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Sicano e Beltano

22.04.18
Aproxima-se o festival Beltano, no dia 1 de Maio, que tem longas tradições célticas, anunciando o estabelecimento da Primavera, ou melhor, do seu meio. Na Irlanda, em Gales, e noutras paragens com forte tradição celta recuperada, as comemorações são múltiplas, e incluem as fogueiras, que associamos mais à passagem ao Verão, na noite de S. João (ver o outro terço, tirso).
Fogueira em festival Beltane em Gales, 2015

A ligação é feita à divindade celta Belenos, associada ao Sol, e depois identificada a Apolo.
Há um festival seguinte, no Verão, dedicado a Lugh, outra divindade celta, que pode estar na origem do nome Lusitânia, e onde ainda falámos da sua ligação à peregrinação celta a Lugo, depois mais catolicamente transformada em peregrinação a Santiago.

Tal como falamos em Sicrano e Beltrano, remetemos então a Sicano.
Curiosamente, o Google inquiriu imediatamente se não procurava "cigano", o que me pareceu uma sugestão pertinente...

Sic Ano é nome de rei na mitologia da "Monarquia Lusitana", de Bernardo de Brito (e de muitos outros). Seguindo a sua lista de capítulos, lembramos:

Cap. 12: Do tempo em que Hércules reinou em Espanha, e dos favores que sempre fez aos Lusitanos.
Cap. 13: Do tempo em que na Espanha reinaram Hespero e Atlante Italo, das guerras que entre si tiveram, e da fundação de Roma, feita por gente Lusitana.
Cap. 14: Do tempo em que reinaram em Lusitania Sic Oro (Sicoro), filho de Atlante Italo, e seu neto Sic Ano (Sicano), com algumas coisas particulares, que em seu tempo sucederam.
Cap. 15: Do reino de Sic Celeo (Siceleu) e de Luso em Espanha, e de como esta parte Ocidental se começou a chamar Lusitania, como muitas outras particularidades acerca desta matéria.
Cap. 16: De como Sic Ulo (Siculo) começou a governar o reino de Lusitania, e das coisas que lhe sucederam, durando seu Império, dentro e fora de Espanha.

Os nomes Sicano, Siceleu, Siculo, remetem todos à Sicília.
Na realidade os Sicanos são entendidos como primeiros povoadores da Sicília, e a sua origem é ibérica. Também é considerado que esses Sicanos entraram na península itálica (ver p.ex. aqui), e instalaram-se na região da Lácio, podendo estar na origem de Roma. Claro que na Monarquia Lusitana, a coisa é ainda mais explícita, e a fundação de Roma é entendida mesmo como tendo origem Lusitana. Roma seria o nome da filha de Atlante Italo (nota: as páginas da Wikipedia sobre a Monarquia Lusitana foram escritas por mim, de forma que esta referência é circular).

O nome Fulano, sendo de origem árabe ("fulan" significa "alguém"), e sendo usado em Espanha mais frequentemente, passou a usar-se em Portugal, após o reinado dos Filipes (pelo menos não o encontrei em textos portugueses antes disso).
Assim, falar-se de Fulano, Sicrano e Beltrano, remete a três invasores da Península Ibérica - os mais recentes, os fulanos (de origem árabe), antes os sicanos (na origem romana), e ainda antes disso, os beltanos (na origem céltica francesa) - que repetiram depois a graça, com Napoleão.

Os territórios de influência céltica confundem-se com a distribuição genética do Haplogrupo R1b, talvez com excepção da zona basca... Apresenta-se um mapa interessante relacionando o R1b com a cultura "Bell Beaker" - vasos campaniformes:
Mapa em Eupedia (esquerda), e influência celta pré-romana (atingindo a Galatas Turca)

Há uma forte corrente sugerindo que a cultura Bell Beaker se difundiu a partir da Estremadura portuguesa... porque os registos mais antigos (c. 2800 a.C.) foram encontrados aí. Se tivesse sido na Extremadura espanhola, a teoria teria mais adeptos... assim, o mais habitual é ver esta teoria ser defendida por não-portugueses. É algo a que nos habituamos. Mas, como é hábito nos últimos séculos, mantêm-se ferozes críticas contra origens vindas da península ibérica, sendo claro que há tradições irlandeses e escocesas que remetem a sua origem a estas paragens.

