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Colocamos aqui uma importante contribuição de Calisto sobre a cavalaria e os cavalos lusitanos, recebida por email, na sequência da discussão sobre o Cavaleiro do Corvo.



--------------------- email de Calisto Barbuda ------------------------

Concordo sobre quem seriam os cavaleiros Lusitanos. 
A maior referência que encontrei estavam associados aos Coni, por outro lado a melhor zona de criação de cavalos é a Andaluzia incluindo o território a Sul de Portugal, é claro que esta questão é um pouco melindrosa, visto que há quem diga que, quem defende esta ideia é Iberista. O cavalo na Andaluzia famoso no séc XV a XVII, poderá ser descendente do de Portugal, e até concordo com as razões apontadas:
- Platão coloca na Andaluzia, mais concretamente na Bética a criação de cabras e carneiros.
- Do lado do Tejo Português temos planícies fabulosas para a criação de cavalos.
- Por outro lado (e em tempos mais recentes) repare-se que os reinos Árabes foram sendo empurrados para Sul e já não se podia escolher as terras entre o Tejo e Guadalquivir para continuar a selecionar e melhorar cavalos, já não havia Santarém (cf. [1]).
Posto isto, a faixa geográfica com que ficamos presumo que seja a dos Cónios.
"(...) Além destas referências ao modo de combater peculiar aos povos ibéricos e seus cavalos, que demonstram uma ininterrupta sequência milenária, existem outras que o designam como único. São elas as descrições do emprego de cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos." (cf. [2])
Uma coisa curiosa é o seguinte detalhe, os cavaleiros Ibéricos eram conhecidos com 'frenati', conduzidos com um freio (cf. [2]), ou seja o freio em vez do bridão (utilizados por todos os outros povos, salvo o erro) permite uma condução com uma só mão (poderia lhe dar o exemplo das touradas, mas infelizmente hoje já não há ninguém que utilize uma só mão para conduzir o seu cavalo perante qualquer situação), e para completar deixo-lhe um texto que encontrei na internet: 
"Em nenhum outro local existem evidências da existência de cavalos montados há tanto tempo. Embora noutras paragens, como na Grécia ou no Egipto, também já se utilizasse o cavalo na guerra, essa utilização era sempre feita como animal de tiro, puxando os carros de combate. Isto permite-nos colocar a hipótese da origem ibérica da própria equitação. A confirmar-se, o cavalo Peninsular seria, então, o primeiro cavalo de sela conhecido.
Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirando enorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidas transições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seus inimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando esta tribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitória dos Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo “gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.
Seleccionado, durante séculos, como suporte de uma técnica específica de combater, o cavalo Peninsular vai surpreendendo, pelas suas invulgares capacidades, todos os que contra ele se batem. É o caso de Romanos e Mouros, que o vieram encontrar na Península e prontamente reconheceram as suas inegáveis qualidades." (cf. [3])
Rapidamente se percebe que os ataques de cavalaria, na minha opinião, seriam quase actos "individuais", e não através de uma estrutura de combate sólida e coesa.
E isto tem uma ligação curiosa com a Guerra de Tróia, uma vez que a estrutura militar muda depois da dita guerra.

Sobre o cavalo Ibérico eu sabia alguma coisa, tal como sobre equitação do séc XVIII/XIX (nomeadamente Francesa), mas sobre a cavalaria na Antiguidade é que não sabia quase nada.
Antes da idade do Bronze o papel da cavalaria era essencialmente desempenhado por carros ligeiros puxados por cavalos.

Quando os Persas foram derrotados por Alexandre o Grande, o carro de combate puxado por cavalos já era obsoleto, no entanto continuaram a ser usados, por exemplo, pelos povos do sul da Grã-Bretanha quando da Invasão Romana comandada por Júlio César (55,54 a.C.), por essa altura, os carros já eram usados praticamente em cerimónias ou em corridas.
Xenofonte (430-355 a.c.) escreveu o mais antigo tratado conhecido de equitação ( há um mais antigo escrito por Simão/Simião, mas não se conhece o seu conteúdo), é interessante encontrar lá coisas que ainda hoje em dia fazemos, no entanto a ideia com que fiquei foi que ele preconizava uma cavalaria montada e não atrelada, uma força de cavalaria pequena mas bem treinada.
Xenofonte

