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Longitude
Acerca da longitude já tínhamos aqui citado António Carvalho da Costa que, em 1682, e com breves palavras, mostrava como era possível saber a correcta longitude de lugares através da observação de eclipses. 
Sendo a latitude um problema mais fácil, ficava aí claro que eram conhecidos métodos eficazes para determinar a posição recorrendo apenas a observações astronómicas. O interesse pelos eclipses lunares seria especialmente um interesse geográfico, com vista a uma correcta cartografia. Assim, a tabela de eclipses de 1534, de Jerónimo Chaves, indiciaria isso mesmo.

Encontrámos agora outro texto, de Manuel de Figueiredo, de 1603, que coloca as coisas de forma mais clara, confirmando as nossas suspeitas de que essa técnica seria bem mais antiga. 
O texto de Figueiredo é mencionado na literatura (veja-se por exemplo aqui) especialmente porque detalha a construção da balestilha, instrumento prático para a determinação de ângulos, e apropriado para a latitude. 
Aqui interessa-nos a questão da longitude, mais complicada.
"Como se acharam as longitudes das terras.
- é este o título do Capítulo XIII da "Chronographia e Repertório dos Tempos", publicada em 1603 por Manuel de Figueiredo. Começa dizendo:
Grande foi o trabalho que os geógrafos tiveram em achar as longitudes das terras, as quais observaram pelos eclipses da Lua e do Sol, & não haviam de ter tão pouco em a todas elas buscarem a longitude, porque nem todos os meses há eclipses para as poderem mostrar (...)
Não especifica quem foram os geógrafos, nem quando... apenas explica como se processou: 
Punham-se dois geógrafos em duas terras (...) esperavam o dia e hora a que havia de acontecer (...) observavam a que hora começava & cotejada uma observação com a outra, a diferença que entre elas havia essa era a longitude(...).
... algo que já tínhamos suspeitado como sendo o método usando "enviados do reino".
Duas páginas à frente faz referência às vantagens da "pedra de sevar" (magneto) que teriam marcado a diferença face aos "antigos"... e somos levados a concluir que implicitamente considerava que o processo de eclipses para a longitude era já conhecido desses "antigos". Figueiredo sugere que teria sido o magneto a marcar a diferença, pois esses antigos se restringiam ao hemisfério norte com medo de perder a Estrela Polar... que é outra maneira de dizer que tinham medo de "perder o norte", de ficarem desnorteados!


Merica
Talvez mais interessante é o detalhe de Figueiredo designar a América como "A Merica". Isso poderia passar por erro tipográfico, mas é demasiado propositado para ser qualquer erro acidental:


Menção a "a Merica" e "America", por Manuel Figueiredo

Se já havia algumas suspeitas do nome América não estar necessariamente ligado a Amerigo Vespúcio, creio que esta obra de Figueiredo vai exactamente nesse sentido... 
A Merica e não América

Fomos encontrar uma canção dos emigrantes italianos que povoaram o Rio Grande do Sul:
Dalla Italia noi siamo partiti; Siamo partiti col nostro onore;  
Trentasei giorni di macchina e vapore, e nella Merica noi siamo arriva'. 
Merica, Merica, Merica, cossa saràlo 'sta Merica? 
Merica, Merica, Merica, un bel mazzolino di fior. 
Trata-se do dialecto do Veneto (Veneza), que tira o A a America, e aparece como uma clara desfaçatez veneziana ao compatriota, mas rival florentino, Amerigo...

Haverá outro sentido para a simples palavra Merica?
O google e a wikipedia têm destas coisas, e fomos parar imediatamente a 
- merica: palavra indonésia com raiz no sânscrito que significa a especiaria pimenta.

Afinal, como chamam os ingleses a um tipo de pimenta? 
- Chili pepper... chegando mesmo a escrever Chile pepper.
A pimenta ou malagueta sempre esteve associada à comida mexicana, azteca e também inca. É claro que também é parte da cozinha indiana, e isso pode reportar perfeitamente uma rota de especiarias que se prestava a unir as índias orientais e ocidentais sob a conveniente confusão!

Ou seja... quando os nossos descobrimentos seguiam na rota da Pimenta, é mais natural que estivessem a seguir a rota da Merica. Como dizia Figueiredo: "a cobiça de reinar abriu o caminho para descobrir tantas riquezas quantas neste novo mundo há"...


Se o nome é anterior a Américo Vespúcio, esta semelhança entre "a Merica" e "Americo" pode ser um caso que já abordei num comentário que aqui fiz - a importância de se chamar Ernesto, neste caso Américo!

