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Num mapa da América do Sul no Atlas Universal de João Teixeira Albernaz, de 1643, podemos ler na região da Patagónia "Terra de Gigantes". 
América do Sul no Atlas Universal, 1643,
de João Teixeira Albernaz (Torre do Tombo)

Fomos encontrar estes mapas com alta definição um ano depois de ter aqui colocado um mapa de menor definição, do mesmo autor, curiosamente ilustrado com um "Santo António e o menino".
Não há propriamente grande novidade neste mapa, à primeira vista, mas nota-se perfeitamente que havia uma barreira entre as cidades coloniais espanholas, seja do Chile ou de Tucuman, que não passavam o paralelo do Rio da Prata. Aliás o foco era colocado na exploração da prata, ilustrada no mapa pelo relevo dado à cidade de Potossi.

Nenhuma cidade estava estabelecida na chamada Terra de Gigantes ou Patagónia... e assim permaneceu até ao Séc XIX. Pode sempre invocar-se o clima mais frio, mas para europeus, estamos ainda em zonas temperadas, em latitudes europeias. Só mesmo a ponta sul na Terra do Fogo exibiria um clima próximo da Escandinávia, e ainda assim habitável.

Não insistimos no tema de gigantes, que já abordámos aqui e várias vezes.
O assunto mais relevante é um Privilégio dado à Companhia das Indias Holandesa em 1621. Colocámos aqui as duas primeiras páginas que encontrámos nos Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (1908, Vol.30). 

É especialmente instrutivo ler-se sobre a absoluta proibição de navegação, a menos de consentimento expresso da Companhia, e ainda que esta restrição praticamente cobrisse todo o globo terrestre, há alguns locais que são mencionados em particular: o Cabo da Boa Esperança, a Terra Nova, os Estreitos de Magalhães e Le Maire até ao Estreito de Anian, bem como "as Terras Austrais (...) que atingem a Leste o Cabo da Boa Esperança e a Oeste a extremidade oriental da Nova Guiné, inclusivé". 
Esta última descrição corresponde a uma efectiva proibição da navegação à Austrália.
A Companhia das Índias queria restringir o contacto com "más" companhias índias... (*)

Se dúvidas ainda houvesse, neste documento oficial de 1621 fica claro que as terras estavam identificadas e a navegação era proibida. Neste caso era proibida pela Companhia das Índias da Holanda, mas o texto revela um poder quase universal, talvez pretencioso, mas também talvez efectivo e que se manifestava num possível acordo com as outras Companhias das Índias, ou no decurso favorável da Guerra dos Trinta Anos. 
Na prática estava estabelecido um código de comércio europeu global. As histórias de descobertas que ouvimos depois disto são meras fantasias de estórias de encantar, com heróis seleccionados.

Em concreto, o Estreito de Anian (no texto escrito "Anjan"), que tantas vezes aparecia nos mapas, e que já aqui falámos várias vezes, é neste documento identificado oficialmente.
Não pode ninguém invocar agora fantasia ou incerteza dos cartógrafos. A descoberta do mesmo estreito por Bering foi apenas uma mera formalidade, talvez honrando uma colaboração entre dinamarqueses e russos na aniquilação do Império Tártaro Siberiano e Anian do Alasca.

Também João Teixeira Albernaz coloca o Estreito de Anian, entre a Tartária Oriental e o reino de Anian (a parte noroeste da América Setentrional), ao mesmo tempo que identifica algumas ilhas acima do Japão, descobertas por D. João da Gama.
Estreito de Anian, no Atlas de João Teixeira Albernaz de 1643

Podemos ainda ver neste mapa, a sequência Cabo de Fortuna, Costa de los Tucayos, Cabo Bravo, V. Honda, Costa de Arboredos, V. baixo, V. de montanhas, etc... uma sequência de nomes em que os dois últimos estão rasurados, e quanto a Honda é um nome que o Japão fez questão de recuperar pela sua indústria automóvel.

