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Com chás (2)

12.07.13
Vieira.
Já aqui tínhamos apresentado uma moeda que tinha o símbolo da empresa de D. Sebastião:

Serena Celsa Favent, era o moto, e se o esclarecimento favorece a excelência, aqui temos uma concha, a vieira venusiana, e um peixe, símbolo cristão, sob uma constelação estelar (Pleiades?) enquadrada com o crescente selene, lunar.
Devemos notar que as conchas estão ligadas ao baptismo, havendo mesmo pias baptismais com essa forma:
 
Pia baptismal - Igreja NªSrª Navegantes (Armação de Pera, imagem).

Portanto, há uma ligação da concha à libertação do "pecado original", da expulsão do Paraíso. 
Bom, e tendo acabado de falar nas ilhas polinésias, do Taiti no texto anterior, de forma algo natural estabelecemos a noção de "ilha paradisíaca"... como se congenitamente o fosse reconhecido naquelas paisagens.


Pelicano.
Para além do peixe, também o pelicano, pelo auto-sacrifício pela prole, é considerado um símbolo de Cristo, tendo sido primeiro adoptado por D. João II como seu símbolo.
Vamos encontrar esse símbolo com um influente conselheiro dos reis ingleses Henrique VII e Henrique VIII, tratava-se de Richard Foxe, bispo de Winchester:

Leito de morte de Henry VII Tudor (1509) com destaque para Richard Fox, Bispo de Winchester, 
vêem-se as quinas portuguesas e o pelicano de D. João II.

O que faria o Bispo de Winchester, o conselheiro mais influente de Henrique VII, e depois de Henrique VIII (até ser substituído por Wolsey), usar armas com quinas e o pelicano, símbolos do já defunto D. João II?
Estava aqui implícito que a política de D. João II teria uma continuação pelo lado inglês?

Richard Foxe vai fundar o Colégio Corpus Christi de Oxford, que ainda hoje usa o símbolo do pelicano:
  
Richard Fox, o pátio central com o Pelicano do Corpus Christi de Oxford, e as armas do colégio,
que incluem ainda as armas de Hugh Oldham (com 3 mochos e rosas vermelhas de Lancaster)

Mais tarde, também Isabel I, filha de Henrique VIII, a rainha que determinará a expansão inglesa, irá adoptar o pelicano como símbolo no seu papel de "mãe" da Igreja Anglicana. A simbologia cristã do pelicano remontará a S. Tomás de Aquino, a sua ligação às quinas portuguesas só fica evidente através de Fox, e da influência que terá tido na regência dos Tudor.

A tomba de Fox está na catedral de Winchester da Santíssima Trindade, que era a mais influente à época, e que curiosamente esteve em perigo de colapso por inundação das fundações, sendo "salva" pelo trabalho contínuo de um escafandrista, William Walker, entre 1906-11, que tem um busto na catedral cuja cripta ainda se encontra imersa em água. 

Catedral de Winchester, o escafandrista Walker, e a cripta inundada (com escultura moderna).

Cordeiros.
Curiosamente, 50 anos antes, outro Bispo de Winchester, Henry Beaufort, ficou famoso por dirigir o processo inquisitório que condenou Joana d'Arc à fogueira. Tratava-se de um meio-irmão de Filipa de Lancastre, sendo um dos muitos filhos de John de Gaunt (com Katherine Swynford, no terceiro casamento que originou a linha Beaufort). 
Henry Beaufort, o inquisidor, e Joana d'Arc... 
um cordeiro entregue à fogueira.

Joana d'Arc tinha sido entregue por Philippe III de Borgonha (casado com Isabel de Portugal, filha de D. João I, sobrinha do inquisidor). Margaret Beaufort, também sobrinha deste Henry, será mãe do rei Henrique VII, que derrota Ricardo III, tornando-se o primeiro dos Tudor. Henrique VII usa a rosa de Lancaster, mas ao casar com uma rosa de York, terminará a Guerra das Rosas com a união.
Um detalhe importante é Henrique VII usar num retrato o colar do Tosão de Ouro, o símbolo da Ordem fundada por Philippe III de Borgonha, aquando do casamento com Isabel de Portugal.
Phillipe III de Bourgogne, fundador da Ordem do Tosão de Ouro (esq.)
Henry VII Tudor, membro da Ordem do Tosão de Ouro (dir.)
Ambos usam o colar da ordem, com o cordeiro sacrificial.

Duque de Kent, chefe da Grande Loja de Londres, com colar da Maçonaria.

Juntei uma imagem de colar da maçonaria porque o compasso, ou o esquadro, descaindo em forma de V invertido, assemelham-se ao cordeiro sacrificial, que vemos nos colares da Ordem do Tosão de Ouro.
Conforme já referi noutros textos, o cordeiro tem vários significados, não apenas ligados à lenda de Jasão e dos Argonautas. É claro que a Ordem surgindo no contexto do casamento da irmã do Infante D. Henrique, carrega um aspecto dos Descobrimentos ligado aos "Argonautas" e ao Velo de Ouro.
Descobrir foi desvelar, tirar véus... na forma Ariana deste carneiro, o Velo seria a pele de Aries, uma pele de Ouro, ou de Oro, forma abreviada de Hórus, o olho vigilante que se pode ligar ao verbo Orar.
Descobrir foi revelar, levantar Velas e não tanto retirá-las. As cara-velas do Infante velaram pelo véus antigos, e a Ordem do Tosão ou "Velo de Ouro", pode ser vista como preservação do "véu de Hórus".
Jasão teve que vencer o Dragão da Cólquida para obter o Velo de Ouro, tal como Hércules teve que vencer o dragão Ládon, que guardava as ocidentais Hespérides, num dos 12 trabalhos (ou 12 Oras...).
Ao mesmo tempo aparecia a Ordem do Dragão, de que fez parte o Infante D. Pedro, e que já ligámos à Dra-cola, ou Cola do Dragão, em que o "Colar" se refere ao pescoço, tal como Coço e Cola se referem à retaguarda, entrelaçada ao pescoço... (sobre o significado antigo de "coço da procissão" ser "atrás da procissão", ler D. Manuel Clemente)

A história do cordeiro tem ainda o aspecto hebraico que remete à Páscoa, ou à paz-côa, quando Abraão é sujeito ao teste de obediência divino, e o seu filho Isaac é substituído pelo cordeiro no sacrifício:
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis... dona nobis pacem
É um bocado complicado falar deste ponto, porque o sacrifício do cordeiro ordeiro envolve aqui um conceito perverso, no outro verso interpretativo. Deus não permitiria o sacrifício do filho eleito, apenas dos cordeiros... e por isso os cordeiros poderiam ser sacrificados, até que Deus se manifestasse em sentido contrário. E quem eram os cordeiros a sacrificar? O sacrifício indiscriminado traria a presença de Deus?
Pois... até que ponto os Árias foram pastores de Aries, cordeiros? Até que ponto os pastores sacrificariam os seus cordeiros para reencontrarem Deus, ou o Messias?
Esta filosofia continha uma aposta tripla 1X2, se Deus não interviesse perante a iniquidade, os pastores beneficiariam do velo de ouro, uma opção hedonista face à ausência divina. De forma oposta, justificariam a sua acção perante o divino, requerendo a sua presença, afinal a sua omnipotência só permitiria o sacrifício dos sacrificáveis. A incógnita X seria a recusa teológica de outras possibilidades... obviamente possível por crença, mas afinal insustentável racionalmente. Azar, este universo foi definido justamente pela racionalidade, e os absurdos levam ao vazio contraditório - o caos irracional fica no seu exterior. O tempo permite o absurdo diferido, temporário, mas não o simultâneo e permanente. Todos os filhos de Gaia são introspectivamente recuperáveis, pela lógica do arrependimento, do reconhecimento de erros, mas não é possível a recuperação dos irrecuperáveis. A persistência eterna no absurdo foi simplesmente excluída, nem tampouco poderia ser humana. Logicamente, não poderia ser doutra forma... os erros podem viver nas ilusões temporárias, que acolhem elementos do caos, mas não o caos completo. Desse oceano caótico importamos a imprevisibilidade, elementos artísticos e sentimentais, mas esses impulsos devem sujeitar-se ao enquadramento racional, sob pena de serem o convite ao estabelecimento do irracional, e à recusa da principal faculdade humana, que nos distingue das alimárias, a racionalidade.

Chapéus...
Há muitos, vários formatos de chapéus. Assim, para além do colar com o cordeirinho sacrificial, também o chapéu usado por Filipe III de Borgonha fez moda, ficou conhecido como "chapéu borgonhês", e resistiu aos tempos, sendo ainda hoje uma indumentária usada pela Confraria do Vinho do Porto:
É claro que no caso da confraria de vinho usa-se no colar uma taça de escanção, para averiguar da cor do vinho, afinal simbolicamente tratado como "sangue de Cristo".
A taça do vinho da Última Ceia foi habitualmente designada como Graal, e houve já quem sugerisse que o nome Portugal encerraria um críptico "por-tu-graal", que assim se complementaria, pela associação de Porto e Gaia, nas caves do famoso vinho, que sozinhas asseguravam as contrapartidas do Tratado de Methuen. Para adivinhos, há outros vinhos... os famosos vinhos da Borgonha, ou de Bordéus, da antiga região da Guiana occitana-basca, entre outros preciosos néctares de um Baco divino di-vinho, cuja preservação de antiguidade necessita do devido arrefecimento em caves bem seladas.

Baptista
Não longe, encontramos a Igreja Matriz de Vila do Conde, cuja a entrada é interessante.
De construção biscainha, apresenta de um lado as armas de D. Manuel (num caso raro, em que ainda aparece a dupla esfera armilar, sugerida por D. João II), e do outro lado temos: a âncora da Póvoa de Varzim, o antigo barco de Vila do Conde, e um outro brazão com uma figura humana que emerge de uma concha (símbolo associado à localidade de S. Pedro de Rates).
Igreja Matriz, de S. João Baptista, em Vila do Conde (imagem).

Como a Igreja é dedicada a S. João Baptista (que aparece no topo da porta), a concha será baptismal, mas também referente à mítica presença do Apóstolo Santiago, que teria ordenado S. Pedro de Rates como primeiro Bispo de Braga (45 a 60 d.C.).
Há assim essa dupla ligação a conchas, cuidando ambas para o simbolismo do renascimento, numa igreja renascentista emanuelina. O homem que sai da concha aparece depois, com D. Sebastião, na forma de peixe, invocando esse Renascimento cristão, que seria o renascimento de Cristo, na forma humana.
O ritual baptista parece remeter para uma origem aquática, pela imersão do baptizado, ou mais simbolicamente vertendo água na sua cabeça.
No entanto, há variações baptistas.
Um outro aspecto de baptismo, era o baptismo com óleo, aplicado na unção de sacerdotes.
Aí podemos ver outro aspecto das vieiras que, virtude dos tempos, são reencontradas no símbolo de uma famosa companhia petrolífera:

A vieira usada como símbolo de petróleo pela Shell.

O petróleo, também designado como "ouro negro", passou a encerrar outros véus, ou velos de ouro negro... mas para essas considerações remetemos para um texto anterior.

Poderíamos ainda falar de outros aspectos interessantes das vieiras, nomeadamente pela sua geometria.
Há uma confluência entre parte de um quadrado e parte de um círculo, podendo ser usado para simbolizar a relação do número Pi na quadratura do círculo.
Por outro lado, as divisões naturais das vieiras (ou outras conchas) poderiam servir para marcar ângulos, constituindo um simples instrumento de posicionamento, semelhante a um vulgar quadrante, para simples uso náutico, em navegações primitivas. Esse seria um aspecto prático de orientação astral para qualquer peregrino, associando a vieira ao cajado do pastor.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 22:13

Com chás (2)

12.07.13
Vieira.
Já aqui tínhamos apresentado uma moeda que tinha o símbolo da empresa de D. Sebastião:

Serena Celsa Favent, era o moto, e se o esclarecimento favorece a excelência, aqui temos uma concha, a vieira venusiana, e um peixe, símbolo cristão, sob uma constelação estelar (Pleiades?) enquadrada com o crescente selene, lunar.
Devemos notar que as conchas estão ligadas ao baptismo, havendo mesmo pias baptismais com essa forma:
 
Pia baptismal - Igreja NªSrª Navegantes (Armação de Pera, imagem)e concha baptismal (imagem)

Portanto, há uma ligação da concha à libertação do "pecado original", da expulsão do Paraíso. 
Bom, e tendo acabado de falar nas ilhas polinésias, do Taiti no texto anterior, de forma algo natural estabelecemos a noção de "ilha paradisíaca"... como se congenitamente o fosse reconhecido naquelas paisagens.


Pelicano.
Para além do peixe, também o pelicano, pelo auto-sacrifício pela prole, é considerado um símbolo de Cristo, tendo sido primeiro adoptado por D. João II como seu símbolo.
Vamos encontrar esse símbolo com um influente conselheiro dos reis ingleses Henrique VII e Henrique VIII, tratava-se de Richard Foxe, bispo de Winchester:

Leito de morte de Henry VII Tudor (1509) com destaque para Richard Fox, Bispo de Winchester, 
vêem-se as quinas portuguesas e o pelicano de D. João II.

O que faria o Bispo de Winchester, o conselheiro mais influente de Henrique VII, e depois de Henrique VIII (até ser substituído por Wolsey), usar armas com quinas e o pelicano, símbolos do já defunto D. João II?
Estava aqui implícito que a política de D. João II teria uma continuação pelo lado inglês?

Richard Foxe vai fundar o Colégio Corpus Christi de Oxford, que ainda hoje usa o símbolo do pelicano:
  
Richard Fox, o pátio central com o Pelicano do Corpus Christi de Oxford, e as armas do colégio,
que incluem ainda as armas de Hugh Oldham (com 3 mochos e rosas vermelhas de Lancaster)

Mais tarde, também Isabel I, filha de Henrique VIII, a rainha que determinará a expansão inglesa, irá adoptar o pelicano como símbolo no seu papel de "mãe" da Igreja Anglicana. A simbologia cristã do pelicano remontará a S. Tomás de Aquino, a sua ligação às quinas portuguesas só fica evidente através de Fox, e da influência que terá tido na regência dos Tudor.