O principal problema é que na península ibérica, restou pouco da tradição e língua celta... admitindo que a língua celta é o que é suposto ser, e não aquilo que foi. Na minha opinião, poderá ter havido uma movimentação celta, marítima, que partiu de Portugal para a Europa Ocidental, e que depois tomou formas diferentes, em cada local. Ao ponto de que os celtas franceses, que entraram na Ibéria há 2500 anos, com cultura Hallstatt, já tinham perdido a ligação original, e o mesmo teria acontecido com os sicanos da Lácio, de Roma. No entanto, em termos linguísticos, os romanos da Lácio poderiam ter algo em comum com os povos da Ibéria - a origem do latim e da língua romana.


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publicado às 07:12

Junto aqui um texto de David Jorge que me chegou por email há uns tempos, e que só agora tive oportunidade de partilhar, com a autorização do autor.

Começa com uma comunicação do Almirante Gago Coutinho, que tinha lido há 8 anos atrás, mas a que nunca fiz aqui referência. É claro que a projecção mediática de Gago Coutinho era muito grande na altura, tendo sido altamente propagandeada a sua travessia aérea do Atlântico Sul, mas também não foi por isso que as suas dúvidas sobre a prioridade das explorações portuguesas na América ficaram na história. 
Já muito antes, Faustino da Fonseca, em Portugal, e Garcia Redondo, no Brasil, tinham compilado uma quantidade enorme de informação, conforme relatei aqui:
https://alvor-silves.blogspot.pt/2012/12/a-mina-e-mejica.html

... e mais concretamente registam que os mapas de Andrea Bianco têm afirmada a existência das "Antilias" em 1436, e reafirma a existência do Brasil em 1448. No entanto, dão como primeira presença portuguesa nas Antilhas, a de Afonso Sanches (antes de 1483). Antes disso já teria existido a viagem de João Vaz Corte-Real, em 1472. 
Talvez ainda mais curiosa é a ligação de Martin Behaim a uma viagem de João Afonso do Estreito... cujo apelido "do Estreito" é suposto vir de uma aldeia madeirense. Viajou com Fernão Dulmo, na proposta de explorar a América a Ocidente, projecto financiado por D. João II... sim, o mesmo rei que recusou depois essa ideia original de Colombo!

Bom, interessa a passagem de Gago Coutinho que diz:
Como estes navegadores são em espírito açoreanos, deduz-se que era exactamente nos Açores onde a suspeita de terras de Oeste era mais forte, fundada naturalmente no facto de lá irem dar à costa frequentes vezes detritos vegetais, que a corrente do Gulf-Stream trazia do Golfo do México.
Esses detritos poderiam ser também canas do Canadá, ou por essa ponta segue o texto de David Jorge.

______________________________________________________________
______________________ David Jorge, email em 19 de Março de 2018 _____________________

Sobre Cortes Reais
Faço o meu comentário ao seu post recente "Teatro dos Descobrimentos (2)" pois tenho um anexo que ainda não coloquei na biblioteca, pois estou a criar uma apenas para monografias.

Numa tentativa de juntar um pouco mais de informação ao seu artigo, anexo um documento com o título:

Gaspar Côrte-Real - Comunicação lida na sessão comemorativa dos CÔRTE - REAES
em Julho de 1933, segundo seu autor o ALMIRANTE GAGO COUTINHO

Poderá ver aqui que Gago Coutinho estudou e apresentou uma tese com o ponto de vista de quem conhece o mar e os ventos para de que modo Gaspar ou Miguel terão chegado às costas norte americanas utilizando a volta do mar.

Todo o ensaio parece-me muitíssimo interessante, no entanto destacaria da página 16 adiante para entendermos melhor a sua conclusão.

Relativamente ao Canada
Antes de mais aviso, que este texto é de opinião e ainda não tem a justificação factual suficiente que o comprove na integra.
Quero explicar porque escrevo sempre Canada e nunca Canadá.
Não tem propriamente a ver com o inglesismo do termo mas sim com o que me parece a verdadeira origem da palavra.
(...) 
Posso afirmar, que conheço os nome de alguns dos grupos de povos das First Nations que habitariam o Nordeste da America do Norte por volta do século XVI, e que nunca em momento algum foi ou em qualquer das escolas que frequentei, ouvi falar ou estudei, que em tempos remotos existiu uma tribo de Canadaas ou de Kandaas. 

