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[reeditado e terminado em 8 de Outubro de 2011]

Não tinha pensado apresentar um texto sobre os 101 anos da implantação da República Portuguesa, mas junto pequenos detalhes que me mereceram alguma atenção.

O primeiro desses detalhes, é o excelente documentário, feito a propósito do centenário: 
"Maçonaria, a conspiração da República", de João Osório, 

Uma figura central da Revolução de 5 de Outubro, é aí bem identificada - Machado Santos, o jovem romântico, à frente das tropas populares da Carbonária, estacionadas na Rotunda.

No entanto, como é claro nestas coisas... uma coisa é ter um papel decisivo, outra coisa é obter o devido reconhecimento. Uma coisa é garantir a vitória militar na Rotunda, outra coisa diferente é determinar que afinal o momento da Implantação da República são uns gritos fotografados na varanda da Camâra de Lisboa:

 
(o elemento que parece ser Machado Santos, é afinal Marinha de Campos).

Os melhores heróis são os mortos... foi o caso do Dr. Miguel Bombarda e do Almirante Cândido dos Reis... todas as cidades viriam a ter uma rua com o nome estes personagens, cujo papel singular face aos restantes, terá sido o seu falecimento politicamente correcto - foram enterrados conjuntamente a 6 de Outubro de 1910.

Dos mortos não se esperam críticas à evolução do movimento... as críticas de Machado Santos.
Faltou, no documentário da RTP2, apontar o destino do herói da Rotunda... e bastava ligar a uma outra excelente mini-série da RTP: a Noite Sangrenta.
O destino de Machado Santos e José Carlos da Maia, heróis incómodos da implantação da República foi traçado pela "camioneta fantasma" que, na Noite Sangrenta de 19 de Outubro de 1921, levou para a execução estes antigos heróis da implantação da República, bem como o chefe de governo António Granjo e outros antigos apoiantes de Sidónio Pais.

Após 100 anos, houve finalmente um conjunto de informação transmitida pela RTP, e que tinha sido varrida para baixo do tapete republicano, que sufocou protagonistas, nomeando outros no seu lugar.
Após 100 anos, a informação ainda vem separada... há ainda receio de abrir os armários.
É fácil falar do apagamento de Trotsky nas fotos com Lenine, mas é complicado assumir que Machado Santos foi apagado nas fotos da República, e depois executado a mando de "desconhecidos" que organizam a Noite Sangrenta. Falar em "desconhecidos", ou acusar subalternos, é resultado da falha e condicionamento histórico.
Como contraposição à 2ª República de Salazar, desenvolveu-se uma mitologia própria de branqueamento da 1ª República, estratégia achada apropriada nas décadas pós-25 Abril, procurando definir um único monstro (Salazar) no conto de fadas republicano.
O número de protagonistas assassinados na 1ª República excedeu largamente os do Estado Novo, já para não falar da Monarquia Constitucional. Nos bastidores do "partido único" dito "democrata" de Afonso Costa o que mais se temia eram os verdadeiros democratas, que iam pagando com a vida as suas iniciativas. Assim, quando se fala em partido único, ao tempo de Salazar, importa notar que a grande diferença face ao estado anterior, é que era um novo partido único assumido, e não um regime colorido com vários partidos, em que dominava o Partido Democrático, com poucas políticas assumidas e muitas acções radicais definidas nos bastidores.

Republicanos e maçonaria
É especialmente elucidativo o documentário da RTP2 ao estabelecer a interacção da Carbonária com a Maçonaria na execução do golpe republicano de 5 de Outubro.
Os líderes da Carbonária, no quais se inclui Machado Santos, estão ainda na Maçonaria, e assim de alguma forma o projecto maçónico parece aproveitar-se da estrutura popular da Carbonária, usando-a como um braço armado. Isso parece tanto mais notório pela auto-extinção da Carbonária nos momentos seguintes à revolução. Se a maçonaria aparecia como elitista, era pragmático desenvolver uma estrutura auxiliar de interacção necessária à coordenação das forças populares. São essas forças da Carbonária acusadas da morte do rei D. Carlos, que aguentam a Rotunda, com Machado Santos à cabeça... ou seja, a estrutura que parece protagonizar o sucesso do golpe republicano desaparece com o sucesso da acção.