A tomba de Fox está na catedral de Winchester da Santíssima Trindade, que era a mais influente à época, e que curiosamente esteve em perigo de colapso por inundação das fundações, sendo "salva" pelo trabalho contínuo de um escafandrista, William Walker, entre 1906-11, que tem um busto na catedral cuja cripta ainda se encontra imersa em água. 

Catedral de Winchester, o escafandrista Walker, e a cripta inundada (com escultura moderna).

Cordeiros.
Curiosamente, 50 anos antes, outro Bispo de Winchester, Henry Beaufort, ficou famoso por dirigir o processo inquisitório que condenou Joana d'Arc à fogueira. Tratava-se de um meio-irmão de Filipa de Lancastre, sendo um dos muitos filhos de John de Gaunt (com Katherine Swynford, no terceiro casamento que originou a linha Beaufort). 
Henry Beaufort, o inquisidor, e Joana d'Arc... 
um cordeiro entregue à fogueira.

Joana d'Arc tinha sido entregue por Philippe III de Borgonha (casado com Isabel de Portugal, filha de D. João I, sobrinha do inquisidor). Margaret Beaufort, também sobrinha deste Henry, será mãe do rei Henrique VII, que derrota Ricardo III, tornando-se o primeiro dos Tudor. Henrique VII usa a rosa de Lancaster, mas ao casar com uma rosa de York, terminará a Guerra das Rosas com a união.
Um detalhe importante é Henrique VII usar num retrato o colar do Tosão de Ouro, o símbolo da Ordem fundada por Philippe III de Borgonha, aquando do casamento com Isabel de Portugal.
Phillipe III de Bourgogne, fundador da Ordem do Tosão de Ouro (esq.)
Henry VII Tudor, membro da Ordem do Tosão de Ouro (dir.)
Ambos usam o colar da ordem, com o cordeiro sacrificial.

Duque de Kent, chefe da Grande Loja de Londres, com colar da Maçonaria.

Juntei uma imagem de colar da maçonaria porque o compasso, ou o esquadro, descaindo em forma de V invertido, assemelham-se ao cordeiro sacrificial, que vemos nos colares da Ordem do Tosão de Ouro.
Conforme já referi noutros textos, o cordeiro tem vários significados, não apenas ligados à lenda de Jasão e dos Argonautas. É claro que a Ordem surgindo no contexto do casamento da irmã do Infante D. Henrique, carrega um aspecto dos Descobrimentos ligado aos "Argonautas" e ao Velo de Ouro.
Descobrir foi desvelar, tirar véus... na forma Ariana deste carneiro, o Velo seria a pele de Aries, uma pele de Ouro, ou de Oro, forma abreviada de Hórus, o olho vigilante que se pode ligar ao verbo Orar.
Descobrir foi revelar, levantar Velas e não tanto retirá-las. As cara-velas do Infante velaram pelo véus antigos, e a Ordem do Tosão ou "Velo de Ouro", pode ser vista como preservação do "véu de Hórus".
Jasão teve que vencer o Dragão da Cólquida para obter o Velo de Ouro, tal como Hércules teve que vencer o dragão Ládon, que guardava as ocidentais Hespérides, num dos 12 trabalhos (ou 12 Oras...).
Ao mesmo tempo aparecia a Ordem do Dragão, de que fez parte o Infante D. Pedro, e que já ligámos à Dra-cola, ou Cola do Dragão, em que o "Colar" se refere ao pescoço, tal como Coço e Cola se referem à retaguarda, entrelaçada ao pescoço... (sobre o significado antigo de "coço da procissão" ser "atrás da procissão", ler D. Manuel Clemente)

A história do cordeiro tem ainda o aspecto hebraico que remete à Páscoa, ou à paz-côa, quando Abraão é sujeito ao teste de obediência divino, e o seu filho Isaac é substituído pelo cordeiro no sacrifício:
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis... dona nobis pacem
É um bocado complicado falar deste ponto, porque o sacrifício do cordeiro ordeiro envolve aqui um conceito perverso, no outro verso interpretativo. Deus não permitiria o sacrifício do filho eleito, apenas dos cordeiros... e por isso os cordeiros poderiam ser sacrificados, até que Deus se manifestasse em sentido contrário. E quem eram os cordeiros a sacrificar? O sacrifício indiscriminado traria a presença de Deus?
Pois... até que ponto os Árias foram pastores de Aries, cordeiros? Até que ponto os pastores sacrificariam os seus cordeiros para reencontrarem Deus, ou o Messias?
Esta filosofia continha uma aposta tripla 1X2, se Deus não interviesse perante a iniquidade, os pastores beneficiariam do velo de ouro, uma opção hedonista face à ausência divina. De forma oposta, justificariam a sua acção perante o divino, requerendo a sua presença, afinal a sua omnipotência só permitiria o sacrifício dos sacrificáveis. A incógnita X seria a recusa teológica de outras possibilidades... obviamente possível por crença, mas afinal insustentável racionalmente. Azar, este universo foi definido justamente pela racionalidade, e os absurdos levam ao vazio contraditório - o caos irracional fica no seu exterior. O tempo permite o absurdo diferido, temporário, mas não o simultâneo e permanente. Todos os filhos de Gaia são introspectivamente recuperáveis, pela lógica do arrependimento, do reconhecimento de erros, mas não é possível a recuperação dos irrecuperáveis. A persistência eterna no absurdo foi simplesmente excluída, nem tampouco poderia ser humana. Logicamente, não poderia ser doutra forma... os erros podem viver nas ilusões temporárias, que acolhem elementos do caos, mas não o caos completo. Desse oceano caótico importamos a imprevisibilidade, elementos artísticos e sentimentais, mas esses impulsos devem sujeitar-se ao enquadramento racional, sob pena de serem o convite ao estabelecimento do irracional, e à recusa da principal faculdade humana, que nos distingue das alimárias, a racionalidade.

Chapéus...
Há muitos, vários formatos de chapéus. Assim, para além do colar com o cordeirinho sacrificial, também o chapéu usado por Filipe III de Borgonha fez moda, ficou conhecido como "chapéu borgonhês", e resistiu aos tempos, sendo ainda hoje uma indumentária usada pela Confraria do Vinho do Porto:
É claro que no caso da confraria de vinho usa-se no colar uma taça de escanção, para averiguar da cor do vinho, afinal simbolicamente tratado como "sangue de Cristo".
A taça do vinho da Última Ceia foi habitualmente designada como Graal, e houve já quem sugerisse que o nome Portugal encerraria um críptico "por-tu-graal", que assim se complementaria, pela associação de Porto e Gaia, nas caves do famoso vinho, que sozinhas asseguravam as contrapartidas do Tratado de Methuen. Para adivinhos, há outros vinhos... os famosos vinhos da Borgonha, ou de Bordéus, da antiga região da Guiana occitana-basca, entre outros preciosos néctares de um Baco divino di-vinho, cuja preservação de antiguidade necessita do devido arrefecimento em caves bem seladas.

Baptista
Não longe, encontramos a Igreja Matriz de Vila do Conde, cuja a entrada é interessante.
De construção biscainha, apresenta de um lado as armas de D. Manuel (num caso raro, em que ainda aparece a dupla esfera armilar, sugerida por D. João II), e do outro lado temos: a âncora da Póvoa de Varzim, o antigo barco de Vila do Conde, e um outro brazão com uma figura humana que emerge de uma concha (símbolo associado à localidade de S. Pedro de Rates).
Igreja Matriz, de S. João Baptista, em Vila do Conde (imagem).

Como a Igreja é dedicada a S. João Baptista (que aparece no topo da porta), a concha será baptismal, mas também referente à mítica presença do Apóstolo Santiago, que teria ordenado S. Pedro de Rates como primeiro Bispo de Braga (45 a 60 d.C.).
Há assim essa dupla ligação a conchas, cuidando ambas para o simbolismo do renascimento, numa igreja renascentista emanuelina. O homem que sai da concha aparece depois, com D. Sebastião, na forma de peixe, invocando esse Renascimento cristão, que seria o renascimento de Cristo, na forma humana.
O ritual baptista parece remeter para uma origem aquática, pela imersão do baptizado, ou mais simbolicamente vertendo água na sua cabeça.
No entanto, há variações baptistas.
Um outro aspecto de baptismo, era o baptismo com óleo, aplicado na unção de sacerdotes.
Aí podemos ver outro aspecto das vieiras que, virtude dos tempos, são reencontradas no símbolo de uma famosa companhia petrolífera:

A vieira usada como símbolo de petróleo pela Shell.

O petróleo, também designado como "ouro negro", passou a encerrar outros véus, ou velos de ouro negro... mas para essas considerações remetemos para um texto anterior.

Poderíamos ainda falar de outros aspectos interessantes das vieiras, nomeadamente pela sua geometria.
Há uma confluência entre parte de um quadrado e parte de um círculo, podendo ser usado para simbolizar a relação do número Pi na quadratura do círculo.
Por outro lado, as divisões naturais das vieiras (ou outras conchas) poderiam servir para marcar ângulos, constituindo um simples instrumento de posicionamento, semelhante a um vulgar quadrante, para simples uso náutico, em navegações primitivas. Esse seria um aspecto prático de orientação astral para qualquer peregrino, associando a vieira ao cajado do pastor.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 22:13

Aparentemente, o único registo de estradas romanas está contido num manuscrito do Séc. XIII, a chamada "Tabula Peutingeriana", um extenso mapa mundi distorcido, privilegiando a topologia à topografia (ao estilo dos esquemas de linhas de metropolitano, hoje em dia). A versão sobrevivente, num museu de Viena, está amputada da parte mais ocidental, com a Península Ibérica, Ilhas Britânicas e Marrocos. Foi reconstruída posteriormente no final do Séc. XIX, da forma que se apresenta:

Tabela Peutingeriana com a extensão ibérica
Tabula Peutingeriana - Detalhe da reconstrução da Península Ibérica (Konrad Miller, 1898).

A Tabula Peutingeriana terá sido encontrada por Conrad Celtes na cidade de Worms, sobre o Reno, uma cidade que teria como designação celta Barbetomagus, centro da saga dos Nibelungos. Talvez a versão original da Tabula estivesse ainda completa, mas Conrad Celtes não a conseguiu publicar, tendo ficada associada a Peutinger, antiquário que a traz à luz em 1508 (já mutilada?) e lhe dará o corrente nome.
Brazão da cidade de Worms - Barbetomagus

É interessante esta ligação a Worms, e ao reino de Gunther da Borgonha, entre 406-411 d.C, com a migração de Alanos, Vândalos, e Suevos, que terminará depois na Península Ibérica, pois é nessa altura que o poder imperial romano de Honório começará a ser ilusório. Nestas paragens do Reno consta que Gunther iria controlar o anterior pretendente ao império, Jovinius. Este é um dos enredos da saga dos Nibelungos que envolve ainda o fim do reino de Gunther pelo ataque dos romanos com a ajuda de mercenários hunos. Siegfried é personagem central, e as figuras de Krimhilda e Brunhilda lembram ainda a posterior querela entre Fredegunda e Brunilda, já sob implantação merovíngia. Já tinhamos referido que o mapa de Piri Reis reporta a chegada da informação por via dos francos (burgúndios ou vândalos?) que fugiram do Egipto, aquando da expansão árabe em 641 d.C.
 
Execução da visigoda Brunilda, rainha da Austrásia (à esq.)
Siegfried e Krimhilda, com um falcão (à dir.)

A parte inicial da saga dos Nibelungos, começa com um sonho de Krimhilda sobre um falcão morto por duas águias, adicionando a decoração. As águias podem estar associadas aos dois impérios que acabaram por destruir o reino de Gunther, o romano e o tártaro, mongol, dos hunos. Quanto ao falcão, podemos associar ao legado cultural egípcio...
Num mundo em que a informação era controlada em cidades isoladas, havia um meio expedito de passar informação, já usado ao tempo dos egípcios e persas... o pombo-correio. Contra os pombos, havia outra arma... os falcões! Portanto, convém aqui explicitar que o falcão, enquanto representação de Hórus e também símbolo aqueménida de Ciro, torna implícito um "olho apurado" e ainda um interceptor de comunicação, de mensagens.

Assim, quando aparece um Colombo passando a mensagem d'A Mérica, será figurativamente um pombo que escapa aos falcões, que lançavam o seu olhar acutilante e as suas garras para manter o mundo restrito às fronteiras da Antiguidade, representadas na Tabula Peutingeriana.
Também de forma columbófila, encontramos o deus Hermes/Mercúrio, filho de uma "pomba" que é Maia, já que as Pleiades são pombas (gr. peleiades) filhas do titã Atlas, inseridas na constelação de Touro, na sua fuga ao gigante caçador Orion (ou Oriœnte). Também no cristianismo, a mensagem que Maria recebe é figurativamente representada, enquanto Espírito Santo, por um pombo, sem corpo de autor, relevando apenas o conteúdo. A utilização da columbofilia na expedição de mensagens teve como contraponto o desenvolvimento da falcoaria, como actividade nobre, especialmente nas monarquias medievais.

A saga dos Nibelungos, com Gunther de Borgonha, no séc. V, será escrita no séc. XII, e depois adaptada por Wagner, no magnífico Anel dos Nibelungos, sendo reincorporada no nacionalismo alemão, então mutilado pela cisão do Sacro-Império Germânico no Tratado de Vestfália, mostrando como aquela encruzilhada cultural no Reno se arrastaria por séculos e por diferentes paragens.
A migração ibérica dos suevos, aliados de Gunther, irá definir um isolamento histórico, que estará na origem de substanciais diferenças com a parte sob domínio visigodo. Desse lado temos a constituição de Espanha, e do lado suevo a constituição de Portugal, um reino que irá definir uma origem dinástica de Borgonha, apesar da ligação a Bolonha evidenciada por Damião de Goes. Os limites do mundo da Tabula Peutingeriana seriam ultrapassados justamente com a autorizada expansão portuguesa, conseguida pelo Infante D. Henrique, e por uma motivação comercial própria de Hermes.

