que há registo.

Conforme consta da publicação "Archivo popular", volume 2, página 411:
No ano de 1543, um oficial da marinha, chamado Blasco de Garay, ofereceu-se a mostrar ao imperador Carlos V uma máquina, por meio da qual se faria andar um navio sem a ajuda de velas ou remos. Não obstante que a proposta se julgasse ridícula, o homem mostrava-se tão certo do que afirmava, que o imperador nomeou uma comissão para examinar, e dar conta do resultado da experiência. Com efeito teve ela lugar em 17 de Junho de 1543, em um navio chamado a Trinidad, do lote de duzentas toneladas, o qual pouco antes havia chegado de Colibre com uma carga de trigo.  
O navio, diz o escriptor, foi visto, no dia aprazado, andar rapidamente, e virar em todos os bordos, segundo se quería, sem ser impelido por velas ou remos, e mesmo sem que se lhe percebesse mecanismo algum, à excepção de uma enorme caldeira com água a ferver, e um certo jogo de rodas e pás. 
A multidão que se achava presente rompeu em gritos de admiração , e o porto de Barcelona ressoou com os seus aplausos. Os comissários do governo participaram do entusiasmo geral, e deram conta favorável ao imperador, excepto um deles, o tesoureiro Ravago. Este homem, por algum motivo que se ignora, declarou-se contra o inventor e a sua máquina: fez toda a diligência por a desacreditar, dizendo entre outras cousas que a invenção não oferecia vantagem alguma, pois que apenas podia fazer andar uma embarcação duas léguas no espaço de quatro horas; que a máquina era dispendiosa, e complicada, e finalmente que apresentava o grande e frequente perigo de arrebentar a caldeira. Acabada a experiência, Garay retírou o seu maquinismo, entregando no arsenal o que aí se fizera, levou o resto para sua casa. 
Apesar das invejosas observações de Ravago, Garay foi aplaudido pelo seu invento. O imperador o protegeu, promoveu-o ao posto imediato, e lhe mandou dar dozentos mil maravis; ordenando mais que o tesoureiro invejoso pagasse todas as despesas da experiência. Mas Carlos V achava-se então muí ocupado com suas expedições militares, e tratando só de devastar a humanidade deixou desaproveitado o novo invento que a podia beneficiar; inventor e invenção ficaram no esquecimento; e a honra que Barcelona poderia ter recebido do aperfeiçoamento desta tão útil descoberta, ficou reservada para uma cidade, que ainda então não havia entrado na carreira da existência.
A invenção do barco a vapor ficaria reservada em nome para Robert Fulton, inventor americano, prezado de Napoleão. O mesmo Archivo Popular faz menção a outros inventores:
-  um italiano Bracas(?), 80 anos depois de Garay, 
- e ao Marquês de Worcester, Edward Somerset, 100 anos depois, com uma utilização engenhosa do vapor... normalmente atribuída a James Watt.

É claro que espanhóis, catalães, mostraram com os registos do Arquivo Geral de Simancas, toda a documentação necessária, e tal foi publicado de forma semelhante no "El Instructor" (1835), mas foi recusado pelos franceses (e Balzac terá feito a sátira Les ressources de Quinola a este propósito).

O que vemos?
Héron de Alexandria propunha logo aplicações para o seu engenho a vapor... mas é claro que ninguém quis "entender", e tudo foi perdidamente ocultado. 
O mesmo se passou com Blasco de Garay, e com todos os sucessores até ao final do Séc. XVIII.
A era industrial só aparece autorizada para o Séc. XIX, e à Hispânia já estava vedada essa competição.

Note-se que Carlos V protegeu a invenção e inventor... mas o verdadeiro poder estaria mais representado por Ravago. Como se percebe da leitura, Carlos V ficou imediatamente ocupado com novas guerras... e a invenção foi "esquecida".

Não basta inventar ou descobrir... é preciso ter autorização para tal, no tempo próprio.
Foi assim com a "reinvenção da roda"...
Que instituição, superior em potência ao imperador Carlos V, decide isto?
É este problema milenar que abordamos... há já algum tempo!

.

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publicado às 05:21

A Héron de Alexandria é atribuído o primeiro engenho a vapor
A eólipila de Héron (Séc. I)

(... entre outras invenções), ainda que o mesmo engenho possa ser atribuído um século antes a Vitrúvio, afinal o mesmo homem que muito inspirou Leonardo

O engenho a vapor foi então enterrado ou vaporizado durante 1500 anos, como tantas outras coisas, até que se registou o seu reaparecimento em 1543, em Barcelona, com Blasco de Garay e o primeiro barco a vapor de que há registo.

Conforme consta da publicação "Archivo popular", volume 2, página 411:
No ano de 1543, um oficial da marinha, chamado Blasco de Garay, ofereceu-se a mostrar ao imperador Carlos V uma máquina, por meio da qual se faria andar um navio sem a ajuda de velas ou remos. Não obstante que a proposta se julgasse ridícula, o homem mostrava-se tão certo do que afirmava, que o imperador nomeou uma comissão para examinar, e dar conta do resultado da experiência. Com efeito teve ela lugar em 17 de Junho de 1543, em um navio chamado a Trinidad, do lote de duzentas toneladas, o qual pouco antes havia chegado de Colibre com uma carga de trigo.  
O navio, diz o escriptor, foi visto, no dia aprazado, andar rapidamente, e virar em todos os bordos, segundo se quería, sem ser impelido por velas ou remos, e mesmo sem que se lhe percebesse mecanismo algum, à excepção de uma enorme caldeira com água a ferver, e um certo jogo de rodas e pás. 
A multidão que se achava presente rompeu em gritos de admiração , e o porto de Barcelona ressoou com os seus aplausos. Os comissários do governo participaram do entusiasmo geral, e deram conta favorável ao imperador, excepto um deles, o tesoureiro Ravago. Este homem, por algum motivo que se ignora, declarou-se contra o inventor e a sua máquina: fez toda a diligência por a desacreditar, dizendo entre outras cousas que a invenção não oferecia vantagem alguma, pois que apenas podia fazer andar uma embarcação duas léguas no espaço de quatro horas; que a máquina era dispendiosa, e complicada, e finalmente que apresentava o grande e frequente perigo de arrebentar a caldeira. Acabada a experiência, Garay retírou o seu maquinismo, entregando no arsenal o que aí se fizera, levou o resto para sua casa. 
Apesar das invejosas observações de Ravago, Garay foi aplaudido pelo seu invento. O imperador o protegeu, promoveu-o ao posto imediato, e lhe mandou dar dozentos mil maravis; ordenando mais que o tesoureiro invejoso pagasse todas as despesas da experiência. Mas Carlos V achava-se então muí ocupado com suas expedições militares, e tratando só de devastar a humanidade deixou desaproveitado o novo invento que a podia beneficiar; inventor e invenção ficaram no esquecimento; e a honra que Barcelona poderia ter recebido do aperfeiçoamento desta tão útil descoberta, ficou reservada para uma cidade, que ainda então não havia entrado na carreira da existência.
A invenção do barco a vapor ficaria reservada em nome para Robert Fulton, inventor americano, prezado de Napoleão. O mesmo Archivo Popular faz menção a outros inventores:
-  um italiano Bracas(?), 80 anos depois de Garay, 
- e ao Marquês de Worcester, Edward Somerset, 100 anos depois, com uma utilização engenhosa do vapor... normalmente atribuída a James Watt.

