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Ebreus do Ebro

15.01.11
[ Esta Estória é motivada pelo comentário da Maria da Fonte sobre o Mar Vermelho, em que fala de Moisés, ligando a outro comentário sobre o Ebro... e como seria natural ligar-lhe ebreus, sem "h"! ]

Quando a dúvida sobre a História oficial se torna uma certeza, é natural querer reencontrar o enorme puzzle criado com as sucessivas mudanças de nomes, de atribuições, etc. 
A partir daqui, vivem apenas as especulações, mais ou menos baseadas, e por isso falamos apenas de Estórias.
Qualquer associação mais séria poderia levar a confusões com pessoas que tomam apenas o oficial como sério.

Esta estória tem como dúvida fundamental a deambulação de 40 anos no deserto, de Moisés com o seu povo. É um dado mais preciso do que qualquer nome mudado de localização perdida...
Uma pequena população em migração focada, mesmo em ritmo lento, pode deslocar-se sem dificuldade 100Km por ano... Sendo menos do que isso, desfocaria o seu propósito migratório. 
Ao fim de 40 anos falamos no mínimo em 4000Km.
Se pretendermos colocar essa deslocação do Monte Sinai para Israel, falamos de 10% desse valor, ou seja, não parece lógico migrar apenas 10 ou 20 Km por ano... isso seria a periferia do acampamento.

Um deserto com 4000Km, partindo do Egipto, e sem encontrar civilizações, apenas faz sentido a Ocidente.
Ou seja, a partir daqui colocamos a nossa Estória de travessia do deserto no Norte de África. Há até nomes que encontramos sem esforço, por exemplo Massah é referido no Exodo e é ainda nome de uma cidade Líbia.

Nesta estória, Moisés teria escapado do Egipto com o propósito de atingir, não a península do Sinai, mas sim a península Ibérica, e mais além! Essa sim, seria a sua terra prometida...

Mosaicos no Monte Nebo (Séc. V) 
- lugar jordano atribuído à morte de Moisés.

O tempo histórico de Moisés segue na linha de perturbações no Egipto, que poderiam corresponder à transição entre Hatchepsut e Tutmoses III, ou ao fim do culto monoteísta de Akhenaton, sob forte convulsão e perseguição (a datação é duvidosa, porque estranhamente o nome dos faraós contemporâneos de Moisés não é referido). 
As navegações egípcias envolveriam o Mediterrâneo até à Hispânia, e mais além... isto seria do conhecimento da corte a que Moisés pertenceria. Uma dissidência natural seria procurar a outra Egitânia... literalmente terra do Egito, nome recuperado para Idanha-a-Velha no tempo Suevo.

A haver uma fuga para a península do Sinai, seria uma fuga estranha, colocada à mercê de qualquer perseguição egípcia, encurralados pela própria geografia do local inóspito. A localização medieval da passagem no Mar Vermelho foi logo disputada pela própria tradução de Yam Suph que se referiria literalmente a um mar de algas (sargaços?)...

São poucos os lagos que foram chamados mares... e certamente é estranho chamar-se Mar Morto e não Lago Morto, dadas as suas pequenas dimensões. Já por oposição ao Oceano Atlântico, o Mar Mediterrâneo pode até ser visto como um mar de águas calmas... o novo destino que levaria ao mar de sargaços, deixaria atrás um mar morto.

Nesta estória, o êxodo de 40 anos teria seguido a direcção ocidental, iludindo a perseguição egípcia que levaria a uma mais natural perseguição oriental, na direcção oposta. Moisés abriria caminho por terra, enquanto que os seus perseguidores seriam iludidos, e teriam sofrido sorte diferente no mar a oriente. Procurando evitar confrontos com as populações ou avistamentos costeiros, a migração seguiria por ocidente, pelo longo deserto saariano, durante longos anos, guiada pela fé de Moisés em atingir o destino ocidental.

A última passagem seria agora o estreito de Gibraltar... não logo no início da estória, mas sim quase no fim dela. De início figuraria como propósito, o objectivo traçado que os afastaria definitivamente dos inimigos.
Moisés terminaria sem ver a "Terra de Canã", e caberia a Josué conquistar esse território. 
Faltarão imensos detalhes da estória, contada muito posteriormente... mas sendo negado a Moisés vislumbrar o Atlântico, feita a passagem do estreito, poderia não ter passado o rio Guadalquivir. Quanto a montes sagrados, pois a serra Nevada cumpriu esse papel, mesmo durante o domínio do reino de Granada, com "o vermelho" Alhambra. Do outro lado, a evidência é maior... Jabal Musa - Monte de Moisés é o nome dado ao monte Sinai, mas também ao monte que está no lado marroquino do estreito!
(a) (b)
Jebel Musa (monte de Moisés): (a) o monte Sinai, (b) um dos pilares de Hércules.

Outro nome, Hebron, sem H revela-nos Ebron... e se o rio Ebro derivava de Ibero, pois a designação Ebreu poderia abreviar a descendência ibérica. Acresce a "nossa" curiosa troca de B por V... já que quando nos referimos a Éber, a grafia hebraica é Éver, havendo vários outros casos semelhantes (por exemplo, Reoboão e Rehavam...). As designações "israelitas", "hebreus", "judeus", podem referir-se não apenas a períodos de tempo distintos, mas também a resultado de migrações e partes geográficas diferentes. 

