O nome
Academia dos Humildes e Ignorantes é sugestivo... e pode levar-nos longe!
Começámos com um excerto musical da
Academia dos Singulares... que recria aqui "Salve Regina", tema de um compositor português Filipe da
Madre de Deus (1630-1687), do final renascentista - início do barroco, obra provavelmente dedicada à Rainha Luísa de Gusmão.
É um bom exemplo actual de recuperação de legados quase esquecidos...
No Séc. XVII e XVIII apareceram em Portugal academias com nomes talvez bizarros como Academia dos Generosos (1647), Academia dos Singulares (1667), e depois em 1717, por iniciativa do Conde de Ericeira, a Academia de Portugal, e a de História (1720), fixando-se uma única em 1780 a conhecida Academia das Ciências de Lisboa.
Até aqui não há grande novidade, e não haveria razão para este artigo.
O facto curioso ocorre em 1758, na altura do Processo dos Távoras, com uma série de conferências de uma outra academia de anónimos, cujo nome é notável:
Academia dos Humildes e Ignorantes
A única identificação serão as iniciais: D.F.J.C.D.S.R.B.H. que aparece na obra:
Diálogo entre um Teólogo, um Filósofo, um Ermitão e um Soldado
dividida em 8 volumes, com quase 50 conferências cada, num total que se aproxima das 4000 páginas.
Um nome manuscrito na versão copiada da
Biblioteca do Michigan é Joaquim de Santa Rita, que é associado como autor... mas poderá ser apenas o nome de proprietário (Nota: Frei Joaquim de Santa Rita Botelho, é um bispo de Cochim, mas em período posterior).
Sendo pouco conhecida, houve alguma alma generosa que se deu ao trabalho de disponibilizar os 8 volumes nos
Google Books. Foi aí que a encontrei, e este link
permite aceder ao primeiro e restantes volumes (links no final dessa página).
É talvez o primeiro grande projecto enciclopédico português, pensado na base de reconstruir a informação perdida após o Terramoto de 1755. Os personagens encontram-se na Praia da Consolação, perto de Peniche, e perante uma audiência que vai aumentando, enunciam os seus conhecimentos.
Há uma descrição mais detalhada da história do Rei Tubal e parte inicial, cf. Tomo 1 (Conf. XII, pág.89), que depois é continuada, cf. Tomo 2 (Conf. XVII, pág. 129).
A obra é de tal forma vasta, que não ouso avançar desde já no seu conteúdo...
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