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No campo do que é hoje chamado "História Alternativa", Bernardo de Brito, monge cisterciense escreveu em 1597, o primeiro volume da "Monarchia Lusitana" dedicada a Filipe II de Espanha, então rei de Portugal. 
Pelo teor algo fantasioso, a obra foi sofrendo várias críticas externas, principalmente francesas, até à sua exclusão completa de consideração ou até menção após o Séc. XIX, com Alexandre Herculano.

De qualquer forma, desde 1597 até 1750, poderia considerar-se a obra de referência, a "História Oficial" de Portugal.

Figura inscrita na capa da Monarchia Lusitana (1597)

Bernardo de Brito tem o cuidado de justificar a maioria das suas afirmações, remetendo para autores da Antiguidade. Por isso, a obra é sustentada, e tem esse valor. Por outro lado, há todo um misticismo religioso associado a registos históricos, que foi sendo alvo de crítica severa com a ascensão Iluminista. 
O domínio ibérico nos descobrimentos levou a uma procura pouco objectiva de registos. Foi pretendido uma elevação da história ibérica a níveis míticos, especialmente nos tempos filipinos, e surgiram assim versões iberocêntricas, que davam um relevo maior ao papel da Hispania na história mundial.

Com a expulsão pombalina dos jesuítas, era já quase insustentável manter tal História de Portugal, enredada em registos fabulosos. Passaram a vigorar versões afrancesadas, em que os autores, em contraponto, basicamente reduziam a história nacional a pouco mais que zero.
Tal situação agravou-se no liberalismo com a dissolução das ordens monásticas.
Para evitar uma total secundarização da história nacional, Alexandre Herculano tomou uma decisão que seria muito aplaudida - tomou a seu cargo expurgar todo o conteúdo místico anterior, e começar a história portuguesa com o nascimento de Afonso Henriques. 
A história anterior, escrita por estes monges fervorosos, seria remetida ao esquecimento - nem sequer lhe era dado o estatuto de lenda. Seriam apenas mentiras... e como mentiras, seriam apagadas.

Ora, essa decisão de Alexandre Herculano pode ser compreendida pela necessidade à época de trazer objectividade ao registo histórico, mas foi uma completa lapidação da própria história.
Porquê?
Porque não há forma de apagar uma história que fez história durante pelo menos 150 anos, e por outro lado, esqueceu que o esforço dos monges ia beber a historiadores clássicos, que para outros registos eram ainda usados e considerados credíveis.
Assim, a censura do absurdo foi também ela absurda... pela simples vontade de "não contaminar os espíritos das gentes".
Por mais que uma vez se tem visto que é pior a emenda que o soneto... e o registo de Bernardo de Brito foi história oficial, tal como o passou a ser o registo de Alexandre Herculano.
Ocultar uns, para dar relevo a outros, é mera censura simplista. 
O que se deve fazer é mostrar as versões, e criticá-las à luz da razão.
Se têm falhas, então elas devem ser tornadas evidentes - quais são e por que razão são erradas.

Se o registo de Bernardo de Brito me parece algo fantasioso, podendo ir beber a fontes de mentiras, também noutros pontos pode mostrar que ainda hoje permanecem muitas fontes de mentiras, convenientes aos vendedores das ilusões dos tempos modernos.

Segue o índice dos primeiros capítulos da Monarchia Lusitana, cujos títulos são de alguma forma auto-explicativos.

