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Atlantis

07.10.12
Há quase ano e meio, no post "Traffic Signs", incluí um PDF em inglês:
Undercover History
onde referia que o relato da Atlântida feito por Platão não seria mais do que um antigo relato da América. Quando Platão descreve uma ilha maior que a Ásia e a África então conhecidas, situada além das Colunas de Hércules, no meio do Oceano, que outra descrição poderia aí caber que não fosse o continente americano?

As razões são várias, mas faltou apresentar nessa altura um mapa que esclarece que essa era também uma opinião à época dos descobrimentos, que um famoso cartógrafo - Nicola Sanson - deixou registada. A ligação americana é ainda abordada por Francis Bacon na obra "New Atlantis".

Num mapa datado na transição de 1700, Sanson vai ilustrar o novo continente com o antigo nome e o mapa da América é designado "Atlantis Insula":


Para Sanson, o "Altera Continens", o "outro continente", toda a América, é denominada ATLANTIS.
As Caraíbas são as Ilhas Hespérides, as Canárias/Madeira seriam as Fortunatas, e as Ilhas de Cabo Verde as Gorgodas (note-se que o Cabo Verde era o Promontório Arsinarium). 
Thule é a Islândia, e Sanson parece dar a entender que Ultima Thule poderia ser a Terra do Fogo, numa pequena nota junto ao Estreito de Magalhães.

A vermelho, com destaque especial, coloca duas cidades:
- Machimos Bellatrix
- Eusebes Religiosa
... que correspondem a Tenochtitlan (dos Aztecas) e Cuzco (dos Incas).
Estas cidades estavam incluídas numa outra descrição "Atlântida", nomeada Meropis pelo historiador Theopompus (cronista de Filipe II, pai de Alexandre Magno).
É interessante a designação Meropis, pois relaciona-se claramente com Merope, a mais nova das ninfas Pleiades, filhas de Atlas, designada como "estrela perdida". Merope seria a mulher de Sisífo. As Pleiades estavam ligadas às Ilhas Hespérides, e como tal ligadas ao Ocidente "perdido".

Como os nomes revelam, Machimos seria uma cidade bélica e Eusebes uma cidade religiosa. Os Meropes seriam gigantes, com o dobro da altura dos humanos normais (lembremos os patagões...), e se há quem argumente que a obra de Theopompus se destinava a ridicularizar o relato de Platão, Nicola Sanson não deixa de dar o devido destaque no mapa às duas cidades.

É também curiosa a antiga estrutura de Tenochtitlan, hoje Cidade do México, já que era praticamente uma cidade rodeada por água. Parte da descrição de Platão revela uma cidade rodeada por água, com grandes templos internos. O grande lago Texcoco foi depois completamente assoreado pelos espanhóis, e hoje boa parte da Cidade do México assenta sobre um fundo enlameado. 
Modelo da antiga cidade Azteca de Tenochtitlan


Convém aqui lembrar a versão de Schwennhagen, que sustenta que o domínio da Atlântida era um domínio dos antigos povos americanos sobre a Europa, invocando o relato da guerra entre gregos e atlantes, reportada por Sólon e escrita por Platão no Timeu.

Porém, o mais incontornável para os contemporâneos dos "descobrimentos" do Séc. XVI é justamente a confirmação da existência da Atlântida pela "descoberta" da América. Pela descrição, a Atlântida corresponderia a um continente maior que a África e Ásia, situado para além das Colunas de Hércules... essa era a versão de Platão e foi isso que encontraram - a América no seu conjunto seria uma "ilha" maior do que os gregos conheciam da África e Ásia, juntas.
A ideia de que a Atlântida está no meio do Oceano Atlântico é apenas uma fabricação posterior. Se Platão não mencionava a América, não poderia limitar-se ao Oceano Atlântico, apenas haveria um grande Oceano, um conjunto do Atlântico com o Pacífico, e assim a América surge como uma ilha continental no meio desse vasto Oceano global. Era também esse o entendimento de Sanson e alguns contemporâneos. Modificar o relato, falando de uma ilha desaparecida no meio do Atlântico, surge como uma deturpação conveniente, destinada a manter a América ausente dos relatos antigos, e a manter o relato de Platão como um mito fabuloso.

Como já aqui referimos, o esplendor cultural grego aparece subitamente no Séc.V a.C., numa altura em que iniciam as suas guerras com os Persas e mantêm excelentes relações com o Egipto. Ou seja, tudo indica que os gregos foram acarinhados pelos egípcios como força de interposição contra a expansão persa. Esta viagem de Sólon, relatada por Platão, atesta essa cumplicidade que se manteria por séculos. A ligação tornou-se mais evidente com o reinado Ptolomaico, que basicamente uniu as duas culturas, fazendo de Alexandria o centro urbano do conhecimento na Antiguidade, simbolizado pela sua Biblioteca, e eclipsando a partir daí a importância das restantes cidades gregas.

Dando crédito ao relato da Atlântida, não nos parece improvável que uma civilização americana tivesse atingido um grau de desenvolvimento naval que lhe permitiria tratar os povos da bacia mediterrânica como vassalos, tendo aí estabelecido colónias, e usando a Península Ibérica e Mauritânia como base de assalto (conforme sugere Schwennhagen). A designação de "Atlantes" ainda se mantinha nos antigos geógrafos para povos situados no litoral da coordilheira do Atlas, conforme podemos ver na reconstrução do atlas de Dionísio Periegetes. É claro que o nome poderia derivar da designação dos montes, associados a Atlas, já que as Colunas de Hércules simbolizariam os pilares onde o titã assentaria o mundo sobre os seus ombros.