O que de seguida transcrevo já não me lembro qual foi a fonte:
"Para os gregos montar a cavalo é um hábito que vem depois do cavalo atrelado. Mesmo com Homero as passagens são mal interpretadas pois todo o tom da poesia épica prova que a condução era a prática comum. Os heróis combatem em carros de combate, a maior parte do exército a pé, mesmo em viagens sobre montanhas eram feitas com carros de cavalos" 
Esta questão da viagens é curiosa, é que para a deslocação com carros de cavalos a rede viária Grega deveria rivalizar com a Romana.
Continuando: 
"Não se sabe quando, mas ao longo dos séculos houve uma mudança. Facto: jogos Olímpicos (776 a.C) em que originalmente a única prova era corrida de carros, só na 33º Olimpíada (648 a.C) aparece corrida de cavalos.
Em batalha o carro de cavalos desaparece antes das guerras persas (499-448 a.C), mas o seu lugar não foi preenchido até depois delas. Na guerra de maratona (guerra greco-persa 490 a.C) os atenienses não tinham cavalaria. Havia criação de cavalos provavelmente para corridas. Sem duvida foi o contacto com a cavalaria persa que levou à organização de um corpo de cavalaria ateniense. Os gregos nunca conseguiram a revolução na arte militar que deu à cavalaria um papel decisivo. Isto estava reservado para os Macedónios."
Um aparte, talvez para perceber a influência Persa é que Xenofonte em 401 alistou-se no exército de Ciro irmão de Artaxerxes II na luta contra este, juntou-se depois aos espartanos e lutou contra Atenas e Tebas na batalha de Coronea 394 a.C.
Continuando: 
"A cavalaria Grega era usada para assediar um exército em marcha ou completar uma vitória já garantida. Só os ricos serviam na cavalaria. O solo e morfologia grega não se adptavam/adaptam à criação de cavalos ao contrário dos tessalianos. Já eram reconhecidos desde os primeiros tempos, mas para o carro e não para cavaleiro. Encontram-se raças descritas nas éguas do rei Diomedes (trabalhos hercules), que comiam carne humana, os cavalos de Rhesus (rei tarcio que combateu ao lado dos troianos), Aquiles e Orestes nas corridas descritas por Sophocles “Electra”- finalmente da mitologia para a história, Bucephalo de Alexandre. Outras raças eram Argive, Acarnanian, Arcadian, e Epidaurian."
Sobre a Peninsula Ibérica nunca encontrei nada sobre carros de cavalos, tudo o que encontrei referia-se a cavalos montados, e isto deixa-me baralhado...
Da outra vez eu referi que foram levados cavaleiros Ibéricos por Dionísio tirano de Siracusa nas guerras do Peloponeso (369 a.C.), a forma de combater e montar em nada era semelhante à forma Grega de então. Também referi que : 
"(...) cavaleiros ibéricos na Itália ou Norte da África em que se diz que aqueles tinham que levar seus cavalos e quando era impossível o seu transporte, tinham pelo menos que levar os seus arreios, demonstrando assim que lhes eram peculiares e únicos."  (cf. [2]) 
ou seja teríamos mais uma vez a vantagem tecnológica do nosso lado.

Disse também (desta vez um pouco mais completo) que:
"(...) outros narram muitos combates singulares de cavaleiros íberos com Cartagineses e Romanos por onde se infere não só a superioridade ibérica neste género de combates, como ainda que ele era um apanágio ibérico. O mesmo se pode verificar mais tarde das crónicas moiras do século XI, de Abu Bakr al Tartusi, autor de Sirg al Muluk, em que cita um combate de um cristão com moiros das hostes de Al Nansur Ibn Amin, em que o Cristão venceu sucessivamente três adversários antes de ser vencido. No final, frisa-se que o vencedor era um homem da fronteira, habituado às lutas com Cristãos e diz-se que como aquele guerreiro nas hostes árabes não havia ‘- nem mil, nem quinhentos, nem cem, nem cinquenta, nem vinte, nem dez’."  (cf.[2]) 
por aqui consegue-se visualizar como seria a forma de combater Ibérica (apesar de se referir ao séc XI presumo que podemos transportar o mesmo para os anteriores).

