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Procurando seguir a linha científica mais sustentada, afastando-nos apenas por ausência ou insuficiência explicativa, vamos tentar apresentar um resumo actualizado do que foi aqui apresentado, juntando outras informações.

A ligação genética coloca quase como evidente uma evolução com ponto comum nalgum primata. Não é por aí que contestamos o darwinismo: - o problema é que quem fala em origem acidental omite a origem do acidente!
De forma análoga, quem fala em origem fabricada não responde sobre a origem do fabricante... e por aí contestamos a pertinência do criacionismo, seja ele extra-terrestre ou divino.
A perspectiva que seguimos é a da inevitabilidade lógica - foi assim, pois não podia ter sido doutra forma. Esta filosofia de inevitabilidade não serve a previsão, serve a pós-visão. Serve o compreender descomprometido e não o prever pré-intencionado.

A existência requer uma observação... mas não observação literal, não é uma réplica ou espelho.
A existência confronta a não-existência, e portanto há um olhar além do simples constatar.
Assim, a existência do universo implicaria um "olhar inteligente" - é o caso humano.
A história serve o nexo da formação desse olhar.

Saindo da macacada
A vivência pacífica de hominídeos em estado tribal podia ter prosseguido por gerações incontáveis.
O desejo de subjugar o adversário não se deve ter mostrado imediatamente. A competição entre elementos da mesma espécie é ocorrência animal recente. Passou por três fases notórias, desde a competição se resumir à constatação de selecção pela alimentação e reprodução, a uma competição por confronto singular - na disputa da liderança local por um território, e finalmente à competição por confronto de grupos, tribos, algo que se manifesta nalguns hominídeos e de forma clara nos humanos.

Quando os animais se organizam em grupos, podemos entender que é formada uma nova estrutura animal, diferente do animal singular. O indivíduo aparece fragilizado e pode ser vítima do novo predador, que é o grupo. Essa nova estrutura domina e pode alimentar-se dos indivíduos de diferentes formas. Uma é a simples aniquilação, outra é a exploração, e ainda outra, a cooperação.
Na aniquilação, o indivíduo pode ser destruído ou não integrado - visando o desaparecimento daquele indivíduo, mas ignorando que o problema não desaparece. Na exploração, o indivíduo é inserido na estrutura como uma parte funcional dela, faz parte de um órgão, mas o peso da sua individualidade é apenas o de uma unidade na funcionalidade. Finalmente, na cooperação, o indivíduo insere-se na estrutura, num órgão, e a sua individualidade é tão importante quanto o conjunto, pois o conjunto visa o benefício de todos os indivíduos, e o número não se sobrepõe à unidade.

Portanto, numa fase inicial é natural que os hominídeos se preocupassem mais em estabelecer a sua sobrevivência e domínio sobre as outras espécies, e não vissem os outros com preocupação, excepto na questão de alguma interacção social ligada a uma hierarquia tribal. 
Os primatas mais próximos dos humanos são os chimpanzés e bonobos. Ao partilharem 90-98% da genética, estão mais próximos de humanos que de gorilas ou orangotangos (os outros hominídeos), mas têm atitudes sociais diferentes. Ao invés da agressividade característica dos chimpanzés, os bonobos são mais cooperativos, resolvendo muitos dos seus problemas por interacção sexual. 
É aliás bem conhecido que os bonobos e chimpanzés conseguem realizar tarefas de forma muito similar aos humanos, e são sujeitos a experimentação no campo da linguagem, onde os resultados são quase sempre limitados. A palavra "limitado" é propositada, pois a questão é justamente essa... o que faltará a esses hominídeos será uma constatação da sua limitação. Não procuram por si próprios colmatar as suas falhas, e estando satisfeitos com o seu conhecimento, com a sua compreensão, não os move o desejo do ilimitado, do infinito. Não estando condenados a essa permanente insatisfação humana, podem reagir, mas não têm a necessária curiosidade que move um evoluir, por aceitarem as lacunas. Afinal, o seu conservadorismo, pode ter mantido a herança da sua ancestral linhagem genealógica, mas nunca os aventurou para além das florestas tropicais.
Bonobos -África Central