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publicado às 21:56

Nesta sequência de "portas", e tal como Olinda, também nos lembrámos das Portas do Ródão... e que estariam na zona atribuída aos Carpetanos, povo ibérico.
Aqui falha-nos o último volume de Pinho Leal que poderá ter algum comentário a propósito de Vila Velha de Rodão. Encontrámos menção a Vila Velha de Ródão na Corografia (1708) de António Carvalho da Costa, mas não especifica o que significará "velho" neste caso, poderá remeter-se à formação da nacionalidade, ou anterior. Nos territórios adjacentes, mas em ponto bastante mais elevado, encontra-se o Castelo de Wamba (ou Vamba).
Um bom texto relativamente a reabilitação arqueológica desse Castelo e da Capela próxima, pode ser encontrado na Associação de Estudos do Alto Tejo.

Focando-nos mais na Portas do Ródão, começamos por uma gravura antiga, de 1823 (por William Westall)
Passage of the Tagus at Villa-Velha  (Westall, 1823)

Quer-nos parecer que a paisagem mudou consideravelmente, já que as escarpas parecem na gravura muito mais acentuadas, se atendermos a imagens mais recentes da mesma vista de jusante (poente):

Podemos falar em exagero do artista... porém não parece ser o caso de Westall, e temos alguma confirmação da diferença pela imagem vista do lado nascente (C. Turner, 1811):
Pass of the Tagus at Villa Velha into Alemtejo (C. Turner, 1811)

Parece ter havido entretanto uma erosão acentuada, já que as imagens do Séc. XIX dão uma ideia de cortes limpos, quebrando a rocha a pique, algo que se terá atenuado significativamente nestes séculos seguintes. Por outro lado, nota-se na imagem de Turner que o rio seria razoavelmente baixo, não se notando o forte caudal. Sobre esse assunto, fomos encontrar uma outra referência:
A pouca distância do porto de Villa-Velha, corre o Tejo por entre dois altos montes de finíssimo mármore, formando uma espécie de garganta, a que chamam as portas do Rodão. Pelas influências do, Marquez de Pombal se fez o mesmo, rio navegavel até ao porto de Villa Velha, que fica dentro desta garganta. Junto do porto havia huma Fazenda e Casas, em cuja porta se viam as armas, do Marquez, que são huma Estrella entre uma, quaderna, de crescentes.   (Poesias de Cruz e Silva, 1805)
Ou seja, concluímos que os cortes abruptos, vistos nas gravuras do início do Séc. XIX, eram provável resultado da "fresca intervenção" do Marquês de Pombal, no sentido de tornar o rio mais navegável.
Tal como acontecia com o Rio Douro, que tinha uma forte cascata perto de S. João da Pesqueira, chamado o "Cachão do Douro", é possível que algo semelhante se passasse nas Portas do Rodão.
Acrescentamos este texto de J. J. Forrester (1854):
The Tagus (that beautiful river which our forefathers used to ascend without difficulty as far as Toledo [cf. Faria e Sousa]) has been fearfully neglected. During the winter season, in some situations, the current is five feet per second; and at the place called Vallada, where the river is 1330 feet wide, the volume of water that descends in that time is not less than 100,000 cubick feet. At the Portas do Rodão, 150 feet wide, the current is twelve feet per second; so that a volume of 7776 millions of cubick feet of water passes through this gorge in one day.
The Portas do Rodão, on the Tagus, are similar to the Cachão on the river Douro, that is to say, during the wet season, the passage being narrow, the river above naturally overflows its banks, and lays the country under water. Now one of two things,— either widen the passage to give egress to the waters, or store them up for irrigation purposes, preserves for fish, &c. The idea is not originally ours. It is the conviction of the much-injured and persecuted Portuguese author, Bento De Moura (born 1702), who proposed to construct a dam and form an enormous deposit of water, 20 leagues square, during the winter, so as to leave its rich deposits and manure on the land, and prepare it for cultivation in the summer. "Rivers," says Senhor de Moura, "bring down earth in proportion of 15 to 1 of sand. From 5 to 25 years, 1000 moios of earth would be deposited, and would produce 10,000 moios of grain, or in a few years the deposits would yield ten times their weight in grain."
Ou seja, no sentido inverso ao do Marquês, Bento de Moura tinha proposto construir uma barragem.
Isto é interessante, pois podemos ter uma ideia da consequência dessa barragem:
Por uma simples inspecção de altitude a 200 metros (as montanhas laterais ultrapassam os 300 m), o terreno formaria uma bacia natural que se estenderia até Idanha-a-Nova, criando um lago artificial... seria esta a ideia de Bento de Moura. Assim, se havia alguma represa natural de água, parece certo que o Marquês acabou com ela... e com um nível baixo, a navegabilidade ficou também comprometida, excepto para pequenas embarcações, conforme se pode ver nas gravuras.