Continuando com os Gregos: 
"Alguns séculos depois da guerra de Tróia, os tempos mudaram na Hélade e muitos costumes locais foram substituídos. Os gregos já não podiam mais viver sob aquele tipo de sociedade, na qual monarcas mandavam com poderes irrestritos, e isso demandava alterações radicais. Contudo, vale lembrar que Ílion não foi o único reino destruído naquela época. Segundo o historiador Robert Drews, da Universidade de Vanderbilt (Estados Unidos), inúmeros palácios caíram naquele período, causando o fim da Idade do Bronze. Tebas, Micenas, Tirinto e Canaã tiveram o mesmo destino da cidade de Príamo. 
Um dos motivos foi a mudança na estrutura militar. No caso da Hélade, os gregos abriram mão das eficientes cavalarias e, com isso, desenvolveram um novo tipo de estratégia bélica para fortalecer as infantarias. O problema é que, até então, os carros de guerra eram as armas mais eficazes de combate: um condutor bem treinado guiava a biga enquanto "passageiros" atiravam lanças e flechas nos inimigos. Os novos exércitos foram obrigados a encontrar formas de combater essas máquinas militares de forma mais eficiente. 
Com isso, as batalhas envolvendo cavalarias e bigas foram substituídas por pelejas entre homens a pé, os cidadãos-soldados: pessoas que passavam a fazer parte da sociedade de forma mais incisiva e, além disso, vivenciavam a rotina do exército e da polis. 
Assim, os clãs foram extintos, para que todos os homens fossem agrupados em uma mesma cidade, onde poderiam treinar em conjunto por mais tempo para se preparar melhor para a guerra. Isso fez que não tivessem apenas relações familiares, mas sim com os pares, criando um sentimento de cidadania colectiva. Era uma forma de despertar conceitos cívicos nas pessoas. Além disso, os heróis também se transformaram em figuras ultrapassadas. Não havia mais espaço para guerreiros como Aquiles e Heitor, que deixavam os companheiros para trás a fim de ir de encontro ao adversário para obter glórias individuais. Tudo passa a girar em torno da sobrevivência da cidade: os soldados deveriam permanecer unidos no campo de batalha para minimizar os riscos de derrota e, desta forma, resguardar a polis.  
O herói homérico, o bom condutor de carros, podia ainda sobreviver na pessoa do hippeis; já não tem muita coisa em comum com o hoplita, esse soldado-cidadão. O que contava no primeiro era a façanha individual, a proeza feita em combate singular", explica o helenista Jean-Pierre Vernant em seu clássico As origens do pensamento grego. "Mas o hoplita não conhece o combate singular; deve recusar, se lhe oferecer, a tentação de uma proeza puramente individual. É o homem da batalha de braço a braço, da luta ombro a ombro. Foi treinado em manter a posição, marchar em ordem, lançar-se com passos iguais contra o inimigo, cuidar, no meio da peleja, de não deixar sem posto. 
Nesse novo conceito de exército, as infantarias dependiam muito da força do conjunto e da unidade, portanto, todos os homens deveriam se unir como um só bloco para vencer as batalhas. Surgem aí as temíveis falanges, em que os guerreiros passavam a vida toda treinando para desenvolver uma "dependência" de um para com o outro. Deste modo, os generais formavam unidades de combate sólidas e coesas - como ocorreu com a eficiente infantaria de Esparta, que de tão competente foi apelidada de "usina de cadáveres" durante a Segunda Guerra Médica.  
Com a mudança, os monarcas também perderam seu espaço, afinal, os homens já viviam em conjunto para o bem comum da polis, então, sentiam-se capazes de decidir os rumos políticos da cidade-estado. O cidadão passa a se confundir com o soldado, pois a partir do momento em que ganha direitos, também assume seus deveres com a defesa da pátria. Os reis espartanos foram reduzidos a meros generais, sem desempenhar funções administrativas, mas apenas militares. Em seu lugar, quem passou a tomar as decisões políticas foram os conselhos criados pelo legislador Licurgo, que na verdade são os primeiros focos de instituições democráticas no Mundo Antigo. 
O período da grande batalha de Tróia e das memoráveis aretéias entre heróis lendários chegava ao fim porque os homens, treinados para ficar unidos nas guerras, passaram a querer lutar juntos para decidir os rumos da comunidade, de forma coletiva. Caem os reis e, no lugar, ergue-se a imponente democracia."A formação do exército no período clássico carrega elementos das relações sociais, tanto no caso dos espartanos como dos atenienses", explica Álvaro Allegrette, da PUC. "Com as mudanças sociais, as pessoas passaram a viver em comunidade e, assim, as relações entre os cidadãos fica mais evidente." 
A polis, explica Werner Jaeger, representa um princípio novo para os helenos, com reflexos importantes para a vida nas cidades, e surge também a definição de Estado, criado em Esparta: essa instituição pública representa, pela primeira vez, o agente educador do povo. 
Hesíodo, outro poeta grego da Antiguidade, dizia que o heroísmo não surge apenas nos combates. Segundo ele, em O Trabalho e os Dias, o verdadeiro herói mítico e exemplar é forjado em qualquer situação nas quais a disciplina é necessária para enaltecer as qualidades humanas. Um desses momentos era o acto de erguer-se na ágora e, dotado de um senso cidadão apurado, incitar o povo a votar por mudanças importantes para a vida colectiva. Isso reforça a idéia de que era fundamental aprimorar a erudição do povo. A educação seria, portanto, uma forma de obter mais condições de tomar decisões coletivas corretas. Surgem, assim, os políticos (a própria palavra deriva de polis)." 
(ver referência [4])
A cavalaria (penso eu) é boa para partir formações de infantaria (coisa que os cavaleiros Ibéricos eram exímios), a nova estrutura militar Grega parece uma forma de combater a cavalaria, digo eu...
Continuando: 
"a Tessália era, amplamente, conhecida por produzir exímios cavaleiros e experiências posteriores em guerras, tanto com como contra o Império Persa ensinaram aos Gregos o elevado valor da cavalaria em ações de perseguição e em escaramuças.
Em contrapartida, a Macedónia, ao norte, desenvolveu uma forte cavalaria pesada que culminou nos hetaroi (cavalaria dos Companheiros) de Filipe II e de Alexandre o Grande. Além desta cavalaria pesada, o exército de armas combinadas macedónio também empregou soldados de cavalaria ligeira, chamados "prodromoi, em missões de exploração e de cobertura. Foram também empregues os ippiko, soldados de cavalaria média, armados com lança e espada, protegidos com uma couraça de pele, cota de malha e chapéu, usados como exploradores e caçadores a cavalo. Esta cavalaria era usada em conjunto com a infantaria ligeira e a famosa falange macedónica. A eficiência do sistema de armas combinadas foi demonstrado nas conquistas asiáticas de Alexandre o Grande."  (cf. [5])
Sobre esta cavalaria média, armados com lança e espada, fez-me lembrar a lança contrapesada dos Ibéros. Encontra um texto interessante aqui: 
O Eng.Fernando Sommer de Andrade e o Cavalo Lusitano (pitamarissa.wordpress.com)
A maioria (se não toda) da informação sobre o cavalo Ibérico encontra com Sommer d'Andrade.

