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Cristo na Índia

10.11.12
Há uns meses atrás, num comentário amistoso, cafc colocou aqui uma questão sobre a presença de Cristo na Índia. Os interessantes links que deixou:
http://www.dominiosfantasticos.xpg.com.br/id196.htm e também id197.htm
reportavam eventuais pistas para uma presença de Cristo na Índia. Assumia-se no texto que essa presença seria posterior à crucificação. 

Nestas coisas, uma ocasional releitura pode levar a outra atenção. Aconteceu com a Chronographia repertorio dos tempos, de Manoel de Figueiredo, de 1603, que já aqui mencionámos três vezes.
E estava ali, exactamente na mesma página 131, que já aqui tinhamos mencionado - a propósito da designação Mérica para A Mérica. Antes do Capítulo XI "da América", está o Capítulo X "da Ásia" onde se lê isto:
Também a regam muitos rios caudalosos, Eufrates, Ganges, o mar Abachu. Nesta parte do mundo andou Christo nosso senhor, é mui fertil, & abundante de todo o género de cheiros, frutos, sementes (...)
Assim, despercebidamente, Figueiredo revela que Cristo "andou pela Ásia", e se isso pode ser entendido como uma referência à Palestina, enquanto parte da Ásia, era mais natural colocar-se "viveu" e não "andou"... especialmente quando se acaba de fazer referência ao Eufrates e ao Ganges. Quanto ao "mar Abachu" é uma designação perdida do Mar Tártaro, que aqui é estranhamente incluído no contexto de rios caudalosos. Talvez houvesse ainda aqui uma remniscência da ligação do Cáspio ao Oceano Ártico. O mar Tártaro era colocado a leste do Oceano Hiperbórico, de Nova Zembla ao Japão, ou seja incluiria uma parte do que é hoje considerado o Oceano Ártico.

Ora, já no fim do Séc. XIX, um russo, Novovitch, vai levantar a hipótese de Cristo ter vivido na Índia, por ter aprendido num mosteiro de Ladakh (Tibete) sobre a vida do Santo Issa, onde Isa em árabe corresponde a Jesus. Antes, em 1869, já um francês, Jacolliot, ligara o nome Cristo a Krishna, num livro: "La Bible dans l'Inde, vie de Ieseus Christna". [cf. wikipedia]
 O mosteiro de Hemis, Ladakh, onde Novovitch terá ouvido o relato de Issa.

Passados mais de 350 anos sobre a presença portuguesa na Índia, e a forte tentativa evangelizadora, parece natural que os missionários europeus tentassem eventuais semelhanças com Krishna, e que os hindus não tivessem especiais problemas em tolerar que Jesus pudesse ser uma outra encarnação de Krishna, para satisfação do invasor externo.

No entanto, como referi a cafc, não deixa de ser curiosa a expressão: "Ver para crer, como São Tomé", atendendo que foi São Tomé o apóstolo responsável pela difusão da fé na Índia, e também aquele que presenciou a Ascenção de Nª Srª, indo de encontro à hipótese de uma fuga de Jesus para a Índia com a mãe, no sentido preconizado pelo site, de que Jesus teria sobrevivido à crucificação, com a ajuda de José de Arimateia, segundo cafc, e isso estaria na origem do mito do Graal. Ora, eu diria ainda que o segredo do "cálice", será mais um simples "cale-se", como frisou Chico Buarque.

Não deixa de ser curioso o texto de Manoel de Figueiredo, referindo que "Jesus andou pela Ásia", numa altura em que os portugueses saberiam em primeira mão o que os hindus lhes reportavam.
No Ganges encontrou Alexandre Magno os Magos gimnosofistas (literalmente "sábios nús", em grego), os ascetas hindus, que lhe fizeram frente. Nesse sentido indiano, há pontos de ligação entre a doutrina asceta, o budismo, e a própria doutrina que Jesus introduzira na Judeia. A perspectiva solipsista de Jesus, que se assume como o todo e a parte, o pai e o filho, não é estranha à filosofia hindú que encara a realidade como um sonho do próprio. Os outros não passam de emanações de si mesmo, e assim é natural deverem ser tratados como irmãos. 
Curiosamente esta filosofia cristã seria adaptada por J. P. Sartre, um ateu convicto, que numa linha mais zoroastrista-socialista invocava essa irmandade social, agora mais cientificamente, apenas como filhos humanos de uma mesma natureza.