Há duas concepções de Hermes, que acabam por se misturar. Na mitologia grega, sendo um deus mensageiro ligado a viagens, ao comércio, tem também um aspecto menos honesto, ludibrioso, que o liga aos trapaceiros. A mensagem, tendo em vista uma transacção comercial, pode ser distorcida com o intuito de um lucro facilitado. Assim, subjacente a um poder de moto comercial está também uma mensagem deturpada, sugestiva, como acontece na propaganda. O referencial de verdade colectiva, anteriormente representado pelo poder monárquico, foi com a ascensão comercial substituído na governação, onde a balança do comércio passou a balança de poder, numa hierarquia segura pelos segredos das transações, pelas ilusões criadas, que se pode dar ao luxo de responsabilizar os cidadãos pelas suas escolhas, sem nunca perder o controlo sobre a mensagem publicitada, e assim obter o maior controlo da verdade colectiva, à escala mundial. A ideia subjacente deixou de ser a falcoaria, como meio de caçar pombos... ao inundar os céus de pombos, inunda-se o meio informativo de mensagens, deixando como efeito residual e marginal qualquer mensagem incómoda.
caduceu de Hermes, para além das asas do mensageiro, mostra o confronto entre duas serpentes, o confronto entre o conhecimento e a sua oposição, um lado real e um lado ficcionado, serpentes que podem mudar de pele, enrolando-se num bastão de poder.
A outra concepção é a de Hermes Trimegisto, ligada ao gnosticismo, que esteve inicialmente ligado ao cristianismo, e que surge como ligação ptolomaica entre o deus grego Hermes e o egípcio Tot, que já referimos, mencionando a ligação à tradição maçónica. Aqui a simbologia destoutro Hermes embebe em filosofia fundamental (que se encontra também em Parménides), e é representado equilibrando uma esfera armilar, semelhante à que encontramos na bandeira portuguesa, e que remonta a D. João II e D. Manuel.
Se os descobrimentos levaram à consolidação comercial através das Companhias das Índias, dando asas um desenvolvimento técnico e social, as duas serpentes de conhecimento, real e ficcional, confundem-se e têm deixado submerso o homónimo Hermes, o total de Tot que aparece nas três componentes do Trimegisto (tendo a sua Tabula Esmeralda sido chamada o "segredo dos segredos").


 
Hermes Trimegisto e a Tabula Esmeralda (que surge na literatura árabe como
referência de carta de Aristóteles a Alexandre Magno) 

Para além do conhecimento filosófico, gnóstico, tido como secreto, haveria outros segredos de ouro na tradição egípcia, ptolomaica. Em particular, deveria estar conhecimento secreto que justificou limitar o mundo ocidental às fronteiras atlânticas, ao limite persa, e a um trópico acima de Cancer. O mundo em que "todos os caminhos iam dar a Roma", é o mundo da Tabula Peutingeriana.
Hércules abriu a passagem pelo Atlas que segurava o mundo antigo nos ombros, deixando o Mediterrâneo de ser limite navegável, abrindo caminho para as ilhas britânicas. Nova abertura foi lentamente conseguida pela dinastia de Avis, ensinando a cavalgar em toda a sela, domesticando os garranos. Adamastor cedeu e o mundo abriu-se o suficiente para que todo o Atlas viesse a ser revelado uns séculos depois.
Mas se os Atlas de hoje nos mostram muito mais que a Tabula Peutingeriana, também é certo que outras Pleiades, as pombas filhas de Atlas, permanecem sob segredo, e a diferença entre o ocultado e o descoberto será da mesma monta.




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publicado às 17:25

Aparentemente, o único registo de estradas romanas está contido num manuscrito do Séc. XIII, a chamada "Tabula Peutingeriana", um extenso mapa mundi distorcido, privilegiando a topologia à topografia (ao estilo dos esquemas de linhas de metropolitano, hoje em dia). A versão sobrevivente, num museu de Viena, está amputada da parte mais ocidental, com a Península Ibérica, Ilhas Britânicas e Marrocos. Foi reconstruída posteriormente no final do Séc. XIX, da forma que se apresenta:

Tabela Peutingeriana com a extensão ibérica
Tabula Peutingeriana - Detalhe da reconstrução da Península Ibérica (Konrad Miller, 1898).

A Tabula Peutingeriana terá sido encontrada por Conrad Celtes na cidade de Worms, sobre o Reno, uma cidade que teria como designação celta Barbetomagus, centro da saga dos Nibelungos. Talvez a versão original da Tabula estivesse ainda completa, mas Conrad Celtes não a conseguiu publicar, tendo ficada associada a Peutinger, antiquário que a traz à luz em 1508 (já mutilada?) e lhe dará o corrente nome.
Brazão da cidade de Worms - Barbetomagus

É interessante esta ligação a Worms, e ao reino de Gunther da Borgonha, entre 406-411 d.C, com a migração de Alanos, Vândalos, e Suevos, que terminará depois na Península Ibérica, pois é nessa altura que o poder imperial romano de Honório começará a ser ilusório. Nestas paragens do Reno consta que Gunther iria controlar o anterior pretendente ao império, Jovinius. Este é um dos enredos da saga dos Nibelungos que envolve ainda o fim do reino de Gunther pelo ataque dos romanos com a ajuda de mercenários hunos. Siegfried é personagem central, e as figuras de Krimhilda e Brunhilda lembram ainda a posterior querela entre Fredegunda e Brunilda, já sob implantação merovíngia. Já tinhamos referido que o mapa de Piri Reis reporta a chegada da informação por via dos francos (burgúndios ou vândalos?) que fugiram do Egipto, aquando da expansão árabe em 641 d.C.
 
Execução da visigoda Brunilda, rainha da Austrásia (à esq.)
Siegfried e Krimhilda, com um falcão (à dir.)

A parte inicial da saga dos Nibelungos, começa com um sonho de Krimhilda sobre um falcão morto por duas águias, adicionando a decoração. As águias podem estar associadas aos dois impérios que acabaram por destruir o reino de Gunther, o romano e o tártaro, mongol, dos hunos. Quanto ao falcão, podemos associar ao legado cultural egípcio...
Num mundo em que a informação era controlada em cidades isoladas, havia um meio expedito de passar informação, já usado ao tempo dos egípcios e persas... o pombo-correio. Contra os pombos, havia outra arma... os falcões! Portanto, convém aqui explicitar que o falcão, enquanto representação de Hórus e também símbolo aqueménida de Ciro, torna implícito um "olho apurado" e ainda um interceptor de comunicação, de mensagens.

Assim, quando aparece um Colombo passando a mensagem d'A Mérica, será figurativamente um pombo que escapa aos falcões, que lançavam o seu olhar acutilante e as suas garras para manter o mundo restrito às fronteiras da Antiguidade, representadas na Tabula Peutingeriana.
Também de forma columbófila, encontramos o deus Hermes/Mercúrio, filho de uma "pomba" que é Maia, já que as Pleiades são pombas (gr. peleiades) filhas do titã Atlas, inseridas na constelação de Touro, na sua fuga ao gigante caçador Orion (ou Oriœnte). Também no cristianismo, a mensagem que Maria recebe é figurativamente representada, enquanto Espírito Santo, por um pombo, sem corpo de autor, relevando apenas o conteúdo. A utilização da columbofilia na expedição de mensagens teve como contraponto o desenvolvimento da falcoaria, como actividade nobre, especialmente nas monarquias medievais.

A saga dos Nibelungos, com Gunther de Borgonha, no séc. V, será escrita no séc. XII, e depois adaptada por Wagner, no magnífico Anel dos Nibelungos, sendo reincorporada no nacionalismo alemão, então mutilado pela cisão do Sacro-Império Germânico no Tratado de Vestfália, mostrando como aquela encruzilhada cultural no Reno se arrastaria por séculos e por diferentes paragens.
A migração ibérica dos suevos, aliados de Gunther, irá definir um isolamento histórico, que estará na origem de substanciais diferenças com a parte sob domínio visigodo. Desse lado temos a constituição de Espanha, e do lado suevo a constituição de Portugal, um reino que irá definir uma origem dinástica de Borgonha, apesar da ligação a Bolonha evidenciada por Damião de Goes. Os limites do mundo da Tabula Peutingeriana seriam ultrapassados justamente com a autorizada expansão portuguesa, conseguida pelo Infante D. Henrique, e por uma motivação comercial própria de Hermes.

Há duas concepções de Hermes, que acabam por se misturar. Na mitologia grega, sendo um deus mensageiro ligado a viagens, ao comércio, tem também um aspecto menos honesto, ludibrioso, que o liga aos trapaceiros. A mensagem, tendo em vista uma transacção comercial, pode ser distorcida com o intuito de um lucro facilitado. Assim, subjacente a um poder de moto comercial está também uma mensagem deturpada, sugestiva, como acontece na propaganda. O referencial de verdade colectiva, anteriormente representado pelo poder monárquico, foi com a ascensão comercial substituído na governação, onde a balança do comércio passou a balança de poder, numa hierarquia segura pelos segredos das transações, pelas ilusões criadas, que se pode dar ao luxo de responsabilizar os cidadãos pelas suas escolhas, sem nunca perder o controlo sobre a mensagem publicitada, e assim obter o maior controlo da verdade colectiva, à escala mundial. A ideia subjacente deixou de ser a falcoaria, como meio de caçar pombos... ao inundar os céus de pombos, inunda-se o meio informativo de mensagens, deixando como efeito residual e marginal qualquer mensagem incómoda.
caduceu de Hermes, para além das asas do mensageiro, mostra o confronto entre duas serpentes, o confronto entre o conhecimento e a sua oposição, um lado real e um lado ficcionado, serpentes que podem mudar de pele, enrolando-se num bastão de poder.
A outra concepção é a de Hermes Trimegisto, ligada ao gnosticismo, que esteve inicialmente ligado ao cristianismo, e que surge como ligação ptolomaica entre o deus grego Hermes e o egípcio Tot, que já referimos, mencionando a ligação à tradição maçónica. Aqui a simbologia destoutro Hermes embebe em filosofia fundamental (que se encontra também em Parménides), e é representado equilibrando uma esfera armilar, semelhante à que encontramos na bandeira portuguesa, e que remonta a D. João II e D. Manuel.
Se os descobrimentos levaram à consolidação comercial através das Companhias das Índias, dando asas um desenvolvimento técnico e social, as duas serpentes de conhecimento, real e ficcional, confundem-se e têm deixado submerso o homónimo Hermes, o total de Tot que aparece nas três componentes do Trimegisto (tendo a sua Tabula Esmeralda sido chamada o "segredo dos segredos").

 
Hermes Trimegisto e a Tabula Esmeralda (que surge na literatura árabe como
referência de carta de Aristóteles a Alexandre Magno) 

Para além do conhecimento filosófico, gnóstico, tido como secreto, haveria outros segredos de ouro na tradição egípcia, ptolomaica. Em particular, deveria estar conhecimento secreto que justificou limitar o mundo ocidental às fronteiras atlânticas, ao limite persa, e a um trópico acima de Cancer. O mundo em que "todos os caminhos iam dar a Roma", é o mundo da Tabula Peutingeriana.
Hércules abriu a passagem pelo Atlas que segurava o mundo antigo nos ombros, deixando o Mediterrâneo de ser limite navegável, abrindo caminho para as ilhas britânicas. Nova abertura foi lentamente conseguida pela dinastia de Avis, ensinando a cavalgar em toda a sela, domesticando os garranos. Adamastor cedeu e o mundo abriu-se o suficiente para que todo o Atlas viesse a ser revelado uns séculos depois.
Mas se os Atlas de hoje nos mostram muito mais que a Tabula Peutingeriana, também é certo que outras Pleiades, as pombas filhas de Atlas, permanecem sob segredo, e a diferença entre o ocultado e o descoberto será da mesma monta.




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publicado às 17:25

Aparentemente, o único registo de estradas romanas está contido num manuscrito do Séc. XIII, a chamada "Tabula Peutingeriana", um extenso mapa mundi distorcido, privilegiando a topologia à topografia (ao estilo dos esquemas de linhas de metropolitano, hoje em dia). A versão sobrevivente, num museu de Viena, está amputada da parte mais ocidental, com a Península Ibérica, Ilhas Britânicas e Marrocos. Foi reconstruída posteriormente no final do Séc. XIX, da forma que se apresenta:

Tabela Peutingeriana com a extensão ibérica
Tabula Peutingeriana - Detalhe da reconstrução da Península Ibérica (Konrad Miller, 1898).

A Tabula Peutingeriana terá sido encontrada por Conrad Celtes na cidade de Worms, sobre o Reno, uma cidade que teria como designação celta Barbetomagus, centro da saga dos Nibelungos. Talvez a versão original da Tabula estivesse ainda completa, mas Conrad Celtes não a conseguiu publicar, tendo ficada associada a Peutinger, antiquário que a traz à luz em 1508 (já mutilada?) e lhe dará o corrente nome.
Brazão da cidade de Worms - Barbetomagus

É interessante esta ligação a Worms, e ao reino de Gunther da Borgonha, entre 406-411 d.C, com a migração de Alanos, Vândalos, e Suevos, que terminará depois na Península Ibérica, pois é nessa altura que o poder imperial romano de Honório começará a ser ilusório. Nestas paragens do Reno consta que Gunther iria controlar o anterior pretendente ao império, Jovinius. Este é um dos enredos da saga dos Nibelungos que envolve ainda o fim do reino de Gunther pelo ataque dos romanos com a ajuda de mercenários hunos. Siegfried é personagem central, e as figuras de Krimhilda e Brunhilda lembram ainda a posterior querela entre Fredegunda e Brunilda, já sob implantação merovíngia. Já tinhamos referido que o mapa de Piri Reis reporta a chegada da informação por via dos francos (burgúndios ou vândalos?) que fugiram do Egipto, aquando da expansão árabe em 641 d.C.
 