Posto isto continuo sem perceber o que levou a cavalaria Ibérica evoluir da forma que evoluiu, talvez a equitação tenha começado aqui na Península.

Referências:
[1] Arsénio Raposo Cordeiro: Cavalo Lusitano. O filho do vento. Edições INAPA, 1989.
[2] Fernando D'Andrade: O cavalo Lusitano. Lisboa, 10 Março 1986.
[3] http://www.lusitanos.org/pdf.pdf
[4] http://www.revistafilosofia.com.br/ESLH/Edicoes/17/imprime125438.asp
[5] http://dicionario.sensagent.com/cavalaria/pt-pt/#Gr.C3.A9cia_antiga_e_Maced.C3.B3nia

Puro Sangue Lusitano

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publicado às 23:11

Sapiens Sapiens

28.07.11
Por vezes chego a ter quase 100 janelas abertas, que poderiam dar para uma meia-dúzia de temas, e acabo por escolher um tema diferente... é o caso hoje, retomando uma conversa de há um ano atrás, com a Maria da Fonte.

Na estória da evolução humana, faz-se uma distinção entre Homo Sapiens e Homo Sapiens Sapiens.
Normalmente evito falar aqui de aspectos filosóficos, mas como neste caso são importantes na história, é conveniente clarificar algumas coisas, de que ninguém fala.

A matéria associou-se em diversas estruturas, mas podemos considerar apenas três grupos.

(1) Não animal. Inclui-se aqui tudo o que é mineral e vegetal. A estrutura interna destes corpos não define nenhuma acção própria. Não há nenhuma estrutura de decisão interna, por falta de qualquer sistema nervoso.

(2) Animal (não sapiens). Um animal define-se pela existência de sistema nervoso interno, que lhe permite assimilar informação externa, e com base nisso decidir uma acção internamente... que se transforma numa acção, normalmente num movimento.

Antes de passar ao terceiro grupo, é importante dizer algo acerca desta diferença, já que isto está longe de ser uma divisão biológica simples. Junta-se no mesmo grupo insectos, peixes, aves, répteis, mamíferos, etc... Este problema é normalmente varrido para debaixo do tapete, mas o próprio Darwin o terá reconhecido como objecção à sua teoria de evolução, dado que havia uma evidência de um grande salto entre o período pré-Câmbrico, onde não havia animais, e o súbito aparecimento de animais nos registos fósseis. Isto é conhecido como a "Explosão" Câmbrica... já que, tal como "a vida", os animais parecem ter surgido "do nada".

Formação da blástula nos animais, que dará a pele externa,
segue-se a formação da gástrula, que produz a pele interna, e o tubo digestivo.

A necessidade de sistema nervoso está ligada a uma mudança topológica importante... o corpo dos animais desenvolve-se em torno de um tubo - o tubo digestivo. Isto só é possível em 3 dimensões... se existissem apenas duas dimensões, um tubo digestivo partiria o animal em duas partes desconexas!

Nos animais a necessidade de alimento está ligada à necessidade de acção no sentido da sua procura... digamos que não bastaria que o animal estivesse à espera que o alimento "lhe viesse parar à boca"! Seria mais eficaz deslocar-se, e controlar esse movimento... isso requeria um processo de decisão interna, que ficou definido por um sistema nervoso (do mais simples ao mais complicado).

Esse processo de decisão interna poderia ser inicialmente simples e até simulável computacionalmente. Há nos animais conjuntos de acção-reacção que são previsíveis, mas nem sempre. Digamos que estamos ainda longe de reduzir a acção de muitos animais a simples leis matemáticas. Aliás, a simulação computacional ainda deixa a desejar mesmo no que diz respeito ao crescimento dos vegetais.

Há uma outra diferença dramática que terá ocorrido. Uma coisa é os animais alimentarem-se de nutrientes ou outros vegetais, outra coisas é os animais passarem a alimentar-se de animais... 
Isto terá complexificado muito os sistemas nervosos. Para além de decisões baseadas numa simples procura de alimento, os sistemas nervosos entraram em competição de sobrevivência. Teriam que prever modos de ataque/defesa relativamente a outros animais.