A ideia de que os primeiros hominídeos seriam agressivos (ao contrário dos bonobos ou orangotangos), mais agressivos que gorilas, ou até que os chimpanzés, parece carecer de sustentação: 
However, the picture of early hominins as “killer ape‑like creatures” is not realistic, considering the hard evidence from fossil remains, primatology, and ethnography (cf. Sousa e Casanova, 2006)

Portanto, inicialmente não terá havido uma movimentação de conquista, nem domínio, mas uma natural expansão territorial, semelhante à que acontece com outros animais. As florestas tropicais da África Central (bonobos, chimpanzés, gorilas) e da Indonésia-Melanésia (orangotangos), podem revelar uma expansão antiga de hominídeos, entre África e o sul da Ásia, mas que não chegou a paragens americanas. A chegada americana deu-se posteriormente, com migrações humanas.

Do saber à compreensão
Algumas proezas humanas estão longe de ser proezas absolutas. O homem mais rápido não é o animal mais rápido, muito menos será o veículo mais rápido ou mais forte. Nem o homem com melhor memória ou maior capacidade de cálculo suplanta uma máquina programada para a mesma tarefa.
A capacidade de memorizar ou efectuar tarefas mecanicamente não é sintoma de nenhuma inteligência humana. Um robot pode ser programado para saber fazer tarefas mecânicas específicas. A inteligência humana manifesta-se na capacidade de compreensão, pela abstracção subjacente, podendo ser aplicada noutros contextos. Assim acontece com as simples histórias infantis, onde não é tão importante o enredo literal, mas sim a apreensão da moral subjacente.

Por isso, quando vemos algumas pedras lascadas, e outros artefactos que denunciam intencionalidade de aplicação, não significam "inteligência humana", apesar de poderem ter precedido essa inteligência humana. O mesmo olhar que vê inteligência no uso de uma pedra lascada, não pode deixar de ver inteligência num camaleão que adopta uma cor de camuflagem. Porém onde está essa inteligência?
É um reflexo interpretativo, está na génese do executor, ou no executor?
A simples constatação de que uma pedra lascada serviria o propósito de trinchar alimentos, de que uma lança poderia perfurar, ou de que o uso do fogo permitia cozinhar alimentos não é ainda revelador da transcendência humana. Há vários exemplos de animais que recorrem a utensílios, e mesmo a agricultura não é um sintoma claro dessa inteligência humana. As formigas saúvas (leaf-cutters) usam folhas para cultivar fungos, entre outros exemplos (há inclusive um peixe da família da  Castanheta que cultiva algas). Mesmo o simples construir de estruturas não revelaria essa inteligência não-programada, bastando lembrar os ninhos das aves, ou as construções das térmitas. Também encontramos entre vários animais uma interacção em estrutura social, pré-programada, onde os esquemas de servidão, actuação em matilha, obediência a hierarquia, etc... estão bem presentes e dificilmente denunciam mais inteligência do que a simples vivência para sobrevivência. 
Castanheta néon (Pomacentrus coelestis, Timor Leste)

Onde se manifesta então a inteligência humana? Na necessidade de compreender o desconhecido, na aquisição e incorporação desse desconhecido numa linguagem não literal. A religiosidade, a filosofia, ao procurarem um significado para a compreensão da existência, manifestam isso. O activo entendimento superior da natureza, procurando uma previsão de fenómenos naturais, também.
O ponto comum é a capacidade de o homem subir para se ver a si próprio e ao restante, não aceitar apenas a oferta das suas faculdades, compreender que há um racional para além delas. Por isso, o homem ciente duma ilimitação vê-se inicialmente incompleto por constatar a sua limitação... se não adquirir que, ao poder interiorizar o ilimitado, isso é prova de que não é limitado.
Máquinas ou animais que não questionem o nexo, não precisam de nexo. No entanto, o nexo ganhou existência a partir do momento em que houve animais que o viram - os humanos. Esse nexo funciona como um estômago faminto, que precisa de ser alimentado, até à completa consistência. Toda a filosofia humana passou a alimentar essa fome de compreensão, que a espécie herdou. A incompreensão gerava incompreensão... e se os bonobos podiam usar a actividade sexual para resolver os seus problemas sociais, aos humanos restava ainda resolver os problemas existenciais.