As gravuras não mencionam o nome Ródão... o acrescento de Ródão a Vila Velha pareceu-nos ser posterior às invasões francesas, mas o registo de 1708 não deixa dúvidas sobre a origem anterior do nome. Não queremos deixar de notar uma associação fonética de Ródão a Ródano, e alguma semelhança na paisagem das Gargantas do Ródano (Rhône)... 
Gargantas do Ródano (imagem)

Castelo de Wamba
O rei visigodo Wamba (672-680) ficou ligado a uma antiga fortaleza, no monte norte das Portas do Ródão, da qual ainda se mantém uma torre quadrada interessante:
Torre de Wamba (Portas do Rodão)

A associação a Wamba é discutida, mas atendendo a que os visigodos tiveram o cuidado de renomear Idanha como Egitania, reconstruí-la depois da destruição sueva... e outros detalhes (Pinho Leal diz que Wamba seria natural da zona), mostrará o interesse que os visigodos tiveram pela região.

Com as Portas do Ródão fechadas ao Tejo, este formaria um lago interior que se estenderia até à zona de Idanha-a-Nova, e anteriormente talvez mesmo próximo de Idanha-a-Velha. Estas vilas que aparecem hoje como isoladas nos limites montanhosos da Serra da Estrela, poderiam ter tido um lago natural resultante da acumulação de águas do Tejo. Uma primeira cedência da rocha teria causado a deslocalização de Idanha-a-Velha para Idanha-a-Nova, mas a ideia de navegabilidade do Marquês teria terminado com qualquer ideia de recuperar o lago interno, conforme parecia pretender Bento de Moura.

Pinho Leal diz que "alguns" davam também o nome de Hircania a Idanha-a-Velha (que diz ser uma das primeiras vilas lusitanas, fundada c. 500 a.C.)... lembrando-nos que o mar Hircanio era exactamente a designação do Cáspio, não deixamos de ver aqui uma alusão a um mar interno. Egitania foi um bispado importante na época visigoda, e a cidade terá mudado de nome para Eydaia na época árabe, de onde viria o nome Idanha. A nova Idanha parece ser só mencionada já com D. Sancho I.

Serras
Sendo uma zona de grifos, e outras aves de rapina ou não, em belos parques naturais, não deixamos de mencionar outras "portas" semelhantes, na vizinha Extremadura espanhola.
--- O Parque Natural de Monfrague
Salto do Gitano - o Tejo no Parque Natural de Monfrague
--- Canchos de Ramiro


Canchos de Ramiro e ponte sobre o Alagon 
(afluente do Tejo) [imagens]

Ou seja, as portas do Ródão não são muito diferentes da paisagem que o Tejo e afluentes fazem ao "furar" as serras da Extremadura ou Alentejo.
E aqui convém mencionar a noção de "Serra"... porque é nestas formações que ela ganha sentido.
Estas formações características da Estremadura espanhola e portuguesa, ou do Alentejo, surgem como linhas montanhosas bem definidas como se pode ver no mapa (em cima, também na zona de Castelo de Vide/Marvão). São praticamente linhas montanhosas singulares cujos "dentes" são os picos oscilantes... e por isso têm verdadeira analogia com a noção de "serra", da lâmina de corte. A generalização desta palavra a qualquer conjunto montanhoso fez perder a particularidade destas formações quase laminares. Não havendo distinção particular entre o nome desta estrutura "de serra" e os conjuntos montanhosos, poupa-se qualquer justificação particular para a singularidade que estas montanhas exibem enquanto serras - linhas bem definidas de montanhas que aparecem como autênticos muros na paisagem.


Nota: (17/07/2011)
Texto consideravelmente reeditado e corrigido no dia seguinte, por nos ter escapado a menção a Vila Velha do Ródão na Corografia de António Carvalho da Costa, de 1708:
A Villa Velha de Ródão fica cinco léguas de Castelo-Branco para o Sul, & está fundada num tezo, que banha o rio Tejo: tem 160 vizinhos com uma Igreja Parroquial, Vigararia da Ordem de Christo, & Commenda, de que é Comendador o Conde de Atouguia; tem mais Casa da Misericordia, & uma Ermida de N. Senhora do Castelo, imagem milagrosa, aonde concorre em romaria muita gente do Alentejo, & de outras partes. O seu termo é fertil de pão, azeite, linho, & tem muita caça, & colmes, com algum vinho.

