A Ordem dos Templários foi uma organização transnacional, com poder militar próprio.
- Que outra organização transnacional militar existiu antes? - Os Hospitalários.
Ambas estas ordens militares foram criadas após o sucesso da 1ª Cruzada. Os Hospitalários em 1113, e os Templários em 1119.
Repare-se que antes disso, e ao longo da história conhecida, o poder militar estava associado a um rei ou a um seu vassalo nobre. - Qual foi a primeira organização hierárquica transnacional? - A Igreja Cristã.
O Império Romano, tal como impérios anteriores, juntavam diversos povos, reinos, podia manter alguma autonomia dos mesmos, mas todo o poder era centralizado sob uma única nação romana. Ou seja, não eram autorizadas disputas, guerras, dentro do império. Nos impérios anteriores a situação era semelhante, com o poder era centralizado na pessoa do imperador, e normalmente com as religiões de serviço sob a sua obediência.
Raramente vamos encontrar uma religião transnacional, e no entanto vemos religiões muito semelhantes, como acontece entre o panteão de divindades romanas que era praticamente idêntico ao panteão de divindades gregas, e ainda com semelhanças com religiões de outros povos (etruscos, fenícios, etc.).
Com a dissolução do Império Romano Ocidental, formam-se diversas nações, reinos autónomos, que podiam entrar em grandes guerras entre si, mas onde o Papa exercia uma uma função arbitral, mais ou menos passiva, já que estava destituído de força militar.
Com o advento das Cruzadas e a formação das Ordens Militares, a situação vai-se alterar de forma considerável, porque estas organizações militares gozam de uma considerável autonomia, apesar de terem os seus mestres nomeados pelo Papa.
Interessa aqui notar o carácter único dos templários, já que ter um castelo templário em Tomar, seria nos dias de hoje equivalente a manter cidades sob completo controlo da ONU nos territórios onde houvesse conflito... como por exemplo no Iraque, Afeganistão, Líbia ou Síria. O mais próximo que temos disso são as bases americanas em diversos territórios. Mas se os reis portugueses toleravam a presença templária, muito mais dificilmente iriam tolerar bases estrangeiras em território nacional.
A Igreja Católica e as Ordens Militares foram o primeiro passo na definição de um poder presente internacional, para além do poder régio, mesmo que os comandantes locais fossem normalmente naturais do país, a sua obediência ia para além do poder secular e servia ainda um poder temporal.
Foi esta falha que apareceu após a Guerra dos Trinta Anos, no Séc. XVII. A separação do poder papal levou a estados independentes sem a mediação papal, sem nenhuma organização comum de bastidores, e basicamente tornou necessária a ideia de ser inventada rapidamente. Surgiu assim a maçonaria... que foi justamente beber influências às ordens militares - dos Templários e dos Hospitalários (de São João Baptista, e de Malta).
Os Cismas
A Igreja Cristã teve alguns momentos decisivos, que se propagaram como ondas sísmicas.
(i) Um primeiro momento foi a crise do Arianismo, propagada por Arius de Alexandria, que colocava em causa a Trindade, pois afirmava a pessoa do Filho procedente do Pai. O Concílio de Niceia arrumou com a questão excomungando os arianos.
Figuração bizantina em que S. Nicolau teria dado uma bofetada a Arius.
O arianismo não deixou de ter influência nos reinos ibéricos, pois essa era a linha da religião cristã visigoda, e diversas contendas com Roma foram aparecendo, com maior ou menor intensidade.
(ii) Um segundo momento foi o grande Cisma Oriente-Ocidente, por causa da cláusula Filioque, onde a Igreja Ortodoxa quebrou definitivamente com o Papado em Roma, mais uma vez por uma razão da Trindade. Neste caso, a Igreja Ortodoxa sustem (até hoje) que o Espírito Santo não procede do Filho, mas apenas do Pai. O que divide Oriente e Ocidente é a presença da palavra Filioque na frase:
Et in Spiritum Sanctum, Dominum et vivificantem: qui ex Patre (Filioque) procedit
Ou seja, "
e no Espírito Santo, Senhor, e dador da vida, que procede do Pai (e do Filho)"
.
(iii) Um terceiro momento complicado foi a Cruzada Albigense, que vitimou milhares de cátaros, no Sul de França. Neste caso, os cátaros iam bem mais longe, vendo uma dualidade de deuses. Satanás no deus do Antigo Testamento, e Cristo na pessoa do Novo Testamento. Aqui a cisão foi remediada com a força bruta... ficando a lenda de que na dúvida os 20 mil cidadãos de Béziers foram mortos, argumentando que Deus depois decidiria quais eram culpados ou inocentes da heresia.
(iv) O quarto momento ocorre no reinado de Filipe o Belo, rei francês que irá extinguir os templários.
Como o papa Clemente V é francês, decide ficar em Avignon (Avinhão), tal como os seus sucessores, todos franceses... até que um deles, o papa Gregório XI, decide o regresso a Roma.
Avignon - Palácio papal (casa oficial do Papa entre 1309 e 1376)
Quanto a franceses, Avignon serviu de lição a Roma.
Depois de Avignon, não houve mais papas franceses... aliás papas que não fossem italianos já era coisa rara, depois disso e dos Bórgia espanhóis, durante quase quinhentos anos só houve papas italianos, até aparecer o polaco João Paulo II.
(continua)