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Nave espiritual

20.10.13
É suposto a palavra "nave" derivar de "navis" do latim, que por sua vez sairia de um "naos" grego.
Em todos os casos tratam-se de embarcações para... navegar.
Se "navio" pode advir do latim e "nau" do grego, é de notar que a letra "v" apresentou duplicidades, não apenas na troca dos "b" pelos "v", mas também na troca de "v" por "u"... ou seja, o "navis" latino poderia pronunciar-se "nauis", da mesma forma que "Julius" seria escrito "IVLIVS". 
Esta duplicidade entre o "u" e o "v" não desapareceu com a invenção do "w" que também manteve a duplicidade de ser lido como "u", pela via inglesa, e como "v", pela via francesa e germânica.

Ao contrário dos ingleses não falamos de "navio espacial", e a designação "nave espacial" parece ser tipicamente das línguas ibéricas, porquanto a palavra "nave" solitariamente teria perdido o significado marítimo e seria mais aplicada na arquitectura de catedrais, falando-se habitualmente da sua "nave central".
 
Naves centrais do Mosteiro de Alcobaça e do Mosteiro da Batalha

A relação da nave marítima com a estrutura das catedrais é bem conhecida. Havia uma grande semelhança invertida entre o fundo dos navios e o tecto das catedrais. Os fiéis seriam assim convidados para uma embarcação que teria a sua quilha penetrante nos céus, tal como a quilha dos navios entraria nas águas... afinal também a parte espiritual sediada na cabeça estaria mais próxima dos céus do que os pés que conduziam o corpo.
É num mundo medieval, onde as navegações marítimas estavam praticamente proibidas que vamos encontrar alusões a outras naves, de carácter espiritual. Ao contrário de anfiteatros, o formato linear, sob o comprido, que passaria a ser característica típica das igrejas, não era o mais adequado para comunicar a uma plateia de fiéis. Envolvia uma direcção - as igrejas estavam normalmente viradas a Nascente, e o próprio sacerdote, virando costas aos fiéis, tomava posição semelhante na embarcação, primeiro na proa em direcção a esse renascimento figurado numa alvorada (após o controverso Concílio do Vaticano II, em 1962, estas tradições caem, diz-se que por influência maçónica na igreja).

Movendo-nos um pouco para outra parte do globo, para as Caves de Ellora, Índia, datadas do Séc. VII, encontramos uma estrutura de topo curiosamente semelhante... em que o tecto poderia bem representar o fundo de um navio:
Nave da Cave... Cave 10 (dita do Buda Carpinteiro)

De acordo com a Revista Panorama (número de 8 Julho 1837), já Diogo Couto dava conta da existência destas Grutas de Ellora, bem como da Ilha de Elefanta (ou Elefante) e da Ilha de Salsete. É interessante que a Ilha de Elefanta tenha feito parte do dote de Catarina de Bragança a Carlos II de Inglaterra, o que simbolicamente mostra já uma cedência do poder aos ingleses sobre a Índia. No entanto, creio que na Ilha de Elefanta, dedicada a Xiva não se apresenta este tipo de estrutura.

As estruturas dedicadas a Xiva envolviam mais construções de Pirâmides, como são os vários templos Tamil, como seja Chidambaram (partes atribuídas ao Séc. XIII):

ou os templos hindús de Annamalayiar (datados do Séc. XV):

ou ainda, do mais recente Templo de Meenakshi (datado do Séc. XVII):

bem como de vários outros (ver lista). Estes templos piramidais têm também uma linha de orientação definida, ao contrário do que acontece com as habituais pirâmides... mas não deixam de exibir características que remetem para conjuntos monumentais egípcios ou mexicanos. É mais difícil perceber aqui se havia algum significado religioso especial, mas a orientação não é constante, e o efeito de nave não estará presente nestes templos. 

Finalmente, sobre as construções com forma do fundo de barco, convém lembrar a menção que já fizemos às mapalias da Numídia, no relato do Rei Hiempsal II. Segundo esse relato, os persas que acompanharam Hércules na expedição que este fez à Hispânia, ficaram a habitar a costa africana, usando os cascos invertidos dos seus navios para fazerem casas. Esta tradição ter-se-ia mantido como forma de construção no Norte de África, no fabrico das mapalias (também chamadas magalias). 
Mapalias da Numídia - inversão dos cascos dos barcos dos companheiros persas de Hércules.


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publicado às 06:04

Nave espiritual

20.10.13
É suposto a palavra "nave" derivar de "navis" do latim, que por sua vez sairia de um "naos" grego.
Em todos os casos tratam-se de embarcações para... navegar.
Se "navio" pode advir do latim e "nau" do grego, é de notar que a letra "v" apresentou duplicidades, não apenas na troca dos "b" pelos "v", mas também na troca de "v" por "u"... ou seja, o "navis" latino poderia pronunciar-se "nauis", da mesma forma que "Julius" seria escrito "IVLIVS". 
Esta duplicidade entre o "u" e o "v" não desapareceu com a invenção do "w" que também manteve a duplicidade de ser lido como "u", pela via inglesa, e como "v", pela via francesa e germânica.

Ao contrário dos ingleses não falamos de "navio espacial", e a designação "nave espacial" parece ser tipicamente das línguas ibéricas, porquanto a palavra "nave" solitariamente teria perdido o significado marítimo e seria mais aplicada na arquitectura de catedrais, falando-se habitualmente da sua "nave central".
 
Naves centrais do Mosteiro de Alcobaça e do Mosteiro da Batalha

A relação da nave marítima com a estrutura das catedrais é bem conhecida. Havia uma grande semelhança invertida entre o fundo dos navios e o tecto das catedrais. Os fiéis seriam assim convidados para uma embarcação que teria a sua quilha penetrante nos céus, tal como a quilha dos navios entraria nas águas... afinal também a parte espiritual sediada na cabeça estaria mais próxima dos céus do que os pés que conduziam o corpo.
É num mundo medieval, onde as navegações marítimas estavam praticamente proibidas que vamos encontrar alusões a outras naves, de carácter espiritual. Ao contrário de anfiteatros, o formato linear, sob o comprido, que passaria a ser característica típica das igrejas, não era o mais adequado para comunicar a uma plateia de fiéis. Envolvia uma direcção - as igrejas estavam normalmente viradas a Nascente, e o próprio sacerdote, virando costas aos fiéis, tomava posição semelhante na embarcação, primeiro na proa em direcção a esse renascimento figurado numa alvorada (após o controverso Concílio do Vaticano II, em 1962, estas tradições caem, diz-se que por influência maçónica na igreja).

Movendo-nos um pouco para outra parte do globo, para as Caves de Ellora, Índia, datadas do Séc. VII, encontramos uma estrutura de topo curiosamente semelhante... em que o tecto poderia bem representar o fundo de um navio:
Nave da Cave... Cave 10 (dita do Buda Carpinteiro)

De acordo com a Revista Panorama (número de 8 Julho 1837), já Diogo Couto dava conta da existência destas Grutas de Ellora, bem como da Ilha de Elefanta (ou Elefante) e da Ilha de Salsete. É interessante que a Ilha de Elefanta tenha feito parte do dote de Catarina de Bragança a Carlos II de Inglaterra, o que simbolicamente mostra já uma cedência do poder aos ingleses sobre a Índia. No entanto, creio que na Ilha de Elefanta, dedicada a Xiva não se apresenta este tipo de estrutura.

As estruturas dedicadas a Xiva envolviam mais construções de Pirâmides, como são os vários templos Tamil, como seja Chidambaram (partes atribuídas ao Séc. XIII):

ou os templos hindús de Annamalayiar (datados do Séc. XV):

ou ainda, do mais recente Templo de Meenakshi (datado do Séc. XVII):

bem como de vários outros (ver lista). Estes templos piramidais têm também uma linha de orientação definida, ao contrário do que acontece com as habituais pirâmides... mas não deixam de exibir características que remetem para conjuntos monumentais egípcios ou mexicanos. É mais difícil perceber aqui se havia algum significado religioso especial, mas a orientação não é constante, e o efeito de nave não estará presente nestes templos. 

Finalmente, sobre as construções com forma do fundo de barco, convém lembrar a menção que já fizemos às mapalias da Numídia, no relato do Rei Hiempsal II. Segundo esse relato, os persas que acompanharam Hércules na expedição que este fez à Hispânia, ficaram a habitar a costa africana, usando os cascos invertidos dos seus navios para fazerem casas. Esta tradição ter-se-ia mantido como forma de construção no Norte de África, no fabrico das mapalias (também chamadas magalias). 
Mapalias da Numídia - inversão dos cascos dos barcos dos companheiros persas de Hércules.


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publicado às 06:04

Se há méritos na actuação do Marquês de Pombal, durante o reinado de D. José, eles não são muito fáceis de encontrar, ao contrário do que se institucionalizou na propaganda, formada durante os séculos seguintes, que o tornou numa figura central da História Portuguesa. 

Sebastião (de Carvalho e Melo) combateu o Sebastianismo, tornando-se numa espécie de último Sebastião, visto como último protagonista do papel de "regente esclarecido".

Se este último Sebastião pretendeu combater o sebastianismo, é bom notar que antes desses dois "Sebastiões", houve um terceiro Sebastião português... no Séc. V. 

Sebastião - general romano
Em 427 d.C. quando o Império Romano se fragmentava e a Hispania começava  a ser "concessionada" aos godos, há um general romano, de nome Sebastião que organiza os Lusitanos, derrotando uma coligação de Alanos e Suevos, ao ponto de conquistar Lisboa!
De acordo com Pinho Leal, esse general Sebastião decide então aclamar-se rei, contra a "vontade popular", e é assassinado... qual César. Pouco depois, os Alanos e Suevos reconquistavam Lisboa! 

Esta história, pouco ou nada conhecida (... e sobre isto agradeço mais informação!), talvez complemente o motivo do singular nome de Sebastião dado ao Rei Desejado. 
A posteriori parece infelizmente adequada a conexão a São Sebastião, o santo - cristão infiltrado que chega a capitão da Guarda Pretoriana, mas que é executado ao ser descoberto. Também D. Sebastião sendo capitão da Cristandade, poderá ter sido executado ao lutar no sentido de restaurar a verdade histórica.

(reconstituição da condenação de "falso" D. Sebastião)


A Fama do Sebastião - Marquês de Pombal
Houve vários factores que concorreram para esta fama do Marquês.
1º) A eliminação da Casa de Aveiro tornou-o personagem agradável à Casa de Bragança, que deixou de ter fantasmas a assombrarem a legitimidade da sua linha de sucessão definida na Restauração.
2º ) A sua ligação à maçonaria granjeou-lhe um clube de fãs que se propagaram na história, nas artes e ciências, nunca atacando o lado ditatorial e tirano. A maçonaria estava então particularmente activa, participando na criação dos EUA e na Revolução Francesa.
3º) Reabilitando os descendentes dos cristãos-novos, colocando-os a par dos outros cidadãos, terá sido uma medida positiva, certamente apreciada no contexto de influência judaica.
4º) Mesmo o lado jesuíta, ligado a Roma, tendo sido fortemente perseguido pelas repressões do Marquês, acabou por aceitar o personagem. Isto não deixa de ser algo estranho, e talvez diga mais sobre a evolução dessa organização católica, do que propriamente sobre o Marquês.
5º) Salazar viu no Marquês um exemplo de "despotismo iluminado", que adoptou como referência reformista para a ditadura do seu "estado novo". Estratégia inteligente, indo captar um herói caro à 1ª República, pelo lado maçónico, ditos combatentes encarniçados da influência da Igreja de Roma. Salazar, ao colocar o Marquês no mais alto pedestal de Lisboa - na Rotunda, coloca o símbolo maçónico no alto, perante o silêncio de uma Igreja rendida, que via em Salazar a sua maior esperança contra o anticlericalismo maçónico.

Assim, de forma algo singular, o Marquês apareceu como figura consensual entre lados opostos!
Os registos críticos que apareceram sobre a actuação do Marquês foram quase sempre tímidos e algo silenciados. 
A nova censura - o politicamente correcto, impede pôr em causa a obra do Marquês em Lisboa, após o Terramoto, ou na reestruturação administrativa ou da universidade, admitindo a crítica sobre a chacina dos Távoras. Os adeptos do Marquês tentam usar a semelhança com as execuções ordenadas por D. João II... sendo óbvio que a comparação é algo absurda. A execução dos Távoras teria melhor paralelo nos métodos da Antiga Roma, ao estender-se a toda a família.

Os agentes do encobrimento histórico parecem apreciar tornar vilões em heróis, e denominar como fracos os regentes mais lúcidos. Dessa forma ignoram os mais sensatos e elogiam os mais cruéis...  ficando assim mais próximos, pelos defeitos, daqueles que colocaram no panteão que inventaram. 

Assim, a maioria dos erros foram passados ao antecessor, D. João V, quiçá o melhor governante da dinastia de Bragança... já que ameaçava colocar Portugal de novo no caminho de potência mundial.
D. João V é criticado por trazer ouro do Brasil... esquecendo que essas remessas pararam pelo total desinteresse do Marquês no Brasil.
Ao Marquês elogia-se a pretensa obra nacional, omitindo o desastre que foi a sua condução do império... foi aliás durante essa pretensa "regência brilhante" que se serviu a Sandwich Havaiana e Australiana aos ingleses.
Se há mérito nalguma actuação será coisa de bastidores... e apenas se justificaria se a ruína nacional fosse necessária para algum bem maior!

Os sucessos de um rei, levam a uma absorção e a um descuido com a sucessão. Era assim habitual um investimento no príncipe seguinte, por aqueles que eram preteridos pelo rei.
Quando D. João V morre, é a rainha (austríaca, Habsburgo) Maria Ana Josefa que vai indicar Sebastião de Carvalho e Melo ao seu filho, D. José.
Este diplomata, antes embaixador na Inglaterra e depois na Áustria, e que D. João V acabara de demitir, aparece num lugar de destaque arranjado pela Rainha Maria Ana de Áustria, que o irá proteger (casando mesmo com uma austríaca). As ligações à maçonaria, essas parecem ocorrer aquando da embaixada em Londres... onde certamente terá privado com cozinheiros e sanduíches.