Panspérmia e Gaya
Entendendo a vida como um corpo "Gaya", que engloba todos os seres vivos, a vida apareceu e nunca desapareceu. A morte de uma célula não é a morte do corpo, e olhando o conjunto, a morte de um ser pouco afecta o conjunto da vida.
Analogamente, a vida, enquanto conjunto, esteve a evoluir, como evolui um embrião, desde a sua formação até atingir a fase adulta.
Um ser complexo tem uma individualidade que está para além da individualidade celular. Nesse mesmo sentido o conjunto da vida pode bem ser encarada como uma individualidade para além dos seus seres. Tem múltiplos componentes, tal como os animais tem múltiplos órgãos. As células morrem, o animal não. Os seres morrem, a vida na Terra não.
E, se a vida nunca cessou, esse organismo global apenas esteve em processo de formação... passando por várias fases, como uma borboleta. Podemos ter o preconceito de ver um corpo conectado pela união das células, mas se pela disjunção há diferença, há também um património genético comum entre todos os seres vivos... tal como há diferença entre as células dos diferentes órgãos de um mesmo corpo, não deixando de terem o mesmo DNA.
Os transplantes mostram até que as células não têm uma fidelidade excessiva, podendo servir a diferentes corpos. Assim, mais do que servirem exclusivamente um ser, servem o propósito maior do conjunto da vida.

Isto pode remeter para uma teoria chamada Panspérmia (ver Portugalliae - José Manuel).
O planeta Terra (ou outro planeta), funcionaria como óvulo, pronto a ser fecundado por matéria extraterrestre, da mesma forma que um óvulo aguarda a fecundação por um espermatozóide.
Se virmos essa matéria genética transportada por um cometa... as analogias são "claras no ovo".
O Sol seria a fonte materna de energia que iria alimentar essa vida, e embelezando o cenário, a própria Lua pode ser o que resta da colisão fecundadora, pairando vigilante sobre o embrião de vida que crescia e evoluía na Terra.
Tendo-se descoberto sinais de matéria orgânica nos cometas, isso dá algum suporte a uma teoria que remonta a Anaxágoras, ou mais recentemente a H. Helmholtz. Faltaria dizer de onde viria então essa matéria reprodutora, que inseria nos cometas matéria orgânica tão significativa que levaria à formação de vida em planetas distantes. Ou seja, podemos falar de um "Úrano" que fecunda Gaya?
[Escrevo "Gaya" e não Gaia, porque tenho usado o nome Gaia para algo muito maior, quase identificável ao próprio universo, e este conceito de Gaya é muito mais restrito, pois aplica-se apenas ao universo físico, e em concreto à vida na Terra. No entanto, e mais uma vez, podem ver-se analogias.]

Supernova Simeis 147 (Constelação de Touro)

Ora, há uma outra questão que normalmente é evitada. A Terra tem metais e outra "matéria pesada" que não cabe na simples produção nuclear solar, que envolve hidrogénio e hélio. Isso indica uma proveniência diferente - que remete à explosão de uma supernova, onde tal fusão seria possível. Ou seja, a matéria terrestre é suposto ter vindo de uma "estrela morta" (isto é a teoria oficial), a que acresce a própria matéria orgânica poder seguir, depois, em cometas ou asteróides. Assim sendo, um "Úrano" emissor de panspérmia, não seria destas paragens, e poderia ter gerado filhos em diversos sistemas solares.
A intencionalidade disso é assunto mais especulativo, e não liberta o criador de tal fonte emissora da sua própria origem... que até poderia ser semelhante. Por isso, como a ausência de intencionalidade precede sempre a intencionalidade, basta remeter a essa ausência. A introdução que fizemos explica onde está a razão das razões.
De qualquer forma, por um lado este é um quadro perfeitamente sustentável para admitir uma replicação de situações semelhantes à da Terra, à geração de vida análoga, e possibilidade de vida inteligente extra-terrestre. Por outro lado, interessa-nos apenas o quadro da origem sem nenhuma interferência inteligente externa, porque mais uma vez, o oposto iria remeter os "pais" aos "pais dos pais", e a uma estéril lengalenga da "galinha e do ovo".
Por perfeição, o nexo deverá ser simultaneamente circular e linear. Circular no que diz respeito à unidade, linear no que diz respeito à multiplicidade e diversidade. A junção desses dois olhares é um outro olhar, que não deixa de ser interior aos dois outros.