Há ainda um ponto de contacto interessante entre as religiões. O budismo terá sido a primeira religião transnacional, que rompeu com o carácter religioso local. Até aí, as religiões manifestavam-se como um aspecto cultural distinto de cada povo, levando até à noção de "povo eleito" no caso judaico. Os primeiros missionários foram monges budistas, e o cristianismo, com S. Paulo, vai seguir essa linha unificadora, tal como depois acontecerá com o islamismo. Os romanos no seu império não objectavam aos deuses locais, apenas não queriam a rejeição dos seus. A ideia de religião universal, e da utilização de missionários começa por ser uma atitude budista. Essa atitude tem sucesso no Oriente, onde se difunde extensivamente, mas estranhamente não tem registos a Ocidente, e não terá sido só por falta de esforço.
No entanto, as semelhanças entre a doutrina budista e cristã não comportam o inicial carácter judaico da religião cristã, antes da sua extensão aos "gentios", promovida por S. Paulo. Por outro lado, não constam registos de perseguições romanas a monges budistas, como a que encetaram contra os cristãos, e assim, de forma singular, o budismo apenas aparecerá difundido e implantado a Oriente da Índia. Acresce que o cristianismo e islamismo serão implantados como religiões aglutinadoras, focos de intervenção directa no poder, e tal preponderância religiosa só terá semelhança no budismo implantado no Tibete, onde os monges definiam a estrutura do Estado.

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publicado às 22:35

Pedras de Ica

10.11.12
As pedras de Ica são pequenos seixos de origem peruana que pretendem apresentar antigas ilustrações de fauna jurássica. Como exemplo, podemos ver nesta imagem várias espécies extintas de dinossauros.
Pedras de Ica

Estes achados foram revelados por Javier Cabrera, mas aparentemente já o pai os colecionava desde os anos 1930. No entanto, são considerados uma fraude pelos processos de Inquisição actuais. Basicamente, alguém se prestou a dizer que fabricava pedras semelhantes para vender a turistas, evitando assim a prisão face à lei peruana que impede a venda do legado histórico. Era menos penalizador ser farsante do que ser expoliador... e o achado passou a fraude documentada.
Se há quem fale em Forbidden Archeology, também está na moda a Bad Archeology... que vai cobrindo as descobertas, na maioria das vezes com maus argumentos - dir-se-ia mais - Bad Archeology Arguments. Assim, não se vê um desmascarar destes achados por datação, mas sim por um testemunho condicionado. Mais engraçado e comum, usa-se o argumento do absurdo que será alguém supor possível a algum povo peruano fazer imagens de dinossauros. É a típica moderna argumentação do politicamente correcto - variação do magister dixit - a teoria diz que os dinossauros são muito anteriores aos humanos, e portanto qualquer coisa noutro sentido é absurda e ridicularizável. Ou seja, conforme é denunciado no livro Forbidden Archeology, as provas que colocam em causa a teoria vigente são suprimidas, ridicularizadas ou não divulgadas.

No caso em questão, é absolutamente irrelevante saber se as pedras são verdadeiras ou falsas.
Porque há um ligeiro detalhe bem mais importante, que escapa aos detractores de serviço:
- Por que razão não foram descobertos e ilustrados antes do Séc. XVIII vestígios de dinossauros?
Os sumérios, chineses, egípcios, indianos, fenícios, persas, gregos, romanos, etc... faziam escavações, muitas, quanto mais não fosse porque precisavam de minas para extrair os metais. Ora, parece ter acontecido que durante milénios ninguém encontrou ossadas de dinossauros. Já para não falar daquelas ossadas que se revelam sem escavação.
Manifesto azar, rapidamente compensado a partir do Séc. XVIII com imensas descobertas, os vestígios afinal encontravam-se quase a pontapé, mas tinham escapado aos olhares incultos de toda a população humana anterior.

As Pedras de Ica são especialmente importantes por fazerem notar que não é preciso haver contemporaneidade humana para se ilustrarem dinossauros. Pelas ossadas restantes não seria difícil pensar e ilustrar esses animais, o que é estranho, isso sim, é a ignorância permanente que durou milénios e foi partilhada nos legados de todas as civilizações humanas.
Todas? Bom, aqui aparece um registo igualmente interessante - no templo khmer de Ta Prohm, perto de Angkor. Se o templo está parcialmente sepultado por raízes de árvores, mostrando a sua antiguidade (é considerado do Séc. XII/XIII), é ilustrativa esta pequena imagem do que aparenta ser um estegossauro
 
Templo de Ta Prohm e um seu relevo, que aparenta ilustrar um Estegossauro

É claro que à maneira da "boa arqueologia" que faz a "Bad Archeology", ou ignora-se o assunto, ou há quem argumente que as escamas no bicho são afinal raios de um sol que se esconderia atrás do animal... e viva a imaginação! Será apenas por simples burrice que não admitem que se trate mesmo de um estegossauro, idealizado a partir de ossadas fossilizadas encontradas pelos khmers, qual seria o problema de tal coisa? Terem depois que explicar que só os khmers é que encontraram ossadas? 
Afinal não seriam os dragões, que polvilharam o imaginário medieval, uma referência directa a essas ossadas ocultas? Afinal S. Jorge teria eliminado qual dragão?

