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O primeiro mapa que aparece no Livro de Marinharia é o da Terra Nova e Labrador.

A descoberta do Canadá, apesar de não parecer tão caricata quanto o restante, tem igualmente vários aspectos interessantes.
Que os vikings ou normandos podem ter aí chegado no Séc. X, pois isso foi uma tese do Séc. XIX, que não causou suficiente mossa à versão colombina. Colombo permaneceu celebrado como o primeiro a ir, regressar, e dar conta do seu feito.

Já é mais estranho que a expedição de Caboto em 1497 tenha basicamente sido negligenciada, em favor da suposta descoberta desta parte da América por Jacques Cartier em 1534. Esquecemos aqui as visitas portuguesas, bem documentadas, dos Corte-Real, em 1500, pois também estas foram negligenciadas.

Qual a razão para os ingleses terem ficado de fora do processo, se chegaram ali primeiro que os franceses?
Uma razão plausível prende-se com datas. O ano de 1534 é também o ano em que Henrique VIII decide assumir-se como máximo representante da Igreja em Inglaterra, suplantando o domínio papal de Roma. No ano anterior já tinha sido excomungado pelo papa, e portanto a Inglaterra não teria a benção papal para aventuras. Talvez como contraponto, tenha sido oferecida essa possibilidade à França, que rapidamente promoveu a expedição de Cartier.

Cartier é assim celebrado no Canadá como o seu primeiro colonizador, ou mesmo explorador, e nesse sentido é algo inconveniente o papel dos portugueses na descoberta da Terra Nova e Labrador, apesar desses nomes terem permanecido intocáveis até hoje. 
Não apenas esses, muitos nomes ficaram, quase sem alteração.

Os portugueses estavam aqui numa posição complicada, porque o território estava fora do hemisfério português, mas teriam ali deixado para trás muita gente, e por isso aparecia muitas vezes colocado dentro desse hemisfério, e com a bandeira ou coroa portuguesa.

No mapa de João de Lisboa, parece ser assumido que os franceses iriam ficar com aquela parte, e portanto qualquer datação que conte com os acrescentos, terá de ser posterior a 1534. 

Coloco aqui uma comparação, que poderá parecer algo confusa, mas que é perfeitamente clara na relação directa entre o contorno actual e o que está explícito na carta de João de Lisboa, bem como na carta Pedro Reinel a fez (datada de 1504), que não é muito diferente do mapa de Cantino.

Parte sul da Terra Nova
Começando pelo ponto mais acima, temos a Ilha dos Bacalhaus, que ainda hoje se chama Baccalieu Island. Seria provavelmente um dos pontos de seca dos bacalhaus pescados ao largo da costa, e o nome indica já por si que se tratava de uma prática ancestral. Esse nome está no mapa de Pedro Reinel, numa altura em que Cartier era apenas uma criança com 13 anos. Tal como estão outros nomes, e já deixei aqui uma lista, sendo a respectiva comparação imediata:


Os nomes que ficaram até hoje (para além de Portugal Cove) e que não oferecem grandes dúvidas são os seguintes:

  • Ilha dos Bacalhaus - Baccalieu Island
  • Baía da Conceição - Conception Bay
  • Cabo de São João - St. Johns (cidade)
  • Rio Formoso - Fermeuse (cidade)
  • Cabo Raso - Cape Race
Parte norte da Terra Nova e sul do Labrador
Aqui as relações são menos imediatas, especialmente com a costa do Labrador, mas mesmo assim, pode-se estabelecer com algum grau de confiança estas correspondências:


Aqui o número de nomes que manteve o nome, baixa consideravelmente, e não encontrei nenhum nome que permaneça na parte do Labrador. 
Na parte norte da Terra Nova, mantêm-se os seguintes nomes:
  • Bela Ilha - Belle Isle
  • Ilha do Fogo - Fogo Island
  • Cabo de Boavista - Bonavista Cape


Terra Nova e Labrador
O mapa de Pedro Reinel é mais difícil de perceber, mas como João de Lisboa acaba por usar os mesmos centros de compasso, para desenhar a costa, espelhamos aqui o que poderá ser entendido no mapa de João de Lisboa.


A parte correspondente às linhas "amarelas" ou "vermelhas", é praticamente certa, e está também no mapa de Pedro Reinel. Já será alguma especulação associar as ligações mais acima, onde fiz uma possível conexão com linhas azuis. 
Não é claro que vá tão longe até à ponta norte do Labrador, mas parece-me que sim, segue essa possível análise:

Portanto, é completamente claro que a cartografia da Terra Nova e do Labrador estava já presente no mapa de Pedro Reinel, e depois com mais pormenor no mapa de João de Lisboa.

Aquilo que João de Lisboa assinala como o "Estreito dos Franceses" deve ser visto quase como uma piada, já que os portugueses tinham feito por completo a exploração dessa grande entrada de água, tendo como objectivo a Passagem Noroeste. 

Assim, quando Duarte Pacheco Pereira fala da Latitude 70ºN, como limite norte da possessão de D. Manuel, estamos já em paragens da Ilha de Baffin (descoberta 100 anos depois por Baffin), muito acima dos 60ºN (que julgo estarem ali desenhados).

É claro que, para além de todas as anotações correctas, aparecem também em João de Lisboa, as "ilhas fantasma", e aqui o mapa apresenta uma série delas, algumas já presentes no mapa de Pedro Reinel. Ainda não consigo distinguir em todos casos quando se trata de uma ilha real ou ficcionada, excepto pela comparação com os mapas actuais.

Para benefício da história ficcionada que ingleses e franceses quiseram fazer das suas explorações, as explorações e mapas portugueses não convém que apareçam, pois só estragavam essa narrativa.

Tal como o Canadá teve o seu nome derivado de alguma expressão portuguesa relacionada com canada ou com canado (ver postal anterior), também poderá reportar-se a uma tribo muito concreta, vivendo muito próximo da actual cidade do Quebéc. E da mesma forma será natural que os Hochelagas resultassem de uma expressão simples como "oxalá", e os Iroquois resultassem... pois não vale a pena continuar.

Interessa que sempre que revisito esta temática, lembro as centenas de homens, navegadores intrépidos, que viram as suas proezas e os seus sacrifícios, completamente apagados por uma história mesquinha, cheia de interesses, normalmente de gente medíocre e profundamente ignorante.


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publicado às 05:35

No livro de marinharia de João de Lisboa, antes e depois dos mapas, aparecem tabelas de declinações lunares. Em particular, correspondem a 4 anos, correspondendo ao ciclo de anos bissextos. 
Deixamos aqui a primeira coluna da tabela, assinalando os curiosos números, de 1 a 19, que seguem sempre a sequência seguinte:
19, 8, 16, 5, 13, 2, 10, 18, 7, 15, 4, 12, 1, 9, 17, 6, 14, 3, 11

Tabela de declinações - Ano bissexto (in Livro de Marinharia)
- assinalando a sequência de 1 a 19 aí constante (ciclo metónico).

A questão que interessava saber, por aquelas tabelas, era o ano a que se referiam, e daí tirar alguma informação sobre a datação dos mapas, assumindo corresponderem a anos semelhantes.
Ora, não!
Ao fim de algum tempo, a procurar por lados errados, percebi que esses números estão ligados ao Cálculo da Páscoa, ou seja, ao chamado Computoe são chamados números áureos
Com efeito a página da wikipédia portuguesa "Números áureo nos calendários" acaba por ser mais informativa a este respeito, e apresenta o Almanaque Perpétuo de Abraão Zacuto (1496), que basicamente reproduz a mesma sequência, destinando-se ao cálculo das efemérides religiosas. 

