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Há demasiados pequenos detalhes a registar, talvez não substanciais cada um deles, mas acumulam para um texto diversificado. Alguns destes tópicos foram abordados nos comentários e daí o nome...

1. Leão dos Jerónimos
É apenas um detalhe, mas não deixa de ser interessante que também o leãozinho na fonte do Claustro dos Jerónimos tem o cabelo liso e a cauda a cair nas costas (como acontecia com os de Évora):

Seria este leão feito de raiz para o Mosteiro, indo basear-se nos antigos encontrados pelos campos, ou seria este um dos leões encontrados pelos campos, que foi ali colocado?

Leões de juba com o cabelo escorrido e cauda nas costas, não são fáceis de encontrar. 

Dei com um par deles na Catedral de S. Lourenço em Génova, mas como se perceberá o aspecto é bastante mais sofisticado, e com efeito são já reportados ao Séc. XIX.

No entanto, não indo longe, e procurando ao lado, em Espanha, encontramos outros, na Catedral de Ávila (em baixo, esq.), na Catedral de Ourense, ou ainda em Baños de Ebro (em baixo, dir.).


Não me parece ser possível concluir muito com esta informação, mas este estilo de leões parece ter feito sucesso na península, poderá ter vindo na Antiguidade (assim foi a opinião do Museu de Évora), sendo eventualmente recuperado na Idade Média, mas não deixa de evidenciar uma raiz mais antiga e singular.


2. Condomínio no Castelo de São Jorge?
Procurando saber um pouco mais sobre a editora Mattos Moreira & Cª (que editou os volumes de Pinho Leal, e também algumas obras de Camilo) fui parar a esta imagem no blog restos de colecção:


Ao que um leitor aí perguntou:
- "Que prédios são aqueles dentro das muralhas do castelo?"
tendo obtido a resposta:
- "Aquartelamento e prisão desde 1807 até cerca de 1940".

Apesar de ter sido iniciativa do General Junot de modificar o espaço, instalando aí o seu quartel-general, o Castelo de S. Jorge já não era Paço Real desde o Séc. XVI, quando passou a existir o Paço da Ribeira. As instalações foram mesmo passando por aquartelamento e prisão, até ao funcionamento da Casa Pia (entre 1780 e 1807). De qualquer forma as obras de Junot devem ter sido razoáveis, porque só com um governo nacionalista, é que conseguiram deitar abaixo a memória invasora. 
Fotos desta lembrança de Lisboa não são (agora) fáceis de encontrar.

3. Relógio do Convento de Cristo
Digamos, se tivéssemos que escolher os monumentos históricos mais emblemáticos do país, só faltaria mesmo a Torre de Belém aparecer com duas torres, ou algo do género.
Por esse lado, não encontrei nenhuma modificação importante, mas, com efeito, havia um relógio no Convento de Cristo, em Tomar.
Foto (1928) em tomaradianteira.blogspot.com

Segundo é contada a história no blog Tomar a dianteira o relógio esteve a funcionar até 1937, altura em que especialistas alemães (dada a época, nazis) tiraram o relógio, anunciando problemas estruturais, mas deixaram ficar o mostrador, que foi definitivamente retirado depois de 1974.

José Manuel Oliveira tirou fotografias ao mecanismo, que se encontra guardado (ver postal sobre o assunto), e poderia ser relógio do Séc. XVI (segundo esse blog), tem no entanto um mecanismo de escapamento em âncora, que é só típico em relógios posteriores a 1650.


4. Relógio da Sé de Lisboa
D. Fernando é um dos reis mais controversos, pois ao mesmo tempo que edificou construção notável... e tentou anexar Castela, acabou por casar a filha única com o rei castelhano. Ao que consta, em desespero de causa tentava que um seu neto viesse a ser rei em Portugal. Tudo isso originou a crise 1383-85, que levou o meio-irmão bastardo, D. João I e a sua Dinastia de Avis ao trono.

Terá sido D. Fernando a reedificar as torres da Sé de Lisboa, e a juntar-lhe o relógio, que à época era o primeiro em Portugal. Assim se lê, na Monografia sobre a "Egreja matriz de Lisboa" escrita pelo Abade Castro e Sousa em 1875, no nº 5 do Boletim Architectonico e de Archeologia (pag.67).

Ainda neste capítulo de relógios, há uma boa série de imagens na tese de mestrado Guardiães do Tempo, de Lúcia Marinho - FLUL (2010). Com algum destaque:
(i) D. João III apresenta um relógio que tem 2 ponteiros (horas e minutos), o que seria grande novidade em 1540 (data do suposto retrato), mas o quadro e é de Carlos Falch, circa 1650, e já não é grande novidade... ainda que me pareça provável que este retrato post-mortem de Falch seja baseado num outro quadro original da época (até porque o rei está em pose), mas ainda assim não é claro que o desenho do relógio fosse o mesmo, e os 2 ponteiros podem ser entendimento de Falch.
(ii) Catarina de Bragança terá um relógio num pequeno pendente. Uma miniatura, talvez mais pequena do que os Pomander de Peter Henlein.

