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Para o grandioso processo, da evolução humana, existe em Espanha, perto de Burgos, um local - Atapuerca - que poderá ser considerado como uma Acta de evolução humana, concatenando ossadas, quase continuamente, desde remotos tempos - anteriores a Neandertais, datados de ~ um milhão de anos, até à época medieval. 
Sierra de Atapuerca - escavações arqueológicas, onde foram encontradas as mais antigas ossadas europeias.
Foi neste local que se definiu uma nova espécie humana, denominado Homo Antecessor, considerado como ancestral do Homem de Neandertal, ou do Homo Heidelbergensis (até então considerado o mais antigo na Europa).

O aspecto menos limpo dos achados relativos a estes hominídeos primitivos, é que terão sido encontradas provas concludentes de que praticavam canibalismo, especialmente de crianças e jovens, e não seria algo relacionado com nenhuma "justificação" ou "necessidade"... simplesmente fazia parte da sua dieta alimentar:
First Europeans were cannibals with taste for children (Telegraph, 24-06-2009)
Esta prática foi encontrada em mais do que um nível de ossadas, revelando que foi uma prática que perdurou durante esses tempos antigos.

Outros registos de canibalismo têm sido encontrados, relativamente a Neandertais, que mostram que houve famílias sujeitas a uma prática canibal. Algo que é habitualmente pouco mencionado, e que como é óbvio, também foi (e ainda é...) praticada pelo Homo Sapiens.
Neanderthals darkest secret - El Sidrón
(produção: Terra Mater Factual Studios)

Casos de canibalismo ocorrem entre primatas, nomeadamente orangotangos, bonobos, ou chimpanzés, eventualmente por disposição do corpo por morte, mas no caso de chimpanzés, é de notar que a maior parte da dieta alimentar consiste em macacos mais pequenos.
Portanto, não será de estranhar por completo, que primitivos hominídeos usassem a prática canibal.
Já mencionei isso, num outro postal "O Tonante (2)" (... dieta paleolítica), e não vejo como se possa excluir que a prática de domesticação animal, que depois se seguiu, não pudesse ter começado antes por uma "domesticação" interna à espécie, para fins alimentares.

Uma outra questão pré-histórica associada, será a de saber se, durante a Idade do Gelo, existiu alguma forma de escravatura instituída. Podendo ainda considerar-se que uma separação de descendência, entre escravos e não-escravos, poderia ainda ter levado à formação de subespécies ou raças aparentemente diferentes.
Os primeiros registos históricos conhecidos - por exemplo, sumérios, são registos que envolvem desde logo uma contabilização de escravos, pelo que a escravatura é muito anterior. Sendo admissível pensar que poderia ter sido uma sociedade agrícola, neolítica, a necessitar de produção baseada em escravos, o registo poderá ser bem mais antigo, e mergulhar em tradições do paleolítico.

No entanto, há aqui uma curiosidade factual.
Havendo vontade expressa de uma certa elite se destacar, cuidando que apenas fosse conservada na elite uma raça pura, ou apurada, caso fosse possível, em sinal contrário, às raças escravizadas, poderem continuar a cruzar-se entre si, então o resultado ao fim de algum tempo seria previsível.
Ou seja, a raça apurada tenderia a tornar-se infértil, e mais sujeita ao desaparecimento, do que as raças que continuavam a permitir cruzamentos indiscriminados.
Aliás, no momento em que essa raça purificada se viesse a extinguir, só restariam elementos das restantes raças, que permitiam uma maior diversidade de cruzamentos. Por exemplo, durante a Idade Média, quando as famílias reais tenderam a ser bastante elitistas nos cruzamentos, os problemas genéticos começaram a aparecer no sangue real, mostrando como a natureza não autorizava ser ultrapassada na selecção natural, por uma selecção humana, artificial.

Em conclusão, podemos considerar suspeita natural que aquilo que levou o Homo Sapiens a impor-se perante as diferentes subespécies de hominídeos terá sido uma capacidade reprodutiva muito alargada, entre subespécies muito diferentes, que terá determinado depois uma certa normalização.
E se no caso de muitos animais, uma antiga pequena mudança de aspecto terá determinado espécies completamente diferentes, isso não terá ocorrido da mesma forma no caso humano.

O que restou de tradições canibalistas, com origem pré-histórica, foi ficando reduzido a pequenas tribos isoladas, e cada vez mais isoladas, ao ponto de serem ignoradas. Não é até de excluir que algumas exigências alimentares religiosas - proibição de alimentação com carne de porco, pudessem ter origem num repúdio longínquo de qualquer cheiro que pudesse lembrar práticas de antropofagia.
Atapuerca poderá ter assim enterrado, um dos últimos processos menos limpos da evolução humana, quando a dieta alimentar não estava minimamente ligada a nenhuma dieta moral.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:16

Para o grandioso processo, da evolução humana, existe em Espanha, perto de Burgos, um local - Atapuerca - que poderá ser considerado como uma Acta de evolução humana, concatenando ossadas, quase continuamente, desde remotos tempos - anteriores a Neandertais, datados de ~ um milhão de anos, até à época medieval. 
Sierra de Atapuerca - escavações arqueológicas, onde foram encontradas as mais antigas ossadas europeias.
Foi neste local que se definiu uma nova espécie humana, denominado Homo Antecessor, considerado como ancestral do Homem de Neandertal, ou do Homo Heidelbergensis (até então considerado o mais antigo na Europa).

O aspecto menos limpo dos achados relativos a estes hominídeos primitivos, é que terão sido encontradas provas concludentes de que praticavam canibalismo, especialmente de crianças e jovens, e não seria algo relacionado com nenhuma "justificação" ou "necessidade"... simplesmente fazia parte da sua dieta alimentar:
First Europeans were cannibals with taste for children (Telegraph, 24-06-2009)
Esta prática foi encontrada em mais do que um nível de ossadas, revelando que foi uma prática que perdurou durante esses tempos antigos.

