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Fusang

03.12.10
Começamos pelo princípio do fim, ou seja pelos Tratados de Nanquim e Tianjin (1842, 1860), que marcam o final das guerras do ópio, após o primeiro ataque comercial britânico com ópio (hoje seria chamado "tráfico de droga"), que enebriava a população chinesa:


Tratado de Nanquim, 1842

As potências ocidentais, principalmente Inglaterra, EUA, Rússia, França, iriam definir tratados desiguais que manteriam a China, Coreia e Japão sob controlo aliado. Mudou muita coisa, houve as revoltas dos Boxer passadas algumas décadas, a revolução cultural de Mao, passados cem anos, mas estes países são ainda os detentores do direito de veto no Conselho de Segurança da ONU. A China acabou por trilhar um caminho em que evitou sempre qualquer conflito directo com os restantes, e aparece agora em posição desafiante.

De 1851 a 1880 aparece na História dos EUA uma população de 229 000 imigrantes chineses dispostos a trabalhar, em particular no Transcontinental Railroad, que ligaria o Atlântico e o Pacífico. Não conheço registo dos detalhes que justificariam uma imigração chinesa sem precedentes e tendo como destino único os EUA. Grande parte deste período ocorre em plena Guerra da Secessão (1861-65), e também no momento posterior à anexação da Califórnia ao México (1846-48), a que seguiu uma explosão de registo populacional californiano, de 10 mil antes de 1848, passaria a mais de 100 mil em 2 anos, quando em 1850 passa a ser o 31º estado americano. É ainda neste contexto que surge a imposição americana do comandante Perry e o Tratado de Kanagawa (1854):

Puccini - Mme Butterfly (1904), por M. Callas (1954) 

Após a viagem de Cook, em 1770, e a partir do estabelecimento da "colónia penal" australiana de Nova Gales do Sul, em 1788, ou seja à época da Revolução Francesa, o domínio no Pacífico passa a ser britânico.
Como sabemos, a História deita o véu de 250 anos sobre a época 1520-1770, desde a viagem de Magalhães até à viagem de Cook. Os mapas ignoram a Austrália, o Havai, a costa Pacífica da América do Norte, acima da Califórnia. Admite-se hoje, em surdina, as viagens em 1642 de Tasman à Austrália ocidental, mas  Cook continua como "descobridor" nomeado, tal como Colombo o foi antes.

Pouco antes, aparece em mapas, a norte da Califórnia, a chamada Ilha Chinesa de Fusang (ou Fou-sang), por exemplo num mapa de Ph. Buache
 
Mapas (1753, 1792) onde Fusang - Terra Chinesa - é identificada com parte da costa Pacífica americana.

A ocultação de descobertas, até à viagem de Cook, teria assim uma razão - impérios asiáticos no Pacífico:
- um império marítimo chinês que ocuparia parte da costa ocidental americana,
- um provável império marítimo japonês que controlaria parte da Austrália, Polinésia e Havai (basta seguir o rasto de conquista seguido pelo Japão na 2ª guerra mundial).

A ocultação desses territórios é uma expressão de não reconhecimento da capacidade marítima ou tecnológica dos povos orientais. Não era considerado descoberto, apenas porque não estava sob domínio de potência ocidental...

O aparecimento súbito de 230 mil chineses tem assim uma explicação - não são imigrantes, são muito provavelmente o que restaria de uma população chinesa estabelecida em Fusang.
- É a partir da 2ª metade do séc. XIX que começam os registos de populações que se estabelecem na costa oeste americana, quer pela parte britânica na British Columbia, quer a norte da Califórnia.
- Apesar das notícias de Eldorados ou paraísos a norte da Califórnia, desde o séc.XVI, a febre do ouro só tem lugar nessa altura, passados 300 anos. Não há outra justificação plausível para que os mexicanos, ou quaisquer outros, não avançassem para norte.
- As lutas de guerrilha com índios em tendas, munidos de arcos e flechas, ganham um outro significado, e mais dramático, quando se supõe a existência de um reino prestes a sucumbir. A fossanguice impele os conquistadores a não deixar rasto do passado.
- Grandes batalhas, como as napoleónicas, inúmeras perdas humanas numa parte do globo justificariam perdas em lugares completamente diferentes.
- O domínio europeu segue duas vertentes expansionistas, primeiro a russa, que domina o norte da Mongólia, a península Kamchatka, e o Alasca; por outro lado, a americana/britânica que segue em direcção ao Pacífico, as eventuais colónias americanas de origem chinesa ficam encurraladas. A venda do Alasca, a participação russa na batalha de Pequim, a guerra com o Japão, são vários aspectos dos entendimentos a larga escala.
- Quando as populações colonizadoras chegam, já seriam raros os vestígios das populações anteriores, e os que existissem estariam em processo de extermínio. Os territórios tomados eram tidos como não-civilizados, virgens, e a completa violentação seria guardada, ou perdida, nos confins da memória.