Tudo se passava num cenário que foi completamente ocultado, sendo revelados e admitidas algumas chacinas, algumas guerras, em que os heróis e vilões eram seleccionadamente escolhidos para a glória ou repúdio.
Podemos encontrar ainda na mesma Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro uma relação de consultas do Conselho da Fazenda relativa ao Ano de 1634, onde se lêem alguns aspectos caricatos das nossas explorações. Seleccionamos a vermelho um pedido pagamento de Pedro de Ieter, de um soldo de 648 escudos... relativo à descoberta do Estreito de Le Maire (dito Mayre) por ordem do Marquês de Alenquer:

O Estreito de Le Maire, aqui dito Mayre, é um nome inventado pelo próprio holandês Le Maire, em 1616, com a incumbência oficial de provar que a Terra do Fogo não era um continente... A situação é especialmente caricata porque seria já suposto que Drake tivesse ido pelo Cabo Horn, de onde viria o nome Passagem de Drake... porém depois considerou-se que Drake seguiu o caminho de Magalhães, e afinal uma tormenta é que o mandou para trás... nunca falta imaginação tormentosa!

Sobre Pedro de Ieter não encontrei nada... poderá ter seguido na expedição de Garcia de Nodal, que partiu de Lisboa em 1619, então sob regência do Marquês de Alenquer, Diego de Silva y Mendonza, vice-rei de Filipe III. É este vice-rei o filho dos notáveis Príncipes de Eboli, Ruy Gomes da Silva e Ana Mendonza de La Cerda, de que já falámos, sendo neste período que se sentiu uma maior autonomia portuguesa sob domínio filipino.
Esta expedição espanhola em resposta à holandesa de Le Maire, torna claro como as descobertas eram respostas políticas, muito mais do que empreendimentos de navegação. Pela parte espanhola, foram descobertos territórios sul até às ilhas de Diego Ramirez, mas não se ousou declarar mais do que isso... o "novo estreito de Mayre" incumbido a Pedro Ieter ficou por se saber. A Espanha iria perder a Guerra dos Trinta Anos, e a sua capacidade de reclamar territórios ficaria definitivamente comprometida em Vestfália, 1648 (**).

Quanto aos territórios antárticos, apesar de quase contíguos a toda essa região, ficaram guardados até ao final do Século XIX, princípio do XX. Talvez se aceite isto de forma leve sabendo que os espanhóis não gostam muito de frio... se existiu algum monumento na Antártida, colocado por espanhóis ou portugueses, ele foi certamente destruído para sempre - por algum acidente natural, é claro!

Notas:
(*) Até que ponto o nome Companhia da Índias se relacionaria pela necessária "companhia" nos navios... digamos um autêntico serviço de acompanhantes, destinado a não desencaminhar os navios do seu rumo. Fora desse "escorting service", só funcionariam mesmo os navios piratas...  


(**) O texto escrito em 1621 fala no prazo de 24 anos... revelando um plano de longo curso, que se materializaria em 1645. Isto tem características de "protocolo do Sião" no sentido em que antevê alguns desenvolvimentos que irão materializar o domínio holandês. Vestfália é assinada em 1648 e o erro seria apenas de 3 anos, caso fosse a previsão para a vitória na Guerra dos Trinta Anos. Ao mesmo tempo, 1645 é o ano em que as forças parlamentares de Cromwell ganham um controlo total de Inglaterra, levando o rei Carlos I a fugir para a Escócia, sendo depois executado em 1649. É ainda dentro desse prazo de 24 anos, em 1640, que Portugal se liberta do jugo espanhol... é aqui difícil perceber se a coordenação das rebeliões ibéricas foi um facto lateral ou se efectivamente vinha do objectivo de enfraquecer a unidade espanhola.
Para além do apoio surgido nas guerras da restauração, há um facto que relaciona a Restauração portuguesa e o lado vencedor da Guerra do Trinta Anos... essa guerra começou com um episódio da defenestração de Praga. Haverá sempre um certo desejo de alguma assinatura, que passará por moda da época!