Outros registos de canibalismo têm sido encontrados, relativamente a Neandertais, que mostram que houve famílias sujeitas a uma prática canibal. Algo que é habitualmente pouco mencionado, e que como é óbvio, também foi (e ainda é...) praticada pelo Homo Sapiens.
Neanderthals darkest secret - El Sidrón
(produção: Terra Mater Factual Studios)

Casos de canibalismo ocorrem entre primatas, nomeadamente orangotangos, bonobos, ou chimpanzés, eventualmente por disposição do corpo por morte, mas no caso de chimpanzés, é de notar que a maior parte da dieta alimentar consiste em macacos mais pequenos.
Portanto, não será de estranhar por completo, que primitivos hominídeos usassem a prática canibal.
Já mencionei isso, num outro postal "O Tonante (2)" (... dieta paleolítica), e não vejo como se possa excluir que a prática de domesticação animal, que depois se seguiu, não pudesse ter começado antes por uma "domesticação" interna à espécie, para fins alimentares.

Uma outra questão pré-histórica associada, será a de saber se, durante a Idade do Gelo, existiu alguma forma de escravatura instituída. Podendo ainda considerar-se que uma separação de descendência, entre escravos e não-escravos, poderia ainda ter levado à formação de subespécies ou raças aparentemente diferentes.
Os primeiros registos históricos conhecidos - por exemplo, sumérios, são registos que envolvem desde logo uma contabilização de escravos, pelo que a escravatura é muito anterior. Sendo admissível pensar que poderia ter sido uma sociedade agrícola, neolítica, a necessitar de produção baseada em escravos, o registo poderá ser bem mais antigo, e mergulhar em tradições do paleolítico.

No entanto, há aqui uma curiosidade factual.
Havendo vontade expressa de uma certa elite se destacar, cuidando que apenas fosse conservada na elite uma raça pura, ou apurada, caso fosse possível, em sinal contrário, às raças escravizadas, poderem continuar a cruzar-se entre si, então o resultado ao fim de algum tempo seria previsível.
Ou seja, a raça apurada tenderia a tornar-se infértil, e mais sujeita ao desaparecimento, do que as raças que continuavam a permitir cruzamentos indiscriminados.
Aliás, no momento em que essa raça purificada se viesse a extinguir, só restariam elementos das restantes raças, que permitiam uma maior diversidade de cruzamentos. Por exemplo, durante a Idade Média, quando as famílias reais tenderam a ser bastante elitistas nos cruzamentos, os problemas genéticos começaram a aparecer no sangue real, mostrando como a natureza não autorizava ser ultrapassada na selecção natural, por uma selecção humana, artificial.

Em conclusão, podemos considerar suspeita natural que aquilo que levou o Homo Sapiens a impor-se perante as diferentes subespécies de hominídeos terá sido uma capacidade reprodutiva muito alargada, entre subespécies muito diferentes, que terá determinado depois uma certa normalização.
E se no caso de muitos animais, uma antiga pequena mudança de aspecto terá determinado espécies completamente diferentes, isso não terá ocorrido da mesma forma no caso humano.

O que restou de tradições canibalistas, com origem pré-histórica, foi ficando reduzido a pequenas tribos isoladas, e cada vez mais isoladas, ao ponto de serem ignoradas. Não é até de excluir que algumas exigências alimentares religiosas - proibição de alimentação com carne de porco, pudessem ter origem num repúdio longínquo de qualquer cheiro que pudesse lembrar práticas de antropofagia.
Atapuerca poderá ter assim enterrado, um dos últimos processos menos limpos da evolução humana, quando a dieta alimentar não estava minimamente ligada a nenhuma dieta moral.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:16

Surge este texto a propósito do comentário de MBP a um outro comentário de Maria da Fonte, que coloquei nesse postal, e que de certa forma falava de uma possível "conspiração" financeira veneziana, que poderia estar ainda na origem da maçonaria internacional.

Em particular, MBP destacou um vídeo:
«Gostaria também de partilhar as fontes que recentemente tenho usado para analisar o enquadramento deste período (mas não só) que se resumem ao trabalho realizado pela fundação La Rouche. Deste enorme trabalho destaco para já este vídeo do historiador Webster Tarpley, e que teve ressonância na minha pessoa pelo facto de colocar a Epistemologia como alvo prioritário do "ataque" à verdade, coisa que o Jung também defendia mas de outra forma.» 
"The Venetian Conspiracy" by Webster Tarpley

Como não é muito habitual ver um trabalho de fundo sobre os bastidores, do que é publicitado e divulgado como verdades inquestionáveis, questionando o trabalho científico de dois "monstros consagrados da ciência", como foram Galileu e Newton, é especialmente interessante ver Webster Tarpley reduzir estas duas figuras a papéis menores, de simples agentes a soldo dos conspiradores venezianos. Mais notável, dá nomes, segue os registos, e aponta culpados para essa conspiração veneziana que transferir o poder para o Império Britânico, então em processo de formação, com a rainha Isabel I. 
Desses vários nomes apontados, destacam-se especialmente dois - Paolo Sarpi (1552-1623), e depois Antonio Conti (1677-1749). 
Quanto a Sarpi está documentado que foi patrono de Galileu, e quanto a Conti terá defendido Newton na disputa que houve com Leibniz, mais tarde, sobre a invenção do cálculo diferencial e integral.
Mas Tarpley não fica por aqui, diz algumas coisas que eu já sabia e outras que foram novidade. Vou enumerar alguns casos, que são suficientemente elucidativos, como se não soubéssemos já de tantos outros (... que vão das máquinas a vapor, às baterias eléctricas, presentes desde a Antiguidade). 

Galileu e o Telescópio
Por exemplo, começando com Galileu, Tarpley questiona a "sua" invenção do telescópio, algo que já é aceite, pois sabe-se da existência de telescópios na Holanda em 1608, em pelo menos três casos (um Hans Lippershey, outro Zacharias Janssen, fabricantes de óculos em Middelburg, e ainda de Jacob Metius of Alkmaar). No entanto, para preservar o mito diz-se que Galileu melhorou os aparelhos holandeses, com o propósito original de observar os planetas.
No entanto, Tarpley aponta Leonardo da Vinci como já tendo usado um telescópio para estudar planetas, como aliás podemos ler aqui:
Isaac Newton developed the design for his reflecting telescope in 1668. Newton's idea of building telescopes using mirrors instead of lenses was not new. The magnifying effect of concave mirrors had been put to practical use as reading aids by medieval monks centuries before (c. 1300). Leonardo da Vinci had used concave mirrors to study the planets more than a century earlier (1513). 
A referência é a Newton e não a Galileu, porque se fala do telescópio reflector, que é normalmente creditado a Newton, 60 anos mais tarde, mas que é aqui atribuído a Leonardo da Vinci, um século antes de Galileu, e 155 anos antes de Newton.
Acreditar que Leonardo da Vinci era um génio, é uma simplificação do problema... tal como Leonardo se "inspirou" em tantas coisas de Vitrúvio, é bem natural que estivesse apenas a transcrever outros tantos trabalhos "perdidos" no incêndio da Biblioteca de Alexandria. 