Primeiro Livro
  • Cap. 1: Da criação do mundo e do que nele sucedeu até à morte do nosso primeiro pai Adão.
  • Cap. 2: Do nascimento do patriarca Noé e do dilúvio geral, com as mais coisas que houve no mundo até à divisão das gentes.
  • Cap. 3: De como as gentes de dividiram por várias partes do mundo e como Tubal, neto de Noé, veio povoar nosso Reino de Lusitania, e fundou nele a povoação de Setúbal.
  • Cap. 4: De Ibero, filho de Tubal, e do tempo que reinou em Lusitania, e nas mais partes de Espanha.
  • Cap. 5: Do reino de Jubalda em Espanha e do que se fez neste tempo em Lusitania.
  • Cap. 6: Do rei Brigo, Senhor de Espanha, e do particular amor que teve aos Lusitanos.
  • Cap. 7: De Tago, quinto rei de Espanha, e do que em seu tempo fizeram nossos Lusitanos.
  • Cap. 8: Do rei Beto, sexto rei de Espanha, e do que sucedeu em seu tempo em Lusitania.
  • Cap. 9: De como o tirano Gerião se apoderou do Reino de Espanha, e do que em Lusitania sucedeu até à sua morte.
  • Cap. 10: De como os filhos de Gerião reinaram em Espanha, e da vinda de Hércules Líbico contra eles, e como o mais que se passou até sua morte.
  • Cap. 11: De Hispalo e Hispano, reis de Espanha, e do que sucedeu no tempo de seu reinado em Espanha.
  • Cap. 12: Do tempo em que Hércules reinou em Espanha, e dos favores que sempre fez aos Lusitanos.
  • Cap. 13: Do tempo em que na Espanha reinaram Hespero e Atlante Italo, das guerras que entre si tiveram, e da fundação de Roma, feita por gente Lusitana.
  • Cap. 14: Do tempo em que reinaram em Lusitania Sic Oro (Sicoro), filho de Atlante Italo, e seu neto Sic Ano (Sicrano), com algumas coisas particulares, que em seu tempo sucederam.
  • Cap. 15: Do reino de Sic Celeo (Siceleu) e de Luso em Espanha, e de como esta parte Ocidental se começou a chamar Lusitania, como muitas outras particularidades acerca desta matéria.
  • Cap. 16: De como Sic Ulo (Siculo) começou a governar o reino de Lusitania, e das coisas que lhe sucederam, durando seu Império, dentro e fora de Espanha.
  • Cap. 17: Do que sucedeu em Lusitania, reinando Testa nas outras partes de Espanha, com a relação de certa gente estrangeira, que passou nestas partes.
  • Cap. 18: Do que sucedeu em Lusitania, reinando em Andaluzia um rei chamado Romo, e da vinda de Baco à Espanha, com outras particularidades a este propósito.
  • Cap. 19: De Licínio, capitão dos Lusitanos, e das batalhas que teve com Palato, rei da Andaluzia, até que Hércules Grego chegou a Espanha, com favor do qual Licínio ficou vencido, e Palato seguro em seu reino.
  • Cap. 20: Do rei Eritreu, senhor de Espanha, do que em seu tempo fez a gente Lusitana com alguma opiniões acerca da Ilha Erytreia.
  • Cap. 21: De Gorgoris, rei de Lusitania, do que em seu tempo sucedeu neste reino, com algumas coisas particulares, que os autores referem deste tempo.
  • Cap. 22: Da vinda de Ulisses a Portugal, e da fundação da famosa cidade de Lisboa, feita por este capitão, com algumas coisas a este propósito.
  • Cap. 23: Como Abidis começou de reinar em Lusitania, e nas mais partes de Espanha, e das coisas que sucederam em seu reinado.
  • Cap. 24: De certa esterilidade que os autores contam, que aconteceu em Espanha neste tempo, e da verdadeira e menos duvidosa opinião que há nesta matéria.
  • Cap. 25: De várias coisas, que sucederam em Lusitania, depois desta esterilidadade acabada, principalmente da vinda de Homero a estas partes, e dos Franceses Celtas, que povoaram muita parte do nosso reino.
  • Cap. 26: Da vinda de muitas nações estrangeiras a Espanha, e das terras, que em Portugal se povoaram com a vinda delas e dos Franceses Celtas.
  • Cap. 27: Das guerras e descontos, que a gente de Andaluzia teve com os Fenícios, que viviam em Cadiz, e como os Lusitanos foram em socorro dos Espanhois.
  • Cap. 28: Das guerras que houve em Lusitania, entre os Celtas e Turdulos, e da vinda a Espanha de Nabucodonosor.
  • Cap. 29: De como a gente Portuguesa, que foi em socorro de Cadiz, tomou as armas contra os Fenícios, por lhes negarem o soldo.
  • Cap. 30: De como os Turdulos, que viviam na costa marítima de Portugal, se estenderam pelo sertão contra o nascente, e da origem dos povos Transcudanos.
Cronologia da Monarchia Lusitana, por Bernardo de Brito
  • 3962 a.C. - Criação
  • 2306 a.C. - Diluvio
  • 2161 a.C. - Tubal - 2009 a.C. 
  • 2009 a.C. - Ibero - 1970 a.C. 
  • 1970 a.C. - Jubalda - 1906 a.C. 
  • 1906 a.C. - Brigo - 1855 a.C. 
  • 1855 a.C. - Tago - 1825 a.C. 
  • 1825 a.C. - Beto - 1795 a.C. 
  • 1794 a.C. - Gerião - 1760 a.C. - Jupiter Osíris
  • 1760 a.C. - 3 Lomínios - 1718 a.C. - Hercules Lybico
  • 1718 a.C. - Hispalo, Hispano - 1669 a.C.
  • 1669 a.C. - Hercules Lybico - 1628 a.C.
  • 1628 a.C. - Sic Oro - 1584 a.C.
  • 1584 a.C. - Sic Ano - 1553 a.C.
  • 1553 a.C. - Sic Celeo - 1509 a.C.
  • 1509 a.C. - Luso - 1476 a.C.
  • 1475 a.C. - Sic Ulo - 1415 a.C.
  • (1415 a.C. - Testa - 1344 a.C. - Romo - 1311 a.C.)
  • 1332 a.C. - Baco, Lísias - 1309 a.C.
  • 1309 a.C. - Licínio vs. Palatuo - 1239 a.C. - Hercules Grego
  • 1239 a.C. - Eritreio - 1179 a.C.
  • 1156 a.C. - Gorgoris - 1079 a.C.
  • 1079 a.C. - Abidis
  • - - fuga pela seca e esterilidade na Hispania - -
  • 999 a.C. - entrada dos Celtas franceses no Alentejo
  • 932 a.C. - gregos de Rodes em Roda (Andaluzia)
  • 923 a.C. - grande incêndio dos Pirinéus
  • 752 a.C. - exploração dos Fenícios das minas de ouro e prata
  • 604 a.C. - nova chegada de gregos
  • 589 a.C. - vinda de Nabucodonosor a Espanha
Que crédito dar à Monarchia Lusitana?
Em 1493, Annio de Viterbo disse ter encontrado em Viterbo manuscritos que se julgavam perdidos, nomeadamente um registo do caldeu Beroso, que explicaria grande parte da história que faltava.
As suspeitas sobre a autenticidade dos registos de Viterbo começaram a ser questionadas nas décadas seguintes, e o próprio Bernardo de Brito em várias passagens lhe retira algum crédito, mas não o deixa de mencionar. Mas, só quase um século mais tarde é que Scaliger declara a completa falsificação da obra de Viterbo.
Entretanto, já ilustres académicos tinham compilado as suas histórias com os dados de Viterbo, nomeadamente o espanhol Floriano de Ocampo ou João Vaseo. Aparentemente a receita de Viterbo agradava em vários aspectos... a toponímia - nomes de rios, cidades, terras, ligava-se directamente a antigos reis. Não só, fazia-se uma ligação entre várias lendas, antes desconexas. Por exemplo, Jupiter e Osiris seriam o mesmo personagem, Hercules e Horus também, etc...