5. Erros nas transcrições dos originais
Um dos elementos principais dos historiadores, é que raramente são caligrafistas e têm que recorrer a técnicos especializados no assunto.
Há duas maneiras de entender o assunto - ou corre bem, ou corre mal...

Num comentário de Djorge sinalizando uma obra de Duarte Barbosa que estava transcrita e da qual também se tinha o original, foi possível detectar imediatamente a liberdade com que estas transcrições são feitas (neste caso a transcrição seria de 1946.

- Por exemplo, na página 211 da transcrição aparece "Ilhas de Bandão", quando no manuscrito está apenas "banda". 

Mais se nota que logo de seguida é transcrito:
  • E mais ao diante deixando a ilha de Timor, estão cinco ilhas...
enquanto no manuscrito parece estar:
  • Passada esta ilha de Timor, mais pelo norte, estão 5 ilhas...
Ora não é importante este detalhe, mas parece-me que podem ser os seguintes.
Com esta liberdade de transcrição qual é a confiança que podemos depositar nesta malta?
- Zero ou quase...

Não interessa verificar se a minha transcrição está bem, o que é seguro é que a transcrição feita pelo especialista está mal, porque não é literal quando o poderia ser. Eu diria mais, foi feita com o descuido de quem estava confiante de que não iria ser censurado por fazer o que fez.

6. Manifesto de navegação
Convém fazer aqui uma pequena divagação filosófica, porque me parece útil e esclarecedora.
Não sou historiador, nem burocrata estatal.

Contesto as contradições, que sendo conscientes, são vergonhosas mentiras, alimentadas ao longo de séculos e até milénios, mas por fazer isso não tenho qualquer mínima obrigação de apresentar uma história alternativa. Mas tenho o direito social de exigir uma reparação aos historiadores e burocratas estatais de serviço. Porque dessas mentiras conscientes ou incompetentes, alimentadas pelos próprios responsáveis estatais, nasceram lucros monstruosos e pobreza monumental.

Pessoalmente, é-me absolutamente indiferente que os documentos que vão sendo disponibilizados sejam verdadeiros ou falsos. Acredito que na sua maioria são verdadeiros, apenas por preguiça e incompetência. Ou seja, pelo simples facto de que o sistema social teria que debitar e acumular informação, e não conseguiria processar falsidade em toda ela. Mesmo com todos os incêndios, roubos, adulterações, pretensas falsificações, etc, o sistema não conseguiria aguentar-se num vácuo histórico, e por isso tem algumas bases verdadeiras.
No entanto, e porque a panela começa a acumular demasiada pressão pelo acumular de falsidades, o que vai interessando é relativizar a verdade, e procurar que os cidadãos sejam comprados pelo conforto e segurança, e ao invés de se apoquentarem com certezas absolutas, se vão entretendo com memórias temporárias, cada vez mais curtas.

Quando os cidadãos de um estado não conseguem obter informação verdadeira desse estado (e não estamos a falar de segredos de estado actuais, estamos a falar de coisas que se passaram há séculos), então estão a ser discriminados como estrangeiros ou como indígenas colonizados, pela própria pátria.
Se numa monarquia tal ideia ainda pode ser considerada, porque se assume que os plebeus não têm os mesmos privilégios que os nobres, numa república, essa noção é ultrajante.

Interessou-me então perceber (há 10 anos atrás) se era possível que isto continuasse indefinidamente assim, sem que houvesse nunca possibilidade de tirar o véu que vai cobrindo a nossa vivência.
Pode dizer-se que "a verdade vem sempre ao de cima", mas o sistema vive da sua intolerância, maquinação e corrupção. A intolerância permite fazer crer que "todos têm algo a esconder", e a maquinação assegura que se não houver, arranja-se. Finalmente, se alguma vez alguém vier a saber, a corrupção encontra maneiras de abafar ou silenciar o assunto.
Portanto, não parece nada claro que o sistema não possa resistir assim mais uns séculos, mais vários milénios, etc. 
Aliás, se já o fez antes, porque não haveria de continuar a conseguir fazê-lo?

No entanto, há um pequenino detalhe.
Um sistema que continue a fabricar uma fantasia, estará a viver num sonho.
Um sonho, ainda que consiga convencer toda a malta, não convence a natureza... que é implacável com alucinações. Daí a grande pressão científica, que para além de permitir maior controlo, permitiria fugir à imprevisibilidade natural.
Se o homem controlasse a natureza, ao ponto de não temer nem doenças, nem catástrofes naturais, só teria que temer outros homens... e quanto a esses, o sistema só precisaria de mantê-los sem memória, como crianças, para ficarem facilmente manobráveis por adultos. Em vez de doces, estas crianças recebem cacau, alguma impunidade, luxo e luxúria.
Outro problema, é que este sistema só funciona com uma reduzida liderança, que em segurança, por medo de traições e surpresas, se reduz a uma única pessoa - o próprio.
Mas não é por aí que o sistema colapsará, o sistema vai colapsar pela ineficiência na objectividade de uma estrutura falsária.
É indiferente se falta muito ou pouco, simplesmente irá ruir por completo, até se erguer de novo, voltar a cair, e esta repetição vai ocorrer várias vezes, como já aconteceu num passado muito distante.