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 16:49

Num mapa da América do Sul no Atlas Universal de João Teixeira Albernaz, de 1643, podemos ler na região da Patagónia "Terra de Gigantes". 
América do Sul no Atlas Universal, 1643,
de João Teixeira Albernaz (Torre do Tombo)

Fomos encontrar estes mapas com alta definição um ano depois de ter aqui colocado um mapa de menor definição, do mesmo autor, curiosamente ilustrado com um "Santo António e o menino".
Não há propriamente grande novidade neste mapa, à primeira vista, mas nota-se perfeitamente que havia uma barreira entre as cidades coloniais espanholas, seja do Chile ou de Tucuman, que não passavam o paralelo do Rio da Prata. Aliás o foco era colocado na exploração da prata, ilustrada no mapa pelo relevo dado à cidade de Potossi.

Nenhuma cidade estava estabelecida na chamada Terra de Gigantes ou Patagónia... e assim permaneceu até ao Séc XIX. Pode sempre invocar-se o clima mais frio, mas para europeus, estamos ainda em zonas temperadas, em latitudes europeias. Só mesmo a ponta sul na Terra do Fogo exibiria um clima próximo da Escandinávia, e ainda assim habitável.

Não insistimos no tema de gigantes, que já abordámos aqui e várias vezes.
O assunto mais relevante é um Privilégio dado à Companhia das Indias Holandesa em 1621. Colocámos aqui as duas primeiras páginas que encontrámos nos Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (1908, Vol.30). 

É especialmente instrutivo ler-se sobre a absoluta proibição de navegação, a menos de consentimento expresso da Companhia, e ainda que esta restrição praticamente cobrisse todo o globo terrestre, há alguns locais que são mencionados em particular: o Cabo da Boa Esperança, a Terra Nova, os Estreitos de Magalhães e Le Maire até ao Estreito de Anian, bem como "as Terras Austrais (...) que atingem a Leste o Cabo da Boa Esperança e a Oeste a extremidade oriental da Nova Guiné, inclusivé". 
Esta última descrição corresponde a uma efectiva proibição da navegação à Austrália.
A Companhia das Índias queria restringir o contacto com "más" companhias índias... (*)

Se dúvidas ainda houvesse, neste documento oficial de 1621 fica claro que as terras estavam identificadas e a navegação era proibida. Neste caso era proibida pela Companhia das Índias da Holanda, mas o texto revela um poder quase universal, talvez pretencioso, mas também talvez efectivo e que se manifestava num possível acordo com as outras Companhias das Índias, ou no decurso favorável da Guerra dos Trinta Anos. 
Na prática estava estabelecido um código de comércio europeu global. As histórias de descobertas que ouvimos depois disto são meras fantasias de estórias de encantar, com heróis seleccionados.

Em concreto, o Estreito de Anian (no texto escrito "Anjan"), que tantas vezes aparecia nos mapas, e que já aqui falámos várias vezes, é neste documento identificado oficialmente.
Não pode ninguém invocar agora fantasia ou incerteza dos cartógrafos. A descoberta do mesmo estreito por Bering foi apenas uma mera formalidade, talvez honrando uma colaboração entre dinamarqueses e russos na aniquilação do Império Tártaro Siberiano e Anian do Alasca.

Também João Teixeira Albernaz coloca o Estreito de Anian, entre a Tartária Oriental e o reino de Anian (a parte noroeste da América Setentrional), ao mesmo tempo que identifica algumas ilhas acima do Japão, descobertas por D. João da Gama.
Estreito de Anian, no Atlas de João Teixeira Albernaz de 1643

Podemos ainda ver neste mapa, a sequência Cabo de Fortuna, Costa de los Tucayos, Cabo Bravo, V. Honda, Costa de Arboredos, V. baixo, V. de montanhas, etc... uma sequência de nomes em que os dois últimos estão rasurados, e quanto a Honda é um nome que o Japão fez questão de recuperar pela sua indústria automóvel.