Computo Pascal
A questão do computo pascal é hoje em dia menosprezada, mas representou uma obstinação em sincronizar calendário solar com o calendário lunar.
Porquê?
Por que razão não fixar a Páscoa como o primeiro domingo em Abril?
Por que razão manter a Páscoa no primeiro domingo de Lua Cheia após o equinócio da Primavera?

Pelo lado religioso, o tempo lunar era uma tradição judaica ligada ao velho testamento, e o tempo solar passaria a ser a tradição romana após Júlio César, e podemos ligar assim ao novo testamento. 
Conjugar as duas, seria talvez uma forma de ligar o antigo ao novo testamento. 

Pelo lado científico é muito importante notar que os ciclos lunares e solares estão praticamente imutáveis há milhares de anos. Quando se procura exarcebar diferenças naturais, invocar influências externas, galácticas, etc... convém notar que, muito antes do estabelecimento do calendário de Júlio César, a Terra roda à mesma velocidade, em torno de si própria, e em torno do Sol. 

Escala Juliana e Gregoriana
O calendário juliano, que introduziu os anos bissextos, correspondia a um erro de 0.002%, ou seja, correspondia a ter um relógio adiantado menos de 2 segundos por dia. Só que isso acumulou, e tal como esse relógio ao fim de um mês estaria adiantado um minuto, também o calendário juliano ao fim de 1600 anos precisou de ser corrigido pelo papa Gregório XIII, retirando 10 dias ao calendário, que estavam adiantados! 
Assim, ao dia 4 de Outubro de 1582 seguiu-se o dia 15 de Outubro de 1582.
Falar numa ocorrência, por exemplo, a 10 de Outubro de 1582, não parecerá estranho, excepto que esse dia nunca existiu - pelo menos nos países católicos.

O calendário gregoriano foi muito mais correcto ao definir que os anos 1700, 1800, 1900 não seriam bissextos, e apenas o ano 2000 seria bissexto. Isto correspondeu praticamente a reduzir o erro diário do relógio de diário para mensal, ou seja um erro praticamente 30 vezes menor. 
A próxima correcção poderá ter ser decidida em... 3200, que não deverá ser ano bissexto. 
Mas mesmo agora, não há grandes certezas do movimento planetário para garantir essa precisão.

Para aqueles que propagandeiam a obstinação da astronomia católica em manter o modelo geocêntrico, com base em alarvidades científicas "heliocêntricas", esta precisão católica é exemplar. 

Pedro Nunes e o Heliocentrismo
Os países protestantes acabaram por ter que adoptar o modelo, alguns séculos mais tarde. 
No entanto, nunca deixaram de trazer a historieta de Galileu e Copérnico.
A esse propósito trazemos aqui uma citação de Pedro Nunes, acerca da pretensa "novidade" da teoria heliocêntrica de Copérnico:
«Esta relação dos lados e dos ângulos de um triângulo não foi suficientemente considerada por Nicolau Copérnico de Torun, o qual estava sobretudo interessado em, com o método, tabelas, e demonstrações de Ptolomeu, trazer de novo à luz a antiga e quase esquecida astronomia de Aristarco de Samos acerca do movimento da Terra e da imobilidade do Sol e da oitava esfera, tal como é referido por Arquimedes no seu livro "De arena numero".»  (in Gazeta de Matemática nº143, 2002).
Aconselha-se a leitura do artigo de Henrique Leitão, aqui politicamente incorrecto ao revelar que Pedro Nunes não desconhecia Copérnico. Simplesmente Pedro Nunes não lhe dava importância, nem crédito por trazer algo de novo (que sabia ser de Aristarco de Samos). Nesta altura, convém lembrar que estavam em cena os fantasmas da Inquisição, mas ainda não tinham chegado os fantasmas da Maçonaria, que começaram mais tarde, depois de Galileu e seguintes. 

Com efeito, considerar a imobilidade do Sol passou a ser moda. Depois, mais tarde diz-se baixinho que o Sol roda, a grande velocidade, em torno do centro da Via Láctea. Por sua vez a nossa galáxia também não se admite estar parada... ou seja, tudo mexe! E quando tudo mexe, voltamos ao início, e deveria entender-se que se o movimento é relativo, o nosso referencial é sempre a Terra.

Ciclo Metónico
É ainda importante notar que a astronomia antiga suplantava alguma astronomia que foi reaparecendo nos séculos XVII e XVIII. Os caldeus conheciam bem o Ciclo de Saros (18 anos), que repete os eclipses lunares e solares, e provavelmente conheciam ainda o Ciclo Metónico (19 anos), cujo nome é do astrónomo grego Meton de Atenas.

Quem comemora o seu "luniversário", todos os meses?
Devido à pouca importância dada à Lua no nosso calendário, quase ninguém faz ideia de qual era a fase da Lua quando nasceu... mas se quiser saber é só questão de clicar em moonpage.com.
Deverá ter sido Lua Cheia na partida de Vasco da Gama, no sábado, 8 de Julho de 1497.
Segundo moonpage.com, seria giba crescente, mas o dia da semana também está errado.

Ao que consta, os antigos gregos incluiam uma comemoração desse luniversário. Talvez tenhamos perdido outros onze dias especiais no ano, mas, enfim, isso tornou o aniversário mais especial.

Qual a relação entre o ciclo lunar e o ciclo solar?
ciclo metónico é a constatação de que 235 meses lunares dão 19 anos (com um erro inferior a poucas horas). Ou seja, se retornar a moonpage.com e colocar a data em que faz 19, 38, 57 ou 76 anos, irá obter aproximadamente a mesma fase lunar do seu nascimento.
Poderia ser esta relação entre o ciclo solar e o lunar, ou outra qualquer. Este número 19 nada tem de especial, mas justifica a Tabela da Lua no Livro de Marinharia. 
Aí está reflectido a variação do número áureo do calendário, que vai oscilando de 1 a 19, e permitiria saber os feriados religiosos móveis, que variam de acordo com a Lua. 
Enquanto o calendário foi juliano, e este era ainda certamente o caso, isto repetia-se sem alteração, e por isso Zacuto lhe chamava almanaque "perpétuo". 

Apesar do interesse relativo daquilo que aqui escrevi, o que se pode concluir é que não será por estas tabelas que chegamos a uma outra pista sobre a data de execução dos mapas, e a informação mais fiável continua a ser dada pela colocação das bandeiras nos mapas.

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publicado às 18:26

Após a leitura da última parte do Livro de Marinharia, convém corrigir/esclarecer o seguinte:

  • Na página 63v, a propósito de sondas, fala-se da viagem de Bartolomeu Dias até ao Rio do Infante. Portanto, pelo menos esta viagem precursora é assinalada, e isto contraria a ausência a estas referências, que tinha assinalado antes.
  • No entanto, a propósito de sondas, que vão "do Cabo da Boa Esperança até Mogadoxo", parece algo estranho ignorar qualquer menção a D. João de Castro, já que estes baixos são sinalizados no mapa. Este é um problema da datação dos mapas, já que a referência a D. João de Castro, ou ao Japão, justificou transportar a execução dos mapas para as décadas de 1540-50.
  • Aparece escrita a data de 1527 na frente e verso da folha 91, referindo a implantação de dois padrões. Um padrão foi erigido a 10 de Junho e outro a 13 de Agosto, ambos em 1527.
  • Como João de Lisboa é dado como morto em 1525, isto levantaria um problema de execução pelo próprio. No entanto, recordamos que Varnhagen refere que em 1535 há um outro piloto (Heitor de Coimbra) que pede então para ser nomeado para o seu lugar de piloto-mor do reino. Portanto, será natural assumir que o cargo não esteve por preencher durante 10 anos.

