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Já aqui falámos sobre o Conde D. Henrique, a sua possível ascendência da casa de Bolonha, do Bulhão, e sobre as armas cujos bezantes lembrariam os das quinas. Isto resulta do relato de Damião de Góis, incluso despercebidamente na Crónica de D. Manuel.
Conde D. Henrique (na Epitome, de Faria e Sousa)

É claro que surgiram opiniões diversas, e Manuel Faria e Sousa (1590-1649), na Epitome de las Historias Portuguesas (escrita em espanhol e publicada em Bruxelas, 1677), diz o seguinte:
No se sabia, pues, de Enrique (como del Emperador Claudio Segundo) la patria, ni los padres, si bien le hazian sublime sus virtudes y sus hazañas , ascendencia mayor en todas edades, esplendor raro en qualquier Principe.
Faria e Sousa sintetiza como fabulosas as versões que o colocavam de Lorena (Bolonha, a versão de Damião de Góis), da Hungria ou Constantinopla, e sustém a tese de ser o quarto filho de Henrique, filho do primeiro duque de Borgonha, Roberto.

Muito posteriormente, em 1831, no ano seguinte à independência da Bélgica, a Academia de Ciências faz sair por António d'Almeida um exame das várias teses sobre o Conde D. Henrique. Em particular, é referida a hipótese de Damião de Góis, onde é considerado falso que:
-  o Conde D. Henrique seja segundo filho de Guilherme de Joinville, e por isso não pertenceria à casa dos duques de Lorena.
- pela parte materna seja descendente de D. Ramiro I, rei de Aragão - hipótese que Góis também sustinha.
- lhe tivesse sido dado o Condado de Astorga, ou ainda que tivesse vindo a Hespanha numa armada holandesa.

Basicamente a refutação sustenta que, sendo Guilherme de Joinville o filho mais novo de Eustácio II, então Henrique, o segundo filho de Guilherme, não estaria em condições de combater ao lado de Afonso VI de Leão contra o seu irmão Sancho, em 1072. Note-se ainda que Faria e Sousa coloca o casamento com D. Teresa em 1073. Como os filhos reconhecidos de Eustácio II (~1017-1087), com Ida de Lorena, foram nascidos entre 1056 (Eustácio III) e 1065 (Balduíno), um irmão mais novo colocaria de facto uma clara impossibilidade física.
Porém a questão é mais complicada... seguindo um link (enviado por Calisto) sobre a linhagem de Bolonha, encontramos um casamento prévio de Eustácio, com Goda, princesa de Inglaterra, em 1036, do qual não é suposto haver nenhum filho. Eustácio só teria filhos de Ida, ou possíveis ilegítimos...
Nesse mesmo link, citando um autor Murray (2000), somos levados à existência de um Guillaume, pela Genealogica comitum Boloniensium (séc. XIV), mas agora filho mais velho de Eustácio II. 
Curiosamente, a ordem seria: Guilherme, Godofredo, Balduíno, Eustácio III.
No link é colocada uma certa surpresa na existência deste Guillaume, mencionado por Damião de Góis. Acresce a suspeita de que não seria ilegítimo, pois Geoffrey, um outro bastardo de Eustácio II não é referido.
A participação de Eustácio II em Hastings, 1066 
(tapeçarias de Bayeux) [img]

A história de Damião de Góis faz sentido com uma ligeira alteração.
Do primeiro casamento, com Goda, Eustácio II poderia ter tido Guilherme. Depois, com Ida de Lorena, teria os restantes três. O sucesso dos filhos de Ida, Godofredo ao conquistar Jerusalém, e Balduíno, que se torna Rei de Jerusalém, deixam a posição de Guilherme frágil face aos restantes e em particular a Eustácio III, irmão dos outros dois. Seria assim, o irmão mais novo Eustácio III a herdar o condado de Bolonha - o único filho de Ida que deixaria descendência. 
Para contextualizar, há relatos de histórias que colocavam "Santa" Ida, e a gestação dos seus filhos, em paralelo com Santa Maria. O impacto da reconquista de Jerusalém era enorme, e mesmo um Guilherme filho de uma princesa inglesa (ou outra) apareceria diminuído face a Eustácio III, filho de Santa Ida. 

Este é um possível contexto explicativo para a tese de Damião de Góis, dando-lhe pelo menos o crédito de descobrir um Guilherme filho de Eustácio, entretanto apagado dos registos. No entanto, de acordo com as datas, há razão na crítica de António d'Almeida... um filho mais novo colocaria uma impossibilidade de datação.

Não deixamos de notar uma citação exagerada(?) que António d'Almeida faz sobre o túmulo do fundador da monarquia, com um letreiro de versos em latim, assinalado por Fr. António Brandão, que diria:
"... outro Alexandre jaz aqui, ou Júlio outro"
São ainda referidos os feitos do Conde D. Henrique numa jornada a Jerusalém, em 1103, de onde teria trazido importantes relíquias para Braga, dadas pelo (tio) rei Balduíno I.

Esta ligação a Jerusalém apareceu também referida em termos do brasão com os bezantes.
O nome bezante viria da moeda de ouro do Império Bizantino, que ficou colocado na heráldica de Bolonha, e também do duque da Cornualha (com 15 bezantes). Era uma característica de brasões de quem tinha participado nas Cruzadas.

Um link sobre a heráldica de Bolonha (também indicado por Calisto), mostra pormenores interessantes sobre a evolução dos bezantes no condado de Bolonha.
Primeiro, Eustácio II terá usado quatro bezantes, e o sucessor de Eustácio III já usava 6 bezantes, não parecendo por isso haver um limite, ou um valor fixo. O facto é mencionado como estranho nesse texto, e depois associado às cruzadas, ainda que sem justificação sobre o número.


