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Conforme já referimos, o heliocentrismo e o evolucionismo retiraram o Homem do seu papel central anterior. Estamos de tal forma habituados a aceitar esta perspectiva científica que não damos conta da orfandade a que fomos remetidos nessa visão. 
A frieza científica reduz a espiritualidade humana a uma opção psicológica, no sentido de lidar com o seu fim anunciado e irremediável. Do ponto de vista espiritual, a mesma ciência nada oferece como resposta, limita-se a deixar os homens órfãos perante uma natureza implacável... como um acidente combinatório provocado por uma sequência genética. Faltará a prova impossível... a fabricação de uma consciência artificial, sendo certo que a manifestação de inteligência artificial não será difícil, nem trará nada de novo. Há já manifestações computacionais de pretensa inteligência, que nada acrescentam à questão principal.
A inteligência de índole material, como a capacidade de cálculo, é apenas uma adaptação fisiológica... tal como será uma visão apurada, ou a excelência num certo ofício. Essas podem ser simuladas computacionalmente... a inteligência humana revela-se na capacidade criadora, e não na imitadora.

Quando em 1859 Darwin apresenta a "Origem das Espécies" usa uma verdade de La Palisse:
- os organismos que não se reproduzem, não deixam uma árvore de descendência.
Apesar de simples, a observação não deixa de ser importante, e aparentemente original quando associada à justificação das espécies. Nenhuma novidade seria aí vista pela aristocracia... esta perspectiva animal estava há muito presente na preservação das linhagens. 
Não esperariam concerteza é que isso implicasse traçar a sua linha de progenitores a um qualquer primata africano... eficazmente, a árvore parava em Carlos Magno.

Se é evidente o argumento de Darwin, a sua única pertinência não trivial - justificar assim toda a diversidade animal, ficou sempre por demonstrar. Ou seja, é óbvio que a sobrevivência de indivíduos vai seleccionar possibilidades, pela semelhança de características com os progenitores - o factor dessa selecção estará sempre presente, mas seria suficiente para justificar toda a diversidade?

Há um contraponto interessante com a anterior teoria de Lamarck que admitia uma transmissão condicionada pela própria experiência da geração anterior. Se a evolução por selecção natural é inquestionável, a transmissão de características experimentadas foi rapidamente esquecida, e serviu apenas para ilustrar a maior pertinência de Darwin. No entanto, de entre todas as possibilidades genéticas, não é claro como se processa a escolha, e de que forma ela é completamente aleatória. Não sendo completamente aleatória, será ou não de considerar uma influência da própria vivência do progenitor. 
Esta concepção Lamarckiana é tanto mais relevante, quanto é certo que a aleatoriedade pura, é um objecto ideal... que não existe na prática. A evidência de rápidas mudanças, veio colocar em causa a tese da lenta selecção natural.
Com as novas evidências, fala-se agora num regresso de Lamarck...

Novas descobertas, como a de um dente de Homo Sapiens com 400 mil anos, vão questionando as habituais datações e a cronologia humana cuidadosamente estabelecida... Apesar disso, esta seguirá o seu percurso, ocultando ou negligenciando sempre os pequenos detalhes inconvenientes. Por exemplo, a existência das tribos da Patagónia, e algumas ossadas fossilizadas gigantescas:
Os patagões (séc.XVIII)... e a descoberta de gigantescos ossos fossilizados

Os relatos à época, referiam gigantes na Patagónia (e noutras partes da América), e isso foi um facto aceite até ao Séc.XIX, altura em que a Argentina independente se interessou pelos domínios a sul, que eram independentes. O extermínio dos patagões e tehuelches (começado com os araucanos) até início do Séc.XX, levou a uma estranha consequência - não se conhece nenhuma ossada que ateste essa gigante presença indígena. De assumido facto relatado até ao Séc.XVIII, passou depois à história como mito. 