A Guerra da Secessão americana iniciada em 1861 surge nesta perspectiva num contexto completamente diferente. Mais uma vez a questão da ocultação estaria colocada em cima da mesa, e o problema da escravatura não seria apenas a libertação da população afro-americana, seria uma continuação da Guerra do Ópio, em que a opinião pública seria enredada numa alienação dos factos.

(assim, a questão Gaia começa quase pelo fim)

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publicado às 22:26

Fusang

03.12.10
Começamos pelo princípio do fim, ou seja pelos Tratados de Nanquim e Tianjin (1842, 1860), que marcam o final das guerras do ópio, após o primeiro ataque comercial britânico com ópio (hoje seria chamado "tráfico de droga"), que enebriava a população chinesa:
Tratado de Nanquim, 1842

As potências ocidentais, principalmente Inglaterra, EUA, Rússia, França, iriam definir tratados desiguais que manteriam a China, Coreia e Japão sob controlo aliado. Mudou muita coisa, houve as revoltas dos Boxer passadas algumas décadas, a revolução cultural de Mao, passados cem anos, mas estes países são ainda os detentores do direito de veto no Conselho de Segurança da ONU. A China acabou por trilhar um caminho em que evitou sempre qualquer conflito directo com os restantes, e aparece agora em posição desafiante.

De 1851 a 1880 aparece na História dos EUA uma população de 229 000 imigrantes chineses dispostos a trabalhar, em particular no Transcontinental Railroad, que ligaria o Atlântico e o Pacífico. Não conheço registo dos detalhes que justificariam uma imigração chinesa sem precedentes e tendo como destino único os EUA. Grande parte deste período ocorre em plena Guerra da Secessão (1861-65), e também no momento posterior à anexação da Califórnia ao México (1846-48), a que seguiu uma explosão de registo populacional californiano, de 10 mil antes de 1848, passaria a mais de 100 mil em 2 anos, quando em 1850 passa a ser o 31º estado americano. É ainda neste contexto que surge a imposição americana do comandante Perry e o Tratado de Kanagawa (1854):
Puccini - Mme Butterfly (1904), por M. Callas (1954) 

Após a viagem de Cook, em 1770, e a partir do estabelecimento da "colónia penal" australiana de Nova Gales do Sul, em 1788, ou seja à época da Revolução Francesa, o domínio no Pacífico passa a ser britânico.
Como sabemos, a História deita o véu de 250 anos sobre a época 1520-1770, desde a viagem de Magalhães até à viagem de Cook. Os mapas ignoram a Austrália, o Havai, a costa Pacífica da América do Norte, acima da Califórnia. Admite-se hoje, em surdina, as viagens em 1642 de Tasman à Austrália ocidental, mas  Cook continua como "descobridor" nomeado, tal como Colombo o foi antes.

Pouco antes, aparece em mapas, a norte da Califórnia, a chamada Ilha Chinesa de Fusang (ou Fou-sang), por exemplo num mapa de Ph. Buache
Mapas (1753, 1792) onde Fusang - Terra Chinesa - é identificada com parte da costa Pacífica americana.

A ocultação de descobertas, até à viagem de Cook, teria assim uma razão - impérios asiáticos no Pacífico:
- um império marítimo chinês que ocuparia parte da costa ocidental americana,
- um provável império marítimo japonês que controlaria parte da Austrália, Polinésia e Havai (basta seguir o rasto de conquista seguido pelo Japão na 2ª guerra mundial).

A ocultação desses territórios é uma expressão de não reconhecimento da capacidade marítima ou tecnológica dos povos orientais. Não era considerado descoberto, apenas porque não estava sob domínio de potência ocidental...