Execução da visigoda Brunilda, rainha da Austrásia (à esq.)
Siegfried e Krimhilda, com um falcão (à dir.)

A parte inicial da saga dos Nibelungos, começa com um sonho de Krimhilda sobre um falcão morto por duas águias, adicionando a decoração. As águias podem estar associadas aos dois impérios que acabaram por destruir o reino de Gunther, o romano e o tártaro, mongol, dos hunos. Quanto ao falcão, podemos associar ao legado cultural egípcio...
Num mundo em que a informação era controlada em cidades isoladas, havia um meio expedito de passar informação, já usado ao tempo dos egípcios e persas... o pombo-correio. Contra os pombos, havia outra arma... os falcões! Portanto, convém aqui explicitar que o falcão, enquanto representação de Hórus e também símbolo aqueménida de Ciro, torna implícito um "olho apurado" e ainda um interceptor de comunicação, de mensagens.

Assim, quando aparece um Colombo passando a mensagem d'A Mérica, será figurativamente um pombo que escapa aos falcões, que lançavam o seu olhar acutilante e as suas garras para manter o mundo restrito às fronteiras da Antiguidade, representadas na Tabula Peutingeriana.
Também de forma columbófila, encontramos o deus Hermes/Mercúrio, filho de uma "pomba" que é Maia, já que as Pleiades são pombas (gr. peleiades) filhas do titã Atlas, inseridas na constelação de Touro, na sua fuga ao gigante caçador Orion (ou Oriœnte). Também no cristianismo, a mensagem que Maria recebe é figurativamente representada, enquanto Espírito Santo, por um pombo, sem corpo de autor, relevando apenas o conteúdo. A utilização da columbofilia na expedição de mensagens teve como contraponto o desenvolvimento da falcoaria, como actividade nobre, especialmente nas monarquias medievais.

A saga dos Nibelungos, com Gunther de Borgonha, no séc. V, será escrita no séc. XII, e depois adaptada por Wagner, no magnífico Anel dos Nibelungos, sendo reincorporada no nacionalismo alemão, então mutilado pela cisão do Sacro-Império Germânico no Tratado de Vestfália, mostrando como aquela encruzilhada cultural no Reno se arrastaria por séculos e por diferentes paragens.
A migração ibérica dos suevos, aliados de Gunther, irá definir um isolamento histórico, que estará na origem de substanciais diferenças com a parte sob domínio visigodo. Desse lado temos a constituição de Espanha, e do lado suevo a constituição de Portugal, um reino que irá definir uma origem dinástica de Borgonha, apesar da ligação a Bolonha evidenciada por Damião de Goes. Os limites do mundo da Tabula Peutingeriana seriam ultrapassados justamente com a autorizada expansão portuguesa, conseguida pelo Infante D. Henrique, e por uma motivação comercial própria de Hermes.

Há duas concepções de Hermes, que acabam por se misturar. Na mitologia grega, sendo um deus mensageiro ligado a viagens, ao comércio, tem também um aspecto menos honesto, ludibrioso, que o liga aos trapaceiros. A mensagem, tendo em vista uma transacção comercial, pode ser distorcida com o intuito de um lucro facilitado. Assim, subjacente a um poder de moto comercial está também uma mensagem deturpada, sugestiva, como acontece na propaganda. O referencial de verdade colectiva, anteriormente representado pelo poder monárquico, foi com a ascensão comercial substituído na governação, onde a balança do comércio passou a balança de poder, numa hierarquia segura pelos segredos das transações, pelas ilusões criadas, que se pode dar ao luxo de responsabilizar os cidadãos pelas suas escolhas, sem nunca perder o controlo sobre a mensagem publicitada, e assim obter o maior controlo da verdade colectiva, à escala mundial. A ideia subjacente deixou de ser a falcoaria, como meio de caçar pombos... ao inundar os céus de pombos, inunda-se o meio informativo de mensagens, deixando como efeito residual e marginal qualquer mensagem incómoda.
caduceu de Hermes, para além das asas do mensageiro, mostra o confronto entre duas serpentes, o confronto entre o conhecimento e a sua oposição, um lado real e um lado ficcionado, serpentes que podem mudar de pele, enrolando-se num bastão de poder.
A outra concepção é a de Hermes Trimegisto, ligada ao gnosticismo, que esteve inicialmente ligado ao cristianismo, e que surge como ligação ptolomaica entre o deus grego Hermes e o egípcio Tot, que já referimos, mencionando a ligação à tradição maçónica. Aqui a simbologia destoutro Hermes embebe em filosofia fundamental (que se encontra também em Parménides), e é representado equilibrando uma esfera armilar, semelhante à que encontramos na bandeira portuguesa, e que remonta a D. João II e D. Manuel.
Se os descobrimentos levaram à consolidação comercial através das Companhias das Índias, dando asas um desenvolvimento técnico e social, as duas serpentes de conhecimento, real e ficcional, confundem-se e têm deixado submerso o homónimo Hermes, o total de Tot que aparece nas três componentes do Trimegisto (tendo a sua Tabula Esmeralda sido chamada o "segredo dos segredos").

 
Hermes Trimegisto e a Tabula Esmeralda (que surge na literatura árabe como
referência de carta de Aristóteles a Alexandre Magno) 

Para além do conhecimento filosófico, gnóstico, tido como secreto, haveria outros segredos de ouro na tradição egípcia, ptolomaica. Em particular, deveria estar conhecimento secreto que justificou limitar o mundo ocidental às fronteiras atlânticas, ao limite persa, e a um trópico acima de Cancer. O mundo em que "todos os caminhos iam dar a Roma", é o mundo da Tabula Peutingeriana.
Hércules abriu a passagem pelo Atlas que segurava o mundo antigo nos ombros, deixando o Mediterrâneo de ser limite navegável, abrindo caminho para as ilhas britânicas. Nova abertura foi lentamente conseguida pela dinastia de Avis, ensinando a cavalgar em toda a sela, domesticando os garranos. Adamastor cedeu e o mundo abriu-se o suficiente para que todo o Atlas viesse a ser revelado uns séculos depois.
Mas se os Atlas de hoje nos mostram muito mais que a Tabula Peutingeriana, também é certo que outras Pleiades, as pombas filhas de Atlas, permanecem sob segredo, e a diferença entre o ocultado e o descoberto será da mesma monta.




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publicado às 09:25

Mayday

02.05.12
Mayday... é um sinal de socorro.
Mayday... é o primeiro de Maio. 
Um dia da Maia, deusa-da-Terra, comemorado por trabalhadores/servos/escravos no mês de Maio.

O sinal de socorro pode ser entendido de muitas maneiras. Eu entendo-o como um pedido de ajuda de decisores para controlarem o Demo nas suas Demonstrações (Demonstrations=Manifestações).
Quem é o Demo?
Não precisamos falar das Terras do Demo... o Demo vê-se no grego e significa Povo.
O Demo foi e sempre será o "povo", a multidão que vive na escuridão, controlada por alguns iluminados.
Por isso, quando S. Jerónimo introduz a designação "Lucifer", transforma a expressão "portador da luz", que antes se aplicara a Cristo, no pior inimigo dos homens e de uma concepção de Deus.
O povo irá aprender a temer o "Demo", que é afinal o próprio povo, e ainda "Lucifer" que era designação de Cristo - ou seja iria ter como principal inimigo aquele que traria a luz, que libertaria o povo das trevas.
Do ponto de vista da lógica de manutenção do poder, é algo tenebrosamente bem pensado.

Na lógica do poder, podemos ter um sistema de classes, que estabelece uma hierarquia bem definida, mas que arrisca a ser pouco eficaz.

1) A primeira etapa, a escravatura, que remonta à Hera do Cobre.
Escrevo propositadamente Hera e não Era.
Os que descansam nas informações exclusivas dos livros do passado, dos testamentos dos Velhos, conhecem, desconhecendo, um detalhe importante sobre a História que virou Estória... e não se trata apenas desta História poder ficar ocultada numa nova Estória. Sobre a mentira não se erguem vencedores que reescrevem a História, erguem-se ilusões.

O sujeito que nascia na condição de escravo não era obviamente um trabalhador motivado.
A sua produção era claramente destinada a incrementar o poder de quem oprimia a sua família, a sua tribo, o seu povo. Pior que isso, os escravos reconheciam facilmente os opressores e estes podiam ser alvo de uma revolta. O exemplo que marcou esta ira foi a revolta de Spartacus, e o erro crasso, de Crasso, em reprimi-la de forma exemplar com 6000 crucificações na Via Ápia... a Cruz tornou-se definitivamente num símbolo do sofrimento dos escravos, algo continuado com o cristianismo.

2) A segunda etapa, o servilismo, que irá fundar a Hera Média, ou Idade Média.
O cristianismo teve a virtude de incutir nos escravos uma religião de aceitação do sacrifício, uma recompensa numa vida posterior, e a ideia de um juízo final. Talvez não fosse ainda motivante como factor produtivo, mas apaziguava o espírito de revolta.
A progressiva integração do cristianismo no Império Romano levou mesmo a uma substituição funcional do poder na Idade Média. Roma não caiu, apenas deixou de ser o centro de decisão política e passou a centro de decisão religiosa... No entanto, este centro religioso era afinal um centro de consenso político, que harmonizava as pretensões individuais dos diversos reinos. Os laços familiares entre as diversas famílias reais europeias eram o corpo comum às várias cabeças coroadas, uma Hidra portanto.
Os Godos serviram a ilusão de vários poderes, mas mantinham o mesmo centro... o poder reconhecido era o outorgado pelo Papa, em Roma.
Nessa transição cumpriu-se ainda uma pretensão cristã, há muito adiada... o fim da escravatura! Para além disso, a liberdade do escravo, agora servo, acabava por ser mais "barata" já que o seu senhorio não estava "obrigado a alimentá-lo".

Só que o fim da escravatura teve alguns preços... Primeiro, para os próprios escravos, que não tinham terras outorgadas, e assim ficavam completamente dependentes do trabalho em terra alheia.
Da condição de escravos, remetiam-se à condição de servos, para subsistência própria. Essa dependência, essencialmente alimentar, tornava-os na prática em novos escravos.
O sistema requeria ainda uma efectiva regressão civilizacional, por forma a não permitir grandes progressos tecnológicos, mantendo uma constante necessidade de trabalho. Os impostos seriam uma desculpa, mas o que se procurava efectivamente seria manter as cabeças dos servos concentradas na produção. Houve revoltas, mas os grupos que se revoltam seriam sempre frágeis pela falta de organização, pelas rivalidades e invejas internas... e pior, desconheciam o efectivo poder da força que enfrentavam. Em caso de necessidade, o conhecimento guardado, herdado dos Romanos (e de muitos outros antes) revelaria armas completamente desconhecidas ao uso comum do povo.
O sistema foi aparentemente eficaz durante um milénio... e não caiu, mudou de novo a sua face.

O problema principal foi a pimenta... ao fim um milénio, era necessário apimentar o sistema!
Um sistema destes vive da ocultação, de regressão, de proibição de viagens... não só de barcos, mas até de carroças (excepto para transportar alimentos). Aguenta, mas novamente não é produtivo!

A sua extensão e concertação ultrapassou a Europa, esteve presente de igual forma no mundo islâmico, e também nas sociedades asiáticas. Essa espantosa harmonia de desenvolvimento seguido de não-desenvolvimento revela uma extensão global.
No meio, entre a Europa e a Ásia, estavam os Tártaros... que de Genghis Khan a Tamerlão constituíram vastos impérios, denominados Mongóis, ou Mogol.
O Tártaro era afinal o Inferno grego... nos terrenos de Gog e Mogog
Muralha de Ferro construída pelos persas (com ajuda dos 
"sobrenaturais" Jinn) para conter a invasão dos bárbaros Gog e Magog

"In verno"... (entre escravos) o inferno da elite seria de facto uma desprotecção, no meio do povo. Por isso, a primeira evolução medieval começa com o aparecimento de literatura vernacular, na linguagem popular, fora do latim, como é o caso da Divina Comédia, de Dante.
Tal como antes o Tártaro dos Hunos ameaçara e fracturara o Império Romano, também o Tártaro de Tamerlão ou Khan parece ameaçar de novo a estabilidade euroasiática... Marco Polo atesta-o, aparecem depois os Otomanos como novo foco de preocupação, e a Velha Europa é forçada a abrir o véu a novas fronteiras. Os Tártaros desaparecerão depois com a expansão russa de Pedro e Catarina, e da memória dessa civilização ficou muito pouco, se atendermos ao esplendor relatado de Samarcanda e outras cidades.

3) Terceira etapa, o trabalhador e "cidadão", que irá definir a Hera Moderna e Contemporânea.
A solução para evolução medieval começara já a ganhar corpo com os Templários. No início, o argumento principal seria uma extensão da influência da fé, mantendo o mesmo corpo de união na expansão e consolidação ultramarina. Porém, a ideia, que beberá de influência judaica, do Templo de Salomão, e da maçonaria, será uma estrutura de base económica.
Ao beber nos clássicos, recolocar-se-ia a ilusão como base de sustentação.

De início a expansão pelos "descobrimentos" era tímida e muito controlada. Começava a surgir a pimenta que iria apimentar a sociedade europeia, mas necessitava de uma Inquisição activa, que controlava a publicação de material subversivo. Ao mesmo tempo, estas explorações iniciais eram paralelamente conquistas e destruição de civilizações e vestígios anteriores. Caíram Aztecas, Maias, Incas, mas também outras culturas, cujo nome nem sobreviveu.
Um problema efectivo seria evitar uma migração descontrolada da população para outras paragens, e por isso a ideia de colonização acabará apenas por ocorrer já no fim da Idade Moderna, Séc. XVII. 
Se por um lado os servos se tornavam mais livres, e migravam para outras paragens, aparecia uma nova servidão, novamente sob a forma de escravatura, que libertava parcialmente os trabalhadores europeus. Agora os servos podiam ter escravos, e criava-se um novo degrau, que mantinha a estrutura.