Não é fácil entender como foi possível a humanidade ter ficado presa durante mais de mil anos, com conhecimento encerrado em "livros proibidos", mas esta particularidade foi ilustrada por Umberto Eco no romance/filme denominado "Nome da Rosa".
Com efeito, como diz MBP, não é difícil concluir que o problema é essencialmente filosófico (ou epistemológico), como tinha dado conta o Padre Agostinho de Macedo, ao criticar a maçonaria (ver os textos "de natura deorum", que escrevi no Odemaia).
Tendo esse antecedente, depois as "descobertas", ou melhor "redescobertas", foram convenientemente creditadas a alguns "génios", que pouco mais foram do que serviçais úteis, para tentar libertar o conhecimento guardado pelo Vaticano, durante milénios.

Não haverá muitas dúvidas que, dada a qualidade da produção vidreira romana, seria muito estranho que os Romanos não tivessem telescópios de grande qualidade. Ou, como diria Lewis Carroll, de forma enigmática, na sua Alice no País das Maravilhas: 
«I must be shutting up like a telescope.»
(Devo-me estar a calar/fechar como um telescópio.)
... e foi isso que se terá feito, toda a gente se calou, como se calaram os telescópios durante milénios.

A gravidade do problema
Tarpley é especialmente incisivo na crítica a Newton, sendo sabido e reconhecido que o seu interesse especial era pela Alquimia - o que leva Tarpley a classifícá-lo como herdeiro da Magia Negra dos antigos magos da Caldeia ou Babilónia. 
Tal como Copérnico e Galileu, ao defender o heliocentrismo, não estavam a dizer nada que não tivesse sido dito por Aristarco de Samos, quase dois milénios antes, e que Pedro Nunes terá classificado de "irrelevante" para a Geografia (conforme é); também a Newton a única maçã que lhe terá caído na cabeça terá sido uma maçã dada por maçãos. Que Kepler tinha enunciado as leis do movimento planetário, e a diferença é pequena, não há grande dúvida... mas se Kepler se socorreu das observações cuidadas de Tycho Brahe, essas observações seriam disponíveis desde a Antiguidade, pelo mesmo desde o tempo dos Caldeus.
As considerações sobre a queda dos graves, começadas por Galileu, eram especialmente graves porque a gravidade era ter o assunto arrumado e esquecido, ainda que muito antes Duarte Pacheco Pereira faça considerações similares a Galileu.

Integrar e diferenciar
Outra polémica a que Tarpley dá destaque é a da disputa de Newton com Leibniz, que terá sido Antonio Conti a resolver favoravelmente a Newton.
Convém lembrar a este propósito que o cálculo matemático ficou durante dois milénios preso a construções com régua e compasso... ainda que outras abordagens tivessem sido propostas, nomeadamente por Arquimedes, ou pelo seu antecessor Eudoxo. Se essa linha tivesse sido seguida então pelos gregos, todo o cálculo redescoberto por Descartes, Leibniz e Newton, pertenceria à Antiguidade. 
No entanto, para diferenciar a malta, foram colocados problemas "milenares", como a famosa "quadratura do círculo", cujo interesse era muito mais causar uma dificuldade excessiva, com interesse limitado. Esse problema só foi resolvido no Séc. XIX, e estou convencido que demorou mesmo muito tempo a ser resolvido... Não sei se foram problemas resolvidos pelos próprios a que são creditados, ou foram resolvidos algum tempo antes por outros anónimos, caídos convenientemente no esquecimento.  
A resolução desses problemas milenares corresponde ainda a um desenvolvimento ímpar da tecnologia a nível mundial. Subitamente, o que estava escondido apareceu, umas coisas atrás das outras, sendo particularmente notável as décadas de transição antes e após 1900. A paragem desse desenvolvimento terá ocorrido com a 1ª Guerra Mundial, e especialmente com a 2ª Guerra Mundial, dado que a Alemanha não respeitou a paragem, e continuou a libertar o "génio" da garrafa, contrariando outras ordens... integrando não apenas o génio, mas também se diferenciando pelo mau génio!
Portanto, também me parece que, no máximo, Leibniz estaria a repisar descobertas antigas, mesmo que não o soubesse. Ou seja, se Tarpley salienta a fraude de Newton, não me parece que Leibniz esteja isento de suspeição similar. Convém ainda notar que há conclusões que Pedro Nunes apresenta, e que muito dificilmente seriam deduzíveis sem conhecimento do tal cálculo, que só seria descoberto no século seguinte.

A conexão Veneziana
A relação deste assunto com uma conexão veneziana, que eu saiba, é mérito de Tarpley, dado que estabeleceu até quais os personagens venezianos que serviram de promotores, nomeadamente de promotores da ascendência do Império britânico. Por outro lado, também pelo lado de Veneza temos todo um historial da banca, ligado a acontecimentos chave, que a Maria da Fonte relatou. Portanto, essa conexão poderá estabelecer-se.

Mas podemos ir um pouco mais longe, notando que a região do Veneto, era anteriormente conhecida como Gália Cisalpina, onde Celtas se impuseram a Etruscos. E esta ligação aos Venetos, é tanto mais particular, já que os Venetos habitavam ainda a região da Normandia, e segundo Júlio César, eram hábeis navegadores (ver Conan-o-bretão). Não é ainda de excluir que estes mesmos Venetos não fossem mais que uma remniscência fenícia, resultado de navegações ao longo da costa atlântica e mediterrânica.
Essa é a parte mais antiga, de conexão mais dúbia, mas já é mais claro que no decurso das invasões bárbaras, e a pretensa queda de Roma, uma variante do poder cortesão romano tivesse feito de Veneza um ponto estratégico para combater uma Roma que seria o centro de um obscurantismo cristão. As frequentes disputas internas em Itália pelo controlo papal, entre Génova e Veneza, foram outro desses aspectos.

