Continuamos pela cobertura da Colcha.
Um mapa de 1706 (de Ch. Cellarius) aponta designações romanas da região caucasiana, onde podemos ver - Colchi, Iberia, e Albania.
No mapa assinalei outras "atracções turísticas" no contexto, destacando as "Colunas de Alexandre".
Já aqui havíamos falado das
Portas Cáspias, que se associam a portas ou muralhas de Alexandre Magno. Serviriam como uma espécie de Muralha da China ocidental, para evitar as incursões dos bárbaros - no caso chinês, os mongóis; no caso alexandrino, os Citas, entendidos como os míticos gigantes biblícos, Gog e Magog.
Outra curiosidade, é que a região caucasiana apresenta uma grande quantidade de nomes que encontramos noutras paragens, e não apenas neste mapa.
Podemos referir
Qabala, um nome muito cabalístico para a antiga capital da
Albânia caucasiana, ponto de passagem das chamadas "Rotas da Seda".
Coraxi é um nome de rio assinalado no mapa, nome não distante de Corasan, vizinha região persa, ou talvez nome mais próximo de Carachi, cidade às margens do Indo (ainda mais a ocidente, no mapa, está nomeada Sindi).
A isto associa-se
Ganja, cidade e rio caucasiano, cujo nome se assemelha ao Ganges, por um lado, e por outro
Ganja é palavra do sânscrito que significa
canabis. Talvez o termo
granja ou granjear seja apropriado a esta cultura de
grageas. Porém, o som local é mais
Gança ou
Gandza, sendo claro que no português a ligação do sânscrito de
canabis é literalmente o popular termo
Ganza, enquanto que na variante
gansa iríamos para outras visões mitológicas de patos.
Sem esforço adicional, vemos nomes como Asturcani, Lazi, Harmorica, que nos lembram directamente as Astúrias, a Lácio e a gaulesa Armorica. Se juntarmos a estes nomes, as já referidas Iberia e Albania, vemos que pouco falta para termos no Cáucaso a maioria dos nomes antigos de diferentes regiões europeias. Acrescem ainda neste mapa os rios Serbi e Olonda, e noutros mapas não é difícil encontrar nomes também com sonoridade conhecida (Telavi, Baghdati, Java, Andi, Mousa, etc.)
Alanos e Lugus Um outro nome identificado no mapa é o dos Alanos. Tal como Vândalos e Suevos, foram um dos povos que se lembraram de invadir o Império Romano na mesma data,
atravessando o Reno em 31 de Dezembro de 406. Uma notável coordenação de tribos tão distintas, aceite oficialmente a data no livro de
Próspero da Aquitânia. Se Júlio César tinha estabelecido pelas Pontes do Reno, a fronteira do Império Romano, na noite de passagem de ano em 406, terá havido uma vontade de mudar de vida em povos de paragens distintas, rumando todos com o mesmo destino - a Hispania.
Aponta-se a pressão dos Hunos como causa deste "saltar o Reno", já antes feito pelos Visigodos de Alarico. Isto justificaria o agrupamento naquele dia de tribos que iam da Germania dos Suevos ao Cáucaso dos Alanos, e que na sua rota ibérica iriam passar pelos visigodos instalados na Aquitânia, e dividir a Hispania entre si - Suevos a norte (Galiza e Cantábria), Alanos ao centro (da Lusitânia até à Catalunha), e Vândalos ao sul (na Andaluzia, que empresta o nome - Andalus ~ vAndalus).
Convirá aqui lembrar que os Vândalos seriam originários do Sul da Polónia, de uma zona próxima da
Galicia polaca-ucraniana, e a migração para paragens da Galiza, merece uma coincidência no nome, tal como o nome do povo
Lugii identificados hoje aos Vândalos. Este nome Lugii parecendo declinação latina, não se deverá desligar de
Lugh ou
Lugus, divindade celta.
A tripla cabeça de Lugus, talvez por isso divindade
associada a Mercúrio ou Hermes, Trimegisto.