Condado de Bolonha: 4 bezantes de Eustácio II, 
e 6 bezantes de Etienne du Blois [img]

No caso da monarquia portuguesa, conforme já referimos, houve também um acréscimo de 5 para 11, para que depois se fixasse em 5, na época de D. João II. Aí as quinas foram colocadas em orientação vertical, por uma questão de prestígio... como se algum prestígio tivesse sido recuperado.
A esse propósito, é interessante referir, que não escondendo a sua intenção de atingir Jerusalém, como objectivo final da empresa de Tanger, o infante D. Henrique usa como motto IDA.
A palavra IDA seria associada à "ida" a Jerusalém... mas por outro lado, é impossível ignorar que o nome de Ida estava também presente nos seus filhos, primeiros reis de Jerusalém. A verificar-se esta diferença de linhagem, o Infante D. Henrique talvez procurasse legitimar a linha de Guilherme, com uma nova conquista de Jerusalém. A atitude de D. João II parece indicar que no seu reinado o problema de legitimidade ancestral teria sido finalmente resolvido.

Quanto ao Condado de Bolonha, tal como no caso português, ele acabaria ainda por reduzir e fixar o número de bezantes em três, ao mesmo tempo que adoptava o cisne, associado à lenda do Cavaleiro do Cisne (Lohengrin... já mencionado aqui pela Maria da Fonte), bem ligada a Bolonha e Brabante.
  
Condado de Bolonha: número fixo de bezantes e o cisne [img]

A menção ao reino da Bélgica, fundado em 1830, está relacionada com a sua pretensa ligação ao senhorio do Bulhão, próximo de Bolonha, a que não será alheio o nome Balduíno, que os seus monarcas vieram a adoptar posteriormente.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:16

Já aqui falámos sobre o Conde D. Henrique, a sua possível ascendência da casa de Bolonha, do Bulhão, e sobre as armas cujos bezantes lembrariam os das quinas. Isto resulta do relato de Damião de Góis, incluso despercebidamente na Crónica de D. Manuel.
Conde D. Henrique (na Epitome, de Faria e Sousa)

É claro que surgiram opiniões diversas, e Manuel Faria e Sousa (1590-1649), na Epitome de las Historias Portuguesas (escrita em espanhol e publicada em Bruxelas, 1677), diz o seguinte:
No se sabia, pues, de Enrique (como del Emperador Claudio Segundo) la patria, ni los padres, si bien le hazian sublime sus virtudes y sus hazañas , ascendencia mayor en todas edades, esplendor raro en qualquier Principe.
Faria e Sousa sintetiza como fabulosas as versões que o colocavam de Lorena (Bolonha, a versão de Damião de Góis), da Hungria ou Constantinopla, e sustém a tese de ser o quarto filho de Henrique, filho do primeiro duque de Borgonha, Roberto.

Muito posteriormente, em 1831, no ano seguinte à independência da Bélgica, a Academia de Ciências faz sair por António d'Almeida um exame das várias teses sobre o Conde D. Henrique. Em particular, é referida a hipótese de Damião de Góis, onde é considerado falso que:
-  o Conde D. Henrique seja segundo filho de Guilherme de Joinville, e por isso não pertenceria à casa dos duques de Lorena.
- pela parte materna seja descendente de D. Ramiro I, rei de Aragão - hipótese que Góis também sustinha.
- lhe tivesse sido dado o Condado de Astorga, ou ainda que tivesse vindo a Hespanha numa armada holandesa.

Basicamente a refutação sustenta que, sendo Guilherme de Joinville o filho mais novo de Eustácio II, então Henrique, o segundo filho de Guilherme, não estaria em condições de combater ao lado de Afonso VI de Leão contra o seu irmão Sancho, em 1072. Note-se ainda que Faria e Sousa coloca o casamento com D. Teresa em 1073. Como os filhos reconhecidos de Eustácio II (~1017-1087), com Ida de Lorena, foram nascidos entre 1056 (Eustácio III) e 1065 (Balduíno), um irmão mais novo colocaria de facto uma clara impossibilidade física.
Porém a questão é mais complicada... seguindo um link (enviado por Calisto) sobre a linhagem de Bolonha, encontramos um casamento prévio de Eustácio, com Goda, princesa de Inglaterra, em 1036, do qual não é suposto haver nenhum filho. Eustácio só teria filhos de Ida, ou possíveis ilegítimos...
Nesse mesmo link, citando um autor Murray (2000), somos levados à existência de um Guillaume, pela Genealogica comitum Boloniensium (séc. XIV), mas agora filho mais velho de Eustácio II. 
Curiosamente, a ordem seria: Guilherme, Godofredo, Balduíno, Eustácio III.
No link é colocada uma certa surpresa na existência deste Guillaume, mencionado por Damião de Góis. Acresce a suspeita de que não seria ilegítimo, pois Geoffrey, um outro bastardo de Eustácio II não é referido. 
A participação de Eustácio II em Hastings, 1066 (tapeçarias de Bayeux)

A história de Damião de Góis faz sentido com uma ligeira alteração.
Do primeiro casamento, com Goda, Eustácio II poderia ter tido Guilherme. Depois, com Ida de Lorena, teria os restantes três. O sucesso dos filhos de Ida, Godofredo ao conquistar Jerusalém, e Balduíno, que se torna Rei de Jerusalém, deixam a posição de Guilherme frágil face aos restantes e em particular a Eustácio III, irmão dos outros dois. Seria assim, o irmão mais novo Eustácio III a herdar o condado de Bolonha - o único filho de Ida que deixaria descendência. 
Para contextualizar, há relatos de histórias que colocavam "Santa" Ida, e a gestação dos seus filhos, em paralelo com Santa Maria. O impacto da reconquista de Jerusalém era enorme, e mesmo um Guilherme filho de uma princesa inglesa (ou outra) apareceria diminuído face a Eustácio III, filho de Santa Ida. 