No entanto, nesta conexão não há propriamente uma ligação que se prenda à região de Veneza. Ou seja, não se exporta facilmente um controlo com base numa cidade estrangeira. Por isso, se outros reinos acabaram por adoptar essa influência veneziana, não foi por comungarem de ideias para uma pátria em Veneza. O que se parece encontrar é um ponto comum de filosofia/região, que usou Veneza como posto de influência, mas terá origem noutro lugar.

Aditamento (18/11/2016):
Coloco nos comentários um texto integral de Webster Tarpley, que aborda os mesmos assuntos, e cujo PDF pode ser lido aqui: Schiller Institute (Archive, 1995).

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:13

Surge este texto a propósito do comentário de MBP a um outro comentário de Maria da Fonte, que coloquei nesse postal, e que de certa forma falava de uma possível "conspiração" financeira veneziana, que poderia estar ainda na origem da maçonaria internacional.

Em particular, MBP destacou um vídeo:
«Gostaria também de partilhar as fontes que recentemente tenho usado para analisar o enquadramento deste período (mas não só) que se resumem ao trabalho realizado pela fundação La Rouche. Deste enorme trabalho destaco para já este vídeo do historiador Webster Tarpley, e que teve ressonância na minha pessoa pelo facto de colocar a Epistemologia como alvo prioritário do "ataque" à verdade, coisa que o Jung também defendia mas de outra forma.» 
"The Venetian Conspiracy" by Webster Tarpley

Como não é muito habitual ver um trabalho de fundo sobre os bastidores, do que é publicitado e divulgado como verdades inquestionáveis, questionando o trabalho científico de dois "monstros consagrados da ciência", como foram Galileu e Newton, é especialmente interessante ver Webster Tarpley reduzir estas duas figuras a papéis menores, de simples agentes a soldo dos conspiradores venezianos. Mais notável, dá nomes, segue os registos, e aponta culpados para essa conspiração veneziana que transferir o poder para o Império Britânico, então em processo de formação, com a rainha Isabel I. 
Desses vários nomes apontados, destacam-se especialmente dois - Paolo Sarpi (1552-1623), e depois Antonio Conti (1677-1749). 
Quanto a Sarpi está documentado que foi patrono de Galileu, e quanto a Conti terá defendido Newton na disputa que houve com Leibniz, mais tarde, sobre a invenção do cálculo diferencial e integral.
Mas Tarpley não fica por aqui, diz algumas coisas que eu já sabia e outras que foram novidade. Vou enumerar alguns casos, que são suficientemente elucidativos, como se não soubéssemos já de tantos outros (... que vão das máquinas a vapor, às baterias eléctricas, presentes desde a Antiguidade). 

Galileu e o Telescópio
Por exemplo, começando com Galileu, Tarpley questiona a "sua" invenção do telescópio, algo que já é aceite, pois sabe-se da existência de telescópios na Holanda em 1608, em pelo menos três casos (um Hans Lippershey, outro Zacharias Janssen, fabricantes de óculos em Middelburg, e ainda de Jacob Metius of Alkmaar). No entanto, para preservar o mito diz-se que Galileu melhorou os aparelhos holandeses, com o propósito original de observar os planetas.
No entanto, Tarpley aponta Leonardo da Vinci como já tendo usado um telescópio para estudar planetas, como aliás podemos ler aqui:
Isaac Newton developed the design for his reflecting telescope in 1668. Newton's idea of building telescopes using mirrors instead of lenses was not new. The magnifying effect of concave mirrors had been put to practical use as reading aids by medieval monks centuries before (c. 1300). Leonardo da Vinci had used concave mirrors to study the planets more than a century earlier (1513). 
A referência é a Newton e não a Galileu, porque se fala do telescópio reflector, que é normalmente creditado a Newton, 60 anos mais tarde, mas que é aqui atribuído a Leonardo da Vinci, um século antes de Galileu, e 155 anos antes de Newton.
Acreditar que Leonardo da Vinci era um génio, é uma simplificação do problema... tal como Leonardo se "inspirou" em tantas coisas de Vitrúvio, é bem natural que estivesse apenas a transcrever outros tantos trabalhos "perdidos" no incêndio da Biblioteca de Alexandria. 

Não é fácil entender como foi possível a humanidade ter ficado presa durante mais de mil anos, com conhecimento encerrado em "livros proibidos", mas esta particularidade foi ilustrada por Umberto Eco no romance/filme denominado "Nome da Rosa".
Com efeito, como diz MBP, não é difícil concluir que o problema é essencialmente filosófico (ou epistemológico), como tinha dado conta o Padre Agostinho de Macedo, ao criticar a maçonaria (ver os textos "de natura deorum", que escrevi no Odemaia).
Tendo esse antecedente, depois as "descobertas", ou melhor "redescobertas", foram convenientemente creditadas a alguns "génios", que pouco mais foram do que serviçais úteis, para tentar libertar o conhecimento guardado pelo Vaticano, durante milénios.

Não haverá muitas dúvidas que, dada a qualidade da produção vidreira romana, seria muito estranho que os Romanos não tivessem telescópios de grande qualidade. Ou, como diria Lewis Carroll, de forma enigmática, na sua Alice no País das Maravilhas: 
«I must be shutting up like a telescope.»
(Devo-me estar a calar/fechar como um telescópio.)
... e foi isso que se terá feito, toda a gente se calou, como se calaram os telescópios durante milénios.

A gravidade do problema
Tarpley é especialmente incisivo na crítica a Newton, sendo sabido e reconhecido que o seu interesse especial era pela Alquimia - o que leva Tarpley a classifícá-lo como herdeiro da Magia Negra dos antigos magos da Caldeia ou Babilónia. 
Tal como Copérnico e Galileu, ao defender o heliocentrismo, não estavam a dizer nada que não tivesse sido dito por Aristarco de Samos, quase dois milénios antes, e que Pedro Nunes terá classificado de "irrelevante" para a Geografia (conforme é); também a Newton a única maçã que lhe terá caído na cabeça terá sido uma maçã dada por maçãos. Que Kepler tinha enunciado as leis do movimento planetário, e a diferença é pequena, não há grande dúvida... mas se Kepler se socorreu das observações cuidadas de Tycho Brahe, essas observações seriam disponíveis desde a Antiguidade, pelo mesmo desde o tempo dos Caldeus.
As considerações sobre a queda dos graves, começadas por Galileu, eram especialmente graves porque a gravidade era ter o assunto arrumado e esquecido, ainda que muito antes Duarte Pacheco Pereira faça considerações similares a Galileu.