Não discutimos aqui as teorias de Darwin ou Lamarck... há um aspecto mais notório que permite traçar a evolução - a concepção do feto. Os passos evolutivos são reproduzidos na gestação, e por aí é fácil traçar as semelhanças e diferenças (por exemplo: chimpanzés, gorilas, orangotangos, têm tempos de gestação entre 8 e 9 meses, próximos dos humanos). Há claramente uma linha de gestação que molda uma evolução e o suporte comum. A teoria de Darwin nada acrescenta de definitivo para além disso, constata apenas a trivialidade do fim de uma espécie sem descendentes.

A própria visita "naturalista" de Darwin às Galápagos não seria inédita, já que Tomás da Berlanga teria também trazido algumas espécies, quando aportou em 1535. O próprio nome "Galápagos" revelava já a notabilidade das suas tartarugas... (que sendo o seu nome em grego talvez evidencie conhecimento anterior).

Mais do que a visão naturalista darwinista, a opção benigna de reduzir o Homem à sua componente natural retirou-lhe, posteriormente, o carácter espiritual... como se isso fosse apenas mais um passo evolutivo. 
Não serviu para aproximar os animais dos homens, serviu para aproximar os homens dos animais.
Esta dialética esteve ainda na escravatura - o problema dos não-abolicionistas foi colocado no medo de que todos se tornassem "escravos do sistema", sob o pretexto de libertar alguns!

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publicado às 21:17

Com Bartolomeu de Gusmão ocorreu a mais notável e estranha proeza científica nacional... em 1709 teria sido o primeiro a criar uma máquina voadora. Como desde o tempo dos descobrimentos foram sempre muito secretas quaisquer proezas científicas, este é um caso singular.
Começa por ser singular num aspecto raramente mencionado... Gusmão, brasileiro de Santos, teria apenas 24 anos quando construiu a máquina, e a apresentou em Lisboa perante a corte e o povo. A recepção popular granjeou-lhe a fama de voador, já a recepção cortesã só lhe trouxe problemas, e rapidamente se recolheu à Universidade de Coimbra, para a disciplina de Direito Canónico... e só é revisto numa lista de 30 pessoas com que o Conde da Ericeira formou a Academia Real de História. Morrerá aos 37 anos no degredo, escapando à Inquisição, em Toledo.

O espanto foi de tal forma grande que terá permanecido na memória, até ser reabilitado como grande feito... já no início do Séc. XIX, isto porque 75 anos depois, no final do Séc.XVIII, os irmãos Montgolfier seriam reconhecidos como primeiros, com proeza semelhante, no prelúdio da Revolução Francesa.

A proeza de Gusmão levanta enormes dúvidas, e com razão...
Primeiro, as descrições/desenhos encontrados não permitiram nenhuma reprodução que fosse voadora:
Esboços da Passarola, de 1709: em cima, publicado num jornal de Viena,
em baixo, encontrado numa missiva na Biblioteca do Vaticano.

Os conhecimentos que temos de aeronáutica tornam ridícula qualquer ideia de que tal máquina pudesse voar. Fala-se por isso de um mau desenho, e que a obra de Gusmão seria mesmo um balão aerostático vulgar, propulsionado pela impulsão dos mais leves... porém nada indica tal coisa nos desenhos!
Do que se fala nos desenhos é de magnetos, e âmbar... sendo por isso  sugestionada a interpretação de engenho electromagnético. Porém, aqui reside o problema... nada semelhante foi feito desde então.
Uma explicação afinal simples, é encontrada num excelente resumo 
 Revista Brasileira do Ensino de Física (2009, vo. 31, nº3
... e tudo não teria sido mais do que um falso desenho promovido por Gusmão, com a ajuda do jovem 2º Marquês de Abrantes, então com 14 anos. Mencionar o âmbar e os magnetos seria algo que fascinaria a atenção da época... mas também a suspeição.

Acrescenta-se que a inspiração para o despiste, poderá ter origem num outro desenho mais antigo:

É neste desenho de Francesco Terzi de 1670, que um "balão" é desenhado e assim mencionado...

