Entre as diversas coisas que podem ser encontradas neste blog, e que contemplam uma História mais antiga, primordial, está a consideração básica de que o Universo evoluiu para formar a inteligência, porque sem a existência de seres inteligentes, um universo de escória e calhaus nunca ganharia consciência de si (ver
Arquitecturas (3)).
Acabei, entretanto, por encontrar a mesma reflexão com o nome de
e que parece ter sido debatida desde os anos 1950, 60 e 70 (J. A. Wheeler, R. Dicke, J. Barrow, F. Tipler, B. Carter, entre reconhecidos físicos e matemáticos).
Isto é para mim pouco relevante, mesmo. Não procurei, nem me interessa saber, se o assunto teve, tem ou terá mais ou menos adeptos, e por que razão. No entanto, terá interesse para o leitor saber onde poderá encontrar outros autores com trabalhos publicados, e com ideias semelhantes.
Este "princípio antrópico" ao colocar a inteligência como objectivo da evolução universal, tem o inconveniente de ir contra a religião
darwinista implantada, e sofre críticas primárias (
p. ex. dererummundi.blogspot.pt), mais próprias de quem não faz a mais pálida ideia do que está a falar.
Assim, é escusado fechar os olhos a que estas coisas suscitam paixões contrárias, com dedicadas legiões de fundamentalistas religiosos ateístas, promotores do niilismo total, até porque vêem este princípio antrópico ligado a uma ideia de desenho inteligente, ou seja, a uma certa perspectiva criacionista.
Como as minhas considerações não tiveram nada a ver com o "criacionismo divino", este chamado "princípio antrópico" só coloca o homem no centro, se admitirmos que a única inteligência possível é a humana.
Ora apesar de ter já tornado claro (p.ex.
de-natura-deorum.html) que a inteligência artificial é uma impossibilidade, pelo simples absurdo de que uma máquina finita não pode conceptualizar o infinito (ou outras noções abstractas), isto não invalida que uma inteligência semelhante à nossa não se possa desenvolver noutros contextos, biológicos, ou mesmo cibernéticos.
Equivalências
A cegueira fundamentalista religiosa do ateísmo moderno, não conseguindo negar este princípio antrópico, onde o Homem aparece como objectivo da evolução, acusa-o de ser uma "verdade de La Palisse", como se a afirmação darwiniana da "sobrevivência dos mais aptos", não fosse também ela uma verdade de La Palisse, mas esta já aceite sem pruridos.
Depois, indo a truques baixos, vai
chamar da tumba o positivismo de Karl Popper, para poder negar as verdades "auto-evidentes", que não são consideradas científicas, porque não são susceptíveis de falsificação. Esta "ciência da falsificação" convém a qualquer corja falsária, que recusa à aritmética a dignidade falsária da ciência, mas não prescinde dela para as continhas que dão jeito.
O leitor racional deve tanto quanto possível afastar-se dos feiticeiros e seus aprendizes, e procurar entender que há até razões críticas de ambos os lados.
De facto, perante a constatação de que o Homem é o resultado improvável de uma evolução universal, é igualmente objectivo dizer que foi causa, ou que foi consequência, dessa evolução.
Porquê?
Foi causa, porque sem inteligência, este universo nunca teria nenhum observador inteligente, o que seria equivalente à sua inexistência. Pensar na existência de um universo sem seres inteligentes, é simplesmente esquecer que não há observado sem haver observador. No entanto, o nosso Universo é suficientemente abrangente para admitir o raciocínio de tolos dispostos a negar tudo. Se nenhum universo tivesse admitido inteligência, simplesmente não teria existido nenhum universo, por falta de observador. Os que negam isto, pensam nos seus universos inconsistentes perdidos, mas só o podem fazer porque foram salvos num universo consistente que os acolheu, para sequer poderem pensar nisso.
Assim, por mais absurdas e irracionais que sejam teorias, com os seus big-bangs e relatividades da moda, encontram espaço no imaginário de hoje para falar de um passado sem pés nem cabeça. O nosso passado só fez sentido tendo em vista uma consistência que nos trouxe a este presente. E é nesse sentido que também podemos nos encarar como consequência do passado, e não apenas como causa. O caminho que traçamos do presente para o passado tem que ter consistência, independente de uma nossa existência pré-assumida.
