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Jogo da Bola

30.07.16
A expressão "jogo da bola" é hoje praticamente associada apenas ao futebol, mas há diversos registos antigos que mencionavam este nome, muito antes do futebol ter sido estabelecido na Inglaterra, por volta de 1850.
Assim, alguns sítios com o nome "rua do jogo da bola" ou "travessa do jogo da bola", não se reportavam ao desporto mais recente, mas sim a uma forma bastante mais antiga, e pouco relacionada.
Procurei um pouco mais sobre o assunto, mas apesar de haver registos de popularidade entre o Séc. XVI e o Séc. XIX, caiu em completo desuso, tendo-se praticamente perdido.

A melhor informação que encontrei sobre este jogo está num livro de Manuel J. Gandra
Jogos do Jardim do Cerco, em Mafra
Jardim do Cerco (Mafra) - campo do "jogo da bola" (foto in M. J. Gandra)
Nesse livro encontram-se algumas regras, tal como se pode encontrar uma referência a elas num tratado sobre vários jogos (incluindo cartas e dados) escrito em 1806:
Academia dos jogos : que trata do voltarete, do mediator, do whist, 
do Boston ... e de outros muitos jogos de cartas e de dados
(Jogo da Bola - Tomo IV - páginas 225 a 232) 

Nesta forma mais sofisticada, que exigia um recinto apropriado, o jogo terá sido praticado entre cortesãos, e M. Gandra refere mesmo que houve leis de D. Manuel para proibir o jogo no paço, e que o ambiente escaldante dos ânimos teria provocado a morte do Conde de Vimioso pelo cunhado, o Conde de São João.
Tratando-se de um jogo de derrube de paulitos, teria alguma correspondência com o mais popular jogo da malha, ou chinquilho, ou ainda com o actual bowling. Apesar da popularidade nacional, a sua origem é provavelmente exterior, e mesmo em território nacional haveria mais do que uma variante de regras.

Por vezes é considerado que a origem do futebol remete mais ao Calcio Florentino, um jogo praticado em Florença, muito mais semelhante ao râguebi, dado o seu contacto extremamente violento.
(Barbaric Version of Soccer Is the Original Extreme Sport)
Vídeo acerca do Calcio Florentino - uma brutal variante histórica de futebol

Este Calcio Florentino, de onde resulta em Itália o nome "calcio", dado ao futebol, tem possivelmente origens ainda mais remotas, sendo ligado a um desporto romano (e grego) denominado "harpastum", do qual restam poucos relatos, mas que seria usado para manter a forma física das legiões romanas.

Surge isto atrasado face ao propósito do recente Euro 2016, mas ainda a tempo dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, que se vão iniciar em Agosto.
Apesar de sabermos bem que os Jogos Olímpicos existiram na Grécia, servindo de referência a data da primeira Olimpíada de 776 a. C. (ou seja, 23 anos antes da fundação de Roma), cai-se na ideia habitual que o desporto é uma actividade recente. Ou ainda, que as populações na Antiguidade não perderiam tempo com desportos, dedicando-se directamente ao trabalho ou à guerra.

Essa parece-me ser uma ideia que resultou da Idade Média, onde praticamente tudo o que não fosse trabalho ou devoção a Deus, era considerado uma actividade pecaminosa. Uma filosofia bastante conveniente para manter os servos focados no trabalho, resultante de um fundamentalismo religioso, que pouco tinha de religioso, e muito mais tinha de manipulação social.
De qualquer forma, é extenso o registo de jogos e actividades desportivas que foram existindo ao longo dos tempos. Os jogos de dados eram bastante populares na Antiguidade, a origem do Xadrez também se perde no tempo, podendo ter entre 1 a 3 milénios, consoante as versões.
No decurso da Idade Média, a recriação era mais um privilégio dos cortesãos, mas isso não impediria alguma actividade lúdica, ainda que reprimida religiosamente. As justas ou torneios serviram várias vezes para resolver conflitos entre as partes, faltando motivação suficiente para convocar exércitos.

Interessa que a ideia de sociedades antigas extremamente violentas e muito distintas das actuais, é muitas vezes uma enfabulação moderna, que não resulta apenas da vertente medieval, mas é também alimentada com o propósito de criar a ideia de que os novos tempos são sempre muito melhores do que foram antes...
São lembradas as arenas romanas com os gladiadores, e os martírios cristãos, mas se isso foi uma parte infeliz da história, também convém não esquecer que essas arenas romanas serviam igualmente para grandiosos espectáculos de recriações históricas, nomeadamente Naumaquias, e portanto as arenas romanas funcionavam como autênticos pavilhões multiusos da Antiguidade.

Passam agora 80 anos sobre a Guerra civil de Espanha, e haverá ainda quem se lembre de ver transformadas as arenas tauromáquicas, em areias ensanguentadas pelos fuzilamentos que ali tiveram lugar. Reduzir o Séc. XX espanhol a esse episódio, seria daqui a uns mil anos dizer que as arenas espanholas serviam para o toureio, mas também para a matança de opositores políticos. É também assim que julgamos o jogo da pelota maia, que era suposto redundar sempre na morte da equipa perdedora, ou ainda que alguns atribuem o nascimento do futebol com cabeças humanas em vez de bolas de couro.
Essa simplificação do discurso, ainda que possa ter alguma parte de relação histórica ou suposição verosímil, serve sempre a ideia favorável aos tempos modernos, por comparação com os anteriores.

No entanto, basta olhar para alguns mosaicos da Vila Romana del Casale, para vermos que já na Antiguidade se praticavam desportos com troca de bolas, e que o Bikini não foi nenhuma invenção "explosiva" do Séc. XX:
Villa Romana del Casale

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:59

Jogo da Bola

30.07.16
A expressão "jogo da bola" é hoje praticamente associada apenas ao futebol, mas há diversos registos antigos que mencionavam este nome, muito antes do futebol ter sido estabelecido na Inglaterra, por volta de 1850.
Assim, alguns sítios com o nome "rua do jogo da bola" ou "travessa do jogo da bola", não se reportavam ao desporto mais recente, mas sim a uma forma bastante mais antiga, e pouco relacionada.
Procurei um pouco mais sobre o assunto, mas apesar de haver registos de popularidade entre o Séc. XVI e o Séc. XIX, caiu em completo desuso, tendo-se praticamente perdido.

A melhor informação que encontrei sobre este jogo está num livro de Manuel J. Gandra
Jogos do Jardim do Cerco, em Mafra
Jardim do Cerco (Mafra) - campo do "jogo da bola" (foto in M. J. Gandra)
Nesse livro encontram-se algumas regras, tal como se pode encontrar uma referência a elas num tratado sobre vários jogos (incluindo cartas e dados) escrito em 1806:
Academia dos jogos : que trata do voltarete, do mediator, do whist, 
do Boston ... e de outros muitos jogos de cartas e de dados
(Jogo da Bola - Tomo IV - páginas 225 a 232) 

Nesta forma mais sofisticada, que exigia um recinto apropriado, o jogo terá sido praticado entre cortesãos, e M. Gandra refere mesmo que houve leis de D. Manuel para proibir o jogo no paço, e que o ambiente escaldante dos ânimos teria provocado a morte do Conde de Vimioso pelo cunhado, o Conde de São João.
Tratando-se de um jogo de derrube de paulitos, teria alguma correspondência com o mais popular jogo da malha, ou chinquilho, ou ainda com o actual bowling. Apesar da popularidade nacional, a sua origem é provavelmente exterior, e mesmo em território nacional haveria mais do que uma variante de regras.