No capítulo "Livro Sumário e Repartidor" (pág. 64v) pode ler-se (ou quase...)
Treslado de um livro que foi de João de Lisboa piloto que fala &(de) todas as coisas e partes que a ter provimento são descobertas e doutras que não o são como adiante longamente vai Assento. E este livro se chama sumário e repartidor das terras e províncias que são sabidas assim de Espanha como de França como de Alemanha como d'alevante e de Constantinopla e da terra de Jerusalém e da terra da Promissão e daí para a Costa. Da Guiné e Índia e do Brasil.

Inicia ali algumas páginas em que pretendendo falar de tudo, acaba por se dispersar rapidamente e termina ao fim de três folhas, ou pouco mais que seis páginas. Fala de Tubal, Noé, Júlio César, dos Godos, de Pelágio, da conquista aos mouros, dos cavalos da Andaluzia, pretendendo talvez fazer um resumo histórico incompleto. Parece terminar abruptamente, como se fosse tarefa incompleta. Nestas poucas páginas não menciona praticamente nada do que propõe, nem Guiné, nem Índia, nem Brasil.
- Se tal tivesse sido tirado por outra pessoa, que não o próprio, qual seria o propósito de inclusão?

Em suma, concluímos que este Livro de Marinharia é posterior a 1527, e ainda que João de Lisboa seja o seu autor provável, tem inclusões posteriores, até c. 1535, o que justifica toda a nomenclatura relativa ao "Estreito dos Franceses", já que a primeira viagem de Jacques Cartier à Terra Nova se deu em 1534... e havia uma necessidade de dar crédito a outros, desejosos de protagonismo (ou aqui "igualdade e fraternidade"), para depois ignorarem por completo o enorme mar português.

Continuo perfeitamente convencido de que a maioria dos mapas será c.1514 (ou anterior), mas que pode ter sido o próprio João de Lisboa a fazer algumas inclusões para se ajustar às vagas dos tempos.


------------- Tratado de Marinharia de João de Lisboa - Índice (3) ------------

58v. A Serra. Lombada. Ilhas

59. Terra dos Baixos de São Rafael

59. Baixos de São Rafael
59v. Ilhas
59v. Mombaça

60. Montes. Lombada. Barreiras
60v. Tocango. Rio

61. Árvore. Melinde
61v. Acabamento das Ilhas. O medão

62. Medão. Magadaxo
62v. Título. Das Rotas que há do Cabo de Boa Esperança até Magadoxo

63v. Título. Das Sondas que há do Cabo de Boa Esperança até Magadoxo

64. Rio dos Reis. Boa paz.
64v. Cabo de S. Sebastião
64v. Livro Sumário e Repartidor

69. Rota de Portugal para a Índia

70. Rota de Goa para o Cabo de Guardafuy e Mar Roxo: e do cabo de Guardafui para Ormuz e de Ormuz para Diu

72. D'Adém para Ormuz
72. Conhecença do Cabo de Farfaque
72v. Navegação de Ormuz para a Índia

73v. Navegação de Chaul para Ormuz: na monção de Março

74. Navegação de Ormuz para Mascate na entrada de Setembro
74. Navegação de Mascate para a Índia

75. Estes são os Rios que estão de Bremia até ao Cabo do Comorim & as rotas que há de uns aos outros.

76v. Navegação do Cabo do Comorim para Calecare e costa de Choromandel. Surgidouros do cabo para dentro.

78v. Navegação de Cochim para as Ilhas de Maldivas

79v. Como correm as águas nestas ilhas

80. Querendo passar os baixos para o Cabo do Comorim: terás a maneira seguinte
80. Viagem de Cochim para Bengala o porto de Chatigão


81. Viagem de Cochim para Bengala o porto de Chatigão

82. Rota de Negapatão para a Barra do Satagão

83v. Navegação de Negrões para Tanaçarim
83v. Estes são os rios com as alturas que estão de Bengala para Malaca

84. Regimento da Rota de Goa para Malaca

85v. Navegação de Cochim para Malaca

87. Navegação de Malaca para a Sunda

92v. Navegação de Malaca para a Jaoa & Banda: está Malaca em dois graus largos

100v. Rota para Singapura, Bornéu e Maluco

102. Navegação de Moçambique para a Índia

------------- Fim ------------

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publicado às 03:20

Continuamos aqui com o índice do Livro de Marinharia, e será ainda necessário outro postal para o completar...

Em comentário Djorge avançou a hipótese relativamente à designação "Estreito dos Magalhães".
O nome poderia referir-se aos pinguins magalhanicos e não ao nome do explorador.
Dito de outra forma, tal como Alberico Vespúcio passou a Américo para conformar a Améxica, também se os pinguins fossem "magalhães", o nome Magalhães seria apropriado ao explorador nomeado. João de Lisboa usa a expressão plural "dos Magalhães", e é só a vermelho que aparece já fora da página uma pequena menção a dizer "estreito de fern magalhãis".
Convém relembrar que João de Lisboa terá participado como piloto na viagem de Magalhães, e ainda que se possa admitir um erro do uso do plural, não parece ser o caso. E, sim, estamos fartos dos erros como explicação para tudo.
Agora, porque razão "magalhães"? Agora, em espanhol diz-se "ahora", e isto é ilustrativo de que por vezes o "g" veio substituir o "c" ou coisa nenhuma. Em italiano "magiore" é "maior", e eu arriscaria que o nosso "magala" aplicado aos soldados vem de uma palavra perdida entre nós - "maiala", que em italiano ainda significa porco castrado, normalmente sacrificado à deusa romana Maia (ou Maga). Portanto, o termo poderia referir-se popularmente a porcos domésticos, e não seria de descurar que pudesse ser usado depois para alcas ou pinguins. A palavra pinguim pode até resultar do latim, mas o latim não seria a primeira opção dos marinheiros... Quem achar isto estranho, pode procurar a razão pela qual Câmara de Lobos, na Madeira, se refere a "lobos marinhos", ou seja focas, e não a lobos canídeos!

Na folha 31 aparece um título muito interessante:
Travessias das ilhas não descobertas
Ou seja, corresponde a assumir a existência de terras não descobertas, ou pelo menos de sinais que representariam essas terras que ainda estariam encobertas.
Aliás, logo de seguida, João de Lisboa refere: "... estão per portos e lugares e fundos e sinais que em os ditos portos e a dita costa toda de longo a longo há".
É nesta página que vemos referência à ilha das Maidas, à ilha de São Brandão, e a outras, que nunca terão passado de sinais nas cartas de navegação.

Da folha 32 para a frente, aparece uma descrição da Rota de Lisboa à Índia, sem mencionar as viagens de Bartolomeu Dias ou de Vasco da Gama ou outra "viagem pioneira" anterior.
Com efeito, uma particularidade que temos é uma completa ausência de referência a esses navegadores na nomenclatura deixada. É veiculado que o Rio do Infante teria razão em João Infante, piloto de Bartolomeu Dias, que teria assim dado aquele nome em sua honra (enquanto nada ficou associado a si - uma grande atitude altruísta).
Já vi desculpas com mais consistência... até porque não havia problema em dar dois nomes - temos na descrição por exemplo o Rio de Fernão Veloso e não o Rio de Veloso.
Se há algum infante conhecido como "Infante" era justamente o Infante D. Henrique, e conforme já disse há quase dez anos atrás, ali poderia ter sido o ponto de paragem do contorno africano, como "talant de bien faire", até que D. João II levou as explorações muito mais longe.