Mostrando-se falso esse registo, a obra de Bernardo de Brito ficaria como uma ficção desprovida de sentido, poderia ser apenas uma ficção literária... só que Bernardo de Brito vai mais longe.
Descobre, nos arquivos do Mosteiro de Alcobaça, uma crónica de Laimundo Ortega, monge do Séc. X.
É essa crónica que Bernardo de Brito vai seguir principalmente... e nalguns aspectos pareceria coincidir com o tal registo falso de Beroso.
O que acontece de seguida? 
- Já no Séc. XVIII é questionado que essa obra de Laimundo seja autêntica, e portanto, mais uma vez, perante novas acusações de falsificação, a Monarchia Lusitana sofre novo ataque.

Parece-me bastante provável que, quer Viterbo, quer Bernardo de Brito, tenham encontrado documentos antigos, provavelmente feitos no Séc. XI ou XII, que visavam criar essa história mirabolante unificadora. 
No fundo, havia necessidade disso.
Sendo a Bíblia a única referência, e dando apenas conta da história judaica, faltavam registos que não fossem apenas gregos ou romanos. Se não existiam, podem bem ter sido inventados, com maior ou menor inspiração em factos conhecidos, para satisfazer uma história das restantes paragens europeias.

Assim, se Bernardo de Brito pode ter bebido em fontes impuras, também é verdade que não segue apenas estas duas fontes. Segue centenas de autores antigos, muitos dos quais os clássicos, a partir dos quais se organizou toda a história greco-romana. 
O que acontece é que de Plínio, Estrabão, Heródoto, e outros, apenas se tem tirado o que se considera ser "politicamente correcto", e à sua maneira, a história oficial foi fazendo a sua censura, escolhendo o que interessava e não interessava. 
Nesse aspecto, a obra de Bernardo de Brito junta múltiplas fontes, numa ficção que ele considerou ser consistente, à luz do pensamento católico vigente, e com base numa extensa documentação de suporte.

Não é menos do que uma história mítica de Artur, Merlin, Lancelote, Parseval, e tantos outros personagens que, sendo míticos, não deixaram de ser apresentados a público como tal. Foram igualmente resultado de obras de monges do Séc. XII, como Geoffrey de Monmouth, e a sua relação com eventos reais ou míticos não foi prejudicada pela divulgação.
Porém, a censura às obras ibéricas teria um objectivo de evitar estabelecer o mesmo aspecto mítico, que ilude populações, e não era já conveniente que os reinos ibéricos tivessem ideias de grandezas perdidas... muito menos que competissem no tempo com a Bíblia e a família judaica.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:30

No campo do que é hoje chamado "História Alternativa", Bernardo de Brito, monge cisterciense escreveu em 1597, o primeiro volume da "Monarchia Lusitana" dedicada a Filipe II de Espanha, então rei de Portugal. 
Pelo teor algo fantasioso, a obra foi sofrendo várias críticas externas, principalmente francesas, até à sua exclusão completa de consideração ou até menção após o Séc. XIX, com Alexandre Herculano.

De qualquer forma, desde 1597 até 1750, poderia considerar-se a obra de referência, a "História Oficial" de Portugal.

Figura inscrita na capa da Monarchia Lusitana (1597)

Bernardo de Brito tem o cuidado de justificar a maioria das suas afirmações, remetendo para autores da Antiguidade. Por isso, a obra é sustentada, e tem esse valor. Por outro lado, há todo um misticismo religioso associado a registos históricos, que foi sendo alvo de crítica severa com a ascensão Iluminista. 
O domínio ibérico nos descobrimentos levou a uma procura pouco objectiva de registos. Foi pretendido uma elevação da história ibérica a níveis míticos, especialmente nos tempos filipinos, e surgiram assim versões iberocêntricas, que davam um relevo maior ao papel da Hispania na história mundial.

Com a expulsão pombalina dos jesuítas, era já quase insustentável manter tal História de Portugal, enredada em registos fabulosos. Passaram a vigorar versões afrancesadas, em que os autores, em contraponto, basicamente reduziam a história nacional a pouco mais que zero.
Tal situação agravou-se no liberalismo com a dissolução das ordens monásticas.
Para evitar uma total secundarização da história nacional, Alexandre Herculano tomou uma decisão que seria muito aplaudida - tomou a seu cargo expurgar todo o conteúdo místico anterior, e começar a história portuguesa com o nascimento de Afonso Henriques. 
A história anterior, escrita por estes monges fervorosos, seria remetida ao esquecimento - nem sequer lhe era dado o estatuto de lenda. Seriam apenas mentiras... e como mentiras, seriam apagadas.