Porém, atrevemos também a sugerir um plano de longo curso, que estava já a ser testado pelos hábeis Habsburgos. De facto, uma maneira de controlar uma sociedade maçónica, em crescimento acentuado de poder, seria usar essa avidez de poder a serviço da aristocracia implantada. 
D. José I passa assim como figura despercebida, desfrutando das delícias da corte, longe dos assuntos de estado, encarregues a Sebastião de Melo... mas influenciando decisivamente as decisões mais controversas - como a execução dos Távoras. Em troca desses serviços, o Sebastião passa a Conde de Oeiras e depois a Marquês de Pombal. A aristocracia usaria o prestígio como moeda de troca na governação, e poderia descansar... mas a Revolução Francesa alterou um pouco estas contas.

Este plano aristocrata de longo curso seria inteligente... abdicavam das tarefas pesadas de governação, e passavam a desfrutar das vantagens do Reino. As quebras de popularidade passavam para os ministros, que tinham aparente carta-branca, mas que estavam condicionados.
Os Habsburgos austríacos, com Metternich, preferiam a via absolutista, que viam como única solução face à experiência caótica da Revolução Francesa de 1789. Os ingleses, que já tinham uma experiência revolucionária bem anterior, com Cromwell ao invés de Napoleão, preconizavam uma filosofia ainda mais inteligente - a Monarquia Liberal.

A Monarquia Liberal, tornou-se a forma comum de governo nos Séc. XIX e XX, especialmente após as Revoluções de 1848, e ainda hoje perdura na Europa. A legitimidade do Rei não era afectada, mas o governo passava a ser opção por eleição. No fundo a responsabilidade da governação visível passava para o próprio povo, por resultado de uma pretensa eleição, mas estes governantes estavam depois condicionados a todo o jogo que se passava nos bastidores, nas armadilhas cortesãs.
A população era co-responsabilizada nos erros governativos dos ambiciosos líderes que elegia, e a cabeça coroada passava incólume pelos pingos da chuva.

A experiência mais decisiva ocorreria com as Repúblicas... mesmo com a destituição do Rei e das Cortes, os poderes instituídos seriam corrompidos pelas ligações ancestrais das famílias, e na prática esses elementos aristocratas voltavam a concentrar o poder sob forma camuflada. 
Aparentemente partilhavam o poder com uma nova parte da população burguesa, que subia nos degraus do poder, mas esses novos protagonistas eram seduzíveis a honrarias e festas, e poderiam ser manipulados em jogos cortesãos, onde a aristocracia reinava sem concorrência.
Talvez a última experiência, destinada a erradicar essa submersa influência aristocrática nas Repúblicas, terá sido tentada na Revolução Russa de 1917. No entanto, é fácil perceber como os jogos de bastidores assumiam, mesmo assim, contornos tenebrosos... a luta de poder na antiga URSS acabou por substituir um sistema oligárquico por outro - em que a aristocracia passou a ser o "partido único". 
Essa experiência russa foi fechada, expondo fantasmas semelhantes aos fantasmas do Reino de Terror, que se seguiu à Revolução Francesa. Os escritores da História decidiam assim fechar definitivamente a hipótese comunista, usando dos habituais reflexos pavlovianos - a palavra comunista ganharia um tom pejorativo automático.


Abalos Lisboetas antes de 1755
Voltamos a Sebastião, Marquês de Pombal, e aos sentidos abalos!
Um dos méritos propagandeados ao Marquês é a reconstrução de Lisboa após o Terramoto de 1755.
Isto é colocado como se Lisboa não tivesse passado antes por dezenas de terramotos severos.

Em 26 de Janeiro de 1531 estima-se que tenham morrido 30 mil pessoas em Lisboa, número até maior ao avançado para o de 1755. 
Também nessa altura foi feito um bairro com estrutura quadricular que sobreviveu - o Bairro Alto (ver p.ex. aqui). Assim, a proclamada "quadrícula inovadora" nas ruas da baixa lisboeta, pensada pelo Marquês, já tinha tido um precedente com 250 anos, durante o reinado de D. João III.

Vejamos então um registo de sismos em Lisboa (usamos os adjectivos de Pinho Leal):
1009 - grande terramoto que destroi "mais ou menos" Lisboa.
1117 - idem
1146 - ibidem
1290 - fortíssimo terramoto aluíram muitas casas de Lisboa.
1344 - idem
1531 - espantoso terramoto que dura 50 dias! Arruinados alguns templos e 1500 casas cairam. 
1551 - terramoto medonho destruiu 200 casas em Lisboa
1575 - violento terramoto sem vítimas
1598 - violento terramoto sem vítimas
1699 - violento tremor de terra de 3 dias com alguns intervalos 
1724 - fortíssimo tremor de terra, não causou desgraças 


O abalo sísmico de 1531, tendo até levado à construção do Bairro "Alto", parece ter um registo histórico mais devastador que o de 1755...
Porém o abalo do Marquês teve várias componentes - especialmente posteriores.

Selecção Herculana
O terramoto do Marquês e assessores foi de tal forma potente que parece ter feito cair as Torres de Hércules em Cadiz (construção que tinha aguentado milénios de terramotos), apesar de ter poupado o Aqueduto das Águas Livres em Lisboa, ou o Convento de Mafra.
As ditas Torres de Hércules tiveram ainda uma queda diferente em Coimbra, onde a Torre Pentagonal tombou pela outra proeza pombalina - a universidade!
Não terá sido a Universidade de Évora, que Pombal decidiu fechar, nem o Observatório Astronómico, que apenas serviu de pretexto para a destruição da Torre de Hércules. O que Pombal fez foi importar génios... ou melhor arrumar o génio nacional na prateleira e contratar a subsidariedade, pela ideia de que um bom estrangeiro seria sempre melhor! Os textos de autores do Séc. XVIII que ironizam esse estado de coisas são particularmente interessantes para se perceber quando se começou a venerar a importação externa de valores, e a consolidar a dívida subjacente, transformando os valores nacionais em resignados, menosprezados, e desconsiderados subsidiários de uma inteligentia externa.

Como era Lisboa antes do Terramoto?
Apesar de serem pouco vistas imagens de Lisboa anteriores ao Terramoto de 1755, sobreviveram algumas bem ilustrativas, onde se percebe que a "grande reconstrução", ou a "grande alteração", é essencialmente manobra publicitária.
Pormenor da zona do Palácio do Rei,  onde depois do Terramoto será o Terreiro do Paço.
Estampa na Biblioteca Nacional de Maillet (impresso em Paris, 1760)


Estampa na Biblioteca Nacional de Clara Black (início Séc. XVIII)


Podemos ver em particular que o posterior Terreiro do Paço e os edifícios pouco mais são do que a adaptação do que já era o Palácio do Rei. Aliás, o que se notará mais é que a zona do Paço terá até perdido alguma qualidade estética, a avaliar pelas estampas. Se havia caos urbanístico na zona interna até ao Rossio, pois isso é algo que não se consegue avaliar nestas imagens, e não seria no Bairro Alto. Mas há outras que mostram pelo menos uma grande rua com clara vista do Tejo, e podem ainda ver-se edifícios com altura de 5 andares.

Em resumo, para além da duplicação dos torreões no Paço, não se vislumbra propriamente uma "grande" alteração face ao que era Lisboa antes do terramoto.

A destruição de Lisboa, não terminou no Terramoto, e em larga parte uma das maiores perdas resultou do incêndio, que também destruiu os Arquivos da Torre do Tombo. Estes acidentes, ditos fortuitos, têm a particular selectividade de destruir a memória histórica, de forma quase definitiva. Este caso, ou a Biblioteca de Alexandria, são alguns dos muitos exemplos ao longo dos séculos (e.g. Grande Incêndio de Londres, ao tempo da nossa Rainha Catarina)...

Quanto à contenção do desastre, conhece-se a forma brutal de repressão que se processou após o terramoto, causando mais vítimas do que o próprio acidente (isso é habitualmente ilustrado nesta imagem).

Processo dos Távoras - 1758
Ainda no rescaldo do acontecimento, e devido à sensação de "castigo divino", a insatisfação sobre a actuação do Marquês acentua-se, mas irá terminar de forma contundente.
Três anos depois do terramoto, dá-se o incidente da "tentativa de assassinato" do Rei, que resulta no chamado Processo dos Távoras, sendo implicados o Duque de Aveiro, o Conde da Atouguia e toda a família dos Távoras, entre outros.

Processo dos Távoras
Teatro da Execução (estampa na Bibl. Nac., anónima, c. 1759-60)

Já aqui falámos sobre a particularidade dos mortos envolvidos no processo serem das mesmas Casas que estiveram até à morte ao lado de D. Sebastião em Alcácer-Quibir, e até de 1578 e 1758 terem os mesmos dígitos.
O que choca mais neste processo é a brutalidade envolvida nas execuções públicas. Talvez não fosse novidade, dado o tratamento de tortura e esquartejamento que Louis XV decidiu implementar a Robert Damiens em 1757... a novidade aqui foi a sua aplicação a uma casa aristocrata rival.
Convirá ler Pinho Leal sobre o Processo, num apontamento que tem sobre o sítio "Chão Salgado"... nunca é demais saber de que matéria são feitos os heróis que estão no pedestal mais alto da capital lisboeta.

Guerra Fantástica
Portugal participou na Guerra dos Sete Anos, ao lado da Inglaterra...
... e assim, ao contrário do que é habitualmente publicitado, os conflitos com Espanha não terminaram nas vitórias da Restauração. Houve a Guerra Fantástica.
A Espanha, aliada da França, entrou em Portugal, e ameaçou a invasão em 1762, durante a regência do Marquês... o exército português tinha sido reduzido desde 1754 a metade dos efectivos - manda dizer a publicidade instituída - que por culpa de D. João V - que apesar de este ter morrido em 1750, tinha costas largas para aguentar com esta culpa adicional, mesmo morto. Lê-se isto na wikipedia:


       "O Exército Português, abandonado desde a doença de D. João V, não tinha oficiais preparados para a guerra — fardamento, soldados e armas eram praticamente inexistentes."

Ainda que isso fosse verdade, será que a ausência de espírito crítico é tal que não se percebe que a doença de D. João V ocorreu em 1750... e que nos 12 anos seguintes as responsabilidades sobre o exército estariam a cargo de D. José e do ministro Pombal.

Há ilustrações dessas batalhas, que levaram a fortes derrotas das forças portuguesas.

"Guerra Fantástica"
O espanhol Conde de Aranda invade Portugal em 1762, durante a regência pombalina,
conquistando Salvaterra e ameaçando Lisboa. (**)

A solução pombalina recai mais uma vez na ajuda externa, pela organização militar do Conde de Lippe, aparentando quase que já não poderia ter sob controlo português um exército forte - aconteceu depois o mesmo com a ajuda de Wellington - as tropas portuguesas nunca parecem ter ousado responder sem haver direcção externa. De forma semelhante, mesmo a presença do Duque de Schomberg, durante a Guerra da Restauração nunca foi bem vista pelos nacionais (nomeadamente o Marquês de Marialva), e terá contribuído mais para a deposição de Afonso VI em favor de Pedro II, ou para colher os louros de da vitória portuguesa em Montes-Claros.

Esta "Guerra Fantástica" evidencia a acentuada degradação nacional após D. João V.
Dir-se-à uma decadência quase propositada, conduzida pelo Marquês de Pombal, e pelas forças infiltradas de traição nacional que continuam a promover a incompetência, de forma a suprimir qualquer renascimento organizado.
Foi essa a principal herança pombalina!

(**) ________________
Observação [18/05/2013]
Lê-se na legenda:
Vue perspective de la Bataille remportée par les Troupes Espagnoles et Françoises aux ordres de Mr. le Comte d'Aranda sur les Portugais aprés laquelle le Comte d'Aranda s'est emparé de la Place de Salvatierra ainsi que du Chateau de Segura sur le Tage ou il a laissé une partie de ses Troupes. Cette Ville a capitulé le seize Septembre 1762.
A figura induz em erro, pela extensão de água apresentada para o Tejo, pensando-se em Salvaterra de Magos. Porém, tratava-se da zona fronteiriça Salvaterra do Extremo e do Castelo de Segura, na proximidade de Idanha. 
Fica assim em dúvida a imaginação artística ao ponto de colocar navios numa parte montante do Tejo, que só faria sentido na zona do Mar da Palha, próxima da outra Salvaterra de Magos...
... a menos que consideremos alguma barragem na zona das Portas do Ródão, como falámos aqui:
http://alvor-silves.blogspot.pt/2011/07/portas-do-rodao.html
... algo que dificilmente justificaria a navegabilidade de embarcações consideráveis, pelo que é mais natural admitir a confusão do artista na mistura de paisagens das duas Salvaterras...

Nota 19/03/2014:  
Correcção de todos os links para as imagens, devido a mudanças nos links da Biblioteca Nacional.

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publicado às 05:13

Se há méritos na actuação do Marquês de Pombal, durante o reinado de D. José, eles não são muito fáceis de encontrar, ao contrário do que se institucionalizou na propaganda, formada durante os séculos seguintes, que o tornou numa figura central da História Portuguesa. 

Sebastião (de Carvalho e Melo) combateu o Sebastianismo, tornando-se numa espécie de último Sebastião, visto como último protagonista do papel de "regente esclarecido".

Se este último Sebastião pretendeu combater o sebastianismo, é bom notar que antes desses dois "Sebastiões", houve um terceiro Sebastião português... no Séc. V. 

