A batalha lendária que está no centro da formação de Portugal, é a batalha que D. Afonso Henriques trava em Ourique, em 1139. Foi carregada de misticismo pela anunciada visão de Cristo, tendo tal visão ficado consagrada de forma marcante no escudo de armas português - as cinco quinas e os 30 dinheiros.
A visão de D. Afonso Henriques - Batalha de Ourique
(quadro de Domingos Sequeira, 1793)
Que sentido faz colocar a Batalha de Ourique no Alentejo quando nem Santarém, nem Lisboa estavam conquistadas? Como passariam por todas as linhas inimigas, indo fazer uma batalha isolada no Alentejo?
Não faz quase nenhum sentido... e por isso o evento foi declarado mítico, ou então foram consideradas outras localizações para Ourique, em lugares próximos, de Leiria ou Santarém.
Porém essas novas localizações nada trazem de mais extraordinário do que a conquista de Leiria, lembrando que Óbidos terá caído em 1148, após Lisboa. A que ponto a proeza convenceria D. Afonso Henriques da magnitude mística e declarar-se Rei de Portugal.
Que territórios teriam então ficado consagrados nessa batalha, se Lisboa e Santarém ainda estavam em poder inimigo?
Colocamos uma hipótese, no sentido de viabilizar a versão alentejana.
A principal conquista seria Lisboa, que será marítima, mas para esse efeito seria estrategicamente ousado cortar as comunicações e abastecimentos a Lisboa, pelo sul.
Uma incursão por desembarque marítimo até Ourique, seria uma táctica da cunha, colocando uma restrição, quer pela via marítima, quer pela via fluvial da bacia do Sado.
Ou seja, a novidade na conquista de Afonso Henriques seria o ataque naval, consolidando os principais pontos costeiros, e depois partindo para o interior. Assim foi com Lisboa, reconhecidamente um desembarque naval, e não há razão para não ter sido isso em Ourique, talvez visando Sines. Diremos que Ourique está bem longe no interior, mas como já vimos não há razão para supor que orografia tenha sido sempre a mesma... aliás sabemos bem que a Holanda ganhou imensa terra ao mar, e também Porto de Mós ou Marinha Grande já terão feito jus aos seus nomes, colocando Leiria no litoral... conforme já
aqui abordámos.
Se o avanço tivesse sido por terra em direcção a Lisboa, teriam que conquistar pelo menos Porto de Mós ou Óbidos... o que não fizeram! Ambas os castelos caíram só no ano seguinte a Lisboa, em 1148.
Há assim uma clara indicação de que a prioridade era a consolidação de pontos na costa atlântica.
O limite dessa costa atlântica, antes do Algarve, seria justamente a linha do rio Mira.
Associado à conquista de Odemira, corre a lenda de que a surpresa do ataque de Afonso Henriques teria levado à expressão "Ode, Mira!", da parte da mulher do alcaide Ode...
Qual a razão da surpresa do ataque, se tivesse ocorrido na progressão de Afonso Henriques para o sul?
Nesta hipótese, teria sido pela bacia do Mira que teriam seguido na direcção de Ourique e consolidado aquela posição estratégica.
Há uma outra data que corrobora esta hipótese - Beja é conquistada antes de Évora!
Doutra forma, sem considerar esta conquista feita da costa atlântica para o interior, as datas aparecem desconexas, e sem razão aparente.
Há outro aspecto interessante... a formação de Portugal teria sido naval, a partir do Atlântico!