O apimentar da sociedade medieval fez o Renascimento, e o conhecimento perdido foi rapidamente recuperado. Apareceu uma nova classe média, burguesa, que aceitava as regras sob condição do seu enriquecimento. O dinheiro, antes escasso, demasiado preso ao valor do metal, passou a circular abundantemente, pelos suplementos de ouro, gerando um circuito de confiança mercantil.
A produtividade conseguia-se com esse estímulo mercantil, e os produtos deixaram de ser fabricados apenas para consumo local, iniciou-se um efectivo comércio de grande troca de bens.

Podemos distinguir duas fases. No início o comércio foi principalmente desenvolvido pelo circuito de navegação com o Oriente. No Ocidente, no continente americano, houve "conquistadores", e as colónias demoraram a desenvolver-se, pelo que não havia propriamente necessidade de trocas, havia um envio de mercadorias para Espanha. Na parte Oriental foi diferente, não houve conquista portuguesa, e foi por esse lado que se consolidou a importância comercial, depois através das diversas Companhias das Índias Orientais.
O principal foco de comércio seria interno à Europa, e não teve o mesmo impacto de desenvolvimento pelo lado da Índia ou da China. Foi dentro da Europa que se desenvolveram as estruturas de comércio, centradas nas Companhias das Índias. Com Henrique VIII em Inglaterra, e com o favorecimento à Reforma de Lutero, noutros reinos, o centralismo do poder papal em Roma foi perdendo a sua importância, e mesmo a Contra-Reforma não alterou isso.

Com a Guerra dos Trinta Anos, a decisão passou por uma independência das nações face ao poder centralizado em Roma, mas principalmente permitiu ainda uma autonomia dessas Companhias das Índias Orientais, que iriam consolidar o comércio. Gerou-se um poder comercial independente do poder real, e a estrutura de poder das nações complexificou-se. O governo deixou de estar centrado na aristocracia, já que passava a depender fortemente do comércio dominado pela burguesia.
Por um lado, há experiências no sentido de libertação total da aristocracia, que começam com a Guerra Civil Inglesa, e em que Cromwell será o primeiro regente de ascendência não real na Europa, desde o Império Romano. Por outro lado, há tentativas de libertação do poder comercial das Companhias das Indias, que no caso francês pela bancarrota levaram à Revolução Francesa.
A burguesia tenta reinstalar a ideia de República, mas a sua fragilidade, e a facilidade de manipulação do ímpeto popular, caem nas armadilhas cortesãs, na falta de referencial unificador (o rei), e acabam por adiar o projecto. As primeiras grandes repúblicas só vão aparecer na transição do Séc. XIX para o XX, se excluirmos os exemplos americanos, onde não havia cortes instaladas, ou ainda "pequenas" repúblicas, como a Holanda (que regressará a monarquia) ou Veneza.

O atraso na descoberta e colonização de novos territórios teve inicialmente a responsabilidade no centralismo de Roma, mas prosseguirá com as várias Companhias das Índias. Uma razão, entre outras, terá sido a necessidade de consolidar e fortalecer o poder comercial. As colonizações sob controlo das regências europeias funcionariam no sentido de exploração dos territórios, e não propriamente no sentido do desenvolvimento comercial.
O grande projecto será a criação de raiz um Estado de modelo comercial, que serão os Estados Unidos. Uma burguesia, unida de forma trans-nacional através da maçonaria, aparece assim apostada num modelo de um "mundo novo", liberto da influência aristocrática.

O problema da real escravatura, que ocorre em simultâneo, aparece como algo relegado para segundo plano, na consolidação da estrutura americana. O modelo de libertação dos servos, deixara esquecida a escravatura, na lógica economicista. Os próprios trabalhadores acabam por ficar desprotegidos no pragmatismo do livre capital. De escravos a servos, e depois a cidadãos trabalhadores, os sistemas acabam por não conseguir impedir o estabelecimento de uma nova aristocracia que exige servos.
É nesta lógica de problema trans-nacional que surgem as ideias marxistas, e o palco escolhido será uma Rússia sob a forma de União Soviética. Esta lógica trans-nacional acaba por abafar as nacionalidades, reduzindo-lhes a História e a margem de manobra.

As experiências republicanas europeias (Itália, Portugal, Espanha, Alemanha) acabam por reeditar esse espírito nacionalista, entretanto submerso ou humilhado, sob a forma de regimes ditatoriais. As monarquias liberais, menos susceptíveis a tomadas súbitas de poder, e ligadas entre si, reagem.
A essa aliança trans-nacional, juntar-se-ão EUA e URSS, regimes aparentemente antagónicos, mas com génese idêntica, que derrotarão a visão nacionalista na 2ª Guerra Mundial.
Qualquer visão nacionalista é reprimida, pois não resolveria o problema global, e a médio prazo retomaríamos as guerras habituais entre nações, mas numa escala bem maior. Quanto à URSS, o sistema de controlo centralizado acabou por criar vícios de poder semelhantes aos da aristocracia, acabando por sucumbir à própria experiência.

Com tanto para esconder, tudo se vai mantendo escondido... mas raramente esquecido!
Por isso, os problemas nacionalistas, que resultam da falta de verdade histórica, acabam por ser o maior problema para ordem trans-nacional, firmemente alicerçada no comércio, e o seu controlo é habitualmente associado à maçonaria e ligação judaica, enquanto poder trans-nacional.
A exposição da verdade histórica é reprimida, pelo exemplo traumático da Revolução Francesa, e pela constatação de que a verdade social, a crença, consegue ser facilmente manipulada e sobrepor-se a qualquer racionalidade... especialmente se essa racionalidade tiver atingido limites não racionais!

Ao mesmo tempo acaba por se sobrepor uma visão relativa, ou relativista... da verdade e da felicidade.
Cada indivíduo cresce e forma as suas expectativas de acordo com a sua educação e do que conhece, por isso a felicidade, ou a verdade, acabam por estar condicionadas pela orientação dessa informação. Crê-se assim ser perfeitamente possível oferecer uma ilusão de vida com expectativas de felicidade, onde alguns acidentes podem ser nefastos ou agradáveis, não precisando de justificação.
Os mais ambiciosos, ao subirem demasiado alto, levados na tentação de um Fausto de Goethe, podem confrontar-se com uma realidade completamente diferente... e exprimem esses sentimentos de censura e frustração sob forma artística ocasionalmente apreciada e recompensada, mas também facilmente esquecida.

Na base da pirâmide pode criar-se a ilusão de felicidade e de verdade, mas as falhas são notórias quando se começa a subir, e o risco de boicote começa com quem se apercebe da prisão em que está encerrado, comprometendo toda a estabilidade do sistema ilusório... e que, apesar de tudo, de poder ser visto apenas como uma forma de aumentar a produtividade do trabalho, trouxe um grau de liberdade sem precedentes, quando olhado o início desta história.


In the Kingdom of the Blind the One-Eyed Are Kings

If it were within, within our power
Beyond the reach of slavish pride
To no longer harbour grievances
Behind the mask's opportunist's facade
We could welcome the responsibility
Like a long lost friend
And re-establish the laughter
In the dolls house once again
For time has imprisoned us in the order of our years
In the discipline of our ways
And in the passing of momentary stillness
We can see our chaos in motion, our chaos in motion
We can see our chaos in motion
View our chaos in motion


(1 e 2 de Maio de 2012)

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publicado às 06:46

Mayday

02.05.12
Mayday... é um sinal de socorro.
Mayday... é o primeiro de Maio. 
Um dia da Maia, deusa-da-Terra, comemorado por trabalhadores/servos/escravos no mês de Maio.

O sinal de socorro pode ser entendido de muitas maneiras. Eu entendo-o como um pedido de ajuda de decisores para controlarem o Demo nas suas Demonstrações (Demonstrations=Manifestações).
Quem é o Demo?
Não precisamos falar das Terras do Demo... o Demo vê-se no grego e significa Povo.
O Demo foi e sempre será o "povo", a multidão que vive na escuridão, controlada por alguns iluminados.
Por isso, quando S. Jerónimo introduz a designação "Lucifer", transforma a expressão "portador da luz", que antes se aplicara a Cristo, no pior inimigo dos homens e de uma concepção de Deus.
O povo irá aprender a temer o "Demo", que é afinal o próprio povo, e ainda "Lucifer" que era designação de Cristo - ou seja iria ter como principal inimigo aquele que traria a luz, que libertaria o povo das trevas.
Do ponto de vista da lógica de manutenção do poder, é algo tenebrosamente bem pensado.

Na lógica do poder, podemos ter um sistema de classes, que estabelece uma hierarquia bem definida, mas que arrisca a ser pouco eficaz.

1) A primeira etapa, a escravatura, que remonta à Hera do Cobre.
Escrevo propositadamente Hera e não Era.
Os que descansam nas informações exclusivas dos livros do passado, dos testamentos dos Velhos, conhecem, desconhecendo, um detalhe importante sobre a História que virou Estória... e não se trata apenas desta História poder ficar ocultada numa nova Estória. Sobre a mentira não se erguem vencedores que reescrevem a História, erguem-se ilusões.

O sujeito que nascia na condição de escravo não era obviamente um trabalhador motivado.
A sua produção era claramente destinada a incrementar o poder de quem oprimia a sua família, a sua tribo, o seu povo. Pior que isso, os escravos reconheciam facilmente os opressores e estes podiam ser alvo de uma revolta. O exemplo que marcou esta ira foi a revolta de Spartacus, e o erro crasso, de Crasso, em reprimi-la de forma exemplar com 6000 crucificações na Via Ápia... a Cruz tornou-se definitivamente num símbolo do sofrimento dos escravos, algo continuado com o cristianismo.

2) A segunda etapa, o servilismo, que irá fundar a Hera Média, ou Idade Média.
O cristianismo teve a virtude de incutir nos escravos uma religião de aceitação do sacrifício, uma recompensa numa vida posterior, e a ideia de um juízo final. Talvez não fosse ainda motivante como factor produtivo, mas apaziguava o espírito de revolta.
A progressiva integração do cristianismo no Império Romano levou mesmo a uma substituição funcional do poder na Idade Média. Roma não caiu, apenas deixou de ser o centro de decisão política e passou a centro de decisão religiosa... No entanto, este centro religioso era afinal um centro de consenso político, que harmonizava as pretensões individuais dos diversos reinos. Os laços familiares entre as diversas famílias reais europeias eram o corpo comum às várias cabeças coroadas, uma Hidra portanto.
Os Godos serviram a ilusão de vários poderes, mas mantinham o mesmo centro... o poder reconhecido era o outorgado pelo Papa, em Roma.
Nessa transição cumpriu-se ainda uma pretensão cristã, há muito adiada... o fim da escravatura! Para além disso, a liberdade do escravo, agora servo, acabava por ser mais "barata" já que o seu senhorio não estava "obrigado a alimentá-lo".

Só que o fim da escravatura teve alguns preços... Primeiro, para os próprios escravos, que não tinham terras outorgadas, e assim ficavam completamente dependentes do trabalho em terra alheia.
Da condição de escravos, remetiam-se à condição de servos, para subsistência própria. Essa dependência, essencialmente alimentar, tornava-os na prática em novos escravos.
O sistema requeria ainda uma efectiva regressão civilizacional, por forma a não permitir grandes progressos tecnológicos, mantendo uma constante necessidade de trabalho. Os impostos seriam uma desculpa, mas o que se procurava efectivamente seria manter as cabeças dos servos concentradas na produção. Houve revoltas, mas os grupos que se revoltam seriam sempre frágeis pela falta de organização, pelas rivalidades e invejas internas... e pior, desconheciam o efectivo poder da força que enfrentavam. Em caso de necessidade, o conhecimento guardado, herdado dos Romanos (e de muitos outros antes) revelaria armas completamente desconhecidas ao uso comum do povo.
O sistema foi aparentemente eficaz durante um milénio... e não caiu, mudou de novo a sua face.

O problema principal foi a pimenta... ao fim um milénio, era necessário apimentar o sistema!
Um sistema destes vive da ocultação, de regressão, de proibição de viagens... não só de barcos, mas até de carroças (excepto para transportar alimentos). Aguenta, mas novamente não é produtivo!

A sua extensão e concertação ultrapassou a Europa, esteve presente de igual forma no mundo islâmico, e também nas sociedades asiáticas. Essa espantosa harmonia de desenvolvimento seguido de não-desenvolvimento revela uma extensão global.
No meio, entre a Europa e a Ásia, estavam os Tártaros... que de Genghis Khan a Tamerlão constituíram vastos impérios, denominados Mongóis, ou Mogol.
O Tártaro era afinal o Inferno grego... nos terrenos de Gog e Mogog
Muralha de Ferro construída pelos persas (com ajuda dos 
"sobrenaturais" Jinn) para conter a invasão dos bárbaros Gog e Magog

"In verno"... (entre escravos) o inferno da elite seria de facto uma desprotecção, no meio do povo. Por isso, a primeira evolução medieval começa com o aparecimento de literatura vernacular, na linguagem popular, fora do latim, como é o caso da Divina Comédia, de Dante.
Tal como antes o Tártaro dos Hunos ameaçara e fracturara o Império Romano, também o Tártaro de Tamerlão ou Khan parece ameaçar de novo a estabilidade euroasiática... Marco Polo atesta-o, aparecem depois os Otomanos como novo foco de preocupação, e a Velha Europa é forçada a abrir o véu a novas fronteiras. Os Tártaros desaparecerão depois com a expansão russa de Pedro e Catarina, e da memória dessa civilização ficou muito pouco, se atendermos ao esplendor relatado de Samarcanda e outras cidades.

3) Terceira etapa, o trabalhador e "cidadão", que irá definir a Hera Moderna e Contemporânea.
A solução para evolução medieval começara já a ganhar corpo com os Templários. No início, o argumento principal seria uma extensão da influência da fé, mantendo o mesmo corpo de união na expansão e consolidação ultramarina. Porém, a ideia, que beberá de influência judaica, do Templo de Salomão, e da maçonaria, será uma estrutura de base económica.
Ao beber nos clássicos, recolocar-se-ia a ilusão como base de sustentação.