Este é um possível contexto explicativo para a tese de Damião de Góis, dando-lhe pelo menos o crédito de descobrir um Guilherme filho de Eustácio, entretanto apagado dos registos. No entanto, de acordo com as datas, há razão na crítica de António d'Almeida... um filho mais novo colocaria uma impossibilidade de datação.

Não deixamos de notar uma citação exagerada(?) que António d'Almeida faz sobre o túmulo do fundador da monarquia, com um letreiro de versos em latim, assinalado por Fr. António Brandão, que diria:
"... outro Alexandre jaz aqui, ou Júlio outro"
São ainda referidos os feitos do Conde D. Henrique numa jornada a Jerusalém, em 1103, de onde teria trazido importantes relíquias para Braga, dadas pelo (tio) rei Balduíno I.

Esta ligação a Jerusalém apareceu também referida em termos do brasão com os bezantes.
O nome bezante viria da moeda de ouro do Império Bizantino, que ficou colocado na heráldica de Bolonha, e também do duque da Cornualha (com 15 bezantes). Era uma característica de brasões de quem tinha participado nas Cruzadas.

Um link sobre a heráldica de Bolonha (também indicado por Calisto), mostra pormenores interessantes sobre a evolução dos bezantes no condado de Bolonha.
Primeiro, Eustácio II terá usado quatro bezantes, e o sucessor de Eustácio III já usava 6 bezantes, não parecendo por isso haver um limite, ou um valor fixo. O facto é mencionado como estranho nesse texto, e depois associado às cruzadas, ainda que sem justificação sobre o número.
  
Condado de Bolonha: 4 bezantes de Eustácio II, e 6 bezantes de Etienne du Blois

No caso da monarquia portuguesa, conforme já referimos, houve também um acréscimo de 5 para 11, para que depois se fixasse em 5, na época de D. João II. Aí as quinas foram colocadas em orientação vertical, por uma questão de prestígio... como se algum prestígio tivesse sido recuperado.
A esse propósito, é interessante referir, que não escondendo a sua intenção de atingir Jerusalém, como objectivo final da empresa de Tanger, o infante D. Henrique usa como motto IDA.
A palavra IDA seria associada à "ida" a Jerusalém... mas por outro lado, é impossível ignorar que o nome de Ida estava também presente nos seus filhos, primeiros reis de Jerusalém. A verificar-se esta diferença de linhagem, o Infante D. Henrique talvez procurasse legitimar a linha de Guilherme, com uma nova conquista de Jerusalém. A atitude de D. João II parece indicar que no seu reinado o problema de legitimidade ancestral teria sido finalmente resolvido.

Quanto ao Condado de Bolonha, tal como no caso português, ele acabaria ainda por reduzir e fixar o número de bezantes em três, ao mesmo tempo que adoptava o cisne, associado à lenda do Cavaleiro do Cisne (Lohengrin... já mencionado aqui pela Maria da Fonte), bem ligada a Bolonha e Brabante.
  
Condado de Bolonha: número fixo de bezantes e o cisne

A menção ao reino da Bélgica, fundado em 1830, está relacionada com a sua pretensa ligação ao senhorio do Bulhão, próximo de Bolonha, a que não será alheio o nome Balduíno, que os seus monarcas vieram a adoptar posteriormente.

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publicado às 23:16

Na continuação da descrição da viagem de Filipe II, Lavanha fala de Salvaterra e Almeirim, dizendo:
De Salvaterra foi sua Majestade aos 9 a Almeirim, 2 léguas de Salvaterra, lugar onde os Reis de Portugal só iam passar os Invernos, e onde para sua habitação fundaram uns grandes paços com deleitosos jardins. E pela mesma causa edificaram nela casas os senhores e fidalgos que seguiam a Corte, com que se fez uma povoação em que toda a Corte se alojava; hoje são campos onde foi Troya, o mesmo fora dos Paços se senão repararam.
Lavanha alude a que seriam então campos onde antes fora Tróia, sem especificar a sua localização. Mas é curioso colocar aqui essa menção, a propósito de um possível abandono dos paços de Almeirim.
Antes disso falava de Setúbal, da seguinte forma
É uma das maiores e mais assinaladas vilas de Portugal, por causa do seu porto formado no rio Cadão, que ali entra no Oceano, e de uma língua de terra que o mar há estreitado.
O rio Cadão passará a Çadão e a Sado, sendo ao tempo dos romanos Calippo, o que dava a consistência à lenda de Ulisses e Calipso, filha de Gorgoris. 
Lavanha fala então da língua de terra, que hoje é Tróia, dizendo que seria essa chamada Cetobriga (de Ceto, peixe grande), associando o nome a "cidade de pescadores", invocando as ruínas com os tanques (que seriam para salgar os grandes peixes: atuns, corvinas), e outros edifícios de onde se tiravam estátuas, colunas, e inscrições, guardadas na casa do Duque de Aveiro. Continua, dizendo:
A estas ruínas chama o vulgo Troya, com que quer dar a entender que são da povoação que ali houve. A qual destruída (de que a causa se não sabe) se mudaram seus habitantes à outra banda do porto há mais de quinhentos anos, onde hoje está a vila do mesmo nome de nova Cetobriga, corrompido em Cetobra, e com maior corrupção Cetobala, e Setuval, como hoje se chama a Colónia de Cetobriga, e não povoação de Tubal.
Lavanha é suficientemente ambíguo. Apenas atribui a associação à população residente, e se levanta essa possível identificação de Tróias, acaba por dizer noutro sentido que Setúbal não estaria associada a Tubal.