Para prever as acções de outros animais, não bastaria um sistema nervoso, é preciso simular internamente uma realidade, e ajustar as acções com base nessa simulação. Começando nos predadores, mas também estendido às presas, houve necessidade de um cérebro.
O cérebro, com base nos dados dos sentidos, construía a sua própria simulação de realidade, com vista a antecipar o passo seguinte. Essa simulação simplificada constituía a base para uma realidade por antecipação. As acções dos animais deixaram de reflectir apenas a realidade, passaram a reflectir ainda a sua previsão da realidade futura, e para isso seria necessária uma memória. 
Não necessariamente uma memória literal, mas comprimida pela interpretação. Distinguimos ainda esta memória que requer aprendizagem individual, de um processo de interpretação inato que pode reflectir uma aprendizagem da espécie, plasmado nos genes. A aprendizagem individual será feita pela experiência de vivência particular, e é especialmente notada em animais que têm ainda uma infância acompanhada pelos progenitores.
Cognição simples nos animais, que não requer memória individual.
Cognição nos animais, em que a memória individual influi na interpretação.

Esta inclusão de memória permite ao animal prever uma situação funesta, por ausência de soluções na sua interpretação e no resultado de qualquer sua acção. Há ainda uma capacidade de interagir com outros elementos, e o desenvolver rudimentar de uma linguagem. Essa linguagem reflectirá informações directas sobre a sua interpretação - uma das acções pode ser justamente a vocalização.
Há, no entanto, um aspecto importante... o próprio indivíduo não é objecto de interpretação.

(3) Animal sapiens.
O terceiro caso reflecte justamente a situação em que o intérprete (ou o interpretado) pode ser alvo de adicional interpretação. Aqui o único caso conhecido será o do Homem, mas é indiferente se for ou não único... e estabelecemos o mesmo esquema:
A novidade (mais uma vez misteriosa... e exclusiva do Homem) é a colocação de um nível de interpretação sujeito a interpretação.
A interpretação final, que determina a acção, tem em conta que há um interveniente (o próprio) que interpreta a informação actual em conjunto com a que está armazenada na memória.
Na prática são colocadas ao mesmo nível todas as informações, mas o indivíduo tem consciência do seu processo interpretativo, tendo consciência de si (do eu) na formação do raciocínio.

Não vou entrar em mais detalhes. É fácil perceber que colocar um novo nível de interpretação não adianta nada ao processo cognitivo... mas pode ter consequências.

O Homem foi classificado como Sapiens, mas não apenas... para designar a nossa subespécie (a única sobrevivente...) foi denominado Sapiens Sapiens! Ora, conforme eu referia há um ano, isto sugere conhecimento sobre o conhecimento... o que seria correcto, se atribuíssemos a outros animais a sua capacidade de conhecimento.
Porém, pode tratar-se doutra coisa. Quando temos a capacidade de misturar a interpretação com a informação da realidade e memória, podemos transmiti-la de forma distorcida. Como a linguagem é apenas resultado de uma interpretação individual, ela pode passar a criar uma farsa, em substituição da realidade. 
Para elementos numa sociedade, excessivamente dependentes da sua interacção por via da linguagem, a realidade pode passar a ficção se a fonte for falsa. Passam a viver numa realidade criada pelos elementos que difundem a informação. 
Conforme referimos aqui, há um ano, a alegoria da caverna de Platão(*) alertaria apenas para a ilusão sensorial? Não procuraria ser antes uma mensagem sobre a ilusão política, avisando sobre a nossa credulidade na informação e formação social?

Como terminar com esse ciclo vicioso de mentiras, em que as acções são determinadas pela deformação informativa? O ponto principal será sem dúvida restabelecer uma fonte informativa que não se destine a condicionar os cidadãos a uma ficção, ou a transmitir mensagens codificadas para determinados intervenientes. Isso não é acção individual isolada, cada interveniente tem que ter capacidade de assinalar de onde provém a fonte que revela, e até dar a sua honesta opinião sobre ela.
Caso contrário... ficamos atónitos à espera de ver até onde é que a farsa tem capacidade de nos levar!


Nota:
(*) Na linha de Platão, segue-se como discípulo Aristóteles que foi tutor de Alexandre Magno. Por isso, é mais ou menos claro que o problema tinha sido colocado a Alexandre, e que a sua ofensiva contra o Império Persa, e depois na Índia, pode ter tido como objectivo uma resolução tempestiva. Tão tempestiva quanto a duração do seu reinado... aliás nenhum dos sucessores retomou esse desígnio.

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publicado às 16:52

Sapiens Sapiens

28.07.11
Por vezes chego a ter quase 100 janelas abertas, que poderiam dar para uma meia-dúzia de temas, e acabo por escolher um tema diferente... é o caso hoje, retomando uma conversa de há um ano atrás, com a Maria da Fonte.

Na estória da evolução humana, faz-se uma distinção entre Homo Sapiens e Homo Sapiens Sapiens.
Normalmente evito falar aqui de aspectos filosóficos, mas como neste caso são importantes na história, é conveniente clarificar algumas coisas, de que ninguém fala.

A matéria associou-se em diversas estruturas, mas podemos considerar apenas três grupos.

