Em 20 de Setembro de 1519, Fernão de Magalhães deu início a uma viagem de circum-navegação da Terra, ao serviço de Carlos V, imperador e rei de Espanha.
Fez hoje 500 anos, mas praticamente ninguém deu por isso...
Conforme já aqui escrevemos, é praticamente certo que ele não tivesse sido o primeiro português a fazê-lo, ou pelo menos a atravessar o Estreito de Magalhães, sendo bastante mais provável que tivesse sido Diogo Cão (ou João Afonso do Estreito) a atravessar essa ponta meridional da América, porque assim o próprio Fernão de Magalhães o revelou, ao informar que seguia um mapa de Martin Behaim que estava em Lisboa.
Provavelmente o intuito do projecto de Magalhães foi reeditar de forma oficial a exploração portuguesa, chancelando a descoberta já que o D. Manuel não o quis fazer. Assim, o nome de Magalhães acabou algo submerso na perspectiva de "traição" à pátria, ao colocar-se ao serviço do monarca Habsburgo, rei de Espanha, mas com a consagração internacional, os portugueses passaram associar-se ao homem de sucesso, que era afinal nosso conterrâneo.
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Estátua de Magalhães em Punta Arenas |
Na Praça do Chile, em Lisboa, está uma estátua de Fernão de Magalhães, que não foi feita por portugueses. Está na Praça do Chile, porque foi oferecida pelo Presidente do Chile a Portugal em 1930, e é uma cópia da estátua original que está em Punta Arenas, cidade chilena que está exactamente no Estreito de Magalhães.
Esta estátua de Punta Arenas, do escultor Guillermo Cordova, foi inaugurada em Novembro de 1920, na comemoração dos 400 anos da passagem pelo estreito de Magalhães.
Não é difícil perceber que Portugal, depois da revolução republicana de 1910, não tinha autonomia para grandes comemorações, e terá deixado passar esses 400 anos de forma tão vazia, quanto acabou por fazer nesta ausência de comemoração dos 500 anos.
Por isso, foi o Chile a celebrar o evento, e foi já com o Estado Novo que Portugal recebeu a oferenda e a colocou na Praça do Chile, em 1950.
Portanto, esta tristeza institucional tem séculos.
Em Portugal foi dado mais destaque noticioso às comemorações dos 400 anos da morte de Shakespeare em 2016, do que foi dado aos 500 anos da morte de Afonso de Albuquerque, em 2015.
Havendo uma comissão encarregue da comemoração dos 500 anos da viagem de Magalhães, mesmo na minha pior estimativa, não me passava pela cabeça que neste dia não fosse notícia de 1ª página, de algum destaque de telejornais, de alguma parada militar, e que esta comemoração passasse quase tão despercebida, que ao que parece nem o Presidente da República se associou a nenhuma iniciativa. Mesmo a Marinha, que costuma ter obrigação de ter mais memória, fez pouco mais do que de conta que o evento se registou... e para além de uns colóquios de armário, tem o navio-escola Sagres a fazer uma circum-navegação similar.
Dado o contexto do Século XXI, isto não é de estranhar, e já nem há quem tenha vergonha, porque quando se está no meio do lodo, o cheiro fétido passa a ser aroma ambiental.
Finalmente, e como não poderia deixar de ser... o grande destaque do dia foi para mais uma das múltiplas orquestrações internacionais que pegam numas centenas de jovens e fazem-nos gritar pelo ambiente. Ao mesmo tempo que vão poluindo esses locais de manifestações com todo o tipo de plásticos, desde refeições enlatadas a copos de plástico de cerveja.
O problema ambiental é simples... como mostra o dia de hoje, nos últimos dias de Verão chove, faz frio, mas a temperatura aumenta e o ambiente degrada-se. A temperatura apenas aumenta no sentido figurado, porque é difícil congelar o acesso à informação, sem medidas drásticas. O ambiente dos controladores do regime degrada-se, e qualquer dia temos novas greves dos controladores. O perigo de inundações de informação é evidente, e contrariar factos objectivos é uma seca. São estes os apanhados do clima que se queixam das alterações ambientais.