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O brasão e o braseiro - a brasa e a braça
Ainda que a etimologia seja uma espécie de "ciência oculta", remetida a diversos segredos e especulações convenientes, é um bom exercício remeter as palavras às suas sílabas.
Protesto contra ferrar animais.
Neste caso, é interessante especular sobre a semelhança dos termos "brasa" e "braça".
A conjectura é simples... as palavras podem ser semelhantes, porque referiam colocar uma brasa num braço. Recentemente, em protestos contra marcar os animais com brasas, houve activistas que aceitaram ser marcados no braço com uma brasa. 
Um brasão diferente, mas igual noutro sentido... os escravos, na Antiguidade, e na Idade Moderna, eram muitas vezes marcados com ferros em brasa, especialmente em caso de fuga. Um local de fácil observação, menos escondido por roupa, seria justamente o braço.
Por coincidência, em inglês, "arm" tanto significa arma como braço. A derivação enquanto arma é latina, e enquanto braço será germânica. Curiosamente, brasão diz-se "coat of arms", e essa cota de armas também pode ser entendida como uma "malha no braço", uma espécie de insígnia, que de ser marca de escravos, passou a ostentação militar ou burguesa. A semelhança inglesa entre braço e arma faz ainda sentido, já que os braços foram uma primeira arma.

De forma genérica a sílaba "bra" remete ao braço, sendo claro que esta suposição parece ligeira, e mais, é gratuita. Porém vendo palavras como "dobra", notamos que o dobrar é típico do braço; e a própria "quebra" ocorre como um dobrar do braço. Tal como a primeira "obra" terá remetido para trabalho braçal; ou ainda "abra", se entendermos que um "abraço" começa por um abrir de braços.  Depois podemos até entender que "bradar" não seria mais do que "dar aos braços", ou que "vibrar" seria um "vi braço" - a acenar, a mexer. Poderíamos ir até à "cobra" na forma e flexibilidade do braço, ou num braço que cobre, mas dificilmente chegaríamos a conexão com "cabra". No entanto, apesar de parecer mais um exercício de imaginação, não é difícil imaginar que "bravo" seria o que avançava, confiante nos seus braços.

Feita esta pequena introdução, continuamos com os brasões de mais três vilas:
- Alenquer, Almada e Almeida.
Nalguns casos já vimos estas vilas serem mencionadas por João de Barros, mas aqui iremos concentrar-nos no que Vilhena Barbosa diz no seu livro.

Antes de especificar cada vila, notamos que o antigo brasão é diferente nestes três casos, também no que diz respeito ao nicho superior. Nos três brasões das vilas anteriores era sempre uma vieira que se enquadrava no nicho superior. Aqui isso só acontece com Alenquer, já que Almada tem uma coroa imperial fechada, e Almeida uma coroa real aberta... o que pode indiciar uma origem mais recente para ambas, que não é remetida à Antiguidade.

ALENQUER
Invocando uma lenda sobre D. Afonso Henriques e um cão de nome Alão... Vilhena Barbosa, diz que as armas da vila são "em campo de prata, um cão pardo preso a uma árvore com um grilhão de oiro".
Temos uma substancial mudança para o actual, onde o cão passou a negro, está em campo de ouro (amarelo), não há grilhão nem árvore, passando a haver um castelo azul. A página da Câmara de Alenquer explica o brasão actual de 1936, e menciona o de Vilhena Barbosa.
Acerca da toponímia, Vilhena Barbosa refere a ligação à romana Jerabriga, mencionada por João de Barros, e que o nome lhe poderia advir dos Alanos, enquanto Alan-Kerke, significando "templo dos alanos", ou dos Suevos, como Alankerkana
Como já aqui mencionei num comentário, gosto da possível ligação dos Alanos no nome Alancastro (castelo de Alanos), e também o Calisto fez referência aos Alanos nas tropas do rei Artur. Há ainda a referência ao cão Alano (alaunt), mesmo que Vilhena Barbosa diga que o símbolo alano seria um "gato" que, de ser toscamente representado, parecia um cão.

ALMADA
Aparentemente a origem de Almada é "recente", e Vilhena Barbosa diz: "não conserva esta povoação padrão algum da sua antiguidades, mais do que tradição e memórias. Do castelo que os ingleses aí levantaram no Séc. XII não restam vestígios." Quer no brasão antigo, quer no actual, um mesmo castelo, que invocará o edificado pelos cruzados ingleses que ajudaram D. Afonso Henriques.
Quanto ao topónimo, a origem seria "Al Maden", nome de uma povoação árabe arrasada na conquista cristã, nome que os ingleses aí estabelecidos teriam mantido, segundo Vilhena Barbosa.
Em Espanha há uma cidade de nome Almadén, que tem o nome resultante de "al ma'din" referindo a mina, a maior do mundo na produção de mercúrio líquido. O mercúrio tornou-se importante na extracção do ouro americano, formando amálgamas que permitiam retirar o metal da escória. Não sei se assim podemos falar num paralelo com Almada. Uma outra raiz, "al madina" (a cidade), de onde surge Almedina, ou Almadina, também se poderia ajustar ao topónimo.
Vilhena Barbosa refere um incidente notável, de Frei Luís de Sousa (Manuel de Sousa Coutinho), que teria incendiado a sua casa, para não servir de habitação aos governadores espanhóis que em 1599 pretendiam aí refugiar-se da peste que atingia Lisboa.
Refere ainda a "Torre Velha", uma fortaleza oposta à Torre de Belém, que funcionaria a par desta.
Torre Velha e Torre de Belém num mapa inglês de 1810.

ALMEIDA
As armas de Almeida são remetidas a D. Manuel, nomeadamente a sua esfera armilar. Vilhena Barbosa, diz: "As armas de Almeida são um escudo com as armas reais, sendo a coroa destas aberta, ao uso antigo, e ao lado a esfera armilar, divisa d'el rei D. Manuel, que foi quem lhe deu este brasão".
Actualmente no brasão consta apenas um castelo.



Duarte de Armas - Castelo de Almeida
Sobre a origem do nome, e conforme é dito na página camarária, a origem é provavelmente árabe. Vilhena Barbosa, ou Bernardo de Brito, falam em Talmeida ou Talmayda, como significando um hipódromo (Atmeidan), ou remete-se ainda para uma "mesa", lugar plano que estaria mais a norte, num certo vale de nome "Enxido da Carça".

D. Dinis teria deslocado a povoação com a construção do castelo (que depois desapareceu numa explosão do general Massena, em 1810), mas que podemos ver num esboço de Duarte de Armas, onde a esfera armilar está como estandarte numa das torres, e a cruz de cristo, noutra.
Barbosa refere ainda as fontes termais junto ao rio Côa, a Fonte Santa (que tem hoje um moderno equipamento termal).

______________________ 11/02/2018


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