Tudo se passava num cenário que foi completamente ocultado, sendo revelados e admitidas algumas chacinas, algumas guerras, em que os heróis e vilões eram seleccionadamente escolhidos para a glória ou repúdio.
Podemos encontrar ainda na mesma Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro uma relação de consultas do Conselho da Fazenda relativa ao Ano de 1634, onde se lêem alguns aspectos caricatos das nossas explorações. Seleccionamos a vermelho um pedido pagamento de Pedro de Ieter, de um soldo de 648 escudos... relativo à descoberta do Estreito de Le Maire (dito Mayre) por ordem do Marquês de Alenquer:

O Estreito de Le Maire, aqui dito Mayre, é um nome inventado pelo próprio holandês Le Maire, em 1616, com a incumbência oficial de provar que a Terra do Fogo não era um continente... A situação é especialmente caricata porque seria já suposto que Drake tivesse ido pelo Cabo Horn, de onde viria o nome Passagem de Drake... porém depois considerou-se que Drake seguiu o caminho de Magalhães, e afinal uma tormenta é que o mandou para trás... nunca falta imaginação tormentosa!

Sobre Pedro de Ieter não encontrei nada... poderá ter seguido na expedição de Garcia de Nodal, que partiu de Lisboa em 1619, então sob regência do Marquês de Alenquer, Diego de Silva y Mendonza, vice-rei de Filipe III. É este vice-rei o filho dos notáveis Príncipes de Eboli, Ruy Gomes da Silva e Ana Mendonza de La Cerda, de que já falámos, sendo neste período que se sentiu uma maior autonomia portuguesa sob domínio filipino.
Esta expedição espanhola em resposta à holandesa de Le Maire, torna claro como as descobertas eram respostas políticas, muito mais do que empreendimentos de navegação. Pela parte espanhola, foram descobertos territórios sul até às ilhas de Diego Ramirez, mas não se ousou declarar mais do que isso... o "novo estreito de Mayre" incumbido a Pedro Ieter ficou por se saber. A Espanha iria perder a Guerra dos Trinta Anos, e a sua capacidade de reclamar territórios ficaria definitivamente comprometida em Vestfália, 1648 (**).

Quanto aos territórios antárticos, apesar de quase contíguos a toda essa região, ficaram guardados até ao final do Século XIX, princípio do XX. Talvez se aceite isto de forma leve sabendo que os espanhóis não gostam muito de frio... se existiu algum monumento na Antártida, colocado por espanhóis ou portugueses, ele foi certamente destruído para sempre - por algum acidente natural, é claro!

Notas:
(*) Até que ponto o nome Companhia da Índias se relacionaria pela necessária "companhia" nos navios... digamos um autêntico serviço de acompanhantes, destinado a não desencaminhar os navios do seu rumo. Fora desse "escorting service", só funcionariam mesmo os navios piratas...  


(**) O texto escrito em 1621 fala no prazo de 24 anos... revelando um plano de longo curso, que se materializaria em 1645. Isto tem características de "protocolo do Sião" no sentido em que antevê alguns desenvolvimentos que irão materializar o domínio holandês. Vestfália é assinada em 1648 e o erro seria apenas de 3 anos, caso fosse a previsão para a vitória na Guerra dos Trinta Anos. Ao mesmo tempo, 1645 é o ano em que as forças parlamentares de Cromwell ganham um controlo total de Inglaterra, levando o rei Carlos I a fugir para a Escócia, sendo depois executado em 1649. É ainda dentro desse prazo de 24 anos, em 1640, que Portugal se liberta do jugo espanhol... é aqui difícil perceber se a coordenação das rebeliões ibéricas foi um facto lateral ou se efectivamente vinha do objectivo de enfraquecer a unidade espanhola.
Para além do apoio surgido nas guerras da restauração, há um facto que relaciona a Restauração portuguesa e o lado vencedor da Guerra do Trinta Anos... essa guerra começou com um episódio da defenestração de Praga. Haverá sempre um certo desejo de alguma assinatura, que passará por moda da época!