Por isso, mais do que qualquer outra coisa, estes apontamentos servem de manual de navegação, num mar de mentiras. O objectivo não é acertar na rota da verdade, o objectivo é evitar os remoinhos de contradições que vemos levarem os batéis com estrondo contra os recifes. Mantendo-nos à tona.

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publicado às 07:59

Há várias representações notáveis de Hércules, muitas delas com uma maça e uma maçã.

Talvez menos conhecido seja o enorme monumento feito em 1714, em Kassel (Alemanha), exclusivamente dedicado ao herói, em estilo mação.

Hércules surge aí no topo de um edifício maçónico octogonal que termina em forma piramidal, numa pose que é bem mais antiga, chamada Hércules de Farnese, nome do cardeal que tratou de ficar com a estátua recuperada:

Esta estátua será romana, e provavelmente cópia de uma outra estátua bastante mais antiga, de origem grega.

Em Sevilha, no parque Alameda de Hércules, feito em 1571, encontram-se duas estátuas, em cima de altas colunas, uma é uma cópia do Hércules de Farnese, e a outra é de Júlio César, tidos como fundadores da cidade.


As duas colunas vieram de Hispalis, a versão romana de Sevilha, havendo duas outras colunas a norte do parque, que já são construção recente, tal como os leões que as encimam, ainda mais recentes, com os escudos de Sevilha e de Espanha.

Em Portugal, apesar de não ser muito divulgado, existe em Alhandra uma coluna com um Hércules que comemora a resistência à invasão napoleónica e vitória nas Linhas de Torres em 1810.
Non Ultra - Linhas de Torres. Monumento em Alhandra (1883) - Serra de S. Lourenço.

As placas brancas que se vêem na foto eram de bronze e foram roubadas em 2017, mas a inscrição "Non Ultra", é uma espécie de "Não passarão!", significando a disposição das linhas defenderem o avanço das tropas napoleónicas. Refere-se ao mítico "non plus ultra" que estava nas colunas de Hércules, em Cadiz, proibindo (ou desaconselhando) a navegação além daquele ponto.

Protótipo de super-homem, antes de este ser enunciado por Nietzsche, ou de vestir uma capa com S no peito, Hércules foi servindo de mito e de pretensiosa auto-comparação como neste caso (figura ao lado), em que Cómodo se auto-retratou nas vestes do herói, numa estátua que é datada de 192 d.C.
Cómodo é o imperador romano, filho de Marco Aurélio, que foi retratado talvez de forma exageradamente perversa no filme Gladiador, mas que ao que consta teria efectivamente um estranho gosto do combate com gladiadores.

Temos os elementos identificadores de Hércules:
- maça numa mão;
- maçãs na outra;
- cabeça de leão.

Normalmente, a maça na mão direita, as maçãs na esquerda.
As maçãs, de ouro, são as que sacou das Hespérides, no 11º trabalho, enquanto o leão de Nemeia foi o 1º trabalho. 
A maça era, desde o início, a arma de eleição do herói.


Noutras representações clássicas, Hércules aparece apenas ligado à maça e à maçã, como na figura ao lado (estátua de bronze no Museu Capitolino, em Roma, Séc II a.C.).

O Hércules ibérico assemelha-se de forma ligeira ao Hércules greco-romano, assim chamado Hércules Tebano. Na realidade na "Monarquia Lusitana" o "nosso" é chamado Hércules Líbico, pelo facto de vir de África, do Egipto.

É aqui que a "mitologia ibérica" se torna mais interessante, porque associa Hércules a Hórus, filho de Osíris. 
Por sua vez Osíris é associado a Júpiter, fazendo assim a associação de Hércules ser filho de Júpiter.
Terem colocado os deuses da mitologia enquanto reis sujeitos ao fado humano já Camões denunciava no Canto IX (91):

Não eram senão prémios que reparte
Por feitos imortais e soberanos
O mundo com os varões, que esforço e arte
Divinos os fizeram, sendo humanos.
Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte,
Eneias e Quirino, e os dois Tebanos,
Ceres, Palas e Juno, com Diana,
Todos foram de fraca carne humana

Esta mitologia ibérica, foi completamente destruída com a queda da influência ibérica no mundo, e banida com a ascensão da maçonaria. É certo que teve uma influência de interesse do império espanhol, em criar uma certa mitologia conjunta agradável a lusos e castelhanos, quando as coroas estavam juntas. Mas, o problema é que os escritores antigos, gregos e romanos, e não só Viterbo, falavam do mesmo... ou ainda pior, como se queixava Gaspar Barreiros, era também o povo que atribuía tudo a Hércules. 
Em alternativa, historiadores posteriores, foram passando tudo o que puderam para "obra de Trajano", algo que o próprio também terá feito, e não seria novidade de actuação na Antiguidade e depois.

