Tal como no caso do Colosso de Pedralva, a estátua teria um falo, que a Revolução dos Aiatolas levou à castração. Além disso, sofreu de decapitação duas vezes, estando na imagem uma réplica substituta da cabeça, enquanto a
original aguarda um museu.
A cópia é bastante deficiente... e o problema, além disso, é que a estátua no conjunto tem poucas parecenças na qualidade com outras estátuas gregas da época. Mas há uma
placa escrita em grego, do tempo do império Seleucida, remetendo a autoria para ~ 153 a.C.
É sempre bom lembrar aos "artistas" que mudar placas é coisa fácil de fazer, e são muitos os casos, (como uma certa ponte emblemática de Lisboa que começou com um nome e acabou com outro, coisa própria de um regime dedicado ao gamanço descarado).
A estátua é "pequena", não passando de 2 metros, e esteve oculta até 1958, e por isso se conservou razoavelmente. Além disso está numa escarpa razoavelmente inacessível, num cenário onde se encontram outras inscrições cuneiformes e relevos do tempo do rei persa Dario.
Hércules será atributo relacionado com Hera, já que o seu nome (segundo os gregos) seria
Alkaios ou
Alkeides de onde saiu o nosso "Alcides". Não será de excluir que pudesse ainda sair Alcaides... ou seja, que fosse um atributo de líder, depois usado nas vilas, enquanto
alcaide... fosse ou não por influência berbere, já que as colunas de Hércules tinham dois lados!
A influência no mundo antigo, através das Colunas que tiveram o seu nome, ou pela presença do seu maior templo em Cadiz (Bernardo Brito pretendia ser no Cabo de S. Vicente), é incontornável na península ibérica, seja ou não enquanto mito, pois influenciou os milénios seguintes.
É também nesse contexto que convém mandar para as urtigas a ideia de que se trata de mitologia exclusivamente grega. Foi Herácles entre os gregos, Ercles entre os Etruscos, Hercules para os romanos, Melqart para os cartagineses, etc...
Os autores antigos dizem que houve mais do que um, e daí as confusões... mas neste caso estou interessado especialmente naquele que se impôs na península ibérica, pois ao que consta foi desse que surgiu o mito.
Segundo a história ou mitologia ibérica, este Hércules saiu do Egipto, andando à pancada por todo o lado, com o nobre intuito de impor uma lei mais justa ao povo... e daí a comparação com Napoleão, que arrasava tudo com o mesmo pretexto.
Egipto... quem?Primeiro não pensei no Egipto, porque um candidato natural para ser um Hércules, seria o sumério (ou acádio) Sargão, que também é suposto ter andado por paragens afastadas da Mesopotâmia, e numa estela fragmentada poderá estar a dar com uma maça na cabeça de um prisioneiro.
No entanto, não havia nada de significativo que pudesse relacionar um com outro.
A situação é bastante diferente se passarmos para o Egipto, e o suposto primeiro faraó, cujo nome interpretado hoje em dia é Narmer ou Menes, e que foi sucessor do mítico Rei Escorpião.
Quer o rei Escorpião, quer Narmer, têm expostas enormes maças (ver
Scorpion Macehead e em especial
Narmer Macehead), ou melhor, a cabeça da maça:
Esta cabeça de maça de Narmer estaria depois presa a um cabo que se segurava, dando um balanço enorme, e uma temível pancada. Por outro lado, Narmer está associado a Hórus, e esse é também o nome que segundo Bernardo de Brito, e restantes cronistas da Monarquia Lusitana, estava associado a Hércules. Finalmente, em uma das estelas mais evocativas do período de Narmer, vê-se o faraó brandindo uma maça, ao mesmo tempo que segura um inimigo pelo cabelo.
Este tipo de pose é vista na estátua de
Hércules com Caco (Séc. XVI) ou numa estátua romana de Hércules dominando Gerião (que curiosamente aparece com uma armadura romana):
Portanto, parece-nos que há pelo menos 3 pontos que favorecem uma hipótese deste Narmar se identificar a Hércules.
Quanto ao nome, não há aí qualquer semelhança... mas convém ter em atenção que este nome Narmar ou Menes (outra forma), são interpretações dos hieróglifos... e sobre a credibilidade da tradução feita por Champollion e seguintes, remeto para um
texto anterior.
Este é apenas o primeiro texto de uma pequena série, que, conforme já dissemos irá englobar a Crónica de 1344 e parte da Monarquia Lusitana de Bernardo de Brito, dedicada a Hércules.