Incluo ainda algumas figuras que vão ilustrando o tratado.
Seria bom ter o texto transcrito para poder ser lido, mas parece que tal propósito escapou às diversas gerações de historiadores que temos tido - que não encontraram tempo, ou motivação, para o fazer.


------------- Tratado de Marinharia de João de Lisboa - Índice (2) ------------

21. Rotas de ponentes do estreito de Gibraltar...

22. Sorlimgua Lõ de Rotas de Inglaterra (ilhas Sorlingas - Scilly)
22v. De rotas de Irlamda
22v. De rotas do canal S do Estreito diante dobra S Caliz

23v. Travessas de Flandres (Framdes) para Ponente ...

24v. Sondas de ponentes
24v. Sondas de Flandres (frandes)

25. Sondas de Bordéus (Bordeos)
25. Marés de Irlanda

26. Longaneos com suas marés
26. Léguas de ponente S do Estreito de Gibraltar
26v. Léguas de Inglaterra

27. Marés de Espanha
27v. Pousos de Inglaterra

28. De rotas de levante do estreito de Gibraltar até camudia

29. Léguas de levante de Calez

30. De rotas de Guiné S de Calez...

31v. Travessas das ilhas Não Descobertas

(32- Folha fora do sítio - aparece depois da 42)
32. Este Livro é das Rotas de Lisboa até a Índia & as ilhas dos Açores & assim de todas as outras que neste caminho estão per portos e lugares e fundos e sinais que em os ditos portos e a dita costa toda de longo a longo há. Assim que com este livro podes navegar fazendo todos estes caminhos segundo diz adiante.

33v. Titulo da Canagua

34. Cabo Verde
34v. Titulo do Cabo dos Mastos

41. Angra de Santa Helena
41v. Angra de Santa Helena

42. O pracel.
42. Cabo de boa esperança
42v. Cabo das agulhas

43. Cabo das agulhas
43. Alta de Viana
43. A lombada dos chados
43v. Chadas
43v. A ponta da aguada de S. Brás

44. Cabo da aguada de S. Brás
44. Aguada de Sam Brás
44v. Angra da Serra da Estrela
44v. Ponta de Pescaria & Lago Cerrado (çarrado)
44v. Conhecença do Cabo Talhado

45. Cabo Talhado
45. Terra dos Montes
45. Rio das Vacas
45. Cabo do a Recife
45v. Ilhéus da Cruz
45v. Ilhéus Chãos




46. Ilhéus Chãos
46. Ponta do Carrascal
46v. Ilhéu do Padrão de São Gregório
46v. Ilhéus de Montes Claros (mõtes craros)
46v. Ilhéu de São Cristovão (Sam Xpvão)





47. Ilhéus de São Cristovão
47. Ilheu Xo de(?)
47. O penedo das fontes
47v. Avante deste penedo a ponta
47v. A ponta

48. Rio do Infante (Yfamt&)
48. Do rio do Infante
48. Cabo das areias (areas)
48v. O monte que parece ilhéu
48v. A ponta primeira
48v. A mata primeira

49. A mata segunda
49. O Rio da mata. Riacho
49v. Riacho
49v. Cortada
49v. O morro
49v. Terra do Natal

50. O morro
50v. Sinais do morro.
50v. As barreiras.
50v. Terra da pescaria
50v. Ponta de Santa Luzia

51. Ponta de Santa Luzia
51. O morro preto
51v. Ponta de Santa Luzia
51v. As barreiras
51v. Os medaos do ouro

52. Os medaos do ouro
52v. Terra dos fumos

53. Terra dos fumos
53. Angra da Lagoa
53v. Fim da Angra. Manchas. Montes

54. Cabo de São Sebastião
54. Rio de São Vicente
54. Rio dos Bons Sinais
54v. As ilhas primª
54v. Ilhas primeiras
54v. Moçambique

55v. De Moçambique ao Rio de Fernão Veloso
55v. Rio de Fernão Veloso

56. Ponta do Rio de Fernão Veloso
56v. Tanto Avante como Este Rio de Fernão Veloso
56v. Ilha do Açoutado

57. Ilhéus de São Lázaro
57. Ilhas Rastas
57v. Ilhas derradeiras








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Nota: (12.02.2019)
Há algumas fotografias desta região de Moçambique - Fernão Veloso e ilhas Quirimbas, que nos permitem complementar eventual o significado destes esboços de João de Lisboa.

Praia de Fernão Veloso (Moçambique)

Praia de Quilalea (Quirimbas, Moçambique)

É ainda interessante notar que, como marca habitual francesa, a Ilha de João da Nova, e a Ilha da Judia (entretanto renomeada pelos franceses de "Ilha Europa") mantêm-se como posse francesa, entre Moçambique e Madagáscar. É claro que Madagáscar reclama a posse, mas será algo inútil, tendo em conta a velha tradição moral francesa - liberdade (de extorquir os outros), igualdade (quando reclamam algo alheio), e fraternidade (para enganar os manos).

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publicado às 06:07

Uma das coisas que nunca fiz, apesar de ter falado bastante dele, foi ler o Tratado de Marinharia de João de Lisboa. Na realidade, concentrei-me apenas nos mapas aí constantes, mas dada a dificuldade em ler manuscritos antigos, uma falta de tempo, e a evidência do outro material, acabei por nunca me focar no que estava lá escrito.

Pior, se procurarmos, nem tão pouco encontramos um índice disponível com os capítulos aí constantes. A única parte a que se dedicou Luís de Albuquerque foi a um pequeno capítulo relativo ao Tratado da Agulha de Marear (página 9).

Deixo por isso aqui a primeira parte do index com o que de mais relevante aí constava.
Vê-se que as tabelas de declinações e os mapas foram inseridos entre as páginas 19 e 20 do manuscrito original. É por isso perfeitamente natural pensar que foi uma inserção posterior. É tão natural isso, quanto analisar os mapas e concluir que eram mapas existentes em 1514, porque a representação aí constante pára nesse ponto. As inclusões de nomes posteriores ocorreu, é claro, mas isso não deturpa os mapas sem as alterações, como seja o caso do globo de João de Lisboa.

Normalmente, já nem sequer gosto de olhar para os mapas, porque sei que vou descobrir mais coisas, e não vale rigorosamente de nada. 
No entanto, como acabei por olhar e ver, não vou deixar de assinalar duas ou três coisas acerca do mapa que tem o Golfo do México, ali chamado "Enseada dellucatão":


(i) O mais natural é que o nome original fosse "Enseada de Catão" ou "Cataio", ligando à mítica China, também designada "Cathay". Aqui já se processava a transformação dos nomes portugueses em espanholês, e daí ficar "Enseada de lo Catão", e por mau entendimento do espanholês, a coisa foi escrita/entendida como "del Iucatão", e Iucatão acabou por ficar, justificado por uma salganhada de pseudo-nomes indígenas. Porque razão se processava esta transformação? Por razão do Tratado de Tordesilhas, e do compromisso de D. Manuel de dar todo o Hemisfério Ocidental aos espanhóis. Não só dar, como também educar na dádiva...

(ii) Assinalo também no mapa o nome "c.delcanaverall". É o Cabo Canaveral de onde partem os foguetes da NASA... Os espanhóis por lapso foram-lhe chamando "Caña Real", e assim consta dos mapas (por exemplo num mapa de Ortelius de 1584). Alguém depois deve ter corrigido bem o nome.

(iii) Aparece ao lado "b joão ponçe", que deveria depois corresponder à Ponce de Léon Bay, mas aqui João de Lisboa assinala outro sítio, talvez porque o espanhol desembarcou num sítio diferente ao que lhe disseram. Aparece ainda a "baia omda", e mais uma vez esta é colocada como Honda nas Florida Keys, demasiado a sul, face à localização original, que seria Tampa Bay.