Inevitabilidade
Quando uma célula se divide em duas, o conjunto das duas não é visto por nenhuma delas, mas é inegável para o universo onde se dá. Uma pode ver a outra, mas quem vê as duas tem que estar num plano superior. Por isso, a duplicação, a réplica, não coloca de um lado o original e no outro a imagem literal. A duplicação não é vista pelo indivíduo, manifesta-se sim no observador acima.
No início dos inícios, o único observador disso, por inevitabilidade, seria o universo onde a réplica aparecia. Até criar um nível superior de análise, essa "visão-constatação" era exclusividade inerente.
Num nível superior podemos colocar seres que constatam o mundo anterior, podem estar acima e ver os outros, da mesma forma que o universo anterior constatava. Só que, mais uma vez, não se vêm a si mesmos... vêem o nível abaixo, mas não vêm o próprio nível onde estão. Essa diferença/união só é constatada pelo novo universo que os contém, noutro nível acima.
Voltamos por isso à situação anterior, que parece não ter fim...

Porém, esse não ter fim, é já uma constatação muito superior que, levada ao infinito, constata a sua invariância. E é nesse plano de observação, que esgota todos os planos de observação, que surgem constatações invariantes. São as noções abstractas que fundam a nossa linguagem, a nossa lógica e matemática, que constatamos como verdades universais... por exemplo, a parte está no todo, o número existe para além dos objectos contados, etc.
Esse é o nosso universo, o universo que se viu a si mesmo e onde as noções invariantes foram aparecer sob a forma de linguagem na comunicação. Tudo o resto abstracto seria redundante, no sentido em que poderia ser descrito por composição das noções base de uma linguagem.
O que faltava ver? Toda a matéria que sobrava, que não era definitiva, e que seria apresentada como deliciosos frutos ou perigosos monstros, passageiros.
Essa matéria não invariante poderia ser encapsulada de muitas formas, desde que entrasse na compreensão abstracta que era oferecida. O observado e o observador ajustam-se. Não podemos ver para além da compreensão que podemos ter, estamos apenas circunscritos à evolução dessa compreensão.
Temos a característica fundamental de sabermos que somos incompletos... como será sempre o universo, quando cada nível faz surgir um novo nível superior. Isso motiva-nos a ver mais, e nunca parece bastar o que sabemos. Porém há o outro lado... quanto mais soubermos menos resta por saber, quanto maior for o entendimento, menor será o deslumbre. Por isso, se as nossas capacidades fossem infinitas, apenas apressaríamos o fim... e o fim é tudo ver. Sendo que esse fim total é nada, porque nada mais restaria. Move-nos a incompletude, procurando a completude, mas faltava dizer que a completude é um total equivalente ao nada.
A parte e o todo coincidem na unidade... e tudo se repetiria desde o início.

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publicado às 20:17


100 comentários

De Sid a 19.11.2013 às 21:55

Caro Alvor,
A questão que em mim suscita é grande, é de facto a maior de todas - o que é isto? (aquilo que contemplamos)
Vou apenas alinhar umas conclusões minhas:
Estudar a vida, tentar alcançar uma compreensão da mesma, é no máximo: evoluir. Com o evoluir revelamos o mistério e com essa acção passamos a compreende-lo em nós - mas porquê? Essa pergunta, essa inquietação é o nosso Sol.
Devo dizer, alias, como deve entender, não sou academicamente formado, leio e sobretudo gosto de pensar, e conclui que o nosso entendimento sobre a nossa origem, sobre o nosso ser, sobre o nosso propósito é algo que nunca podemos controlar mas em simultâneo é algo que constantemente construímos, numa actividade que a ser vista dum ponto elevado, suficientemente elevado para percebermos que o comportamento é igual independentemente da dimensão do seu conteúdo. Se olhar a constituição/funcionamento de um átomo estará a olhar para um sistema igual a o nosso sistema solar, agora imagine que você, com apoio duma qualquer maquina, consegue diminuir o seu tamanho a ponto de poder visitar um protão, e imagine que por qualquer razão decide não mais voltar (sim, é de loucos, ou será mesmo?)
A inteligência, quanto a mim, é um atributo, um que evoluiu a ponto de criar um sistema próprio, sistema esse que num outro estagio ou dimensão, nos proporciona aquilo que chamamos consciência, mas essa consciência é como a trindade, não tem nada de misterioso.