A palavra "balão" tinha outro significado em textos portugueses mais antigos.
(...) pelo que voltou para trás, e houve vista da outra frota, e despediu um balão a Francisco da Sylva de Meneses, com recado em que o avisava que eram as Naus dos Holandeses. Chegado o balão com o recado, ajuntou Francisco da Sylva de Meneses na sua Nau todos os capitães(...)
[Cinco livros da década doze, Diogo do Couto, 1645 (capítulo16)]
Esta nomenclatura "balão" ocorre assim noutro contexto...
Cada nau levaria balões - pequenos botes a remos - para rapidamente expedir mensagens. 
O nome "balão", agora em desuso como sinónimo de bote, tinha um significado apropriado colocado nas pequenas embarcações flutuantes. 

Fica uma dúvida mais legítima... como poderia alguém aos 24 anos, sem nenhum tutor especial, sair-se do zero para uma máquina tão sofisticada, e nunca pensada? Haveria alguma tradição científica que permitisse tal progresso aeronáutico?
Aqui uma resposta é o interessante nome Gusmão - não é o nome original de Bartolomeu Lourenço... é um nome que ele adopta em honra ao seu preceptor e ministro da corte, Alexandre Gusmão.

Bartolomeu Lourenço fará mais algumas invenções interessantes... e conforme é mencionado no artigo da Revista Brasileira do Ensino da Física, de Visoni e Canalle, é muito natural que houvesse uma recuperação de textos antigos de Arquimedes. 
A biblioteca lisboeta era ainda importante em 1709, e só 46 anos mais tarde seria destruída pelo incêndio que arrasou Lisboa, depois do terramoto. Nos seus primeiros anos de reinado, D. João V, com 20 anos, ainda desafiaria com alguma irreverência a corte... depois as coisas complicar-se-iam.
Afinal, o mesmo cardeal que assiste à demonstração de Gusmão na Casa da India será justamente o próximo papa.
A fénix portuguesa não iria renascer... ao contrário iria auto-incenerar-se!
Suponhamos que Nero ao invés de ser conhecido como "aquele que incendiou Roma", seria afinal aquele que a mandou reconstruir depois de um trágico acidente. Acrescente-se a isso que se promulgava, a partir daí, que antes de Nero Roma estava em decadência.
Pois... Portugal após a regência de Pombal não ficou mais próximo dos outros reinos europeus, ao contrário consolidou definitivamente uma margem inalcançável. Foi chamado progresso ao que não se destruiu, e foi pintada uma Lisboa medieval, antes de Pombal. Tudo poderá não ter passado de um maquiavélico plano de propaganda... De D. João V ficaram vários monumentos, e uma tentativa de renascimento, do seu filho D: José e do seu marquês, ficou um terramoto, e uma pressuposta auto-elogiada reconstrução. Nada mais? Uma ditadura sanguinária e uma censura temível...

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publicado às 07:02

Com Bartolomeu de Gusmão ocorreu a mais notável e estranha proeza científica nacional... em 1709 teria sido o primeiro a criar uma máquina voadora. Como desde o tempo dos descobrimentos foram sempre muito secretas quaisquer proezas científicas, este é um caso singular.
Começa por ser singular num aspecto raramente mencionado... Gusmão, brasileiro de Santos, teria apenas 24 anos quando construiu a máquina, e a apresentou em Lisboa perante a corte e o povo. A recepção popular granjeou-lhe a fama de voador, já a recepção cortesã só lhe trouxe problemas, e rapidamente se recolheu à Universidade de Coimbra, para a disciplina de Direito Canónico... e só é revisto numa lista de 30 pessoas com que o Conde da Ericeira formou a Academia Real de História. Morrerá aos 37 anos no degredo, escapando à Inquisição, em Toledo.

O espanto foi de tal forma grande que terá permanecido na memória, até ser reabilitado como grande feito... já no início do Séc. XIX, isto porque 75 anos depois, no final do Séc.XVIII, os irmãos Montgolfier seriam reconhecidos como primeiros, com proeza semelhante, no prelúdio da Revolução Francesa.

A proeza de Gusmão levanta enormes dúvidas, e com razão...
Primeiro, as descrições/desenhos encontrados não permitiram nenhuma reprodução que fosse voadora:
Esboços da Passarola, de 1709: em cima, publicado num jornal de Viena,
em baixo, encontrado numa missiva na Biblioteca do Vaticano.