Por vezes é considerado que a origem do futebol remete mais ao Calcio Florentino, um jogo praticado em Florença, muito mais semelhante ao râguebi, dado o seu contacto extremamente violento.
(Barbaric Version of Soccer Is the Original Extreme Sport)
Vídeo acerca do Calcio Florentino - uma brutal variante histórica de futebol

Este Calcio Florentino, de onde resulta em Itália o nome "calcio", dado ao futebol, tem possivelmente origens ainda mais remotas, sendo ligado a um desporto romano (e grego) denominado "harpastum", do qual restam poucos relatos, mas que seria usado para manter a forma física das legiões romanas.

Surge isto atrasado face ao propósito do recente Euro 2016, mas ainda a tempo dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, que se vão iniciar em Agosto.
Apesar de sabermos bem que os Jogos Olímpicos existiram na Grécia, servindo de referência a data da primeira Olimpíada de 776 a. C. (ou seja, 23 anos antes da fundação de Roma), cai-se na ideia habitual que o desporto é uma actividade recente. Ou ainda, que as populações na Antiguidade não perderiam tempo com desportos, dedicando-se directamente ao trabalho ou à guerra.

Essa parece-me ser uma ideia que resultou da Idade Média, onde praticamente tudo o que não fosse trabalho ou devoção a Deus, era considerado uma actividade pecaminosa. Uma filosofia bastante conveniente para manter os servos focados no trabalho, resultante de um fundamentalismo religioso, que pouco tinha de religioso, e muito mais tinha de manipulação social.
De qualquer forma, é extenso o registo de jogos e actividades desportivas que foram existindo ao longo dos tempos. Os jogos de dados eram bastante populares na Antiguidade, a origem do Xadrez também se perde no tempo, podendo ter entre 1 a 3 milénios, consoante as versões.
No decurso da Idade Média, a recriação era mais um privilégio dos cortesãos, mas isso não impediria alguma actividade lúdica, ainda que reprimida religiosamente. As justas ou torneios serviram várias vezes para resolver conflitos entre as partes, faltando motivação suficiente para convocar exércitos.

Interessa que a ideia de sociedades antigas extremamente violentas e muito distintas das actuais, é muitas vezes uma enfabulação moderna, que não resulta apenas da vertente medieval, mas é também alimentada com o propósito de criar a ideia de que os novos tempos são sempre muito melhores do que foram antes...
São lembradas as arenas romanas com os gladiadores, e os martírios cristãos, mas se isso foi uma parte infeliz da história, também convém não esquecer que essas arenas romanas serviam igualmente para grandiosos espectáculos de recriações históricas, nomeadamente Naumaquias, e portanto as arenas romanas funcionavam como autênticos pavilhões multiusos da Antiguidade.

Passam agora 80 anos sobre a Guerra civil de Espanha, e haverá ainda quem se lembre de ver transformadas as arenas tauromáquicas, em areias ensanguentadas pelos fuzilamentos que ali tiveram lugar. Reduzir o Séc. XX espanhol a esse episódio, seria daqui a uns mil anos dizer que as arenas espanholas serviam para o toureio, mas também para a matança de opositores políticos. É também assim que julgamos o jogo da pelota maia, que era suposto redundar sempre na morte da equipa perdedora, ou ainda que alguns atribuem o nascimento do futebol com cabeças humanas em vez de bolas de couro.
Essa simplificação do discurso, ainda que possa ter alguma parte de relação histórica ou suposição verosímil, serve sempre a ideia favorável aos tempos modernos, por comparação com os anteriores.

No entanto, basta olhar para alguns mosaicos da Vila Romana del Casale, para vermos que já na Antiguidade se praticavam desportos com troca de bolas, e que o Bikini não foi nenhuma invenção "explosiva" do Séc. XX:
Villa Romana del Casale

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publicado às 07:59

(continuação)
Na sequência do texto anterior, há múltiplos aspectos por onde se pode seguir, e sob pena de não cobrindo todos, não cobrir nenhum, deixo algumas ligações, umas com mais interesse e relevância que outras.

Cocatrice e Serpe
A Coca aparece ainda ligada a uma figura heráldica, semelhante a um Basilisco (de que já falámos), chamada Cocatrice, que tem uma cabeça de galo, e aqui convém lembrar as palavras Cock (inglês) e Coq (francês), bem como a designação popular "Cocó", para um galo pequeno. Aliás, de certa forma a onomatopeia "cocóró" reflecte talvez a origem do termo.
A Cocatrice sendo um animal fantástico alado, prolonga-se com cauda de cobra, é ainda identificada a um tipo de dragão ou quimera, tendo a mesma faculdade do basilisco - um olhar petrificador.
Cocatrice
De igual forma, com aspecto muito semelhante, considera-se a Serpe, que é igualmente uma espécie de dragão alado com duas patas, e que é considerada na heráldica da vila de Serpa. O nome em inglês "wyvern" é ligado à origem latina de viper, ou seja, víbora.

Sefes
Na descrição do poema de Avieno, onde se fala de Ofiússa, são nomeados os povos Sefes e Dragani, prestados ao culto de serpentes ou dragões, que teriam expulsado os Oestrimínios.
O nome Ofiússa vem da designação grega para cobra que era ofio, e tal como ainda hoje usamos o termo serpentina para uma forma enrolada (como nas serpentinas carnavalescas), relacionar ofio com "o fio", ou seja com um fio, um filamento alongado, parece igualmente ajustar-se ao aspecto de uma cobra.

Povos ibéricos, na descrição de Avieno
Ainda a designação de Dragani ocorre-nos uma possível alteração para Bragani... ou seja, uma eventual ligação ao nome da cidade de Braga, pois a diferença entre Draga e Braga é razoavelmente pequena.
Mas talvez mais interessante será considerar uma eventual ligação dos Sefes (ou Saefes) à palavra "sefardita" usada para designar os judeus ibéricos. Isto porque já mencionámos há uns anos como o tetragrama judaico YHVH se poderia ligar à palavra JEFE, ou chefe... e há aí uma certa proximidade à designação Sefe. Acresce que o prefixo cefe pode ser remetido à chefia, à cabeça, pela palavra grega cefalo.