É claro que espanhóis, catalães, mostraram com os registos do Arquivo Geral de Simancas, toda a documentação necessária, e tal foi publicado de forma semelhante no "El Instructor" (1835), mas foi recusado pelos franceses (e Balzac terá feito a sátira Les ressources de Quinola a este propósito).

O que vemos?
Héron de Alexandria propunha logo aplicações para o seu engenho a vapor... mas é claro que ninguém quis "entender", e tudo foi perdidamente ocultado. 
O mesmo se passou com Blasco de Garay, e com todos os sucessores até ao final do Séc. XVIII.
A era industrial só aparece autorizada para o Séc. XIX, e à Hispânia já estava vedada essa competição.

Note-se que Carlos V protegeu a invenção e inventor... mas o verdadeiro poder estaria mais representado por Ravago. Como se percebe da leitura, Carlos V ficou imediatamente ocupado com novas guerras... e a invenção foi "esquecida".

Não basta inventar ou descobrir... é preciso ter autorização para tal, no tempo próprio.
Foi assim com a "reinvenção da roda"...
Que instituição, superior em potência ao imperador Carlos V, decide isto?
É este problema milenar que abordamos... há já algum tempo!

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publicado às 05:21

A Héron de Alexandria é atribuído o primeiro engenho a vapor
A eólipila de Héron (Séc. I)

(... entre outras invenções), ainda que o mesmo engenho possa ser atribuído um século antes a Vitrúvio, afinal o mesmo homem que muito inspirou Leonardo

O engenho a vapor foi então enterrado ou vaporizado durante 1500 anos, como tantas outras coisas, até que se registou o seu reaparecimento em 1543, em Barcelona, com Blasco de Garay e o primeiro barco a vapor de que há registo.

Conforme consta da publicação "Archivo popular", volume 2, página 411:
No ano de 1543, um oficial da marinha, chamado Blasco de Garay, ofereceu-se a mostrar ao imperador Carlos V uma máquina, por meio da qual se faria andar um navio sem a ajuda de velas ou remos. Não obstante que a proposta se julgasse ridícula, o homem mostrava-se tão certo do que afirmava, que o imperador nomeou uma comissão para examinar, e dar conta do resultado da experiência. Com efeito teve ela lugar em 17 de Junho de 1543, em um navio chamado a Trinidad, do lote de duzentas toneladas, o qual pouco antes havia chegado de Colibre com uma carga de trigo.  
O navio, diz o escriptor, foi visto, no dia aprazado, andar rapidamente, e virar em todos os bordos, segundo se quería, sem ser impelido por velas ou remos, e mesmo sem que se lhe percebesse mecanismo algum, à excepção de uma enorme caldeira com água a ferver, e um certo jogo de rodas e pás. 
A multidão que se achava presente rompeu em gritos de admiração , e o porto de Barcelona ressoou com os seus aplausos. Os comissários do governo participaram do entusiasmo geral, e deram conta favorável ao imperador, excepto um deles, o tesoureiro Ravago. Este homem, por algum motivo que se ignora, declarou-se contra o inventor e a sua máquina: fez toda a diligência por a desacreditar, dizendo entre outras cousas que a invenção não oferecia vantagem alguma, pois que apenas podia fazer andar uma embarcação duas léguas no espaço de quatro horas; que a máquina era dispendiosa, e complicada, e finalmente que apresentava o grande e frequente perigo de arrebentar a caldeira. Acabada a experiência, Garay retírou o seu maquinismo, entregando no arsenal o que aí se fizera, levou o resto para sua casa. 
Apesar das invejosas observações de Ravago, Garay foi aplaudido pelo seu invento. O imperador o protegeu, promoveu-o ao posto imediato, e lhe mandou dar dozentos mil maravis; ordenando mais que o tesoureiro invejoso pagasse todas as despesas da experiência. Mas Carlos V achava-se então muí ocupado com suas expedições militares, e tratando só de devastar a humanidade deixou desaproveitado o novo invento que a podia beneficiar; inventor e invenção ficaram no esquecimento; e a honra que Barcelona poderia ter recebido do aperfeiçoamento desta tão útil descoberta, ficou reservada para uma cidade, que ainda então não havia entrado na carreira da existência.
A invenção do barco a vapor ficaria reservada em nome para Robert Fulton, inventor americano, prezado de Napoleão. O mesmo Archivo Popular faz menção a outros inventores:
-  um italiano Bracas(?), 80 anos depois de Garay, 
- e ao Marquês de Worcester, Edward Somerset, 100 anos depois, com uma utilização engenhosa do vapor... normalmente atribuída a James Watt.

É claro que espanhóis, catalães, mostraram com os registos do Arquivo Geral de Simancas, toda a documentação necessária, e tal foi publicado de forma semelhante no "El Instructor" (1835), mas foi recusado pelos franceses (e Balzac terá feito a sátira Les ressources de Quinola a este propósito).