 
Imagens das ruínas em Tróia (Setúbal) 

Convirá notar que será apenas após os descobrimentos que se torna evidente uma investigação histórica, com base em historiadores romanos, que procura levantar uma grandeza ibérica esquecida. Isso foi alvo de imediatas críticas, que levaram a uma anulação completa do assunto após o séc. XIX, associando este tema apenas a uma empresa propagandistica dos Habsburgos em Espanha, e assim ignorando as extensas fontes utilizadas e citadas, nomeadamente por Fr. Bernardo de Brito.

Houve talvez demasiado exagero pelo lado ibérico, o que levou a uma exagerada reacção com epicentro nos outros centros culturais europeus, especialmente franceses.
Uma associação que apareceria contraditória seria ligar a Tróia de Homero à Tróia de Setúbal.
Sendo considerado que Ulisses forma Lisboa no seu regresso da guerra de Tróia, esta cidade não estaria na Lusitania, nos domínios do Rei Gorgoris. Acresce que a península de Tróia não tem qualquer semelhança geográfica com a descrição da Tróia de Homero, embora o mesmo já não se possa dizer do outro lado, de Palmela à Serra da Arrábida (também dita Rábida).
Lavanha reporta a conquista de Palmela e Sesimbra (Cezimbra) por D. Afonso Henriques em 1165, por  resistência intermitente do rei mouro de Badajoz, e portanto muito depois da conquista de Alcácer do Sal em 1158 (cf. questão de Ourique).

O parque natural da Arrábida é uma zona razoavelmente pequena, mas com paisagens fascinantes, que encerram algumas estelas/inscrições à vista de todos, mas razoavelmente mal identificadas ou ignoradas. A zona deveria ser suficientemente rica em material arqueológico, mas não parece haver notícia de exploração sistemática com resultados significativos... o que se vem tornando habitual.


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publicado às 07:41

Na continuação da descrição da viagem de Filipe II, Lavanha fala de Salvaterra e Almeirim, dizendo:
De Salvaterra foi sua Majestade aos 9 a Almeirim, 2 léguas de Salvaterra, lugar onde os Reis de Portugal só iam passar os Invernos, e onde para sua habitação fundaram uns grandes paços com deleitosos jardins. E pela mesma causa edificaram nela casas os senhores e fidalgos que seguiam a Corte, com que se fez uma povoação em que toda a Corte se alojava; hoje são campos onde foi Troya, o mesmo fora dos Paços se senão repararam.
Lavanha alude a que seriam então campos onde antes fora Tróia, sem especificar a sua localização. Mas é curioso colocar aqui essa menção, a propósito de um possível abandono dos paços de Almeirim.
Antes disso falava de Setúbal, da seguinte forma
É uma das maiores e mais assinaladas vilas de Portugal, por causa do seu porto formado no rio Cadão, que ali entra no Oceano, e de uma língua de terra que o mar há estreitado.
O rio Cadão passará a Çadão e a Sado, sendo ao tempo dos romanos Calippo, o que dava a consistência à lenda de Ulisses e Calipso, filha de Gorgoris. 
Lavanha fala então da língua de terra, que hoje é Tróia, dizendo que seria essa chamada Cetobriga (de Ceto, peixe grande), associando o nome a "cidade de pescadores", invocando as ruínas com os tanques (que seriam para salgar os grandes peixes: atuns, corvinas), e outros edifícios de onde se tiravam estátuas, colunas, e inscrições, guardadas na casa do Duque de Aveiro. Continua, dizendo:
A estas ruínas chama o vulgo Troya, com que quer dar a entender que são da povoação que ali houve. A qual destruída (de que a causa se não sabe) se mudaram seus habitantes à outra banda do porto há mais de quinhentos anos, onde hoje está a vila do mesmo nome de nova Cetobriga, corrompido em Cetobra, e com maior corrupção Cetobala, e Setuval, como hoje se chama a Colónia de Cetobriga, e não povoação de Tubal.
Lavanha é suficientemente ambíguo. Apenas atribui a associação à população residente, e se levanta essa possível identificação de Tróias, acaba por dizer noutro sentido que Setúbal não estaria associada a Tubal.

 
Imagens das ruínas em Tróia (Setúbal) 

Convirá notar que será apenas após os descobrimentos que se torna evidente uma investigação histórica, com base em historiadores romanos, que procura levantar uma grandeza ibérica esquecida. Isso foi alvo de imediatas críticas, que levaram a uma anulação completa do assunto após o séc. XIX, associando este tema apenas a uma empresa propagandistica dos Habsburgos em Espanha, e assim ignorando as extensas fontes utilizadas e citadas, nomeadamente por Fr. Bernardo de Brito.

Houve talvez demasiado exagero pelo lado ibérico, o que levou a uma exagerada reacção com epicentro nos outros centros culturais europeus, especialmente franceses.
Uma associação que apareceria contraditória seria ligar a Tróia de Homero à Tróia de Setúbal.
Sendo considerado que Ulisses forma Lisboa no seu regresso da guerra de Tróia, esta cidade não estaria na Lusitania, nos domínios do Rei Gorgoris. Acresce que a península de Tróia não tem qualquer semelhança geográfica com a descrição da Tróia de Homero, embora o mesmo já não se possa dizer do outro lado, de Palmela à Serra da Arrábida (também dita Rábida).
Lavanha reporta a conquista de Palmela e Sesimbra (Cezimbra) por D. Afonso Henriques em 1165, por  resistência intermitente do rei mouro de Badajoz, e portanto muito depois da conquista de Alcácer do Sal em 1158 (cf. questão de Ourique).