Ofiúco, Hermes e Pítia
Cefeu é uma das várias constelações, associada ao mito de Andrómeda e Cassiopeia, respectivamente filha e mulher desse lendário rei da Etiópia. Para além destas três constelações, outras duas são Perseu e Pégaso, o herói e o seu cavalo alado, que salvam Andrómeda, do monstro marinho Cetus, outra constelação também chamada Baleia.
Perseu usa a cabeça da Medusa para petrificar o monstro, copiando assim a ideia do poder do Basilisco, ou Cocatrice. Ao lado da constelação de Cefeu, encontra-se Dragão e depois Hércules, Serpente e Ofiúco. A constelação de Ofiúco corta a constelação de Serpente em duas partes - a cabeça e a cauda. Sendo contígua a Sagitário, tem sido apontada como candidata a 13º signo zodiacal, dada a deslocação da eclíptica.
Ofiúco esteve associada à medicina, justamente por essa ligação à serpente, lembrando que também o bastão de Asclépio, símbolo médico, é um bastão com uma serpente enrolada. Este símbolo tem sido apontado como resultante do tratamento da Dracunculiase, a infecção pelo verme-da-Guiné, um tratamento milenar, conhecido dos egípcios, em que o verme é retirado do paciente, enrolando-se num pequeno pau.
História diferente, ainda que sejam confundidas, tem o caduceu, bastão de Hermes, onde duas serpentes se enrolam em oposição uma à outra. É entendido que este bastão teria sido colocado entre duas cobras em competição, levando a que ambas se enrolassem, ficando presas ao bastão...
Nesse sentido, seria entendido como um símbolo de paz.
A associação das serpentes a Hermes é remetida por via de Apolo, no culto de Delfos, onde a Pítia (ou melhor, Pútia) celebrava a morte da cobra Pitão pelo deus-sol. Isso também estava associado a um mito de criação mais antigo, de Orfeu, relacionado com o "ovo cósmico".
Curiosamente, é na constelação de Serpente, na Nebulosa da Águia, que estão os famosos Pilares da Criação.

Ovo cósmico
Uma representação deste mito é a de uma cobra que envolve um ovo, o ovo universal. Pelo lado grego, encontra-se assinalado na tradição de Orfeu, mas o mito está espalhado em partes tão distintas, que vão da Polinésia ao Egipto, passando pela China e Índia.

Poderá ter havido várias razões para optar pela cobra como animal simbólico deste mito.
Por exemplo, é referida a característica das cobras mudarem de pele, o que simbolizaria uma eterna renovação, onde o substituir duma pele antiga por uma nova, não alterava o ser portador... permitiria aliás um rejuvenescimento.
O simbolismo do ovo como origem de toda uma estrutura seria particularmente visível nos répteis e nas aves, e dessa forma seria bem ajustado a qualquer mito de criação.

Mas há uma diferença... Entre as aves os progenitores acompanham a saída do ovo, têm que chocá-lo, não o podem abandonar os filhos ao seu destino individual.
É diferente com os répteis, o réptil nasce para o mundo isoladamente, normalmente sem reconhecer quaisquer progenitores, e esse também será o caso da maioria das cobras.
Portanto, o mito de uma divindade auto-gerada, sem conhecer antecessores, pode ser tipicamente associado à figuração do nascimento de um réptil, como uma cobra.

Por outro lado, a ideia da incubação de diversos universos, como ovos, isolados entre si até à eclosão, também se adapta bem a algumas concepções metafísicas, que não entendiam o universo como único, mas apenas como uma manifestação de várias realidades possíveis.

Há uma diferença entre encarar o passado como o progenitor de um único futuro, e admitir que o mesmo passado pode gerar diversas possibilidades para o futuro... será o mesmo que admitir que o passado coloca diversos ovos, e que somos nós que decidimos em que universo, em que ovo, vamos parar, determinando isso pelas nossas acções, pelas nossas escolhas.

Finalmente, apesar da cobra ser um tetrapode, a sua evolução singular suprimiu a manifestação das quatro patas, tornando-a praticamente numa manifestação de um grande e flexível tubo digestivo.
Este aspecto é particularmente interessante, porque o tubo digestivo é o principal aspecto comum a todos os animais.
Ao contrário das plantas, os animais desenvolveram-se em torno do tubo digestivo, que processava uma alimentação baseada na interacção com a realidade exterior.
A alimentação passou ainda do sabor ao saber (palavras com raiz similar), no sentido em que os animais definiram-se não apenas pela matéria que processavam, mas também pela informação que passou a ser a ser processada no cérebro. E o circuito de memória, que privilegia umas informações em detrimento de outras, que despreza ou ignora, é especialmente tido como analogia digestiva.

Cobra e Cobre
Convém ainda mencionar a Cobra de Cobre, Nehustan, associada a Moisés, e que fez parte do culto hebraico, tendo depois sido banida, como todos os cultos secundários, num purismo monoteísta.
As palavras cobra e cobre não serão semelhantes por mera coincidência.
O problema do Cobre foi o des-Cobre... o descobrir dos metais.
Os metais foram mortais no desequilíbrio de forças.
Até ao aparecimento do cobre, a arma mais mortífera seria provavelmente a utilização de setas envenenadas, por exemplo, com veneno de cobra. Para uma elite com acesso a protecção metálica, essas setas nunca conseguiriam perfurar a armadura, e isso causaria uma enorme diferença de vulnerabilidade, entre quem tinha acesso a metal e quem não tinha... 
Afinal cobrir-se com escudos ou armaduras de cobre, tornaria os seus detentores autênticos deuses, invulneráveis a investidas das populações mais selvagens.
A descoberta dos metais pode ter ocorrido fora do contexto dominante, face a civilizações que usariam preferencialmente matérias clássicas - madeira e pedra, e poderá ter levado a profundas mudanças estruturais na organização social em todo o mundo.
A ilha do Chipre ficou definitivamente associada pelo seu nome (Cúpros) ao "cobre", e foi também a ilha onde Vénus terá saído da sua concha, a partir das ondas formadas pelo corte genital de Urano.

Há ainda diversas outras associações, nomeadamente com a própria evocação da serpente na Bíblia, enquanto reveladora de um conhecimento proibido... mas aí não tanto por cobres, massas ou maças, mas sim pela simples maçã proibida. Em todo o caso, parece claro que a cobra foi um animal venerado e associado numa religião mais antiga, que depois caiu em desuso, quando a sociedade se mudou ao entrar na Idade do Cobre.

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(continuação)
Na sequência do texto anterior, há múltiplos aspectos por onde se pode seguir, e sob pena de não cobrindo todos, não cobrir nenhum, deixo algumas ligações, umas com mais interesse e relevância que outras.

Cocatrice e Serpe
A Coca aparece ainda ligada a uma figura heráldica, semelhante a um Basilisco (de que já falámos), chamada Cocatrice, que tem uma cabeça de galo, e aqui convém lembrar as palavras Cock (inglês) e Coq (francês), bem como a designação popular "Cocó", para um galo pequeno. Aliás, de certa forma a onomatopeia "cocóró" reflecte talvez a origem do termo.
A Cocatrice sendo um animal fantástico alado, prolonga-se com cauda de cobra, é ainda identificada a um tipo de dragão ou quimera, tendo a mesma faculdade do basilisco - um olhar petrificador.
Cocatrice
De igual forma, com aspecto muito semelhante, considera-se a Serpe, que é igualmente uma espécie de dragão alado com duas patas, e que é considerada na heráldica da vila de Serpa. O nome em inglês "wyvern" é ligado à origem latina de viper, ou seja, víbora.