(1) Não animal. Inclui-se aqui tudo o que é mineral e vegetal. A estrutura interna destes corpos não define nenhuma acção própria. Não há nenhuma estrutura de decisão interna, por falta de qualquer sistema nervoso.

(2) Animal (não sapiens). Um animal define-se pela existência de sistema nervoso interno, que lhe permite assimilar informação externa, e com base nisso decidir uma acção internamente... que se transforma numa acção, normalmente num movimento.

Antes de passar ao terceiro grupo, é importante dizer algo acerca desta diferença, já que isto está longe de ser uma divisão biológica simples. Junta-se no mesmo grupo insectos, peixes, aves, répteis, mamíferos, etc... Este problema é normalmente varrido para debaixo do tapete, mas o próprio Darwin o terá reconhecido como objecção à sua teoria de evolução, dado que havia uma evidência de um grande salto entre o período pré-Câmbrico, onde não havia animais, e o súbito aparecimento de animais nos registos fósseis. Isto é conhecido como a "Explosão" Câmbrica... já que, tal como "a vida", os animais parecem ter surgido "do nada".

Formação da blástula nos animais, que dará a pele externa,
segue-se a formação da gástrula, que produz a pele interna, e o tubo digestivo.

A necessidade de sistema nervoso está ligada a uma mudança topológica importante... o corpo dos animais desenvolve-se em torno de um tubo - o tubo digestivo. Isto só é possível em 3 dimensões... se existissem apenas duas dimensões, um tubo digestivo partiria o animal em duas partes desconexas!

Nos animais a necessidade de alimento está ligada à necessidade de acção no sentido da sua procura... digamos que não bastaria que o animal estivesse à espera que o alimento "lhe viesse parar à boca"! Seria mais eficaz deslocar-se, e controlar esse movimento... isso requeria um processo de decisão interna, que ficou definido por um sistema nervoso (do mais simples ao mais complicado).

Esse processo de decisão interna poderia ser inicialmente simples e até simulável computacionalmente. Há nos animais conjuntos de acção-reacção que são previsíveis, mas nem sempre. Digamos que estamos ainda longe de reduzir a acção de muitos animais a simples leis matemáticas. Aliás, a simulação computacional ainda deixa a desejar mesmo no que diz respeito ao crescimento dos vegetais.

Há uma outra diferença dramática que terá ocorrido. Uma coisa é os animais alimentarem-se de nutrientes ou outros vegetais, outra coisas é os animais passarem a alimentar-se de animais... 
Isto terá complexificado muito os sistemas nervosos. Para além de decisões baseadas numa simples procura de alimento, os sistemas nervosos entraram em competição de sobrevivência. Teriam que prever modos de ataque/defesa relativamente a outros animais.

Para prever as acções de outros animais, não bastaria um sistema nervoso, é preciso simular internamente uma realidade, e ajustar as acções com base nessa simulação. Começando nos predadores, mas também estendido às presas, houve necessidade de um cérebro.
O cérebro, com base nos dados dos sentidos, construía a sua própria simulação de realidade, com vista a antecipar o passo seguinte. Essa simulação simplificada constituía a base para uma realidade por antecipação. As acções dos animais deixaram de reflectir apenas a realidade, passaram a reflectir ainda a sua previsão da realidade futura, e para isso seria necessária uma memória. 
Não necessariamente uma memória literal, mas comprimida pela interpretação. Distinguimos ainda esta memória que requer aprendizagem individual, de um processo de interpretação inato que pode reflectir uma aprendizagem da espécie, plasmado nos genes. A aprendizagem individual será feita pela experiência de vivência particular, e é especialmente notada em animais que têm ainda uma infância acompanhada pelos progenitores.
Cognição simples nos animais, que não requer memória individual.
Cognição nos animais, em que a memória individual influi na interpretação.

Esta inclusão de memória permite ao animal prever uma situação funesta, por ausência de soluções na sua interpretação e no resultado de qualquer sua acção. Há ainda uma capacidade de interagir com outros elementos, e o desenvolver rudimentar de uma linguagem. Essa linguagem reflectirá informações directas sobre a sua interpretação - uma das acções pode ser justamente a vocalização.
Há, no entanto, um aspecto importante... o próprio indivíduo não é objecto de interpretação.

(3) Animal sapiens.
O terceiro caso reflecte justamente a situação em que o intérprete (ou o interpretado) pode ser alvo de adicional interpretação. Aqui o único caso conhecido será o do Homem, mas é indiferente se for ou não único... e estabelecemos o mesmo esquema:
A novidade (mais uma vez misteriosa... e exclusiva do Homem) é a colocação de um nível de interpretação sujeito a interpretação.
A interpretação final, que determina a acção, tem em conta que há um interveniente (o próprio) que interpreta a informação actual em conjunto com a que está armazenada na memória.
Na prática são colocadas ao mesmo nível todas as informações, mas o indivíduo tem consciência do seu processo interpretativo, tendo consciência de si (do eu) na formação do raciocínio.

Não vou entrar em mais detalhes. É fácil perceber que colocar um novo nível de interpretação não adianta nada ao processo cognitivo... mas pode ter consequências.