Ora, essa decisão de Alexandre Herculano pode ser compreendida pela necessidade à época de trazer objectividade ao registo histórico, mas foi uma completa lapidação da própria história.
Porquê?
Porque não há forma de apagar uma história que fez história durante pelo menos 150 anos, e por outro lado, esqueceu que o esforço dos monges ia beber a historiadores clássicos, que para outros registos eram ainda usados e considerados credíveis.
Assim, a censura do absurdo foi também ela absurda... pela simples vontade de "não contaminar os espíritos das gentes".
Por mais que uma vez se tem visto que é pior a emenda que o soneto... e o registo de Bernardo de Brito foi história oficial, tal como o passou a ser o registo de Alexandre Herculano.
Ocultar uns, para dar relevo a outros, é mera censura simplista. 
O que se deve fazer é mostrar as versões, e criticá-las à luz da razão.
Se têm falhas, então elas devem ser tornadas evidentes - quais são e por que razão são erradas.

Se o registo de Bernardo de Brito me parece algo fantasioso, podendo ir beber a fontes de mentiras, também noutros pontos pode mostrar que ainda hoje permanecem muitas fontes de mentiras, convenientes aos vendedores das ilusões dos tempos modernos.

Segue o índice dos primeiros capítulos da Monarchia Lusitana, cujos títulos são de alguma forma auto-explicativos.