Sefes
Na descrição do poema de Avieno, onde se fala de Ofiússa, são nomeados os povos Sefes e Dragani, prestados ao culto de serpentes ou dragões, que teriam expulsado os Oestrimínios.
O nome Ofiússa vem da designação grega para cobra que era ofio, e tal como ainda hoje usamos o termo serpentina para uma forma enrolada (como nas serpentinas carnavalescas), relacionar ofio com "o fio", ou seja com um fio, um filamento alongado, parece igualmente ajustar-se ao aspecto de uma cobra.

Povos ibéricos, na descrição de Avieno
Ainda a designação de Dragani ocorre-nos uma possível alteração para Bragani... ou seja, uma eventual ligação ao nome da cidade de Braga, pois a diferença entre Draga e Braga é razoavelmente pequena.
Mas talvez mais interessante será considerar uma eventual ligação dos Sefes (ou Saefes) à palavra "sefardita" usada para designar os judeus ibéricos. Isto porque já mencionámos há uns anos como o tetragrama judaico YHVH se poderia ligar à palavra JEFE, ou chefe... e há aí uma certa proximidade à designação Sefe. Acresce que o prefixo cefe pode ser remetido à chefia, à cabeça, pela palavra grega cefalo.

Ofiúco, Hermes e Pítia
Cefeu é uma das várias constelações, associada ao mito de Andrómeda e Cassiopeia, respectivamente filha e mulher desse lendário rei da Etiópia. Para além destas três constelações, outras duas são Perseu e Pégaso, o herói e o seu cavalo alado, que salvam Andrómeda, do monstro marinho Cetus, outra constelação também chamada Baleia.
Perseu usa a cabeça da Medusa para petrificar o monstro, copiando assim a ideia do poder do Basilisco, ou Cocatrice. Ao lado da constelação de Cefeu, encontra-se Dragão e depois Hércules, Serpente e Ofiúco. A constelação de Ofiúco corta a constelação de Serpente em duas partes - a cabeça e a cauda. Sendo contígua a Sagitário, tem sido apontada como candidata a 13º signo zodiacal, dada a deslocação da eclíptica.
Ofiúco esteve associada à medicina, justamente por essa ligação à serpente, lembrando que também o bastão de Asclépio, símbolo médico, é um bastão com uma serpente enrolada. Este símbolo tem sido apontado como resultante do tratamento da Dracunculiase, a infecção pelo verme-da-Guiné, um tratamento milenar, conhecido dos egípcios, em que o verme é retirado do paciente, enrolando-se num pequeno pau.
História diferente, ainda que sejam confundidas, tem o caduceu, bastão de Hermes, onde duas serpentes se enrolam em oposição uma à outra. É entendido que este bastão teria sido colocado entre duas cobras em competição, levando a que ambas se enrolassem, ficando presas ao bastão...
Nesse sentido, seria entendido como um símbolo de paz.
A associação das serpentes a Hermes é remetida por via de Apolo, no culto de Delfos, onde a Pítia (ou melhor, Pútia) celebrava a morte da cobra Pitão pelo deus-sol. Isso também estava associado a um mito de criação mais antigo, de Orfeu, relacionado com o "ovo cósmico".
Curiosamente, é na constelação de Serpente, na Nebulosa da Águia, que estão os famosos Pilares da Criação.

Ovo cósmico
Uma representação deste mito é a de uma cobra que envolve um ovo, o ovo universal. Pelo lado grego, encontra-se assinalado na tradição de Orfeu, mas o mito está espalhado em partes tão distintas, que vão da Polinésia ao Egipto, passando pela China e Índia.

Poderá ter havido várias razões para optar pela cobra como animal simbólico deste mito.
Por exemplo, é referida a característica das cobras mudarem de pele, o que simbolizaria uma eterna renovação, onde o substituir duma pele antiga por uma nova, não alterava o ser portador... permitiria aliás um rejuvenescimento.
O simbolismo do ovo como origem de toda uma estrutura seria particularmente visível nos répteis e nas aves, e dessa forma seria bem ajustado a qualquer mito de criação.

Mas há uma diferença... Entre as aves os progenitores acompanham a saída do ovo, têm que chocá-lo, não o podem abandonar os filhos ao seu destino individual.
É diferente com os répteis, o réptil nasce para o mundo isoladamente, normalmente sem reconhecer quaisquer progenitores, e esse também será o caso da maioria das cobras.
Portanto, o mito de uma divindade auto-gerada, sem conhecer antecessores, pode ser tipicamente associado à figuração do nascimento de um réptil, como uma cobra.

Por outro lado, a ideia da incubação de diversos universos, como ovos, isolados entre si até à eclosão, também se adapta bem a algumas concepções metafísicas, que não entendiam o universo como único, mas apenas como uma manifestação de várias realidades possíveis.

Há uma diferença entre encarar o passado como o progenitor de um único futuro, e admitir que o mesmo passado pode gerar diversas possibilidades para o futuro... será o mesmo que admitir que o passado coloca diversos ovos, e que somos nós que decidimos em que universo, em que ovo, vamos parar, determinando isso pelas nossas acções, pelas nossas escolhas.

Finalmente, apesar da cobra ser um tetrapode, a sua evolução singular suprimiu a manifestação das quatro patas, tornando-a praticamente numa manifestação de um grande e flexível tubo digestivo.
Este aspecto é particularmente interessante, porque o tubo digestivo é o principal aspecto comum a todos os animais.
Ao contrário das plantas, os animais desenvolveram-se em torno do tubo digestivo, que processava uma alimentação baseada na interacção com a realidade exterior.
A alimentação passou ainda do sabor ao saber (palavras com raiz similar), no sentido em que os animais definiram-se não apenas pela matéria que processavam, mas também pela informação que passou a ser a ser processada no cérebro. E o circuito de memória, que privilegia umas informações em detrimento de outras, que despreza ou ignora, é especialmente tido como analogia digestiva.

Cobra e Cobre
Convém ainda mencionar a Cobra de Cobre, Nehustan, associada a Moisés, e que fez parte do culto hebraico, tendo depois sido banida, como todos os cultos secundários, num purismo monoteísta.
As palavras cobra e cobre não serão semelhantes por mera coincidência.
O problema do Cobre foi o des-Cobre... o descobrir dos metais.
Os metais foram mortais no desequilíbrio de forças.
Até ao aparecimento do cobre, a arma mais mortífera seria provavelmente a utilização de setas envenenadas, por exemplo, com veneno de cobra. Para uma elite com acesso a protecção metálica, essas setas nunca conseguiriam perfurar a armadura, e isso causaria uma enorme diferença de vulnerabilidade, entre quem tinha acesso a metal e quem não tinha... 
Afinal cobrir-se com escudos ou armaduras de cobre, tornaria os seus detentores autênticos deuses, invulneráveis a investidas das populações mais selvagens.
A descoberta dos metais pode ter ocorrido fora do contexto dominante, face a civilizações que usariam preferencialmente matérias clássicas - madeira e pedra, e poderá ter levado a profundas mudanças estruturais na organização social em todo o mundo.
A ilha do Chipre ficou definitivamente associada pelo seu nome (Cúpros) ao "cobre", e foi também a ilha onde Vénus terá saído da sua concha, a partir das ondas formadas pelo corte genital de Urano.