Porém, a acção é mais complexa, e a resistência de Machado Santos tem muito de simbólica, tal como a de Paiva Couceiro pelo lado oposto. São actores ocasionais que aparecem numa peça escrita nos bastidores. Acabam por aparecer como heróis isolados na luta simbólica que travaram na Rotunda. Irão repetir essa rivalidade no episódio da Monarquia do Norte, de 1919, que é uma reacção monárquica ao assassínio de Sidónio Pais.

O argumento já tinha sido escrito nos bastidores, e por isso Paiva Couceiro vê-se sozinho a defender uma monarquia moribunda. As deslocações do grão-mestre da Maçonaria, para garantir a não intervenção externa, inglesa e francesa, completam o ramalhete... Há uma organização que parece assim coordenar toda a acção, com influência em ambos os lados das tropas. Mas a organização tendo cariz maçónico não se confunde com a Maçonaria... o grão-mestre é candidato a Presidente da República, mas quem define a escolha é o Partido Republicano. O poder usa as diversas estruturas, mas não se identifica exactamente com a hierarquia de nenhuma delas. Assim, as presidências dos órgãos surgem como figurativas, escondendo um poder definido através da cúpula, mas não identificável, gerando a óbvia confusão nos opositores. As várias iniciativas disparavam em diversas direcções, sem conseguirem identificar exactamente a cabeça do poder.

Os republicanos, enquanto partido, tinham obtido uma derrota histórica nas eleições de 1910, que antecederam a revolução armada. Precisaram de restringir o universo eleitoral e suprimir partidos monárquicos para que não houvesse surpresas no parlamento, já que o povo menos informado poderia continuar a votar na "direcção errada". É esta minoria que passará a completa maioria pela via revolucionária...
Curiosamente, durante estes 100 anos republicanos, as constituições votadas ocorrem com Sidónio Pais, e com Salazar. A população é chamada para escolher partidos, mas não a forma de governo. Independentemente de todas as necessárias críticas, a forma ditatorial do Estado Novo foi legitimada por consulta popular na Constituição de 1933, aprovada esmagadoramente. A parte incorrecta surge na não renovação dessa legitimação... passados 20 anos. Passado esse tempo, haveria toda uma geração votante que não se pronunciara sobre o regime. Mas isso não foi defeito ocasional... os regimes actuais, ditos democráticos, têm constituições com mais de 20 anos, que nunca foram sujeitas a nenhum escrutínio desse tipo. Os cidadãos nascem condicionados ao funcionamento do sistema, sem hipótese de se pronunciarem sobre ele.

Os contos e as histórias
Se nos é ensinado que a evolução histórica caminhou no sentido de uma maior consagração da liberdade individual, extensiva a toda a população, também fica evidente que a poderosa ocultação histórica - que está em curso - pode ter falsificado toda a informação que dispomos, e sobre a qual não há testemunhos pessoais fiáveis que ultrapassem o Séc. XX ou o final do Séc. XIX (contando até com os relatos de avós ou bisavós). É claro que isto é um exagero, mas convém atentar, por exemplo, no caso das Colunas de Hércules... que passam por um mito da antiguidade, tendo-se até perdido o registo popular das torres existentes em Cadiz, e que desapareceram apenas no Séc. XVIII ou XIX.

Há teorias com origem na Rússia, que afirmam uma supressão histórica de 1000 anos!
Pode parecer absurdo... mas convirá observar a excessiva ausência de registos da Época Medieval, que comporta esses mil anos. Invoca-se uma estagnação de mentalidades, colorida com uma atribuição de monumentos padrão a esse período, mas o único obstáculo sério a essa hipótese é a necessidade de uma coordenação das diversas culturas na preservação e colaboração do embuste. Mas, à excepção de casos singulares, na aristocracia, onde há algum registo de antepassados que perdura por séculos, a restante maioria da população dificilmente conhece mais do que registos dos seus avós ou bisavós.