De início a expansão pelos "descobrimentos" era tímida e muito controlada. Começava a surgir a pimenta que iria apimentar a sociedade europeia, mas necessitava de uma Inquisição activa, que controlava a publicação de material subversivo. Ao mesmo tempo, estas explorações iniciais eram paralelamente conquistas e destruição de civilizações e vestígios anteriores. Caíram Aztecas, Maias, Incas, mas também outras culturas, cujo nome nem sobreviveu.
Um problema efectivo seria evitar uma migração descontrolada da população para outras paragens, e por isso a ideia de colonização acabará apenas por ocorrer já no fim da Idade Moderna, Séc. XVII. 
Se por um lado os servos se tornavam mais livres, e migravam para outras paragens, aparecia uma nova servidão, novamente sob a forma de escravatura, que libertava parcialmente os trabalhadores europeus. Agora os servos podiam ter escravos, e criava-se um novo degrau, que mantinha a estrutura.

O apimentar da sociedade medieval fez o Renascimento, e o conhecimento perdido foi rapidamente recuperado. Apareceu uma nova classe média, burguesa, que aceitava as regras sob condição do seu enriquecimento. O dinheiro, antes escasso, demasiado preso ao valor do metal, passou a circular abundantemente, pelos suplementos de ouro, gerando um circuito de confiança mercantil.
A produtividade conseguia-se com esse estímulo mercantil, e os produtos deixaram de ser fabricados apenas para consumo local, iniciou-se um efectivo comércio de grande troca de bens.

Podemos distinguir duas fases. No início o comércio foi principalmente desenvolvido pelo circuito de navegação com o Oriente. No Ocidente, no continente americano, houve "conquistadores", e as colónias demoraram a desenvolver-se, pelo que não havia propriamente necessidade de trocas, havia um envio de mercadorias para Espanha. Na parte Oriental foi diferente, não houve conquista portuguesa, e foi por esse lado que se consolidou a importância comercial, depois através das diversas Companhias das Índias Orientais.
O principal foco de comércio seria interno à Europa, e não teve o mesmo impacto de desenvolvimento pelo lado da Índia ou da China. Foi dentro da Europa que se desenvolveram as estruturas de comércio, centradas nas Companhias das Índias. Com Henrique VIII em Inglaterra, e com o favorecimento à Reforma de Lutero, noutros reinos, o centralismo do poder papal em Roma foi perdendo a sua importância, e mesmo a Contra-Reforma não alterou isso.

Com a Guerra dos Trinta Anos, a decisão passou por uma independência das nações face ao poder centralizado em Roma, mas principalmente permitiu ainda uma autonomia dessas Companhias das Índias Orientais, que iriam consolidar o comércio. Gerou-se um poder comercial independente do poder real, e a estrutura de poder das nações complexificou-se. O governo deixou de estar centrado na aristocracia, já que passava a depender fortemente do comércio dominado pela burguesia.
Por um lado, há experiências no sentido de libertação total da aristocracia, que começam com a Guerra Civil Inglesa, e em que Cromwell será o primeiro regente de ascendência não real na Europa, desde o Império Romano. Por outro lado, há tentativas de libertação do poder comercial das Companhias das Indias, que no caso francês pela bancarrota levaram à Revolução Francesa.
A burguesia tenta reinstalar a ideia de República, mas a sua fragilidade, e a facilidade de manipulação do ímpeto popular, caem nas armadilhas cortesãs, na falta de referencial unificador (o rei), e acabam por adiar o projecto. As primeiras grandes repúblicas só vão aparecer na transição do Séc. XIX para o XX, se excluirmos os exemplos americanos, onde não havia cortes instaladas, ou ainda "pequenas" repúblicas, como a Holanda (que regressará a monarquia) ou Veneza.

O atraso na descoberta e colonização de novos territórios teve inicialmente a responsabilidade no centralismo de Roma, mas prosseguirá com as várias Companhias das Índias. Uma razão, entre outras, terá sido a necessidade de consolidar e fortalecer o poder comercial. As colonizações sob controlo das regências europeias funcionariam no sentido de exploração dos territórios, e não propriamente no sentido do desenvolvimento comercial.
O grande projecto será a criação de raiz um Estado de modelo comercial, que serão os Estados Unidos. Uma burguesia, unida de forma trans-nacional através da maçonaria, aparece assim apostada num modelo de um "mundo novo", liberto da influência aristocrática.

O problema da real escravatura, que ocorre em simultâneo, aparece como algo relegado para segundo plano, na consolidação da estrutura americana. O modelo de libertação dos servos, deixara esquecida a escravatura, na lógica economicista. Os próprios trabalhadores acabam por ficar desprotegidos no pragmatismo do livre capital. De escravos a servos, e depois a cidadãos trabalhadores, os sistemas acabam por não conseguir impedir o estabelecimento de uma nova aristocracia que exige servos.
É nesta lógica de problema trans-nacional que surgem as ideias marxistas, e o palco escolhido será uma Rússia sob a forma de União Soviética. Esta lógica trans-nacional acaba por abafar as nacionalidades, reduzindo-lhes a História e a margem de manobra.

As experiências republicanas europeias (Itália, Portugal, Espanha, Alemanha) acabam por reeditar esse espírito nacionalista, entretanto submerso ou humilhado, sob a forma de regimes ditatoriais. As monarquias liberais, menos susceptíveis a tomadas súbitas de poder, e ligadas entre si, reagem.
A essa aliança trans-nacional, juntar-se-ão EUA e URSS, regimes aparentemente antagónicos, mas com génese idêntica, que derrotarão a visão nacionalista na 2ª Guerra Mundial.
Qualquer visão nacionalista é reprimida, pois não resolveria o problema global, e a médio prazo retomaríamos as guerras habituais entre nações, mas numa escala bem maior. Quanto à URSS, o sistema de controlo centralizado acabou por criar vícios de poder semelhantes aos da aristocracia, acabando por sucumbir à própria experiência.

Com tanto para esconder, tudo se vai mantendo escondido... mas raramente esquecido!
Por isso, os problemas nacionalistas, que resultam da falta de verdade histórica, acabam por ser o maior problema para ordem trans-nacional, firmemente alicerçada no comércio, e o seu controlo é habitualmente associado à maçonaria e ligação judaica, enquanto poder trans-nacional.
A exposição da verdade histórica é reprimida, pelo exemplo traumático da Revolução Francesa, e pela constatação de que a verdade social, a crença, consegue ser facilmente manipulada e sobrepor-se a qualquer racionalidade... especialmente se essa racionalidade tiver atingido limites não racionais!

Ao mesmo tempo acaba por se sobrepor uma visão relativa, ou relativista... da verdade e da felicidade.
Cada indivíduo cresce e forma as suas expectativas de acordo com a sua educação e do que conhece, por isso a felicidade, ou a verdade, acabam por estar condicionadas pela orientação dessa informação. Crê-se assim ser perfeitamente possível oferecer uma ilusão de vida com expectativas de felicidade, onde alguns acidentes podem ser nefastos ou agradáveis, não precisando de justificação.
Os mais ambiciosos, ao subirem demasiado alto, levados na tentação de um Fausto de Goethe, podem confrontar-se com uma realidade completamente diferente... e exprimem esses sentimentos de censura e frustração sob forma artística ocasionalmente apreciada e recompensada, mas também facilmente esquecida.

Na base da pirâmide pode criar-se a ilusão de felicidade e de verdade, mas as falhas são notórias quando se começa a subir, e o risco de boicote começa com quem se apercebe da prisão em que está encerrado, comprometendo toda a estabilidade do sistema ilusório... e que, apesar de tudo, de poder ser visto apenas como uma forma de aumentar a produtividade do trabalho, trouxe um grau de liberdade sem precedentes, quando olhado o início desta história.


In the Kingdom of the Blind the One-Eyed Are Kings

If it were within, within our power
Beyond the reach of slavish pride
To no longer harbour grievances
Behind the mask's opportunist's facade
We could welcome the responsibility
Like a long lost friend
And re-establish the laughter
In the dolls house once again
For time has imprisoned us in the order of our years
In the discipline of our ways
And in the passing of momentary stillness
We can see our chaos in motion, our chaos in motion
We can see our chaos in motion
View our chaos in motion


(1 e 2 de Maio de 2012)

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publicado às 06:46

Mayday

01.05.12
Mayday... é um sinal de socorro.
Mayday... é o primeiro de Maio. 
Um dia da Maia, deusa-da-Terra, comemorado por trabalhadores/servos/escravos no mês de Maio.

O sinal de socorro pode ser entendido de muitas maneiras. Eu entendo-o como um pedido de ajuda de decisores para controlarem o Demo nas suas Demonstrações (Demonstrations=Manifestações).
Quem é o Demo?
Não precisamos falar das Terras do Demo... o Demo vê-se no grego e significa Povo.
O Demo foi e sempre será o "povo", a multidão que vive na escuridão, controlada por alguns iluminados.
Por isso, quando S. Jerónimo introduz a designação "Lucifer", transforma a expressão "portador da luz", que antes se aplicara a Cristo, no pior inimigo dos homens e de uma concepção de Deus.
O povo irá aprender a temer o "Demo", que é afinal o próprio povo, e ainda "Lucifer" que era designação de Cristo - ou seja iria ter como principal inimigo aquele que traria a luz, que libertaria o povo das trevas.
Do ponto de vista da lógica de manutenção do poder, é algo tenebrosamente bem pensado.

Na lógica do poder, podemos ter um sistema de classes, que estabelece uma hierarquia bem definida, mas que arrisca a ser pouco eficaz.

1) A primeira etapa, a escravatura, que remonta à Hera do Cobre.
Escrevo propositadamente Hera e não Era.
Os que descansam nas informações exclusivas dos livros do passado, dos testamentos dos Velhos, conhecem, desconhecendo, um detalhe importante sobre a História que virou Estória... e não se trata apenas desta História poder ficar ocultada numa nova Estória. Sobre a mentira não se erguem vencedores que reescrevem a História, erguem-se ilusões.

O sujeito que nascia na condição de escravo não era obviamente um trabalhador motivado.
A sua produção era claramente destinada a incrementar o poder de quem oprimia a sua família, a sua tribo, o seu povo. Pior que isso, os escravos reconheciam facilmente os opressores e estes podiam ser alvo de uma revolta. O exemplo que marcou esta ira foi a revolta de Spartacus, e o erro crasso, de Crasso, em reprimi-la de forma exemplar com 6000 crucificações na Via Ápia... a Cruz tornou-se definitivamente num símbolo do sofrimento dos escravos, algo continuado com o cristianismo.

2) A segunda etapa, o servilismo, que irá fundar a Hera Média, ou Idade Média.
O cristianismo teve a virtude de incutir nos escravos uma religião de aceitação do sacrifício, uma recompensa numa vida posterior, e a ideia de um juízo final. Talvez não fosse ainda motivante como factor produtivo, mas apaziguava o espírito de revolta.
A progressiva integração do cristianismo no Império Romano levou mesmo a uma substituição funcional do poder na Idade Média. Roma não caiu, apenas deixou de ser o centro de decisão política e passou a centro de decisão religiosa... No entanto, este centro religioso era afinal um centro de consenso político, que harmonizava as pretensões individuais dos diversos reinos. Os laços familiares entre as diversas famílias reais europeias eram o corpo comum às várias cabeças coroadas, uma Hidra portanto.
Os Godos serviram a ilusão de vários poderes, mas mantinham o mesmo centro... o poder reconhecido era o outorgado pelo Papa, em Roma.
Nessa transição cumpriu-se ainda uma pretensão cristã, há muito adiada... o fim da escravatura! Para além disso, a liberdade do escravo, agora servo, acabava por ser mais "barata" já que o seu senhorio não estava "obrigado a alimentá-lo".

Só que o fim da escravatura teve alguns preços... Primeiro, para os próprios escravos, que não tinham terras outorgadas, e assim ficavam completamente dependentes do trabalho em terra alheia.
Da condição de escravos, remetiam-se à condição de servos, para subsistência própria. Essa dependência, essencialmente alimentar, tornava-os na prática em novos escravos.
O sistema requeria ainda uma efectiva regressão civilizacional, por forma a não permitir grandes progressos tecnológicos, mantendo uma constante necessidade de trabalho. Os impostos seriam uma desculpa, mas o que se procurava efectivamente seria manter as cabeças dos servos concentradas na produção. Houve revoltas, mas os grupos que se revoltam seriam sempre frágeis pela falta de organização, pelas rivalidades e invejas internas... e pior, desconheciam o efectivo poder da força que enfrentavam. Em caso de necessidade, o conhecimento guardado, herdado dos Romanos (e de muitos outros antes) revelaria armas completamente desconhecidas ao uso comum do povo.
O sistema foi aparentemente eficaz durante um milénio... e não caiu, mudou de novo a sua face.

O problema principal foi a pimenta... ao fim um milénio, era necessário apimentar o sistema!
Um sistema destes vive da ocultação, de regressão, de proibição de viagens... não só de barcos, mas até de carroças (excepto para transportar alimentos). Aguenta, mas novamente não é produtivo!

A sua extensão e concertação ultrapassou a Europa, esteve presente de igual forma no mundo islâmico, e também nas sociedades asiáticas. Essa espantosa harmonia de desenvolvimento seguido de não-desenvolvimento revela uma extensão global.
No meio, entre a Europa e a Ásia, estavam os Tártaros... que de Genghis Khan a Tamerlão constituíram vastos impérios, denominados Mongóis, ou Mogol.
O Tártaro era afinal o Inferno grego... nos terrenos de Gog e Mogog
Muralha de Ferro construída pelos persas (com ajuda dos 
"sobrenaturais" Jinn) para conter a invasão dos bárbaros Gog e Magog

"In verno"... (entre escravos) o inferno da elite seria de facto uma desprotecção, no meio do povo. Por isso, a primeira evolução medieval começa com o aparecimento de literatura vernacular, na linguagem popular, fora do latim, como é o caso da Divina Comédia, de Dante.
Tal como antes o Tártaro dos Hunos ameaçara e fracturara o Império Romano, também o Tártaro de Tamerlão ou Khan parece ameaçar de novo a estabilidade euroasiática... Marco Polo atesta-o, aparecem depois os Otomanos como novo foco de preocupação, e a Velha Europa é forçada a abrir o véu a novas fronteiras. Os Tártaros desaparecerão depois com a expansão russa de Pedro e Catarina, e da memória dessa civilização ficou muito pouco, se atendermos ao esplendor relatado de Samarcanda e outras cidades.