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Num mapa da América do Sul no Atlas Universal de João Teixeira Albernaz, de 1643, podemos ler na região da Patagónia "Terra de Gigantes". 
América do Sul no Atlas Universal, 1643,
de João Teixeira Albernaz (Torre do Tombo)

Fomos encontrar estes mapas com alta definição um ano depois de ter aqui colocado um mapa de menor definição, do mesmo autor, curiosamente ilustrado com um "Santo António e o menino".
Não há propriamente grande novidade neste mapa, à primeira vista, mas nota-se perfeitamente que havia uma barreira entre as cidades coloniais espanholas, seja do Chile ou de Tucuman, que não passavam o paralelo do Rio da Prata. Aliás o foco era colocado na exploração da prata, ilustrada no mapa pelo relevo dado à cidade de Potossi.

Nenhuma cidade estava estabelecida na chamada Terra de Gigantes ou Patagónia... e assim permaneceu até ao Séc XIX. Pode sempre invocar-se o clima mais frio, mas para europeus, estamos ainda em zonas temperadas, em latitudes europeias. Só mesmo a ponta sul na Terra do Fogo exibiria um clima próximo da Escandinávia, e ainda assim habitável.

Não insistimos no tema de gigantes, que já abordámos aqui e várias vezes.
O assunto mais relevante é um Privilégio dado à Companhia das Indias Holandesa em 1621. Colocámos aqui as duas primeiras páginas que encontrámos nos Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (1908, Vol.30). 

É especialmente instrutivo ler-se sobre a absoluta proibição de navegação, a menos de consentimento expresso da Companhia, e ainda que esta restrição praticamente cobrisse todo o globo terrestre, há alguns locais que são mencionados em particular: o Cabo da Boa Esperança, a Terra Nova, os Estreitos de Magalhães e Le Maire até ao Estreito de Anian, bem como "as Terras Austrais (...) que atingem a Leste o Cabo da Boa Esperança e a Oeste a extremidade oriental da Nova Guiné, inclusivé". 
Esta última descrição corresponde a uma efectiva proibição da navegação à Austrália.
A Companhia das Índias queria restringir o contacto com "más" companhias índias... (*)

Se dúvidas ainda houvesse, neste documento oficial de 1621 fica claro que as terras estavam identificadas e a navegação era proibida. Neste caso era proibida pela Companhia das Índias da Holanda, mas o texto revela um poder quase universal, talvez pretencioso, mas também talvez efectivo e que se manifestava num possível acordo com as outras Companhias das Índias, ou no decurso favorável da Guerra dos Trinta Anos. 
Na prática estava estabelecido um código de comércio europeu global. As histórias de descobertas que ouvimos depois disto são meras fantasias de estórias de encantar, com heróis seleccionados.

Em concreto, o Estreito de Anian (no texto escrito "Anjan"), que tantas vezes aparecia nos mapas, e que já aqui falámos várias vezes, é neste documento identificado oficialmente.
Não pode ninguém invocar agora fantasia ou incerteza dos cartógrafos. A descoberta do mesmo estreito por Bering foi apenas uma mera formalidade, talvez honrando uma colaboração entre dinamarqueses e russos na aniquilação do Império Tártaro Siberiano e Anian do Alasca.

Também João Teixeira Albernaz coloca o Estreito de Anian, entre a Tartária Oriental e o reino de Anian (a parte noroeste da América Setentrional), ao mesmo tempo que identifica algumas ilhas acima do Japão, descobertas por D. João da Gama.
Estreito de Anian, no Atlas de João Teixeira Albernaz de 1643

Podemos ainda ver neste mapa, a sequência Cabo de Fortuna, Costa de los Tucayos, Cabo Bravo, V. Honda, Costa de Arboredos, V. baixo, V. de montanhas, etc... uma sequência de nomes em que os dois últimos estão rasurados, e quanto a Honda é um nome que o Japão fez questão de recuperar pela sua indústria automóvel.