Dos grandes grupos de "First Peoples" do NordEste da América, por volta de 1500, fariam parte além dos Mi'kmacs (notar que o Nasi era Micas em Portugal) - que foram dizimados devido a uma mistura com os europeus de tal forma que hoje em dia pouco resta da sua cultura (e o que há é contado já depois da ocupação Inglesa), os Iroquois apoiantes ora de Ingleses ora dos Franceses, perduraram, os Algonquins que fugiram para o norte para sobreviver aos "invasores", e, no interior do Rio São Lourenço (notável ter o mesmo nome da ilha de Madagascar), onde hoje se encontra a província do Ontário, poder-se ia encontrar o grupo dos Hurons homenageados pelos Ingleses com o nome de um Lago.

O wikipedia lista as diversas tribos destes grandes grupos no seguinte link: 
https://en.wikipedia.org/wiki/Indigenous_peoples_of_the_Northeastern_Woodlands 
onde podemos verificar a total ausência dum Canadaas ou Kandaas ou algo a que se assemelhe a Canada.

Há no outro lado o atlântico um grupo cultural, os Haida, famosos pelos seus totens e reconhecimento por serem grandes navegadores do pacifico.

De entre os grupos nativos mais virados para o mar, os Haida além de pescadores exímios eram também excelentes na construção de embarcações e tal como os povos da Polinésia, também tinham o objectivo de colonizar ilhas, ocupando o grande arquipélago de ilhas da Colômbia Britânica quase a 80%.

A razão por lembrar os Haida ("povo" do mar) é porque existe um termo "Canuck", usado na costa oeste para descrever o "Canadiano Francês" ou o "Holandês Canadiano" pelos ingleses (agora "americanos"), e por se tratar de uma palavra que poderá ter ascendência nativa da palavra kanata (com tradução para vila ou abrigo). [segundo a wikipedia]

Assim os Kanucks, das kanatas, teriam (segundo também a wikipedia) "roubado" a expressão aos Havaianos onde Kanaka (significa o mesmo que kanata). 
Temos Kanakas no Havai, temos Kanatas na Costa Oeste do Canada e temos Kanataa como a razão pelo qual se chama Canadá ao Canada.


 
Típica casa Havaiana

Chegamos então ao Canada sem assento.
Nos açores, todos conhecem as canadas e o priberam descreve-as como:

1. Azinhaga, atalho.
2. Fila de estacas, através de um rio, para indicar o vau.
3. Sulco formado pelas rodas dos veículos.
4. Faixa de terreno baixo, mais ou menos em forma de canal.

"canada", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [consultado em 19-03-2018].

Como portugueses sabemos que as canadas servem para abrigar, além de delimitar, ou de encaminhar.

Seguem-se imagens das algumas reconstituições de aldeias e (paliçadas) dos povos das primeiras nações do Canada e dos EUA.


Forte Algonquin (Forte Inglês dos Algonguins)

Layout esquemático de como seria a aldeia Algonquin antes da colonização.

Layout de uma vila típica Huron ou Iroquois

Layout de uma Vila Huron ou Iroquois

Reconstituição de uma aldeia de Hurons, Iroquois ou Algonquin. 
(Repare-se nas “Paliçadas”)

Outra reconstituição arqueológica, semelhante à que visitei em Sault Saint-Marie no Canadá.

Aspeto idealizado de uma aldeia no Nordeste da América do Norte.

Em todas as imagens temos uma "paliçadas" a que podemos chamar "canadas" que protegem as vilas.

Por outro lado temos as vilas posicionadas sempre junto a um curso de água, normalmente um rio com vários tributários que em termos de segurança eram um meio de escapatória em caso de ataque por uma outra tribo, assim como as "as vias de comunicação e transporte".

Um Português que chegasse à desconhecida costa NordEste da América do Norte, descreveria o território pelas suas vias navegáveis se fosse do continente, pois estaria habituado a esse tipo de navegação e faria a ligação a "casa" e descreveria o território como um território com milhares de ilhas, na verdade um numero incontável.

Um Português dos Açores, associaria o vislumbre destes territórios não pelos rios navegáveis, descreveria sim as ilhas, e o que lhe pareceria mais comum além das ilhas, os povos, que morariam em aldeias, protegidas por "canadas" tal como o terrenos de cultivo dos Açores.


Canadas a Trilhos a “Trails”
É notável relembrar que canadas são também trilhos, e o Canada é um país repleto de trilhos (de notar que “Trail” EN, nada tem a ver com C A N A D A, assim como “Sentier” ou “Piste” em FR, no entanto tanto “canada” PT como “cañada” em ES têm tudo a ver.