Primeiro Livro
  • Cap. 1: Da criação do mundo e do que nele sucedeu até à morte do nosso primeiro pai Adão.
  • Cap. 2: Do nascimento do patriarca Noé e do dilúvio geral, com as mais coisas que houve no mundo até à divisão das gentes.
  • Cap. 3: De como as gentes de dividiram por várias partes do mundo e como Tubal, neto de Noé, veio povoar nosso Reino de Lusitania, e fundou nele a povoação de Setúbal.
  • Cap. 4: De Ibero, filho de Tubal, e do tempo que reinou em Lusitania, e nas mais partes de Espanha.
  • Cap. 5: Do reino de Jubalda em Espanha e do que se fez neste tempo em Lusitania.
  • Cap. 6: Do rei Brigo, Senhor de Espanha, e do particular amor que teve aos Lusitanos.
  • Cap. 7: De Tago, quinto rei de Espanha, e do que em seu tempo fizeram nossos Lusitanos.
  • Cap. 8: Do rei Beto, sexto rei de Espanha, e do que sucedeu em seu tempo em Lusitania.
  • Cap. 9: De como o tirano Gerião se apoderou do Reino de Espanha, e do que em Lusitania sucedeu até à sua morte.
  • Cap. 10: De como os filhos de Gerião reinaram em Espanha, e da vinda de Hércules Líbico contra eles, e como o mais que se passou até sua morte.
  • Cap. 11: De Hispalo e Hispano, reis de Espanha, e do que sucedeu no tempo de seu reinado em Espanha.
  • Cap. 12: Do tempo em que Hércules reinou em Espanha, e dos favores que sempre fez aos Lusitanos.
  • Cap. 13: Do tempo em que na Espanha reinaram Hespero e Atlante Italo, das guerras que entre si tiveram, e da fundação de Roma, feita por gente Lusitana.
  • Cap. 14: Do tempo em que reinaram em Lusitania Sic Oro (Sicoro), filho de Atlante Italo, e seu neto Sic Ano (Sicrano), com algumas coisas particulares, que em seu tempo sucederam.
  • Cap. 15: Do reino de Sic Celeo (Siceleu) e de Luso em Espanha, e de como esta parte Ocidental se começou a chamar Lusitania, como muitas outras particularidades acerca desta matéria.
  • Cap. 16: De como Sic Ulo (Siculo) começou a governar o reino de Lusitania, e das coisas que lhe sucederam, durando seu Império, dentro e fora de Espanha.
  • Cap. 17: Do que sucedeu em Lusitania, reinando Testa nas outras partes de Espanha, com a relação de certa gente estrangeira, que passou nestas partes.
  • Cap. 18: Do que sucedeu em Lusitania, reinando em Andaluzia um rei chamado Romo, e da vinda de Baco à Espanha, com outras particularidades a este propósito.
  • Cap. 19: De Licínio, capitão dos Lusitanos, e das batalhas que teve com Palato, rei da Andaluzia, até que Hércules Grego chegou a Espanha, com favor do qual Licínio ficou vencido, e Palato seguro em seu reino.
  • Cap. 20: Do rei Eritreu, senhor de Espanha, do que em seu tempo fez a gente Lusitana com alguma opiniões acerca da Ilha Erytreia.
  • Cap. 21: De Gorgoris, rei de Lusitania, do que em seu tempo sucedeu neste reino, com algumas coisas particulares, que os autores referem deste tempo.
  • Cap. 22: Da vinda de Ulisses a Portugal, e da fundação da famosa cidade de Lisboa, feita por este capitão, com algumas coisas a este propósito.
  • Cap. 23: Como Abidis começou de reinar em Lusitania, e nas mais partes de Espanha, e das coisas que sucederam em seu reinado.
  • Cap. 24: De certa esterilidade que os autores contam, que aconteceu em Espanha neste tempo, e da verdadeira e menos duvidosa opinião que há nesta matéria.