(iv) Poderíamos ir continuando, mas ficamos pela antecipada menção a Vila Rica e Vera Cruz, já que o desembarque espanhol de Cortés apenas aconteceu aí em 1519 (ou seja, cinco anos depois do mapa). É especialmente curioso não haver nenhuma localização da cidade do México, ou até das pirâmides Maias, o que poderá significar que o conhecimento português estava muito circunscrito à parte costeira, sem qualquer contacto interior. Com efeito, a única edificação (castelo) que aparece no mapa é muito mais a sul, na zona actual das Honduras.

Será ainda engraçado perceber que o Rio Mississipi já aqui se chamava Rio Espírito Santo, nome que é suposto ter sido usado por Hernando de Soto em 1542. Será interessante ler o relato do português que o acompanhava, pela mão, nesta expedição:

A NARRATIVE OF THE EXPEDITION OF HERNANDO DE SOTO INTO FLORIDA.  
BY A GENTLEMAN OF ELVAS. PUBLISHED AT EVORA 1557.

Segue a primeira parte do índice do Tratado de Marinharia, sem mais comentários.

------------- Tratado de Marinharia de João de Lisboa - Índice (1) ------------

Breve tratado de marinharia com alguns exemplos que falam acerca da altura

1. Exemplos (emxempros)
1. para saberes quanto estas de uma terra que vires pela proa

2. Achando-vos onde houver fluxo ou refluxo de águas fareis vossa cota da maneira seguinte

3. Regra para saberes demandar uma ilha

4. Capitº. Como se há de cartear para qualquer dos polos. 4. Capº. Segundo
4v. Capº. Terceiro. Capº. Quarto

5. Capº. Quinto. Capº Seisto
5v. Capº. Sétimo. Capº Oitavo

6. Capº. Noveno. 
6. Regra para saberes a parte de onde te noresteia ou nordesteia tua agulha
6. Fim

7. Regimento para tirar a declinação pelo quadrante e assim mesmo para saber todo o tempo em que lugar está o sol em qual quer dos sinos ou em quantos graus dele estiver
7v. Capitº da maneira que o Sol se move para fazer sua declinação

9v. Aqui se começa o Tratado da Agulha de marear achado por João de Lixboa no ano de 1514...
9v. Capitº primº do comprimento da agulha de marear para verdadeiramente saberes a diversidade das agulhas.
9v. Capitº segundo da maneira que se há de fazer a caixa
9v. Capit. terceiro como se há de forçar a caixa de fora

10. Capitº 4º para saber como se há de tomar a estrela do norte pela agulha de marear
10. Capº quinto em que declara como haveis de tomar a estrela do sul.
10v. Capº. em que declara como hás de ter as agulhas nas mãos

11. Capº em que se declara onde havemos de tomar este meridiano vero: e assim a quantidade da 4ª. E depois das outras começam do equinocial para os polos do mundo
11. Capº em que declara como se acha de tomar altura em uma torre ou a qualquer outra cousa que quiserdes.
11v. Capº da declaração do meridiano
11v. Capº dezeno

12. Regimento para em uma carta de marear dares pelo manifesto: e para saberes por ela dar a quantidade de um grau pelo qual quer paralelo em que se faz em uma poma te mostra Regra em plano.
12. Regra para saberes pelo astrolábio quantas horas tem o dia.
12v. Lembrança dos dias que o Sol cursa mais da banda do norte que da banda do sul. Os quais são.
12v. Da maneira que hás de tirar as marés em terras novas: ou em outras quais quer terras que quiseres saber como correm.

13. Regra para saberes as Marés, a que hora do dia são.
13v. Regimento de marinharia para saberes quanto te arredas da costa por cada quarta que fores.
13v. Isto é para dares e saber dar Razão de ti

14. Outras perguntas.
14. Estees são os paralelos e quanto vale cada quarta da agulha que te norestear ou nordestear.
14v. Regimento para saberes quantos graus tomas no astrolábio em qual quer dia do ano ou em qual quer terra que estiver
14v. Regimento da altura do Sol quando ainda da banda do norte

15v. Regimento do Sol da parte do Sul
15v. Regimento para tomares altura do norte: é para saberes com se deve tomar a estrela do norte pela agulha de marear

16v. Das tabuletas (tavoletas)
16v. Regimento do Cruzeiro do Sul: e como deves de tomar a estrela do sul

17. Regimento da Estrela do Sul para saberes o que levanta e a baixam e faz dos graus de Rota a Redor do polo de alto e baixo.
17v. Regimento da altura do Sol: pela banda de cima do astrolábio de menos trabalho e melhor.
17v. Regimento da estrela da barca

18. Regimento do cruzeiro do sul
18. Regimento para tomar o Sol pela balestilha
18. Regra das festas
18. Os áureos números de todos os anos

19. As três Regras escritas mais largas e com suas contas feitas
19. Regimento da Estrela do Norte
19v. Declaração para saberes as léguas que vale cada um dos Rumos da agulha
19v. Declaração para saber quando é meia-noite pela estrela do norte

(Tabelas de declinações)
Ano primeiro - Janeiro - Fevereiro - Março
Ano primeiro - Abril - Maio - Junho
Ano primeiro - Junho - Agosto - Setembro
Ano primeiro - Outubro - Novembro - Dezembro

Ano segundo - Janeiro - Fevereiro - Março
Ano segundo - Abril - Maio - Junho
Ano segundo - Junho - Agosto - Setembro
Ano segundo - Outubro - Novembro - Dezembro

Ano terceiro - Janeiro - Fevereiro - Março
Ano terceiro - Abril - Maio - Junho
Ano terceiro - Junho - Agosto - Setembro
Ano terceiro - Outubro - Novembro - Dezembro

Ano bissexto - Janeiro - Fevereiro - Março
Ano bissexto - Abril - Maio - Junho
Ano bissexto - Junho - Agosto - Setembro
Ano bissexto - Outubro - Novembro - Dezembro

(Mapas)
- Terra do Lavrador; Os Bacalhaos;  Ilhas Treseiras (Açores)

- Emseada dellucatão; Costa da nova espanha; nõbre de deos; as amtilhas; mar dos ull do nombre de deos; costa de peru

- as amtilhas; Rio das almazonas; ho maranhão

- as seis ilhas; R da prata; estreito dos magalhãis

- ho manhão; c de samtagustinho; costa do brasill; martim vas; as seis ilhas

- a grã canaria; ilhas do cabo verde; ho maranhão; ho brasill; cabo de samtagustinho

- martim vaz; ilhas de tristão da cunha

- tera dos bacalhaos; Islamda; Imgratera (Inglaterra); Ilhas terçeiras; llixboa; çafim

- allemanha; Imgratera; framdes (Flandres); frãca (França); llixboa; castella; çafim; africa

- çafim; africa; a gra canaria; as ilhas do cabo verde; guine; tera do brasill

- as camboas; guine; I de sã tome

- I de sã tome; ho comgo

- (mapa da costa oriental africana, da áfrica do sul até ao equador)

- (mapa de madagáscar e ilhas da costa oriental africana)

- Mar d Alexandria; Jerusalem; Mar Caspeo

- (mapa do Golfo Pérsico e Índia ocidental)

- (mapa de Malaca e Índia oriental)

- China

- (mapa de Malaca, Maluco, Timor, etc)

- (globo) nova espanha; peru; tera nova; brasill; guine; prestes joão; allemanha; turquia; persia; china; japão; maluco; jaoa; nova ginea; c. da boa esperança