Sebastião - general romano
Em 427 d.C. quando o Império Romano se fragmentava e a Hispania começava  a ser "concessionada" aos godos, há um general romano, de nome Sebastião que organiza os Lusitanos, derrotando uma coligação de Alanos e Suevos, ao ponto de conquistar Lisboa!
De acordo com Pinho Leal, esse general Sebastião decide então aclamar-se rei, contra a "vontade popular", e é assassinado... qual César. Pouco depois, os Alanos e Suevos reconquistavam Lisboa! 

Esta história, pouco ou nada conhecida (... e sobre isto agradeço mais informação!), talvez complemente o motivo do singular nome de Sebastião dado ao Rei Desejado. 
A posteriori parece infelizmente adequada a conexão a São Sebastião, o santo - cristão infiltrado que chega a capitão da Guarda Pretoriana, mas que é executado ao ser descoberto. Também D. Sebastião sendo capitão da Cristandade, poderá ter sido executado ao lutar no sentido de restaurar a verdade histórica.

(reconstituição da condenação de "falso" D. Sebastião)


A Fama do Sebastião - Marquês de Pombal
Houve vários factores que concorreram para esta fama do Marquês.
1º) A eliminação da Casa de Aveiro tornou-o personagem agradável à Casa de Bragança, que deixou de ter fantasmas a assombrarem a legitimidade da sua linha de sucessão definida na Restauração.
2º ) A sua ligação à maçonaria granjeou-lhe um clube de fãs que se propagaram na história, nas artes e ciências, nunca atacando o lado ditatorial e tirano. A maçonaria estava então particularmente activa, participando na criação dos EUA e na Revolução Francesa.
3º) Reabilitando os descendentes dos cristãos-novos, colocando-os a par dos outros cidadãos, terá sido uma medida positiva, certamente apreciada no contexto de influência judaica.
4º) Mesmo o lado jesuíta, ligado a Roma, tendo sido fortemente perseguido pelas repressões do Marquês, acabou por aceitar o personagem. Isto não deixa de ser algo estranho, e talvez diga mais sobre a evolução dessa organização católica, do que propriamente sobre o Marquês.
5º) Salazar viu no Marquês um exemplo de "despotismo iluminado", que adoptou como referência reformista para a ditadura do seu "estado novo". Estratégia inteligente, indo captar um herói caro à 1ª República, pelo lado maçónico, ditos combatentes encarniçados da influência da Igreja de Roma. Salazar, ao colocar o Marquês no mais alto pedestal de Lisboa - na Rotunda, coloca o símbolo maçónico no alto, perante o silêncio de uma Igreja rendida, que via em Salazar a sua maior esperança contra o anticlericalismo maçónico.

Assim, de forma algo singular, o Marquês apareceu como figura consensual entre lados opostos!
Os registos críticos que apareceram sobre a actuação do Marquês foram quase sempre tímidos e algo silenciados. 
A nova censura - o politicamente correcto, impede pôr em causa a obra do Marquês em Lisboa, após o Terramoto, ou na reestruturação administrativa ou da universidade, admitindo a crítica sobre a chacina dos Távoras. Os adeptos do Marquês tentam usar a semelhança com as execuções ordenadas por D. João II... sendo óbvio que a comparação é algo absurda. A execução dos Távoras teria melhor paralelo nos métodos da Antiga Roma, ao estender-se a toda a família.

Os agentes do encobrimento histórico parecem apreciar tornar vilões em heróis, e denominar como fracos os regentes mais lúcidos. Dessa forma ignoram os mais sensatos e elogiam os mais cruéis...  ficando assim mais próximos, pelos defeitos, daqueles que colocaram no panteão que inventaram. 

Assim, a maioria dos erros foram passados ao antecessor, D. João V, quiçá o melhor governante da dinastia de Bragança... já que ameaçava colocar Portugal de novo no caminho de potência mundial.
D. João V é criticado por trazer ouro do Brasil... esquecendo que essas remessas pararam pelo total desinteresse do Marquês no Brasil.
Ao Marquês elogia-se a pretensa obra nacional, omitindo o desastre que foi a sua condução do império... foi aliás durante essa pretensa "regência brilhante" que se serviu a Sandwich Havaiana e Australiana aos ingleses.
Se há mérito nalguma actuação será coisa de bastidores... e apenas se justificaria se a ruína nacional fosse necessária para algum bem maior!

Os sucessos de um rei, levam a uma absorção e a um descuido com a sucessão. Era assim habitual um investimento no príncipe seguinte, por aqueles que eram preteridos pelo rei.
Quando D. João V morre, é a rainha (austríaca, Habsburgo) Maria Ana Josefa que vai indicar Sebastião de Carvalho e Melo ao seu filho, D. José.
Este diplomata, antes embaixador na Inglaterra e depois na Áustria, e que D. João V acabara de demitir, aparece num lugar de destaque arranjado pela Rainha Maria Ana de Áustria, que o irá proteger (casando mesmo com uma austríaca). As ligações à maçonaria, essas parecem ocorrer aquando da embaixada em Londres... onde certamente terá privado com cozinheiros e sanduíches.

Porém, atrevemos também a sugerir um plano de longo curso, que estava já a ser testado pelos hábeis Habsburgos. De facto, uma maneira de controlar uma sociedade maçónica, em crescimento acentuado de poder, seria usar essa avidez de poder a serviço da aristocracia implantada. 
D. José I passa assim como figura despercebida, desfrutando das delícias da corte, longe dos assuntos de estado, encarregues a Sebastião de Melo... mas influenciando decisivamente as decisões mais controversas - como a execução dos Távoras. Em troca desses serviços, o Sebastião passa a Conde de Oeiras e depois a Marquês de Pombal. A aristocracia usaria o prestígio como moeda de troca na governação, e poderia descansar... mas a Revolução Francesa alterou um pouco estas contas.

Este plano aristocrata de longo curso seria inteligente... abdicavam das tarefas pesadas de governação, e passavam a desfrutar das vantagens do Reino. As quebras de popularidade passavam para os ministros, que tinham aparente carta-branca, mas que estavam condicionados.
Os Habsburgos austríacos, com Metternich, preferiam a via absolutista, que viam como única solução face à experiência caótica da Revolução Francesa de 1789. Os ingleses, que já tinham uma experiência revolucionária bem anterior, com Cromwell ao invés de Napoleão, preconizavam uma filosofia ainda mais inteligente - a Monarquia Liberal.

A Monarquia Liberal, tornou-se a forma comum de governo nos Séc. XIX e XX, especialmente após as Revoluções de 1848, e ainda hoje perdura na Europa. A legitimidade do Rei não era afectada, mas o governo passava a ser opção por eleição. No fundo a responsabilidade da governação visível passava para o próprio povo, por resultado de uma pretensa eleição, mas estes governantes estavam depois condicionados a todo o jogo que se passava nos bastidores, nas armadilhas cortesãs.
A população era co-responsabilizada nos erros governativos dos ambiciosos líderes que elegia, e a cabeça coroada passava incólume pelos pingos da chuva.

A experiência mais decisiva ocorreria com as Repúblicas... mesmo com a destituição do Rei e das Cortes, os poderes instituídos seriam corrompidos pelas ligações ancestrais das famílias, e na prática esses elementos aristocratas voltavam a concentrar o poder sob forma camuflada. 
Aparentemente partilhavam o poder com uma nova parte da população burguesa, que subia nos degraus do poder, mas esses novos protagonistas eram seduzíveis a honrarias e festas, e poderiam ser manipulados em jogos cortesãos, onde a aristocracia reinava sem concorrência.
Talvez a última experiência, destinada a erradicar essa submersa influência aristocrática nas Repúblicas, terá sido tentada na Revolução Russa de 1917. No entanto, é fácil perceber como os jogos de bastidores assumiam, mesmo assim, contornos tenebrosos... a luta de poder na antiga URSS acabou por substituir um sistema oligárquico por outro - em que a aristocracia passou a ser o "partido único". 
Essa experiência russa foi fechada, expondo fantasmas semelhantes aos fantasmas do Reino de Terror, que se seguiu à Revolução Francesa. Os escritores da História decidiam assim fechar definitivamente a hipótese comunista, usando dos habituais reflexos pavlovianos - a palavra comunista ganharia um tom pejorativo automático.


Abalos Lisboetas antes de 1755
Voltamos a Sebastião, Marquês de Pombal, e aos sentidos abalos!
Um dos méritos propagandeados ao Marquês é a reconstrução de Lisboa após o Terramoto de 1755.
Isto é colocado como se Lisboa não tivesse passado antes por dezenas de terramotos severos.

Em 26 de Janeiro de 1531 estima-se que tenham morrido 30 mil pessoas em Lisboa, número até maior ao avançado para o de 1755. 
Também nessa altura foi feito um bairro com estrutura quadricular que sobreviveu - o Bairro Alto (ver p.ex. aqui). Assim, a proclamada "quadrícula inovadora" nas ruas da baixa lisboeta, pensada pelo Marquês, já tinha tido um precedente com 250 anos, durante o reinado de D. João III.

Vejamos então um registo de sismos em Lisboa (usamos os adjectivos de Pinho Leal):
1009 - grande terramoto que destroi "mais ou menos" Lisboa.
1117 - idem
1146 - ibidem
1290 - fortíssimo terramoto aluíram muitas casas de Lisboa.
1344 - idem
1531 - espantoso terramoto que dura 50 dias! Arruinados alguns templos e 1500 casas cairam. 
1551 - terramoto medonho destruiu 200 casas em Lisboa
1575 - violento terramoto sem vítimas
1598 - violento terramoto sem vítimas
1699 - violento tremor de terra de 3 dias com alguns intervalos 
1724 - fortíssimo tremor de terra, não causou desgraças 


O abalo sísmico de 1531, tendo até levado à construção do Bairro "Alto", parece ter um registo histórico mais devastador que o de 1755...
Porém o abalo do Marquês teve várias componentes - especialmente posteriores.

Selecção Herculana
O terramoto do Marquês e assessores foi de tal forma potente que parece ter feito cair as Torres de Hércules em Cadiz (construção que tinha aguentado milénios de terramotos), apesar de ter poupado o Aqueduto das Águas Livres em Lisboa, ou o Convento de Mafra.
As ditas Torres de Hércules tiveram ainda uma queda diferente em Coimbra, onde a Torre Pentagonal tombou pela outra proeza pombalina - a universidade!
Não terá sido a Universidade de Évora, que Pombal decidiu fechar, nem o Observatório Astronómico, que apenas serviu de pretexto para a destruição da Torre de Hércules. O que Pombal fez foi importar génios... ou melhor arrumar o génio nacional na prateleira e contratar a subsidariedade, pela ideia de que um bom estrangeiro seria sempre melhor! Os textos de autores do Séc. XVIII que ironizam esse estado de coisas são particularmente interessantes para se perceber quando se começou a venerar a importação externa de valores, e a consolidar a dívida subjacente, transformando os valores nacionais em resignados, menosprezados, e desconsiderados subsidiários de uma inteligentia externa.

Como era Lisboa antes do Terramoto?
Apesar de serem pouco vistas imagens de Lisboa anteriores ao Terramoto de 1755, sobreviveram algumas bem ilustrativas, onde se percebe que a "grande reconstrução", ou a "grande alteração", é essencialmente manobra publicitária.
Pormenor da zona do Palácio do Rei,  onde depois do Terramoto será o Terreiro do Paço.
Estampa na Biblioteca Nacional de Maillet (impresso em Paris, 1760)


Estampa na Biblioteca Nacional de Clara Black (início Séc. XVIII)


Podemos ver em particular que o posterior Terreiro do Paço e os edifícios pouco mais são do que a adaptação do que já era o Palácio do Rei. Aliás, o que se notará mais é que a zona do Paço terá até perdido alguma qualidade estética, a avaliar pelas estampas. Se havia caos urbanístico na zona interna até ao Rossio, pois isso é algo que não se consegue avaliar nestas imagens, e não seria no Bairro Alto. Mas há outras que mostram pelo menos uma grande rua com clara vista do Tejo, e podem ainda ver-se edifícios com altura de 5 andares.

Em resumo, para além da duplicação dos torreões no Paço, não se vislumbra propriamente uma "grande" alteração face ao que era Lisboa antes do terramoto.

A destruição de Lisboa, não terminou no Terramoto, e em larga parte uma das maiores perdas resultou do incêndio, que também destruiu os Arquivos da Torre do Tombo. Estes acidentes, ditos fortuitos, têm a particular selectividade de destruir a memória histórica, de forma quase definitiva. Este caso, ou a Biblioteca de Alexandria, são alguns dos muitos exemplos ao longo dos séculos (e.g. Grande Incêndio de Londres, ao tempo da nossa Rainha Catarina)...

Quanto à contenção do desastre, conhece-se a forma brutal de repressão que se processou após o terramoto, causando mais vítimas do que o próprio acidente (isso é habitualmente ilustrado nesta imagem).

Processo dos Távoras - 1758
Ainda no rescaldo do acontecimento, e devido à sensação de "castigo divino", a insatisfação sobre a actuação do Marquês acentua-se, mas irá terminar de forma contundente.
Três anos depois do terramoto, dá-se o incidente da "tentativa de assassinato" do Rei, que resulta no chamado Processo dos Távoras, sendo implicados o Duque de Aveiro, o Conde da Atouguia e toda a família dos Távoras, entre outros.

Processo dos Távoras
Teatro da Execução (estampa na Bibl. Nac., anónima, c. 1759-60)

Já aqui falámos sobre a particularidade dos mortos envolvidos no processo serem das mesmas Casas que estiveram até à morte ao lado de D. Sebastião em Alcácer-Quibir, e até de 1578 e 1758 terem os mesmos dígitos.
O que choca mais neste processo é a brutalidade envolvida nas execuções públicas. Talvez não fosse novidade, dado o tratamento de tortura e esquartejamento que Louis XV decidiu implementar a Robert Damiens em 1757... a novidade aqui foi a sua aplicação a uma casa aristocrata rival.
Convirá ler Pinho Leal sobre o Processo, num apontamento que tem sobre o sítio "Chão Salgado"... nunca é demais saber de que matéria são feitos os heróis que estão no pedestal mais alto da capital lisboeta.