A disseminação da Escola, uma conquista da República (que acabou por ser mais efectiva na 2ª República, e que já estava bem presente na Monarquia), levou também a uma quebra da tradição familiar. A história familiar passou a reduzir-se a pequenos episódios pessoais, sem o enquadramento da época. Os pais passaram a negligenciar a transmissão da sua vivência e interpretação dos acontecimentos, confiando à Escola essa transmissão... assumindo que ela seria objectiva e formativa. Porém, é fácil perceber que para a maioria dos filhos, essa vivência vai resumir-se a duas ou três frases aprendidas num livro escolhido. Uma informação complementar simples perde-se nos silêncios familiares, que remetem o conhecimento antigo à escola estatal.
É depois habitual caricaturizar-se isto com o desconhecimento sobre o 25 de Abril... quando os próprios caricaturistas dificilmente sabem que o 5 de Outubro foi também a data da assinatura do Tratado de Zamora, que consagrou a independência nacional em 1143.
Se as iniciativas revolucionárias republicanas começaram a 3 de Outubro, a chancela oficial acabou por surgir apenas depois, num dia que ficaria assim duplamente simbólico. Coincidência?

Carbonara e Bolonhesa
No meio deste processo haverá boas intenções misturadas com intenções castradoras.
O processo republicano aparece assim identificado com a mesma massa, mas com dois molhos:
- A Massa Carbonara - que é feita de molhos de população, liderada pela Carbonária, uma organização ocasional, que surge no Séc. XIX para liderar processos republicanos na Itália, Espanha e Portugal, e cujo nome fica definido pela troca do B pelo V.... ou seja, o nome Carvonária resultaria das reuniões secretas iniciais efectuadas em casas de carvoeiros, na Sardenha. E sobre a Sardenha parece sempre haver muito pouco a dizer... a enorme e paradisíaca ilha mediterrânica parece ter passado pela história despercebida, ao contrário da Sicília ou da Córsega.
- A Massa Bolonhesa - cuja carne é misturada nos molhos de pedreiros livres da Maçonaria. A ligação a Bolonha surge na origem reportada a 1248 da Carta de Bolonha:
Statuta et Ordinamenta Societatis Magistrorum Tapia et Lignamiis
ou seja, os primitivos estatutos e regulamentos da Sociedade dos Mestres Maçons e Carpinteiros.
Esta pasta bolonhesa será da mesma Bolonha italiana que foi primeira universidade, e cujo nome serviu para um tratado de graus universitários europeus (o chamado Tratado de Bolonha).

Afinal, parece que a típica massa italiana, "a pasta", mais característica de Nápoles e Sicília, onde leva apenas azeite, ganhou outros molhos noutras ilhas e paragens, tendo sido exportada com sucesso.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:58

[reeditado e terminado em 8 de Outubro de 2011]

Não tinha pensado apresentar um texto sobre os 101 anos da implantação da República Portuguesa, mas junto pequenos detalhes que me mereceram alguma atenção.

O primeiro desses detalhes, é o excelente documentário, feito a propósito do centenário: 
"Maçonaria, a conspiração da República", de João Osório, 

Uma figura central da Revolução de 5 de Outubro, é aí bem identificada - Machado Santos, o jovem romântico, à frente das tropas populares da Carbonária, estacionadas na Rotunda.

No entanto, como é claro nestas coisas... uma coisa é ter um papel decisivo, outra coisa é obter o devido reconhecimento. Uma coisa é garantir a vitória militar na Rotunda, outra coisa diferente é determinar que afinal o momento da Implantação da República são uns gritos fotografados na varanda da Camâra de Lisboa:

 
(o elemento que parece ser Machado Santos, é afinal Marinha de Campos).

Os melhores heróis são os mortos... foi o caso do Dr. Miguel Bombarda e do Almirante Cândido dos Reis... todas as cidades viriam a ter uma rua com o nome estes personagens, cujo papel singular face aos restantes, terá sido o seu falecimento politicamente correcto - foram enterrados conjuntamente a 6 de Outubro de 1910.

Dos mortos não se esperam críticas à evolução do movimento... as críticas de Machado Santos.
Faltou, no documentário da RTP2, apontar o destino do herói da Rotunda... e bastava ligar a uma outra excelente mini-série da RTP: a Noite Sangrenta.
O destino de Machado Santos e José Carlos da Maia, heróis incómodos da implantação da República foi traçado pela "camioneta fantasma" que, na Noite Sangrenta de 19 de Outubro de 1921, levou para a execução estes antigos heróis da implantação da República, bem como o chefe de governo António Granjo e outros antigos apoiantes de Sidónio Pais.