Integrar e diferenciar
Outra polémica a que Tarpley dá destaque é a da disputa de Newton com Leibniz, que terá sido Antonio Conti a resolver favoravelmente a Newton.
Convém lembrar a este propósito que o cálculo matemático ficou durante dois milénios preso a construções com régua e compasso... ainda que outras abordagens tivessem sido propostas, nomeadamente por Arquimedes, ou pelo seu antecessor Eudoxo. Se essa linha tivesse sido seguida então pelos gregos, todo o cálculo redescoberto por Descartes, Leibniz e Newton, pertenceria à Antiguidade. 
No entanto, para diferenciar a malta, foram colocados problemas "milenares", como a famosa "quadratura do círculo", cujo interesse era muito mais causar uma dificuldade excessiva, com interesse limitado. Esse problema só foi resolvido no Séc. XIX, e estou convencido que demorou mesmo muito tempo a ser resolvido... Não sei se foram problemas resolvidos pelos próprios a que são creditados, ou foram resolvidos algum tempo antes por outros anónimos, caídos convenientemente no esquecimento.  
A resolução desses problemas milenares corresponde ainda a um desenvolvimento ímpar da tecnologia a nível mundial. Subitamente, o que estava escondido apareceu, umas coisas atrás das outras, sendo particularmente notável as décadas de transição antes e após 1900. A paragem desse desenvolvimento terá ocorrido com a 1ª Guerra Mundial, e especialmente com a 2ª Guerra Mundial, dado que a Alemanha não respeitou a paragem, e continuou a libertar o "génio" da garrafa, contrariando outras ordens... integrando não apenas o génio, mas também se diferenciando pelo mau génio!
Portanto, também me parece que, no máximo, Leibniz estaria a repisar descobertas antigas, mesmo que não o soubesse. Ou seja, se Tarpley salienta a fraude de Newton, não me parece que Leibniz esteja isento de suspeição similar. Convém ainda notar que há conclusões que Pedro Nunes apresenta, e que muito dificilmente seriam deduzíveis sem conhecimento do tal cálculo, que só seria descoberto no século seguinte.

A conexão Veneziana
A relação deste assunto com uma conexão veneziana, que eu saiba, é mérito de Tarpley, dado que estabeleceu até quais os personagens venezianos que serviram de promotores, nomeadamente de promotores da ascendência do Império britânico. Por outro lado, também pelo lado de Veneza temos todo um historial da banca, ligado a acontecimentos chave, que a Maria da Fonte relatou. Portanto, essa conexão poderá estabelecer-se.

Mas podemos ir um pouco mais longe, notando que a região do Veneto, era anteriormente conhecida como Gália Cisalpina, onde Celtas se impuseram a Etruscos. E esta ligação aos Venetos, é tanto mais particular, já que os Venetos habitavam ainda a região da Normandia, e segundo Júlio César, eram hábeis navegadores (ver Conan-o-bretão). Não é ainda de excluir que estes mesmos Venetos não fossem mais que uma remniscência fenícia, resultado de navegações ao longo da costa atlântica e mediterrânica.
Essa é a parte mais antiga, de conexão mais dúbia, mas já é mais claro que no decurso das invasões bárbaras, e a pretensa queda de Roma, uma variante do poder cortesão romano tivesse feito de Veneza um ponto estratégico para combater uma Roma que seria o centro de um obscurantismo cristão. As frequentes disputas internas em Itália pelo controlo papal, entre Génova e Veneza, foram outro desses aspectos.

No entanto, nesta conexão não há propriamente uma ligação que se prenda à região de Veneza. Ou seja, não se exporta facilmente um controlo com base numa cidade estrangeira. Por isso, se outros reinos acabaram por adoptar essa influência veneziana, não foi por comungarem de ideias para uma pátria em Veneza. O que se parece encontrar é um ponto comum de filosofia/região, que usou Veneza como posto de influência, mas terá origem noutro lugar.

Aditamento (18/11/2016):
Coloco nos comentários um texto integral de Webster Tarpley, que aborda os mesmos assuntos, e cujo PDF pode ser lido aqui: Schiller Institute (Archive, 1995).

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 05:13

Na História Universal dos Terramotos de Joaquim José Moreira de Mendonça... obra de 1758, cujo título completo é:

História Universal dos Terramotos que tem havido no mundo, de que há notícia, desde a sua Criação até ao Século Presente: com uma narração individual do Terramoto do 1º de Novembro de 1755, e notícia verdadeira dos seus efeitos em Lisboa, todo Portugal, Algarves, e mais partes de Europa, África, e América, aonde se estendeu: e uma dissertação física sobre as causas gerais dos terramotos, seus efeitos, diferenças e prognósticos, e as particularidades do último.

Mendonça, para além de descrever parte do que se tinha passado em 1755, vai buscar uma extensa lista de ocorrências. Se não estava já compilado, o trabalho seria enorme, mesmo para os 2 ou 3 anos que demorou a escrever a obra, após o sismo de 1755.

Ora, já falámos abundantemente do golpe maçónico, engendrado pelo Marquês de Pombal, na ocasião do sismo, dos fogos que consumiam a cidade, perante uma inoperância total, e presumida propositada, bem como das notícias de um maremoto, que verdadeiramente teria ocorrido no grande sismo de 1531, altura em que se construiu o Bairro Alto. O mesmo sismo de de 26 de Janeiro de 1531 que terá servido descrições falseadas de 1755, ao ponto de se ter ocultado da memória o registo de 1531 até reaparecer em documentação trazida a lume na revolução republicana. Trazida a lume... é a expressão quase certa, porque da mesma forma que foi trazida, voltou a ser "queimada", e ainda hoje o sismo de 1531 é ensombrado pelas descrições convenientes transportadas para o de 1755. 
Porque, só tolos, académicos crédulos, ou coniventes, podem recusar que o Bairro Alto tinha já o famoso planeamento em quadrícula, e que o natural em caso de maremoto seria a população habitar um "bairro alto", e não insistir em habitar a "baixa pombalina".   

A propósito dos sismos em Itália, que depois de Áquila voltaram a ocorrer em Amatrice, e agora de novo, Olinda sinalizou-nos então por email, a notícia de um sismo em 382 d.C. que teria submergido algumas ilhas ao largo do Cabo de S. Vicente.