O aparecimento súbito de 230 mil chineses tem assim uma explicação - não são imigrantes, são muito provavelmente o que restaria de uma população chinesa estabelecida em Fusang.
- É a partir da 2ª metade do séc. XIX que começam os registos de populações que se estabelecem na costa oeste americana, quer pela parte britânica na British Columbia, quer a norte da Califórnia.
- Apesar das notícias de Eldorados ou paraísos a norte da Califórnia, desde o séc.XVI, a febre do ouro só tem lugar nessa altura, passados 300 anos. Não há outra justificação plausível para que os mexicanos, ou quaisquer outros, não avançassem para norte.
- As lutas de guerrilha com índios em tendas, munidos de arcos e flechas, ganham um outro significado, e mais dramático, quando se supõe a existência de um reino prestes a sucumbir. A fossanguice impele os conquistadores a não deixar rasto do passado.
- Grandes batalhas, como as napoleónicas, inúmeras perdas humanas numa parte do globo justificariam perdas em lugares completamente diferentes.
- O domínio europeu segue duas vertentes expansionistas, primeiro a russa, que domina o norte da Mongólia, a península Kamchatka, e o Alasca; por outro lado, a americana/britânica que segue em direcção ao Pacífico, as eventuais colónias americanas de origem chinesa ficam encurraladas. A venda do Alasca, a participação russa na batalha de Pequim, a guerra com o Japão, são vários aspectos dos entendimentos a larga escala.
- Quando as populações colonizadoras chegam, já seriam raros os vestígios das populações anteriores, e os que existissem estariam em processo de extermínio. Os territórios tomados eram tidos como não-civilizados, virgens, e a completa violentação seria guardada, ou perdida, nos confins da memória.

A Guerra da Secessão americana iniciada em 1861 surge nesta perspectiva num contexto completamente diferente. Mais uma vez a questão da ocultação estaria colocada em cima da mesa, e o problema da escravatura não seria apenas a libertação da população afro-americana, seria uma continuação da Guerra do Ópio, em que a opinião pública seria enredada numa alienação dos factos.

(assim, a questão Gaia começa quase pelo fim)

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Fusang

03.12.10
Começamos pelo princípio do fim, ou seja pelos Tratados de Nanquim e Tianjin (1842, 1860), que marcam o final das guerras do ópio, após o primeiro ataque comercial britânico com ópio (hoje seria chamado "tráfico de droga"), que enebriava a população chinesa:
Tratado de Nanquim, 1842

As potências ocidentais, principalmente Inglaterra, EUA, Rússia, França, iriam definir tratados desiguais que manteriam a China, Coreia e Japão sob controlo aliado. Mudou muita coisa, houve as revoltas dos Boxer passadas algumas décadas, a revolução cultural de Mao, passados cem anos, mas estes países são ainda os detentores do direito de veto no Conselho de Segurança da ONU. A China acabou por trilhar um caminho em que evitou sempre qualquer conflito directo com os restantes, e aparece agora em posição desafiante.

De 1851 a 1880 aparece na História dos EUA uma população de 229 000 imigrantes chineses dispostos a trabalhar, em particular no Transcontinental Railroad, que ligaria o Atlântico e o Pacífico. Não conheço registo dos detalhes que justificariam uma imigração chinesa sem precedentes e tendo como destino único os EUA. Grande parte deste período ocorre em plena Guerra da Secessão (1861-65), e também no momento posterior à anexação da Califórnia ao México (1846-48), a que seguiu uma explosão de registo populacional californiano, de 10 mil antes de 1848, passaria a mais de 100 mil em 2 anos, quando em 1850 passa a ser o 31º estado americano. É ainda neste contexto que surge a imposição americana do comandante Perry e o Tratado de Kanagawa (1854):
Puccini - Mme Butterfly (1904), por M. Callas (1954) 

Após a viagem de Cook, em 1770, e a partir do estabelecimento da "colónia penal" australiana de Nova Gales do Sul, em 1788, ou seja à época da Revolução Francesa, o domínio no Pacífico passa a ser britânico.
Como sabemos, a História deita o véu de 250 anos sobre a época 1520-1770, desde a viagem de Magalhães até à viagem de Cook. Os mapas ignoram a Austrália, o Havai, a costa Pacífica da América do Norte, acima da Califórnia. Admite-se hoje, em surdina, as viagens em 1642 de Tasman à Austrália ocidental, mas  Cook continua como "descobridor" nomeado, tal como Colombo o foi antes.