O parque natural da Arrábida é uma zona razoavelmente pequena, mas com paisagens fascinantes, que encerram algumas estelas/inscrições à vista de todos, mas razoavelmente mal identificadas ou ignoradas. A zona deveria ser suficientemente rica em material arqueológico, mas não parece haver notícia de exploração sistemática com resultados significativos... o que se vem tornando habitual.


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publicado às 07:41

Na continuação da descrição da viagem de Filipe II, Lavanha fala de Salvaterra e Almeirim, dizendo:
De Salvaterra foi sua Majestade aos 9 a Almeirim, 2 léguas de Salvaterra, lugar onde os Reis de Portugal só iam passar os Invernos, e onde para sua habitação fundaram uns grandes paços com deleitosos jardins. E pela mesma causa edificaram nela casas os senhores e fidalgos que seguiam a Corte, com que se fez uma povoação em que toda a Corte se alojava; hoje são campos onde foi Troya, o mesmo fora dos Paços se senão repararam.
Lavanha alude a que seriam então campos onde antes fora Tróia, sem especificar a sua localização. Mas é curioso colocar aqui essa menção, a propósito de um possível abandono dos paços de Almeirim.
Antes disso falava de Setúbal, da seguinte forma
É uma das maiores e mais assinaladas vilas de Portugal, por causa do seu porto formado no rio Cadão, que ali entra no Oceano, e de uma língua de terra que o mar há estreitado.
O rio Cadão passará a Çadão e a Sado, sendo ao tempo dos romanos Calippo, o que dava a consistência à lenda de Ulisses e Calipso, filha de Gorgoris. 
Lavanha fala então da língua de terra, que hoje é Tróia, dizendo que seria essa chamada Cetobriga (de Ceto, peixe grande), associando o nome a "cidade de pescadores", invocando as ruínas com os tanques (que seriam para salgar os grandes peixes: atuns, corvinas), e outros edifícios de onde se tiravam estátuas, colunas, e inscrições, guardadas na casa do Duque de Aveiro. Continua, dizendo:
A estas ruínas chama o vulgo Troya, com que quer dar a entender que são da povoação que ali houve. A qual destruída (de que a causa se não sabe) se mudaram seus habitantes à outra banda do porto há mais de quinhentos anos, onde hoje está a vila do mesmo nome de nova Cetobriga, corrompido em Cetobra, e com maior corrupção Cetobala, e Setuval, como hoje se chama a Colónia de Cetobriga, e não povoação de Tubal.
Lavanha é suficientemente ambíguo. Apenas atribui a associação à população residente, e se levanta essa possível identificação de Tróias, acaba por dizer noutro sentido que Setúbal não estaria associada a Tubal.

 
Imagens das ruínas em Tróia (Setúbal) 

Convirá notar que será apenas após os descobrimentos que se torna evidente uma investigação histórica, com base em historiadores romanos, que procura levantar uma grandeza ibérica esquecida. Isso foi alvo de imediatas críticas, que levaram a uma anulação completa do assunto após o séc. XIX, associando este tema apenas a uma empresa propagandistica dos Habsburgos em Espanha, e assim ignorando as extensas fontes utilizadas e citadas, nomeadamente por Fr. Bernardo de Brito.

Houve talvez demasiado exagero pelo lado ibérico, o que levou a uma exagerada reacção com epicentro nos outros centros culturais europeus, especialmente franceses.
Uma associação que apareceria contraditória seria ligar a Tróia de Homero à Tróia de Setúbal.
Sendo considerado que Ulisses forma Lisboa no seu regresso da guerra de Tróia, esta cidade não estaria na Lusitania, nos domínios do Rei Gorgoris. Acresce que a península de Tróia não tem qualquer semelhança geográfica com a descrição da Tróia de Homero, embora o mesmo já não se possa dizer do outro lado, de Palmela à Serra da Arrábida (também dita Rábida).
Lavanha reporta a conquista de Palmela e Sesimbra (Cezimbra) por D. Afonso Henriques em 1165, por  resistência intermitente do rei mouro de Badajoz, e portanto muito depois da conquista de Alcácer do Sal em 1158 (cf. questão de Ourique).

O parque natural da Arrábida é uma zona razoavelmente pequena, mas com paisagens fascinantes, que encerram algumas estelas/inscrições à vista de todos, mas razoavelmente mal identificadas ou ignoradas. A zona deveria ser suficientemente rica em material arqueológico, mas não parece haver notícia de exploração sistemática com resultados significativos... o que se vem tornando habitual.


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 23:41

Na Batalha de Alcântara em 1580, D. António não consegue evitar a progressão das forças do Duque de Alba, desembarcadas no Cabo de Cascais, em direcção a Lisboa. A designação à época - Cabo de Cascais é diferente da chamada Roca de Sintra.
Um excelente documento sobre a Batalha de Alcântara está disponível no site areamilitar.
A mais conhecida imagem da época mostra detalhes da paisagem, vista de Alcântara, que são interessantes por si só.

Podemos ver nesta imagem que a Torre de Belém está situada bem no meio do estuário, completamente rodeada por água, longe de terra. Há um braço de praia em frente a Belém, que estende até uma baía formada pela foz da ribeira de Alcântara. Vê-se ainda a antiga ponte de Alcântara. Toda esta paisagem foi mudada, a água desceu e Lisboa ganhou terra ao Tejo e a praia desapareceu, colando a linha de água pela posição da Torre de Belém (na altura também chamada Torre de S. Vicente).

Mais interessante é o pormenor que nos mostra Almada, com Palmela ao fundo, quase à beira-mar, ou melhor, à beira-rio:
A linha de água submergia grande parte da margem sul, na zona do Seixal, e estava quase encostada à zona do Castelo de Palmela, onde se lê "Palmela a 9 léguas de Lisboa".
Isto concorre com a hipótese de um nível da água do mar superior, como já abordámos.