(Tabelas de declinações)
Janeiro - Fevereiro - Março
Abril - Maio - Junho
Junho - Agosto - Setembro
Outubro - Novembro - Dezembro

Janeiro - Fevereiro - Março
Abril - Maio - Junho
Junho - Agosto - Setembro
Outubro - Novembro - Dezembro

Janeiro - Fevereiro - Março
Abril - Maio - Junho
Junho - Agosto - Setembro
Outubro - Novembro - Dezembro

Janeiro - Fevereiro - Março
Abril - Maio - Junho
Junho - Agosto - Setembro
Outubro - Novembro - Dezembro

20. Alturas das terras da linha equinocial (Quanuncial): Até ao cabo de finis terra
20. Aqui começam as alturas (cabo de Lopo Gẽz até Cabo da Boa Esperança)
20v. Alturas do Cabo da Boa Esperança até Moçambique
20v. Alturas da Costa do Brasill


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publicado às 07:12

Como algumas pessoas fizeram notar, não se conheciam imagens de um raio atingir a cúpula do Vaticano até que há 6 anos, a 11 de Fevereiro de 2013, apareceu a imagem que vimos.
Um relâmpago atinge o Vaticano no dia da resignação papal (11/02/2013).

A situação nada teria de especial, excepto que no mesmo dia, de manhã cedo, o Papa Bento XVI anunciara a sua resignação do mandato papal. Ou seja, às 8h30 (hora de Roma) o papa faz o anúncio da resignação - algo sem precedentes desde a renúncia do Papa Clemente XII em 1415, alguns dias antes da frota portuguesa partir para conquistar Ceuta. Às 5h55 (hora de Roma), é registado em foto o momento da queda do relâmpago (é também dito que caiu depois outro).

Quatro dias mais tarde, a 15 de Fevereiro de 2013, um meteoro atinge estrondosamente a Rússia em Chelyabinsk. O facto mais curioso é que, aparentemente, este meteoro era suficientemente grande, e seria supostamente detectado antes do embate, o que não terá ocorrido, tendo apanhado todos de surpresa... e de certa forma perdendo a esperança que iriam ser avisados antes do próximo embate!
O meteoro que atingiu Chelyabinsk em 15 de Fevereiro de 2013.

Convém lembrar que ainda não tinham passado dois meses sobre a anunciada data do "fim de ciclo Maia", que fôra o 21 de Dezembro de 2012. Portanto, havia alguns profetas da desgraça e do apocalipse, que tinham ganho um novo alento, com a conjugação destes dois episódios.

A primeira questão que devemos colocar é a seguinte:
- Poderiam ambos os fenómenos ter origem humana?
A resposta é sim, mesmo que não me pareça que tal tenha ocorrido, não podemos descartar isso.
Com efeito, bastaria induzir suficiente corrente eléctrica positiva no topo da Catedral de São Pedro, para se produzir uma descarga eléctrica das nuvens carregadas negativamente. Como efeito dramático associado à resignação não deixaria de causar o espanto que causou.
O mesmo se passa com a queda de objectos espaciais... basta lembrar o Skylab que tanto pânico gerou em 1979. Portanto, a priori não há razão para desconsiderar uma possível intervenção humana.

É claro que, para quem considera que tudo são coincidências, mesmo que todos os dirigentes mundiais fossem fulminados por relâmpagos no mesmo dia, isso não passaria de uma infeliz coincidência.
Ora, na altura, em 2013, estava pouco virado para acreditar em coincidências... até porque tinha feito uma certa recuperação do material antigo (perdido com o fim do Knol), publicava quase um post dia-sim-dia-não, e estava um pouco cansado do resultado nulo. Sim, porque apesar de não acreditar muito na mudança das coisas, ficava sempre uma secreta esperança de que "algo deveria mudar"".
Fiz assim uma espécie de voto de silêncio, ao som de "enjoy the silence", mas que foi curtíssimo!
Ao fim de três semanas, acabei por encontrar uma "Nota de Rodopé" que considerei relevante para o interromper. Em particular, cito um trecho:
Na parte da mitologia que falta contar, em Gaia, há uma estrutura suporte, que detém a ordem, uma visão, metade do sistema... a outra metade é externa, será filha do caos, do exterior, e terá a outra visão. Nessa mitologia de contornos fisiológicos, mas que é uma figuração de ideias, a estrutura ovular é preservada, pois é dela que sairá o ovo. É claro que se não houver ovo, entramos numa figuração diluviana.
Curiosamente, até porque já não dou relevo às coincidências, como antes, mas gosto de as assinalar, não me lembrava minimamente de ter escrito isto:
O cone tem figurações que escapam à pirâmide quadrangular, justamente porque a base não é de raiz quadrangular... tem como génese a "quadratura do círculo", ou se quisermos, a "circulatura do quadrado", e o seu nome é Pi, e "ainda não tem vida". Pi está no nome "pirâmide", mas não na sua estrutura... aliás o prefixo "pi", podemos encontrá-lo em "pico", "pilar", e mais não "falo".
O nome "Circulatura do Quadrado", foi estreado hoje na TVI, programa que antes estava na SIC e se chamava "Quadratura do Círculo". É uma coincidência mínima o nome ser o mesmo. É uma coincidência máxima ter decidido escrever este postal hoje, e ter encontrado isto. Aliás ainda vou ver o PDF que guardei, porque não tinha ideia nenhuma de ter usado este mesmo nome.

Estamos no ponto em que as coincidências ainda acreditam em mim, mas eu já não lhes ligo.
Ora, eu sei que isso não vale de nada, e quando elas acontecem a sério, mesmo a sério, é quase impossível não ser afectado. Quando se sintoniza a frequência, é impossível deixar de ouvir, pode-se é deixar de ligar muito ao assunto.

Adiante, no postal seguinte, "Panóptico ou ovo de Cólon" levei este assunto da gestação para um caso muito concreto - o da influência dos eunucos no controlo secreto do futuro da sociedade:
O epílogo com uma nova forma de vida, posso entendê-lo, no sentido do "ovo de colon", quando colocado em Ganimedes... funcionando como o resultado final do projecto de gestação social, numa visão primeva de alguém a quem foi suprimida a possibilidade de outra descendência.
Ora, essa influência de eunucos teria sido passada para o catolicismo, enquanto abstinência voluntária, e finalmente chegamos ao postal de 11 de Fevereiro. Quando terminei "Abraçadabra", lembro-me de ter pensado "... depois de escrever isto, as coisas não podem ficar na mesma".
Claro que isto não seria mais do que o wishful thinking de um mudo pensar que alguém o ouve, ou que alguém o houve, e assim deve ser entendido. No entanto, fui-me deitar às 7h30 da manhã, e quando vi as notícias da tarde, vi que o Papa tinha resignado. Por isso, esta coincidência foi um bocado especial, e não a esqueço. Não era obviamente nada disso que estava a pensar, mas teve piada.

Interessante, porque depois escrevi aquele que é provavelmente um dos melhores postais que aqui deixei, "Arquitecturas (5)", e que é de certa forma o epílogo do trabalho inicial que tive. E sim, no dia seguinte, vi que tinha caído o tal meteoro em Chelyabinsk, mas não liguei quase nada ao assunto.
Depois, as coisas foram-se complicando cada vez mais até ao final de 2013... ao ponto de ter chegado a pensar que o tal 2012 ia chegar com um ano de atraso. Mas, não. Desapareceu tal como chegou, do nada. Porque, uma coisa é encontrar as respostas, outra coisa completamente diferente, é perceber as dúvidas de quem tem as perguntas. E quem tem dúvidas, que não são mais que dúvidas que outros só podem entender como dúvidas próprias, ou talvez resultado de alguma dissociação esquizofrénica, pode ser muito persuasivo e insistente nas múltiplas formas como as coloca.
Aí sim, percebemos o que são coincidências, coincidências a sério...