  • Cap. 25: De várias coisas, que sucederam em Lusitania, depois desta esterilidadade acabada, principalmente da vinda de Homero a estas partes, e dos Franceses Celtas, que povoaram muita parte do nosso reino.
  • Cap. 26: Da vinda de muitas nações estrangeiras a Espanha, e das terras, que em Portugal se povoaram com a vinda delas e dos Franceses Celtas.
  • Cap. 27: Das guerras e descontos, que a gente de Andaluzia teve com os Fenícios, que viviam em Cadiz, e como os Lusitanos foram em socorro dos Espanhois.
  • Cap. 28: Das guerras que houve em Lusitania, entre os Celtas e Turdulos, e da vinda a Espanha de Nabucodonosor.
  • Cap. 29: De como a gente Portuguesa, que foi em socorro de Cadiz, tomou as armas contra os Fenícios, por lhes negarem o soldo.
  • Cap. 30: De como os Turdulos, que viviam na costa marítima de Portugal, se estenderam pelo sertão contra o nascente, e da origem dos povos Transcudanos.
Cronologia da Monarchia Lusitana, por Bernardo de Brito
  • 3962 a.C. - Criação
  • 2306 a.C. - Diluvio
  • 2161 a.C. - Tubal - 2009 a.C. 
  • 2009 a.C. - Ibero - 1970 a.C. 
  • 1970 a.C. - Jubalda - 1906 a.C. 
  • 1906 a.C. - Brigo - 1855 a.C. 
  • 1855 a.C. - Tago - 1825 a.C. 
  • 1825 a.C. - Beto - 1795 a.C. 
  • 1794 a.C. - Gerião - 1760 a.C. - Jupiter Osíris
  • 1760 a.C. - 3 Lomínios - 1718 a.C. - Hercules Lybico
  • 1718 a.C. - Hispalo, Hispano - 1669 a.C.
  • 1669 a.C. - Hercules Lybico - 1628 a.C.
  • 1628 a.C. - Sic Oro - 1584 a.C.
  • 1584 a.C. - Sic Ano - 1553 a.C.
  • 1553 a.C. - Sic Celeo - 1509 a.C.
  • 1509 a.C. - Luso - 1476 a.C.
  • 1475 a.C. - Sic Ulo - 1415 a.C.
  • (1415 a.C. - Testa - 1344 a.C. - Romo - 1311 a.C.)
  • 1332 a.C. - Baco, Lísias - 1309 a.C.
  • 1309 a.C. - Licínio vs. Palatuo - 1239 a.C. - Hercules Grego
  • 1239 a.C. - Eritreio - 1179 a.C.
  • 1156 a.C. - Gorgoris - 1079 a.C.
  • 1079 a.C. - Abidis
  • - - fuga pela seca e esterilidade na Hispania - -
  • 999 a.C. - entrada dos Celtas franceses no Alentejo
  • 932 a.C. - gregos de Rodes em Roda (Andaluzia)
  • 923 a.C. - grande incêndio dos Pirinéus
  • 752 a.C. - exploração dos Fenícios das minas de ouro e prata
  • 604 a.C. - nova chegada de gregos
  • 589 a.C. - vinda de Nabucodonosor a Espanha
Que crédito dar à Monarchia Lusitana?
Em 1493, Annio de Viterbo disse ter encontrado em Viterbo manuscritos que se julgavam perdidos, nomeadamente um registo do caldeu Beroso, que explicaria grande parte da história que faltava.
As suspeitas sobre a autenticidade dos registos de Viterbo começaram a ser questionadas nas décadas seguintes, e o próprio Bernardo de Brito em várias passagens lhe retira algum crédito, mas não o deixa de mencionar. Mas, só quase um século mais tarde é que Scaliger declara a completa falsificação da obra de Viterbo.
Entretanto, já ilustres académicos tinham compilado as suas histórias com os dados de Viterbo, nomeadamente o espanhol Floriano de Ocampo ou João Vaseo. Aparentemente a receita de Viterbo agradava em vários aspectos... a toponímia - nomes de rios, cidades, terras, ligava-se directamente a antigos reis. Não só, fazia-se uma ligação entre várias lendas, antes desconexas. Por exemplo, Jupiter e Osiris seriam o mesmo personagem, Hercules e Horus também, etc...