O que vemos?
Héron de Alexandria propunha logo aplicações para o seu engenho a vapor... mas é claro que ninguém quis "entender", e tudo foi perdidamente ocultado. 
O mesmo se passou com Blasco de Garay, e com todos os sucessores até ao final do Séc. XVIII.
A era industrial só aparece autorizada para o Séc. XIX, e à Hispânia já estava vedada essa competição.

Note-se que Carlos V protegeu a invenção e inventor... mas o verdadeiro poder estaria mais representado por Ravago. Como se percebe da leitura, Carlos V ficou imediatamente ocupado com novas guerras... e a invenção foi "esquecida".

Não basta inventar ou descobrir... é preciso ter autorização para tal, no tempo próprio.
Foi assim com a "reinvenção da roda"...
Que instituição, superior em potência ao imperador Carlos V, decide isto?
É este problema milenar que abordamos... há já algum tempo!

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publicado às 21:21

Gaspar Frutuoso é outra daquelas referências que basta ser invocada pelo título dos seus capítulos:

- Capítulo VIII - 
Em que a Fama pede à Verdade que lhe conte as cousas das ilhas, 
e a Verdade lhe declara umas letras do triângulo que traz...

NÃO creias quanto ouves 
NÃO digas quanto sabes 
NÃO desejes quanto vês 

Gaspar Frutuoso (1522-91) já está a viver nos tempos modernos!
E como a Fama orientará sempre as perguntas sobre Cólon, ou Colombo, há um capítulo indicado: 

Capítulo XXII 
- Em que a Verdade... conta o descobrimento das Antilhas, que agora se chamam Índias Ocidentais...
Quanto ao que das Antilhas ou Índias de Castela duvidais, por esta regra, que já disse, de conceder o lugar a quem primeiro o ocupa, e pode ser também por alguma confirmação do Padre Santo, que eu não alcancei ver nem saber, toda esta conquista do Mar Oceano descobriu e possuiu o Infante D. Henrique, que mandou descobrir estas ilhas dos Açores e por seu falecimento se diz que a deixou à Coroa Real de Portugal, como ao tronco donde ele descendia, a qual tiveram estes reis alguns anos, até que em tempo de El-rei D. João, segundo do nome, se antremeteu um Cristóvam Colon e quis fazer outra navegação diferente daquela, não ao longo da costa da terra firme, mas desviando-se pelo espaçoso mar do ponente, ao qual El-rei não quis dar crédito nem ouvidos, que foi causa de se dividir e partir esta conquista, como agora contarei.
Depois Gaspar Frutuoso apresenta a versão castelhana, que fala no segredo de marinheiros naufragados em Porto Santo, que  morreram às mãos de Colombo
Um homem de nação italiano, genoês, chamado Cristóvam Colon, natural de Cugurco, ou Narvi, aldeia de Génoa, de poucas casas, avisado e prático na arte da navegação, vindo de sua terra à ilha da Madeira, se casou nela, vivendo ali de fazer cartas de marear. Aonde, antes do ano de mil e quatrocentos e oitenta e seis, veio aportar uma nau biscainha, ou (segundo outros) andalusa, ou portuguesa, havendo com tormentas e tempos contrários descoberto parte das terras que agora chamamos Índias Ocidentais ou Novo Mundo.
Aqui a questão da nacionalidade colocava-se mais em termos dos náufragos incógnitos. Depois cita a versão de João de Barros e a de Cardan, e sem nunca colocar em causa a nacionalidade de Colón, e dá conta da sua versão, que é algo pormenorizada:
Era Cristóvam Colon animoso e de altos pensamentos, mas pobre e sem cabedal bastante pera cometer uma cousa de tanta dúvida e custo, pelo qual cuidou que seria bom pedir favor de algum príncipe cristão. E como naquele tempo El-rei de Portugal, D. João, o segundo do nome, estava ocupado em a conquista tão dificultosa e custosa da Índia e El-rei D. Fernando de Castela na guerra de Granada, determinou de se ir a Ingraterra a El-rei Henrique sétimo.
Por não perder tempo mandou lá a Bartolomeu Colon, seu irmão, e como não achou a entrada que quisera, tornou-se sem negociar nada, pelo qual acordou tentar, todavia, a El-rei de Portugal. E foi-lhe tão contrário o licenciado Calçadilha, bispo de Viseu, que não pôde alcançar cousa alguma; antes o tiveram por enganador e mentiroso. Foi-se com isto Colon, meio desesperado, a Castela e em Palos de Moguer comunicou suas imaginações com Martim Fernandes Pinção, grande piloto, e, de conselho deste e de Frei João Perez de Marchena, frade de S. Francisco, grande humanista, morador na casa da Arrábida, do qual levou cartas pera D. Frei Fernando de Talavera, Bispo de Ávila, confessor da rainha, pôs em prática seu negócio com D. Henrique Gusmão, Duque de Medina Sidónia, e depois com D. Luiz de Lacerda, Duque de Medina Celi, que tinham bons portos, que o ajudassem ao descobrimento destas terras novas, os quais fizeram escárneo dele, que certo parecia cousa de zombaria, mormente que Colon andava tão mal tratado e só, que perdiam muito crédito suas razões com ver sua pouca autoridade, porque é isto assi, que a verdade sem mangas compridas é mui mal recebida em qualquer boda e, quase sempre, cada feira vale menos.
Finalmente acordou de se ir à corte de El-rei D. Fernando de Castela, pera quem estava guardada tão boa ventura, em a qual entrou no ano de mil e quatrocentos e oitenta e seis. Aos princípios também zombavam dele ali, como nas outras partes, pelo qual e pelas muitas ocupações de El-rei com a guerra de Granada, não se lhe deu audiência tão asinha. Todavia achou favor em Afonso de Quintanilha, contador-mor, o que fez as leis da Irmandade. Este deu a Colon entrada em casa do Cardeal D. Pero Gonçalves de Mendonça. O Cardeal (que tudo mandava) o pôs com El-rei e da primeira vista tirou boas palavras e esperança de que, acabada a guerra de Granada, se falaria em seu negócio mais de propósito, porque até então não haveria bom aparelho de dinheiro. Antreteve-se com isto Cristóvam Colon na corte perto de seis anos. E quando viu acabada a guerra com tão bom sucesso, tornou a tratar de seu negócio e, por fim, se lhe deu licença pera ir descobrir as terras que dizia e pera que armasse os navios que lhe fossem necessários.
Primeiro, repare-se que é referido que D. João II estava ocupado na "dificultosa e custosa" conquista da Índia, o que é diferente do termo "descoberta da Índia". Depois o irmão chega a falar com Henrique VII, e isto torna-se um relato demasiado detalhado para ser inventado acerca das deambulações de Colombo, e da sua "vida difícil". Um aspecto nas versões alternativas de nacionalidade, é que há um irmão Bartolomeu, que tem um papel importante.
O relato do regresso também é interessante:
E no ano seguinte de mil e quatrocentos e noventa e três, (estando El-rei de Portugal, D. João, o segundo do nome, no lugar de Vale de Paraízo, que é acima do mosteiro das Virtudes, por caso das grandes pestes que nos lugares principais daquela comarca havia) a seis dias de Março, veio ter a Restelo, em Lisboa, este Cristóvam Colon, que vinha deste descobrimento das ilhas de Cipango e Antilhas (como dito é), que, per mandado de El-rei e da Rainha de Castela, tinha descoberto; das quais trazia as ditas mostras das gentes e ouro e outras cousas que nelas havia. E, sendo El-rei disso avisado, o mandou chamar e mostrou, por isso, receber nojo e sentimento, assi por crer que o dito descobrimento era feito dentro dos mares e termos de seus senhorios de Guiné, como porque, o dito Colon, por ser de sua condição alevantado, e no modo do contar das cousas fazia isto em ouro e prata e riquezas muito maior do que era, e acusava El-rei por se escusar deste descobrimento e não no querer mandar a isso, pois primeiro se lhe viera oferecer que aos Reis de Castela, e que fora por lhe não dar crédito. E El-rei foi cometido que houvesse por bem de lho matarem aí, porque, com sua morte, o descobrimento de Castela não iria mais avante por todos terem pera si que estavam aquelas ilhas dentro dos limites da conquista de Portugal, por a pouca distância que havia destas ilhas dos Açores a estas que Colon descobrira, e que, dando Sua Alteza a isso consentimento, se poderia fazer sem suspeita porque, por ele ser descortês e alvoraçado, podiam com ele travar de maneira que cada um destes seus defeitos parecesse a causa de sua morte. Mas El-rei, como era mui temente a Deus, não somente o defendeu, mas ainda lhe fez honra e mercê e com ela o despediu, mandando vestir de grã os índios que trazia.
Nada disto exclui, como é óbvio, outras hipóteses, mas "Saudades da Terra" não deixa de ser um relato pormenorizado da época, que sempre permaneceu "secreto", e sem publicação nacional.