Em Coimbra, os campos ao longo do Mondego eram "campos hercúleos", havia uma torre pentagonal com a placa "Quinaria turris Herculea fundata manu" até que o Marquês de Pombal mandou abaixo, com o pretexto de um Observatório Astronómico, que nunca construiu.
As Torres de Hércules, em Cadiz, desapareceram igualmente, depois do "terramoto" de 1755, e a Torre de Hércules na Corunha, ou o Arco em Mérida, passaram a ser coisas de Trajano.
Deixo as ligações, porque é escusado falar de novo sobre o assunto.

Homem da maça (versus) homens da massa
Queria recordar, no entanto, aquela que me parece ser a única estátua antiga de Hércules existente em Portugal, e que é denominada o "Homem da Maça", e que continua a estar ao semi-deus dará...

Homem da Maça com o Leão (ou similar) - daqui.

O conjunto está catalogado, mas não tem qualquer protecção como monumento. 
É referido ser medieval e propriedade eclesiástica, mas a Câmara de Matosinhos também o menciona. Aponta-se polémica de identificação, que só existe, porque está tudo entregue à bicharada, e com isto não me refiro ao "bicho", e nem sequer se mencionam os argumentos da polémica. Nos tempos que correm, o homem da maçã é Steve Jobs, falando assim da pré-história dos computadores.

Por que razão é óbvio ser Hércules, apesar da ignorância nacional?
Porque antes de ter os dois braços partidos, tinha na mão uma maça e foi assim entendido como Hércules por Pinho Leal, que no seu Portugal Antigo e Moderno escreve:
CRUZ DO BISPO (Santa) ... Em um sêrro, entre as capellas de Nª Srª do Livramento e de S. Sebastião, se achou uma estátua de pedra, de Hercules, a que o vulgo chama o homem da maça, pela que tem na mão. A seus pés se vê o leão.
Acrescenta ainda que Santa Cruz do Bispo se chamaria Santa Cruz da Maia...

A Câmara de Matosinhos tem o bom senso de pelo menos disponibilizar o único documento credível que a Direcção Geral do Património cita, ou seja Rocha Peixoto (1908) em Portugália, já que os outros dois são um guia de Portugal e do Porto, de 1985 e 86. 
Esperava encontrar uma grande contestação a Pinho Leal, por parte de Peixoto, mas não. É motivado pelo escrito de Pinho Leal, mas diz apenas que em 1908 a estátua já não tem os dois braços, que não lhe parece ser estátua culta nem bárbara, que será rude mas mais trabalhada que outras esculturas dos antigos lusitanos, e que a tradição das meninas agarrarem-se às pedras seria proto-histórica.
Ou seja, uma opinião vulgar, feita por qualquer um com uma certa cultura, e dificilmente comparável a Pinho Leal. 

Portanto, a Direcção Geral, que omite Pinho Leal (é claro), andará a basear-se em guias de cidade para decidir a classificação monumental nacional. Qualquer dia passam ao Guia Michelin.

Hércules e César 
A colocação de César ao lado de Hércules mítico, em Sevilha, não deixa de ser algo notável, sendo especialmente lisonjeiro para a figura de Júlio César... já que Hércules continuaria a pertencer ao mito e César não era propriamente um local, como era Trajano (nascido em Hispalis).

Porém não é caso único, e surge aqui a sequência deste postal com o anterior:
- O Mosteiro dos Jerónimos.
Na fotografia seguinte sinalizo a vermelho duas figuras que ladeiam a entrada no Mosteiro, bem como uma inscrição que falta no topo superior. 
- Quem são? O que lá estava escrito?


É instrutivo dizer que encontrar uma foto desta entrada não é assim tão fácil. 
Experimentem procurar... há milhares de fotos do Mosteiro, pois mas são quase todas iguais, da porta principal, que está à direita. Por estranho que pareça, quase ninguém publica a foto da frente!
Só para fazer notar que procuramos... mas a maioria das vezes, nem sequer em frente vemos, vemos onde orientam o olhar!

Bom, as personagens são César e Hércules, conforme em Sevilha!
No topo, onde está a cruz azul, e agora não se lê coisa nenhuma, estava:
Extitit Alcydes gentis dominator iberae,
Froenavit Caesar gallica regna jugo,
Rex pi.os Emmanuel victor supereminet iunges,
Solis adviq. ortum qui tulit imperium.
Que é como quem diz: Existiu Alcides (Hércules) que dominou as gentes ibéricas, César que pôs a Gália sob seu jugo, e depois apareceu aqui o Manel cujo império vai até onde o Sol nasce. A última parte jocosa é apenas porque escapa ao que consigo traduzir, e não encontrei traduzido... mas a ideia não andará longe disso.

O Abade Castro e Sousa (Descripção do Real mosteiro de Belém, 1840) acrescenta:
E aos lados das ombreiras, sobre umas pequenas janelas, há dois bustos; um de Hércules, e outro de Júlio César, lendo por baixo pintados os seguintes dísticos :
Debaixo do busto de Hércules
    Hoc lapide ante fores, depicta Alcydis imago,
    Regalis firmum denotai aedis opus. 