Abraço
Sidónio

De Alvor-Silves a 20.11.2013 às 05:45

Caro Sid,
eu fiz percurso académico, até fora do país, e não é por isso que me considero mais apto a responder. O que interessa é o nexo e clareza de raciocínio, algo que o Sidónio evidencia como poucos. Bom, e essa primeira questão é fundamental, e a única coisa que posso dizer é que somos "convidados" a ver o "filme", depois é algo indiferente se o suporte é analógico ou digital, se está em VHS ou DVD. Tudo isso é equivalente, porque o filme é o mesmo... e por isso o que importa não é tanto o que vemos, mas sim as ideias que fazemos com o que vemos. Nessa perspectiva haverá uma diferença com outros animais, no sentido em que a nossa visão não é literal, é mais abstracta, inteligente, e procura estabelecer correlações entre coisas que a priori não estariam ligadas, se a nossa visão fosse literal. Portanto o nosso propósito parece ser mais o da abstracção, em que o universo relaciona estruturas que sem esse olhar não estariam relacionadas.
Aquilo que aqui tenho defendido é que seria tudo inevitável. A evolução é uma parte que procura o todo... e é óbvio que nunca lá chegará, apesar de se poder fechar na unidade, em que a parte e o todo coincidem. Nesse sentido falei aqui do linear que evolui, e do circular em que a linha, ao fechar sobre si mesmo, revela uma unidade. O linear é o avançar para o novo, para o outro, o circular é o fecho sobre si. Este avançar procura englobar o máximo para evitar o fecho... aceita o desconhecido e não se refugia no conhecido.
O exemplo que dá - do sistema solar em miniatura na estrutura atómica, é uma ideia que teria o seu culminar em conseguir ver-se a si próprio nessa miniatura.
Se isso acontecesse, então o que se passava? Uma repetição infindável... ou seja, nada acrescentaria a não ser saber que havia uma estrutura infindável.
As repetições têm o mesmo interesse que números e não mais que isso. Os números revelam a essência da repetição.

De Alvor-Silves a 20.11.2013 às 05:45

No caso da estrutura atómica é preciso ter um pouco mais de cuidado, porque foi um pouco a ideia do sistema solar que levou a esse modelo, e portanto é algo viciado pensar dessa forma... até porque depois essa explicação foi abandonada e usa-se hoje o modelo de "nuvem electrónica dispersa" e não tanto a ideia de electrão como partícula a girar - porque há fenómenos que não se explicam como uma simples partícula.
Depois é preciso ter em atenção de que importa pouco de onde viemos, e sim o que somos. O que esquecemos deixou de existir até se revelar de novo.
Quem consome drogas acaba por fazer uma via de ir para um certo universo idealizado, onde quer sempre regressar. O mesmo pode acontecer com videojogos, realidade virtual, etc. Essa adaptação ao não-real mostra como esta realidade é apenas uma imposição, que por vezes não é do nosso agrado. Quando era jovem vi o "Total Recall", um filme do Schwarzenneger que abordava bem o problema de podermos estar num esquema de realidade virtual pré-contratado. Por acaso, nessa altura a única novidade foi vê-lo no filme, já que tinha pensado antes no assunto. Pois bem, a questão é que isso é irrelevante, pois podemos procurar sentido sem estar à espera de remeter a um nível superior... que careceria do mesmo sentido, e cairia no mesmo problema nessa realidade superior. Daí eu falar aqui na questão "do ovo e da galinha"... há certas questões que embrulham nessa forma.
Por isso aquilo que há a fazer, se for assim, cíclico, é tomar apenas o que interessa - o que vai do ovo à galinha - nada mais interessa, porque o resto são meras repetições.
Finalmente, quanto à inteligência, o que diz no final julgo que não é muito diferente do que aqui escrevi, simplesmente acho que não há nenhuma dimensão acima desta em termos de inteligência. Pode haver em termos mais saber, mas não mais capacidade de compreensão. A recusa à compreensão vem da ligação ao corpo. Se você vir um filme pode compreender o que se passa sem outros inconvenientes. Pode não ver todos os detalhes à primeira, nem à segunda, mas se tiver paciência vai quase esgotar a sua compreensão do filme, até que não o quer ver mais, porque já nada mais lhe diz. Aí procura outro... Há assim um ajustar do observador ao observado, que não é feito de forma simples, tem múltiplas componentes. Essa é a minha opinião.
Um abraço,
da Maia

De Anónimo a 21.11.2013 às 17:04

O Total Recall é uma porcaria comparado com o Ubik, desculpem lá...