Mendonça refere esse sismo da seguinte forma (página 26):
382 d.C.  Neste ano houve um Terramoto por quase toda a orbe, no qual padeceram muito as terras marítimas de Portugal,. Subverteram-se ilhas, de que ainda ao presente aparecem algumas eminências defronte do Cabo de S. Vicente. Laymundo (Livro 6), segundo Bernardo de Brito, se conforma muito com o que refere Eutropio. Talvez, que fosse nesta ocasião que desapareceu a Ilha Eritreia que esteve na Costa da Lusitânia, segundo Pompónio Mela (Livro 3) e outros.
... e no blogue Montalvo e as Ciências do Nosso Tempo, podemos ler um extracto de um livro de Luis Mendes Victor, sob o título "Sismologia e a dinâmica planetária", que acrescenta:
A existência de ilhas ao largo de S. Vicente é assinalada por Estrabão nos seguintes termos: o litoral adjacente ao promontório sagrado (Cabo de S. Vicente) forma o começo do lado ocidental da Ibéria até à boca do Tejo e o começo do lado meridional até à foz de outro rio chamado Anas (Guadiana)... Este cabo (promontório Sagrado) marca o extremo ocidente não só da Europa, mas de toda a terra habitada... Artimidoro, que diz ter estado naquele sítio, compara-o na forma de um navio; segundo ele, o que ainda mais faz lembrar um navio é a proximidade das três ilhotas de tal modo colocadas, que uma figura o esporão, e as outras duas com o duplo porto assaz considerável que formam, figuram epótides do navio. São estas as ilhas que, segundo Eutrópio, desapareceram em consequência do sismo e maremoto. No que se refere à ilha Eritreia que frei Bernardo Brito conjectura que tenha desaparecido por ocasião deste terramoto, não pode ser localizada com precisão, pois parece ter havido mais do que uma com o mesmo nome. (Moreira, 1991)
Como referi então, a coisa que mais se aproxima com possíveis ilhas próximo do Cabo de S. Vicente será o Banco de Gorringe (mapa de detalhe)... sendo que há outros bancos que meteram água em negócios submersos, dada tendência a afundar as poupanças dos contribuintes.  
Banco de Gorringe, imagem com uma raia eléctrica.
Como curiosidade adicional, Mendonça refere igualmente um grande sismo em 33 d.C, dizendo o seguinte:
33 d.C. O Terramoto sucedido na morte de Cristo, foi o maior, que tem experimentado o Mundo. Foi sentido em todo o Globo terráqueo. Ainda que Orósio, seguindo Plínio (Livro 2, cap. 84) pretende que fosse neste a destruição referida das cidades de Ásia, Tácito e Dion põem aquela fatalidade no consulado de Celio Rufo, e Pompónio Flaco, que foi no ano 20 d.C., segundo Eusébio no seu Chronicon. Neste violentíssimo terramoto, diz Santo Agostinho, que foram subvertidas onze cidades na Trácia. Também dizem que se abriram o monte Alvernia na Toscana, e o promontório de Gaeta em Nápoles. É muito provável que no mesmo terramoto se precipitou no mar uma parte da cidade de Tyndarida. Desta fatalidade escreve Plínio, atribuindo-a só às águas, que tinham cavado o monte em que estava fundada. Laymundo diz que foi muito formidável em Portugal, porque se mostravam rochas abertas desde aquele tempo. 
Como não me ocupei dos diversos relatos, e apenas fiz referência a alguns terramotos listados após a fundação da nacionalidade, junto agora os outros terramotos listados por Mendonça, e que afectaram território nacional.

Começa o relato de um sismo que teria dado origem ao mito grego do Dilúvio de Ogiges, e do Deucalião, e que teria ocorrido em 1815 a.C. Sobre Espanha começa por dar conta da grande seca, ocorrida cerca de 1030 a.C, e que poderia ter durado 26 anos, afectando menos a zona da Galiza, Astúrias e Cantábria. Adiciona que em 880 a.C. teria ocorrido um grande incêndio dos Pirinéus, tendo chegado ao ponto de fundir metais. Mas o primeiro registo que dá em Espanha é de um terramoto ocorrido cerca de 500 a.C. que abrira rochas e descobrira metais, e antes disso tem o cuidado de dizer (pág. 8):
Das Berlengas, ilhas e rochedos, fronteiros à Costa de Portugal, há tradição que foram Terra Firme deste Reino. Algum dos antigos Terramotos fez baixar a terra na parte, que cobriu o mar, como sucedeu noutras regiões do mundo. É muito provável que estas Ilhas e as chamadas Strinia, e Ophiusa, que ainda existiam defronte do Cabo de Espichel, quando Hamilcon veio a Espanha, e depois se submergiram, foram as famosas Ilhas Fortunadaas, e a dos Deuses, que celebraram tanto os Antigos, entre as quais foi muito conhecida a Erithia, Ao erudito Marinho pareceu, que todas estas ilhas foram antes Costas de Portugal, e que separadas por algum terramoto foram depois de muito séculos de existência, ilhas submergidas por outro. O que parece sem dúvida é que o Continente de Portugal era muito extenso para a parte do Ocidente. O promontório chamado dos geógrafos antigos de Magnum é hoje pouco metido ao mar, para merecer por antonomasia, o nome de grande. Devemos supor com Marinho que o mar roubou dele muita terra. 
Se as ilhas Strinia e Ofiúsa eram vistas ao tempo de Hamilcon, será talvez nos registos dos terramotos de 245 a.C. e de 216 a.C., que afligiram a Espanha, ou ainda no grande terramoto em 60 a.C, que se poderá ter alterado a situação, dizendo a este propósito "o mar excedendo os seus ordinários limites cobriu muitas terras (...) a gente se retirou a habitar campos e montanhas". Não era ainda tempo do Marquês que conseguia convencer o pessoal a habitar a Baixa, apesar do grande maremoto...
Ainda que tenhamos que dar o devido desconto a estes relatos mais antigos, normalmente há aqui muita névoa da época, que teria também uma alguma sinalização de faroleiro.
Numa parte parece claro que Mendonça estava certo - "sem dúvida é que o Continente de Portugal era muito extenso para a parte do Ocidente", e diríamos mais, entre 30 a 60 Km ou mais para ocidente.

A razão não terão sido os terramotos, como abundantemente Mendonça refere, mas hoje já se começa a aceitar, pelas "conversas do clima", que durante a Idade do Gelo, a extensão territorial era muito maior, em particular fazendo entrar a Costa ocidental europeia no Oceano Atântico.