Do de Júlio César 
    Caesaris, incisco praesens in marmore vulteis,
    Induat augustae limina fausta domus. 
Como o Abade achava que todos sabiam latim, não traduziu, mas aproximadamente seria:
Hércules - Esta lápide antes da porta representa a imagem de Alcides. Rei com firme obra edificada
César - A divisa de César pretende estar no mármore. Que os augustos limites favoreçam esta casa.

Pode-se perguntar... por que razão haveriam de apagar aquilo?
Ou ainda... por que razão ninguém pergunta o que está ou falta ali?
Mas esta última pergunta, nem tento responder, cada um saberá. Até aqui também não notei, mas não escrevi sobre os Jerónimos, e ainda assim acho que já me pareceu estranho faltarem legendas.

Quanto à primeira pergunta, responde-se com o que está dentro da Sala do Capítulo.
Imagem de 1937 do túmulo de Alexandre Herculano (o recente jazigo, em redor do túmulo, foi demolido em 1940).

O problema era simples... antes de Alexandre Herculano, a História de Portugal começava sabe-se lá onde. A maioria dos frades começavam com a Criação, o Dilúvio, etc.
Por vezes, mais abreviadamente, tentavam passar logo a Túbal, mas vinha a sucessão de reis ibéricos (agora proibidos de serem pronunciados ou balbuciados sequer) até à chegada dos fenícios.
Quando o Iluminismo começou a singrar no Séc. XVIII, houve alguns historiadores mais modernaços que queriam começar logo com os Cartagineses, o que era um escândalo para a Igreja.

Os franceses mandavam para aqui tudo o que era instruções da maçonaria para acabar com aquela pouca-vergonha, livros com as versões francesas da História de Portugal, e acabaram mesmo por vir em força com Napoleão... pelo que a presença de Hércules a comemorar a sua derrota é excelente!

Chegamos assim à Guerra Civil entre Miguelistas e Pedreiros, aliás Pedristas, que levou ao completo genocídio cultural e histórico, que foi a extinção das Ordens Religiosas em 1834. Mata-frades terá sido apenas alcunha de Joaquim António de Aguiar, mas a sua implementação do decreto fez desaparecer da vista milhares de documentos únicos, deixando mosteiros, conventos e igrejas à disposição do saque da população. As perdas foram só semelhantes às do sismo e incêndio (a que chamam Terramoto de 1775), e é claro quem perdeu destas rapinas maçónicas, foi só o povo, porque estava na forja uma outra história.

A historiazinha, que começa nas desavenças entre filho e mãe, ou seja entre D. Afonso Henriques e D. Teresa, e manda tudo o que está para trás disso para o estatuto de "lenda", foi a grande iniciativa de Herculano.
Maçon convicto, recusou algumas honrarias estatais, mas acabou em pompa nos Jerónimos.
A sua actividade histórica é boa, mas também não passa do sofrível, onde Herculano se destaca é na  completa intolerância às fontes eclesiásticas.
Passa por fundador da história portuguesa, etc, etc, porque foi esse o refrão que a maçonaria tratou de ensinar aos petizes nas décadas seguintes. Comparado com Frei Bernardo de Brito, o cronista real banido de menção hoje, este merece-me mais simpatia. Porquê? Simples... Brito trouxe-nos perguntas disfarçadas de certezas, enquanto Herculano o que nos trouxe foi uma arca de lixo documental.
Fez escola, porque se chama "ciência" à burocracia documental.
Herculano foi um burocrata, ao serviço de um ideal político, como foram tantos outros na URSS.
É claro que também agradou à nobreza e realeza, porque a história selectiva foi sempre um negócio.

Assim, o nome de Hércules foi banido dos Jerónimos, mas ficou o nome na variante Herculana... nisso, pelo menos a maçonaria parece ter algum sentido de humor negro.


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Comentário Adicional (10.06.2020)
Em dia de Portugal, e porque foi aqui mencionado e não tem o destaque devido, junto na barra lateral uma ligação directa para os 12 volumes da obra Portugal Antigo e Moderno, de Augusto Pinho Leal. São mais de 7500 páginas, reunindo informação dispersa e interpretação inteligente.
Em prejuízo do seu próprio bem estar, Pinho Leal foi publicando durante onze anos, onze volumes da única obra que conheço (antes e depois) que reúne as histórias de cada cidade, vila e aldeia nacional. 
Em suma, procurava reunir uma verdadeira história de Portugal, e é uma das suas melhores fontes.
Morreu em 1884, pelo que o último volume já foi feito pelo Abade de Miragaia.
Camilo Castelo Branco foi fulcral para conseguir a publicação da obra. A wikipedia tem um bom resumo biográfico.
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Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:13

Há várias representações notáveis de Hércules, muitas delas com uma maça e uma maçã.

Talvez menos conhecido seja o enorme monumento feito em 1714, em Kassel (Alemanha), exclusivamente dedicado ao herói, em estilo mação.