Mostrando-se falso esse registo, a obra de Bernardo de Brito ficaria como uma ficção desprovida de sentido, poderia ser apenas uma ficção literária... só que Bernardo de Brito vai mais longe.
Descobre, nos arquivos do Mosteiro de Alcobaça, uma crónica de Laimundo Ortega, monge do Séc. X.
É essa crónica que Bernardo de Brito vai seguir principalmente... e nalguns aspectos pareceria coincidir com o tal registo falso de Beroso.
O que acontece de seguida? 
- Já no Séc. XVIII é questionado que essa obra de Laimundo seja autêntica, e portanto, mais uma vez, perante novas acusações de falsificação, a Monarchia Lusitana sofre novo ataque.

Parece-me bastante provável que, quer Viterbo, quer Bernardo de Brito, tenham encontrado documentos antigos, provavelmente feitos no Séc. XI ou XII, que visavam criar essa história mirabolante unificadora. 
No fundo, havia necessidade disso.
Sendo a Bíblia a única referência, e dando apenas conta da história judaica, faltavam registos que não fossem apenas gregos ou romanos. Se não existiam, podem bem ter sido inventados, com maior ou menor inspiração em factos conhecidos, para satisfazer uma história das restantes paragens europeias.

Assim, se Bernardo de Brito pode ter bebido em fontes impuras, também é verdade que não segue apenas estas duas fontes. Segue centenas de autores antigos, muitos dos quais os clássicos, a partir dos quais se organizou toda a história greco-romana. 
O que acontece é que de Plínio, Estrabão, Heródoto, e outros, apenas se tem tirado o que se considera ser "politicamente correcto", e à sua maneira, a história oficial foi fazendo a sua censura, escolhendo o que interessava e não interessava. 
Nesse aspecto, a obra de Bernardo de Brito junta múltiplas fontes, numa ficção que ele considerou ser consistente, à luz do pensamento católico vigente, e com base numa extensa documentação de suporte.

Não é menos do que uma história mítica de Artur, Merlin, Lancelote, Parseval, e tantos outros personagens que, sendo míticos, não deixaram de ser apresentados a público como tal. Foram igualmente resultado de obras de monges do Séc. XII, como Geoffrey de Monmouth, e a sua relação com eventos reais ou míticos não foi prejudicada pela divulgação.
Porém, a censura às obras ibéricas teria um objectivo de evitar estabelecer o mesmo aspecto mítico, que ilude populações, e não era já conveniente que os reinos ibéricos tivessem ideias de grandezas perdidas... muito menos que competissem no tempo com a Bíblia e a família judaica.

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