Foi ficando sempre na população alguns mitos de ilhas perdidas no tempo, submergidas por fenómenos naturais, desde a submersa Atlântida até à perdida Avalon, ou ainda as Hespéridas, dos pomos de ouro, confundidas talvez com as Caraíbas.
Curiosamente em português, usa-se a expressão "abalar" com o significado duplo de estremecer, ou de partir.
Como ainda não mencionei muito Avalon, cito a wikipedia sobre a etimologia do nome:
All are etymologically related to the Gaulish root *aballo- (as found in the place name Aballo/Aballone, now Avallon in Burgundy or in the Italian surname Avallone) and are derived from a Common Celtic *abal- "apple", which is related at the Proto-Indo-European level to English apple ...
Portanto, poderá haver uma raiz do nome Avalon que se relaciona com "maçãs", o que tendo em atenção que as ocidentais Hespérides tinham o moto das "maçãs de ouro", também entendidas como "laranjas", não deixa de ser curioso.
Seja por causa de um "abalo" sísmico que motivou um "abalar" para outras paragens, seja porque as maçãs caíam por abalar ou abanar a árvore, há uma diferença significativa entre maçãs que abalam, e pêros ou pêras que esperam... porque pêras, adequam-se mais às Hesperas, às Esperas, moto de D. Manuel, que juntou à Esfera, enquanto SPERA, na esfera armilar. E a seu tempo acabou a Spera e foi feita a Sphera na circum-navegação por Magalhães. As Hespérides puderam então ser associadas às ilhas ocidentais paradisíacas das Caraíbas, e tudo parecia correr bem, se não houvessem sempre novas Hesperas e Esperas a cumprir. As maçãs ligam ainda ao deus celta Abellio, identificado ao grego Apolo, afinal o deus solar, quando os pomos eram de ouro. Apolo que se ligava ao culto da Pítia, pela morte da famosa serpente. Fica assim o encobrimento, o cobre da cobra, dos cobres que cobram, e o abalo das maçãs.

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publicado às 05:58

Na História Universal dos Terramotos de Joaquim José Moreira de Mendonça... obra de 1758, cujo título completo é:

História Universal dos Terramotos que tem havido no mundo, de que há notícia, desde a sua Criação até ao Século Presente: com uma narração individual do Terramoto do 1º de Novembro de 1755, e notícia verdadeira dos seus efeitos em Lisboa, todo Portugal, Algarves, e mais partes de Europa, África, e América, aonde se estendeu: e uma dissertação física sobre as causas gerais dos terramotos, seus efeitos, diferenças e prognósticos, e as particularidades do último.

Mendonça, para além de descrever parte do que se tinha passado em 1755, vai buscar uma extensa lista de ocorrências. Se não estava já compilado, o trabalho seria enorme, mesmo para os 2 ou 3 anos que demorou a escrever a obra, após o sismo de 1755.

Ora, já falámos abundantemente do golpe maçónico, engendrado pelo Marquês de Pombal, na ocasião do sismo, dos fogos que consumiam a cidade, perante uma inoperância total, e presumida propositada, bem como das notícias de um maremoto, que verdadeiramente teria ocorrido no grande sismo de 1531, altura em que se construiu o Bairro Alto. O mesmo sismo de de 26 de Janeiro de 1531 que terá servido descrições falseadas de 1755, ao ponto de se ter ocultado da memória o registo de 1531 até reaparecer em documentação trazida a lume na revolução republicana. Trazida a lume... é a expressão quase certa, porque da mesma forma que foi trazida, voltou a ser "queimada", e ainda hoje o sismo de 1531 é ensombrado pelas descrições convenientes transportadas para o de 1755. 
Porque, só tolos, académicos crédulos, ou coniventes, podem recusar que o Bairro Alto tinha já o famoso planeamento em quadrícula, e que o natural em caso de maremoto seria a população habitar um "bairro alto", e não insistir em habitar a "baixa pombalina".   

A propósito dos sismos em Itália, que depois de Áquila voltaram a ocorrer em Amatrice, e agora de novo, Olinda sinalizou-nos então por email, a notícia de um sismo em 382 d.C. que teria submergido algumas ilhas ao largo do Cabo de S. Vicente.

Mendonça refere esse sismo da seguinte forma (página 26):
382 d.C.  Neste ano houve um Terramoto por quase toda a orbe, no qual padeceram muito as terras marítimas de Portugal,. Subverteram-se ilhas, de que ainda ao presente aparecem algumas eminências defronte do Cabo de S. Vicente. Laymundo (Livro 6), segundo Bernardo de Brito, se conforma muito com o que refere Eutropio. Talvez, que fosse nesta ocasião que desapareceu a Ilha Eritreia que esteve na Costa da Lusitânia, segundo Pompónio Mela (Livro 3) e outros.
... e no blogue Montalvo e as Ciências do Nosso Tempo, podemos ler um extracto de um livro de Luis Mendes Victor, sob o título "Sismologia e a dinâmica planetária", que acrescenta:
A existência de ilhas ao largo de S. Vicente é assinalada por Estrabão nos seguintes termos: o litoral adjacente ao promontório sagrado (Cabo de S. Vicente) forma o começo do lado ocidental da Ibéria até à boca do Tejo e o começo do lado meridional até à foz de outro rio chamado Anas (Guadiana)... Este cabo (promontório Sagrado) marca o extremo ocidente não só da Europa, mas de toda a terra habitada... Artimidoro, que diz ter estado naquele sítio, compara-o na forma de um navio; segundo ele, o que ainda mais faz lembrar um navio é a proximidade das três ilhotas de tal modo colocadas, que uma figura o esporão, e as outras duas com o duplo porto assaz considerável que formam, figuram epótides do navio. São estas as ilhas que, segundo Eutrópio, desapareceram em consequência do sismo e maremoto. No que se refere à ilha Eritreia que frei Bernardo Brito conjectura que tenha desaparecido por ocasião deste terramoto, não pode ser localizada com precisão, pois parece ter havido mais do que uma com o mesmo nome. (Moreira, 1991)
Como referi então, a coisa que mais se aproxima com possíveis ilhas próximo do Cabo de S. Vicente será o Banco de Gorringe (mapa de detalhe)... sendo que há outros bancos que meteram água em negócios submersos, dada tendência a afundar as poupanças dos contribuintes.  
Banco de Gorringe, imagem com uma raia eléctrica.
Como curiosidade adicional, Mendonça refere igualmente um grande sismo em 33 d.C, dizendo o seguinte:
33 d.C. O Terramoto sucedido na morte de Cristo, foi o maior, que tem experimentado o Mundo. Foi sentido em todo o Globo terráqueo. Ainda que Orósio, seguindo Plínio (Livro 2, cap. 84) pretende que fosse neste a destruição referida das cidades de Ásia, Tácito e Dion põem aquela fatalidade no consulado de Celio Rufo, e Pompónio Flaco, que foi no ano 20 d.C., segundo Eusébio no seu Chronicon. Neste violentíssimo terramoto, diz Santo Agostinho, que foram subvertidas onze cidades na Trácia. Também dizem que se abriram o monte Alvernia na Toscana, e o promontório de Gaeta em Nápoles. É muito provável que no mesmo terramoto se precipitou no mar uma parte da cidade de Tyndarida. Desta fatalidade escreve Plínio, atribuindo-a só às águas, que tinham cavado o monte em que estava fundada. Laymundo diz que foi muito formidável em Portugal, porque se mostravam rochas abertas desde aquele tempo. 
Como não me ocupei dos diversos relatos, e apenas fiz referência a alguns terramotos listados após a fundação da nacionalidade, junto agora os outros terramotos listados por Mendonça, e que afectaram território nacional.

