É complicado justificar o achado de uma escultura romana numa estação arqueológica mexicana, neste caso trata-se de uma cabeça fora do sitio...
Eventualmente isso levaria a admitir viagens pré-colombianas à América, e isso é um dos tabus em que ainda não há autorização para tocar.
É sempre engraçado e risível observar a reacção a estes achados. Arranja-se sempre uma objecção, por mais estúpida que se possa imaginar.
A solução neste caso foi assumir posteriormente que se tinha tratado de uma brincadeira de um estudante, nas escavações realizadas em 1933.
Quer o professor J.G. Payon, quer o estudante, já estão ambos mortos, e por isso a história nunca foi confirmada, terá sido apenas lançada para o ar depois, pretendendo-se remeter ao descrédito a importante descoberta que tinha escapado ao crivo censório.
Este tipo de atitudes difamatórias resultam bem numa estrutura piramidal académica.
When Hristov was here, two or three years ago, he approached me to read the first draft of the article. At that time I told him something the old-timers know: A typical student prank; the figurine was planted in Don Pepe's [José Garcia Payón's] dig, the saying goes, by Hugo Moedano. Don Pepe took it so seriously that no one had the heart to tell him it was a joke. This I remember having been told by John Paddock, and others of the older generation –Jaime Litvak for example- had heard this. Hristov refused to check out the story; he told me he had not encountered a published reference to this anywhere!
Taking into consideration Hristov's known unethical behavior and the obvious controversy which would result from the publication, I find it extremely hard to believe that two of the three serious and professional referees (and in this case perhaps five should have been consulted) would support the article. Consider that a preliminary version of the article was published in Arqueología Mexicana, causing Jaime Litvak to resign from the editorial board."
Paul Schmidt pretendia que por ter contado a Hristov a estorieta de John Paddock, de que o achado tinha sido uma partida estudantil, isso colocasse um ponto final no assunto. Como Hristov não acreditou numa estorieta não documentada, passou a ter "falta de ética". Schmidt queixava-se à revista porque o artigo tinha passado por 3 referees, e não teria sido chumbado... diz ele que deveriam ter sido mais - de preferência que subscrevessem a estorieta, está visto!
Esta transcrição é elucidativa, e Paul Schmidt acaba por lançar mais crédito à descoberta com a sua carta pouco ética e ainda menos científica... parecendo que ele é que ficou com a cabeça perdida.
Ficamos assim a saber que basta invocar um diz-que-disse (sic. "the saying goes"), uma anedota estudantil, para invalidar achados arqueológicos incómodos.
Porém estas coisas não devem ser vistas isoladamente, há pontos comuns nestas desacreditações institucionalizadas. Há depois quem acredite seriamente, pelo simples facto de ter sido sempre admitido que se tratava de falsificação, como será o caso das
Pedras de Ica.
Nesta cabeça, há porém algo mais complicado, porque é praticamente admitido que se trata de uma cabeça romana do Séc. III, que foi parar ao México. Dificilmente é de acreditar que o estudante mexicano tivesse acesso a tal coisa, e que levasse a brincadeira tão longe. Onde a teria arranjado? Não deveria haver em 1933 muitas esculturas romanas à solta em museus mexicanos. Porém este tipo de justificações, necessárias para validar a estorieta da brincadeira, não parecem ser necessárias.
O local de escavações foi datado entre 1476-1510, ou seja antes da presença espanhola. Ainda que fosse depois, perguntar-se-ia o que faria um soldado espanhol levar uma cabeça romana para o México? Era para lançar a confusão no Séc. XX?