Numa limitada perspectiva determinista, que vê o futuro condicionado pelo passado, é precisa essa consistência racional mínima para o caminho saído do "nada". Numa alargada perspectiva quântica, as possibilidades do passado só fizeram sentido pelo próprio resultado futuro. Ou seja, se o caos fosse meramente uma probabilidade acéfala, o único futuro que permitira perceber e assegurar a existência do passado, seria o que lhe pudesse ver o traço, invertendo o caminho. O que isto significa é que um passado indetectável, a partir do presente, seria igualmente equivalente a um passado inexistente.
Para um niilista, onde o caos não tem ordem, a história é qualquer... é uma história da carochinha, e é definida pela liberdade de pensamento da moda dos mandantes inspirados, nunca interessando perceber de onde vêm as ideias do pensamento, que isso só atrapalha as certezas cegas da ciência moderna.
Dimensão 3
No referido artigo da wikipedia, fazem-se algumas considerações sobre a ordem do nosso universo, indo ao ponto de Barrow e Tipler sugerirem que "com grande probabilidade, a nossa espécie é a única inteligente na Via Láctea": An entire chapter argues that Homo Sapiens is, with high probability, the only intelligent species in the Milky Way.
Presumo que essa consideração é meramente estatística, tendo em atenção a necessidade de estar suficientemente afastada do centro galáctico, e dentro dessa hipótese considerar condições ideais para o desenvolvimento de vida com atmosfera, etc... acabam por ser tão reduzidas ou tão alargadas, quanto a vontade de distorcer estatísticas.
Porém, o mais interessante é a consideração sobre as 3 dimensões.
Num pequeno gráfico são analisadas as possibilidades de existirem mais dimensões, não apenas espaciais, mas até temporais. Foi concluído que universos com dimensões superiores a 3 seriam instáveis, não permitindo nem estabilidade atómica, nem mesmo ao nível das órbitas planetárias. A única possibilidade para evitar essa instabilidade seria aumentar também as dimensões temporais!
Aumentar as dimensões temporais é algo que não imaginamos facilmente, mas seria equivalente a admitir a possibilidade de varrer universos 3D simultaneamente. Ou seja, em vez de vermos apenas o futuro de uma maneira, veríamos todas as suas variações. Porque se o tempo não implicar apenas um desfecho, ficamos com um rasto de possíveis desfechos. O tempo ser único é que determina a noção de verdade e falsidade. Por isso, aumentar as dimensões temporais corresponderia a universos onde a verdade não se impõe contra um absurdo. De certa forma, convivemos com duas dimensões temporais quando somos levados pela imaginação, pelo sonho, para um outro tempo e outra realidade, mas mantemos o regresso a um único tempo, o tempo em que estamos no "acordo", em que acordamos com os outros.
Abaixo de 3 dimensões aparece "demasiado simples", ou seja seriam universos onde não se manifestaria nenhum caos, e tudo seria demasiado previsível, não podendo levar a nenhuma inteligência.
Por exemplo, se pensarmos num ser a 2 dimensões, simplesmente não poderia alimentar-se... já que o canal do estômago separaria o animal em duas partes (basta fazer um desenho de um boneco com o canal da boca ao ânus, para perceber que ficaria dividido em duas partes)!
O caso sem tempo corresponderia a um universo estático, congelado, e tal coisa pode ser encarada num agregado 3D+1T = 4D concluído. A simetria de possibilidades deveria ser mais evidente, e desconheço a razão de invocar os hipotéticos taquiões no caso 1D+3T... mas também não há grande interesse nesse assunto.
O único interesse adicional é a informação de que a luz, e todas as ondas de rádio funcionariam apenas em dimensão 3, e de certa maneira a ideia que a estabilização das constantes físicas sugere a convergência para um universo físico que não será de índole caótica. Isto é uma das ideias que reforça a adequação do universo à nossa compreensão facilitada dele.
