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Através de email chegou-nos gentilmente o seguinte comentário (de Moura Sherazade):
Encontro no texto - Sobre um conjunto de silos em Beja-, disponível online, o seguinte: 
«Os solos de boa qualidade proporcionaram ao Alentejo a possibilidade de produção de vários tipos de cereal, existindo desde os textos das Inquirições gerais de 1220, 1258 e 1284, nos contratos de aforamento de terras de D. Afonso III, de D. Dinis e das instituições religiosas referências ao trigo, à cevada, ao centeio e ao milho que eram a moeda de troca por excelência.»
Esta referência sobre milho em época medieval vem num artigo
... e o texto continua acrescentando - «O termo Pão era a forma mais corrente de designar aqueles cereais, sendo o trigo o mais utilizado em todos os períodos (Goes, 1998)».

O assunto do "problema do milho" foi abordado pelo José Manuel em 2009:
http://portugalliae.blogspot.pt/2009/12/como-os-portugueses-enganaram-colombo.html
Cultura de milho na Suméria (de um vídeo de Gunnar Thompson)
... onde se apresenta uma série de vídeos de Gunnar Thompson - que argumentava sobre referências ao milho nas civilizações egípcias, sumérias e babilónias, colocando isso como prova de que haveria viagens à América em tempos antigos.

Ora, ainda acerca disso também escrevi algo, com base em traduções inglesas de textos romanos, que usavam a palavra "corn"... e que davam a Turdetania (Andaluzia) como exportadora deste cereal.

Só que o assunto das referências antigas ao "milho" foi convenientemente blindado com uma armadilha institucionalizada. Por exemplo, ainda que hoje em inglês "corn" designe essencialmente milho, é suposto que antes do Séc. XIX tenha servido indistintamente para outros cereais. Por isso, vi-me obrigado depois a fazer uma correcção ao texto... Será o mesmo do que se institucionalizar que antigas menções a «ouro» diziam respeito a qualquer metal brilhante, e a partir do momento em que se institucionalizam significados diferentes para as mesmas palavras, bloqueiam-se leituras modernas de textos antigos.

Pinho Leal no final do Séc. XIX já apanhou essa fase de «revolução cultural» da maçaroca maçónica, e assim diz-nos o seguinte:
MAÇAROCA — (milho de maçaroca) - portuguez antigo - milho grosso ou milhão. Julga-se geralmente que o milho grosso não foi conhecido em Portugal senão depois do descobrimento de Guiné, por Diogo da Azambuja, em 1482. Os portuguezes o trouxeram para o reino, e diz se que foi aqui cultivado pela 1ª vez nos campos de Coimbra, d'onde se propagou por todo o reino. (Vide Milhom.) 
Antes de comentar esta referência, que é significativa, vejamos o que nos diz sobre «milhom»
MILHOM — portuguez antigo - milho miúdo. Em um testamento de S. Simão da Junqueira, feito em 1289, se diz :- It. a Stevão Joannes, de Perafita, ou aos seos heréés (herdeiros) hum quarteiro de milhom.
Em todos os documentos antigos, onde se fala de milhom, deve sempre entender-se milho miúdo; porque não havia outro.
O que hoje chamamos simplesmente milho, milho grosso, milho maiz, milhão, e milho de maçaroca, só foi conhecido em Portugal, no século XVII, trazendo-o da Índia, Paulo de Braga. Consta que ao principio era proibido semeá-lo, e só alguns cultivavam poucos pés, nas suas hortas e jardins.
É tradição que a primeira cultura em grande, deste cereal, foi no campo de Coimbra.
Ainda no principio d'este século, pouco milho grosso se cultivava na Extremadura, Alemtejo e Algarve; hoje constitui a principal cultura de todas as províncias de Portugal e ilhas, e é o pão da maior parte dos nossos lavradores e de muitas famílias, sobre tudo, de Coimbra para o norte. 
Qual o problema?
O problema é que o uso antigo da palavra «milho» era inconveniente, e na realidade existe também uma outra espécie diferente o «sorgo», cujo aspecto poderia servir a confusão:
O sorgo tem semelhanças com o milho Zea mays...
Há um estudo que me parece que tenta clarificar isto - O Zea mays e a expansão portuguesa (de Joaquim Lino da Silva, 1998), referindo «Cadornega, em Angola, usa milho-zaburro como sinónimo de sorgo, e com justificação», ou ainda mencionando João de Barros «[Barros] diz que o comum mantimento daqueles povos é o milho de maçaroca, a que chamamos zaburro, donde se infere que o milho zaburro vem a ser o mesmo que o Milho grande [...]», acrescentando «Nós estávamos, na realidade enganados, o milho zaburro de Guiné, e das ilhas de Cabo Verde e S. Tomé não era um Sorghum; mas ainda mantemos que Jeffreys [não é só este autor] está igualmente errado, quando identifica zaburro com Zea Mays. Há outra variedade de milho, diferente dos dois.»