Ora, o que se lê sobre a etimologia de Lugh é uma eventual ligação a uma raiz indo-europeia "leuk" (branco em grego), significando Luz.
Por isso, é admitido que o nome Lusitania se ligue a Lugh, e não é incorrecto ligar também a Luz em Luz-itania, atendendo a que a raiz de Lugh seria Luz (aliás será mais uma questão de pronunciar bem o som "gh" como o "ch" do "z" final). Pela mesma razão em Andaluz temos o sufixo "luz", e poderá ser lido na razão de identificação entre Vândalos e Lugii, entendendo "van-da-luz" como um certo "vem-da-Lugii". Ou seja, indo por um caminho, ou por outro, parecem guiar-se por uma "Luz" comum.
Minho e Caminho a Caminha
Acresce a isto, o registado interesse de Augusto em fazer o "primeiro caminho da luz", na direcção de Lugus Augusta. Recuperando aqui um
comentário de Bartolomeu LançaCodex Calixtinus. Escrito em Cluny no sec XII, Bernard de Clairvaux (Clara Vallis), Cistercenses, foi a ordem de marcha para a iniciação do Calix.
A anterior mudança foi o Callix Ianus, iniciado por Augustus, um Príncipe ou um novo Eneas ou Rómulo, que funda um novo centro a partir do qual se repete a cosmogonia. O Sacramentum por vontade de Augusto é alcançar a convivência da paz entre Roma e os Indios do Ocidente.
... e sobre este
Codex endereçado ao Caminho de Santiago, e atribuído ao Papa Calisto II, pode encontrar-se mais informação (
aqui e
aqui, por exemplo).
Ora, apesar de me afastar frequentemente da linha inicial do texto, estas diversas direcções vão aparecendo, umas atrás das outras, e dificilmente consigo escrever todas.
Não gostaria de deixar de notar que o "g" pode aparecer por vezes para denotar uma aspiração como num "h", e nesse sentido Lugus soaria Luhus, literalmente Luz (mantemos uma palavra semelhante "Lugar" que lida como "Luhar" mostra o Luar, um sítio onde há luz, um "Lume"; e "local" deve ser lido como "lucal" onde acresce o caminho da "cale", ou o branco da cal, que veremos).
Se esta parte é claramente especulativa, deixa de ser tanto, quando entendemos que o Callix Ianus de Augusto, tem as duas cabeças de Iano, ou Janus, numa representação semelhante à de Lugus.
Porém, devemos reparar que relativamente a Lugh, falta uma cabeça...
Assim, adicionadas às duas cabeças de Iano, ficaria outra no Caminho de Iago - Sant'Iago, apóstolo decapitado, que passaria a ser a referência do novo Caminho...
Este "caminho" não seria exactamente no rio Minho, ainda que Caminha esteja na sua foz - e por manifesta coincidência, o Minho passa pela cidade de Lugo.
Lugo seria o fim do caminho Callix Ianus, mas continuando o caminho pelo Minho, para quem mais caminha, tinha Caminha. (Tal como depois, na nova compustura de Compostelo, muitos peregrinos continuavam até ao mar, até Finisterra).
Haveria mais a contar nesta Cale, ou neste Callix, de cálice, ou cale-se, mas passamos a outra parte.
Tanas
O Tanas é a outra componente Luz-i-Tana. Porque, o sufixo "Tana" ou "tânia", aplicou-se a territórios ocidentais - Lusitânia, Mauritânia, Turdetânia, Aquitânia, Britânia.
Acontece que há uma outra divindade celta - a deusa
Dana, ou
Ana e a deusa fenícia Tano, ou
Tanit.
Se Dana, na variante fonética Danu, se associa ao Danúbio, numa espécie de Danu-rio, é muito provável que na sua forma Ana, se associe ao Guadiana, na Antiguidade chamado apenas Ana.
Este assunto tem mais variantes associando Ana à Diana celebrada em Évora.
