Num quadro constante do arquivo da BNP, entitulado "
descida dos franceses à ilha da Terra Nova" (1701-15), podemos observar uma cidade razoavelmente sofisticada, e uma violenta batalha com componente naval, onde estão presentes elementos de vários exércitos (vê-se por exemplo uma bandeira escocesa):
É nesse ano de 1701 que é "assinada" a denominada Paz de Montreal, onde seria suposto terminarem as guerras com "os Iroquois e Algonquins". No entanto, talvez por imaginação artística, nesta "descida" a cidade alvo de ataque francês na Terra Nova, está longe de ser um "acampamento índio".
Lembramos que após Cabotto (1487), a Terra Nova é assinalada sucessivamente até 1578, sob bandeira de D. Sebastião, altura em que deixa de ser referida. Começam aí as "descobertas dos outros", por Drake - a perdida "
New Albion" (Califórnia?), e cabe a
Gilbert a menção como iniciador da colonização contínua da Terra Nova (1583), o que colide com a suposta presença francesa.
Não longe, estava a
Acádia. Tratava-se da designação francesa para a actual Nova Escócia (e territórios próximos), com capital em
Port Royal. Também esta colonização francesa começaria c.1600 e manter-se-ia até 1755 (ano do terramoto de Lisboa), em que também se dá a "
deportação dos Acadianos", que são aparentemente levados para outros territórios, perdendo-se o rasto:
deportação dos Acadianos (1755)
Aprendemos que o extermínio de populações e civilizações foi obra incauta de conquistadores espanhóis, dificilmente algo semelhante poderia ter tido lugar na época da luzes com outros países?...
Pouco depois, em 1756 aparece em Lisboa um movimento literário conhecido como a Arcádia Lusitana, onde se incluirá Bocage (Nova Arcádia). A Arcádia é uma referência mítica do séc. XVIII, na linha da Utopia de Thomas More, referente a um paraíso perdido... A sua localização na Arcádia grega, seria invocada nas Bucólicas de
Virgílio.
O nome "Acádia" leva-nos a distantes paragens espaciais e temporais - a
Acádia, de Sargão, c. 2300 a.C.
O império Acadiano que
Sargão protagonizou, estendeu-se até às paragens fenícias, tendo lançado as bases para Babilónia, lendo-se num texto sumério:
Os povos de cabeça negra eu comandei, eu governei; poderosas montanhas, com machados de bronze eu destruí. Escalei as montanhas superiores, e passei pelo meio das montanhas inferiores. O país do mar eu sitiei por três vezes; Dilmun eu capturei. Até o grande Durilu eu fui (...)
Qual teria sido o país do mar sitiado, e a ilha mítica Dilmun?
Talvez sem razão particular, invocando o tal paraíso Arcadiano, sem "r", o nome é de novo escolhido, para ainda depois ser alterado para Nova Escócia. De Sargão não restará talvez registo tão foneticamente idêntico quanto o próprio mar... Sargaço.
Esta confusão de nomenclatura, tão frequente, tem um exemplo engraçado.
Para combater o tédio das tropas franceses em 1804, na
Austerlitz holandesa, o general Marmont decidiu entreter os soldados com a construção de uma pirâmide artificial, ligeiramente mais pequena que a de Miquerinos - e terá demorado menos de um mês (29 dias) a sua execução pelas tropas.
O nome Austerlitz é ainda dado a
Slavkov-u-Brna, a Austerlitz na república checa, onde se teria dado a famosa batalha que Napoleão venceu em 1805. Esta pirâmide cortada, símbolo massónico comum à época, é ainda coroada com uma torre (com um mirante no topo), e servirá de monumento à
vitória em Austerlitz, mas a milhares de quilómetros de distância.
É um caso raro em que o monumento comemorativo foi construído antes da própria batalha ter ocorrido!
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