Uma das pequenas surpresas que ganhou uma popularidade turística foi o
Ukulele, o
cavaquinho havaiano, reportado como tendo sido levado por emigrantes madeirenses para o Havai. Conta a estória que após uma actuação entusiasmante, os havaianos, através do seu rei Kalakaua, começaram a incorporar o cavaquinho na sua música. Se nos parece que o fabrico do cavaquinho pode ter ajudado à música, nada na tradição musical portuguesa se compara aos sons havaianos que dali surgiram... Ao que parece os nativos não dão cavaco a essa estória oficial, e argumentam que a música é mais antiga.
Talvez até a introdução do cavaquinho tivesse sido mais antiga, nalguma viagem Pacífica não registada, também levada a cabo por portugueses. Pragmaticamente o Rei Kalakaua teria concordado com a versão emigrante... afinal o que se teria passado noutras paragens Pacíficas não afigurava nada de pacífico.
Na página 230 da revista
Panorama (Vol. 16) lê-se uma informação instrutiva:
- Os aborígenes australianos dividiam-se em dois grupos: - um de raça negra, semelhante à africana, e outro dos malaios-polinésios... que seria a raça dominante, e a única a impor resistência aos europeus.
Passados alguns anos, os aborígenes passaram a ser entendidos como sendo apenas os negros... os outros teriam desaparecido, como antevia já a revista Panorama. Dos malaios-polinésios podemos ter uma ideia do que se entendia como tal, olhando os Maoris da Nova Zelândia.
É muito natural que os maoris se estendessem da Nova Zelândia à Austrália, e não haveria aparente razão para
excluir a Austrália das fixações dos polinésios, especialmente da sua costa oriental.
Já tinha aqui falado na possibilidade de um "reino pirata" na costa oriental australiana, para justificar as ilustrações dos
mapas de Dieppe, e a prolongada ausência de exploração de um continente que ficava a distância de piroga das rotas comerciais dos portugueses, espanhóis, holandeses, franceses ou ingleses... Não tinha considerado a hipótese de um reino polinésio hostil, cujo destino se esfumou na historiografia oficial, até ler este apontamento numa revista da época.
O genocídio associado à
Black War dos anos 1830's é essencialmente reportado à Tasmânia e à raça aborígene negra, e nunca me lembro de ler nenhuma referência a malaios-polinésios... percebe-se agora porquê - desapareceram todos!
Por isso, dado o modo de resolução destes problemas Pacíficos, entendem-se as colaborações mais pacíficas doutros reis, nomeadamente de Kalakaua, ainda que um século antes a vida de Cook tivesse terminado nas ilhas havaianas em 1779, de forma algo similar à de Magalhães.
Os polinésios surgem como um dos últimos mistérios à navegação... a menos que se aceite a tese dos acidentes sucessivos, a sua colonização do maior oceano terrestre, espalhando-se por todas as ilhas pacíficas, faz parecer a história das navegações europeias como aquilo que é - uma fantochada completa!
Em 1947 alguns noruegueses mostraram como seria possível navegar entre a América e a Polinésia, através da viagem da jangada Kon-Tiki (aka Viracocha)... ainda me lembro de ver o livro da expedição na estante lá de casa, foi uma aventura que teve sucesso mundial à época!
No entanto, a estória que iria ser vendida no pós-guerra seria outra, e estas aventuras revelam-se mais como desventuras, a quem não soprarem os ventos da boa ventura. E em navegações com ventos tão adversos, melhor é recolher o velame, ou ousar uma navegação à bolina, como faziam as primeiras caravelas.
Nesse sentido há alguma informação interessante compilada no artigo da Wikipedia "
Theory of Portuguese Discovery of Australia", onde se reúnem algumas informações relevantes pelo lado português. Já que o material recolhido em terras australianas parece desaparecer ou ser desacreditado, alinhando toda a documentação oficial na fabulosa teoria do "grande continente difícil de encontrar", é especialmente interessante o mapa de Nicola Desliens (que se inclui nos mapas de Dieppe):
Nicola Desliens (1566)
... e é especialmente interessante ver um mapa onde não aparece o Japão, por isso suspeitaremos baseado em original anterior a 1544, mas onde a extensão australiana começa delineada, com o nome Java Maior, e com as respectivas bandeirinhas portuguesas...
Mas, ao contrário do que é popularizado, descobrir não é encontrar, é retirar do encobrimento, e isso só pode ser feito identificando primeiro o que o encobre. Ora, o encobrir resulta normalmente de calculadas vantagens face ao descobrir... e até que se torne por demais evidente que é pior desvelar o encobridor do que o encoberto, os ventos continuam a soprar no sentido errado da História.