Há ainda diversas outras associações, nomeadamente com a própria evocação da serpente na Bíblia, enquanto reveladora de um conhecimento proibido... mas aí não tanto por cobres, massas ou maças, mas sim pela simples maçã proibida. Em todo o caso, parece claro que a cobra foi um animal venerado e associado numa religião mais antiga, que depois caiu em desuso, quando a sociedade se mudou ao entrar na Idade do Cobre.

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Coca é um nome que faz parte do folclore português e pode ser representada como Dragão, em luta contra São Jorge. Essa tradição parece estar ainda bem presente no rio Minho, quer em Monção, do lado português, quer em Santa Tecla, do lado galego.
Festa da Coca - Dragão contra São Jorge, em Monção (img)
Sendo o nome desse dragão "Coca", se falei na Cola do Dragão, enquanto Draco Cola, ou mesmo Dracola, seria uma falha imperdoável não ter associado directamente o Dragão à Coca, em suma 
o Estreito de Magalhães à Coca Cola...
Na nomenclatura tradicional, um Dragão é a Coca.
Assim, a Cola do Dragão seria Cola da Coca... ou Coca Cola.
Bom, é verdade que o assunto da Cola do Dragão, segundo o mapa de que falava António Galvão, dado pelo Infante D. Pedro ao irmão Infante D. Henrique, tomou aqui um espaço especial, por se tratar de uma localização do Estreito de Magalhães, antecipada de um século... ou mais!
Referimos que "cola" tinha aqui o significado hispânico de "cauda", ou conforme escrevi há mais de 5 anos:
A referência ao nome Cola do Dragão, em mapas antigos, onde também aparecia muitas vezes a eclíptica (como é o caso da esfera armilar adoptada no final do séc. XV), onde a Cauda Draconis  representava o Sul (e a Caput Draconis  , o Norte), pode ainda ser uma justificação adicional para o nome visto nesse mapa antigo que o Infante D. Pedro teria oferecido ao irmão, Infante D. Henrique.
Ainda no blog Odemaia, quis juntar o assunto à marca "Coca-Cola" por duas vezes (aqui e aqui)... mas convenhamos, foi uma associação sem efectiva ligação directa.
Como tantas vezes vemos fazer, seria fácil dizer agora, a posteriori, que esta ligação da Coca, ao nome de Dragão, sempre a tive presente... simplesmente não a tinha escrito. Mas isso não foi verdade, tanto quanto me lembro... e as menções à Coca-Cola sem o referir, apenas acentuam que procurei uma ligação, mas simplesmente não a vi! Simplesmente não dei especial atenção a esse mito da Coca, o que certamente não aconteceria se tivesse nascido em Monção.

Assim, foi apenas agora que liguei os dois pontos, a propósito de um comentário de Fernanda Durão, que remetia para o seu site:
http://www.sintraserpente.com/

que trata do mito de Ofiússa, Terra de Serpentes, relatada no poema romano Ora Maritima de Avieno (Séc. IV), uma terra que se situaria acima do estuário do Sado.

Citando Fernanda Durão, sobre o Culto da Serpente:
Rufio Festo Avieno informa que os Oestremínios, isto é, os antigos habitantes do extremo ocidente da Península Ibérica, terão sido expulsos do seu território pelos Saefes e pelos Draganos, povos conhecidos pelo "adoradores de serpentes", os quais deixaram marcas em Portugal e na Galiza que continuam a ser visíveis e palpáveis.
(...)
No Alentejo, o famoso Castro da Cola está situado sobre um monte com a forma de uma serpente que entra pelo Rio Mira, como uma península. Do mesmo modo em Monção, onde ainda se vêem os restos de um geoglifo com a forma de um enorme lagarto inscrito ao longo da margem sul do Rio Minho, ainda hoje se comemora a antiquíssima Festa da Coca, um enorme dragão que, na sua luta eterna contra S. Jorge, sem a orelha, perde a força...
Portanto, ainda que considere que uma boa parte das associações de "geoglifos" possam ser associadas a uma disposição para as ver (fenómeno que é desigando como "Pareidolia"), acaba por ser interessante também a autora ter ido cair no Castro da Cola. Eu sigo mais "a orelha", e foi pelo som da Cola, e do Colo, que ali caí. Bom, e não foi preciso "estar à coca", para a Coca aparecer assim na conversa. E já há muito que entendi que não é uma questão de procurar, é muito mais uma questão de estar disposto a encontrar, ou a não ignorar.

Coca e Coco
O artigo da Wikipedia sobre a Coca está bastante instrutivo sobre este aspecto, e praticamente limito-me a resumi-lo. O artigo cita João de Barros (Década Terceira, Livro III, pág. 309)
Esta casca por onde aquele pomo recebe o nutrimento vegetal, que é pelo pé, tem uma maneira aguda, que quer semelhar o nariz posto entre dois olhos redondos, por onde ele lança os grelos, quando quer nascer: por razão da qual figura, sem ser figura, os nossos lhe chamaram coco, nome imposto pelas mulheres a qualquer cousa, com que querem fazer medo às crianças, o qual nome assim lhe ficou, que ninguém lhe sabe outro
para explicar afinal como o nome do fruto "coco" resultava desta tradição da coca e do coco. 
Acresce que o se remetia isso a uma tradição celta-ibera, de suscitar medo, colocando as cabeças dos inimigos espetadas em lanças. Menos agreste, seria o medo era incutido às crianças com abóboras esculpidas como caveiras, que eram (e são) chamadas "cocas". 
Coco - cabeça galaico-lusitana. O fruto Coco. Abóbora em forma de Coca.
Portanto, quando parece que estamos a importar uma tradição americana do Halloween, isso poderá reportar-se a uma tradição ibérica bem mais antiga, ou pelo menos é isso que defende o galego Rafael Loureiro, acerca da festa do Samain na época de Todos-os-Santos. A descrição de João de Barros sobre o "coco" concorda perfeitamente com essa tese.