Aquilo que parece ter sido reconhecido a Colón como novidade, terá sido um caminho marítimo novo pelas Canárias, que levou à descoberta das Antilhas. Ou seja, é de considerar que se mantivesse a tradição da navegação costeira, partindo dos Açores e pela Terra do Bacalhau...  até ao Brasil.

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publicado às 20:57

Gaspar Frutuoso é outra daquelas referências que basta ser invocada pelo título dos seus capítulos:

- Capítulo VIII - 
Em que a Fama pede à Verdade que lhe conte as cousas das ilhas, 
e a Verdade lhe declara umas letras do triângulo que traz...

NÃO creias quanto ouves 
NÃO digas quanto sabes 
NÃO desejes quanto vês 

Gaspar Frutuoso (1522-91) já está a viver nos tempos modernos!
E como a Fama orientará sempre as perguntas sobre Cólon, ou Colombo, há um capítulo indicado: 

Capítulo XXII 
- Em que a Verdade... conta o descobrimento das Antilhas, que agora se chamam Índias Ocidentais...
Quanto ao que das Antilhas ou Índias de Castela duvidais, por esta regra, que já disse, de conceder o lugar a quem primeiro o ocupa, e pode ser também por alguma confirmação do Padre Santo, que eu não alcancei ver nem saber, toda esta conquista do Mar Oceano descobriu e possuiu o Infante D. Henrique, que mandou descobrir estas ilhas dos Açores e por seu falecimento se diz que a deixou à Coroa Real de Portugal, como ao tronco donde ele descendia, a qual tiveram estes reis alguns anos, até que em tempo de El-rei D. João, segundo do nome, se antremeteu um Cristóvam Colon e quis fazer outra navegação diferente daquela, não ao longo da costa da terra firme, mas desviando-se pelo espaçoso mar do ponente, ao qual El-rei não quis dar crédito nem ouvidos, que foi causa de se dividir e partir esta conquista, como agora contarei.
Depois Gaspar Frutuoso apresenta a versão castelhana, que fala no segredo de marinheiros naufragados em Porto Santo, que  morreram às mãos de Colombo
Um homem de nação italiano, genoês, chamado Cristóvam Colon, natural de Cugurco, ou Narvi, aldeia de Génoa, de poucas casas, avisado e prático na arte da navegação, vindo de sua terra à ilha da Madeira, se casou nela, vivendo ali de fazer cartas de marear. Aonde, antes do ano de mil e quatrocentos e oitenta e seis, veio aportar uma nau biscainha, ou (segundo outros) andalusa, ou portuguesa, havendo com tormentas e tempos contrários descoberto parte das terras que agora chamamos Índias Ocidentais ou Novo Mundo.
Aqui a questão da nacionalidade colocava-se mais em termos dos náufragos incógnitos. Depois cita a versão de João de Barros e a de Cardan, e sem nunca colocar em causa a nacionalidade de Colón, e dá conta da sua versão, que é algo pormenorizada:
Era Cristóvam Colon animoso e de altos pensamentos, mas pobre e sem cabedal bastante pera cometer uma cousa de tanta dúvida e custo, pelo qual cuidou que seria bom pedir favor de algum príncipe cristão. E como naquele tempo El-rei de Portugal, D. João, o segundo do nome, estava ocupado em a conquista tão dificultosa e custosa da Índia e El-rei D. Fernando de Castela na guerra de Granada, determinou de se ir a Ingraterra a El-rei Henrique sétimo.
Por não perder tempo mandou lá a Bartolomeu Colon, seu irmão, e como não achou a entrada que quisera, tornou-se sem negociar nada, pelo qual acordou tentar, todavia, a El-rei de Portugal. E foi-lhe tão contrário o licenciado Calçadilha, bispo de Viseu, que não pôde alcançar cousa alguma; antes o tiveram por enganador e mentiroso. Foi-se com isto Colon, meio desesperado, a Castela e em Palos de Moguer comunicou suas imaginações com Martim Fernandes Pinção, grande piloto, e, de conselho deste e de Frei João Perez de Marchena, frade de S. Francisco, grande humanista, morador na casa da Arrábida, do qual levou cartas pera D. Frei Fernando de Talavera, Bispo de Ávila, confessor da rainha, pôs em prática seu negócio com D. Henrique Gusmão, Duque de Medina Sidónia, e depois com D. Luiz de Lacerda, Duque de Medina Celi, que tinham bons portos, que o ajudassem ao descobrimento destas terras novas, os quais fizeram escárneo dele, que certo parecia cousa de zombaria, mormente que Colon andava tão mal tratado e só, que perdiam muito crédito suas razões com ver sua pouca autoridade, porque é isto assi, que a verdade sem mangas compridas é mui mal recebida em qualquer boda e, quase sempre, cada feira vale menos.