Assim, a palavra
Lusitana parece-me poder ser ligada ao par de divindades celtas:
Lugh e
Dana, as mais importantes divindades do panteão antigo, a luz solar e a fertilidade da terra. E sem nenhuma pesquisa deste tipo, quem entende Lusitânia como "luz-terra", chega por caminho diferente a significado análogo.
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Cal
No mito de Jasão, aparecem os Calcotauros (
Khalkotauroi), onde este prefixo "
calco" é suposto referir-se à característica de serem de bronze, ainda que
khalkos se refira primitivamente a cobre, sendo diferente do
kolkhos referente à Cólquida.
Acontece, especialmente pelo lado latino, que este "
calco" também referia pedras, e em particular ao
calcário branco que servia para
cal. Temos assim juntas várias peças para o
caldo no
caldeirão de onde saía a
cal por via do
calor.
Seguindo a observação de A. Meakin que nos
sítios da
Cítia a palavra
cauca significaria branco, notamos a semelhança fonética com
calca, especialmente numa pronúncia brasileira do português que dá sentido à noção de
cal associada também ao branco. Por isso, para além da ligação de Cauca a Coca feita antes (sobre a cidade, e não tanto o pó branco), esta pintura de
Cal ganha ainda sentido na própria designação
Calaica, de
Cale. Mais uma vez, podemos unir os caminhos dos calhaus, porque o branco do leite é em grego "
Gala", e nota-se a ênfase no Caminho de Santiago designar a Via Láctea, marcando assim a direcção ocidental, da
Cale Lactea, numa redundância em Galactea (Galáxia). O acordar para esse caminho solar, que à noite era pintado pelo branco da Via Láctea, era dado pelos
galos.
Assim, parece-nos uma especulação interessante entender o
Cáucaso também como
Calcaso.
Desta forma, os
Calcotauros tanto poderiam ser
touros do Cáucaso, como
touros brancos.
A noção de "Touro Branco" não é estranha à mitologia grega, pois o rapto de Europa por Zeus, é feito sob o disfarce de Zeus enquanto touro branco.
Rapto de Europa por Zeus, disfarçado de touro branco
Repara-se que se a Ibéria é conhecida pelos seus touros negros, fomos aqui encontrar a noção de touro branco associado à outra Ibéria, caucasiana, vizinha da Albania - designação que remete a albino, ou alvo, também com o significado de branco. A menção taurina pode não referir o animal, mas sim a cultura ou uma divindade taurina (Thor, Tur -
Turdulos, Turdetanos), tendo em atenção que entre os mamíferos, homem e primatas se distinguem pela
visão tricolor, ao contrário de outros mamíferos, essencialmente daltónicos, onde o touro é um caso conhecido.
Como se conjugam as diferentes pedras neste caldo?
O ponto principal será o calor, que permite a cal, mas que também esteve na primeira cerâmica e metalurgia, nomeadamente no cobre. Por isso, o mesmo calor levava à cal branca, no "
calco" do calcário, e à produção de "
calco", o cobre (em grego). Uma simples evolução do sentido comum das palavras, em grego o branco passou a estar associado à luz em "
leuko", e o cobre/bronze associado ao calor em "
khalko" (acresce que "kaió", som próximo do nosso "caiou", significa arder), poderá estar na origem do mito do touro de bronze, depois decorado condicentemente.
Portanto, a colcha de "Colchis" aparece aqui numa cobertura do cobre, do "Chalcos".
Convém ponderar sobre a evolução da nossa terminologia.
Há trinta anos atrás, "
ver um rato" remeter-se-ia para o animal... hoje para o adereço de computador. No futuro, desconhecendo a época exacta do texto, a palavra "
rato" poderá aparecer como ambígua - e até poderá servir para especular que já haviam "
ratos" antes dos computadores.
ColLigada à gente da Cólquida, antes da Sarmácia, aparece no mapa a designação latina
Colica Gens.
A declinação
cólica deriva de
cólon do grego
kólon, e é diferente do
kolkhos da Cólquida.