Olá boa noite a todos estes Nexus-6 que somos nós neste planeta Terra!

Alto e para a projecção que eu sou o especialista na ária, é piada, mas sou do audiovisual,
a minha resposta está no livro do Philip K. Dick que comprei e li “Do Androids Dream of Electric Sheep?”, poucas semanas depois estriou no Castil de Lisboa o filme Blade Runner, claro foi a acorrer ver, depois passei cerca de trinta anos a projectar filmes e reparar equipamentos de cinema, foi formado no CAV do ME português, tenho um diploma de estado, é só par dizer que também não sou Doutor, e se pode muito bem os superar mesmo sem se saber ler e escrever, que ninguém se sinta ofendido, mas é esta a minha realidade.

Pois sou contra esta ditadura platónica que impera ainda, “eu sou cientista por isso tenho razão”:
Premissas / verdades / conhecimento / crenças - a ciência é um juízo verdadeiro acompanhado de razão - Platão

Vejam pois se desejarem o Blade Runner https://en.wikipedia.org/wiki/Blade_Runner
que têm aí a resposta para as nossas origens, e espero ainda ver o segundo do Ridley Scott que vai sair brevemente, o Philip K. Dick autor do livro “Do Androids Dream of Electric Sheep?” foi catalogado de toxico, esquiso, comuna etc. como todos os que se atrevem a abanar as torres de marfim dos catedráticos, é de ler igualmente o Ubik.

Premissas / verdades / conhecimento / crenças - a ciência é um juízo verdadeiro acompanhado de razão - Platão
Esta ditadura platónica impera ainda, “eu sou cientista por isso tenho razão”.

Boas leituras, cumprimentos, José Manuel CH-GE

De Sid a 21.11.2013 às 20:52

Caro Alvor.
Ao dizer inteligência, quero incluir nesta terminologia tudo aquilo que entendemos por consciência, ou como gostamos muitas vezes de referir - alma ou mesmo identidade, ou self. Por assim estar convencido assim me conclui. Acredito que este atributo evoluiu assim, como duma forma mais mundana, evoluem as espécies, (sim sou um darwinnista) como é sabido a grande maioria das espécies de vida possuem cérebro, mas antes das que possuem cérebro não esquecer que existem e vivem, as que não tem cérebro, como exemplo as plantas. Falando das mais evoluídas, até porque as restantes são muitas vezes marginalizadas quando tentamos entender o todo, mas quanto a mim, tem o seu lugar. Como ia dizendo, das que possuem este atributo, nas mais simples ele coordena coisas tão simples como em primeiro lugar o alimentar-se, nas um pouco mais evoluídas já se deslocam, movimentam-se na busca de alimento - para combinar estas funções acredito que já se pode concluir que existe uma operação com alguma complexidade, embora normalmente, nós humanos não cultivarmos esse ponto de vista. Contudo eu acredito que esta operação mais básica é o principio daquilo que nós temos como o atributo mais evoluído de todas as espécies deste planeta: o cérebro. Crendo que me esclareci acerca do principio, não vou falar do meio porque a lógica é sempre a mesma e vou saltar para o fim e desta feita já para dentro do nosso cérebro.
O processo de selecção natural dita que para sobreviver tens de matar e não deixes que te matem, é a maior lei do universo.
Quando em paralelo, umas mais evoluídas do que outras, temos uma infinidade de espécies de vida a lutar com base nessa lei, naturalmente que a que vence, consegue esse feito porque d`alguma forma ultrapassa a espécie com a qual esta em confronto e com isso descobre e com a descoberta cria-se o conhecimento. Um conjunto de conhecimentos formam um sistema a partir do momento que, tal como no mundo físico, se relacionam uns com os outros, ganham uma inteligência. Ou seja, a inteligência é um segundo estágio, como eu defino: uma nova dimensão. Esta é o produto resultante da interacção entre os conhecimentos e todo o meio com o qual o corpo se confronta. Trata-se de um semi-sistema que surge sobre outro sistema como uma nova adaptação. Esta adaptação em si, é uma nova forma de vida. A consciência é o produto da inteligência, é a alma, é aquilo que faz de nós seres filosóficos, é onde nós nos encontramos actualmente, neste patamar, produto de tão complexo sistema que contemos em cima dos nossos ombros, o cérebro.
Bom, vou fazer jantar, a fome já aperta.