Começa o relato de um sismo que teria dado origem ao mito grego do Dilúvio de Ogiges, e do Deucalião, e que teria ocorrido em 1815 a.C. Sobre Espanha começa por dar conta da grande seca, ocorrida cerca de 1030 a.C, e que poderia ter durado 26 anos, afectando menos a zona da Galiza, Astúrias e Cantábria. Adiciona que em 880 a.C. teria ocorrido um grande incêndio dos Pirinéus, tendo chegado ao ponto de fundir metais. Mas o primeiro registo que dá em Espanha é de um terramoto ocorrido cerca de 500 a.C. que abrira rochas e descobrira metais, e antes disso tem o cuidado de dizer (pág. 8):
Das Berlengas, ilhas e rochedos, fronteiros à Costa de Portugal, há tradição que foram Terra Firme deste Reino. Algum dos antigos Terramotos fez baixar a terra na parte, que cobriu o mar, como sucedeu noutras regiões do mundo. É muito provável que estas Ilhas e as chamadas Strinia, e Ophiusa, que ainda existiam defronte do Cabo de Espichel, quando Hamilcon veio a Espanha, e depois se submergiram, foram as famosas Ilhas Fortunadaas, e a dos Deuses, que celebraram tanto os Antigos, entre as quais foi muito conhecida a Erithia, Ao erudito Marinho pareceu, que todas estas ilhas foram antes Costas de Portugal, e que separadas por algum terramoto foram depois de muito séculos de existência, ilhas submergidas por outro. O que parece sem dúvida é que o Continente de Portugal era muito extenso para a parte do Ocidente. O promontório chamado dos geógrafos antigos de Magnum é hoje pouco metido ao mar, para merecer por antonomasia, o nome de grande. Devemos supor com Marinho que o mar roubou dele muita terra. 
Se as ilhas Strinia e Ofiúsa eram vistas ao tempo de Hamilcon, será talvez nos registos dos terramotos de 245 a.C. e de 216 a.C., que afligiram a Espanha, ou ainda no grande terramoto em 60 a.C, que se poderá ter alterado a situação, dizendo a este propósito "o mar excedendo os seus ordinários limites cobriu muitas terras (...) a gente se retirou a habitar campos e montanhas". Não era ainda tempo do Marquês que conseguia convencer o pessoal a habitar a Baixa, apesar do grande maremoto...
Ainda que tenhamos que dar o devido desconto a estes relatos mais antigos, normalmente há aqui muita névoa da época, que teria também uma alguma sinalização de faroleiro.
Numa parte parece claro que Mendonça estava certo - "sem dúvida é que o Continente de Portugal era muito extenso para a parte do Ocidente", e diríamos mais, entre 30 a 60 Km ou mais para ocidente.

A razão não terão sido os terramotos, como abundantemente Mendonça refere, mas hoje já se começa a aceitar, pelas "conversas do clima", que durante a Idade do Gelo, a extensão territorial era muito maior, em particular fazendo entrar a Costa ocidental europeia no Oceano Atântico.

Foi ficando sempre na população alguns mitos de ilhas perdidas no tempo, submergidas por fenómenos naturais, desde a submersa Atlântida até à perdida Avalon, ou ainda as Hespéridas, dos pomos de ouro, confundidas talvez com as Caraíbas.
Curiosamente em português, usa-se a expressão "abalar" com o significado duplo de estremecer, ou de partir.
Como ainda não mencionei muito Avalon, cito a wikipedia sobre a etimologia do nome:
All are etymologically related to the Gaulish root *aballo- (as found in the place name Aballo/Aballone, now Avallon in Burgundy or in the Italian surname Avallone) and are derived from a Common Celtic *abal- "apple", which is related at the Proto-Indo-European level to English apple ...
Portanto, poderá haver uma raiz do nome Avalon que se relaciona com "maçãs", o que tendo em atenção que as ocidentais Hespérides tinham o moto das "maçãs de ouro", também entendidas como "laranjas", não deixa de ser curioso.
Seja por causa de um "abalo" sísmico que motivou um "abalar" para outras paragens, seja porque as maçãs caíam por abalar ou abanar a árvore, há uma diferença significativa entre maçãs que abalam, e pêros ou pêras que esperam... porque pêras, adequam-se mais às Hesperas, às Esperas, moto de D. Manuel, que juntou à Esfera, enquanto SPERA, na esfera armilar. E a seu tempo acabou a Spera e foi feita a Sphera na circum-navegação por Magalhães. As Hespérides puderam então ser associadas às ilhas ocidentais paradisíacas das Caraíbas, e tudo parecia correr bem, se não houvessem sempre novas Hesperas e Esperas a cumprir. As maçãs ligam ainda ao deus celta Abellio, identificado ao grego Apolo, afinal o deus solar, quando os pomos eram de ouro. Apolo que se ligava ao culto da Pítia, pela morte da famosa serpente. Fica assim o encobrimento, o cobre da cobra, dos cobres que cobram, e o abalo das maçãs.

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