O Homem foi classificado como Sapiens, mas não apenas... para designar a nossa subespécie (a única sobrevivente...) foi denominado Sapiens Sapiens! Ora, conforme eu referia há um ano, isto sugere conhecimento sobre o conhecimento... o que seria correcto, se atribuíssemos a outros animais a sua capacidade de conhecimento.
Porém, pode tratar-se doutra coisa. Quando temos a capacidade de misturar a interpretação com a informação da realidade e memória, podemos transmiti-la de forma distorcida. Como a linguagem é apenas resultado de uma interpretação individual, ela pode passar a criar uma farsa, em substituição da realidade. 
Para elementos numa sociedade, excessivamente dependentes da sua interacção por via da linguagem, a realidade pode passar a ficção se a fonte for falsa. Passam a viver numa realidade criada pelos elementos que difundem a informação. 
Conforme referimos aqui, há um ano, a alegoria da caverna de Platão(*) alertaria apenas para a ilusão sensorial? Não procuraria ser antes uma mensagem sobre a ilusão política, avisando sobre a nossa credulidade na informação e formação social?

Como terminar com esse ciclo vicioso de mentiras, em que as acções são determinadas pela deformação informativa? O ponto principal será sem dúvida restabelecer uma fonte informativa que não se destine a condicionar os cidadãos a uma ficção, ou a transmitir mensagens codificadas para determinados intervenientes. Isso não é acção individual isolada, cada interveniente tem que ter capacidade de assinalar de onde provém a fonte que revela, e até dar a sua honesta opinião sobre ela.
Caso contrário... ficamos atónitos à espera de ver até onde é que a farsa tem capacidade de nos levar!


Nota:
(*) Na linha de Platão, segue-se como discípulo Aristóteles que foi tutor de Alexandre Magno. Por isso, é mais ou menos claro que o problema tinha sido colocado a Alexandre, e que a sua ofensiva contra o Império Persa, e depois na Índia, pode ter tido como objectivo uma resolução tempestiva. Tão tempestiva quanto a duração do seu reinado... aliás nenhum dos sucessores retomou esse desígnio.

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publicado às 16:52

Sapiens Sapiens

28.07.11
Por vezes chego a ter quase 100 janelas abertas, que poderiam dar para uma meia-dúzia de temas, e acabo por escolher um tema diferente... é o caso hoje, retomando uma conversa de há um ano atrás, com a Maria da Fonte.

Na estória da evolução humana, faz-se uma distinção entre Homo Sapiens e Homo Sapiens Sapiens.
Normalmente evito falar aqui de aspectos filosóficos, mas como neste caso são importantes na história, é conveniente clarificar algumas coisas, de que ninguém fala.

A matéria associou-se em diversas estruturas, mas podemos considerar apenas três grupos.

(1) Não animal. Inclui-se aqui tudo o que é mineral e vegetal. A estrutura interna destes corpos não define nenhuma acção própria. Não há nenhuma estrutura de decisão interna, por falta de qualquer sistema nervoso.

(2) Animal (não sapiens). Um animal define-se pela existência de sistema nervoso interno, que lhe permite assimilar informação externa, e com base nisso decidir uma acção internamente... que se transforma numa acção, normalmente num movimento.

Antes de passar ao terceiro grupo, é importante dizer algo acerca desta diferença, já que isto está longe de ser uma divisão biológica simples. Junta-se no mesmo grupo insectos, peixes, aves, répteis, mamíferos, etc... Este problema é normalmente varrido para debaixo do tapete, mas o próprio Darwin o terá reconhecido como objecção à sua teoria de evolução, dado que havia uma evidência de um grande salto entre o período pré-Câmbrico, onde não havia animais, e o súbito aparecimento de animais nos registos fósseis. Isto é conhecido como a "Explosão" Câmbrica... já que, tal como "a vida", os animais parecem ter surgido "do nada".

Formação da blástula nos animais, que dará a pele externa,
segue-se a formação da gástrula, que produz a pele interna, e o tubo digestivo.

A necessidade de sistema nervoso está ligada a uma mudança topológica importante... o corpo dos animais desenvolve-se em torno de um tubo - o tubo digestivo. Isto só é possível em 3 dimensões... se existissem apenas duas dimensões, um tubo digestivo partiria o animal em duas partes desconexas!

Nos animais a necessidade de alimento está ligada à necessidade de acção no sentido da sua procura... digamos que não bastaria que o animal estivesse à espera que o alimento "lhe viesse parar à boca"! Seria mais eficaz deslocar-se, e controlar esse movimento... isso requeria um processo de decisão interna, que ficou definido por um sistema nervoso (do mais simples ao mais complicado).

Esse processo de decisão interna poderia ser inicialmente simples e até simulável computacionalmente. Há nos animais conjuntos de acção-reacção que são previsíveis, mas nem sempre. Digamos que estamos ainda longe de reduzir a acção de muitos animais a simples leis matemáticas. Aliás, a simulação computacional ainda deixa a desejar mesmo no que diz respeito ao crescimento dos vegetais.