Portanto, vemos que se trata de terreno muito pantanoso... bem armadilhado com incertezas, e daí ter feito uma certa retirada estratégica no texto "Milho a Milhas", porque não vale a pena discorrer por caminhos pantanosos, quando temos centenas doutros bem seguros.

Pinho Leal dará como possível introdução do «milho normal» em Coimbra no Séc. XVII, e encontrámos uma ordenação feita em Lisboa, em 8 de Setembro de 1606 (Emmanuelis Alvarez Pegas - Commentaria ad ordinationes Regni Portugalliae, pág. 613) que se refere a danos nos diques (marachões), referindo este tipo de culturas em várias ocasiões «hum alqueyre de milho nas eyras, o qual o dito Provedor o fará receber, & arrecadar de cada pessoa, ou pessoas, que a isso estiverem obrigadas (...)», ou ainda «vendendo-se o dito milho, o dinheyro delle se meterá em hum cofre, como abayxo irá declarado (...)».

Trata-se de uma situação semelhante à das laranjas... que se atribui também a chegada apenas em tempo dos descobrimentos, apesar de termos o nome "Portugal" associado a laranjas em diversos países, nomeadamente na Grécia (Πορτοκάλι - Portokáli) e em países muçulmanos.

Há povoações com o nome "Milheiral", etc... mas como vimos é sempre fácil argumentar que se tratava do sorgo, do milho-zaburro, ou outra espécie que não entre em conflito com a chegada à América, e assim ainda que mesmo João de Barros refira o consumo de milho por outros povos, pode remeter-se a maçaroca ao sorgo, e esse caminho estará institucionalmente minado... como Pinho Leal assinalou - até chegou a haver ordem de proibição de cultivo.
O que é mais interessante é Pinho Leal remeter a origem do "milho grande" a Diogo de Azambuja, o homem que ergueu o Castelo da Mina... que na nossa opinião, e antiga fundamentação, não seria o Forte da Mina existente em África, mas sim uma construção paralela feita próximo de Istmina, na Colômbia, para negociar com os Incas, e da qual restou a imagem de castelo português existente no Mapa de João de Lisboa, em território Inca. Portanto, essa referência ao milho poderia remeter aos Incas... mas tratando-se da maçaroca usada na Guiné, também pode remeter a outra interpretação, e por isso não vale a pena alimentar uma discussão desse tipo, tendo os Mapas de João de Lisboa como prova indelével de tudo o que afirmamos.