Sinais do Tempo
Por razões que não interessam, fui "forçado" a pensar em várias dimensões espaciais, temporais, e não apenas finitas, como as consideradas acima. Nesse deambular interrogativo, é fácil perceber os caminhos onde o caos irá imperar... como por exemplo, quando assumimos "pretensos paraísos" onde somos levados para situações sem referencial de verdade. Pretensos paraísos, porque sugerem libertações de restrições temporais, podendo fixar ou revisitar momentos bons, mas todas essas ofertas têm um contraponto pouco evidente, mas claro... desacordo, isolamento, por afastamento de uma verdade.
Apesar da imaginação nestes assuntos poder parecer grande, não vi neste caso a consideração do sinal do tempo. E até ao momento em que tive que pensar nisso, de facto não me lembrara do problema.
As ideias de futuro, as concepções futuristas, dificilmente podem ser explicadas do passado. Não é por razão do pequeno-almoço, ou de um bom almoço, que nos surgem ideias futuristas. É mais fácil que surjam de forma "inexplicável", por inspiração num sonho, ou por reflexão num simples detalhe. Seja como for, são ideias que, inexistentes num passado, só surgem no presente tendo em vista um certo futuro. Nesse sentido podemos vê-las como vislumbre de um certo futuro, como uma qualquer outra visão, mais ou menos racional.
Se sobre o nosso passado, dificilmente podemos pensar em mudar as coisas, as pressões para seguir um ou outro caminho futuro, podem ter uma razão bem simples. Porque, apenas escolhendo um futuro, haverá múltiplos futuros que serão omitidos, obliterados.
Ora, admitindo o princípio antrópico mais forte, não estamos apenas em um dos possíveis universos, estamos no Universo consistente que permite conceber os restantes, mas não com a mesma validade. Por razão de verdade, há o tempo único da realidade, e o resto é imaginário. O imaginário é a componente que escapa à realidade construída e definida pelas restrições consistentes do passado. E assim é nesse campo que se joga o futuro... porque uma certa imaginação leva a um futuro e outra ignora-o ou suprime-o. O que para nós será futuro, não significa que não seja em certa medida, um dos múltiplos resultados fundados e definidos pelo passado.
Ora o casamento entre o passado e o futuro faz-se a cada presente, mas sem poligamia... e por isso os futuros que se mostram na imaginação são convites à construção de uma realidade, tendo em vista esse futuro, normalmente apelativo ou assustador para o visitado, pela ideia de futuro que se lhe apresenta. Quanto mais claro se apresentar esse futuro, mais essa ideia o condena um determinado desenrolar previsto, e fará sentido se se conjugar com o passado que conhece, mas será uma completa ilusão infernal, se ao puxar a cabeça as tentações fizerem esquecer os pés assentes na Terra, pela ordem do passado.
Por razões de desvios, de mentiras cimentadas, o próprio passado consistente só está completamente definido em consistências físicas, e não em escritos ancestrais. Há o que tem a flexibilidade de ser encaixado e modificado - e aí cai praticamente toda a história da carochinha mal contada, e o que dificilmente pode ser modificado, pelos registos de verdadeira ciência.
Quando chegamos a momentos cruciais, podemos ou não ter a ideia da colisão entre mundos que vão ficar condenados à parte imaginária, ignorados pelo mundo que será realidade. Nessa colisão, que define sempre o presente, o maior conhecimento da ordem científica, estreitará cada vez mais o passado, e com isso limitará cada vez mais o futuro. Assim, do futuro surge o habitual caos pronto a reformular tudo, a arrasar o passado, para um vislumbre de futuro risonho, mas limitado. Nesse caso, a agitação das cabeças faz levantar a temperatura a valores escaldantes. Enquanto pela imposição restritiva de um passado, as possibilidades futuras procuram ser condicionadas exclusivamente por essa ordem conhecida, que tenta manter tudo previsível, congelando as cabeças, e estreitando as possibilidades futuras.
Escusado será dizer que é inevitável um compromisso entre o caos e ordem, mas isso nem sequer será preciso definir... o piloto automático já foi ligado (pois), e resta assistir e procurar compreender.