Os povos nativos do Canada não teriam estradas, por essa razão faria sentido também reconhecer que, para qualquer lado que se fosse nestes territórios ter-se-ia de seguir, por exemplo a “canada” grande (the great trail) ver no wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Great_Trail

Repare, que embora os povos da costa negociassem matéria prima diferente dos povos do interior, as peles e milho vindas do interior do território teriam de chegar à costa por terra pelas canadas.


Canas que Chegavam aos Açores
Para finalizar, relembro que Gago Coutinho menciona as "canas" que chegavam aos Açores.

Eram trazidas pelas correntes, desde os rios da América do Norte até à costa dos Açores (ainda hoje isso acontece).
O vislumbre dos exploradores ao reconhecerem algo que apenas chegava às suas “terras” em alturas de temporal, deve ter sido digno de um “eureka”.  

Assim, o mistério da origem dos detritos que flutuavam até à costa dos açores, tinha agora uma origem conhecida.
Este era o território de onde as canadas que os açorianos recebiam na costa vinham.

[Anexo artigo da wikipedia sobre uma canada nos açores - Canada do Graciosa ]

____________________________   __________________________

Aditamento: (14/04/2018) 
Em comentário a este texto, João Ribeiro salienta a semelhança com as cabanas, choupanas, e choças, apontando para o programa de J. Hermano Saraiva no Museu de Etnologia:


e ainda para um outro link acerca da "Choça do Pastor".

Sendo evidente a semelhança no aspecto e material de construção, merecerá cuidado perceber até que ponto há ligações na forma da estrutura e técnica de construção. Certamente que tal reflexão não terá escapado aos estudos antropológicos, se notarmos ainda semelhanças com as chamadas "Palhotas" africanas, que existem sob diversos aspectos, mais ou menos comuns, entre diversos povos, desde os aborígenes australianos, aos indígenas da Papua e Nova Guiné, até aos índios da Amazónia.

Pode ser apenas uma semelhança de solução, encontrada independentemente, ou pode ser um legado comum, passado desde os tempos mais primitivos.

Aditamento (2): (24/04/2018)
Em comentário, aparece um texto do Dr. Manuel Luciano da Silva, extraído do livro - "Cristóvão Colon, [Colombo] era português":
Tenho uma ideia diferente do nome "canada" ou "canadá". Revendo os mapas da cartografia portuguesa e os documentos antigos que se referem às Terras dos Bacalhaus, verificamos repetidas vezes que estas terras eram chamadas: Terras dos Cortes Reais, Terra do Labrador, Terra de Estêvão Gomes e Canadá! João Vaz Corte Real era natural de Tavira, Algarve, Portugal, onde tinha propriedades chamadas Canada.Perto de Tavira existe uma placa na estrada indicando o primeiro local no Mundo chamado Canada.A origem do nome Canadá vem do nome CANADA, das terras que eram propriedade dos Cortes Reais na cidade de Tavira, no Algarve, Portugal. Canada é o nome dado a uma pequena ribeira com canas - daí o nome canada - mas que depois se expandiu para significar uma passagem estreita e ventosa. Na ilha da Terceira, Açores, existem muitas canadas nomeadas pelos Cortes Reais. Estes navegadores fizeram a mesma coisa no Canadá.Os educadores e historiadores do Canadá deviam verificar estes factos e ensinar a VERDADE à juventude canadiana e a todos os cidadãos canadenses, em vez de estarem a ensinar erradamente, favorecendo os colonos ingleses e franceses que chegaram muito tarde!É realmente uma pena que os lusos canadianos não brandem aos céus e façam valer os seus direitos em reclamar na imprensa, rádio e TV do Canadá, afirmando que a primazia das descobertas daquela Nação foram feitas por portugueses idos dos Açores! Todos os canadianos deviam ter orgulho na sua Pátria ter sido descoberta pelos portugueses, pois eles foram, sem dúvida, os campeões das descobertas marítimas mundiais!


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publicado às 04:47

Não muito longe da ilha Sentinela Norte, está, a ilha Sentinela Sul:


... com uma pequena diferença - esta ilha é muito mais pequena, e está desabitada.
Enquanto a ilha a norte tem aprox. 50 Km2, a ilha a sul não chega a ter 2 Km2, e provavelmente nunca reuniu condições para a sustentabilidade de uma pequena população indígena.

A próxima afirmação seria lacónica:
- Num ponto de vista universal, as espécies na ilha norte e na ilha sul, poderiam contribuir o mesmo para o conhecimento universal.