Guerra Fantástica
Portugal participou na Guerra dos Sete Anos, ao lado da Inglaterra...
... e assim, ao contrário do que é habitualmente publicitado, os conflitos com Espanha não terminaram nas vitórias da Restauração. Houve a Guerra Fantástica.
A Espanha, aliada da França, entrou em Portugal, e ameaçou a invasão em 1762, durante a regência do Marquês... o exército português tinha sido reduzido desde 1754 a metade dos efectivos - manda dizer a publicidade instituída - que por culpa de D. João V - que apesar de este ter morrido em 1750, tinha costas largas para aguentar com esta culpa adicional, mesmo morto. Lê-se isto na wikipedia:


       "O Exército Português, abandonado desde a doença de D. João V, não tinha oficiais preparados para a guerra — fardamento, soldados e armas eram praticamente inexistentes."

Ainda que isso fosse verdade, será que a ausência de espírito crítico é tal que não se percebe que a doença de D. João V ocorreu em 1750... e que nos 12 anos seguintes as responsabilidades sobre o exército estariam a cargo de D. José e do ministro Pombal.

Há ilustrações dessas batalhas, que levaram a fortes derrotas das forças portuguesas.

"Guerra Fantástica"
O espanhol Conde de Aranda invade Portugal em 1762, durante a regência pombalina,
conquistando Salvaterra e ameaçando Lisboa. (**)

A solução pombalina recai mais uma vez na ajuda externa, pela organização militar do Conde de Lippe, aparentando quase que já não poderia ter sob controlo português um exército forte - aconteceu depois o mesmo com a ajuda de Wellington - as tropas portuguesas nunca parecem ter ousado responder sem haver direcção externa. De forma semelhante, mesmo a presença do Duque de Schomberg, durante a Guerra da Restauração nunca foi bem vista pelos nacionais (nomeadamente o Marquês de Marialva), e terá contribuído mais para a deposição de Afonso VI em favor de Pedro II, ou para colher os louros de da vitória portuguesa em Montes-Claros.

Esta "Guerra Fantástica" evidencia a acentuada degradação nacional após D. João V.
Dir-se-à uma decadência quase propositada, conduzida pelo Marquês de Pombal, e pelas forças infiltradas de traição nacional que continuam a promover a incompetência, de forma a suprimir qualquer renascimento organizado.
Foi essa a principal herança pombalina!

(**) ________________
Observação [18/05/2013]
Lê-se na legenda:
Vue perspective de la Bataille remportée par les Troupes Espagnoles et Françoises aux ordres de Mr. le Comte d'Aranda sur les Portugais aprés laquelle le Comte d'Aranda s'est emparé de la Place de Salvatierra ainsi que du Chateau de Segura sur le Tage ou il a laissé une partie de ses Troupes. Cette Ville a capitulé le seize Septembre 1762.
A figura induz em erro, pela extensão de água apresentada para o Tejo, pensando-se em Salvaterra de Magos. Porém, tratava-se da zona fronteiriça Salvaterra do Extremo e do Castelo de Segura, na proximidade de Idanha. 
Fica assim em dúvida a imaginação artística ao ponto de colocar navios numa parte montante do Tejo, que só faria sentido na zona do Mar da Palha, próxima da outra Salvaterra de Magos...
... a menos que consideremos alguma barragem na zona das Portas do Ródão, como falámos aqui:
http://alvor-silves.blogspot.pt/2011/07/portas-do-rodao.html
... algo que dificilmente justificaria a navegabilidade de embarcações consideráveis, pelo que é mais natural admitir a confusão do artista na mistura de paisagens das duas Salvaterras...

Nota 19/03/2014:  
Correcção de todos os links para as imagens, devido a mudanças nos links da Biblioteca Nacional.

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publicado às 05:13

Se há méritos na actuação do Marquês de Pombal, durante o reinado de D. José, eles não são muito fáceis de encontrar, ao contrário do que se institucionalizou na propaganda, formada durante os séculos seguintes, que o tornou numa figura central da História Portuguesa. 

Sebastião (de Carvalho e Melo) combateu o Sebastianismo, tornando-se numa espécie de último Sebastião, visto como último protagonista do papel de "regente esclarecido".

Se este último Sebastião pretendeu combater o sebastianismo, é bom notar que antes desses dois "Sebastiões", houve um terceiro Sebastião português... no Séc. V. 

Sebastião - general romano
Em 427 d.C. quando o Império Romano se fragmentava e a Hispania começava  a ser "concessionada" aos godos, há um general romano, de nome Sebastião que organiza os Lusitanos, derrotando uma coligação de Alanos e Suevos, ao ponto de conquistar Lisboa!
De acordo com Pinho Leal, esse general Sebastião decide então aclamar-se rei, contra a "vontade popular", e é assassinado... qual César. Pouco depois, os Alanos e Suevos reconquistavam Lisboa! 

Esta história, pouco ou nada conhecida (... e sobre isto agradeço mais informação!), talvez complemente o motivo do singular nome de Sebastião dado ao Rei Desejado. 
A posteriori parece infelizmente adequada a conexão a São Sebastião, o santo - cristão infiltrado que chega a capitão da Guarda Pretoriana, mas que é executado ao ser descoberto. Também D. Sebastião sendo capitão da Cristandade, poderá ter sido executado ao lutar no sentido de restaurar a verdade histórica.
Morte del Re di Portogalli condanatta dall'Inquisizione l'anno 1628
(reconstituição da condenação de "falso" D. Sebastião)


A Fama do Sebastião - Marquês de Pombal
Houve vários factores que concorreram para esta fama do Marquês.
1º) A eliminação da Casa de Aveiro tornou-o personagem agradável à Casa de Bragança, que deixou de ter fantasmas a assombrarem a legitimidade da sua linha de sucessão definida na Restauração.
2º ) A sua ligação à maçonaria granjeou-lhe um clube de fãs que se propagaram na história, nas artes e ciências, nunca atacando o lado ditatorial e tirano. A maçonaria estava então particularmente activa, participando na criação dos EUA e na Revolução Francesa.
3º) Reabilitando os descendentes dos cristãos-novos, colocando-os a par dos outros cidadãos, terá sido uma medida positiva, certamente apreciada no contexto de influência judaica.
4º) Mesmo o lado jesuíta, ligado a Roma, tendo sido fortemente perseguido pelas repressões do Marquês, acabou por aceitar o personagem. Isto não deixa de ser algo estranho, e talvez diga mais sobre a evolução dessa organização católica, do que propriamente sobre o Marquês.
5º) Salazar viu no Marquês um exemplo de "despotismo iluminado", que adoptou como referência reformista para a ditadura do seu "estado novo". Estratégia inteligente, indo captar um herói caro à 1ª República, pelo lado maçónico, ditos combatentes encarniçados da influência da Igreja de Roma. Salazar, ao colocar o Marquês no mais alto pedestal de Lisboa - na Rotunda, coloca o símbolo maçónico no alto, perante o silêncio de uma Igreja rendida, que via em Salazar a sua maior esperança contra o anticlericalismo maçónico.

Assim, de forma algo singular, o Marquês apareceu como figura consensual entre lados opostos!
Os registos críticos que apareceram sobre a actuação do Marquês foram quase sempre tímidos e algo silenciados. 
A nova censura - o politicamente correcto, impede pôr em causa a obra do Marquês em Lisboa, após o Terramoto, ou na reestruturação administrativa ou da universidade, admitindo a crítica sobre a chacina dos Távoras. Os adeptos do Marquês tentam usar a semelhança com as execuções ordenadas por D. João II... sendo óbvio que a comparação é algo absurda. A execução dos Távoras teria melhor paralelo nos métodos da Antiga Roma, ao estender-se a toda a família.

Os agentes do encobrimento histórico parecem apreciar tornar vilões em heróis, e denominar como fracos os regentes mais lúcidos. Dessa forma ignoram os mais sensatos e elogiam os mais cruéis...  ficando assim mais próximos, pelos defeitos, daqueles que colocaram no panteão que inventaram. 

Assim, a maioria dos erros foram passados ao antecessor, D. João V, quiçá o melhor governante da dinastia de Bragança... já que ameaçava colocar Portugal de novo no caminho de potência mundial.
D. João V é criticado por trazer ouro do Brasil... esquecendo que essas remessas pararam pelo total desinteresse do Marquês no Brasil.
Ao Marquês elogia-se a pretensa obra nacional, omitindo o desastre que foi a sua condução do império... foi aliás durante essa pretensa "regência brilhante" que se serviu a Sandwich Havaiana e Australiana aos ingleses.
Se há mérito nalguma actuação será coisa de bastidores... e apenas se justificaria se a ruína nacional fosse necessária para algum bem maior!

Os sucessos de um rei, levam a uma absorção e a um descuido com a sucessão. Era assim habitual um investimento no príncipe seguinte, por aqueles que eram preteridos pelo rei.
Quando D. João V morre, é a rainha (austríaca, Habsburgo) Maria Ana Josefa que vai indicar Sebastião de Carvalho e Melo ao seu filho, D. José.
Este diplomata, antes embaixador na Inglaterra e depois na Áustria, e que D. João V acabara de demitir, aparece num lugar de destaque arranjado pela Rainha Maria Ana de Áustria, que o irá proteger (casando mesmo com uma austríaca). As ligações à maçonaria, essas parecem ocorrer aquando da embaixada em Londres... onde certamente terá privado com cozinheiros e sanduíches.

Porém, atrevemos também a sugerir um plano de longo curso, que estava já a ser testado pelos hábeis Habsburgos. De facto, uma maneira de controlar uma sociedade maçónica, em crescimento acentuado de poder, seria usar essa avidez de poder a serviço da aristocracia implantada. 
D. José I passa assim como figura despercebida, desfrutando das delícias da corte, longe dos assuntos de estado, encarregues a Sebastião de Melo... mas influenciando decisivamente as decisões mais controversas - como a execução dos Távoras. Em troca desses serviços, o Sebastião passa a Conde de Oeiras e depois a Marquês de Pombal. A aristocracia usaria o prestígio como moeda de troca na governação, e poderia descansar... mas a Revolução Francesa alterou um pouco estas contas.

Este plano aristocrata de longo curso seria inteligente... abdicavam das tarefas pesadas de governação, e passavam a desfrutar das vantagens do Reino. As quebras de popularidade passavam para os ministros, que tinham aparente carta-branca, mas que estavam condicionados.
Os Habsburgos austríacos, com Metternich, preferiam a via absolutista, que viam como única solução face à experiência caótica da Revolução Francesa de 1789. Os ingleses, que já tinham uma experiência revolucionária bem anterior, com Cromwell ao invés de Napoleão, preconizavam uma filosofia ainda mais inteligente - a Monarquia Liberal.

A Monarquia Liberal, tornou-se a forma comum de governo nos Séc. XIX e XX, especialmente após as Revoluções de 1848, e ainda hoje perdura na Europa. A legitimidade do Rei não era afectada, mas o governo passava a ser opção por eleição. No fundo a responsabilidade da governação visível passava para o próprio povo, por resultado de uma pretensa eleição, mas estes governantes estavam depois condicionados a todo o jogo que se passava nos bastidores, nas armadilhas cortesãs.
A população era co-responsabilizada nos erros governativos dos ambiciosos líderes que elegia, e a cabeça coroada passava incólume pelos pingos da chuva.

A experiência mais decisiva ocorreria com as Repúblicas... mesmo com a destituição do Rei e das Cortes, os poderes instituídos seriam corrompidos pelas ligações ancestrais das famílias, e na prática esses elementos aristocratas voltavam a concentrar o poder sob forma camuflada. 
Aparentemente partilhavam o poder com uma nova parte da população burguesa, que subia nos degraus do poder, mas esses novos protagonistas eram seduzíveis a honrarias e festas, e poderiam ser manipulados em jogos cortesãos, onde a aristocracia reinava sem concorrência.
Talvez a última experiência, destinada a erradicar essa submersa influência aristocrática nas Repúblicas, terá sido tentada na Revolução Russa de 1917. No entanto, é fácil perceber como os jogos de bastidores assumiam, mesmo assim, contornos tenebrosos... a luta de poder na antiga URSS acabou por substituir um sistema oligárquico por outro - em que a aristocracia passou a ser o "partido único". 
Essa experiência russa foi fechada, expondo fantasmas semelhantes aos fantasmas do Reino de Terror, que se seguiu à Revolução Francesa. Os escritores da História decidiam assim fechar definitivamente a hipótese comunista, usando dos habituais reflexos pavlovianos - a palavra comunista ganharia um tom pejorativo automático.


Abalos Lisboetas antes de 1755
Voltamos a Sebastião, Marquês de Pombal, e aos sentidos abalos!
Um dos méritos propagandeados ao Marquês é a reconstrução de Lisboa após o Terramoto de 1755.
Isto é colocado como se Lisboa não tivesse passado antes por dezenas de terramotos severos.

Em 26 de Janeiro de 1531 estima-se que tenham morrido 30 mil pessoas em Lisboa, número até maior ao avançado para o de 1755. 
Também nessa altura foi feito um bairro com estrutura quadricular que sobreviveu - o Bairro Alto (ver p.ex. aqui). Assim, a proclamada "quadrícula inovadora" nas ruas da baixa lisboeta, pensada pelo Marquês, já tinha tido um precedente com 250 anos, durante o reinado de D. João III.