Lavanha aproveita a descrição da viagem de Filipe II para ainda nos dar conta de factos acessórios.
Perto, entre Azeitão e Coina (ou rio Couna) estavam as matas e jardins do novo Duque de Aveiro (que acolheu Filipe II, no final da sua visita a Portugal, conforme diz Lavanha). O anterior Duque de Aveiro tinha morrido ao lado de D. Sebastião, em Alcácer Quibir.

Ao descrever a visita a Sintra, Lavanha revela que a sua ponta mais ocidental seria o Promontório Magno, ou Olisiponense, que era modernamente denominado Roca de Sintra... ou seja o Cabo da Roca. Fala ainda do convento de N. Sra. da Pena, da Ordem de S. Jerónimo, fundado por D. João II, que oficialmente ruiu pelo terramoto, e onde depois Fernando II, consorte de Maria II, edificou o Palácio da Pena sobre as ruínas, perdendo-se o vestígio da construção original. Essa construção teria "a Igreja e Oficinas, necessárias para um inteiro Mosteiro lavradas na mesma rocha".
Finalmente revela que, à época, num promontório da serra, existiriam ainda vestígios e inscrições de um antigo Templo dedicado ao Sol e à Lua.
No regresso de Sintra, Filipe II teria passado pela vila de Cascaes e pela fortaleza de S. Gião (depois S. Julião da Barra). Já mencionámos o Cabo de Cascais, que seria provavelmente a denominação junto ao Guincho-Cascais, onde foram encontrados vestígios arqueológicos de pesca.

É interessante a propósito do nome Cascais referir a menção do historiador árabe Al Masudi (-956 d.C.) sobre as explorações atlânticas de um jovem navegador de Córdoba, cujo nome seria KhashKhash, sendo talvez KhashKhash al Bahri ("o navegador") que morreu em 859 d.C. combatendo os normandos, justamente próximo de Cascais. Foneticamente, parece haver uma clara semelhança entre o nome da vila e o nome do navegador. Informações sobre as viagens árabes podem ser encontradas num interessante artigo de Abbas Hamdani (Handbuch der Orientalistik, S. Kahdra Jayyusi, M. Marin, pag. 275).

(12/04/2011)

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publicado às 07:48

Na Batalha de Alcântara em 1580, D. António não consegue evitar a progressão das forças do Duque de Alba, desembarcadas no Cabo de Cascais, em direcção a Lisboa. A designação à época - Cabo de Cascais é diferente da chamada Roca de Sintra.
Um excelente documento sobre a Batalha de Alcântara está disponível no site areamilitar.
A mais conhecida imagem da época mostra detalhes da paisagem, vista de Alcântara, que são interessantes por si só.

Podemos ver nesta imagem que a Torre de Belém está situada bem no meio do estuário, completamente rodeada por água, longe de terra. Há um braço de praia em frente a Belém, que estende até uma baía formada pela foz da ribeira de Alcântara. Vê-se ainda a antiga ponte de Alcântara. Toda esta paisagem foi mudada, a água desceu e Lisboa ganhou terra ao Tejo e a praia desapareceu, colando a linha de água pela posição da Torre de Belém (na altura também chamada Torre de S. Vicente).

Mais interessante é o pormenor que nos mostra Almada, com Palmela ao fundo, quase à beira-mar, ou melhor, à beira-rio:
A linha de água submergia grande parte da margem sul, na zona do Seixal, e estava quase encostada à zona do Castelo de Palmela, onde se lê "Palmela a 9 léguas de Lisboa".
Isto concorre com a hipótese de um nível da água do mar superior, como já abordámos.

Lavanha aproveita a descrição da viagem de Filipe II para ainda nos dar conta de factos acessórios.
Perto, entre Azeitão e Coina (ou rio Couna) estavam as matas e jardins do novo Duque de Aveiro (que acolheu Filipe II, no final da sua visita a Portugal, conforme diz Lavanha). O anterior Duque de Aveiro tinha morrido ao lado de D. Sebastião, em Alcácer Quibir.

Ao descrever a visita a Sintra, Lavanha revela que a sua ponta mais ocidental seria o Promontório Magno, ou Olisiponense, que era modernamente denominado Roca de Sintra... ou seja o Cabo da Roca. Fala ainda do convento de N. Sra. da Pena, da Ordem de S. Jerónimo, fundado por D. João II, que oficialmente ruiu pelo terramoto, e onde depois Fernando II, consorte de Maria II, edificou o Palácio da Pena sobre as ruínas, perdendo-se o vestígio da construção original. Essa construção teria "a Igreja e Oficinas, necessárias para um inteiro Mosteiro lavradas na mesma rocha".
Finalmente revela que, à época, num promontório da serra, existiriam ainda vestígios e inscrições de um antigo Templo dedicado ao Sol e à Lua.
No regresso de Sintra, Filipe II teria passado pela vila de Cascaes e pela fortaleza de S. Gião (depois S. Julião da Barra). Já mencionámos o Cabo de Cascais, que seria provavelmente a denominação junto ao Guincho-Cascais, onde foram encontrados vestígios arqueológicos de pesca.

É interessante a propósito do nome Cascais referir a menção do historiador árabe Al Masudi (-956 d.C.) sobre as explorações atlânticas de um jovem navegador de Córdoba, cujo nome seria KhashKhash, sendo talvez KhashKhash al Bahri ("o navegador") que morreu em 859 d.C. combatendo os normandos, justamente próximo de Cascais. Foneticamente, parece haver uma clara semelhança entre o nome da vila e o nome do navegador. Informações sobre as viagens árabes podem ser encontradas num interessante artigo de Abbas Hamdani (Handbuch der Orientalistik, S. Kahdra Jayyusi, M. Marin, pag. 275).