Assim, a designação Coca Cola pode ser vista como oposição entre Cabeça (coca) e Cauda (cola). Uma oposição, ou então uma junção... se atendermos à representação da Ordem do Dragão
Símbolo da Ordem do Dragão 
(continua)

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publicado às 06:54

Coca é um nome que faz parte do folclore português e pode ser representada como Dragão, em luta contra São Jorge. Essa tradição parece estar ainda bem presente no rio Minho, quer em Monção, do lado português, quer em Santa Tecla, do lado galego.
Festa da Coca - Dragão contra São Jorge, em Monção (img)
Sendo o nome desse dragão "Coca", se falei na Cola do Dragão, enquanto Draco Cola, ou mesmo Dracola, seria uma falha imperdoável não ter associado directamente o Dragão à Coca, em suma 
o Estreito de Magalhães à Coca Cola...
Na nomenclatura tradicional, um Dragão é a Coca.
Assim, a Cola do Dragão seria Cola da Coca... ou Coca Cola.
Bom, é verdade que o assunto da Cola do Dragão, segundo o mapa de que falava António Galvão, dado pelo Infante D. Pedro ao irmão Infante D. Henrique, tomou aqui um espaço especial, por se tratar de uma localização do Estreito de Magalhães, antecipada de um século... ou mais!
Referimos que "cola" tinha aqui o significado hispânico de "cauda", ou conforme escrevi há mais de 5 anos:
A referência ao nome Cola do Dragão, em mapas antigos, onde também aparecia muitas vezes a eclíptica (como é o caso da esfera armilar adoptada no final do séc. XV), onde a Cauda Draconis  representava o Sul (e a Caput Draconis  , o Norte), pode ainda ser uma justificação adicional para o nome visto nesse mapa antigo que o Infante D. Pedro teria oferecido ao irmão, Infante D. Henrique.
Ainda no blog Odemaia, quis juntar o assunto à marca "Coca-Cola" por duas vezes (aqui e aqui)... mas convenhamos, foi uma associação sem efectiva ligação directa.
Como tantas vezes vemos fazer, seria fácil dizer agora, a posteriori, que esta ligação da Coca, ao nome de Dragão, sempre a tive presente... simplesmente não a tinha escrito. Mas isso não foi verdade, tanto quanto me lembro... e as menções à Coca-Cola sem o referir, apenas acentuam que procurei uma ligação, mas simplesmente não a vi! Simplesmente não dei especial atenção a esse mito da Coca, o que certamente não aconteceria se tivesse nascido em Monção.

Assim, foi apenas agora que liguei os dois pontos, a propósito de um comentário de Fernanda Durão, que remetia para o seu site:
http://www.sintraserpente.com/

que trata do mito de Ofiússa, Terra de Serpentes, relatada no poema romano Ora Maritima de Avieno (Séc. IV), uma terra que se situaria acima do estuário do Sado.

Citando Fernanda Durão, sobre o Culto da Serpente:
Rufio Festo Avieno informa que os Oestremínios, isto é, os antigos habitantes do extremo ocidente da Península Ibérica, terão sido expulsos do seu território pelos Saefes e pelos Draganos, povos conhecidos pelo "adoradores de serpentes", os quais deixaram marcas em Portugal e na Galiza que continuam a ser visíveis e palpáveis.
(...)
No Alentejo, o famoso Castro da Cola está situado sobre um monte com a forma de uma serpente que entra pelo Rio Mira, como uma península. Do mesmo modo em Monção, onde ainda se vêem os restos de um geoglifo com a forma de um enorme lagarto inscrito ao longo da margem sul do Rio Minho, ainda hoje se comemora a antiquíssima Festa da Coca, um enorme dragão que, na sua luta eterna contra S. Jorge, sem a orelha, perde a força...
Portanto, ainda que considere que uma boa parte das associações de "geoglifos" possam ser associadas a uma disposição para as ver (fenómeno que é desigando como "Pareidolia"), acaba por ser interessante também a autora ter ido cair no Castro da Cola. Eu sigo mais "a orelha", e foi pelo som da Cola, e do Colo, que ali caí. Bom, e não foi preciso "estar à coca", para a Coca aparecer assim na conversa. E já há muito que entendi que não é uma questão de procurar, é muito mais uma questão de estar disposto a encontrar, ou a não ignorar.

Coca e Coco
O artigo da Wikipedia sobre a Coca está bastante instrutivo sobre este aspecto, e praticamente limito-me a resumi-lo. O artigo cita João de Barros (Década Terceira, Livro III, pág. 309)
Esta casca por onde aquele pomo recebe o nutrimento vegetal, que é pelo pé, tem uma maneira aguda, que quer semelhar o nariz posto entre dois olhos redondos, por onde ele lança os grelos, quando quer nascer: por razão da qual figura, sem ser figura, os nossos lhe chamaram coco, nome imposto pelas mulheres a qualquer cousa, com que querem fazer medo às crianças, o qual nome assim lhe ficou, que ninguém lhe sabe outro
para explicar afinal como o nome do fruto "coco" resultava desta tradição da coca e do coco. 
Acresce que o se remetia isso a uma tradição celta-ibera, de suscitar medo, colocando as cabeças dos inimigos espetadas em lanças. Menos agreste, seria o medo era incutido às crianças com abóboras esculpidas como caveiras, que eram (e são) chamadas "cocas". 
Coco - cabeça galaico-lusitana. O fruto Coco. Abóbora em forma de Coca.
Portanto, quando parece que estamos a importar uma tradição americana do Halloween, isso poderá reportar-se a uma tradição ibérica bem mais antiga, ou pelo menos é isso que defende o galego Rafael Loureiro, acerca da festa do Samain na época de Todos-os-Santos. A descrição de João de Barros sobre o "coco" concorda perfeitamente com essa tese.

Assim, a designação Coca Cola pode ser vista como oposição entre Cabeça (coca) e Cauda (cola). Uma oposição, ou então uma junção... se atendermos à representação da Ordem do Dragão
Símbolo da Ordem do Dragão 
(continua)

