O livro de Bernardo de Brito, cujo link volto a colocar
Elogios dos Reis de Portugal com os mais verdadeiros retratos que se puderaõ acharnão começa com D. Afonso Henriques, mas sim com o pai, o Conde D. Henrique.
Faço notar isto de novo, porque há quem se satisfaça em ler apenas a informação transcrita... mas isso não dispensa a consulta do original.
Por exemplo, Bernardo de Brito lança a suspeita de que D. Duarte teria sido vítima de peste através de uma carta que tinha recebido... do tipo "atentado por carta com antrax", suspeita que nunca tinha visto colocada em mais nenhum lado.
Assim, como é natural, Brito junta uma descrição física dos diversos reis, e não apenas dos que transcrevi (... e para quem gosta de opinar, sem se dar ao trabalho de o ler, tem as cópias coloridas dos retratos).
Nesse livro também se acrescentam dois reis da dinastia filipina, mas optei por começar em D. Afonso Henriques e ficar pelo D. Sebastião. Como o início com o Conde D. Henrique gera normalmente mais interesse do que o fim com o Cardeal D. Henrique, junto aqui a tal informação acessível à distância de um clique.
Conde D. HenriqueLogo na página 5, diz Brito:
"Foi o Conde homem grande de corpo, de presença alegre & venerável, teve o cabelo louro e os olhos azuis, como diz na sua história, & o mostra um retrato de iluminação antiga que temos numa bíblia de mão antiquíssima, onde na primeira folha do Prologo está a figura do Conde armado como aqui vai: salvo a coroa de louro, que por não ser Rey & ser tão vitorioso me pareceu acrescentar-lhe, & a banda que por o retrato ter um modo de roupa que não entendemos bem sua postura se lhe pôs do modo que vai."
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Conde D. Henrique, na obra de Bernardo de Brito. |
Encontramos ainda outras representações do Conde D. Henrique e D. Teresa, mais alegóricas do que concordantes no aspecto:
Assim, por exemplo, se a figura à esquerda (... mais antiga), sugere cabelo alourado para o Conde D. Henrique, enquanto a figura à direita, sugere cabelo mais escuro; curiosamente passa-se o oposto no que diz respeito a D. Teresa!
(...) e D. Anrique sobrinho deste Conde de Tolosa [Toulouse], filho segundo-génito de uma sua irmã, e del Rey da Hungria, com quem era casada (...)
poderá ter havido mais ou menos sugestões de representações capilares adequadas à sua região de origem. Ora, Brito diz que "
segundo a melhor opinião" seria "
natural de Besançon, filho de Guido Conde de Vernol & de Ioanna filha de Geroldo, Duque de Borgonha", e claramente não segue Duarte Galvão, nem segue a
tese de Damião de Goes, já aqui abordada.
Num comentário, João Ribeiro sugeriu que a diferença de tonalidades entre pai (louro de olhos azuis) e filho (cabelos e olhos castanhos), poderiam dar alguma sustentação a um mito de que D. Afonso Henriques seria filho de Egas Moniz e não do Conde D. Henrique.
Acontece que
D. Teresa de Leão era filha de
Ximena Moniz, concubina de
D. Afonso X de Leão e Castela. Portanto, uma simples inspecção faz ver que D. Afonso Henriques era também Moniz, pelo lado do
bisavô materno -
Munio Moniz, conde do Bierzo. Parece-me bastante mais complicado, distinguir fisionomicamente esse
avô, do pai de Egas Moniz, ou seja
Munio Ermiges, também ele nobre, Senhor do Ribadouro. Lembro que por esta época a referência Moniz ou Muniz, era usada apenas para indicar os filhos de alguém chamado Munio, tal como Henriques era o patronímico dos filhos de um Henrique.
Outros retratosInteressou-me especialmente chamar a atenção sobre esta obra de Bernardo de Brito. Sendo mais ou menos inventados, se os historiadores modernos desdenharam o que puderam sobre Brito, acabaram por usar muitas vezes os retratos que ele compilou nesta obra, à falta de outros.
Porém, volto a realçar que ao mesmo tempo Bernardo de Brito acaba por fazer um resumo da História de Portugal, sob a forma de elogios aos reis.
Em particular, Brito fala da
ida do Conde D. Henrique à Terra Santa, no sentido de participar, não na Cruzada de Godofredo do Bulhão (... seu irmão, segundo Damião de Goes), mas sim numa Cruzada seguinte, acompanhado de
Hugo de Lusignan.
Há uma série de outros retratos, atribuídos a Melchior Tavernier, em 1630, ou seja, uns 20 anos depois da obra de Brito, onde poderemos ver de novo a influência dos seus retratos, até na pose estranha de D. Pedro I, por exemplo.
Uma novidade aqui é a inclusão de vários retratos de rainhas e concubinas...
Melchior Tavernier, em 1630
... mas talvez a principal novidade será a indicação do Conde D. Henrique como Conde de Limburgo, uma cidade belga, e esta localização mais se associaria à versão de Damião de Goes, já que
Limburgo não seria longe das paragens de Boulogne-sur-Mer.