Hércules surge aí no topo de um edifício maçónico octogonal que termina em forma piramidal, numa pose que é bem mais antiga, chamada Hércules de Farnese, nome do cardeal que tratou de ficar com a estátua recuperada:

Esta estátua será romana, e provavelmente cópia de uma outra estátua bastante mais antiga, de origem grega.

Em Sevilha, no parque Alameda de Hércules, feito em 1571, encontram-se duas estátuas, em cima de altas colunas, uma é uma cópia do Hércules de Farnese, e a outra é de Júlio César, tidos como fundadores da cidade.


As duas colunas vieram de Hispalis, a versão romana de Sevilha, havendo duas outras colunas a norte do parque, que já são construção recente, tal como os leões que as encimam, ainda mais recentes, com os escudos de Sevilha e de Espanha.

Em Portugal, apesar de não ser muito divulgado, existe em Alhandra uma coluna com um Hércules que comemora a resistência à invasão napoleónica e vitória nas Linhas de Torres em 1810.
Non Ultra - Linhas de Torres. Monumento em Alhandra (1883) - Serra de S. Lourenço.

As placas brancas que se vêem na foto eram de bronze e foram roubadas em 2017, mas a inscrição "Non Ultra", é uma espécie de "Não passarão!", significando a disposição das linhas defenderem o avanço das tropas napoleónicas. Refere-se ao mítico "non plus ultra" que estava nas colunas de Hércules, em Cadiz, proibindo (ou desaconselhando) a navegação além daquele ponto.

Protótipo de super-homem, antes de este ser enunciado por Nietzsche, ou de vestir uma capa com S no peito, Hércules foi servindo de mito e de pretensiosa auto-comparação como neste caso (figura ao lado), em que Cómodo se auto-retratou nas vestes do herói, numa estátua que é datada de 192 d.C.
Cómodo é o imperador romano, filho de Marco Aurélio, que foi retratado talvez de forma exageradamente perversa no filme Gladiador, mas que ao que consta teria efectivamente um estranho gosto do combate com gladiadores.

Temos os elementos identificadores de Hércules:
- maça numa mão;
- maçãs na outra;
- cabeça de leão.

Normalmente, a maça na mão direita, as maçãs na esquerda.
As maçãs, de ouro, são as que sacou das Hespérides, no 11º trabalho, enquanto o leão de Nemeia foi o 1º trabalho. 
A maça era, desde o início, a arma de eleição do herói.


Noutras representações clássicas, Hércules aparece apenas ligado à maça e à maçã, como na figura ao lado (estátua de bronze no Museu Capitolino, em Roma, Séc II a.C.).

O Hércules ibérico assemelha-se de forma ligeira ao Hércules greco-romano, assim chamado Hércules Tebano. Na realidade na "Monarquia Lusitana" o "nosso" é chamado Hércules Líbico, pelo facto de vir de África, do Egipto.

É aqui que a "mitologia ibérica" se torna mais interessante, porque associa Hércules a Hórus, filho de Osíris. 
Por sua vez Osíris é associado a Júpiter, fazendo assim a associação de Hércules ser filho de Júpiter.
Terem colocado os deuses da mitologia enquanto reis sujeitos ao fado humano já Camões denunciava no Canto IX (91):

Não eram senão prémios que reparte
Por feitos imortais e soberanos
O mundo com os varões, que esforço e arte
Divinos os fizeram, sendo humanos.
Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte,
Eneias e Quirino, e os dois Tebanos,
Ceres, Palas e Juno, com Diana,
Todos foram de fraca carne humana

Esta mitologia ibérica, foi completamente destruída com a queda da influência ibérica no mundo, e banida com a ascensão da maçonaria. É certo que teve uma influência de interesse do império espanhol, em criar uma certa mitologia conjunta agradável a lusos e castelhanos, quando as coroas estavam juntas. Mas, o problema é que os escritores antigos, gregos e romanos, e não só Viterbo, falavam do mesmo... ou ainda pior, como se queixava Gaspar Barreiros, era também o povo que atribuía tudo a Hércules. 
Em alternativa, historiadores posteriores, foram passando tudo o que puderam para "obra de Trajano", algo que o próprio também terá feito, e não seria novidade de actuação na Antiguidade e depois.

Em Coimbra, os campos ao longo do Mondego eram "campos hercúleos", havia uma torre pentagonal com a placa "Quinaria turris Herculea fundata manu" até que o Marquês de Pombal mandou abaixo, com o pretexto de um Observatório Astronómico, que nunca construiu.
As Torres de Hércules, em Cadiz, desapareceram igualmente, depois do "terramoto" de 1755, e a Torre de Hércules na Corunha, ou o Arco em Mérida, passaram a ser coisas de Trajano.
Deixo as ligações, porque é escusado falar de novo sobre o assunto.

Homem da maça (versus) homens da massa
Queria recordar, no entanto, aquela que me parece ser a única estátua antiga de Hércules existente em Portugal, e que é denominada o "Homem da Maça", e que continua a estar ao semi-deus dará...

Homem da Maça com o Leão (ou similar) - daqui.