Não parece assim tão improvável a existência de uma tal civilização dominante, dizimada por uma catástrofe natural, como um embate de meteoro, ou pequeno cometa. Se tal evento é admitido que possa ter ocorrido junto à Península do Iucatão, nada parece impedir que a data fosse contemporânea com o fim dessa civilização, e um efectivo dilúvio que teria colapsado as fundações do seu império e dizimado uma grande parte da população terrestre, podendo mesmo levar a uma alteração na rotação da Terra, conforme sugeriam os sacerdotes egípcios. Este teria sido o dilúvio registado por muitos povos... mas como os sacerdotes egípcios revelariam a Sólon, outros dilúvios teriam ocorrido antes desse.
O impacto de um cometa seria o suficiente para gigantescos maremotos, para um aumento do nível do mar, e uma subsequente Idade do Gelo. Os eventuais sobreviventes seriam essencialmente populações interiores com pouco contacto com as principais civilizações. Os sobreviventes mais informados poderiam depois desempenhar o papel de autênticas divindades. Mantendo uma parte do conhecimento e recuperando alguns artefactos, apareceriam como magos, influentes sacerdotes, capazes de definir o posterior desenvolvimento de impérios. A América seria território proibido por razão dos vestígios dessa civilização anterior, e até que o território fosse limpo dessa origem, manter-se-ia oculto. As viagens a essas paragens seriam desencorajadas ou mesmo proibidas. O passado permaneceria secreto, para benefício dessa elite sacerdotal que definiria o curso da futura civilização. Apesar de muitas diferenças, houve pontos comuns em civilizações que cresceram em diferentes paragens, quase sem contacto entre si. A separação entre o Ocidente e o Oriente foi muito mais que fruto da distância geográfica. Nenhuma razão parece ser suficiente para explicar uma ausência de contacto durante milénios entre a China e a Europa, e muito menos para termos a Índia e a China sem contactos constantes ou história comum.

A ocultação propositada do continente americano carece de dados para sustentarmos esta versão especulativa. Mas a conjugação com do relato da Atlântida com os diversos relatos diluvianos, dá a entender uma quebra civilizacional profunda, que provocou uma perda da memória passada. A humanidade parece ter renascido sem memória, enredada em mitos induzidos, e não haverá melhor explicação para isso do que uma catástrofe de dimensões épicas. É nesse sentido que o mito da Atlântida poderá servir como uma antiga peça no puzzle da persistente ocultação.

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publicado às 19:52


15 comentários

De José Manuel de Oliveira a 11.10.2012 às 06:56

Olá bom dia,

É provável que Platão se refira à Atlântida como sendo o continente americano oculto, este seu artigo está muito bom, eu não defendo a localização da Atlântida nos Açores, mas em 2011 descobriram megálitos e petróglifos no arquipélago dos Açores.

Pequena precisão sobre o que penso de Däniken: é uma pessoa somente com estudos básicos e formação profissional como barman, para mim foi protegido e metido na ribalta por outras pessoas que não quiseram dar a cara para revelar ao mundo o que ele revela nos seus livros, Däniken não é um escritor, fá-lo mal, Däniken é um católico criacionista crente do monoteísmo, mas revela coisas interessantes como esta:

(...) "Oficialmente não. A União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês) tem um subdepartamento intitulado SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence). Os sistemas de radiotelescópios estão ligados a ele e seu objetivo é identificar esses sinais. Oficialmente até hoje nada foi detectado, nem chiados ou coisa parecida. Mas essa história tem um ponto de interrogação: os pesquisadores do SETI decidiram entre si, o que é provado por um documento oficial, que qualquer um que estiver de serviço no observatório e escutar durante algo artificial, não pode ir ao público diretamente. A exigência é que, primeiramente, uma série de grêmios compostos por representantes do governo e até da religião discutam sobre o fato até decidir se o público deve ser comunicado ou não" [Erich von Däniken]

Toda a obra do Erich von Däniken é sustentada em "Deuses" extraterrestres que deixaram vestígios neste planeta, ele dá como exemplo maior a tal Pirâmide de Quéops, quando diz ao jornalista não ter ainda encontrado prova dos ditos refere-se a um UFO ou arca do tempo, à l'instar do que a Alemanha pôs em caixas de chumbo numa gruta de mina de sal, numa montanha, contêm toda a história da civilização germânica. É o que muita gente procura destes antigos "Deuses" ou E.T.'s, se especula que alguém a tem, provavelmente o Vaticano, para alguns.

Neste seu mapa tem duas ilhas pré-diluvianas junto à costa atlântica dos USA elas existem e estão submersas actualmente, tem o Oceano Céltico na costa do actual Portugal parcialmente submerso depois dum "dilúvio", só por isto para mim o mapa é interessante, continue que encontrará o que procura mas não será certamente nos livros antigos, já foi tudo encoberto queimado ou bombardeado a tiro de canhão...

P. S. A explicação do cientista sobre a tetraciclina nos tais ossos africanos, de prevenir da cerveja provavelmente, é bacoca, pergunte a um médico forense quantos litros seria necessário produzir e beber para ficar na medula traços tão grandes, o establishment tornasse ridículo quando lhe abanam o alicerce da sua torre de marfim, o ADN e os granitos megalíticos (como os dos Açores) não manipulam a opinião das pessoas como o fazem os jornalistas e outros escritores.

Boas leituras, cumprimentos, José Manuel CH-GE

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