Finalmente acordou de se ir à corte de El-rei D. Fernando de Castela, pera quem estava guardada tão boa ventura, em a qual entrou no ano de mil e quatrocentos e oitenta e seis. Aos princípios também zombavam dele ali, como nas outras partes, pelo qual e pelas muitas ocupações de El-rei com a guerra de Granada, não se lhe deu audiência tão asinha. Todavia achou favor em Afonso de Quintanilha, contador-mor, o que fez as leis da Irmandade. Este deu a Colon entrada em casa do Cardeal D. Pero Gonçalves de Mendonça. O Cardeal (que tudo mandava) o pôs com El-rei e da primeira vista tirou boas palavras e esperança de que, acabada a guerra de Granada, se falaria em seu negócio mais de propósito, porque até então não haveria bom aparelho de dinheiro. Antreteve-se com isto Cristóvam Colon na corte perto de seis anos. E quando viu acabada a guerra com tão bom sucesso, tornou a tratar de seu negócio e, por fim, se lhe deu licença pera ir descobrir as terras que dizia e pera que armasse os navios que lhe fossem necessários.
Primeiro, repare-se que é referido que D. João II estava ocupado na "dificultosa e custosa" conquista da Índia, o que é diferente do termo "descoberta da Índia". Depois o irmão chega a falar com Henrique VII, e isto torna-se um relato demasiado detalhado para ser inventado acerca das deambulações de Colombo, e da sua "vida difícil". Um aspecto nas versões alternativas de nacionalidade, é que há um irmão Bartolomeu, que tem um papel importante.
O relato do regresso também é interessante:
E no ano seguinte de mil e quatrocentos e noventa e três, (estando El-rei de Portugal, D. João, o segundo do nome, no lugar de Vale de Paraízo, que é acima do mosteiro das Virtudes, por caso das grandes pestes que nos lugares principais daquela comarca havia) a seis dias de Março, veio ter a Restelo, em Lisboa, este Cristóvam Colon, que vinha deste descobrimento das ilhas de Cipango e Antilhas (como dito é), que, per mandado de El-rei e da Rainha de Castela, tinha descoberto; das quais trazia as ditas mostras das gentes e ouro e outras cousas que nelas havia. E, sendo El-rei disso avisado, o mandou chamar e mostrou, por isso, receber nojo e sentimento, assi por crer que o dito descobrimento era feito dentro dos mares e termos de seus senhorios de Guiné, como porque, o dito Colon, por ser de sua condição alevantado, e no modo do contar das cousas fazia isto em ouro e prata e riquezas muito maior do que era, e acusava El-rei por se escusar deste descobrimento e não no querer mandar a isso, pois primeiro se lhe viera oferecer que aos Reis de Castela, e que fora por lhe não dar crédito. E El-rei foi cometido que houvesse por bem de lho matarem aí, porque, com sua morte, o descobrimento de Castela não iria mais avante por todos terem pera si que estavam aquelas ilhas dentro dos limites da conquista de Portugal, por a pouca distância que havia destas ilhas dos Açores a estas que Colon descobrira, e que, dando Sua Alteza a isso consentimento, se poderia fazer sem suspeita porque, por ele ser descortês e alvoraçado, podiam com ele travar de maneira que cada um destes seus defeitos parecesse a causa de sua morte. Mas El-rei, como era mui temente a Deus, não somente o defendeu, mas ainda lhe fez honra e mercê e com ela o despediu, mandando vestir de grã os índios que trazia.
Nada disto exclui, como é óbvio, outras hipóteses, mas "Saudades da Terra" não deixa de ser um relato pormenorizado da época, que sempre permaneceu "secreto", e sem publicação nacional.

Aquilo que parece ter sido reconhecido a Colón como novidade, terá sido um caminho marítimo novo pelas Canárias, que levou à descoberta das Antilhas. Ou seja, é de considerar que se mantivesse a tradição da navegação costeira, partindo dos Açores e pela Terra do Bacalhau...  até ao Brasil.

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publicado às 20:57

Gaspar Frutuoso é outra daquelas referências que basta ser invocada pelo título dos seus capítulos:

- Capítulo VIII - 
Em que a Fama pede à Verdade que lhe conte as cousas das ilhas, 
e a Verdade lhe declara umas letras do triângulo que traz...