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publicado às 07:51

Pedras de Ica

10.11.12
As pedras de Ica são pequenos seixos de origem peruana que pretendem apresentar antigas ilustrações de fauna jurássica. Como exemplo, podemos ver nesta imagem várias espécies extintas de dinossauros.
Pedras de Ica

Estes achados foram revelados por Javier Cabrera, mas aparentemente já o pai os colecionava desde os anos 1930. No entanto, são considerados uma fraude pelos processos de Inquisição actuais. Basicamente, alguém se prestou a dizer que fabricava pedras semelhantes para vender a turistas, evitando assim a prisão face à lei peruana que impede a venda do legado histórico. Era menos penalizador ser farsante do que ser expoliador... e o achado passou a fraude documentada.
Se há quem fale em Forbidden Archeology, também está na moda a Bad Archeology... que vai cobrindo as descobertas, na maioria das vezes com maus argumentos - dir-se-ia mais - Bad Archeology Arguments. Assim, não se vê um desmascarar destes achados por datação, mas sim por um testemunho condicionado. Mais engraçado e comum, usa-se o argumento do absurdo que será alguém supor possível a algum povo peruano fazer imagens de dinossauros. É a típica moderna argumentação do politicamente correcto - variação do magister dixit - a teoria diz que os dinossauros são muito anteriores aos humanos, e portanto qualquer coisa noutro sentido é absurda e ridicularizável. Ou seja, conforme é denunciado no livro Forbidden Archeology, as provas que colocam em causa a teoria vigente são suprimidas, ridicularizadas ou não divulgadas.

No caso em questão, é absolutamente irrelevante saber se as pedras são verdadeiras ou falsas.
Porque há um ligeiro detalhe bem mais importante, que escapa aos detractores de serviço:
- Por que razão não foram descobertos e ilustrados antes do Séc. XVIII vestígios de dinossauros?
Os sumérios, chineses, egípcios, indianos, fenícios, persas, gregos, romanos, etc... faziam escavações, muitas, quanto mais não fosse porque precisavam de minas para extrair os metais. Ora, parece ter acontecido que durante milénios ninguém encontrou ossadas de dinossauros. Já para não falar daquelas ossadas que se revelam sem escavação.
Manifesto azar, rapidamente compensado a partir do Séc. XVIII com imensas descobertas, os vestígios afinal encontravam-se quase a pontapé, mas tinham escapado aos olhares incultos de toda a população humana anterior.

As Pedras de Ica são especialmente importantes por fazerem notar que não é preciso haver contemporaneidade humana para se ilustrarem dinossauros. Pelas ossadas restantes não seria difícil pensar e ilustrar esses animais, o que é estranho, isso sim, é a ignorância permanente que durou milénios e foi partilhada nos legados de todas as civilizações humanas.
Todas? Bom, aqui aparece um registo igualmente interessante - no templo khmer de Ta Prohm, perto de Angkor. Se o templo está parcialmente sepultado por raízes de árvores, mostrando a sua antiguidade (é considerado do Séc. XII/XIII), é ilustrativa esta pequena imagem do que aparenta ser um estegossauro
 
Templo de Ta Prohm e um seu relevo, que aparenta ilustrar um Estegossauro

É claro que à maneira da "boa arqueologia" que faz a "Bad Archeology", ou ignora-se o assunto, ou há quem argumente que as escamas no bicho são afinal raios de um sol que se esconderia atrás do animal... e viva a imaginação! Será apenas por simples burrice que não admitem que se trate mesmo de um estegossauro, idealizado a partir de ossadas fossilizadas encontradas pelos khmers, qual seria o problema de tal coisa? Terem depois que explicar que só os khmers é que encontraram ossadas? 
Afinal não seriam os dragões, que polvilharam o imaginário medieval, uma referência directa a essas ossadas ocultas? Afinal S. Jorge teria eliminado qual dragão?

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