A novidade para o conhecimento universal não se trata de possuir mais ou menos tecnologia, porque no final de contas, tudo isso se resume a pouco, no sentido em que haver animais capazes de autênticas obras de engenharia civil, como as térmitas, não significa que esses animais procurem mais ou menos o sentido do universo que os envolve. Não é a tecnologia ter parado na Idade da Pedra, que é o problema principal.
Para esse tipo de mistérios, as sociedades tribais começaram por desenvolver a religião, e só depois, com aparecimento das civilizações, desenvolveram a ciência.

Dos Sentineleses não se conhece nada sobre a religião, mas os Onge e Jarawa têm uma religão, e será de suspeitar que possa ser similar.
Os Onge consideram as suas ilhas como centro de um universo dividido em 6 camadas inferiores e superiores, onde habitam seres responsáveis pelos fenómenos visíveis - por exemplo as monções são assim justificadas. Consideram que estes seres produziram o Sol e a Lua, que são simples discos, ao contrário de considerarem que o Sol é casado com a Lua e que as Estrelas são os filhos, como acontece com os Jarawa. Não têm o conceito de uma divindade completamente boa ou má, nem noções de Céu ou Inferno, nem acham que os espíritos são imortais... provavelmente vão passando de camada em camada. Mais curiosamente, achavam que o homem branco era um espírito desse mundo na camada superior. Não seria muito diferente de uma religião onde os espíritos onkoboykwe funcionariam como americanos - popularmente responsabilizados por todas as novidades que apareciam.

Interessa que têm uma explicação para o seu universo, explicação que tem tanto de irracional, quanto as múltiplas outras religiões que se foram formando, e ganhando adeptos, em todo o mundo.
O problema de todas as religiões é sempre o mesmo - não há só uma, porque não há nenhuma razão racional para existir apenas uma, quando as razões de fé são tipicamente irracionais. Basicamente são um folclore artístico literário, que podemos achar mais ou menos interessante. Por exemplo, a religião grega envolvia histórias absurdas, insólitas ou macabras, mas com um substrato interpretativo que pode ser bastante interessante.

A religião serve o propósito de explicação universal, mas existindo milhares de religiões com explicações alternativas, e sem qualquer base de verificação se uma ou outra faz mais sentido racional, acabou por desenvolver-se a ciência como religião única, não dependente da criatividade do contador de histórias, ou da sua capacidade de convencimento.
Infelizmente, a ciência foi caindo num esquema pouco racional, e parece preciso usar uma palavra diferente, racionalidade, para a distinguir dos vendedores de banha da cobra, que abundam na ciência dos nossos dias, sobretudo a partir de Karl Popper (inclusive).

Uma ilha chamada Terra
O que vemos nas ilhas Sentinela, não será muito diferente de uma ilha no espaço - que é a Terra.

Admitindo que a população da ilha norte tinha encontrado um equilíbrio na sua relação com a natureza, não sentido necessidade de evoluir, estando "satisfeita" com a sua vida... não sentiria as necessidades que normalmente atribuímos à espécie humana - uma permanente inconformidade, ou insatisfação com a ausência de respostas.

Ou a população dispensou essa necessidade de justificação, ou tem-na desenvolvido e mais ninguém sabe! Como parece que não a tem, e não evoluiu na sua busca de explicação, então funciona para o universo como qualquer outra espécie animal, satisfeita com o seu lugar na natureza. Dali não se espera mais, e nem parece sair mais, do que uma repetição ancestral, de muitas centenas ou milhares de anos. E reafirmo, o problema não será na evolução tecnológica, embora creia que uma coisa não se faz sem a outra.

Entendendo a Terra da mesma forma, numa altura em que a pressão social, da hierarquia existente, tende a abafar tudo o que não seja politicamente correcto, caminhamos para uma situação que poderá visar uma estagnação, no sentido de manter a ordem social conforme está. Uma espécie de feudalismo moderno, que poderá remeter para tempos de trevas, onde a liberdade de pensamento será um inconveniente a evitar. Nessa situação, mesmo que nos iludamos com mais uns tantos brinquedos tecnológicos, a estagnação filosófica será garantida pelo politicamente correcto, e em muito pouco iremos diferir da estagnação na ilha Sentinela Norte, ou na ilha Sentinela Sul... ou seja, o ponto de vista universal, passaremos a ser totalmente dispensáveis, para a sua explicação.

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publicado às 05:48


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