O que nos parece claro é que depois foi outra a maçaroca, foi outro o milhão... ou seja, foi a maçaroca dos milhões que comandou os contos da história. Ora, como um conto valia um milhão, houve facilmente quem trocasse a História por contos de milhões, mas também aprendemos que o primeiro milho é dos pardais, e convirá que estes não abusem da paciência do milhafre...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:36

Através de email chegou-nos gentilmente o seguinte comentário (de Moura Sherazade):
Encontro no texto - Sobre um conjunto de silos em Beja-, disponível online, o seguinte: 
«Os solos de boa qualidade proporcionaram ao Alentejo a possibilidade de produção de vários tipos de cereal, existindo desde os textos das Inquirições gerais de 1220, 1258 e 1284, nos contratos de aforamento de terras de D. Afonso III, de D. Dinis e das instituições religiosas referências ao trigo, à cevada, ao centeio e ao milho que eram a moeda de troca por excelência.»
Esta referência sobre milho em época medieval vem num artigo
... e o texto continua acrescentando - «O termo Pão era a forma mais corrente de designar aqueles cereais, sendo o trigo o mais utilizado em todos os períodos (Goes, 1998)».

O assunto do "problema do milho" foi abordado pelo José Manuel em 2009:
http://portugalliae.blogspot.pt/2009/12/como-os-portugueses-enganaram-colombo.html
Cultura de milho na Suméria (de um vídeo de Gunnar Thompson)
... onde se apresenta uma série de vídeos de Gunnar Thompson - que argumentava sobre referências ao milho nas civilizações egípcias, sumérias e babilónias, colocando isso como prova de que haveria viagens à América em tempos antigos.

Ora, ainda acerca disso também escrevi algo, com base em traduções inglesas de textos romanos, que usavam a palavra "corn"... e que davam a Turdetania (Andaluzia) como exportadora deste cereal.

Só que o assunto das referências antigas ao "milho" foi convenientemente blindado com uma armadilha institucionalizada. Por exemplo, ainda que hoje em inglês "corn" designe essencialmente milho, é suposto que antes do Séc. XIX tenha servido indistintamente para outros cereais. Por isso, vi-me obrigado depois a fazer uma correcção ao texto... Será o mesmo do que se institucionalizar que antigas menções a «ouro» diziam respeito a qualquer metal brilhante, e a partir do momento em que se institucionalizam significados diferentes para as mesmas palavras, bloqueiam-se leituras modernas de textos antigos.

Pinho Leal no final do Séc. XIX já apanhou essa fase de «revolução cultural» da maçaroca maçónica, e assim diz-nos o seguinte:
MAÇAROCA — (milho de maçaroca) - portuguez antigo - milho grosso ou milhão. Julga-se geralmente que o milho grosso não foi conhecido em Portugal senão depois do descobrimento de Guiné, por Diogo da Azambuja, em 1482. Os portuguezes o trouxeram para o reino, e diz se que foi aqui cultivado pela 1ª vez nos campos de Coimbra, d'onde se propagou por todo o reino. (Vide Milhom.) 
Antes de comentar esta referência, que é significativa, vejamos o que nos diz sobre «milhom»
MILHOM — portuguez antigo - milho miúdo. Em um testamento de S. Simão da Junqueira, feito em 1289, se diz :- It. a Stevão Joannes, de Perafita, ou aos seos heréés (herdeiros) hum quarteiro de milhom.
Em todos os documentos antigos, onde se fala de milhom, deve sempre entender-se milho miúdo; porque não havia outro.
O que hoje chamamos simplesmente milho, milho grosso, milho maiz, milhão, e milho de maçaroca, só foi conhecido em Portugal, no século XVII, trazendo-o da Índia, Paulo de Braga. Consta que ao principio era proibido semeá-lo, e só alguns cultivavam poucos pés, nas suas hortas e jardins.
É tradição que a primeira cultura em grande, deste cereal, foi no campo de Coimbra.
Ainda no principio d'este século, pouco milho grosso se cultivava na Extremadura, Alemtejo e Algarve; hoje constitui a principal cultura de todas as províncias de Portugal e ilhas, e é o pão da maior parte dos nossos lavradores e de muitas famílias, sobre tudo, de Coimbra para o norte. 
Qual o problema?
O problema é que o uso antigo da palavra «milho» era inconveniente, e na realidade existe também uma outra espécie diferente o «sorgo», cujo aspecto poderia servir a confusão:
O sorgo tem semelhanças com o milho Zea mays...
Há um estudo que me parece que tenta clarificar isto - O Zea mays e a expansão portuguesa (de Joaquim Lino da Silva, 1998), referindo «Cadornega, em Angola, usa milho-zaburro como sinónimo de sorgo, e com justificação», ou ainda mencionando João de Barros «[Barros] diz que o comum mantimento daqueles povos é o milho de maçaroca, a que chamamos zaburro, donde se infere que o milho zaburro vem a ser o mesmo que o Milho grande [...]», acrescentando «Nós estávamos, na realidade enganados, o milho zaburro de Guiné, e das ilhas de Cabo Verde e S. Tomé não era um Sorghum; mas ainda mantemos que Jeffreys [não é só este autor] está igualmente errado, quando identifica zaburro com Zea Mays. Há outra variedade de milho, diferente dos dois.»

