Apareceram hoje novas notícias sobre achados arqueológicos nos Açores. Seguimos os links que nos foram indicados por Calisto, e ainda o site da APIA:
Estas notícias de hoje seguem uma
notícia anterior de Março, com novos dados e fotografias, colocando em cima da mesa a presença humana nas ilhas açorianas antes da colonização portuguesa.
Dadas as imagens supra, dificilmente podemos falar em "descobertas", trata-se muito mais de uma tentativa de "des-cobrir", no sentido das nossas explorações quinhentistas, ou seja, trata-se de "retirar do encobrimento" estes achados no Monte Brasil, perto de Angra do Heroísmo... que devem ser conhecidos dos locais e de alguns visitantes. O importante é reunir provas que não deixem dúvidas sobre a antiguidade dos monumentos... e esperar pela resposta do sistema - mas, desde a primária desvalorização, até bizarras explicações alternativas, tudo vai sendo possível para manter o encobrimento!
Ao mesmo tempo fomos encontrar no Arquivo da RTP-Açores um apontamento sobre o livro "Cavaleiro da Ilha do Corvo":
Refere o livro do Prof. Joaquim Fernandes, da Universidade Fernando Pessoa, sobre a estátua que
já foi aqui referida várias vezes, mencionada por Damião de Góis, e que teve esboço de Duarte d'Armas.
Esboço da Estátua do Cavaleiro do Corvo (dita Ilha do Marco)
Há três anos, esse autor enviou ao
blog.thomar.org um anúncio de publicação do livro "O Cavaleiro da Ilha do Corvo" na colecção Temas e Debates, do Círculo de Leitores, e vimos também agora uma referência à publicação em Abril de 2011, na editora Bússola, do Rio de Janeiro.
Para nosso registo, citamos aqui parte do texto que complementa a informação que já tinhamos:
A este estranho monumento juntou-se a descoberta, no século XVIII, de um não menos perturbador vaso de cerâmica, achado nas ruínas de uma casa, no litoral da mesma ilha, repleto de moedas de ouro e de prata fenícias, que, segundo numismatas da época e não só, datariam de, aproximadamente, entre os anos 340 e 320 antes de Cristo.
As descobertas fabulosas não se ficaram por aqui: viajantes estrangeiros, no decurso do século XVI, alegaram ter encontrado inscrições supostamente fenícias de Canaã (Palestina), numa gruta da ilha de S. Miguel. Por fim, em 1976, nesta mesma ilha, haveria de ser desenterrado um amuleto com inscrições de uma escrita fenícia tardia, entre os séculos VII e IX da era cristã.
Todas estas perplexidades levaram Joaquim Fernandes a encetar uma longa e exaustiva investigação bibliográfica e documental e a escrever O Cavaleiro da Ilha do Corvo.
No romance, o autor refere um testemunho que reforça de modo evidente o relato de Damião de Góis: um mapa dos irmãos Pizzigani, de 1367, descoberto em Parma, apresenta um desenho com uma figura explícita ostentando uma legenda em latim onde se diz: Estas eram as estátuas diante das colunas de Hércules... Ora esse desenho está colocado à latitude dos Açores, no meio do Atlântico, sugerindo a tradição das Estátuas como marcos-limites do oceano navegável ou conhecido e serviriam para avisar os perigos que corriam os navegadores mais ousados. Mais ainda: a historiografia árabe, do século X, por exemplo, faz referência a essas mesmas estátuas e à sua eventual função de marco dos limites navegáveis, o que credibiliza, por outra via, o testemunho de Damião de Góis. Demasiadas coincidências, pois, para um simples rumor ou lenda...
O Cavaleiro e os CorvosJá
aqui apontámos o facto
sui generis de D. Afonso Henriques, indo para além de
Ourique, teria feito uma incursão ao Algarve, então território muçulmano, para resgatar o corpo de S. Vicente que estaria no
Promontório Sacrum.
Concerteza que as "certezas" ficam para a historiografia oficial... aqui, sendo local de hipóteses e "estórias" pessoais, ficamos com uma dúvida pela tradição associada com a presença dos corvos na embarcação, onde seguiu o corpo de S. Vicente. Poderiam os corvos representar o corpo junto à estátua da ilha, no ponto mais ocidental... que ainda antes de ser descoberta já aparecia nos mapas com a referência Corvi Marini?
Seria esse o
limite de navegação para D. Fuas que ficou simbolizado na Nazaré?... sendo que a latitude em que se situa o Corvo é 39º40' e tem como correspondente continental os pinhais acima da Nazaré, com o Sítio/Pederneira colocado a 39º36' ? Uma diferença de apenas 4 minutos do grau...
Teria resistido D. Fuas a seguir a direcção americana apontada pelo Cavaleiro do Corvo?
Ponta Delgada
Convém notar que nem sempre é preciso afastar-mo-nos muito para encontrarmos peças de interesse.
Numa zona que já faz parte de Ponta Delgada, tirei esta fotografia num baldio que está já delimitado e pronto para intervenção de construção:
Ficamos com a sensação clara de haver aí uma ponte antiga, soterrada por terras agora removidas pelo construtor. Talvez um incómodo para o empreiteiro, mas que arrisca a ser temporário...
Em Ponta Delgada não podemos fazer aquele exercício habitual de classificar todas as pontes como romanas ou medievais...
Os detalhes intrigantes aparecem-nos à vista desarmada, resta saber se os queremos ver e questionar, ou se nos deixamos guiar como caolhos!
Nota adicional (12/07/2011):
Para além do esboço acima, a conhecida imagem da estátua equestre de Marco Aurélio corresponde razoavelmente à descrição feita por Damião de Góis (a mão direita também aponta uma direcção, porém a esquerda não se coloca sobre o dorso do cavalo). Já tinha colocado antes
um comentário sobre uma possível ligação da estátua a Marco Aurélio (ou Alexandre), mas dado o esboço a invocação da estátua equestre de Marco Aurélio quase dispensaria comentários adicionais.
Acrescentamos que após Marco Aurélio, com o filho Cómodo o Império Romano entrou num período conturbado (retratado no filme
Gladiador).
Se a pequena Ilha do Corvo foi também chamada Ilha do Marco, talvez dispensasse o Aurélio... já que a direcção apontava para as áureas riquezas americanas. É possível que Marco Aurélio tivesse sido tentado a passar o limite colocado no Marco da ilha, seguindo na direcção do Cavaleiro do Corvo, pelo que se teria associado com uma estátua equestre semelhante.
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