Tudo se passava num cenário que foi completamente ocultado, sendo revelados e admitidas algumas chacinas, algumas guerras, em que os heróis e vilões eram seleccionadamente escolhidos para a glória ou repúdio.
Podemos encontrar ainda na mesma Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro uma relação de consultas do Conselho da Fazenda relativa ao Ano de 1634, onde se lêem alguns aspectos caricatos das nossas explorações. Seleccionamos a vermelho um pedido pagamento de Pedro de Ieter, de um soldo de 648 escudos... relativo à descoberta do Estreito de Le Maire (dito Mayre) por ordem do Marquês de Alenquer:

O Estreito de Le Maire, aqui dito Mayre, é um nome inventado pelo próprio holandês Le Maire, em 1616, com a incumbência oficial de provar que a Terra do Fogo não era um continente... A situação é especialmente caricata porque seria já suposto que Drake tivesse ido pelo Cabo Horn, de onde viria o nome Passagem de Drake... porém depois considerou-se que Drake seguiu o caminho de Magalhães, e afinal uma tormenta é que o mandou para trás... nunca falta imaginação tormentosa!

Sobre Pedro de Ieter não encontrei nada... poderá ter seguido na expedição de Garcia de Nodal, que partiu de Lisboa em 1619, então sob regência do Marquês de Alenquer, Diego de Silva y Mendonza, vice-rei de Filipe III. É este vice-rei o filho dos notáveis Príncipes de Eboli, Ruy Gomes da Silva e Ana Mendonza de La Cerda, de que já falámos, sendo neste período que se sentiu uma maior autonomia portuguesa sob domínio filipino.
Esta expedição espanhola em resposta à holandesa de Le Maire, torna claro como as descobertas eram respostas políticas, muito mais do que empreendimentos de navegação. Pela parte espanhola, foram descobertos territórios sul até às ilhas de Diego Ramirez, mas não se ousou declarar mais do que isso... o "novo estreito de Mayre" incumbido a Pedro Ieter ficou por se saber. A Espanha iria perder a Guerra dos Trinta Anos, e a sua capacidade de reclamar territórios ficaria definitivamente comprometida em Vestfália, 1648 (**).

Quanto aos territórios antárticos, apesar de quase contíguos a toda essa região, ficaram guardados até ao final do Século XIX, princípio do XX. Talvez se aceite isto de forma leve sabendo que os espanhóis não gostam muito de frio... se existiu algum monumento na Antártida, colocado por espanhóis ou portugueses, ele foi certamente destruído para sempre - por algum acidente natural, é claro!

Notas:
(*) Até que ponto o nome Companhia da Índias se relacionaria pela necessária "companhia" nos navios... digamos um autêntico serviço de acompanhantes, destinado a não desencaminhar os navios do seu rumo. Fora desse "escorting service", só funcionariam mesmo os navios piratas...  


(**) O texto escrito em 1621 fala no prazo de 24 anos... revelando um plano de longo curso, que se materializaria em 1645. Isto tem características de "protocolo do Sião" no sentido em que antevê alguns desenvolvimentos que irão materializar o domínio holandês. Vestfália é assinada em 1648 e o erro seria apenas de 3 anos, caso fosse a previsão para a vitória na Guerra dos Trinta Anos. Ao mesmo tempo, 1645 é o ano em que as forças parlamentares de Cromwell ganham um controlo total de Inglaterra, levando o rei Carlos I a fugir para a Escócia, sendo depois executado em 1649. É ainda dentro desse prazo de 24 anos, em 1640, que Portugal se liberta do jugo espanhol... é aqui difícil perceber se a coordenação das rebeliões ibéricas foi um facto lateral ou se efectivamente vinha do objectivo de enfraquecer a unidade espanhola.
Para além do apoio surgido nas guerras da restauração, há um facto que relaciona a Restauração portuguesa e o lado vencedor da Guerra do Trinta Anos... essa guerra começou com um episódio da defenestração de Praga. Haverá sempre um certo desejo de alguma assinatura, que passará por moda da época!

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