Vejamos então um registo de sismos em Lisboa (usamos os adjectivos de Pinho Leal):
1009 - grande terramoto que destroi "mais ou menos" Lisboa.
1117 - idem
1146 - ibidem
1290 - fortíssimo terramoto aluíram muitas casas de Lisboa.
1344 - idem
1531 - espantoso terramoto que dura 50 dias! Arruinados alguns templos e 1500 casas cairam. 
1551 - terramoto medonho destruiu 200 casas em Lisboa
1575 - violento terramoto sem vítimas
1598 - violento terramoto sem vítimas
1699 - violento tremor de terra de 3 dias com alguns intervalos 
1724 - fortíssimo tremor de terra, não causou desgraças 


O abalo sísmico de 1531, tendo até levado à construção do Bairro "Alto", parece ter um registo histórico mais devastador que o de 1755...
Porém o abalo do Marquês teve várias componentes - especialmente posteriores.

Selecção Herculana
O terramoto do Marquês e assessores foi de tal forma potente que parece ter feito cair as Torres de Hércules em Cadiz (construção que tinha aguentado milénios de terramotos), apesar de ter poupado o Aqueduto das Águas Livres em Lisboa, ou o Convento de Mafra.
As ditas Torres de Hércules tiveram ainda uma queda diferente em Coimbra, onde a Torre Pentagonal tombou pela outra proeza pombalina - a universidade!
Não terá sido a Universidade de Évora, que Pombal decidiu fechar, nem o Observatório Astronómico, que apenas serviu de pretexto para a destruição da Torre de Hércules. O que Pombal fez foi importar génios... ou melhor arrumar o génio nacional na prateleira e contratar a subsidariedade, pela ideia de que um bom estrangeiro seria sempre melhor! Os textos de autores do Séc. XVIII que ironizam esse estado de coisas são particularmente interessantes para se perceber quando se começou a venerar a importação externa de valores, e a consolidar a dívida subjacente, transformando os valores nacionais em resignados, menosprezados, e desconsiderados subsidiários de uma inteligentia externa.

Como era Lisboa antes do Terramoto?
Apesar de serem pouco vistas imagens de Lisboa anteriores ao Terramoto de 1755, sobreviveram algumas bem ilustrativas, onde se percebe que a "grande reconstrução", ou a "grande alteração", é essencialmente manobra publicitária.
Pormenor da zona do Palácio do Rei,  onde depois do Terramoto será o Terreiro do Paço.
Estampa na Biblioteca Nacional de Maillet (impresso em Paris, 1760)


Estampa na Biblioteca Nacional de Clara Black (início Séc. XVIII)

Podemos ver em particular que o posterior Terreiro do Paço e os edifícios pouco mais são do que a adaptação do que já era o Palácio do Rei. Aliás, o que se notará mais é que a zona do Paço terá até perdido alguma qualidade estética, a avaliar pelas estampas. Se havia caos urbanístico na zona interna até ao Rossio, pois isso é algo que não se consegue avaliar nestas imagens, e não seria no Bairro Alto. Mas há outras que mostram pelo menos uma grande rua com clara vista do Tejo, e podem ainda ver-se edifícios com altura de 5 andares.

Em resumo, para além da duplicação dos torreões no Paço, não se vislumbra propriamente uma "grande" alteração face ao que era Lisboa antes do terramoto.

A destruição de Lisboa, não terminou no Terramoto, e em larga parte uma das maiores perdas resultou do incêndio, que também destruiu os Arquivos da Torre do Tombo. Estes acidentes, ditos fortuitos, têm a particular selectividade de destruir a memória histórica, de forma quase definitiva. Este caso, ou a Biblioteca de Alexandria, são alguns dos muitos exemplos ao longo dos séculos (e.g. Grande Incêndio de Londres, ao tempo da nossa Rainha Catarina)...

Quanto à contenção do desastre, conhece-se a forma brutal de repressão que se processou após o terramoto, causando mais vítimas do que o próprio acidente (isso é habitualmente ilustrado nesta imagem).

Processo dos Távoras - 1758
Ainda no rescaldo do acontecimento, e devido à sensação de "castigo divino", a insatisfação sobre a actuação do Marquês acentua-se, mas irá terminar de forma contundente.
Três anos depois do terramoto, dá-se o incidente da "tentativa de assassinato" do Rei, que resulta no chamado Processo dos Távoras, sendo implicados o Duque de Aveiro, o Conde da Atouguia e toda a família dos Távoras, entre outros.
Processo dos Távoras
Teatro da Execução (estampa na Bibl. Nac., anónima, c. 1759-60)

Já aqui falámos sobre a particularidade dos mortos envolvidos no processo serem das mesmas Casas que estiveram até à morte ao lado de D. Sebastião em Alcácer-Quibir, e até de 1578 e 1758 terem os mesmos dígitos.
O que choca mais neste processo é a brutalidade envolvida nas execuções públicas. Talvez não fosse novidade, dado o tratamento de tortura e esquartejamento que Louis XV decidiu implementar a Robert Damiens em 1757... a novidade aqui foi a sua aplicação a uma casa aristocrata rival.
Convirá ler Pinho Leal sobre o Processo, num apontamento que tem sobre o sítio "Chão Salgado"... nunca é demais saber de que matéria são feitos os heróis que estão no pedestal mais alto da capital lisboeta.

Guerra Fantástica
Portugal participou na Guerra dos Sete Anos, ao lado da Inglaterra...
... e assim, ao contrário do que é habitualmente publicitado, os conflitos com Espanha não terminaram nas vitórias da Restauração. Houve a Guerra Fantástica.
A Espanha, aliada da França, entrou em Portugal, e ameaçou a invasão em 1762, durante a regência do Marquês... o exército português tinha sido reduzido desde 1754 a metade dos efectivos - manda dizer a publicidade instituída - que por culpa de D. João V - que apesar de este ter morrido em 1750, tinha costas largas para aguentar com esta culpa adicional, mesmo morto. Lê-se isto na wikipedia:


       "O Exército Português, abandonado desde a doença de D. João V, não tinha oficiais preparados para a guerra — fardamento, soldados e armas eram praticamente inexistentes."

Ainda que isso fosse verdade, será que a ausência de espírito crítico é tal que não se percebe que a doença de D. João V ocorreu em 1750... e que nos 12 anos seguintes as responsabilidades sobre o exército estariam a cargo de D. José e do ministro Pombal.

Há ilustrações dessas batalhas, que levaram a fortes derrotas das forças portuguesas.
"Guerra Fantástica"
O espanhol Conde de Aranda invade Portugal em 1762, durante a regência pombalina,
conquistando Salvaterra de Magos e ameaçando Lisboa.

A solução pombalina recai mais uma vez na ajuda externa, pela organização militar do Conde de Lippe, aparentando quase que já não poderia ter sob controlo português um exército forte - aconteceu depois o mesmo com a ajuda de Wellington - as tropas portuguesas nunca parecem ter ousado responder sem haver direcção externa. De forma semelhante, mesmo a presença do Duque de Schomberg, durante a Guerra da Restauração nunca foi bem vista pelos nacionais (nomeadamente o Marquês de Marialva), e terá contribuído mais para a deposição de Afonso VI em favor de Pedro II, ou para colher os louros de da vitória portuguesa em Montes-Claros.

Esta "Guerra Fantástica" evidencia a acentuada degradação nacional após D. João V.
Dir-se-à uma decadência quase propositada, conduzida pelo Marquês de Pombal, e pelas forças infiltradas de traição nacional que continuam a promover a incompetência, de forma a suprimir qualquer renascimento organizado.
Foi essa a principal herança pombalina!

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publicado às 22:13


Portugal, 1917... não é novidade que, ao longo dos séculos, muitos foram aqueles que tentaram publicar, para transmitir à população, um conhecimento que parecia ser destinado à ocultação.
Calisto encontrou uma preciosidade de J. E. dos Santos e Silva, então engenheiro da Direcção Geral das Colónias, que procurava compilar conhecimento que se afastava "dos modernos historiadores portugueses" que faziam surgir "quase espontaneamente" a nossa História com D. Afonso Henriques (cito o autor).

Para além de no excelente material compilado por Calisto ficar evidenciada uma outra estória sobre as Colunas e Torres de Hérculesparece ainda clara uma ligação Egiptânia e não só... temos uma confirmação para a existência de um Canal do Suez na Antiguidade.

Não podemos deixar de notar que Estrabo dá a entender que os Pilares/Colunas seriam no seu tempo as torres que estavam em Cadiz:
... while the Iberians and Libyans place them at Gades, alleging that 
there is nothing at all resembling pillars close by the strait.

pelo que talvez haja uma confusão no texto com essas torres, que já teriam desaparecido por altura das invasões napoleónicas, fazia mais de um século quando Santos e Silva escreveu o livro (em vez de livro apetece aqui dizer balanço de balança, se libro vier de libra).


------------------- email de Calisto Barbuda  -------------------

Quando há pouco tempo andava à procura de informações sobre os Coni/Cynetes/Cunetes, deparei-me com este livro:
Episódios e Tradições relativos à História Antiga da LusitaniaJ. E. dos Santos e Silva (Lisboa, 1917) 
foi aqui que encontrei umas informações sobre Hércules que achei curiosas, pondo de parte algumas coisas que não percebi como por exemplo ter o nome de Rhamsés II, e a data 1600, quando Sesóstris I reinou 1908-1875 a.c.

Segundo o autor, sobre a vida de Sesóstris I (Rhamsés II), diz que os episódios relatados podem ser relativos a vários dos seus Reis 
“(...) mas que a imaginação e vaidade nacional reuniram n’um só. Supõem que é o Sesác dos livros sagrados; que viveu muito antes da guerra de Troya, no tempo dos Juízes de Israel; que é o Setósis de Maneton; o Egypto, irmão de Danáo; Typhon da Mythologia; o Pharaó submergido nas ondas do Mar Vermelho, quando ia em perseguição de Moysés; e por último que era ou foi chamado o Osíris Egypcio.
Heródoto coloca este rei um século antes da guerra de Tróia (1300 a 1100 A.C.), Cantù coloca em 1600, época em que a península Ibérica foi reinada por Geryon, e como o Sesóstris foi chamado de Osiris, parece lógico que o libertador da Península tenha sido ele.

A data de Heródoto, segundo o autor do livro, coincidiria com a invasão dos Pelasgos na Península, mas refere também que antes destas invasões podem ter havido outras, por outro lado entre os historiadores tem havido confusões chamando Pelasgos aos Tyrrhenos, por isto será (para o autor) a data que Cantù menciona; ou um século depois, na opinião de Bossuet (ou seja, 1491-1457 a.c.).

O autor continua dizendo que: 
Não há tambêm unidade de opiniões sôbre se a derrota de Geryon e a sua morte foi simultâneamente com a dos seus três filhos, nem são unânimes os autores em supôr a vinda de Horus distinta da de Osíris. O que é mais seguido e comentado nos livros antigos é a invasão da Península pelo Hércules Egypcio, isto é, por um rei conquistador d’aquela nacionalidade, cujos feitos o fizeram comparar com o deus Hércules, e que ficou conhecido por êste nome. Considerando, portanto, que a existência de Osíris e Horus, a ser verdadeira, teria necessáriamente que remontar-se a uma época muitíssimo anterior à de Geryon, em cujo tempo reinava no Egypto a XVIII dinastia, de que Sesóstris foi um dos últimos reis (1643, antes de Christo), e que a época d’êste rei coincide com a de Geryon, temos que concluir que o Hércules Egypcio, libertador da Ibéria, foi realmente Sesóstris.
Segundo Heródoto, Hércules teve origem no Egipto, de onde Gregos e Fenícios o adoptaram dando esse nome aos seus heróis, assim na Fenícia era Hércules Tyriano ou Melkarth, na Grécia era Hércules Thebano ou Heraklés, na Gália identificaram-no como Ogmios dos Celtas, chamando-lhe Hércules Gaulês, e na Itália também foi introduzido o culto do Hércules Tebano. Toledo e Huesca consagram vitimas a Hércules Endovecélio (ou Endovélico), mas Leite Vasconcelos (Religiões da Luzitânia) diz supor serem falsas as inscrições.
A história dos diferentes Hércules é um conjunto de prodígios, ou antes, é a história de todos aqueles que tiveram o mesmo nome e suportaram os mesmos trabalhos. Tem-se exagerado os sues feitos, reùnindo-os em um só homem e atribuindo-lhe todas as grandes emprêsas de que se ignorava o autor, cobrindo-os assim d’uma notoriedade que os elevava acima da espécie humana (Diodoro Sículo). Comtudo, o que parece averiguado é que um grande conquistador, que supomos ser Sesóstris e não Osíris nem Orus, e a quem se chamou «o Hércules Egypcio», à frente de forte exército d’esta nacionalidade, depois de ter empreendido uma grande peregrinação, ennobrecendo com os seus feitos quasi todo o mundo, veio à Península Ibérica.
O autor continua dizendo que por todas as partes extremas a que ele chegou erigiu colunas simbólicas das suas vitórias com inscrição do seu nome, pátria e a resenha das vitórias obtidas pelo seu exército sobre os povos subjugados, segundo Heródoto só Sesóstris usou a prática de establecer estas colunas, encontrando-se no tempo de Heródoto as de Scythia e da Thrácia, 
“Não será, pois, para estranhar e talvez seja esta a verdade histórica que as famosas colunas de Hércules do estreito de Gibráltar, que separa a Península Ibérica da África e que a fantasia transformou nos montes Calpe e Abyla, sejam as colunas colocadas por Sesóstris em Cádiz quando conquistou a Península e derrotou o rei Geryon.”.
Fala depois da introdução da agricultura na Península por ele, e diz que: 
“Estamos, pois, em presença d’outra grande invasão na Península, constituida pelo povo Egypcio e por todos aqueles que o conquistador arrastou na sua passagem; Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios; os quais, como veremos, prolongaram aqui o seu império por muitos anos, devendo ter deixado forçosamente vestígios da sua passagem na raça peninsular.”
Fala depois dos seus feitos, da abertura do canal do Suez que terminaram no tempo dos primeiros Lagidas (250 a.c.), tendo depois ficado obstruida e tornou-se novamente navegável no tempo de Trajano e Adriano conservando-se até ao séc. VI quando foi novamente obstruido sendo reaberto em 1869.
Para o autor, as lendas de Osiris e Sesóstris são semelhantes, os dois saem do Egipto, conquistam nações bárbaras, estabelecem a ordem social, fomentam a riqueza, etc, sendo “endeusados”, 
“(...) ficando na memória dos povos como um mito de virtudes cuja tradição constitue uma parte das suas crenças religiosas. Estas circunstâncias e o facto de Sesóstris ter sido chamado Osíris confirmam a suposição de ser aquele rei egypcio o Hércules que veio à Península e não o verdadeiro Osíris que, se existiu, foi em tempos muito mais remotos.”
Mais à frente diz: 
Há contudo uma consideração que, se bem não altera fundamentalmente a tradição, modifica-a na forma como os acontecimentos se teriam dado. Geryon, conhecido pelo monstro de três cabeças, por ter três filhos ou três exércitos, podia ter sido derrotado em Tarifa, na primeira invasão dos Egypcios, juntamente com os filhos, ou em três batalhas dadas em vários pontos da Península; e, n’êste caso, fica posta de parte a vinda de Horos para castigar os filhos de Geryon. O que porém, importa verdadeiramente é o facto, que parece fóra de dúvida, de ter-se dado na Península uma grande invasão egypcia acompanhada de Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios, catorze a dezasseis séculos antes de Christo.
Quando o autor fala dos Sírios diz o seguinte: 
“Carteya, diz Strabão, mantinha grande comércio com os Iberos e foi tomada por Amilcar, carthaginês, no ano de 236 da fundação de Roma. Era a povoação mais importante junto ao Estreito de Gibráltar (fretum Herculeum ou Gaditano), que para os antigos estava situado entre o cabo de Espartel (Ampelusa), junto ao monte Almina (Abyla), termo de Ceuta e o promontorium Junonis, antigo monte Calpe ao noroeste da ponta d’Europa, na montanha de Gibráltar. Êstes montes, Abyla e Calpe, eram as colunas de Hércules da Mythologia; as verdadeiras e reais deviam porêm, ser as de Sesóstris, edificadas em Cádiz.”
Sobre as colunas de Hércules o autor diz o seguinte: 
As colunas de Hércules passavam por ser antigamente, as portas do mundo. Êste monumento substiu até 1145. Constava de uma estrutura de pilares de pedra sobrepostos, formando uma espécie de torre levantada na praia ou já no mar. Cada pilar tinha quinze côvados de circunferência e dez de altura. O conjunto, que media de 60 a 100 côvados de alto, estava ligado sólidamente por barras de ferro chumbadas. Sôbre esta tôrre, em que todavia não existiam portas nem câmaras interiores, levantava-se uma estátua de bronze doirado, de Melkarth, o Hércules phenício, da altura de 6 côvados, representando o deus sob a figura de um homem barbado, com cinto e manto que lhe descia até ao joelho. Com a mão esquerda apanhava as dobras do manto contra o peito, e no braço direito estendido, a mão segurava uma chave ao mesmo tempo que o indicador apontava para o Estreito. O facto, porêm, de existir sôbre as colunas a estátua de Melkarth, não significa que elas fôssem construidas pelos Phenícios, mas unicamente a sua consagração àquele deus, efectuada posteriormente por aqueles povos invasores.