NÃO creias quanto ouves 
NÃO digas quanto sabes 
NÃO desejes quanto vês 

Gaspar Frutuoso (1522-91) já está a viver nos tempos modernos!
E como a Fama orientará sempre as perguntas sobre Cólon, ou Colombo, há um capítulo indicado: 

Capítulo XXII 
- Em que a Verdade... conta o descobrimento das Antilhas, que agora se chamam Índias Ocidentais...
Quanto ao que das Antilhas ou Índias de Castela duvidais, por esta regra, que já disse, de conceder o lugar a quem primeiro o ocupa, e pode ser também por alguma confirmação do Padre Santo, que eu não alcancei ver nem saber, toda esta conquista do Mar Oceano descobriu e possuiu o Infante D. Henrique, que mandou descobrir estas ilhas dos Açores e por seu falecimento se diz que a deixou à Coroa Real de Portugal, como ao tronco donde ele descendia, a qual tiveram estes reis alguns anos, até que em tempo de El-rei D. João, segundo do nome, se antremeteu um Cristóvam Colon e quis fazer outra navegação diferente daquela, não ao longo da costa da terra firme, mas desviando-se pelo espaçoso mar do ponente, ao qual El-rei não quis dar crédito nem ouvidos, que foi causa de se dividir e partir esta conquista, como agora contarei.
Depois Gaspar Frutuoso apresenta a versão castelhana, que fala no segredo de marinheiros naufragados em Porto Santo, que  morreram às mãos de Colombo
Um homem de nação italiano, genoês, chamado Cristóvam Colon, natural de Cugurco, ou Narvi, aldeia de Génoa, de poucas casas, avisado e prático na arte da navegação, vindo de sua terra à ilha da Madeira, se casou nela, vivendo ali de fazer cartas de marear. Aonde, antes do ano de mil e quatrocentos e oitenta e seis, veio aportar uma nau biscainha, ou (segundo outros) andalusa, ou portuguesa, havendo com tormentas e tempos contrários descoberto parte das terras que agora chamamos Índias Ocidentais ou Novo Mundo.
Aqui a questão da nacionalidade colocava-se mais em termos dos náufragos incógnitos. Depois cita a versão de João de Barros e a de Cardan, e sem nunca colocar em causa a nacionalidade de Colón, e dá conta da sua versão, que é algo pormenorizada:
Era Cristóvam Colon animoso e de altos pensamentos, mas pobre e sem cabedal bastante pera cometer uma cousa de tanta dúvida e custo, pelo qual cuidou que seria bom pedir favor de algum príncipe cristão. E como naquele tempo El-rei de Portugal, D. João, o segundo do nome, estava ocupado em a conquista tão dificultosa e custosa da Índia e El-rei D. Fernando de Castela na guerra de Granada, determinou de se ir a Ingraterra a El-rei Henrique sétimo.
Por não perder tempo mandou lá a Bartolomeu Colon, seu irmão, e como não achou a entrada que quisera, tornou-se sem negociar nada, pelo qual acordou tentar, todavia, a El-rei de Portugal. E foi-lhe tão contrário o licenciado Calçadilha, bispo de Viseu, que não pôde alcançar cousa alguma; antes o tiveram por enganador e mentiroso. Foi-se com isto Colon, meio desesperado, a Castela e em Palos de Moguer comunicou suas imaginações com Martim Fernandes Pinção, grande piloto, e, de conselho deste e de Frei João Perez de Marchena, frade de S. Francisco, grande humanista, morador na casa da Arrábida, do qual levou cartas pera D. Frei Fernando de Talavera, Bispo de Ávila, confessor da rainha, pôs em prática seu negócio com D. Henrique Gusmão, Duque de Medina Sidónia, e depois com D. Luiz de Lacerda, Duque de Medina Celi, que tinham bons portos, que o ajudassem ao descobrimento destas terras novas, os quais fizeram escárneo dele, que certo parecia cousa de zombaria, mormente que Colon andava tão mal tratado e só, que perdiam muito crédito suas razões com ver sua pouca autoridade, porque é isto assi, que a verdade sem mangas compridas é mui mal recebida em qualquer boda e, quase sempre, cada feira vale menos.
Finalmente acordou de se ir à corte de El-rei D. Fernando de Castela, pera quem estava guardada tão boa ventura, em a qual entrou no ano de mil e quatrocentos e oitenta e seis. Aos princípios também zombavam dele ali, como nas outras partes, pelo qual e pelas muitas ocupações de El-rei com a guerra de Granada, não se lhe deu audiência tão asinha. Todavia achou favor em Afonso de Quintanilha, contador-mor, o que fez as leis da Irmandade. Este deu a Colon entrada em casa do Cardeal D. Pero Gonçalves de Mendonça. O Cardeal (que tudo mandava) o pôs com El-rei e da primeira vista tirou boas palavras e esperança de que, acabada a guerra de Granada, se falaria em seu negócio mais de propósito, porque até então não haveria bom aparelho de dinheiro. Antreteve-se com isto Cristóvam Colon na corte perto de seis anos. E quando viu acabada a guerra com tão bom sucesso, tornou a tratar de seu negócio e, por fim, se lhe deu licença pera ir descobrir as terras que dizia e pera que armasse os navios que lhe fossem necessários.
Primeiro, repare-se que é referido que D. João II estava ocupado na "dificultosa e custosa" conquista da Índia, o que é diferente do termo "descoberta da Índia". Depois o irmão chega a falar com Henrique VII, e isto torna-se um relato demasiado detalhado para ser inventado acerca das deambulações de Colombo, e da sua "vida difícil". Um aspecto nas versões alternativas de nacionalidade, é que há um irmão Bartolomeu, que tem um papel importante.
O relato do regresso também é interessante:
E no ano seguinte de mil e quatrocentos e noventa e três, (estando El-rei de Portugal, D. João, o segundo do nome, no lugar de Vale de Paraízo, que é acima do mosteiro das Virtudes, por caso das grandes pestes que nos lugares principais daquela comarca havia) a seis dias de Março, veio ter a Restelo, em Lisboa, este Cristóvam Colon, que vinha deste descobrimento das ilhas de Cipango e Antilhas (como dito é), que, per mandado de El-rei e da Rainha de Castela, tinha descoberto; das quais trazia as ditas mostras das gentes e ouro e outras cousas que nelas havia. E, sendo El-rei disso avisado, o mandou chamar e mostrou, por isso, receber nojo e sentimento, assi por crer que o dito descobrimento era feito dentro dos mares e termos de seus senhorios de Guiné, como porque, o dito Colon, por ser de sua condição alevantado, e no modo do contar das cousas fazia isto em ouro e prata e riquezas muito maior do que era, e acusava El-rei por se escusar deste descobrimento e não no querer mandar a isso, pois primeiro se lhe viera oferecer que aos Reis de Castela, e que fora por lhe não dar crédito. E El-rei foi cometido que houvesse por bem de lho matarem aí, porque, com sua morte, o descobrimento de Castela não iria mais avante por todos terem pera si que estavam aquelas ilhas dentro dos limites da conquista de Portugal, por a pouca distância que havia destas ilhas dos Açores a estas que Colon descobrira, e que, dando Sua Alteza a isso consentimento, se poderia fazer sem suspeita porque, por ele ser descortês e alvoraçado, podiam com ele travar de maneira que cada um destes seus defeitos parecesse a causa de sua morte. Mas El-rei, como era mui temente a Deus, não somente o defendeu, mas ainda lhe fez honra e mercê e com ela o despediu, mandando vestir de grã os índios que trazia.
Nada disto exclui, como é óbvio, outras hipóteses, mas "Saudades da Terra" não deixa de ser um relato pormenorizado da época, que sempre permaneceu "secreto", e sem publicação nacional.