Abraço
Sidónio

De Paulo Cruz a 21.11.2013 às 23:20

Boa noite


Quero,desde já,agradecer ao senhor Alvor-Silves pelas respostas sobre as minhas conclusões e muito obrigado por me deixar desenvolver as minhas pequenas ideias que tento partilhar neste excelente blog.Desculpe senhor "sid", desculpem a minha educação...O senhor "sid" pode-me explicar como o homem descendeu do primatas ou símios quando são encontradas pegadas de homens com dinossauros em varias partes do mundo fora o que foi desclassificado pela ciência?Existe uma manipulação,eu não tenho a mania das conspirações,com milénios para encobrir a descendência do homem que esta em A25-B18-DR15 e A26-B38-DR13. Eu resumo,nós os Portugueses,somos o povo que resta das "pirâmides".Veio um idiota com a teoria do macaco e ande há mais macacos?Logo todos começaram a procurar ossadas de primatas extintos...até hoje o elo perdido,transição,ainda não foi encontrada.Isto é tudo um enredo milenar para esconder a verdade.Desculpem o desabafo e se ofendi alguém.

Um grande abraço.

De Paulo Cruz a 21.11.2013 às 23:43

Boa noite.

Eu só quero dizer ao senhor José Manuel que isto é mais complexo que possa imaginar.Tive uma conversa com um amigo e ele disse-me que ando muito perto da realidade.Posso não ter um nível académico elevado,mas,já acordei há muitos anos do sistema que me escravizava num mundo faz de conta em que a "MATRIX" controla tudo e todos dando-lhes uma ilusão de bem estar com doses de prazer...O que a malta quer,em geral,é muito pão,futebol,telenovelas e o resto?Já andava avisar as pessoas que conhecia,mais ou menos 5/6 anos,que o nosso país ia mudar e ia-mos entrar
neste caminho austero e riram de mim.Hoje em dia só dizem que eu tinha razão no que falava e dizem"tu bem dizias"...Eu não sou dono da razão e sou muito humilde,mas,vejo a realidade das coisas com muita lógica.

Um grande abraço a todos....

De Alvor-Silves a 22.11.2013 às 00:23

Boa noite, José Manuel.
Por acaso já tinha escrito há algum tempo um texto:
http://odemaia.blogspot.pt/2012/06/like-tears-in-rain.html
onde mostrava como tinha apreciado o Blade Runner.
Não li o Ubik, mas pude rapidamente ler uma sinopse, e parece-me igualmente muito interessante. Aliás não tenho dúvidas que Ph. K. Dick era um notável filósofo ainda que não aparecesse como tal. Não é importante o título académico, mas não deve ser ignorado o conhecimento da academia. Ainda que muita motivação sirva essencialmente um certo de desejo de protagonismo individual, houve gente que nunca deu demasiada importância a isso, porque simplesmente não se mediam pelos outros, mediam-se por si mesmos.
Há muito boa academia, mas é normalmente dispersa, mal informada, focada num assunto específico, educada para trabalhar com palas, e não me refiro a Palas Atena. Facilmente pode ser manipulada politicamente num sentido, ignorando o contexto geral onde trabalha. Isto apenas para dizer que critico a academia como um todo, mas não quero deixar de dizer que essa crítica não é contra alguém em concreto... as pessoas são muito mais fruto de um contexto local e global, do que de qualquer outra coisa.
Depois, há muita coisa escrita que pura e simplesmente não foi lida. Não temos que ler tudo, como é claro, e a mim falham-me muitas leituras certamente, mas é sempre uma opção não querer ler o que está mesmo à frente dos olhos, e isso dificilmente pode ser imputado a quem escreve.
Um abraço,
da Maia