            Os Cruzados e os piratas normandos chamavam ao Estreito, Karlsar, ' as águas do homem'; e Isidoro de Beja, no tempo do domínio árabe, atribuia uma significação profética à atitude da dextra de Melkarth: a chave que empunha era o símbolo de que era essa a porta do país; e o dedo, apontando para o Estreito, queria dizer o caminho por onde vieram os exércitos de Muza.

            As colunas de Hércules foram destruídas em 1145 pelo almirante árabe Ali-ibn-Isa-ibn-Maimun, que se sublevára em Cádiz. Corria a tradição que a estátua era de oiro puro e por isso o Árabe a abateu: era doirada, mas ainda assim a douradura produzio 12.000 dinàrs. (Dozy, Histoire et Littérature d’Espagne).”
Só uma última referência em que é dito que 


“(...) outros dão a entender que Espanha quer dizer, terra desconhecida e afastada. Em língua euskara (vascongada) Espanha significa extremidade, isto é, extremo do mundo conhecido, convicção antiga que deu origem ao  non plus ultra que dizem estava escrito nas colunas d’Hércules, e que se vê reproduzido nas moedas peninsulares.”
No fim de ler isto lembrei-me da questão levantada pela Maria da Fonte sobre o haplogrupo de Tutankhamun ser da Península Ibérica...

Estátuas do templo de Melkarth em Cadiz...
cuja pose parece ser tipicamente egípcia. 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:31


Portugal, 1917... não é novidade que, ao longo dos séculos, muitos foram aqueles que tentaram publicar, para transmitir à população, um conhecimento que parecia ser destinado à ocultação.
Calisto encontrou uma preciosidade de J. E. dos Santos e Silva, então engenheiro da Direcção Geral das Colónias, que procurava compilar conhecimento que se afastava "dos modernos historiadores portugueses" que faziam surgir "quase espontaneamente" a nossa História com D. Afonso Henriques (cito o autor).

Para além de no excelente material compilado por Calisto ficar evidenciada uma outra estória sobre as Colunas e Torres de Hérculesparece ainda clara uma ligação Egiptânia e não só... temos uma confirmação para a existência de um Canal do Suez na Antiguidade.

Não podemos deixar de notar que Estrabo dá a entender que os Pilares/Colunas seriam no seu tempo as torres que estavam em Cadiz:
... while the Iberians and Libyans place them at Gades, alleging that 
there is nothing at all resembling pillars close by the strait.

pelo que talvez haja uma confusão no texto com essas torres, que já teriam desaparecido por altura das invasões napoleónicas, fazia mais de um século quando Santos e Silva escreveu o livro (em vez de livro apetece aqui dizer balanço de balança, se libro vier de libra).


------------------- email de Calisto Barbuda  -------------------

Quando há pouco tempo andava à procura de informações sobre os Coni/Cynetes/Cunetes, deparei-me com este livro:
Episódios e Tradições relativos à História Antiga da LusitaniaJ. E. dos Santos e Silva (Lisboa, 1917) 
foi aqui que encontrei umas informações sobre Hércules que achei curiosas, pondo de parte algumas coisas que não percebi como por exemplo ter o nome de Rhamsés II, e a data 1600, quando Sesóstris I reinou 1908-1875 a.c.

Segundo o autor, sobre a vida de Sesóstris I (Rhamsés II), diz que os episódios relatados podem ser relativos a vários dos seus Reis 
“(...) mas que a imaginação e vaidade nacional reuniram n’um só. Supõem que é o Sesác dos livros sagrados; que viveu muito antes da guerra de Troya, no tempo dos Juízes de Israel; que é o Setósis de Maneton; o Egypto, irmão de Danáo; Typhon da Mythologia; o Pharaó submergido nas ondas do Mar Vermelho, quando ia em perseguição de Moysés; e por último que era ou foi chamado o Osíris Egypcio.
Heródoto coloca este rei um século antes da guerra de Tróia (1300 a 1100 A.C.), Cantù coloca em 1600, época em que a península Ibérica foi reinada por Geryon, e como o Sesóstris foi chamado de Osiris, parece lógico que o libertador da Península tenha sido ele.

A data de Heródoto, segundo o autor do livro, coincidiria com a invasão dos Pelasgos na Península, mas refere também que antes destas invasões podem ter havido outras, por outro lado entre os historiadores tem havido confusões chamando Pelasgos aos Tyrrhenos, por isto será (para o autor) a data que Cantù menciona; ou um século depois, na opinião de Bossuet (ou seja, 1491-1457 a.c.).

O autor continua dizendo que: 
Não há tambêm unidade de opiniões sôbre se a derrota de Geryon e a sua morte foi simultâneamente com a dos seus três filhos, nem são unânimes os autores em supôr a vinda de Horus distinta da de Osíris. O que é mais seguido e comentado nos livros antigos é a invasão da Península pelo Hércules Egypcio, isto é, por um rei conquistador d’aquela nacionalidade, cujos feitos o fizeram comparar com o deus Hércules, e que ficou conhecido por êste nome. Considerando, portanto, que a existência de Osíris e Horus, a ser verdadeira, teria necessáriamente que remontar-se a uma época muitíssimo anterior à de Geryon, em cujo tempo reinava no Egypto a XVIII dinastia, de que Sesóstris foi um dos últimos reis (1643, antes de Christo), e que a época d’êste rei coincide com a de Geryon, temos que concluir que o Hércules Egypcio, libertador da Ibéria, foi realmente Sesóstris.
Segundo Heródoto, Hércules teve origem no Egipto, de onde Gregos e Fenícios o adoptaram dando esse nome aos seus heróis, assim na Fenícia era Hércules Tyriano ou Melkarth, na Grécia era Hércules Thebano ou Heraklés, na Gália identificaram-no como Ogmios dos Celtas, chamando-lhe Hércules Gaulês, e na Itália também foi introduzido o culto do Hércules Tebano. Toledo e Huesca consagram vitimas a Hércules Endovecélio (ou Endovélico), mas Leite Vasconcelos (Religiões da Luzitânia) diz supor serem falsas as inscrições.
A história dos diferentes Hércules é um conjunto de prodígios, ou antes, é a história de todos aqueles que tiveram o mesmo nome e suportaram os mesmos trabalhos. Tem-se exagerado os sues feitos, reùnindo-os em um só homem e atribuindo-lhe todas as grandes emprêsas de que se ignorava o autor, cobrindo-os assim d’uma notoriedade que os elevava acima da espécie humana (Diodoro Sículo). Comtudo, o que parece averiguado é que um grande conquistador, que supomos ser Sesóstris e não Osíris nem Orus, e a quem se chamou «o Hércules Egypcio», à frente de forte exército d’esta nacionalidade, depois de ter empreendido uma grande peregrinação, ennobrecendo com os seus feitos quasi todo o mundo, veio à Península Ibérica.
O autor continua dizendo que por todas as partes extremas a que ele chegou erigiu colunas simbólicas das suas vitórias com inscrição do seu nome, pátria e a resenha das vitórias obtidas pelo seu exército sobre os povos subjugados, segundo Heródoto só Sesóstris usou a prática de establecer estas colunas, encontrando-se no tempo de Heródoto as de Scythia e da Thrácia, 
“Não será, pois, para estranhar e talvez seja esta a verdade histórica que as famosas colunas de Hércules do estreito de Gibráltar, que separa a Península Ibérica da África e que a fantasia transformou nos montes Calpe e Abyla, sejam as colunas colocadas por Sesóstris em Cádiz quando conquistou a Península e derrotou o rei Geryon.”.
Fala depois da introdução da agricultura na Península por ele, e diz que: 
“Estamos, pois, em presença d’outra grande invasão na Península, constituida pelo povo Egypcio e por todos aqueles que o conquistador arrastou na sua passagem; Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios; os quais, como veremos, prolongaram aqui o seu império por muitos anos, devendo ter deixado forçosamente vestígios da sua passagem na raça peninsular.”
Fala depois dos seus feitos, da abertura do canal do Suez que terminaram no tempo dos primeiros Lagidas (250 a.c.), tendo depois ficado obstruida e tornou-se novamente navegável no tempo de Trajano e Adriano conservando-se até ao séc. VI quando foi novamente obstruido sendo reaberto em 1869.
Para o autor, as lendas de Osiris e Sesóstris são semelhantes, os dois saem do Egipto, conquistam nações bárbaras, estabelecem a ordem social, fomentam a riqueza, etc, sendo “endeusados”, 
“(...) ficando na memória dos povos como um mito de virtudes cuja tradição constitue uma parte das suas crenças religiosas. Estas circunstâncias e o facto de Sesóstris ter sido chamado Osíris confirmam a suposição de ser aquele rei egypcio o Hércules que veio à Península e não o verdadeiro Osíris que, se existiu, foi em tempos muito mais remotos.”
Mais à frente diz: 
Há contudo uma consideração que, se bem não altera fundamentalmente a tradição, modifica-a na forma como os acontecimentos se teriam dado. Geryon, conhecido pelo monstro de três cabeças, por ter três filhos ou três exércitos, podia ter sido derrotado em Tarifa, na primeira invasão dos Egypcios, juntamente com os filhos, ou em três batalhas dadas em vários pontos da Península; e, n’êste caso, fica posta de parte a vinda de Horos para castigar os filhos de Geryon. O que porém, importa verdadeiramente é o facto, que parece fóra de dúvida, de ter-se dado na Península uma grande invasão egypcia acompanhada de Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios, catorze a dezasseis séculos antes de Christo.
Quando o autor fala dos Sírios diz o seguinte: 
“Carteya, diz Strabão, mantinha grande comércio com os Iberos e foi tomada por Amilcar, carthaginês, no ano de 236 da fundação de Roma. Era a povoação mais importante junto ao Estreito de Gibráltar (fretum Herculeum ou Gaditano), que para os antigos estava situado entre o cabo de Espartel (Ampelusa), junto ao monte Almina (Abyla), termo de Ceuta e o promontorium Junonis, antigo monte Calpe ao noroeste da ponta d’Europa, na montanha de Gibráltar. Êstes montes, Abyla e Calpe, eram as colunas de Hércules da Mythologia; as verdadeiras e reais deviam porêm, ser as de Sesóstris, edificadas em Cádiz.”
Sobre as colunas de Hércules o autor diz o seguinte: 
As colunas de Hércules passavam por ser antigamente, as portas do mundo. Êste monumento substiu até 1145. Constava de uma estrutura de pilares de pedra sobrepostos, formando uma espécie de torre levantada na praia ou já no mar. Cada pilar tinha quinze côvados de circunferência e dez de altura. O conjunto, que media de 60 a 100 côvados de alto, estava ligado sólidamente por barras de ferro chumbadas. Sôbre esta tôrre, em que todavia não existiam portas nem câmaras interiores, levantava-se uma estátua de bronze doirado, de Melkarth, o Hércules phenício, da altura de 6 côvados, representando o deus sob a figura de um homem barbado, com cinto e manto que lhe descia até ao joelho. Com a mão esquerda apanhava as dobras do manto contra o peito, e no braço direito estendido, a mão segurava uma chave ao mesmo tempo que o indicador apontava para o Estreito. O facto, porêm, de existir sôbre as colunas a estátua de Melkarth, não significa que elas fôssem construidas pelos Phenícios, mas unicamente a sua consagração àquele deus, efectuada posteriormente por aqueles povos invasores.