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publicado às 07:42

Nesta sequência de "portas", e tal como Olinda, também nos lembrámos das Portas do Ródão... e que estariam na zona atribuída aos Carpetanos, povo ibérico.
Aqui falha-nos o último volume de Pinho Leal que poderá ter algum comentário a propósito de Vila Velha de Rodão. Encontrámos menção a Vila Velha de Ródão na Corografia (1708) de António Carvalho da Costa, mas não especifica o que significará "velho" neste caso, poderá remeter-se à formação da nacionalidade, ou anterior. Nos territórios adjacentes, mas em ponto bastante mais elevado, encontra-se o Castelo de Wamba (ou Vamba).
Um bom texto relativamente a reabilitação arqueológica desse Castelo e da Capela próxima, pode ser encontrado na Associação de Estudos do Alto Tejo.

Focando-nos mais na Portas do Ródão, começamos por uma gravura antiga, de 1823 (por William Westall)
Passage of the Tagus at Villa-Velha  (Westall, 1823)

Quer-nos parecer que a paisagem mudou consideravelmente, já que as escarpas parecem na gravura muito mais acentuadas, se atendermos a imagens mais recentes da mesma vista de jusante (poente):

Podemos falar em exagero do artista... porém não parece ser o caso de Westall, e temos alguma confirmação da diferença pela imagem vista do lado nascente (C. Turner, 1811):
Pass of the Tagus at Villa Velha into Alemtejo (C. Turner, 1811)

Parece ter havido entretanto uma erosão acentuada, já que as imagens do Séc. XIX dão uma ideia de cortes limpos, quebrando a rocha a pique, algo que se terá atenuado significativamente nestes séculos seguintes. Por outro lado, nota-se na imagem de Turner que o rio seria razoavelmente baixo, não se notando o forte caudal. Sobre esse assunto, fomos encontrar uma outra referência:
A pouca distância do porto de Villa-Velha, corre o Tejo por entre dois altos montes de finíssimo mármore, formando uma espécie de garganta, a que chamam as portas do Rodão. Pelas influências do, Marquez de Pombal se fez o mesmo, rio navegavel até ao porto de Villa Velha, que fica dentro desta garganta. Junto do porto havia huma Fazenda e Casas, em cuja porta se viam as armas, do Marquez, que são huma Estrella entre uma, quaderna, de crescentes.   (Poesias de Cruz e Silva, 1805)
Ou seja, concluímos que os cortes abruptos, vistos nas gravuras do início do Séc. XIX, eram provável resultado da "fresca intervenção" do Marquês de Pombal, no sentido de tornar o rio mais navegável.
Tal como acontecia com o Rio Douro, que tinha uma forte cascata perto de S. João da Pesqueira, chamado o "Cachão do Douro", é possível que algo semelhante se passasse nas Portas do Rodão.
Acrescentamos este texto de J. J. Forrester (1854):
The Tagus (that beautiful river which our forefathers used to ascend without difficulty as far as Toledo [cf. Faria e Sousa]) has been fearfully neglected. During the winter season, in some situations, the current is five feet per second; and at the place called Vallada, where the river is 1330 feet wide, the volume of water that descends in that time is not less than 100,000 cubick feet. At the Portas do Rodão, 150 feet wide, the current is twelve feet per second; so that a volume of 7776 millions of cubick feet of water passes through this gorge in one day.
The Portas do Rodão, on the Tagus, are similar to the Cachão on the river Douro, that is to say, during the wet season, the passage being narrow, the river above naturally overflows its banks, and lays the country under water. Now one of two things,— either widen the passage to give egress to the waters, or store them up for irrigation purposes, preserves for fish, &c. The idea is not originally ours. It is the conviction of the much-injured and persecuted Portuguese author, Bento De Moura (born 1702), who proposed to construct a dam and form an enormous deposit of water, 20 leagues square, during the winter, so as to leave its rich deposits and manure on the land, and prepare it for cultivation in the summer. "Rivers," says Senhor de Moura, "bring down earth in proportion of 15 to 1 of sand. From 5 to 25 years, 1000 moios of earth would be deposited, and would produce 10,000 moios of grain, or in a few years the deposits would yield ten times their weight in grain."
Ou seja, no sentido inverso ao do Marquês, Bento de Moura tinha proposto construir uma barragem.
Isto é interessante, pois podemos ter uma ideia da consequência dessa barragem:
Por uma simples inspecção de altitude a 200 metros (as montanhas laterais ultrapassam os 300 m), o terreno formaria uma bacia natural que se estenderia até Idanha-a-Nova, criando um lago artificial... seria esta a ideia de Bento de Moura. Assim, se havia alguma represa natural de água, parece certo que o Marquês acabou com ela... e com um nível baixo, a navegabilidade ficou também comprometida, excepto para pequenas embarcações, conforme se pode ver nas gravuras.