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A forma como o regime irá encobrir a Salazar a sua demissão por Américo Tomás, é especialmente bem retratado numa entrevista que Roland Fauré, o director do jornal francês L'Aurore, caracterizava desta forma:
«Salazar dominava a actualidade política francesa. Sabia da substituição de Charles De Gaulle por Georges Pompidou [ocorrida em Abril desse ano]. Era bizarro: sabia tudo quanto se passara em França com De Gaulle e ignorava o que se passara consigo mesmo...»
Assim quando Fauré regressa a França, o jornal fará disso uma história sensacional - com o título "Salazar acredita que ainda governa Portugal":
L'Aurore - entrevista a Salazar depois da "queda da cadeira" (in Expresso)
Para conseguir a entrevista, segundo consta a única que Salazar deu, Fauré, admirador e amigo de Salazar, teve que solicitá-lo à guarda da reclusão, ou seja, a governanta Maria de Jesus.
A história parecia demasiado incrível, retirada de uma tragédia shakespeariana, ter um rei enclausurado no seu castelo, tendo a ilusão de que ainda reinava, e Fauré decidiu investigar por si mesmo. A promessa que teve que fazer - não revelar a Salazar que já não era ele o Presidente do Conselho.
O Expresso publicou parte dessa entrevista de Roland Fauré, pela ocasião dos 40 anos da morte de Salazar:
» Durante a sua doença, até que ponto participou na direcção dos negócios do Estado?
»» Ainda não estou completamente restabelecido e a minha única e verdadeira preocupação é de conservar força suficiente para continuar a assumir as minhas funções.
» Recebe aqui os ministros do Governo? (Sem hesitação, o doutor Salazar responde:)
»» Sim, aqui mesmo, é mais agradável neste jardim que dentro de casa.
» Todos os ministros vêm aqui prestar conta do respectivo departamento?
»» Sim.
» E dá-lhes directivas?
»» Eu não imponho as decisões. Elas são tomadas colectivamente pelo Conselho de Ministros.
» Que se reúnem aqui?
»» Não, as decisões aqui esboçadas são tomadas oficialmente nos conselhos a que preside o Presidente da República no seu palácio.
» Mas todos os ministros do actual Governo foram escolhidos por si e têm a sua confiança?
»» Sim, evidentemente.
» E se algum deles não aplicasse a política por si definida, demitia-o e substituía-o por outro?
»» Pois claro (diz, com toda a naturalidade, com um gesto negligente da mão direita.)
(...) Eu sabia que só dispunha de mais três ou quatro minutos, o tempo para a governanta regressar do interior da casa, acompanhada de outros visitantes. Arrisquei então uma última questão: aquela que eu talvez não devesse colocar.
» Desde há algum tempo que se fala muito de um dos seus antigos ministros, Marcello Caetano. Que pensa dele? (Dez segundos de silêncio que me pareceram demasiado longos.) Depois, o doutor Salazar disse muito naturalmente:
»» Conheço bem Marcello Caetano. Foi várias vezes meu ministro e aprecio-o. Ele gosta do poder: não para retirar quaisquer benefícios pessoais ou para a família: é muito honesto. Mas gosta do poder pelo poder. Para ter a impressão exaltante de deixar a sua marca nos acontecimentos. É inteligente e tem autoridade, mas está errado em não querer trabalhar connosco no Governo. Porque, como sabe, ele não faz parte do Governo. Continua a ensinar Direito na Universidade e escreve-me às vezes, a dizer-me o que pensa das minhas iniciativas. Nem sempre as aprova - e tem a coragem de mo dizer. Admiro a sua coragem. Mas parece não compreender que, para agir com eficácia, para ter peso sobre os acontecimentos, é preciso estar no Governo.
» Mas diz-se que foi o senhor que não o quis mais como ministro...
»» Talvez, talvez...
Portanto, esta entrevista de Fauré, em 20 de Agosto de 1969, é o testemunho mais incrível do teatro em cena.
Salazar aparece como suficientemente lúcido para manter uma conversação sólida, e a pergunta que ficará é a de saber se o próprio tinha consciência de que tinha sido afastado. Afinal, com a assumpção de ignorância, ele acabava por obrigar a que os ministros continuassem a visitá-lo, a darem-lhe conta do que se passava, e a ouvirem a sua opinião sobre cada assunto.

Afinal, sejamos claros... o que tivemos aqui foi uma absoluta "teoria da conspiração".
O que tivemos aqui foi aquilo que é sistematicamente negado poder acontecer.
Ou seja, é negado sucessivamente que haja poderes de bastidores que, mantendo uma fachada de poder ao líder, tenham em funcionamento um governo completamente diferente, indiferente à sua opinião, condicionando a informação que chega a uns e a outros.

Só que a situação é sempre muito mais complicada do que aparenta ser.
Salazar, ao forçar a visita dos ministros, ainda que fosse no simples encenar da palhaçada, conseguia manter funções essenciais... de influência. Ou, conforme ele dizia - "eu não imponho decisões", as decisões eram ele "esboçadas" e tomadas "oficialmente no conselho" a que presidia Américo Tomás.
Mas afinal, não era sempre isso que acontecia? - Ele nunca poderia controlar por completo todas as decisões... qualquer líder é sempre limitado pelas informações a que tem acesso.

Se o sistema arranjara outro pé para aquela bota, o pé de Marcelo Caetano, a encenação forçava a que os ministros, afinal escolhidos por Salazar, não pudessem ser demitidos por Marcelo, enquanto durasse a encenação. Assim, quem aparecia afinal como figurante naquele teatro, no Verão de 1969?
Marcelo ou Salazar?
Consta que Marcelo tentou, mas pouco conseguia mudar o rumo político anterior.
Ainda que tivesse um novo pé, a bota tinha o número de Salazar. O sistema funcionara como uma bota que apenas calçara o seu pé, qual Cinderela eleita para se casar com um poder inerente à sociedade portuguesa. Para manter o pé, Marcelo teria que conformar a sua cabeça à medida do "Botas".

Marcelo ficaria furioso com esta entrevista de Salazar, e depois do afastamento de Franco Nogueira, e das eleições de Outubro 1969 (posteriores à entrevista), em Janeiro de 1970, Marcelo Caetano procederá a uma maior reformulação ministerial. Decidira calçar as suas próprias botas.
Se Salazar mantinha alguma lucidez, já não podia dizer "como sabe, ele não faz parte do governo". O sucessor estava finalmente encontrado, e aquele teatro já seria muito mais difícil de manter. Nos seis meses seguintes o estado de saúde de Salazar vai agravar-se sucessivamente até à sua morte em 27 de Julho de 1970. A conta apresentada pelo Hospital da CUF, envolvendo um total de 43 médicos, e a visita de especialistas americanos, foi considerada exorbitante. O sistema arrumava o "Botas".

Na perspectiva da "teoria da conspiração" vigente, Salazar terá sido enganado por todos. Pelos mais próximos, com o pretexto da "verdade poder afectar a sua saúde", e pelo sistema que aceitara Caetano como sucessor. Se todos os fiéis, desde a governanta Maria de Jesus, ao Cardeal Cerejeira, e tantos outros, aceitaram sem pestanejar esta decisão, parece inverosímil, ainda que sejam bem conhecidos casos em que as famílias decidem enganar, pensando no "melhor" para o enganado. Talvez muito mais natural é que Salazar desviasse o assunto, sempre que lhe pretendiam dar a entender a realidade, preferindo assim a situação de afastamento, com influência, conforme descrevera a Roland Fauré.
Depois, quando ficou definitivamente afastado, já lhe seria indiferente o resultado, dada a sua clara impotência para influir nas decisões, e terá esperado pelo fim, mais ou menos apressado pelas circunstâncias da doença.