Portanto, vemos que se trata de terreno muito pantanoso... bem armadilhado com incertezas, e daí ter feito uma certa retirada estratégica no texto "Milho a Milhas", porque não vale a pena discorrer por caminhos pantanosos, quando temos centenas doutros bem seguros.

Pinho Leal dará como possível introdução do «milho normal» em Coimbra no Séc. XVII, e encontrámos uma ordenação feita em Lisboa, em 8 de Setembro de 1606 (Emmanuelis Alvarez Pegas - Commentaria ad ordinationes Regni Portugalliae, pág. 613) que se refere a danos nos diques (marachões), referindo este tipo de culturas em várias ocasiões «hum alqueyre de milho nas eyras, o qual o dito Provedor o fará receber, & arrecadar de cada pessoa, ou pessoas, que a isso estiverem obrigadas (...)», ou ainda «vendendo-se o dito milho, o dinheyro delle se meterá em hum cofre, como abayxo irá declarado (...)».

Trata-se de uma situação semelhante à das laranjas... que se atribui também a chegada apenas em tempo dos descobrimentos, apesar de termos o nome "Portugal" associado a laranjas em diversos países, nomeadamente na Grécia (Πορτοκάλι - Portokáli) e em países muçulmanos.

Há povoações com o nome "Milheiral", etc... mas como vimos é sempre fácil argumentar que se tratava do sorgo, do milho-zaburro, ou outra espécie que não entre em conflito com a chegada à América, e assim ainda que mesmo João de Barros refira o consumo de milho por outros povos, pode remeter-se a maçaroca ao sorgo, e esse caminho estará institucionalmente minado... como Pinho Leal assinalou - até chegou a haver ordem de proibição de cultivo.
O que é mais interessante é Pinho Leal remeter a origem do "milho grande" a Diogo de Azambuja, o homem que ergueu o Castelo da Mina... que na nossa opinião, e antiga fundamentação, não seria o Forte da Mina existente em África, mas sim uma construção paralela feita próximo de Istmina, na Colômbia, para negociar com os Incas, e da qual restou a imagem de castelo português existente no Mapa de João de Lisboa, em território Inca. Portanto, essa referência ao milho poderia remeter aos Incas... mas tratando-se da maçaroca usada na Guiné, também pode remeter a outra interpretação, e por isso não vale a pena alimentar uma discussão desse tipo, tendo os Mapas de João de Lisboa como prova indelével de tudo o que afirmamos.

O que nos parece claro é que depois foi outra a maçaroca, foi outro o milhão... ou seja, foi a maçaroca dos milhões que comandou os contos da história. Ora, como um conto valia um milhão, houve facilmente quem trocasse a História por contos de milhões, mas também aprendemos que o primeiro milho é dos pardais, e convirá que estes não abusem da paciência do milhafre...

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