Aquilo que parece ter sido reconhecido a Colón como novidade, terá sido um caminho marítimo novo pelas Canárias, que levou à descoberta das Antilhas. Ou seja, é de considerar que se mantivesse a tradição da navegação costeira, partindo dos Açores e pela Terra do Bacalhau...  até ao Brasil.

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publicado às 12:57

Quando às vezes pensamos que exageramos nas conjecturas, há sempre quem nos faça ver como é possível ser mais ousado... O ilustre investigador Manuel Rosa, conhecido inicialmente por demonstrar a origem portuguesa de Colombo, ficou agora ainda mais conhecido por demonstrar a sua origem polaca:
Capa da Newsweek (Polaca) de Fevereiro 2011

Fica aqui a breve notícia, que não queríamos deixar de dar, já que só pode resultar certamente de uma aturada e notável investigação. O site Colombo Português não reflectirá agora o nome mais adequado para um Warnenczyka, mas é apenas uma opinião. 
Nos antípodas de tais profundidades, na melhor das nossas conjecturas poderíamos pensar num Colombo chinês, na rota da investigação de Menzies... ou ainda, confessamos a nossa hipótese preferida, um Colombo norte-americano, pensando que D. João II  teria afinal legado aos espanhóis um índio nativo.
--------

Em mais ligeiras deambulações, fomos encontrar um nome diferente: o princípe Wiasemsky... cujo registo na internet é quase nulo.
Porém, conseguimos encontrar dois recorte de jornal - um do Bay of Plenty Times (1894) e outro do Grey River Argus (1896), jornais da Nova Zelândia.

O conteúdo das notícias, que aqui colocamos serve apenas para mostrar o ponto seguinte.
(clicar para visualizar)

Trata-se de uma citação de Cândido Costa, de 1896:
Ultimamente o príncipe Wiasemsky, que já viajou a cavalo ao redor da Ásia, dirigindo-se ao Figaro, que se publica em Paris, fez ciente do seu novo empreendimento, que consiste em passar da Europa para a América pelo mesmo meio de locomoção. 
O ponto de partida será Paris, atravessará a Europa e a Sibéria em direcção ao estreito de Bering, que transporá por cima do gelo, dirigindo-se daí às duas Américas, de Alasca até à Patagónia. 
No estreito de Bering não será difícil a passagem, por isso que durante dois meses forma-se nele o gelo.
Ou seja, há pouco mais de 100 anos, o estreito de Bering era transitável pelo gelo, durante dois meses. Este facto é completamente omitido hoje em dia. 
Aliás, considera-se apenas como hipótese a possibilidade de deslocação entre a Ásia e a América, em tempos remotos, durante a glaciação. O objectivo de Wiasemsky era demonstrar a viabilidade dessa travessia, como disse Cândido Costa: "Essa tentativa é um arrojo do ousado itinerista, que vem comprovar a passagem que faziam em tempos imemoriais do estreito de Bering para a América".

Como já referimos, antes de Bering, era denominado Estreito de Anian. Provavelmente devido ao arrefecimento considerável da Terra nos séculos seguintes, ficou inviável a Passagem Noroeste. Talvez a percepção de Bering tenha sido esse congelamento e a ponte de gelo. 
Ou seja, é natural que Bering tenha descoberto a Passagem de Bering, e não o Estreito de Anian. 
Isso permitiu depois à Rússia atingir o Alasca, pela continuidade, que se revelou instável e levou à venda do território aos USA. Um jogo sobre a ponte, numa altura em que o bridge, ou Russian Whist, era inventado.


O registo que encontrei de Wiasemsky foram dois recortes de jornal, que comprovam a existência e versatilidade do explorador russo. 
O registo dessa ligação do Estreito de Bering há cem anos, desapareceu!... 
Não se trata de uma informação perdida há muitas centenas de anos, trata-se de um registo que certamente entusiasmaria os leitores de jornais de grande circulação, como o Figaro... e no entanto, as proezas de Wiasemsky ficaram enterradas na glaciação informativa do Séc. XX, com uma pequena ponta solta na Nova Zelândia e no livro de Cândido Costa.

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publicado às 06:12

Quando às vezes pensamos que exageramos nas conjecturas, há sempre quem nos faça ver como é possível ser mais ousado... O ilustre investigador Manuel Rosa, conhecido inicialmente por demonstrar a origem portuguesa de Colombo, ficou agora ainda mais conhecido por demonstrar a sua origem polaca:
Capa da Newsweek (Polaca) de Fevereiro 2011

Fica aqui a breve notícia, que não queríamos deixar de dar, já que só pode resultar certamente de uma aturada e notável investigação. O site Colombo Português não reflectirá agora o nome mais adequado para um Warnenczyka, mas é apenas uma opinião. 
Nos antípodas de tais profundidades, na melhor das nossas conjecturas poderíamos pensar num Colombo chinês, na rota da investigação de Menzies... ou ainda, confessamos a nossa hipótese preferida, um Colombo norte-americano, pensando que D. João II  teria afinal legado aos espanhóis um índio nativo.
--------

Em mais ligeiras deambulações, fomos encontrar um nome diferente: o princípe Wiasemsky... cujo registo na internet é quase nulo.
Porém, conseguimos encontrar dois recorte de jornal - um do Bay of Plenty Times (1894) e outro do Grey River Argus (1896), jornais da Nova Zelândia.