(12/04/2011)

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publicado às 07:48

Na Batalha de Alcântara em 1580, D. António não consegue evitar a progressão das forças do Duque de Alba, desembarcadas no Cabo de Cascais, em direcção a Lisboa. A designação à época - Cabo de Cascais é diferente da chamada Roca de Sintra.
Um excelente documento sobre a Batalha de Alcântara está disponível no site areamilitar.
A mais conhecida imagem da época mostra detalhes da paisagem, vista de Alcântara, que são interessantes por si só.

Podemos ver nesta imagem que a Torre de Belém está situada bem no meio do estuário, completamente rodeada por água, longe de terra. Há um braço de praia em frente a Belém, que estende até uma baía formada pela foz da ribeira de Alcântara. Vê-se ainda a antiga ponte de Alcântara. Toda esta paisagem foi mudada, a água desceu e Lisboa ganhou terra ao Tejo e a praia desapareceu, colando a linha de água pela posição da Torre de Belém (na altura também chamada Torre de S. Vicente).

Mais interessante é o pormenor que nos mostra Almada, com Palmela ao fundo, quase à beira-mar, ou melhor, à beira-rio:
A linha de água submergia grande parte da margem sul, na zona do Seixal, e estava quase encostada à zona do Castelo de Palmela, onde se lê "Palmela a 9 léguas de Lisboa".
Isto concorre com a hipótese de um nível da água do mar superior, como já abordámos.

Lavanha aproveita a descrição da viagem de Filipe II para ainda nos dar conta de factos acessórios.
Perto, entre Azeitão e Coina (ou rio Couna) estavam as matas e jardins do novo Duque de Aveiro (que acolheu Filipe II, no final da sua visita a Portugal, conforme diz Lavanha). O anterior Duque de Aveiro tinha morrido ao lado de D. Sebastião, em Alcácer Quibir.

Ao descrever a visita a Sintra, Lavanha revela que a sua ponta mais ocidental seria o Promontório Magno, ou Olisiponense, que era modernamente denominado Roca de Sintra... ou seja o Cabo da Roca. Fala ainda do convento de N. Sra. da Pena, da Ordem de S. Jerónimo, fundado por D. João II, que oficialmente ruiu pelo terramoto, e onde depois Fernando II, consorte de Maria II, edificou o Palácio da Pena sobre as ruínas, perdendo-se o vestígio da construção original. Essa construção teria "a Igreja e Oficinas, necessárias para um inteiro Mosteiro lavradas na mesma rocha".
Finalmente revela que, à época, num promontório da serra, existiriam ainda vestígios e inscrições de um antigo Templo dedicado ao Sol e à Lua.
No regresso de Sintra, Filipe II teria passado pela vila de Cascaes e pela fortaleza de S. Gião (depois S. Julião da Barra). Já mencionámos o Cabo de Cascais, que seria provavelmente a denominação junto ao Guincho-Cascais, onde foram encontrados vestígios arqueológicos de pesca.

É interessante a propósito do nome Cascais referir a menção do historiador árabe Al Masudi (-956 d.C.) sobre as explorações atlânticas de um jovem navegador de Córdoba, cujo nome seria KhashKhash, sendo talvez KhashKhash al Bahri ("o navegador") que morreu em 859 d.C. combatendo os normandos, justamente próximo de Cascais. Foneticamente, parece haver uma clara semelhança entre o nome da vila e o nome do navegador. Informações sobre as viagens árabes podem ser encontradas num interessante artigo de Abbas Hamdani (Handbuch der Orientalistik, S. Kahdra Jayyusi, M. Marin, pag. 275).

(12/04/2011)

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publicado às 23:48

A recepção a Filipe III de Espanha em Lisboa teve aspectos de veneração quase universal, cujo rasto se perdeu na História. João Baptista Lavanha (1622) registou essa veneração desenhando os diversos e sumptuosos arcos de triunfo, então construídos em 1619, e dos quais não restou posteriormente pedra sobre pedra.
Apesar de em Lisboa restar apenas o nome Arco do Cego, convirá não fechar os olhos aos seguintes arcos:
  • Arco dos Homens de Negócios de Lisboa (no cais)
  • Arco dos Ingleses (porta da cidade)
  • Arco dos Oficiais da Bandeira de S. Jorge
    (Praça do Pelourinho Velho, donde saem: a Rua Do Ver do Peso, a Rua Nova, a Rua da Prataria, e a Rua de Gil Eanes) 
  • Arco dos Corrieiros (Rua de Gil Eanes)
  • Arco dos Atafoneiros (Rua das Carneçarias Velhas)
  • Arco dos Oleiros (Padaria que leva à Sé, Rua da Misericórdia)
  • Arco dos Capateiros (no topo da Padaria, na entrada da Rua que sobe a Igreja da Madalena)
  • Arco dos Cerieiros (na Porta do Ferro - Muros antigos da cidade - pelo menos fundados pelos Godos)
  • Arco dos Italianos (na Porta da Sé de Lisboa)
  • Arco na Rua dos Mataporcos
  • Arco dos Pintores (na entrada da Rua de S. Gião)
  • Arco dos Flamengos (a meio da Rua Nova)
  • Arco dos Ourives e Lapidários (ao cabo da Rua Nova, à entrada da Rua dos Ourives)
  • Arco dos Moedeiros (defronte da Rua dos Ourives, e Casa da Moeda)
  • Arco dos Alfaiates (na Calcetaria)
  • Arco na Rua dos Tanoeiros (e arco antigo do Armazém, nos muros da cidade)
  • Arco dos Familiares do Santo Ofício (do Paço vai ao Forte, para entrar no Terreiro do Paço)
  • Arco dos Alemães (no Terreiro do Paço)

