Interessa que, aprendida essa justificação, os tradutores invariavelmente omitem qualquer menção a
Dios como nome alternativo a Zeus, nem para dizer que seria um equivalente de escrever "
de Zeus". Acresce que aparecem outras declinações (como
Diés), pelo que a excepção terá como causa muito provável evitar confundir o nome
Deus com o nome
Zeus, ainda que em português é preciso ser um pouco surdo para não notar uma semelhança. Isso resultará ainda da outra variante Θεός, transcrita como
Theos, associada à divindade.
Como
já referimos há bastante tempo, consta ter havido uma introdução de novas letras gregas após a Guerra de Tróia, e aí se incluem o
zeta e o
theta, sendo assim natural suspeitar que o original fosse o mesmo e escrito como
Dio, conforme sugere a mais antiga escrita Linear B.
É ainda natural que a divindade correspondesse ao
Dia, não no aspecto de
Hemera, mas sim na suas vertente de tempo, unidade de contagem... e no seu aspecto de luz, associada ao Sol. Enquanto unidade de tempo, o
Dia-Zeus seria naturalmente visto como o filho do
Tempo-Cronos, assim como pela sua ligação ao Sol, estaria colocado no topo das divindades, como os egípcios faziam com
Rá (também lido em copta como "Rei"). O que mais ensombraria os dias seriam as suas manifestações com tempestades, trovões e relâmpagos, entendidas como armas de Zeus. Qualquer uma destas divindades esteve
associada ao "touro".
Curiosamente acresce que a habitual transcrição deturpada do
upsilon em
ypsilon, ou seja de
ύ em
y, não é feita neste caso... se fosse feita, de Ζεύς falaríamos em
Zeys e não em
Zeus (e talvez fosse apropriado ser conotado com o número
6, pelo menos em português, e triplamente sendo a terceira divindade na teogonia, após Úrano e Cronos).
Também Úrano é escrito como Οὐρανός ... devendo ler-se
Ouranos, ou usando o
y seria
Oyranos, e não deixa de ser significativo que tanto temos "
ouro" como "
oiro", ou ainda "
touro" e "
toiro", provavelmente relevando dessa variação propositada de transcrições.
Nada tem de especial este assunto, apenas reitera a desconfiança em todo o legado antigo que se arrasta como uma permanente codificação desde a Antiguidade, destinada a baralhar as fontes, separando coisas iguais, ou juntando coisas diferentes.
Afinal, quando falamos em
filosofia ateia vamos ao grego para explicar para explicar
filo como amiga do saber
sofia, e em que o prefixo
a nega a religião
teia, numa
variante no feminino do
theos divino (ou
di vino, de vinho, como sangue presente na Eucaristia).
Porém parece naturalmente vedado associar a
teia à religião.
Também se fala mais facilmente em
rede global do que em
teia global, sendo que a palavra
web se usa mais para a teia da aranha.
El ... "eles"... "seus"Uma divindade do panteão antigo judaico é
El, nome da divindade suprema dos Cananeus, também usado em hebreu, que na sua vertente plural é
Elohim.
El seria depois considerado pelos judeus como Deus único, na forma de
Jeová, numa vocalização próxima à do romano
Jove, o correspondente a Zeus, também escrito como
Jupiter.
Na sua forma plural, seria natural nós declinarmos
El como
Eles.
"
Eles"... é ainda o nome culpado numa boa parte de "teorias de conspiração" que vemos circular. Mesmo que se evidencie um nexo de culpabilidade de "alguém", é depois muito mais difícil de concretizar e apontar culpados, surgindo assim facilmente "
eles" como uma entidade impessoal, culpada naturalmente. Depois é frequente ouvir perguntar:
- Mas quem são "
eles"?
Ora, e "
aí é que são elas", porque a menos que o sujeito invoque os culpados de serviço (maçons, judeus, etc...), dificilmente consegue apontar alguém em concreto.
É pois interessante que, ao fim de tantos milénios, se use quase o mesmo nome para agentes não identificados que condicionavam o bom desenrolar dos acontecimentos. Antes seriam divindades, hoje serão "
eles"... mas estes "
eles", ainda que humanos, parecem estar numa esfera igualmente inatingível ou imprescrutável.
Acresce que os motivos, igualmente não declarados, são "
seus", tais como seriam os de
Zeus ou de
Deus... e mais uma vez se mantém a forma não prescrutável das suas intenções finais.
Só que aí o problema é bem mais vasto, e, se podemos vislumbrar nexos fáceis, tipicamente animais, em acções de favorecimento, para benefício competitivo, num padrão evolutivo darwiniano, parece também claro que isso só explicaria a faceta pouco profunda do problema. Ou seja, ainda que "
eles" julguem que sabem, que têm um nexo e orientação na sua acção, é inevitável que não façam a mais pálida ideia, e assim, os nossos "
eles" têm outros "
eles" que os condicionam a "
eles". Reduzir "
eles" a um único senhor, a um único "
el", não adianta rigorosamente nada. Mas, mesmo chegados ao topo da pirâmide de poder, restará toda a impotência... faceta clara de uma realidade que não é sonho individual.
E há uma coisa completamente clara...
Quem se tiver em pouca conta, pode considerar que o seu destino está condicionado pelo exterior, estará sempre sujeito a uma potência externa, mais humana e previsível, ou menos humana e imprevisível, pode considerar que está a ser avaliado superiormente, pelas suas acções.
No entanto, quem não reduzir o seu papel a coisa nenhuma, deve ter em atenção que o nosso papel não é somente de ser condicionados e avaliados.
O papel principal de cada um é o de ser, ele mesmo, avaliador de tudo o presencia. A avaliação do próprio pouco conta para o conjunto se for pessoal e subjectiva, mas será incomensuravelmente devastadora se, elevando-se acima das suas aspirações mundanas, for objectivo e compreensivo.
Porquê? Porque podemos aceitar uma
provação sendo
prova de ser são, mas devemos rejeitar todas as que não são. Aceitar insanidades é um caminho que leva apenas a um universo insano, que não tem sustentação na realidade. E a realidade será o único sonho onde até as insanidades terão a sua justificação, com a devida compreensão... será o único sonho para o qual não é possível deixar de acordar, porque não resta outra realidade que o sustente enquanto tal.