Quando vemos uma paisagem como esta,
ou como esta,
ou até como esta,
não é completamente claro para o português mais desprevenido se está ou não a ver socalcos da sua terra.
Tratam-se porém de terraços em vários pontos da Terra:
A primeira imagem é das Filipinas (Banaue), a segunda do Vietname (Sa Pa), e a terceira do Perú (Pisac). Estas estruturas são antigas, não resultam de importação colonizadora... já havia tradição milenar nesses pontos do globo, antes do período colonizador. Agora, é inevitável olhar para as semelhanças com a paisagem do Douro (e não só...):
Este tipo de construções agrícolas em socalcos, que abundam em Portugal, encontram-se espalhadas pelo globo... mas não em todo o globo, e não com o mesmo propósito.
Nos casos asiáticos (China, Nepal, India, Vietname, Japão, Indonésia, Filipinas, ...) serviam essencialmente a cultura de arroz, nos casos americanos (Perú, Colômbia, ...) serviam a cultura do milho, e no caso português são especialmente conhecidas para a cultura do vinho. Na Europa não será exclusivo português, pode ser encontrado em Itália (
Cinque Terre), na Catalunha, e noutras costas e ilhas do Mediterrâneo, bem como na ilhas da Madeira ou Canárias... Bom, e até existe no Havai:
A construção de estruturas deste tipo não é propriamente um empreendimento privado familiar. Envolve técnica, organização e muita mão-de-obra. O facto de serem uma solução conhecida, para nós muito vulgar e generalizada, não deve tomar tal estrutura como uma ideia que ocorreria "sem mais" e que se popularizaria por toda a parte em que houvesse terrenos acidentados. Há muitos locais com terrenos acidentados em que estas estruturas não apareceram, e quando aparecem a largura e altura dos socalcos pode ser bastante semelhante, talvez uma maior excepção ao formato uniformizado seja mais notória na China:
Uma bela colecção de fotografias de terraços de arroz pode ser encontrada neste link:
Enquanto suportadas por grandes construções de pedra talvez sejam mais notáveis os terraços de Ollamtaytambo no Peru (que não deixam de nos fazer lembrar os
Degraus da Maia nos Açores):
É interessante que este aspecto megalítico presente em Ollamtaytambo, nomeadamente através dos colossais
seis megalitos, ou em
Saqsaywaman (nomeadamente a
pegada do jaguar), apareça também numa forma muito simplificada na Villa de Leyva (Colombia)
Apesar das pedras serem mais trabalhados, e podendo fazer parte de uma estrutura mais complexa, entretanto desaparecida, este cromeleche e os menires da Villa de Leyva (que se liga ao
povo Muisca) não deixam de poder ser considerados semelhantes à concepção dos monumentos megalíticos europeus.
Portanto, podemos considerar a hipótese de coincidência no caso dos terraços, mas será ainda mais natural considerar que haveria um ponto cultural comum que transmitiu o mesmo tipo de concepção para a construção agrícola. A essa coincidência acrescem várias outras, nomeadamente este aspecto dos menires e cromeleches na América do Sul.
Isoladamente cada uma das coincidências pode ser considerada natural, mas a acumulação de acasos raramente é um simples acaso. A distribuição geográfica é suficientemente estranha para se poder relacionar com uma única civilização, de tal forma é o seu carácter global. A avançarmos alguma hipótese remeteria para influências de uma grande civilização marítima que se estenderia com contactos em todo o mundo.
Depois, cada terraço tem as suas particularidades, e terminamos com o belo cenário dos Terraços de Moray (Cuzco, Peru):