 
 Arcos: dos Ingleses, dos Oficiais da Bandeira de S. Jorge, dos Cerieiros, e dos Italianos
    
  Arcos: dos Pintores, dos Ourives, dos Moedeiros, e dos Alfaiates

Arco do Santo Ofício e Arco dos Alemães

A dimensão dos referidos arcos é explícita pela inserção no desenho de pessoas, para mais fácil apreciação. A descrição refere alguma ornamentação com muito ouro, marfim, pérolas, e pedras preciosas.
Torna-se claro que os portugueses sempre foram hospitaleiros, e vê-se aqui que já teriam esquecido a trágica derrota de D. António, Prior do Crato, na Batalha de Alcântara, às portas de Lisboa, em 1580, frente ao Duque de Alba. 
A hospitalidade era por contágio extensiva aos estrangeiros sediados em Lisboa, em particular, ingleses, flamengos, italianos e alemães.
Terá sido natural que os referidos arcos, dedicados ao bisneto de D. Manuel, Filipe III de Espanha, não tenham resistido ao terramoto da Restauração da Independência.
Lavanha relata ao pormenor os arcos, algumas pinturas e inscrições... destacamos, por exemplo, a do Arco dos Alfaiates, que tinha três inscrições em latim: "Nem Salomão com tudo o que tinha", mas também: "Da verdade vos há Deus pedir conta", ou ainda "A Prudência vos guardará", "Para que ordene, e disponha o Mundo em equidade".

Continuaremos o relato de João Baptista Lavanha, que sendo escrito sob o reinado de Filipe III, apresenta a expectável arte bajulatória superlativa, misturada com alguma informação interessante.

_________________
Nota (2015):
Foi em 1619, tratava-se de Filipe III de Espanha, Filipe II de Portugal. Corrigido.

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publicado às 04:31

A recepção a Filipe III de Espanha em Lisboa teve aspectos de veneração quase universal, cujo rasto se perdeu na História. João Baptista Lavanha registou essa veneração desenhando os diversos e sumptuosos arcos de triunfo, então construídos em 1622, e dos quais não restou posteriormente pedra sobre pedra.
Apesar de em Lisboa restar apenas o nome Arco do Cego, convirá não fechar os olhos aos seguintes arcos:
  • Arco dos Homens de Negócios de Lisboa (no cais)
  • Arco dos Ingleses (porta da cidade)
  • Arco dos Oficiais da Bandeira de S. Jorge
    (Praça do Pelourinho Velho, donde saem: a Rua Do Ver do Peso, a Rua Nova, a Rua da Prataria, e a Rua de Gil Eanes) 
  • Arco dos Corrieiros (Rua de Gil Eanes)
  • Arco dos Atafoneiros (Rua das Carneçarias Velhas)
  • Arco dos Oleiros (Padaria que leva à Sé, Rua da Misericórdia)
  • Arco dos Capateiros (no topo da Padaria, na entrada da Rua que sobe a Igreja da Madalena)
  • Arco dos Cerieiros (na Porta do Ferro - Muros antigos da cidade - pelo menos fundados pelos Godos)
  • Arco dos Italianos (na Porta da Sé de Lisboa)
  • Arco na Rua dos Mataporcos
  • Arco dos Pintores (na entrada da Rua de S. Gião)
  • Arco dos Flamengos (a meio da Rua Nova)
  • Arco dos Ourives e Lapidários (ao cabo da Rua Nova, à entrada da Rua dos Ourives)
  • Arco dos Moedeiros (defronte da Rua dos Ourives, e Casa da Moeda)
  • Arco dos Alfaiates (na Calcetaria)
  • Arco na Rua dos Tanoeiros (e arco antigo do Armazém, nos muros da cidade)
  • Arco dos Familiares do Santo Ofício (do Paço vai ao Forte, para entrar no Terreiro do Paço)
  • Arco dos Alemães (no Terreiro do Paço)

 
 Arcos: dos Ingleses, dos Oficiais da Bandeira de S. Jorge, dos Cerieiros, e dos Italianos
    
  Arcos: dos Pintores, dos Ourives, dos Moedeiros, e dos Alfaiates

Arco do Santo Ofício e Arco dos Alemães

A dimensão dos referidos arcos é explícita pela inserção no desenho de pessoas, para mais fácil apreciação. A descrição refere alguma ornamentação com muito ouro, marfim, pérolas, e pedras preciosas.
Torna-se claro que os portugueses sempre foram hospitaleiros, e vê-se aqui que já teriam esquecido a trágica derrota de D. António, Prior do Crato, na Batalha de Alcântara, às portas de Lisboa, em 1580, frente ao Duque de Alba. 
A hospitalidade era por contágio extensiva aos estrangeiros sediados em Lisboa, em particular, ingleses, flamengos, italianos e alemães.
Terá sido natural que os referidos arcos, dedicados ao bisneto de D. Manuel, Filipe III de Espanha, não tenham resistido ao terramoto da Restauração da Independência.
Lavanha relata ao pormenor os arcos, algumas pinturas e inscrições... destacamos, por exemplo, a do Arco dos Alfaiates, que tinha três inscrições em latim: "Nem Salomão com tudo o que tinha", mas também: "Da verdade vos há Deus pedir conta", ou ainda "A Prudência vos guardará", "Para que ordene, e disponha o Mundo em equidade".

Continuaremos o relato de João Baptista Lavanha, que sendo escrito sob o reinado de Filipe II, apresenta a expectável arte bajulatória superlativa, misturada com alguma informação interessante.

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Nota (Agosto 2015):
Foi em 1622, tratava-se de Filipe III de Espanha, Filipe II de Portugal. Corrigido.

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