            Os Cruzados e os piratas normandos chamavam ao Estreito, Karlsar, ' as águas do homem'; e Isidoro de Beja, no tempo do domínio árabe, atribuia uma significação profética à atitude da dextra de Melkarth: a chave que empunha era o símbolo de que era essa a porta do país; e o dedo, apontando para o Estreito, queria dizer o caminho por onde vieram os exércitos de Muza.

            As colunas de Hércules foram destruídas em 1145 pelo almirante árabe Ali-ibn-Isa-ibn-Maimun, que se sublevára em Cádiz. Corria a tradição que a estátua era de oiro puro e por isso o Árabe a abateu: era doirada, mas ainda assim a douradura produzio 12.000 dinàrs. (Dozy, Histoire et Littérature d’Espagne).”
Só uma última referência em que é dito que 


“(...) outros dão a entender que Espanha quer dizer, terra desconhecida e afastada. Em língua euskara (vascongada) Espanha significa extremidade, isto é, extremo do mundo conhecido, convicção antiga que deu origem ao  non plus ultra que dizem estava escrito nas colunas d’Hércules, e que se vê reproduzido nas moedas peninsulares.”
No fim de ler isto lembrei-me da questão levantada pela Maria da Fonte sobre o haplogrupo de Tutankhamun ser da Península Ibérica...

Estátuas do templo de Melkarth em Cadiz...
cuja pose parece ser tipicamente egípcia. 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:31


Portugal, 1917... não é novidade que, ao longo dos séculos, muitos foram aqueles que tentaram publicar, para transmitir à população, um conhecimento que parecia ser destinado à ocultação.
Calisto encontrou uma preciosidade de J. E. dos Santos e Silva, então engenheiro da Direcção Geral das Colónias, que procurava compilar conhecimento que se afastava "dos modernos historiadores portugueses" que faziam surgir "quase espontaneamente" a nossa História com D. Afonso Henriques (cito o autor).

Para além de no excelente material compilado por Calisto ficar evidenciada uma outra estória sobre as Colunas e Torres de Hérculesparece ainda clara uma ligação Egiptânia e não só... temos uma confirmação para a existência de um Canal do Suez na Antiguidade.

Não podemos deixar de notar que Estrabo dá a entender que os Pilares/Colunas seriam no seu tempo as torres que estavam em Cadiz:
... while the Iberians and Libyans place them at Gades, alleging that 
there is nothing at all resembling pillars close by the strait.

pelo que talvez haja uma confusão no texto com essas torres, que já teriam desaparecido por altura das invasões napoleónicas, fazia mais de um século quando Santos e Silva escreveu o livro (em vez de livro apetece aqui dizer balanço de balança, se libro vier de libra).


------------------- email de Calisto Barbuda  -------------------

Quando há pouco tempo andava à procura de informações sobre os Coni/Cynetes/Cunetes, deparei-me com este livro:
Episódios e Tradições relativos à História Antiga da LusitaniaJ. E. dos Santos e Silva (Lisboa, 1917) 
foi aqui que encontrei umas informações sobre Hércules que achei curiosas, pondo de parte algumas coisas que não percebi como por exemplo ter o nome de Rhamsés II, e a data 1600, quando Sesóstris I reinou 1908-1875 a.c.

Segundo o autor, sobre a vida de Sesóstris I (Rhamsés II), diz que os episódios relatados podem ser relativos a vários dos seus Reis 
“(...) mas que a imaginação e vaidade nacional reuniram n’um só. Supõem que é o Sesác dos livros sagrados; que viveu muito antes da guerra de Troya, no tempo dos Juízes de Israel; que é o Setósis de Maneton; o Egypto, irmão de Danáo; Typhon da Mythologia; o Pharaó submergido nas ondas do Mar Vermelho, quando ia em perseguição de Moysés; e por último que era ou foi chamado o Osíris Egypcio.
Heródoto coloca este rei um século antes da guerra de Tróia (1300 a 1100 A.C.), Cantù coloca em 1600, época em que a península Ibérica foi reinada por Geryon, e como o Sesóstris foi chamado de Osiris, parece lógico que o libertador da Península tenha sido ele.

A data de Heródoto, segundo o autor do livro, coincidiria com a invasão dos Pelasgos na Península, mas refere também que antes destas invasões podem ter havido outras, por outro lado entre os historiadores tem havido confusões chamando Pelasgos aos Tyrrhenos, por isto será (para o autor) a data que Cantù menciona; ou um século depois, na opinião de Bossuet (ou seja, 1491-1457 a.c.).

O autor continua dizendo que: 
Não há tambêm unidade de opiniões sôbre se a derrota de Geryon e a sua morte foi simultâneamente com a dos seus três filhos, nem são unânimes os autores em supôr a vinda de Horus distinta da de Osíris. O que é mais seguido e comentado nos livros antigos é a invasão da Península pelo Hércules Egypcio, isto é, por um rei conquistador d’aquela nacionalidade, cujos feitos o fizeram comparar com o deus Hércules, e que ficou conhecido por êste nome. Considerando, portanto, que a existência de Osíris e Horus, a ser verdadeira, teria necessáriamente que remontar-se a uma época muitíssimo anterior à de Geryon, em cujo tempo reinava no Egypto a XVIII dinastia, de que Sesóstris foi um dos últimos reis (1643, antes de Christo), e que a época d’êste rei coincide com a de Geryon, temos que concluir que o Hércules Egypcio, libertador da Ibéria, foi realmente Sesóstris.
Segundo Heródoto, Hércules teve origem no Egipto, de onde Gregos e Fenícios o adoptaram dando esse nome aos seus heróis, assim na Fenícia era Hércules Tyriano ou Melkarth, na Grécia era Hércules Thebano ou Heraklés, na Gália identificaram-no como Ogmios dos Celtas, chamando-lhe Hércules Gaulês, e na Itália também foi introduzido o culto do Hércules Tebano. Toledo e Huesca consagram vitimas a Hércules Endovecélio (ou Endovélico), mas Leite Vasconcelos (Religiões da Luzitânia) diz supor serem falsas as inscrições.
A história dos diferentes Hércules é um conjunto de prodígios, ou antes, é a história de todos aqueles que tiveram o mesmo nome e suportaram os mesmos trabalhos. Tem-se exagerado os sues feitos, reùnindo-os em um só homem e atribuindo-lhe todas as grandes emprêsas de que se ignorava o autor, cobrindo-os assim d’uma notoriedade que os elevava acima da espécie humana (Diodoro Sículo). Comtudo, o que parece averiguado é que um grande conquistador, que supomos ser Sesóstris e não Osíris nem Orus, e a quem se chamou «o Hércules Egypcio», à frente de forte exército d’esta nacionalidade, depois de ter empreendido uma grande peregrinação, ennobrecendo com os seus feitos quasi todo o mundo, veio à Península Ibérica.
O autor continua dizendo que por todas as partes extremas a que ele chegou erigiu colunas simbólicas das suas vitórias com inscrição do seu nome, pátria e a resenha das vitórias obtidas pelo seu exército sobre os povos subjugados, segundo Heródoto só Sesóstris usou a prática de establecer estas colunas, encontrando-se no tempo de Heródoto as de Scythia e da Thrácia, 
“Não será, pois, para estranhar e talvez seja esta a verdade histórica que as famosas colunas de Hércules do estreito de Gibráltar, que separa a Península Ibérica da África e que a fantasia transformou nos montes Calpe e Abyla, sejam as colunas colocadas por Sesóstris em Cádiz quando conquistou a Península e derrotou o rei Geryon.”.
Fala depois da introdução da agricultura na Península por ele, e diz que: 
“Estamos, pois, em presença d’outra grande invasão na Península, constituida pelo povo Egypcio e por todos aqueles que o conquistador arrastou na sua passagem; Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios; os quais, como veremos, prolongaram aqui o seu império por muitos anos, devendo ter deixado forçosamente vestígios da sua passagem na raça peninsular.”
Fala depois dos seus feitos, da abertura do canal do Suez que terminaram no tempo dos primeiros Lagidas (250 a.c.), tendo depois ficado obstruida e tornou-se novamente navegável no tempo de Trajano e Adriano conservando-se até ao séc. VI quando foi novamente obstruido sendo reaberto em 1869.
Para o autor, as lendas de Osiris e Sesóstris são semelhantes, os dois saem do Egipto, conquistam nações bárbaras, estabelecem a ordem social, fomentam a riqueza, etc, sendo “endeusados”, 
“(...) ficando na memória dos povos como um mito de virtudes cuja tradição constitue uma parte das suas crenças religiosas. Estas circunstâncias e o facto de Sesóstris ter sido chamado Osíris confirmam a suposição de ser aquele rei egypcio o Hércules que veio à Península e não o verdadeiro Osíris que, se existiu, foi em tempos muito mais remotos.”
Mais à frente diz: 
Há contudo uma consideração que, se bem não altera fundamentalmente a tradição, modifica-a na forma como os acontecimentos se teriam dado. Geryon, conhecido pelo monstro de três cabeças, por ter três filhos ou três exércitos, podia ter sido derrotado em Tarifa, na primeira invasão dos Egypcios, juntamente com os filhos, ou em três batalhas dadas em vários pontos da Península; e, n’êste caso, fica posta de parte a vinda de Horos para castigar os filhos de Geryon. O que porém, importa verdadeiramente é o facto, que parece fóra de dúvida, de ter-se dado na Península uma grande invasão egypcia acompanhada de Ethiopes, Assyrios, Persas, Scythas e Thrácios, catorze a dezasseis séculos antes de Christo.
Quando o autor fala dos Sírios diz o seguinte: 
“Carteya, diz Strabão, mantinha grande comércio com os Iberos e foi tomada por Amilcar, carthaginês, no ano de 236 da fundação de Roma. Era a povoação mais importante junto ao Estreito de Gibráltar (fretum Herculeum ou Gaditano), que para os antigos estava situado entre o cabo de Espartel (Ampelusa), junto ao monte Almina (Abyla), termo de Ceuta e o promontorium Junonis, antigo monte Calpe ao noroeste da ponta d’Europa, na montanha de Gibráltar. Êstes montes, Abyla e Calpe, eram as colunas de Hércules da Mythologia; as verdadeiras e reais deviam porêm, ser as de Sesóstris, edificadas em Cádiz.”
Sobre as colunas de Hércules o autor diz o seguinte: 
As colunas de Hércules passavam por ser antigamente, as portas do mundo. Êste monumento substiu até 1145. Constava de uma estrutura de pilares de pedra sobrepostos, formando uma espécie de torre levantada na praia ou já no mar. Cada pilar tinha quinze côvados de circunferência e dez de altura. O conjunto, que media de 60 a 100 côvados de alto, estava ligado sólidamente por barras de ferro chumbadas. Sôbre esta tôrre, em que todavia não existiam portas nem câmaras interiores, levantava-se uma estátua de bronze doirado, de Melkarth, o Hércules phenício, da altura de 6 côvados, representando o deus sob a figura de um homem barbado, com cinto e manto que lhe descia até ao joelho. Com a mão esquerda apanhava as dobras do manto contra o peito, e no braço direito estendido, a mão segurava uma chave ao mesmo tempo que o indicador apontava para o Estreito. O facto, porêm, de existir sôbre as colunas a estátua de Melkarth, não significa que elas fôssem construidas pelos Phenícios, mas unicamente a sua consagração àquele deus, efectuada posteriormente por aqueles povos invasores.

            Os Cruzados e os piratas normandos chamavam ao Estreito, Karlsar, ' as águas do homem'; e Isidoro de Beja, no tempo do domínio árabe, atribuia uma significação profética à atitude da dextra de Melkarth: a chave que empunha era o símbolo de que era essa a porta do país; e o dedo, apontando para o Estreito, queria dizer o caminho por onde vieram os exércitos de Muza.

            As colunas de Hércules foram destruídas em 1145 pelo almirante árabe Ali-ibn-Isa-ibn-Maimun, que se sublevára em Cádiz. Corria a tradição que a estátua era de oiro puro e por isso o Árabe a abateu: era doirada, mas ainda assim a douradura produzio 12.000 dinàrs. (Dozy, Histoire et Littérature d’Espagne).”
Só uma última referência em que é dito que 


“(...) outros dão a entender que Espanha quer dizer, terra desconhecida e afastada. Em língua euskara (vascongada) Espanha significa extremidade, isto é, extremo do mundo conhecido, convicção antiga que deu origem ao  non plus ultra que dizem estava escrito nas colunas d’Hércules, e que se vê reproduzido nas moedas peninsulares.”
No fim de ler isto lembrei-me da questão levantada pela Maria da Fonte sobre o haplogrupo de Tutankhamun ser da Península Ibérica...