Após 100 anos, houve finalmente um conjunto de informação transmitida pela RTP, e que tinha sido varrida para baixo do tapete republicano, que sufocou protagonistas, nomeando outros no seu lugar.
Após 100 anos, a informação ainda vem separada... há ainda receio de abrir os armários.
É fácil falar do apagamento de Trotsky nas fotos com Lenine, mas é complicado assumir que Machado Santos foi apagado nas fotos da República, e depois executado a mando de "desconhecidos" que organizam a Noite Sangrenta. Falar em "desconhecidos", ou acusar subalternos, é resultado da falha e condicionamento histórico.
Como contraposição à 2ª República de Salazar, desenvolveu-se uma mitologia própria de branqueamento da 1ª República, estratégia achada apropriada nas décadas pós-25 Abril, procurando definir um único monstro (Salazar) no conto de fadas republicano.
O número de protagonistas assassinados na 1ª República excedeu largamente os do Estado Novo, já para não falar da Monarquia Constitucional. Nos bastidores do "partido único" dito "democrata" de Afonso Costa o que mais se temia eram os verdadeiros democratas, que iam pagando com a vida as suas iniciativas. Assim, quando se fala em partido único, ao tempo de Salazar, importa notar que a grande diferença face ao estado anterior, é que era um novo partido único assumido, e não um regime colorido com vários partidos, em que dominava o Partido Democrático, com poucas políticas assumidas e muitas acções radicais definidas nos bastidores.

Republicanos e maçonaria
É especialmente elucidativo o documentário da RTP2 ao estabelecer a interacção da Carbonária com a Maçonaria na execução do golpe republicano de 5 de Outubro.
Os líderes da Carbonária, no quais se inclui Machado Santos, estão ainda na Maçonaria, e assim de alguma forma o projecto maçónico parece aproveitar-se da estrutura popular da Carbonária, usando-a como um braço armado. Isso parece tanto mais notório pela auto-extinção da Carbonária nos momentos seguintes à revolução. Se a maçonaria aparecia como elitista, era pragmático desenvolver uma estrutura auxiliar de interacção necessária à coordenação das forças populares. São essas forças da Carbonária acusadas da morte do rei D. Carlos, que aguentam a Rotunda, com Machado Santos à cabeça... ou seja, a estrutura que parece protagonizar o sucesso do golpe republicano desaparece com o sucesso da acção.

Porém, a acção é mais complexa, e a resistência de Machado Santos tem muito de simbólica, tal como a de Paiva Couceiro pelo lado oposto. São actores ocasionais que aparecem numa peça escrita nos bastidores. Acabam por aparecer como heróis isolados na luta simbólica que travaram na Rotunda. Irão repetir essa rivalidade no episódio da Monarquia do Norte, de 1919, que é uma reacção monárquica ao assassínio de Sidónio Pais.

O argumento já tinha sido escrito nos bastidores, e por isso Paiva Couceiro vê-se sozinho a defender uma monarquia moribunda. As deslocações do grão-mestre da Maçonaria, para garantir a não intervenção externa, inglesa e francesa, completam o ramalhete... Há uma organização que parece assim coordenar toda a acção, com influência em ambos os lados das tropas. Mas a organização tendo cariz maçónico não se confunde com a Maçonaria... o grão-mestre é candidato a Presidente da República, mas quem define a escolha é o Partido Republicano. O poder usa as diversas estruturas, mas não se identifica exactamente com a hierarquia de nenhuma delas. Assim, as presidências dos órgãos surgem como figurativas, escondendo um poder definido através da cúpula, mas não identificável, gerando a óbvia confusão nos opositores. As várias iniciativas disparavam em diversas direcções, sem conseguirem identificar exactamente a cabeça do poder.

Os republicanos, enquanto partido, tinham obtido uma derrota histórica nas eleições de 1910, que antecederam a revolução armada. Precisaram de restringir o universo eleitoral e suprimir partidos monárquicos para que não houvesse surpresas no parlamento, já que o povo menos informado poderia continuar a votar na "direcção errada". É esta minoria que passará a completa maioria pela via revolucionária...
Curiosamente, durante estes 100 anos republicanos, as constituições votadas ocorrem com Sidónio Pais, e com Salazar. A população é chamada para escolher partidos, mas não a forma de governo. Independentemente de todas as necessárias críticas, a forma ditatorial do Estado Novo foi legitimada por consulta popular na Constituição de 1933, aprovada esmagadoramente. A parte incorrecta surge na não renovação dessa legitimação... passados 20 anos. Passado esse tempo, haveria toda uma geração votante que não se pronunciara sobre o regime. Mas isso não foi defeito ocasional... os regimes actuais, ditos democráticos, têm constituições com mais de 20 anos, que nunca foram sujeitas a nenhum escrutínio desse tipo. Os cidadãos nascem condicionados ao funcionamento do sistema, sem hipótese de se pronunciarem sobre ele.