3) Terceira etapa, o trabalhador e "cidadão", que irá definir a Hera Moderna e Contemporânea.
A solução para evolução medieval começara já a ganhar corpo com os Templários. No início, o argumento principal seria uma extensão da influência da fé, mantendo o mesmo corpo de união na expansão e consolidação ultramarina. Porém, a ideia, que beberá de influência judaica, do Templo de Salomão, e da maçonaria, será uma estrutura de base económica.
Ao beber nos clássicos, recolocar-se-ia a ilusão como base de sustentação.

De início a expansão pelos "descobrimentos" era tímida e muito controlada. Começava a surgir a pimenta que iria apimentar a sociedade europeia, mas necessitava de uma Inquisição activa, que controlava a publicação de material subversivo. Ao mesmo tempo, estas explorações iniciais eram paralelamente conquistas e destruição de civilizações e vestígios anteriores. Caíram Aztecas, Maias, Incas, mas também outras culturas, cujo nome nem sobreviveu.
Um problema efectivo seria evitar uma migração descontrolada da população para outras paragens, e por isso a ideia de colonização acabará apenas por ocorrer já no fim da Idade Moderna, Séc. XVII. 
Se por um lado os servos se tornavam mais livres, e migravam para outras paragens, aparecia uma nova servidão, novamente sob a forma de escravatura, que libertava parcialmente os trabalhadores europeus. Agora os servos podiam ter escravos, e criava-se um novo degrau, que mantinha a estrutura.

O apimentar da sociedade medieval fez o Renascimento, e o conhecimento perdido foi rapidamente recuperado. Apareceu uma nova classe média, burguesa, que aceitava as regras sob condição do seu enriquecimento. O dinheiro, antes escasso, demasiado preso ao valor do metal, passou a circular abundantemente, pelos suplementos de ouro, gerando um circuito de confiança mercantil.
A produtividade conseguia-se com esse estímulo mercantil, e os produtos deixaram de ser fabricados apenas para consumo local, iniciou-se um efectivo comércio de grande troca de bens.

Podemos distinguir duas fases. No início o comércio foi principalmente desenvolvido pelo circuito de navegação com o Oriente. No Ocidente, no continente americano, houve "conquistadores", e as colónias demoraram a desenvolver-se, pelo que não havia propriamente necessidade de trocas, havia um envio de mercadorias para Espanha. Na parte Oriental foi diferente, não houve conquista portuguesa, e foi por esse lado que se consolidou a importância comercial, depois através das diversas Companhias das Índias Orientais.
O principal foco de comércio seria interno à Europa, e não teve o mesmo impacto de desenvolvimento pelo lado da Índia ou da China. Foi dentro da Europa que se desenvolveram as estruturas de comércio, centradas nas Companhias das Índias. Com Henrique VIII em Inglaterra, e com o favorecimento à Reforma de Lutero, noutros reinos, o centralismo do poder papal em Roma foi perdendo a sua importância, e mesmo a Contra-Reforma não alterou isso.

Com a Guerra dos Trinta Anos, a decisão passou por uma independência das nações face ao poder centralizado em Roma, mas principalmente permitiu ainda uma autonomia dessas Companhias das Índias Orientais, que iriam consolidar o comércio. Gerou-se um poder comercial independente do poder real, e a estrutura de poder das nações complexificou-se. O governo deixou de estar centrado na aristocracia, já que passava a depender fortemente do comércio dominado pela burguesia.
Por um lado, há experiências no sentido de libertação total da aristocracia, que começam com a Guerra Civil Inglesa, e em que Cromwell será o primeiro regente de ascendência não real na Europa, desde o Império Romano. Por outro lado, há tentativas de libertação do poder comercial das Companhias das Indias, que no caso francês pela bancarrota levaram à Revolução Francesa.
A burguesia tenta reinstalar a ideia de República, mas a sua fragilidade, e a facilidade de manipulação do ímpeto popular, caem nas armadilhas cortesãs, na falta de referencial unificador (o rei), e acabam por adiar o projecto. As primeiras grandes repúblicas só vão aparecer na transição do Séc. XIX para o XX, se excluirmos os exemplos americanos, onde não havia cortes instaladas, ou ainda "pequenas" repúblicas, como a Holanda (que regressará a monarquia) ou Veneza.

O atraso na descoberta e colonização de novos territórios teve inicialmente a responsabilidade no centralismo de Roma, mas prosseguirá com as várias Companhias das Índias. Uma razão, entre outras, terá sido a necessidade de consolidar e fortalecer o poder comercial. As colonizações sob controlo das regências europeias funcionariam no sentido de exploração dos territórios, e não propriamente no sentido do desenvolvimento comercial.
O grande projecto será a criação de raiz um Estado de modelo comercial, que serão os Estados Unidos. Uma burguesia, unida de forma trans-nacional através da maçonaria, aparece assim apostada num modelo de um "mundo novo", liberto da influência aristocrática.

O problema da real escravatura, que ocorre em simultâneo, aparece como algo relegado para segundo plano, na consolidação da estrutura americana. O modelo de libertação dos servos, deixara esquecida a escravatura, na lógica economicista. Os próprios trabalhadores acabam por ficar desprotegidos no pragmatismo do livre capital. De escravos a servos, e depois a cidadãos trabalhadores, os sistemas acabam por não conseguir impedir o estabelecimento de uma nova aristocracia que exige servos.
É nesta lógica de problema trans-nacional que surgem as ideias marxistas, e o palco escolhido será uma Rússia sob a forma de União Soviética. Esta lógica trans-nacional acaba por abafar as nacionalidades, reduzindo-lhes a História e a margem de manobra.

As experiências republicanas europeias (Itália, Portugal, Espanha, Alemanha) acabam por reeditar esse espírito nacionalista, entretanto submerso ou humilhado, sob a forma de regimes ditatoriais. As monarquias liberais, menos susceptíveis a tomadas súbitas de poder, e ligadas entre si, reagem.
A essa aliança trans-nacional, juntar-se-ão EUA e URSS, regimes aparentemente antagónicos, mas com génese idêntica, que derrotarão a visão nacionalista na 2ª Guerra Mundial.
Qualquer visão nacionalista é reprimida, pois não resolveria o problema global, e a médio prazo retomaríamos as guerras habituais entre nações, mas numa escala bem maior. Quanto à URSS, o sistema de controlo centralizado acabou por criar vícios de poder semelhantes aos da aristocracia, acabando por sucumbir à própria experiência.

Com tanto para esconder, tudo se vai mantendo escondido... mas raramente esquecido!
Por isso, os problemas nacionalistas, que resultam da falta de verdade histórica, acabam por ser o maior problema para ordem trans-nacional, firmemente alicerçada no comércio, e o seu controlo é habitualmente associado à maçonaria e ligação judaica, enquanto poder trans-nacional.
A exposição da verdade histórica é reprimida, pelo exemplo traumático da Revolução Francesa, e pela constatação de que a verdade social, a crença, consegue ser facilmente manipulada e sobrepor-se a qualquer racionalidade... especialmente se essa racionalidade tiver atingido limites não racionais!

Ao mesmo tempo acaba por se sobrepor uma visão relativa, ou relativista... da verdade e da felicidade.
Cada indivíduo cresce e forma as suas expectativas de acordo com a sua educação e do que conhece, por isso a felicidade, ou a verdade, acabam por estar condicionadas pela orientação dessa informação. Crê-se assim ser perfeitamente possível oferecer uma ilusão de vida com expectativas de felicidade, onde alguns acidentes podem ser nefastos ou agradáveis, não precisando de justificação.
Os mais ambiciosos, ao subirem demasiado alto, levados na tentação de um Fausto de Goethe, podem confrontar-se com uma realidade completamente diferente... e exprimem esses sentimentos de censura e frustração sob forma artística ocasionalmente apreciada e recompensada, mas também facilmente esquecida.

Na base da pirâmide pode criar-se a ilusão de felicidade e de verdade, mas as falhas são notórias quando se começa a subir, e o risco de boicote começa com quem se apercebe da prisão em que está encerrado, comprometendo toda a estabilidade do sistema ilusório... e que, apesar de tudo, de poder ser visto apenas como uma forma de aumentar a produtividade do trabalho, trouxe um grau de liberdade sem precedentes, quando olhado o início desta história.



In the Kingdom of the Blind the One-Eyed Are Kings

If it were within, within our power
Beyond the reach of slavish pride
To no longer harbour grievances
Behind the mask's opportunist's facade
We could welcome the responsibility
Like a long lost friend
And re-establish the laughter
In the dolls house once again
For time has imprisoned us in the order of our years
In the discipline of our ways
And in the passing of momentary stillness
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(1 e 2 de Maio de 2012)

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publicado às 22:46

Puto de Vénus

20.08.11
Um famoso quadro de Botticeli, "Nascimento de Vénus" ilustra o nascimento de Afrodite/Vénus, das ondas do mar (Ponto), resultado do corte adamantino de Cronos a Urano:
(é dito que Botticeli teria seguido uma descrição de Angelo Poliziano)

A modelo usada para o quadro foi Vespucci, Simonetta Vespucci, que casou em Florença com Marco, um primo de Alberico, depois dito Américo, Vespucci.

Convém notar que há uma confusão de Afrodites... uma original, que é a que sempre referimos - a Afrodite Uraniana, ligada a Dione, e a sua filha com Zeus, designada Afrodite Pandemos, ligada ao amor físico.
Parténon: Vesta, Dione e Afrodite (Pandemos).

Se começámos a "Questão Gaia" com uma ousada ligação de Gaia pela substituição de I por J, o que daria Gaja, e falámos ainda dos gaiatos, vamos terminar o tópico com os "Putos".

Putti
Os Putos são pequenas crianças, representados na Arte Renascentista e Barroca, e que não são exactamente os habituais anjos (Querubins e Serafins) - têm "estatuto inferior" por serem associados a entidades pagãs - ou seja, Cupido/Eros:


A associação de Vénus a Cupido é bem conhecida e antiga. A entidade pagã, a pequena criança que dispara setas de amor, é o original Puto de Vénus. Há uma relação maternal que se estabeleceu entre estas duas divindades, caso raro em que são representadas quase sempre em conjunto:

Afrodite com Eros 
(terracota do Séc. IV a.C., Hermitage Museum)

Após o Renascimento, esta representação singular de associação divina, numa relação mãe-filho, será retomada em múltiplos quadros... e como é óbvio não estamos a referir-nos apenas à representação destas divindades pagãs. Esta relação nem será nenhuma novidade, pois há vários textos que sinalizam as semelhanças.

A relação divina entre mãe e filho passa claramente para o catolicismo, e será um dos focos de cisma entre protestantes e católicos. Numa primeira análise superficial esta associação seria desadequada para ser retomada pelo catolicismo... mas depende do nível a que a colocamos. Tal como existia uma Afrodite primordial, na Teogonia de Hesíodo também Eros é colocado a um nível ainda mais primevo, um amor surgindo como fonte de luz, e resultando do Caos, tal como Gaia e Tártaro (Eros, é assim mesmo anterior a Urano, filho de Gaia). Como Afrodite, também Eros tem uma segunda encarnação, mais conhecida, enquanto filho de Afrodite e Ares, e é aí representado como uma criança que surge da relação entre os deuses do amor e da guerra, que dispara flechas de paixão. (Este novo Eros será mesmo vítima da sua própria flecha, ficando apaixonado por Psique, numa história que terá inspirado o beijo da Bela Adormecida.)

A representação simultânea de Vénus e Cupido, está muitas vezes presente na pintura e escultura:

 
Venus e Cupido / Afrodite e Eros

Não colocamos aqui a imagem da mais famosa Vénus de Milo... mas, seguindo esta linha, talvez não faltassem apenas os braços, talvez faltasse ainda um Cupido ao colo (assim o sugere o olhar, a posição da perna avançada e do braço elevado). Uma representação assim poderia colidir de "forma grave" com as imagens clássicas, denominadas "Madonas"... isso justificaria a mutilação, uma polémica secreta e a consequente fama associada à estátua. Se Renoir a chamou "grande polícia" talvez não se referisse à falta de beleza, que claramente possui, mas sim ao que representaria a sua mutilação. 
Mais precisamente, aludimos a uma possível representação desta forma:

Há, é claro, uma versão alternativa, relacionada com a devolução da Vénus de Medici, que tem ambos os braços em baixo,  tal como a Afrodite de Cnido (onde Eros está ausente). Aliás a própria "Vénus de Medici" tem uma cópia com um Cupido maior:

"Venus de Medici" (de Praxiteles?) e "cópia romana" (imagens)


Vieira
Na representação de Botticeli temos essa Vénus primordial, que emerge adulta da espuma do mar primevo, como uma pérola de uma vieira (ou ostra). Isso já ocorre antes, conforme podemos ver num fresco de Pompeia:

Há assim, uma associação muito antiga, que liga o nascimento de Vénus, enquanto deusa primeva do amor, a uma vieira, e que foi recuperada no quadro de Botticeli.
Não podemos deixar de notar que essa vieira é ainda o símbolo de Santiago, e que os peregrinos seguiam esse caminho levando num cajado esse símbolo primevo do amor. A mensagem profunda da vieira de Santiago, é assim o reflexo em Cristo desse símbolo ancestral do amor espiritual, ligado ao nascimento da Afrodite Uraniana.
Isso terá tido uma grande influência na comunidade peninsular que já venerava Cupido (chamado Endovélico), conforme escreveu Carvalho da Costa. Venerar, de Venera (Vénus), é aqui mesmo a palavra correcta. A relação entre mãe e filho terá factores acrescidos de ligação, na propagação dessa mensagem de amor primeiro. O caso singular do cristianismo enquanto religião é a capacidade de colocar um Deus omnipotente em posição humana, com as fragilidades inerentes na situação de reflexão literal, recuperando uma noção primeva de amor, complemento ao equilíbrio dinâmico, possível com o corte temporal de Cronos.
A lâmina adamantina de Cronos cindiu um universo de todos os tempos, de Úrano, mostrando um tempo de cada vez, em contínuo. As ideias, os verbos, iriam ser definidos pela sua emergência dessa sequência imparável. O tempo surgia assim como uma ilusão de reprodução dinâmica do estado anterior, saindo de todo o caos possível uma aparente inteligibilidade. É assim que emerge a noção de amor, de partilha dinâmica do mesmo universo, pelos seres pensantes... e esse amor pode ser local, quando os seres reduzem o seu universo, a uma pessoa, ou a uma ocasião, ou pode ter contornos mais profundos, procurando uma harmonia global. Digamos que estão definidos todos os caminhos das Moiras, mas não o caminho que cada um decide seguir... é isso que o define enquanto ser emergente da estrutura estática, e que assim passa a "existir" na "ilusão" temporal.