O conjunto está catalogado, mas não tem qualquer protecção como monumento. 
É referido ser medieval e propriedade eclesiástica, mas a Câmara de Matosinhos também o menciona. Aponta-se polémica de identificação, que só existe, porque está tudo entregue à bicharada, e com isto não me refiro ao "bicho", e nem sequer se mencionam os argumentos da polémica. Nos tempos que correm, o homem da maçã é Steve Jobs, falando assim da pré-história dos computadores.

Por que razão é óbvio ser Hércules, apesar da ignorância nacional?
Porque antes de ter os dois braços partidos, tinha na mão uma maça e foi assim entendido como Hércules por Pinho Leal, que no seu Portugal Antigo e Moderno escreve:
CRUZ DO BISPO (Santa) ... Em um sêrro, entre as capellas de Nª Srª do Livramento e de S. Sebastião, se achou uma estátua de pedra, de Hercules, a que o vulgo chama o homem da maça, pela que tem na mão. A seus pés se vê o leão.
Acrescenta ainda que Santa Cruz do Bispo se chamaria Santa Cruz da Maia...

A Câmara de Matosinhos tem o bom senso de pelo menos disponibilizar o único documento credível que a Direcção Geral do Património cita, ou seja Rocha Peixoto (1908) em Portugália, já que os outros dois são um guia de Portugal e do Porto, de 1985 e 86. 
Esperava encontrar uma grande contestação a Pinho Leal, por parte de Peixoto, mas não. É motivado pelo escrito de Pinho Leal, mas diz apenas que em 1908 a estátua já não tem os dois braços, que não lhe parece ser estátua culta nem bárbara, que será rude mas mais trabalhada que outras esculturas dos antigos lusitanos, e que a tradição das meninas agarrarem-se às pedras seria proto-histórica.
Ou seja, uma opinião vulgar, feita por qualquer um com uma certa cultura, e dificilmente comparável a Pinho Leal. 

Portanto, a Direcção Geral, que omite Pinho Leal (é claro), andará a basear-se em guias de cidade para decidir a classificação monumental nacional. Qualquer dia passam ao Guia Michelin.

Hércules e César 
A colocação de César ao lado de Hércules mítico, em Sevilha, não deixa de ser algo notável, sendo especialmente lisonjeiro para a figura de Júlio César... já que Hércules continuaria a pertencer ao mito e César não era propriamente um local, como era Trajano (nascido em Hispalis).

Porém não é caso único, e surge aqui a sequência deste postal com o anterior:
- O Mosteiro dos Jerónimos.
Na fotografia seguinte sinalizo a vermelho duas figuras que ladeiam a entrada no Mosteiro, bem como uma inscrição que falta no topo superior. 
- Quem são? O que lá estava escrito?


É instrutivo dizer que encontrar uma foto desta entrada não é assim tão fácil. 
Experimentem procurar... há milhares de fotos do Mosteiro, pois mas são quase todas iguais, da porta principal, que está à direita. Por estranho que pareça, quase ninguém publica a foto da frente!
Só para fazer notar que procuramos... mas a maioria das vezes, nem sequer em frente vemos, vemos onde orientam o olhar!

Bom, as personagens são César e Hércules, conforme em Sevilha!
No topo, onde está a cruz azul, e agora não se lê coisa nenhuma, estava:
Extitit Alcydes gentis dominator iberae,
Froenavit Caesar gallica regna jugo,
Rex pi.os Emmanuel victor supereminet iunges,
Solis adviq. ortum qui tulit imperium.
Que é como quem diz: Existiu Alcides (Hércules) que dominou as gentes ibéricas, César que pôs a Gália sob seu jugo, e depois apareceu aqui o Manel cujo império vai até onde o Sol nasce. A última parte jocosa é apenas porque escapa ao que consigo traduzir, e não encontrei traduzido... mas a ideia não andará longe disso.

O Abade Castro e Sousa (Descripção do Real mosteiro de Belém, 1840) acrescenta:
E aos lados das ombreiras, sobre umas pequenas janelas, há dois bustos; um de Hércules, e outro de Júlio César, lendo por baixo pintados os seguintes dísticos :
Debaixo do busto de Hércules
    Hoc lapide ante fores, depicta Alcydis imago,
    Regalis firmum denotai aedis opus. 

Do de Júlio César 
    Caesaris, incisco praesens in marmore vulteis,
    Induat augustae limina fausta domus. 
Como o Abade achava que todos sabiam latim, não traduziu, mas aproximadamente seria:
Hércules - Esta lápide antes da porta representa a imagem de Alcides. Rei com firme obra edificada
César - A divisa de César pretende estar no mármore. Que os augustos limites favoreçam esta casa.

Pode-se perguntar... por que razão haveriam de apagar aquilo?
Ou ainda... por que razão ninguém pergunta o que está ou falta ali?
Mas esta última pergunta, nem tento responder, cada um saberá. Até aqui também não notei, mas não escrevi sobre os Jerónimos, e ainda assim acho que já me pareceu estranho faltarem legendas.