De Anónimo a 22.11.2013 às 01:11

Somos como os Nexus-6, robôs orgânicos fabricados para trabalhar para outros seres idênticos a nós mas com duração de vida superior e inteligência... isto está no filme Blade Runner, estamos proibidos de sair da Terra. Os nossos criadores partiram mas voltarão um dia, brevemente?
Se isto fosse contado à humanidade seria o caos, por isso se inventam paraísos e reincarnações para os bons carneiros e infernos para lobos maus, ou subversivos.
Boas leituras, cumprimentos, José Manuel CH-GE

De Alvor-Silves a 22.11.2013 às 01:39

Caro Sid,

o cérebro é sempre uma coisa dos outros, nunca vemos o nosso... e ainda bem.
No entanto, vemo-nos a nós próprios, e isso é que é ver o cérebro... o resto é apenas um pedaço de carne.
Isto para distinguir a visão científica de uma outra visão racional, mais racional do que a científica, pois a ciência tem várias limitações.
O sucesso científico é o da previsão, nada mais. Se os bruxos tivessem sucesso na previsão ninguém ligava aos cientistas.
A previsão é uma compreensão parcial do funcionamento - e pode ser mecânica. É nesse sentido que as zebras fogem dos leões. Têm uma instrução simples - se virem um leão, é para fugir. Essa codificação pode ser colocada no cérebro, nos genes, mas funciona numa base de "resposta a questão". A zebra não procurou a pergunta, nem a resposta... está lá.
Assim, a ciência funciona muitas vezes nessa base, mecaniza compreensões... que já lá estavam antes de serem descobertas.
Aqui tive que fazer uma enorme inflexão no que acreditava até começar nisto há três anos.
Para mim era claro que as coisas não existiam antes de nós as descobrirmos, porque estava centrado na visão egocêntrica humana, ou antropocêntrica.
Essa visão é parcialmente correcta, mas é só o "olho" que se vê a si mesmo. O outro olhar abre uma visão mais ampla - as nossas ideias existem independentemente de nós, sempre lá estiveram, mas precisam de nós para se manifestar. Quando se pensa assim, vemos a nossa importância diminuta, porque o que nos foi dado, poderia ser dado a qualquer outro. Só que não deixamos de existir, e o portanto ninguém nos vai tirar nada... o que pode acontecer é sermos ultrapassados na compreensão, mas isso é um jogo mais complicado de explicar, que só perde quem quer.
Por isso quando se fala da constituição pela matéria, isso implica leis... mas de onde vieram essas leis?
Havia um Tribunal Constitucional a definir as leis? E o governo humano quer poder interpretá-las à sua maneira?
Para quê? Para definir um recreio humano, a seu belo prazer, onde uns gozam com os outros?
Foram as restrições que sofremos que nos forçaram a uma compreensão acima, foram elas que nos definiram.
- A vida podia existir, mas não precisava de subsistir. Isso forçou um primeiro entendimento. O velho entendimento das plantas.
- A vida podia subsistir, mas não precisava de aniquilar outra. Isso forçou um entendimento acima, que era pago com a vida, pois o animal que não entendesse que havia outros animais, servia de repasto. Para esse entendimento mais complexo foi preciso o cérebro. A genética não bastava pois a interacção era feita ao segundo, não havia mecanismo pré-programado para isso. O que podia pré-programar eram reflexos. Apareceu assim o olhar animal.
- A vida podia interagir com outra vida, o animal focava-se no outro, mas não em si próprio. Para se poder ver a si próprio, precisava de um outro olhar, reflexivo. Não basta olhar o cérebro do outro e o perceber... é preciso ir mais longe e ver o próprio cérebro, e para isso não há nenhuma maquineta, há um simples pensar reflexivo.

O que há acima disso?
Nada, mas é preciso conjugar os dois olhares - olhar os outros, e olharmo-nos a nós próprios.
A ciência apenas olha o resto, não faz reflexão sobre si própria... falta essa filosofia.
Há três anos que vou apresentando aqui esta perspectiva. Em particular, a este respeito:
http://alvor-silves.blogspot.pt/2011/07/sapiens-sapiens.html

Gostei da boca do jantar... a nossa constituição não perdoa!

Um abraço,
da Maia

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