Quanto ao nome "Vaticano", pois parece ser de origem incerta, mas parece reportar-se ao nome do monte "Mons Vaticanus", que podendo ser nome de origem etrusca, foi também associado ao culto da adivinhação. Pode ter a mesma origem que "vaticínio", concatenado com um sufixo "cano" ligado ao canto, como "ave canora"... ainda que seja incerto.

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publicado às 05:56

Relativamente ao comentário acerca do mapa constante no manuscrito "Apocalipse do Lorvão", trazido por Djorge, deixo aqui os meus comentários.

Em primeiro lugar, penso que se sabe que "apocalipse" é um sinónimo de "revelação".
Quero dizer, no sentido "desvelar", porque "revelar" seria "velar" de novo (meter novo "véu").
Tal como "eucalipto", que significa "bem-cobre", "apocalipto" seria "des-cobre".

falei sobre este assunto, e pouco há mais a acrescentar. Uma técnica conhecida de manter a cobertura, parecendo que se está a tirar, é colocar uma outra por cima. Há uma grande diferença entre expor mentiras, e inventar uma nova verdade. Expor mentiras é de facto "desvelar", substituir a mentira anterior por uma nova verdade, já pode ser uma simples tarefa de "revelar", e há adoradores dessas cobras, que cobram e cobrem tudo. 

Adiante.
O "mapa do Lorvão" que apresento aqui tem inserções (a amarelo) com os nomes ali escritos.

Mapa comentado no Manuscrito "Apocalipse do Lorvão" - (apenas metade está disponível)

Conforme sinalizado por Djorge, apenas temos metade do mapa, mas após breve análise do conteúdo, estou convencido que se tratava do hemisfério sul, e teria sido a parte norte que desapareceu.

Com efeito, o mapa começa com Calpes Mons, e isso é a designação antiga do rochedo de Gibraltar. Curiosamente, há um outro grande rochedo em Espanha que também é designado Calpe (perto de Valencia), mas também é conhecido como Peñon de Ifach.
Um outro monte Calpe - Peñon de Ifach 

Depois, o mapa segue para os Montes do Atlas (ali escrito "adlas"), fala de uma região deserta (provavelmente referindo a costa do Saara), e de seguida de "monstruosos alpes etíopes", sendo natural que se pudesse referir ao Monte dos Camarões (vulcão, dito "Carro dos Deuses").

Segue-se uma designação "adanziam", a que não consegui identificar relação (mas poderia referir um "adamastor"). No entanto, em frente está uma designação de ilhas "Furtuniax Insula", que podem ser associadas às míticas Ilhas Afortunadas, que tanto serviram como designação das Canárias, das Ilhas de Cabo Verde, ou até foram ligadas às Antilhas ou ao Brasil. 

Passado esse ponto, o mapa sobe rapidamente, ignorando a parte leste africana, aparecendo uma "região deserta e arenosa" (talvez a península arábica), para chegar rapidamente a uma outra zona, identificada como "Caldeia", aparecendo de seguida os rios Tigre e Eufrates, da Mesopotâmia, muito perto de uma "Índia de São Tomé" (escrito "Thomas").

Como era hábito nos mapas medievais coloca-se uma fonte no paraíso (Fons Paradisi), de onde saíriam os rios principais (Tigre, Eufrates, Giom~Nilo, Pisom~Ganges), na área Pártia. Curiosamente, ao lado está a ilha "Tabroiano", que se identifica provavelmente à mítica ilha Taprobana.

Há uma interessante análise deste mapa neste link:
http://www.myoldmaps.com/early-medieval-monographs/20722-lorvao.pdf
que permite a seguinte leitura da inscrição da ilha/continente identificada aos Antípodas (e aqui podemos estar com uma ficcionada ou real representação australiana):
Ad est regio solis ardore incognita nobis et inhabitabilis antipodes habitare ibidi cuntª homines pedem latum habentes de quo pede umbra sibi ad calorem adhibetur 
ou seja, tendo em conta a tradução aí constante, "A região de sol ardente é-nos desconhecida, nuns limites inabitáveis antípodas, onde homens têm grande pé, a qual sombra os guarda do calor", remete-nos para o tema dos patagões, já aqui trazido também por Djorge no postal Regno Patalis.  

Veja-se também o link do trabalho de Thiago Borges (pág. 42, "O mapa-múndi do Beato do Lorvão"), que é pouco elucidativo quanto ao significado, nomeadamente das ilhas "Espendum", ou "Cors & Agire", de que não encontro outra referência.

Em suma, creio que estamos claramente perante uma representação de um hemisfério sul, com uma referência clara a regiões míticas que polvilham a mentalidade monástica, como sejam as ilhas afortunadas ou os antípodas com os patagões. Apesar de prever uma África contornável, nada tem de preciso que sustentasse esse conhecimento, tendo sim uma distorção geográfica impressionante, própria de forçar a geografia à lenda e não o contrário. 

O aspecto mais relevante parece-me ser a completa ausência de referência às partes da China, o que não se pode concluir em definitivo por falta da outra metade, mas que se pode deduzir, já que a China só terá começado a polvilhar o imaginário medieval depois dos relatos de Marco Polo.

Divergindo parcialmente da sua conclusão, não deixo de citar o comentário inicial de Djorge, que foi particularmente informativo e motivador para esta breve análise.
Há dias estava eu a dar uma olhada no manuscrito do Beatus Apocaliptico de Lorvão, que se pode consultar no arquivo digital da torre do tompo com o seguinte link:
Quando me lembrei deste post, pois como lhe disse em tempos, não acredito em coincidências.
Assim segue algumas "curiosidades" que detectei e que me levaram a ligar este post com o Manuscrito.
    1. Para além de estar ligado à Ordem de Cister, tal como outros manuscritos copiados dos apontamentos pelo Biato de Liébana sobre o apocalipse, como de San Andrés del Arroyo. Este, o Português, foi escrito em latim, teoriza-se por "Monjas" (o que por si já denota a importância da figura feminina no seio do conhecimento na época medieval) da ordem de Cister.
    2. A autoria é atribuida, no site da torre do tombo, a EGEAS.
    3. Está atribuida uma data de 1189 ao manuscrito.
    4. O Apocalipse do Lorvão pertenceu ao mosteiro de São Mamede Lorvão, de onde foi trazido para a Torre do Tombo por Alexandre Herculano.
    5. Tal como o manuscrito de San Andrés, este manuscrito tem um mapa mundi, semelhante ao de Stº Isidoro. 
    6. Tem "particularidade" de lhe faltar o verso da página 78, ou seja metade do mapa mundi.
    7. A metade que lhe falta, é exatamente a metade OESTE, a do Atlantico, e respectivas "ilhas" que no manuscrito de San Andrés ladeiam a margem exterior do mapa.
    8. O catálogo da Torre do Tombo (https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4381091) não menciona a falta dessa página.
   9. Enquanto o mapa do Beatus de San Andrés contem um mapa iluminado muito figurativo, a metade do mapa no Beatus do Lorvão é mais simplista e aparentemente mais geograficamente correto.
Especulação:
Ora se Pero Vaz Bisagudo tinha um mapamundi, "mapamundi antigo", teria de ser copiado de algo.
Não seria certamente o mapa de Andrea Bianco, aliás, o de Andrea Bianco também teria de se basear em algo. Como consequência surgem mais uma vez as explorações Portuguesas ao longo da costa africana, como fontes para o Mapa de Bianco. A ligação entre Bianco e Bisagudo aparenta fazer sentido tendo em conta a viagem de 20 Caravelas que Bisagudo levou ao Reino do Benim com um forte "em peças" para montar (já escrevi noutro post aqui no seu blog, sobre a caravela que da Gama levou numa Nau e que montou na Ilha de Moçambique). Podemos suspeitar que Bisagudo contactou Bianco e lhe forneceu informações sobre a costa africana e as explorações para Bianco colocar no seu mapa?? Não me parece.
Especulo então que, à falta de outro mapa passível de ser uma fonte fidedigna existente em Portugal à época, pela semelhança com os codexes (beatus), pela semelhança e próximidade de datação entre o mapamundi de Stº. Isidoro e o mapamundi no Beatus "Apocalipse" de Lorvão, a metade em falta teria uma grande probabilidade de ter sido o tal mapa que Bisagudo detinha com a localização do "Brasil".