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publicado às 07:59

A forma como o regime irá encobrir a Salazar a sua demissão por Américo Tomás, é especialmente bem retratado numa entrevista que Roland Fauré, o director do jornal francês L'Aurore, caracterizava desta forma:
«Salazar dominava a actualidade política francesa. Sabia da substituição de Charles De Gaulle por Georges Pompidou [ocorrida em Abril desse ano]. Era bizarro: sabia tudo quanto se passara em França com De Gaulle e ignorava o que se passara consigo mesmo...»
Assim quando Fauré regressa a França, o jornal fará disso uma história sensacional - com o título "Salazar acredita que ainda governa Portugal":
L'Aurore - entrevista a Salazar depois da "queda da cadeira" (in Expresso)
Para conseguir a entrevista, segundo consta a única que Salazar deu, Fauré, admirador e amigo de Salazar, teve que solicitá-lo à guarda da reclusão, ou seja, a governanta Maria de Jesus.
A história parecia demasiado incrível, retirada de uma tragédia shakespeariana, ter um rei enclausurado no seu castelo, tendo a ilusão de que ainda reinava, e Fauré decidiu investigar por si mesmo. A promessa que teve que fazer - não revelar a Salazar que já não era ele o Presidente do Conselho.
O Expresso publicou parte dessa entrevista de Roland Fauré, pela ocasião dos 40 anos da morte de Salazar:
» Durante a sua doença, até que ponto participou na direcção dos negócios do Estado?
»» Ainda não estou completamente restabelecido e a minha única e verdadeira preocupação é de conservar força suficiente para continuar a assumir as minhas funções.
» Recebe aqui os ministros do Governo? (Sem hesitação, o doutor Salazar responde:)
»» Sim, aqui mesmo, é mais agradável neste jardim que dentro de casa.
» Todos os ministros vêm aqui prestar conta do respectivo departamento?
»» Sim.
» E dá-lhes directivas?
»» Eu não imponho as decisões. Elas são tomadas colectivamente pelo Conselho de Ministros.
» Que se reúnem aqui?
»» Não, as decisões aqui esboçadas são tomadas oficialmente nos conselhos a que preside o Presidente da República no seu palácio.
» Mas todos os ministros do actual Governo foram escolhidos por si e têm a sua confiança?
»» Sim, evidentemente.
» E se algum deles não aplicasse a política por si definida, demitia-o e substituía-o por outro?
»» Pois claro (diz, com toda a naturalidade, com um gesto negligente da mão direita.)
(...) Eu sabia que só dispunha de mais três ou quatro minutos, o tempo para a governanta regressar do interior da casa, acompanhada de outros visitantes. Arrisquei então uma última questão: aquela que eu talvez não devesse colocar.
» Desde há algum tempo que se fala muito de um dos seus antigos ministros, Marcello Caetano. Que pensa dele? (Dez segundos de silêncio que me pareceram demasiado longos.) Depois, o doutor Salazar disse muito naturalmente:
»» Conheço bem Marcello Caetano. Foi várias vezes meu ministro e aprecio-o. Ele gosta do poder: não para retirar quaisquer benefícios pessoais ou para a família: é muito honesto. Mas gosta do poder pelo poder. Para ter a impressão exaltante de deixar a sua marca nos acontecimentos. É inteligente e tem autoridade, mas está errado em não querer trabalhar connosco no Governo. Porque, como sabe, ele não faz parte do Governo. Continua a ensinar Direito na Universidade e escreve-me às vezes, a dizer-me o que pensa das minhas iniciativas. Nem sempre as aprova - e tem a coragem de mo dizer. Admiro a sua coragem. Mas parece não compreender que, para agir com eficácia, para ter peso sobre os acontecimentos, é preciso estar no Governo.
» Mas diz-se que foi o senhor que não o quis mais como ministro...
»» Talvez, talvez...
Portanto, esta entrevista de Fauré, em 20 de Agosto de 1969, é o testemunho mais incrível do teatro em cena.
Salazar aparece como suficientemente lúcido para manter uma conversação sólida, e a pergunta que ficará é a de saber se o próprio tinha consciência de que tinha sido afastado. Afinal, com a assumpção de ignorância, ele acabava por obrigar a que os ministros continuassem a visitá-lo, a darem-lhe conta do que se passava, e a ouvirem a sua opinião sobre cada assunto.

Afinal, sejamos claros... o que tivemos aqui foi uma absoluta "teoria da conspiração".
O que tivemos aqui foi aquilo que é sistematicamente negado poder acontecer.
Ou seja, é negado sucessivamente que haja poderes de bastidores que, mantendo uma fachada de poder ao líder, tenham em funcionamento um governo completamente diferente, indiferente à sua opinião, condicionando a informação que chega a uns e a outros.

Só que a situação é sempre muito mais complicada do que aparenta ser.
Salazar, ao forçar a visita dos ministros, ainda que fosse no simples encenar da palhaçada, conseguia manter funções essenciais... de influência. Ou, conforme ele dizia - "eu não imponho decisões", as decisões eram ele "esboçadas" e tomadas "oficialmente no conselho" a que presidia Américo Tomás.
Mas afinal, não era sempre isso que acontecia? - Ele nunca poderia controlar por completo todas as decisões... qualquer líder é sempre limitado pelas informações a que tem acesso.

Se o sistema arranjara outro pé para aquela bota, o pé de Marcelo Caetano, a encenação forçava a que os ministros, afinal escolhidos por Salazar, não pudessem ser demitidos por Marcelo, enquanto durasse a encenação. Assim, quem aparecia afinal como figurante naquele teatro, no Verão de 1969?
Marcelo ou Salazar?
Consta que Marcelo tentou, mas pouco conseguia mudar o rumo político anterior.
Ainda que tivesse um novo pé, a bota tinha o número de Salazar. O sistema funcionara como uma bota que apenas calçara o seu pé, qual Cinderela eleita para se casar com um poder inerente à sociedade portuguesa. Para manter o pé, Marcelo teria que conformar a sua cabeça à medida do "Botas".

Marcelo ficaria furioso com esta entrevista de Salazar, e depois do afastamento de Franco Nogueira, e das eleições de Outubro 1969 (posteriores à entrevista), em Janeiro de 1970, Marcelo Caetano procederá a uma maior reformulação ministerial. Decidira calçar as suas próprias botas.
Se Salazar mantinha alguma lucidez, já não podia dizer "como sabe, ele não faz parte do governo". O sucessor estava finalmente encontrado, e aquele teatro já seria muito mais difícil de manter. Nos seis meses seguintes o estado de saúde de Salazar vai agravar-se sucessivamente até à sua morte em 27 de Julho de 1970. A conta apresentada pelo Hospital da CUF, envolvendo um total de 43 médicos, e a visita de especialistas americanos, foi considerada exorbitante. O sistema arrumava o "Botas".

Na perspectiva da "teoria da conspiração" vigente, Salazar terá sido enganado por todos. Pelos mais próximos, com o pretexto da "verdade poder afectar a sua saúde", e pelo sistema que aceitara Caetano como sucessor. Se todos os fiéis, desde a governanta Maria de Jesus, ao Cardeal Cerejeira, e tantos outros, aceitaram sem pestanejar esta decisão, parece inverosímil, ainda que sejam bem conhecidos casos em que as famílias decidem enganar, pensando no "melhor" para o enganado. Talvez muito mais natural é que Salazar desviasse o assunto, sempre que lhe pretendiam dar a entender a realidade, preferindo assim a situação de afastamento, com influência, conforme descrevera a Roland Fauré.
Depois, quando ficou definitivamente afastado, já lhe seria indiferente o resultado, dada a sua clara impotência para influir nas decisões, e terá esperado pelo fim, mais ou menos apressado pelas circunstâncias da doença.

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