Estátuas do templo de Melkarth em Cadiz...
cuja pose parece ser tipicamente egípcia. 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 22:31

As Colunas de Hércules foram um ponto marcante, colocado como referência na maioria dos textos da Antiguidade. O estatuto lendário de Hércules acabou por identificar essas colunas com os montes situados de um e outro lado do Estreito de Gibraltar, a saber o Monte Calpe em Gibraltar, e o Monte Abila (ou será Avila?) em Ceuta. Porém, os antigos escritores romanos consideraram a hipótese das colunas terem mesmo existido. A cidade de Cadiz (ou Gades) mantém o mito das colunas no seu brasão e a inscrição Plus Ultra:
 

Acontece que, para além destas colunas, podemos encontrar as Torres de Hércules...
Essas torres estiveram sinalizadas em mapas e textos até há bastante pouco tempo!
Encontramos isso ainda num mapa de 1715:
Mapa em detalhe (zonu.com)

E mesmo numa descrição marítima de 1812 vemos que restava uma Torre, que passava a chamar-se "Torregorda"... Ao contrário do que esperava, foi estranhamente difícil encontrar menção a essas torres, cito a este propósito um dos poucos textos que encontrei online:
En Cádiz existían dos torres llamadas de Hércules en 1550, una donde hoy está torregorda y la otra como doscientos pasos más cerca de la ciudad, ambas iguales de altura, dice Adolfo de Castro, la ultima de ellas posiblemente fue destruida cuando el saqueo de los ingleses, porque en el siglo XVII solo se habla de una torre.
Esta fue totalmente destruida en el terremoto acaecido el 1 de Noviembre de 1753[!! 1755]. Por otro lado, las dos columnas del non plus ultra del que habla los antiguos historiadores pudieron ser las dos torres que señalaban la entrada del Puerto de Cádiz, una en la punta de la isla de San Sebastián, donde hoy está el faro, y otra también altísima, e igual en el Cabo Candor. Servían para avisar con fuego nocturno la entrada y el peligro de los puertos.
Portanto, percebemos que havia duas torres em 1550 (o que se vê no mapa de 1715), e que uma delas foi destruída no terramoto de 1755 (o ano 1753 estará errado no texto). A acção desse terramoto estendeu-se até Cadiz, como vemos! Será aqui útil referir a expressão associada a esse terramoto:
Caiu o Carmo e a Trindade...
Muito do que havia para cair, caíu, e o que não caiu na altura, caiu depois, e já não se recompôs!
Como a segunda torre estava de pé, segundo texto publicado em 1812, mas depois desapareceu, consideramos a hipótese de actuação napoleónica...

Como seriam essas Torres?
Podemos ter uma razoável ideia neste site ou neste [links entretanto removidos] pela ilustração num mapa de N. J. Visscher de 1660:
No canto superior direito desse mapa podemos ver (nas duas versões cores/preto-branco):
Ao contrário, num mapa semelhante constante da Universidade de Évora, encontramos o mapa com figuras recortadas! O que havia nessas figuras, que mereceu o recorte e a exclusão a olhos vindouros?

Uma das figuras que não está recortada, mas deixa algum mistério é a ponte de Segovia!
Também essa ponte de Segóvia já não existirá... deixamos aqui as imagens encontradas nos mapas referidos em cima:
Não sabemos se esta ponte caiu com o Carmo ou com a Trindade... há ainda outras duas construções nos outros cantos do mapa, que não conseguimos identificar.

Ainda sobre a questão de Torres de Hércules, já falámos sobre a Torre pentagonal de Coimbra...
... mas voltamos a acrescentar referências. Uma por António Francisco Barreto, outra de António Coelho Gasco, mas a mais enfática está na Revista Universal Lisbonense onde se começa por citar Almeida Garrett (D. Branca):
Alli o berço foi da lusa gloria; Creral-o hoje sepulcral moimento; D'essa gloria defunta
Ruínas tristes; Esbroardos pardieiros - oh, vergonha! São as torres...
 mas o autor do artigo continua, e cito:
(...) de mais longe vem o nefando empenho de apagar memórias do que fomos, arrasando os mais famosos monumentos de nossas glórias; julgamos por isso mais execráveis os antigos demolidores, que são os patriarcas d'essa abominável seita, cujo compromisso cifra todos os seus preceitos no único: "Aniquilar tudo o que recorde façanhas portuguezas".
e informa que o projecto do Marquês de Pombal para a destruição da Torre, ou segundo a versão politicamente correcta da nossa História - para construir o Observatório Astronómico, tinha sido entretanto abandonado... porque "não estava livre de abalos ocasionais pelo rolar dos carros nas calçadas, condição essencial que deve satisfazer todo o local destinado para observações". Depois, já no Séc. XX foi construído algo semelhante a um Observatório Astronómico de Coimbra, do outro lado do rio...
Digamos que se o Carmo caiu por mão de Neptuno, a Trindade deve ter caído por mão do Marquês e acólitos...
Fala-se ainda de que pelo menos a pedra com a inscrição "Quinaria turris Herculea fundata manu" deveria ter sido preservada!... Havia uma outra inscrição, que reportava a D. Sancho e ao ano (hispânico) de 1232, e deveria remeter para a construção da torre adicional... também essa parece ter desaparecido... coisas de invasões talvez! Se os culpados não podem ser internos, vêm os externos... e aqui os séculos de permanência árabe dificilmente podem ser vistos como motivo de destruição das nossas antiguidades, conforme podemos comprovar nos vários exemplos!

O artigo fala ainda do "arco da traição", e o arco do castelo, que tinha grossas portas chapeadas e cravadas de ferro, ambos teriam sido arrasados pela Câmara Municipal em 1836. Continuava por isso a reescrever-se a História, agora por mão do "mano Pedro", já que o "mano Miguel" tinha sido derrotado em 1834, e Maria II, filha de Pedro IV, era já rainha.
O autor do artigo, R. de Gusmão, termina assim:
Restos venerandos do alcaçar coimbrão, testemunha das nobres proezas de nossos maiores, poupe-vos a cólera dos homens d'hoje a aniquilação! O pó dos séculos, em que jazeis involtos, cegue os olhos incuriosos dos que ousarem desbaptizar-vos do sólo em que vos encravaram homens d'outras eras.
Se o brasão de Cádis mantém ainda a figura de Hércules, o problema identificado por Gaspar Barreiros - que ouvia tudo ser atribuído a Hércules, terá sido eliminado definitivamente pelo Marquês e sucessores que o compararam ao herói mítico, colocando-o em pedestal máximo lisboeta, acompanhado também por um leão. Não terão sido dois leões, talvez por modéstia... afinal tinha edificado alguma coisa sobre o destruído, mas não teria destruído tudo sozinho.
Não tem a maça nem a maçã de Hércules, por aí ficámos com o "anónimo" homem da maça e com "algo" ao lado, já que ninguém quererá ver Ládon. Cortados os braços, retiradas a maça e a maçã... o que resta do homem?
Homem da Maça (Monte de S. Brás) 
[imagem de C.M.Matosinhos]

Desterrados das suas sepulturas, desonrados os feitos, nomeados outros heróis, desses fantasmas doutrora ainda não terá sido silenciado por completo o registo, e é certo que o peso dos assombros passados parece pesar agora como assombração.

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publicado às 07:57

As Colunas de Hércules foram um ponto marcante, colocado como referência na maioria dos textos da Antiguidade. O estatuto lendário de Hércules acabou por identificar essas colunas com os montes situados de um e outro lado do Estreito de Gibraltar, a saber o Monte Calpe em Gibraltar, e o Monte Abila (ou será Avila?) em Ceuta. Porém, os antigos escritores romanos consideraram a hipótese das colunas terem mesmo existido. A cidade de Cadiz (ou Gades) mantém o mito das colunas no seu brasão e a inscrição Plus Ultra:
 

Acontece que, para além destas colunas, podemos encontrar as Torres de Hércules...
Essas torres estiveram sinalizadas em mapas e textos até há bastante pouco tempo!
Encontramos isso ainda num mapa de 1715:
Mapa em detalhe (zonu.com)

E mesmo numa descrição marítima de 1812 vemos que restava uma Torre, que passava a chamar-se "Torregorda"... Ao contrário do que esperava, foi estranhamente difícil encontrar menção a essas torres, cito a este propósito um dos poucos textos que encontrei online:
En Cádiz existían dos torres llamadas de Hércules en 1550, una donde hoy está torregorda y la otra como doscientos pasos más cerca de la ciudad, ambas iguales de altura, dice Adolfo de Castro, la ultima de ellas posiblemente fue destruida cuando el saqueo de los ingleses, porque en el siglo XVII solo se habla de una torre.
Esta fue totalmente destruida en el terremoto acaecido el 1 de Noviembre de 1753[!! 1755]. Por otro lado, las dos columnas del non plus ultra del que habla los antiguos historiadores pudieron ser las dos torres que señalaban la entrada del Puerto de Cádiz, una en la punta de la isla de San Sebastián, donde hoy está el faro, y otra también altísima, e igual en el Cabo Candor. Servían para avisar con fuego nocturno la entrada y el peligro de los puertos.
Portanto, percebemos que havia duas torres em 1550 (o que se vê no mapa de 1715), e que uma delas foi destruída no terramoto de 1755 (o ano 1753 estará errado no texto). A acção desse terramoto estendeu-se até Cadiz, como vemos! Será aqui útil referir a expressão associada a esse terramoto:
Caiu o Carmo e a Trindade...
Muito do que havia para cair, caíu, e o que não caiu na altura, caiu depois, e já não se recompôs!
Como a segunda torre estava de pé, segundo texto publicado em 1812, mas depois desapareceu, consideramos a hipótese de actuação napoleónica...

Como seriam essas Torres?
Podemos ter uma razoável ideia neste site ou neste [links entretanto removidos] pela ilustração num mapa de N. J. Visscher de 1660:
No canto superior direito desse mapa podemos ver (nas duas versões cores/preto-branco):
Ao contrário, num mapa semelhante constante da Universidade de Évora, encontramos o mapa com figuras recortadas! O que havia nessas figuras, que mereceu o recorte e a exclusão a olhos vindouros?

Uma das figuras que não está recortada, mas deixa algum mistério é a ponte de Segovia!
Também essa ponte de Segóvia já não existirá... deixamos aqui as imagens encontradas nos mapas referidos em cima:
Não sabemos se esta ponte caiu com o Carmo ou com a Trindade... há ainda outras duas construções nos outros cantos do mapa, que não conseguimos identificar.

Ainda sobre a questão de Torres de Hércules, já falámos sobre a Torre pentagonal de Coimbra...
... mas voltamos a acrescentar referências. Uma por António Francisco Barreto, outra de António Coelho Gasco, mas a mais enfática está na Revista Universal Lisbonense onde se começa por citar Almeida Garrett (D. Branca):
Alli o berço foi da lusa gloria; Creral-o hoje sepulcral moimento; D'essa gloria defunta
Ruínas tristes; Esbroardos pardieiros - oh, vergonha! São as torres...
 mas o autor do artigo continua, e cito:
(...) de mais longe vem o nefando empenho de apagar memórias do que fomos, arrasando os mais famosos monumentos de nossas glórias; julgamos por isso mais execráveis os antigos demolidores, que são os patriarcas d'essa abominável seita, cujo compromisso cifra todos os seus preceitos no único: "Aniquilar tudo o que recorde façanhas portuguezas".
e informa que o projecto do Marquês de Pombal para a destruição da Torre, ou segundo a versão politicamente correcta da nossa História - para construir o Observatório Astronómico, tinha sido entretanto abandonado... porque "não estava livre de abalos ocasionais pelo rolar dos carros nas calçadas, condição essencial que deve satisfazer todo o local destinado para observações". Depois, já no Séc. XX foi construído algo semelhante a um Observatório Astronómico de Coimbra, do outro lado do rio...
Digamos que se o Carmo caiu por mão de Neptuno, a Trindade deve ter caído por mão do Marquês e acólitos...
Fala-se ainda de que pelo menos a pedra com a inscrição "Quinaria turris Herculea fundata manu" deveria ter sido preservada!... Havia uma outra inscrição, que reportava a D. Sancho e ao ano (hispânico) de 1232, e deveria remeter para a construção da torre adicional... também essa parece ter desaparecido... coisas de invasões talvez! Se os culpados não podem ser internos, vêm os externos... e aqui os séculos de permanência árabe dificilmente podem ser vistos como motivo de destruição das nossas antiguidades, conforme podemos comprovar nos vários exemplos!

O artigo fala ainda do "arco da traição", e o arco do castelo, que tinha grossas portas chapeadas e cravadas de ferro, ambos teriam sido arrasados pela Câmara Municipal em 1836. Continuava por isso a reescrever-se a História, agora por mão do "mano Pedro", já que o "mano Miguel" tinha sido derrotado em 1834, e Maria II, filha de Pedro IV, era já rainha.
O autor do artigo, R. de Gusmão, termina assim:
Restos venerandos do alcaçar coimbrão, testemunha das nobres proezas de nossos maiores, poupe-vos a cólera dos homens d'hoje a aniquilação! O pó dos séculos, em que jazeis involtos, cegue os olhos incuriosos dos que ousarem desbaptizar-vos do sólo em que vos encravaram homens d'outras eras.
Se o brasão de Cádis mantém ainda a figura de Hércules, o problema identificado por Gaspar Barreiros - que ouvia tudo ser atribuído a Hércules, terá sido eliminado definitivamente pelo Marquês e sucessores que o compararam ao herói mítico, colocando-o em pedestal máximo lisboeta, acompanhado também por um leão. Não terão sido dois leões, talvez por modéstia... afinal tinha edificado alguma coisa sobre o destruído, mas não teria destruído tudo sozinho.
Não tem a maça nem a maçã de Hércules, por aí ficámos com o "anónimo" homem da maça e com "algo" ao lado, já que ninguém quererá ver Ládon. Cortados os braços, retiradas a maça e a maçã... o que resta do homem?
Homem da Maça (Monte de S. Brás) 
[imagem de C.M.Matosinhos]

Desterrados das suas sepulturas, desonrados os feitos, nomeados outros heróis, desses fantasmas doutrora ainda não terá sido silenciado por completo o registo, e é certo que o peso dos assombros passados parece pesar agora como assombração.

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