Pouco antes, aparece em mapas, a norte da Califórnia, a chamada Ilha Chinesa de Fusang (ou Fou-sang), por exemplo num mapa de Ph. Buache
Mapas (1753, 1792) onde Fusang - Terra Chinesa - é identificada com parte da costa Pacífica americana.

A ocultação de descobertas, até à viagem de Cook, teria assim uma razão - impérios asiáticos no Pacífico:
- um império marítimo chinês que ocuparia parte da costa ocidental americana,
- um provável império marítimo japonês que controlaria parte da Austrália, Polinésia e Havai (basta seguir o rasto de conquista seguido pelo Japão na 2ª guerra mundial).

A ocultação desses territórios é uma expressão de não reconhecimento da capacidade marítima ou tecnológica dos povos orientais. Não era considerado descoberto, apenas porque não estava sob domínio de potência ocidental...

O aparecimento súbito de 230 mil chineses tem assim uma explicação - não são imigrantes, são muito provavelmente o que restaria de uma população chinesa estabelecida em Fusang.
- É a partir da 2ª metade do séc. XIX que começam os registos de populações que se estabelecem na costa oeste americana, quer pela parte britânica na British Columbia, quer a norte da Califórnia.
- Apesar das notícias de Eldorados ou paraísos a norte da Califórnia, desde o séc.XVI, a febre do ouro só tem lugar nessa altura, passados 300 anos. Não há outra justificação plausível para que os mexicanos, ou quaisquer outros, não avançassem para norte.
- As lutas de guerrilha com índios em tendas, munidos de arcos e flechas, ganham um outro significado, e mais dramático, quando se supõe a existência de um reino prestes a sucumbir. A fossanguice impele os conquistadores a não deixar rasto do passado.
- Grandes batalhas, como as napoleónicas, inúmeras perdas humanas numa parte do globo justificariam perdas em lugares completamente diferentes.
- O domínio europeu segue duas vertentes expansionistas, primeiro a russa, que domina o norte da Mongólia, a península Kamchatka, e o Alasca; por outro lado, a americana/britânica que segue em direcção ao Pacífico, as eventuais colónias americanas de origem chinesa ficam encurraladas. A venda do Alasca, a participação russa na batalha de Pequim, a guerra com o Japão, são vários aspectos dos entendimentos a larga escala.
- Quando as populações colonizadoras chegam, já seriam raros os vestígios das populações anteriores, e os que existissem estariam em processo de extermínio. Os territórios tomados eram tidos como não-civilizados, virgens, e a completa violentação seria guardada, ou perdida, nos confins da memória.

A Guerra da Secessão americana iniciada em 1861 surge nesta perspectiva num contexto completamente diferente. Mais uma vez a questão da ocultação estaria colocada em cima da mesa, e o problema da escravatura não seria apenas a libertação da população afro-americana, seria uma continuação da Guerra do Ópio, em que a opinião pública seria enredada numa alienação dos factos.

(assim, a questão Gaia começa quase pelo fim)

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publicado às 14:26

A questão Gaia

03.12.10
Quando falamos de Gaius Julius Caesar, transformamos o I de Iulius em Julius, não o fazemos com o I de Gaius, se o fizéssemos ficaria Gajus Julius Caesar.
A língua sofreu muitas torturas, até falar mentira... mas amparou-se com uma tradição semi-popular resistente. O Gajus não ficou em César, mas ficou na língua que não se atreve a ser escrita... de forma selvagem, ficaram gajos e gaiatos.

Falamos, é claro do culto a Gaia, à deusa primordial no panteão greco-romano, que empresta o prefixo "geo" a tudo o que se refere à Terra. Falar de GAJA seria rasca, falar de GAIA, não. A simples curva final na letra que transforma o I em J, altera a nossa percepção da semelhança, por vício educacional. 