A existência de um poderoso Rei Salomão não teria passado despercebida na literatura grega ou egípcia, se o seu domínio se acotovelasse com o Rei Hirão de Tiro, na exígua faixa marítima mediterrânica (que foi depois consagrada a ambos). Seria mais natural uma coabitação entre fenícios e hebreus na extensão ibérica. Isso justificaria aliás as diversas nomenclaturas e origens de povos mencionados, bem como a presença de nomes tipicamente fenícios (como Balaam ou Balak).
Seria mais natural uma exploração marítima de Salomão, na pista do mar dos sargaços, na rota do acadiano Sargão. A terra prometida iria agora mais além do que o exíguo território que se colocava na tradição israelita. Seria essa memória que ficaria na tradição posterior, aquando do cativeiro na Babilónia.
Aliás, a separação hebraica dá-se a seguir a Salomão, havendo posteriormente uma conquista por Sargão II, agora Assírio, pelo que uma Jerusalém independente em Israel estaria sob diversas vicissitudes da região...

Quando Nabucodonosor II estende o seu domínio para além do Egipto, derrotando Neco II, vai preocupar-se em sitiar Tiro durante vários anos... a Fenícia é conquistada depois do Egipto, aparece em conjunto com a derrota hebraica, mas mais uma vez sem qualquer auxílio de uma eventual Cartago, já então existente.
Ao período de deportação, segue-se um longo cativeiro sob regime esclavagista, só terminado com a invasão persa de Ciro II. Camões recupera "Sôbolos rios que vão por Babilónia", bem conhecido dessa diáspora hebraica, ainda que num contexto diferente... o Sião já é outro. A cidade cantada como Sião é identificada a Jerusalém, afinal poderia ser outra, situada numa outra costa ocidental?
Cativeiro na Babilónia (c. 600-537 a.C.)

Nesta estória, são também os hebreus ibéricos que são deportados. Quando Ciro II concede a libertação desses escravos, eles serão recolocados no reino de Judá, perdendo-se a anterior ligação ibérica, quiçá apenas mantida no nome alternativo hebraico. Estando perdida uma parte apreciável da memória, por eliminação das elites em cativeiro, grande parte da história foi reescrita nessa altura persa de Ciro II e redireccionada para o único território admissível, Israel. Uma eventual remniscência foi depois recuperada pelos judeus sefarditas, na sua nova diáspora por terras ibéricas, na altura dos descobrimentos. Talvez se tenha tornado claro que as descrições do período de Salomão se poderiam adaptar a uma presença ibérica, e assim justificar a perda de todos os registos.

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publicado às 21:19


7 comentários

De Alvor-Silves a 20.01.2011 às 06:40

Caro José Manuel,

a Igreja sempre assumiu frontalmente uma escolha de apenas 4 dos muitos evangelhos, isto no que diz respeito ao Novo Testamento. Conforme realcei em post antigo (http://alvor-silves.blogspot.com/2010/06/west-fall.html) é muito natural que a consolidação do cristianismo tenha tido objectivos de filosofia própria de sacrifício e promessa de vida melhor aos escravos.
Também já aqui referi o Arianismo, doutrina de Arius, derrotada no Concílio de Niceia, mas adoptada pelos Godos (e que tem sido confundida com posição sobre a raça Ariana... coisa inventada recentemente).

Não conhecia nenhuma posição de dúvida/reescrita sobre o antigo testamento... mas é igualmente natural, e se aqui a coloco no período de Ciro, após o cativeiro babilónico, pois a tese de que pode ter sido anterior, é igualmente possível. O que é inconsistente é duvidar-se do período de Salomão e ao mesmo tempo atribuir-se a ele essa reescrita..
- A tese desse livro, querendo diminuir o caso hebraico a uma simples tribo nómada, parece-me exagerada.

Se não houvesse um forte sentimento de nacionalidade, criado por sucesso civilizacional anterior - período de David e Salomão - a doutrina hebraica nunca tinha permanecido viva durante tanto tempo. Ainda por cima, sempre em circunstâncias desfavoráveis, durante milénios sob domínio estrangeiro e perseguições alternadas.

Eu não coloco as traduções egípcias num pedestal de credibilidade. É-nos dito que foi Tutmoses que apagou os registos de Hatchepsut... mas isso está feito de forma tão tosca que não honraria um grande faraó. Era mais fácil para ele ter feito um novo monumento.
A forma tosca como foram obliteradas informações nos monumentos egípcios parece-me muito mais obra de soldados expedicionários de um qualquer corpo napoleónico, que ainda quiseram quebrar a esfinge.
Ou seja, os documentos egípcios são o que são, e foram seleccionados e traduzidos primeiro por um grupo restrito de académicos. Só depois eram tornados acessíveis ao grande público.
A história da Pedra da Roseta é uma estória de menino prodígio, boa para criancinhas, quando de facto os coptas resistentes nunca perderam o traço da sua cultura inicial egípcia.

O que nos chegou, meu caro, teve quase mil anos de escrutínio apurado... a idade média serviu basicamente para apagar os traços europeus e a memória de coisas antigas proibidas.
Mesmo assim, alguns terão guardado coisas que escaparam... os manuscritos do Mar Morto são exemplo de uma tentativa de preservação de informação, resultado das perseguições.

Os Vedas são igualmente importantes e há de facto alguns ponto de contacto entre os mitos. O uso da trindade Brama, Vijna, Xiva, pode ter influenciado o cristianismo? Duvido... a perspectiva é filosoficamente bem distinta, ainda que ambas se baseiem em argumentos muito sólidos, e não fáceis de entender por leigos.

A filosofia iluminista, essa sim foi copiar imensas coisas aos Hindus, e aos gregos menos conhecidos, reportando coisas velhas como novidades. Aliás a filosofia ocidental tem só uma tentativa original com Kant...

Às vezes é difícil perceber quem influenciou e quem foi influenciado. Por exemplo, a Amazon usa Obidos como designação referindo-se a Obidos do Amazonas... porém poderiamos pensar que se tratava de Obidos de Portugal, que até terá motivado o nome da outra. Porém fica sempre a dúvida, sem outro esclarecimento.

Abraços!

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