As gravuras não mencionam o nome Ródão... o acrescento de Ródão a Vila Velha pareceu-nos ser posterior às invasões francesas, mas o registo de 1708 não deixa dúvidas sobre a origem anterior do nome. Não queremos deixar de notar uma associação fonética de Ródão a Ródano, e alguma semelhança na paisagem das Gargantas do Ródano (Rhône)... 
Gargantas do Ródano (imagem)

Castelo de Wamba
O rei visigodo Wamba (672-680) ficou ligado a uma antiga fortaleza, no monte norte das Portas do Ródão, da qual ainda se mantém uma torre quadrada interessante:
Torre de Wamba (Portas do Rodão)

A associação a Wamba é discutida, mas atendendo a que os visigodos tiveram o cuidado de renomear Idanha como Egitania, reconstruí-la depois da destruição sueva... e outros detalhes (Pinho Leal diz que Wamba seria natural da zona), mostrará o interesse que os visigodos tiveram pela região.

Com as Portas do Ródão fechadas ao Tejo, este formaria um lago interior que se estenderia até à zona de Idanha-a-Nova, e anteriormente talvez mesmo próximo de Idanha-a-Velha. Estas vilas que aparecem hoje como isoladas nos limites montanhosos da Serra da Estrela, poderiam ter tido um lago natural resultante da acumulação de águas do Tejo. Uma primeira cedência da rocha teria causado a deslocalização de Idanha-a-Velha para Idanha-a-Nova, mas a ideia de navegabilidade do Marquês teria terminado com qualquer ideia de recuperar o lago interno, conforme parecia pretender Bento de Moura.

Pinho Leal diz que "alguns" davam também o nome de Hircania a Idanha-a-Velha (que diz ser uma das primeiras vilas lusitanas, fundada c. 500 a.C.)... lembrando-nos que o mar Hircanio era exactamente a designação do Cáspio, não deixamos de ver aqui uma alusão a um mar interno. Egitania foi um bispado importante na época visigoda, e a cidade terá mudado de nome para Eydaia na época árabe, de onde viria o nome Idanha. A nova Idanha parece ser só mencionada já com D. Sancho I.

Serras
Sendo uma zona de grifos, e outras aves de rapina ou não, em belos parques naturais, não deixamos de mencionar outras "portas" semelhantes, na vizinha Extremadura espanhola.
--- O Parque Natural de Monfrague
Salto do Gitano - o Tejo no Parque Natural de Monfrague
--- Canchos de Ramiro

 
Canchos de Ramiro e ponte sobre o Alagon 
(afluente do Tejo) [imagens]

Ou seja, as portas do Ródão não são muito diferentes da paisagem que o Tejo e afluentes fazem ao "furar" as serras da Extremadura ou Alentejo.
E aqui convém mencionar a noção de "Serra"... porque é nestas formações que ela ganha sentido.
Estas formações características da Estremadura espanhola e portuguesa, ou do Alentejo, surgem como linhas montanhosas bem definidas como se pode ver no mapa (em cima, também na zona de Castelo de Vide/Marvão). São praticamente linhas montanhosas singulares cujos "dentes" são os picos oscilantes... e por isso têm verdadeira analogia com a noção de "serra", da lâmina de corte. A generalização desta palavra a qualquer conjunto montanhoso fez perder a particularidade destas formações quase laminares. Não havendo distinção particular entre o nome desta estrutura "de serra" e os conjuntos montanhosos, poupa-se qualquer justificação particular para a singularidade que estas montanhas exibem enquanto serras - linhas bem definidas de montanhas que aparecem como autênticos muros na paisagem.


Nota: (17/07/2011)
Texto consideravelmente reeditado e corrigido no dia seguinte, por nos ter escapado a menção a Vila Velha do Ródão na Corografia de António Carvalho da Costa, de 1708:
A Villa Velha de Ródão fica cinco léguas de Castelo-Branco para o Sul, & está fundada num tezo, que banha o rio Tejo: tem 160 vizinhos com uma Igreja Parroquial, Vigararia da Ordem de Christo, & Commenda, de que é Comendador o Conde de Atouguia; tem mais Casa da Misericordia, & uma Ermida de N. Senhora do Castelo, imagem milagrosa, aonde concorre em romaria muita gente do Alentejo, & de outras partes. O seu termo é fertil de pão, azeite, linho, & tem muita caça, & colmes, com algum vinho.

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