Já não choca escrever MAJA com significado de MAIA, mas tudo se altera quando há conotação pejorativa enraízada... um raciocínio sujeito a troça, é educacionalmente auto-censurado. As semelhanças são exactamente as mesmas - num caso nem notamos, noutro caso recusamos a associação... é tudo um ardil educacional. Os maiatos são habitantes da Maia, mas os habitantes de Gaia passaram a gaienses e não a gaiatos. Caminhos diferentes para os filhos da mesma Terra, em fases diferentes. Junte-se-lhe a nossa Raia fronteiriça, para adicionar Reia ao mais primevo panteão feminino greco-romano.
La Maja desnuda y vestida (antes e após 1800), de Goja

No aspecto masculino, Majo terá associado Maio, mas do folclore de transmutações que se escondeu na letra G (que dá para Caius/Gaius ou Caia/Gaia) não me surpreenderia a associação Majo a Mago... (ou então, com o tratamento "ch" que damos ao "j" poderia bem ler-se Macho... já o castelhano cumpriu melhor o disfarce com o som "rr" para o "j").

Um bom exemplo de tortura da nomenclatura está documentado na evolução do nome Senegal.
Duarte Pacheco Pereira identifica-o escrevendo Canágua, algumas décadas depois a tortura fonética tinha levado à seguinte transformação sucessiva: Canágua, Çanágua, Çanaga, Senegal (conforme vai constando de registos e mapas).

Dir-se-à que invocando trocas de letras, as associações não têm fim e tudo é permitido... mas não é bem assim! Há registo causal suspeito nuns casos, enquanto noutras situações, sem o nexo causal, poderá ser considerado acidental. A escrita pode violentar mais facilmente a tradição fonética oral, que é bem menos controlável que a escrita.

Exércitos de eruditos e documentações indubitáveis podem dizer que a ligação Maja/Maia nada tem a ver com a alteração similar Gaja/Gaia... Sim, se fosse apenas essa a coincidência, poderíamos bem seguir sempre a voz do altifalante, mas não abdiquemos do nosso próprio escrutínio.
Quando se alimenta o absurdo por séculos, a credibilidade efectiva é pouco mais que nada... e a troça recai sobre a postura dos anões sobreviventes, guardadores do anel de Saturno, o gaiato, filho de Gaia e Úrano.
Saturno devorando os filhos, de Goya.

GUA
A linha das analogias na nomenclatura, que a Duquesa de Medina-Sidónia procurou seguir, na sua conexão África-América, foi diferente da nossa, mas chegou a paralelismos semelhantes, que obtivemos seguindo a cartografia e a descrição dos cronistas.
Há no entanto um ponto revelador que abunda nas atribuições feitas às línguas indígenas americanas e que tem uma conexão fonética directa com a cultura andaluza... o termo GUA, que pura e simplesmente deveria querer significar Água. Podemos assumir que a origem é o latino Aqua, mas parece mais indicado encarar o inverso, e aceitar a raiz de uma simples indicação directa: "a gua" - a água. A diferença fonética entre "qua" e "gua" pode ser imperceptível.

É óbvio que esta livre suspeita tem dupla raiz nos rios Guadiana e Guadalquivir, que leremos como:
Gua de Ana, e Gua del Quibir... e ficamos por aqui, apenas salientando que a palavra árabe para água é almaa (havendo certamente alternativas...).
Na América Central e Antilhas, multiplicam-se os nomes que usam "Gua", pelo que dispensamos a enumeração exaustiva, por exemplo: Guatemala, Nicarágua, lago Manágua, Guarumal, Guálan, rios Motagua, Águan, as ilhas Mayaguana ou mesmo Guadalupe... Guadalcanal, Guam, Guadalajara, Guana, Gualala, Guayteca, Guantanamo, etc... encontramos mais designações em mapas primitivos, antes das convenientes alterações posteriores.

É claro que isto pode nada significar, mas pode também significar a presença de uma cultura com fonética semelhante que influenciaria o Atlântico, desde a zona do Estreito de Gibraltar a toda a América Central (e sul).

A "Questão Gaia" começa aqui, e esta é a sua introdução.

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publicado às 02:45

A questão Gaia

03.12.10
Quando falamos de Gaius Julius Caesar, transformamos o I de Iulius em Julius, não o fazemos com o I de Gaius, se o fizéssemos ficaria Gajus Julius Caesar.
A língua sofreu muitas torturas, até falar mentira... mas amparou-se com uma tradição semi-popular resistente. O Gajus não ficou em César, mas ficou na língua que não se atreve a ser escrita... de forma selvagem, ficaram gajos e gaiatos.