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publicado às 13:36

Ver que muda Vermuda em Bermuda:

Mapa de Gillaume Le Tetu (1566) - a ilha Bermuda, era aí chamada la Vermude

No mapa anterior de Le Tetu, pode-se reparar que na posição da ilha Bermuda, está escrito La Vermude, uma mudança de Bermuda no tom francês. Mas, havendo a passagem do B a V, fica mais estranho, e soa mesmo a "Vermute"... até porque mais a sul temos Martinica.

O nome Bermuda é supostamente reduzido a uma pseudo-descoberta por um piloto de Colombo, de nome Juan de Bermudez, em 1505. Não parece difícil aceitar que ficasse com esse nome, até porque no livro Legatio Babylonica (1511) de P. Anghiera, aparece um mapa com "la bermuda" e a forma gótica da letra 𝖇  sugere uma  possível confusão com um gótico 𝖛 (que pode ainda ser pior em maiúsculas, ou seja, entre 𝕭  [B] e 𝖁  [V]).
Ou seja, como habitual, confusões à espera de ocorrerem...

É certo que os próprios espanhóis usaram o nome Vermuda, como se pode ver num livro de 1673, "Arte de Navegar" de Lázaro de Flores. Isto só é mais estranho, porque querendo reportar a Bermudez, não seria natural escrever Vermudez, ou Vermuda.

Esta confusão típica entre B e V, levou-me à decomposição de Vermuda
com origem em "Ver Muda" ou ainda em "Ver Mudo", 
em português.
Teria havido na ilha da Bermuda uma presença portuguesa? Como se denominaria?
- "A boa ilha" parece ser a resposta.

Aparentemente é reportado que antes da chegada dos ingleses em 1612, a ilha teria servido como porto ocasional de navios portugueses e espanhóis.
Depois, ao mesmo tempo que se desenrolava a ocupação espanhola do território português, é sabido que ingleses e holandeses começaram a rapinar todos os mares.

No caso inglês, a ocupação começou na Virgínia e Terra Nova.
Curiosamente, neste mapa de Tetu, toda a parte da América (correspondente à costa leste dos EUA) é denominada "Florida", não se resumindo o nome à península como passou a ser comum.

Nesta incursão pelo território americano, há a célebre história de John Smith e Pocahontas, que marca essa colonização da Vírginia, mas é ao mesmo tempo (1609) que ocorre o naufrágio na Bermuda de George Somers. Consta que os ingleses adoptaram inicialmente o nome de Somers, para designar as Bermudas como "Somer Isles".
No entanto, o que encontramos num registo de John Smith (1624), poucos anos depois, é o nome "Summer Isles", o que dá um significado diferente, mais ligado ao Verão do que a Somers.

A vila de São Jorge (St. George) na Bermuda é o mais antigo estabelecimento colonial inglês, com ocupação e permanência contínua desde 1612. Pelo que podemos ver do registo de John Smith, a fortificação na Bermuda teria sido impressionante em apenas 12 anos...

Muitos destes fortes lembram... fortificações portuguesas. Mas, isso nem seria de estranhar, porque no Séc. XVI e XVII este tipo de fortificações tornou-se popular. 
Há na Bermuda, por exemplo, torres chamadas "Martello Tower", ou mais simplesmente "Martellos"... um tipo de construção que se tornou popular na Inglaterra do Séc. XIX, e que teria o nome oriundo da "Torra di Mortella" (Córsega)... 
Mas que vemos que foi construída pela primeira vez pelos portugueses, por exemplo na Índia, no Forte da ilha de Arnala (chamada pelos portugueses "Ilha das Vacas").
Torre Martelo na Ilha de Arnala (Índia portuguesa)

Pois bem.
Uma suspeita circunstancial de aproveitamento de fortificações portuguesas deixadas na Bermuda, por parte dos recentes colonos ingleses, é apenas uma suspeita muito ligeira. Mas se atendermos às rudimentares paliçadas em forma triangular, que os ingleses colocaram no Fort James em Jamestown, na Virgínia... digamos que a pedra que sobrava nas Bermudas, era quase inexistente em Jamestown, num ponto que era bem mais necessitado de defesa!

O que há do lado português?
Normalmente, ao contrário dos ingleses, os registos portugueses têm uma grande tendência a serem ignorados, a desaparecerem rapidamente, sem justificação, ou com justificações caricatas/grotescas.

Procurando num dos poucos registos sérios - mapas de João de Lisboa (1514), vemos um pouco mais.

"A boa ilha" em mapa no Livro de Marinharia de João de Lisboa (......080.TIF)

Note-se que neste mapa os Açores são designados como "Ilhas Terceiras".
É preciso aqui considerar que há ilhas que são indicações ou posições, como "Sana" ou "Ilha da Graça" (chamadas "ilhas fantasmas"). Ou ainda, a "Ilha de Santo Antão", que poderá reportar o grande banco de Meteora (Great Meteor Seamount), por estar abaixo dos Açores.
Porém, pela latitude, que é quase igual à da Madeira (32ºN), as Bermudas parecem estar assim identificadas em 1514 (ou bem antes disso), como "A boa ilha". Todos os restantes nomes das ilhas da Madeira e Açores estão bem sinalizados.

Em conclusão:
- A ilha Bermuda chegou a ser chamada "A boa ilha", talvez uma certa Ilha dos Amores, ao jeito dos Lusíadas (ainda que tenha tido o epíteto de "ilha dos diabos", talvez para despiste).
Depois houve a "Muda", a mudança do "Tratado das Tordesilhas" - que curiosamente nunca é representado no Livro de Marinharia. Essa mudança implicava uma mudança de territórios que teriam sido antes portugueses e passariam a ser espanhóis, pelo referido tratado. 
De onde os portugueses iriam ver a muda ser feita? - de certa "ver muda", Vermuda, ou Bermuda.

Tal como os Açores ou a Madeira, seria natural que pudesse ter tido um estabelecimento estável, e bem sustentado com boas fortalezas. Só que seria para ver, sim, mas para ver mudo.
Ou seja, seria uma das silenciosas ilhas não reportadas, no meio do Oceano, tal como foram Tristão da Cunha, Ascensão, Santa Helena, etc... 
Depois, quando houve o domínio filipino, com os esforços que D. António, Prior do Crato, levou a Inglaterra, no sentido de ganhar apoio para recuperar o trono, todo esse silêncio e segredos foram em grande parte revelados aos ingleses. Seria natural que, entretanto (entre 1580 e 1610) estivesse "a boa ilha" abandonada, por falta de abastecimento regular do reino.
Aparentemente os espanhóis só fizeram um esforço para a recuperar em 1614, mas talvez percebendo que os ingleses já faziam uso das fortificações portuguesas, abandonaram qualquer outra tentativa.

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publicado às 21:18


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