O conteúdo das notícias, que aqui colocamos serve apenas para mostrar o ponto seguinte.
(clicar para visualizar)

Trata-se de uma citação de Cândido Costa, de 1896:
Ultimamente o príncipe Wiasemsky, que já viajou a cavalo ao redor da Ásia, dirigindo-se ao Figaro, que se publica em Paris, fez ciente do seu novo empreendimento, que consiste em passar da Europa para a América pelo mesmo meio de locomoção. 
O ponto de partida será Paris, atravessará a Europa e a Sibéria em direcção ao estreito de Bering, que transporá por cima do gelo, dirigindo-se daí às duas Américas, de Alasca até à Patagónia. 
No estreito de Bering não será difícil a passagem, por isso que durante dois meses forma-se nele o gelo.
Ou seja, há pouco mais de 100 anos, o estreito de Bering era transitável pelo gelo, durante dois meses. Este facto é completamente omitido hoje em dia. 
Aliás, considera-se apenas como hipótese a possibilidade de deslocação entre a Ásia e a América, em tempos remotos, durante a glaciação. O objectivo de Wiasemsky era demonstrar a viabilidade dessa travessia, como disse Cândido Costa: "Essa tentativa é um arrojo do ousado itinerista, que vem comprovar a passagem que faziam em tempos imemoriais do estreito de Bering para a América".

Como já referimos, antes de Bering, era denominado Estreito de Anian. Provavelmente devido ao arrefecimento considerável da Terra nos séculos seguintes, ficou inviável a Passagem Noroeste. Talvez a percepção de Bering tenha sido esse congelamento e a ponte de gelo. 
Ou seja, é natural que Bering tenha descoberto a Passagem de Bering, e não o Estreito de Anian. 
Isso permitiu depois à Rússia atingir o Alasca, pela continuidade, que se revelou instável e levou à venda do território aos USA. Um jogo sobre a ponte, numa altura em que o bridge, ou Russian Whist, era inventado.


O registo que encontrei de Wiasemsky foram dois recortes de jornal, que comprovam a existência e versatilidade do explorador russo. 
O registo dessa ligação do Estreito de Bering há cem anos, desapareceu!... 
Não se trata de uma informação perdida há muitas centenas de anos, trata-se de um registo que certamente entusiasmaria os leitores de jornais de grande circulação, como o Figaro... e no entanto, as proezas de Wiasemsky ficaram enterradas na glaciação informativa do Séc. XX, com uma pequena ponta solta na Nova Zelândia e no livro de Cândido Costa.

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Quando às vezes pensamos que exageramos nas conjecturas, há sempre quem nos faça ver como é possível ser mais ousado... O ilustre investigador Manuel Rosa, conhecido inicialmente por demonstrar a origem portuguesa de Colombo, ficou agora ainda mais conhecido por demonstrar a sua origem polaca:
Capa da Newsweek (Polaca) de Fevereiro 2011

Fica aqui a breve notícia, que não queríamos deixar de dar, já que só pode resultar certamente de uma aturada e notável investigação. O site Colombo Português não reflectirá agora o nome mais adequado para um Warnenczyka, mas é apenas uma opinião. 
Nos antípodas de tais profundidades, na melhor das nossas conjecturas poderíamos pensar num Colombo chinês, na rota da investigação de Menzies... ou ainda, confessamos a nossa hipótese preferida, um Colombo norte-americano, pensando que D. João II  teria afinal legado aos espanhóis um índio nativo.
--------

Em mais ligeiras deambulações, fomos encontrar um nome diferente: o princípe Wiasemsky... cujo registo na internet é quase nulo.
Porém, conseguimos encontrar dois recorte de jornal - um do Bay of Plenty Times (1894) e outro do Grey River Argus (1896), jornais da Nova Zelândia.

O conteúdo das notícias, que aqui colocamos serve apenas para mostrar o ponto seguinte.
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Trata-se de uma citação de Cândido Costa, de 1896:
Ultimamente o príncipe Wiasemsky, que já viajou a cavalo ao redor da Ásia, dirigindo-se ao Figaro, que se publica em Paris, fez ciente do seu novo empreendimento, que consiste em passar da Europa para a América pelo mesmo meio de locomoção. 
O ponto de partida será Paris, atravessará a Europa e a Sibéria em direcção ao estreito de Bering, que transporá por cima do gelo, dirigindo-se daí às duas Américas, de Alasca até à Patagónia. 
No estreito de Bering não será difícil a passagem, por isso que durante dois meses forma-se nele o gelo.
Ou seja, há pouco mais de 100 anos, o estreito de Bering era transitável pelo gelo, durante dois meses. Este facto é completamente omitido hoje em dia. 
Aliás, considera-se apenas como hipótese a possibilidade de deslocação entre a Ásia e a América, em tempos remotos, durante a glaciação. O objectivo de Wiasemsky era demonstrar a viabilidade dessa travessia, como disse Cândido Costa: "Essa tentativa é um arrojo do ousado itinerista, que vem comprovar a passagem que faziam em tempos imemoriais do estreito de Bering para a América".

Como já referimos, antes de Bering, era denominado Estreito de Anian. Provavelmente devido ao arrefecimento considerável da Terra nos séculos seguintes, ficou inviável a Passagem Noroeste. Talvez a percepção de Bering tenha sido esse congelamento e a ponte de gelo. 
Ou seja, é natural que Bering tenha descoberto a Passagem de Bering, e não o Estreito de Anian. 
Isso permitiu depois à Rússia atingir o Alasca, pela continuidade, que se revelou instável e levou à venda do território aos USA. Um jogo sobre a ponte, numa altura em que o bridge, ou Russian Whist, era inventado.


O registo que encontrei de Wiasemsky foram dois recortes de jornal, que comprovam a existência e versatilidade do explorador russo. 
O registo dessa ligação do Estreito de Bering há cem anos, desapareceu!... 
Não se trata de uma informação perdida há muitas centenas de anos, trata-se de um registo que certamente entusiasmaria os leitores de jornais de grande circulação, como o Figaro... e no entanto, as proezas de Wiasemsky ficaram enterradas na glaciação informativa do Séc. XX, com uma pequena ponta solta na Nova Zelândia e no livro de Cândido Costa.

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