Pombas e Peleiades
Se o Corvo está muitas vezes associado a Helios/Sol/Apolo, por outro lado, a pomba está associada a Afrodite e a Eros, havendo várias representações nesse sentido!

Será escusado dizer que também a pomba foi colocada no cristianismo como elemento revelador a Maria, para a concepção de Jesus, e ainda como um símbolo de paz e amor ligado à mensagem cristã.

Deus ao colocar-se numa posição humana através de Cristo, terá o seu complemento, o Espírito Santo, representado na pomba. Fica obviamente definida a trindade inevitável, pela abnegação do todo numa parte... teria que existir o seu complemento. 
Convirá referir que Zeus, escrito com um dzeta, se poderá ler Dzeus, da mesma forma que na componente romana, Júpiter tinha como nome alternativo Jove, que não difere muito de Jeova. Ou seja, os nomes não são assim tão diferentes quanto aparentam, à primeira vista... 

Peleiades significa em grego - pombas, e encontramos aqui ligação à designação das Pleiades, que enquanto agrupamento estelar representa as filhas de Atlas, um bando de pombas perseguidas pelo caçador Orion,. As referências às Pleiades são variadas, e estão inevitavelmente ligadas ao Ocidente, ao paraíso perdido, após o Atlas e Atlântico. 
Limite do Atlântico que será quebrado, após o Corvo (ilha), por um pombo que se chamará Colombo.
Colombo terá sido antes Colón, ou terá tido outro nome... mas seria afinal um pombo que se iria juntar às pombas passando o Atlântico, do pai Atlas que sustentava o mundo. A viagem de Colombo toma assim um aspecto simbólico de revelação, que ultrapassou o limite ocidental do Corvo, ave de Apolo.
[Peleiades era ainda o nome das sacerdotisas do templo de Dodona, ligado a Gaia, Reia e Dione (de alguma forma identificadas), sendo Dione a Afrodite Uraniana.]

Vénus ou Lucifer?
Uma das Pleiades é Maia, filha de Atlas e mãe de Hermes/Mercúrio. Tal como Gaia e Reia, também Maia acabou por ser uma divindade ligada à Terra, em diversas culturas. 
Se Vénus estava ligada a Mercúrio, e como ambos os planetas têm órbitas aparentes próximas um do outro, e próximas do Sol, não é de excluir que Mercúrio possa ter sido identificado ainda a Eros/Cupido. Há outros aspectos que concorrem nesse sentido, nomeadamente a célebre menção do Hermes Trimegisto e o hermético Hermetismo, onde a mensagem do caduceu se complementará com as ligações pelas setas de Cupido.

Um aspecto sinistro nestas ligações mitológicas, acabam por ser as contradições propositadas, criadas com objectivos obscuros... um dos mais evidentes é transformar Lucifer (em latim "o portador da luz"), a estrela da manhã, ou seja Vénus, a deusa do amor, numa personificação do mal. Como vimos, as contradições disto seriam totais, se Vénus não fosse também a estrela da tarde, e como tal Hesper... a esperança! 
É claro que, pretendendo-se manter a obscuridade, qualquer luz será encarada como um mal, que subverte a ordem instalada... nem que para isso se tenham que colocar educacionalmente reflexos condicionados. Pensar-se-à assim sobrepor uma "verdade social fabricada", mas até quando? Até que ponto será preciso ir, para que a verdade do passado deixe de pesar sobre o presente e ensombrar/assombrar o futuro?

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publicado às 07:56

Puto de Vénus

20.08.11
Um famoso quadro de Botticeli, "Nascimento de Vénus" ilustra o nascimento de Afrodite/Vénus, das ondas do mar (Ponto), resultado do corte adamantino de Cronos a Urano:
(é dito que Botticeli teria seguido uma descrição de Angelo Poliziano)

A modelo usada para o quadro foi Vespucci, Simonetta Vespucci, que casou em Florença com Marco, um primo de Alberico, depois dito Américo, Vespucci.

Convém notar que há uma confusão de Afrodites... uma original, que é a que sempre referimos - a Afrodite Uraniana, ligada a Dione, e a sua filha com Zeus, designada Afrodite Pandemos, ligada ao amor físico.
Parténon: Vesta, Dione e Afrodite (Pandemos).

Se começámos a "Questão Gaia" com uma ousada ligação de Gaia pela substituição de I por J, o que daria Gaja, e falámos ainda dos gaiatos, vamos terminar o tópico com os "Putos".

Putti
Os Putos são pequenas crianças, representados na Arte Renascentista e Barroca, e que não são exactamente os habituais anjos (Querubins e Serafins) - têm "estatuto inferior" por serem associados a entidades pagãs - ou seja, Cupido/Eros:


A associação de Vénus a Cupido é bem conhecida e antiga. A entidade pagã, a pequena criança que dispara setas de amor, é o original Puto de Vénus. Há uma relação maternal que se estabeleceu entre estas duas divindades, caso raro em que são representadas quase sempre em conjunto:
Afrodite com Eros 
(terracota do Séc. IV a.C., Hermitage Museum)

Após o Renascimento, esta representação singular de associação divina, numa relação mãe-filho, será retomada em múltiplos quadros... e como é óbvio não estamos a referir-nos apenas à representação destas divindades pagãs. Esta relação nem será nenhuma novidade, pois há vários textos que sinalizam as semelhanças.

A relação divina entre mãe e filho passa claramente para o catolicismo, e será um dos focos de cisma entre protestantes e católicos. Numa primeira análise superficial esta associação seria desadequada para ser retomada pelo catolicismo... mas depende do nível a que a colocamos. Tal como existia uma Afrodite primordial, na Teogonia de Hesíodo também Eros é colocado a um nível ainda mais primevo, um amor surgindo como fonte de luz, e resultando do Caos, tal como Gaia e Tártaro (Eros, é assim mesmo anterior a Urano, filho de Gaia). Como Afrodite, também Eros tem uma segunda encarnação, mais conhecida, enquanto filho de Afrodite e Ares, e é aí representado como uma criança que surge da relação entre os deuses do amor e da guerra, que dispara flechas de paixão. (Este novo Eros será mesmo vítima da sua própria flecha, ficando apaixonado por Psique, numa história que terá inspirado o beijo da Bela Adormecida.)

A representação simultânea de Vénus e Cupido, está muitas vezes presente na pintura e escultura:

 
Venus e Cupido / Afrodite e Eros

Não colocamos aqui a imagem da mais famosa Vénus de Milo... mas, seguindo esta linha, talvez não faltassem apenas os braços, talvez faltasse ainda um Cupido ao colo (assim o sugere o olhar, a posição da perna avançada e do braço elevado). Uma representação assim poderia colidir de "forma grave" com as imagens clássicas, denominadas "Madonas"... isso justificaria a mutilação, uma polémica secreta e a consequente fama associada à estátua. Se Renoir a chamou "grande polícia" talvez não se referisse à falta de beleza, que claramente possui, mas sim ao que representaria a sua mutilação. 
Mais precisamente, aludimos a uma possível representação desta forma:

Há, é claro, uma versão alternativa, relacionada com a devolução da Vénus de Medici, que tem ambos os braços em baixo,  tal como a Afrodite de Cnido (onde Eros está ausente). Aliás a própria "Vénus de Medici" tem uma cópia com um Cupido maior:
 
"Venus de Medici" (de Praxiteles?) e "cópia romana" (imagens)


Vieira
Na representação de Botticeli temos essa Vénus primordial, que emerge adulta da espuma do mar primevo, como uma pérola de uma vieira (ou ostra). Isso já ocorre antes, conforme podemos ver num fresco de Pompeia:
Há assim, uma associação muito antiga, que liga o nascimento de Vénus, enquanto deusa primeva do amor, a uma vieira, e que foi recuperada no quadro de Botticeli.
Não podemos deixar de notar que essa vieira é ainda o símbolo de Santiago, e que os peregrinos seguiam esse caminho levando num cajado esse símbolo primevo do amor. A mensagem profunda da vieira de Santiago, é assim o reflexo em Cristo desse símbolo ancestral do amor espiritual, ligado ao nascimento da Afrodite Uraniana.
Isso terá tido uma grande influência na comunidade peninsular que já venerava Cupido (chamado Endovélico), conforme escreveu Carvalho da Costa. Venerar, de Venera (Vénus), é aqui mesmo a palavra correcta. A relação entre mãe e filho terá factores acrescidos de ligação, na propagação dessa mensagem de amor primeiro. O caso singular do cristianismo enquanto religião é a capacidade de colocar um Deus omnipotente em posição humana, com as fragilidades inerentes na situação de reflexão literal, recuperando uma noção primeva de amor, complemento ao equilíbrio dinâmico, possível com o corte temporal de Cronos.
A lâmina adamantina de Cronos cindiu um universo de todos os tempos, de Úrano, mostrando um tempo de cada vez, em contínuo. As ideias, os verbos, iriam ser definidos pela sua emergência dessa sequência imparável. O tempo surgia assim como uma ilusão de reprodução dinâmica do estado anterior, saindo de todo o caos possível uma aparente inteligibilidade. É assim que emerge a noção de amor, de partilha dinâmica do mesmo universo, pelos seres pensantes... e esse amor pode ser local, quando os seres reduzem o seu universo, a uma pessoa, ou a uma ocasião, ou pode ter contornos mais profundos, procurando uma harmonia global. Digamos que estão definidos todos os caminhos das Moiras, mas não o caminho que cada um decide seguir... é isso que o define enquanto ser emergente da estrutura estática, e que assim passa a "existir" na "ilusão" temporal.

Pombas e Peleiades
Se o Corvo está muitas vezes associado a Helios/Sol/Apolo, por outro lado, a pomba está associada a Afrodite e a Eros, havendo várias representações nesse sentido!

Será escusado dizer que também a pomba foi colocada no cristianismo como elemento revelador a Maria, para a concepção de Jesus, e ainda como um símbolo de paz e amor ligado à mensagem cristã.
Deus ao colocar-se numa posição humana através de Cristo, terá o seu complemento, o Espírito Santo, representado na pomba. Fica obviamente definida a trindade inevitável, pela abnegação do todo numa parte... teria que existir o seu complemento. 
Convirá referir que Zeus, escrito com um dzeta, se poderá ler Dzeus, da mesma forma que na componente romana, Júpiter tinha como nome alternativo Jove, que não difere muito de Jeova. Ou seja, os nomes não são assim tão diferentes quanto aparentam, à primeira vista... 

Peleiades significa em grego - pombas, e encontramos aqui ligação à designação das Pleiades, que enquanto agrupamento estelar representa as filhas de Atlas, um bando de pombas perseguidas pelo caçador Orion,. As referências às Pleiades são variadas, e estão inevitavelmente ligadas ao Ocidente, ao paraíso perdido, após o Atlas e Atlântico. 
Limite do Atlântico que será quebrado, após o Corvo (ilha), por um pombo que se chamará Colombo.
Colombo terá sido antes Colón, ou terá tido outro nome... mas seria afinal um pombo que se iria juntar às pombas passando o Atlântico, do pai Atlas que sustentava o mundo. A viagem de Colombo toma assim um aspecto simbólico de revelação, que ultrapassou o limite ocidental do Corvo, ave de Apolo.
[Peleiades era ainda o nome das sacerdotisas do templo de Dodona, ligado a Gaia, Reia e Dione (de alguma forma identificadas), sendo Dione a Afrodite Uraniana.]

Vénus ou Lucifer?
Uma das Pleiades é Maia, filha de Atlas e mãe de Hermes/Mercúrio. Tal como Gaia e Reia, também Maia acabou por ser uma divindade ligada à Terra, em diversas culturas. 
Se Vénus estava ligada a Mercúrio, e como ambos os planetas têm órbitas aparentes próximas um do outro, e próximas do Sol, não é de excluir que Mercúrio possa ter sido identificado ainda a Eros/Cupido. Há outros aspectos que concorrem nesse sentido, nomeadamente a célebre menção do Hermes Trimegisto e o hermético Hermetismo, onde a mensagem do caduceu se complementará com as ligações pelas setas de Cupido.

Um aspecto sinistro nestas ligações mitológicas, acabam por ser as contradições propositadas, criadas com objectivos obscuros... um dos mais evidentes é transformar Lucifer (em latim "o portador da luz"), a estrela da manhã, ou seja Vénus, a deusa do amor, numa personificação do mal. Como vimos, as contradições disto seriam totais, se Vénus não fosse também a estrela da tarde, e como tal Hesper... a esperança! 
É claro que, pretendendo-se manter a obscuridade, qualquer luz será encarada como um mal, que subverte a ordem instalada... nem que para isso se tenham que colocar educacionalmente reflexos condicionados. Pensar-se-à assim sobrepor uma "verdade social fabricada", mas até quando? Até que ponto será preciso ir, para que a verdade do passado deixe de pesar sobre o presente e ensombrar/assombrar o futuro?

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