Os conhecimentos que temos de aeronáutica tornam ridícula qualquer ideia de que tal máquina pudesse voar. Fala-se por isso de um mau desenho, e que a obra de Gusmão seria mesmo um balão aerostático vulgar, propulsionado pela impulsão dos mais leves... porém nada indica tal coisa nos desenhos!
Do que se fala nos desenhos é de magnetos, e âmbar... sendo por isso  sugestionada a interpretação de engenho electromagnético. Porém, aqui reside o problema... nada semelhante foi feito desde então.
Uma explicação afinal simples, é encontrada num excelente resumo 
 Revista Brasileira do Ensino de Física (2009, vo. 31, nº3
... e tudo não teria sido mais do que um falso desenho promovido por Gusmão, com a ajuda do jovem 2º Marquês de Abrantes, então com 14 anos. Mencionar o âmbar e os magnetos seria algo que fascinaria a atenção da época... mas também a suspeição.

Acrescenta-se que a inspiração para o despiste, poderá ter origem num outro desenho mais antigo:

É neste desenho de Francesco Terzi de 1670, que um "balão" é desenhado e assim mencionado...

A palavra "balão" tinha outro significado em textos portugueses mais antigos.
(...) pelo que voltou para trás, e houve vista da outra frota, e despediu um balão a Francisco da Sylva de Meneses, com recado em que o avisava que eram as Naus dos Holandeses. Chegado o balão com o recado, ajuntou Francisco da Sylva de Meneses na sua Nau todos os capitães(...)
[Cinco livros da década doze, Diogo do Couto, 1645 (capítulo16)]
Esta nomenclatura "balão" ocorre assim noutro contexto...
Cada nau levaria balões - pequenos botes a remos - para rapidamente expedir mensagens. 
O nome "balão", agora em desuso como sinónimo de bote, tinha um significado apropriado colocado nas pequenas embarcações flutuantes. 

Fica uma dúvida mais legítima... como poderia alguém aos 24 anos, sem nenhum tutor especial, sair-se do zero para uma máquina tão sofisticada, e nunca pensada? Haveria alguma tradição científica que permitisse tal progresso aeronáutico?
Aqui uma resposta é o interessante nome Gusmão - não é o nome original de Bartolomeu Lourenço... é um nome que ele adopta em honra ao seu preceptor e ministro da corte, Alexandre Gusmão.

Bartolomeu Lourenço fará mais algumas invenções interessantes... e conforme é mencionado no artigo da Revista Brasileira do Ensino da Física, de Visoni e Canalle, é muito natural que houvesse uma recuperação de textos antigos de Arquimedes. 
A biblioteca lisboeta era ainda importante em 1709, e só 46 anos mais tarde seria destruída pelo incêndio que arrasou Lisboa, depois do terramoto. Nos seus primeiros anos de reinado, D. João V, com 20 anos, ainda desafiaria com alguma irreverência a corte... depois as coisas complicar-se-iam.
Afinal, o mesmo cardeal que assiste à demonstração de Gusmão na Casa da India será justamente o próximo papa.
A fénix portuguesa não iria renascer... ao contrário iria auto-incenerar-se!
Suponhamos que Nero ao invés de ser conhecido como "aquele que incendiou Roma", seria afinal aquele que a mandou reconstruir depois de um trágico acidente. Acrescente-se a isso que se promulgava, a partir daí, que antes de Nero Roma estava em decadência.
Pois... Portugal após a regência de Pombal não ficou mais próximo dos outros reinos europeus, ao contrário consolidou definitivamente uma margem inalcançável. Foi chamado progresso ao que não se destruiu, e foi pintada uma Lisboa medieval, antes de Pombal. Tudo poderá não ter passado de um maquiavélico plano de propaganda... De D. João V ficaram vários monumentos, e uma tentativa de renascimento, do seu filho D: José e do seu marquês, ficou um terramoto, e uma pressuposta auto-elogiada reconstrução. Nada mais? Uma ditadura sanguinária e uma censura temível...

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publicado às 07:02


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