Os contos e as histórias
Se nos é ensinado que a evolução histórica caminhou no sentido de uma maior consagração da liberdade individual, extensiva a toda a população, também fica evidente que a poderosa ocultação histórica - que está em curso - pode ter falsificado toda a informação que dispomos, e sobre a qual não há testemunhos pessoais fiáveis que ultrapassem o Séc. XX ou o final do Séc. XIX (contando até com os relatos de avós ou bisavós). É claro que isto é um exagero, mas convém atentar, por exemplo, no caso das Colunas de Hércules... que passam por um mito da antiguidade, tendo-se até perdido o registo popular das torres existentes em Cadiz, e que desapareceram apenas no Séc. XVIII ou XIX.

Há teorias com origem na Rússia, que afirmam uma supressão histórica de 1000 anos!
Pode parecer absurdo... mas convirá observar a excessiva ausência de registos da Época Medieval, que comporta esses mil anos. Invoca-se uma estagnação de mentalidades, colorida com uma atribuição de monumentos padrão a esse período, mas o único obstáculo sério a essa hipótese é a necessidade de uma coordenação das diversas culturas na preservação e colaboração do embuste. Mas, à excepção de casos singulares, na aristocracia, onde há algum registo de antepassados que perdura por séculos, a restante maioria da população dificilmente conhece mais do que registos dos seus avós ou bisavós.

A disseminação da Escola, uma conquista da República (que acabou por ser mais efectiva na 2ª República, e que já estava bem presente na Monarquia), levou também a uma quebra da tradição familiar. A história familiar passou a reduzir-se a pequenos episódios pessoais, sem o enquadramento da época. Os pais passaram a negligenciar a transmissão da sua vivência e interpretação dos acontecimentos, confiando à Escola essa transmissão... assumindo que ela seria objectiva e formativa. Porém, é fácil perceber que para a maioria dos filhos, essa vivência vai resumir-se a duas ou três frases aprendidas num livro escolhido. Uma informação complementar simples perde-se nos silêncios familiares, que remetem o conhecimento antigo à escola estatal.
É depois habitual caricaturizar-se isto com o desconhecimento sobre o 25 de Abril... quando os próprios caricaturistas dificilmente sabem que o 5 de Outubro foi também a data da assinatura do Tratado de Zamora, que consagrou a independência nacional em 1143.
Se as iniciativas revolucionárias republicanas começaram a 3 de Outubro, a chancela oficial acabou por surgir apenas depois, num dia que ficaria assim duplamente simbólico. Coincidência?

Carbonara e Bolonhesa
No meio deste processo haverá boas intenções misturadas com intenções castradoras.
O processo republicano aparece assim identificado com a mesma massa, mas com dois molhos:
- A Massa Carbonara - que é feita de molhos de população, liderada pela Carbonária, uma organização ocasional, que surge no Séc. XIX para liderar processos republicanos na Itália, Espanha e Portugal, e cujo nome fica definido pela troca do B pelo V.... ou seja, o nome Carvonária resultaria das reuniões secretas iniciais efectuadas em casas de carvoeiros, na Sardenha. E sobre a Sardenha parece sempre haver muito pouco a dizer... a enorme e paradisíaca ilha mediterrânica parece ter passado pela história despercebida, ao contrário da Sicília ou da Córsega.
- A Massa Bolonhesa - cuja carne é misturada nos molhos de pedreiros livres da Maçonaria. A ligação a Bolonha surge na origem reportada a 1248 da Carta de Bolonha:
Statuta et Ordinamenta Societatis Magistrorum Tapia et Lignamiis
ou seja, os primitivos estatutos e regulamentos da Sociedade dos Mestres Maçons e Carpinteiros.
Esta pasta bolonhesa será da mesma Bolonha italiana que foi primeira universidade, e cujo nome serviu para um tratado de graus universitários europeus (o chamado Tratado de Bolonha).

Afinal, parece que a típica massa italiana, "a pasta", mais característica de Nápoles e Sicília, onde leva apenas azeite, ganhou outros molhos noutras ilhas e paragens, tendo sido exportada com sucesso.

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