Parecendo um pouco lateral a este assunto, nota-se que este "cólon" pode ser uma tripa, ou um membro (observação que Manuel Rosa costuma fazer sobre Cristobal Cólon assinar com ":").
Sem grande esforço imaginativo, podemos ligar as tripas. Porque "
cólon" aparece no sentido de membro de um texto, de um poema, onde o símbolo ":" (colon) serviria a cola, a ligação. Ora o nosso percurso de escrita, assemelha-se ao enrolar de uma tripa - limitado pelas margens, vai descendo, ziguezagueante. O sentido de "cola" como membro colado nota-se ainda o sufixo latino, por exemplo, "agrícola" cola com agricultura, "vinícola" cola com vinha, "piscícola" cola com peixe... ou cola pelo menos com
piscis.
Para além deste cólon intestinal, surge a "cola" como parte final, como cauda. Já mencionámos isto a propósito da Cola do Dragão, ou
Draco-Cola, sendo símbolo da Ordem do Dragão a cauda que prendia ao pescoço. Esta ordem de cavalaria juntava, por exemplo, o Infante D. Pedro e Vlad III Dracula.
No sentido de membro, a palavra "colon" derivou em "
colónia", uma parte territorial que se colava ao território original. Ter Colombo com uma missão de colono é mais um aspecto de ser Cólon de uma Ordem que poderia ir dos ovinos da Cólquida, no Tosão de Ouro, até ao Dragão da Cauca-Cola.
Finalmente, o cólon termina como uma postura vertical na forma de coluna. As colunas tanto podem ser encaradas como parte do texto, quando o sentido é de "cólon" membro, como podem exibir essa verticalidade... não deixando uma coluna de ser
membro de uma estrutura arquitectónica maior, até mesmo quando aparece isolada.
Colunas de AlexandreNão é muito fácil encontrar algo escrito sobre a localização destas Colunas de Alexandre, que definiam um limite ao "mundo civilizado".
A única descrição que encontrei foi a de
Don Juan Van Halen (um nome que parece brincadeira) no livro
Long before arriving at Tchamkhor is seen a column, at the foot of which is the Russian redoubt bearing that name, and forming a kind of square. Opposite to this place, and on a steep acclivity over which the road passes, are the remains of a bridge of three arches, against which rush the rapid waters of the river Tchamkhor.
The base of the column is fourteen feet square and of equal height, and the columnv itself is extremely lofty, and resembles, though built of brick, that of the Place Vendéme, at Paris. I ascended tothe top of it by an interior staircase, which, though in a very dilapidated state, shows that it has been several times repaired to serve as an observatory in time of war. On some of the stones of the entablature, on which there appears to have been an exterior gallery, are seen some Arabic inscriptions, Which seem to be of a more modern date than the column. Some persons are of opinion that it was built in the time of Pompey, and others in that of Alexander the Great. Be this as it may, the number of ruins that are scattered about this spot seem to establish the conjecture, that this column was once the ornament of a considerable city, now inhabited by a few Cossacks.
An Armenian merchant, whom we met at Tchamkhor, ‘sold to me for five roubles a silver medal bearing the profile of Alexander the Great, which he assured me had been found among the ruins of Tchamkhor.
Procurei Tchamkhor sem sucesso, e os nomes Tíflis e Elizabethpol, passaram entretanto a Tbilissi e Ganja (de que já aqui falámos).
Algo que se poderia assemelhar a Colunas de Alexandre, naquela região, são as ruínas de grandes portas de entrada de Qabala, considerada a mais antiga cidade do Azerbeijão.
No entanto, haverá melhores candidatos. Atribuindo-se as colunas a Alexandre Magno, seria sempre de esperar algo de grandioso... tanto mais que se pretendiam comparar às de Hércules, no outro limite bárbaro. Porém, como a grandiosidade também torna o alvo mais visível, é natural que a principal razão para o desaparecimento sem rasto, pudesse ser justamente a pretensa grandiosidade.
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13.09.2014