Há uma outra diferença dramática que terá ocorrido. Uma coisa é os animais alimentarem-se de nutrientes ou outros vegetais, outra coisas é os animais passarem a alimentar-se de animais... 
Isto terá complexificado muito os sistemas nervosos. Para além de decisões baseadas numa simples procura de alimento, os sistemas nervosos entraram em competição de sobrevivência. Teriam que prever modos de ataque/defesa relativamente a outros animais.

Para prever as acções de outros animais, não bastaria um sistema nervoso, é preciso simular internamente uma realidade, e ajustar as acções com base nessa simulação. Começando nos predadores, mas também estendido às presas, houve necessidade de um cérebro.
O cérebro, com base nos dados dos sentidos, construía a sua própria simulação de realidade, com vista a antecipar o passo seguinte. Essa simulação simplificada constituía a base para uma realidade por antecipação. As acções dos animais deixaram de reflectir apenas a realidade, passaram a reflectir ainda a sua previsão da realidade futura, e para isso seria necessária uma memória. 
Não necessariamente uma memória literal, mas comprimida pela interpretação. Distinguimos ainda esta memória que requer aprendizagem individual, de um processo de interpretação inato que pode reflectir uma aprendizagem da espécie, plasmado nos genes. A aprendizagem individual será feita pela experiência de vivência particular, e é especialmente notada em animais que têm ainda uma infância acompanhada pelos progenitores.
Cognição simples nos animais, que não requer memória individual.
Cognição nos animais, em que a memória individual influi na interpretação.

Esta inclusão de memória permite ao animal prever uma situação funesta, por ausência de soluções na sua interpretação e no resultado de qualquer sua acção. Há ainda uma capacidade de interagir com outros elementos, e o desenvolver rudimentar de uma linguagem. Essa linguagem reflectirá informações directas sobre a sua interpretação - uma das acções pode ser justamente a vocalização.
Há, no entanto, um aspecto importante... o próprio indivíduo não é objecto de interpretação.

(3) Animal sapiens.
O terceiro caso reflecte justamente a situação em que o intérprete (ou o interpretado) pode ser alvo de adicional interpretação. Aqui o único caso conhecido será o do Homem, mas é indiferente se for ou não único... e estabelecemos o mesmo esquema:
A novidade (mais uma vez misteriosa... e exclusiva do Homem) é a colocação de um nível de interpretação sujeito a interpretação.
A interpretação final, que determina a acção, tem em conta que há um interveniente (o próprio) que interpreta a informação actual em conjunto com a que está armazenada na memória.
Na prática são colocadas ao mesmo nível todas as informações, mas o indivíduo tem consciência do seu processo interpretativo, tendo consciência de si (do eu) na formação do raciocínio.

Não vou entrar em mais detalhes. É fácil perceber que colocar um novo nível de interpretação não adianta nada ao processo cognitivo... mas pode ter consequências.

O Homem foi classificado como Sapiens, mas não apenas... para designar a nossa subespécie (a única sobrevivente...) foi denominado Sapiens Sapiens! Ora, conforme eu referia há um ano, isto sugere conhecimento sobre o conhecimento... o que seria correcto, se atribuíssemos a outros animais a sua capacidade de conhecimento.
Porém, pode tratar-se doutra coisa. Quando temos a capacidade de misturar a interpretação com a informação da realidade e memória, podemos transmiti-la de forma distorcida. Como a linguagem é apenas resultado de uma interpretação individual, ela pode passar a criar uma farsa, em substituição da realidade. 
Para elementos numa sociedade, excessivamente dependentes da sua interacção por via da linguagem, a realidade pode passar a ficção se a fonte for falsa. Passam a viver numa realidade criada pelos elementos que difundem a informação. 
Conforme referimos aqui, há um ano, a alegoria da caverna de Platão(*) alertaria apenas para a ilusão sensorial? Não procuraria ser antes uma mensagem sobre a ilusão política, avisando sobre a nossa credulidade na informação e formação social?

Como terminar com esse ciclo vicioso de mentiras, em que as acções são determinadas pela deformação informativa? O ponto principal será sem dúvida restabelecer uma fonte informativa que não se destine a condicionar os cidadãos a uma ficção, ou a transmitir mensagens codificadas para determinados intervenientes. Isso não é acção individual isolada, cada interveniente tem que ter capacidade de assinalar de onde provém a fonte que revela, e até dar a sua honesta opinião sobre ela.
Caso contrário... ficamos atónitos à espera de ver até onde é que a farsa tem capacidade de nos levar!


Nota:
(*) Na linha de Platão, segue-se como discípulo Aristóteles que foi tutor de Alexandre Magno. Por isso, é mais ou menos claro que o problema tinha sido colocado a Alexandre, e que a sua ofensiva contra o Império Persa, e depois na Índia, pode ter tido como objectivo uma resolução tempestiva. Tão tempestiva quanto a duração do seu reinado... aliás nenhum dos sucessores retomou esse desígnio.

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publicado às 08:52


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