Falamos, é claro do culto a Gaia, à deusa primordial no panteão greco-romano, que empresta o prefixo "geo" a tudo o que se refere à Terra. Falar de GAJA seria rasca, falar de GAIA, não. A simples curva final na letra que transforma o I em J, altera a nossa percepção da semelhança, por vício educacional. 

Já não choca escrever MAJA com significado de MAIA, mas tudo se altera quando há conotação pejorativa enraízada... um raciocínio sujeito a troça, é educacionalmente auto-censurado. As semelhanças são exactamente as mesmas - num caso nem notamos, noutro caso recusamos a associação... é tudo um ardil educacional. Os maiatos são habitantes da Maia, mas os habitantes de Gaia passaram a gaienses e não a gaiatos. Caminhos diferentes para os filhos da mesma Terra, em fases diferentes. Junte-se-lhe a nossa Raia fronteiriça, para adicionar Reia ao mais primevo panteão feminino greco-romano.
La Maja desnuda y vestida (antes e após 1800), de Goja

No aspecto masculino, Majo terá associado Maio, mas do folclore de transmutações que se escondeu na letra G (que dá para Caius/Gaius ou Caia/Gaia) não me surpreenderia a associação Majo a Mago... (ou então, com o tratamento "ch" que damos ao "j" poderia bem ler-se Macho... já o castelhano cumpriu melhor o disfarce com o som "rr" para o "j").

Um bom exemplo de tortura da nomenclatura está documentado na evolução do nome Senegal.
Duarte Pacheco Pereira identifica-o escrevendo Canágua, algumas décadas depois a tortura fonética tinha levado à seguinte transformação sucessiva: Canágua, Çanágua, Çanaga, Senegal (conforme vai constando de registos e mapas).

Dir-se-à que invocando trocas de letras, as associações não têm fim e tudo é permitido... mas não é bem assim! Há registo causal suspeito nuns casos, enquanto noutras situações, sem o nexo causal, poderá ser considerado acidental. A escrita pode violentar mais facilmente a tradição fonética oral, que é bem menos controlável que a escrita.

Exércitos de eruditos e documentações indubitáveis podem dizer que a ligação Maja/Maia nada tem a ver com a alteração similar Gaja/Gaia... Sim, se fosse apenas essa a coincidência, poderíamos bem seguir sempre a voz do altifalante, mas não abdiquemos do nosso próprio escrutínio.
Quando se alimenta o absurdo por séculos, a credibilidade efectiva é pouco mais que nada... e a troça recai sobre a postura dos anões sobreviventes, guardadores do anel de Saturno, o gaiato, filho de Gaia e Úrano.
Saturno devorando os filhos, de Goya.

GUA
A linha das analogias na nomenclatura, que a Duquesa de Medina-Sidónia procurou seguir, na sua conexão África-América, foi diferente da nossa, mas chegou a paralelismos semelhantes, que obtivemos seguindo a cartografia e a descrição dos cronistas.
Há no entanto um ponto revelador que abunda nas atribuições feitas às línguas indígenas americanas e que tem uma conexão fonética directa com a cultura andaluza... o termo GUA, que pura e simplesmente deveria querer significar Água. Podemos assumir que a origem é o latino Aqua, mas parece mais indicado encarar o inverso, e aceitar a raiz de uma simples indicação directa: "a gua" - a água. A diferença fonética entre "qua" e "gua" pode ser imperceptível.

É óbvio que esta livre suspeita tem dupla raiz nos rios Guadiana e Guadalquivir, que leremos como:
Gua de Ana, e Gua del Quibir... e ficamos por aqui, apenas salientando que a palavra árabe para água é almaa (havendo certamente alternativas...).
Na América Central e Antilhas, multiplicam-se os nomes que usam "Gua", pelo que dispensamos a enumeração exaustiva, por exemplo: Guatemala, Nicarágua, lago Manágua, Guarumal, Guálan, rios Motagua, Águan, as ilhas Mayaguana ou mesmo Guadalupe... Guadalcanal, Guam, Guadalajara, Guana, Gualala, Guayteca, Guantanamo, etc... encontramos mais designações em mapas primitivos, antes das convenientes alterações posteriores.

É claro que isto pode nada significar, mas pode também significar a presença de uma cultura com fonética semelhante que influenciaria o Atlântico, desde a zona do Estreito de Gibraltar a toda a América Central (e sul).

A "Questão Gaia" começa aqui, e esta é a sua introdução.

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