Quanto à primeira pergunta, responde-se com o que está dentro da Sala do Capítulo.
Imagem de 1937 do túmulo de Alexandre Herculano (o recente jazigo, em redor do túmulo, foi demolido em 1940).

O problema era simples... antes de Alexandre Herculano, a História de Portugal começava sabe-se lá onde. A maioria dos frades começavam com a Criação, o Dilúvio, etc.
Por vezes, mais abreviadamente, tentavam passar logo a Túbal, mas vinha a sucessão de reis ibéricos (agora proibidos de serem pronunciados ou balbuciados sequer) até à chegada dos fenícios.
Quando o Iluminismo começou a singrar no Séc. XVIII, houve alguns historiadores mais modernaços que queriam começar logo com os Cartagineses, o que era um escândalo para a Igreja.

Os franceses mandavam para aqui tudo o que era instruções da maçonaria para acabar com aquela pouca-vergonha, livros com as versões francesas da História de Portugal, e acabaram mesmo por vir em força com Napoleão... pelo que a presença de Hércules a comemorar a sua derrota é excelente!

Chegamos assim à Guerra Civil entre Miguelistas e Pedreiros, aliás Pedristas, que levou ao completo genocídio cultural e histórico, que foi a extinção das Ordens Religiosas em 1834. Mata-frades terá sido apenas alcunha de Joaquim António de Aguiar, mas a sua implementação do decreto fez desaparecer da vista milhares de documentos únicos, deixando mosteiros, conventos e igrejas à disposição do saque da população. As perdas foram só semelhantes às do sismo e incêndio (a que chamam Terramoto de 1775), e é claro quem perdeu destas rapinas maçónicas, foi só o povo, porque estava na forja uma outra história.

A historiazinha, que começa nas desavenças entre filho e mãe, ou seja entre D. Afonso Henriques e D. Teresa, e manda tudo o que está para trás disso para o estatuto de "lenda", foi a grande iniciativa de Herculano.
Maçon convicto, recusou algumas honrarias estatais, mas acabou em pompa nos Jerónimos.
A sua actividade histórica é boa, mas também não passa do sofrível, onde Herculano se destaca é na  completa intolerância às fontes eclesiásticas.
Passa por fundador da história portuguesa, etc, etc, porque foi esse o refrão que a maçonaria tratou de ensinar aos petizes nas décadas seguintes. Comparado com Frei Bernardo de Brito, o cronista real banido de menção hoje, este merece-me mais simpatia. Porquê? Simples... Brito trouxe-nos perguntas disfarçadas de certezas, enquanto Herculano o que nos trouxe foi uma arca de lixo documental.
Fez escola, porque se chama "ciência" à burocracia documental.
Herculano foi um burocrata, ao serviço de um ideal político, como foram tantos outros na URSS.
É claro que também agradou à nobreza e realeza, porque a história selectiva foi sempre um negócio.

Assim, o nome de Hércules foi banido dos Jerónimos, mas ficou o nome na variante Herculana... nisso, pelo menos a maçonaria parece ter algum sentido de humor negro.


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Comentário Adicional (10.06.2020)
Em dia de Portugal, e porque foi aqui mencionado e não tem o destaque devido, junto na barra lateral uma ligação directa para os 12 volumes da obra Portugal Antigo e Moderno, de Augusto Pinho Leal. São mais de 7500 páginas, reunindo informação dispersa e interpretação inteligente.
Em prejuízo do seu próprio bem estar, Pinho Leal foi publicando durante onze anos, onze volumes da única obra que conheço (antes e depois) que reúne as histórias de cada cidade, vila e aldeia nacional. 
Em suma, procurava reunir uma verdadeira história de Portugal, e é uma das suas melhores fontes.
Morreu em 1884, pelo que o último volume já foi feito pelo Abade de Miragaia.
Camilo Castelo Branco foi fulcral para conseguir a publicação da obra. A wikipedia tem um bom resumo biográfico.
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publicado às 06:13

Conforme assinalámos num postal anterior, sobre o computo pascal, apareciam na Bíblia dos Jerónimos ilustrações de relógios, e portanto aos hieronomitas não seria estranho o artefacto, que aliás era já comum nas torres das nossas igrejas.
Vejamos uma peça escrita em 1853, em que começa assim o 6º capítulo:
Acaba de soar a sexta hora da tarde no relógio do convento dos Jerónimos em Belém, no dia 6 de Novembro de 1640, quando num velho palácio (...)
Esquecendo o enredo, onde está o relógio do Mosteiro dos Jerónimos?
Ora, o Mosteiro dos Jerónimos não apresenta nenhum relógio... agora!
Com efeito, há fotografias do Mosteiro dos Jerónimos com o relógio, que perdeu há 150 anos:
Foto do Mosteiro ou Convento dos Jerónimos, em 1872, com o relógio (ao centro, à esquerda).

A informação relevante está num blog 
https://paixaoporlisboa.blogs.sapo.pt/mosteiro-dos-jeronimos-acervo-73486
que publicou parte do acervo fotográfico de Eduardo Portugal (1900-58), constante da Câmara Municipal de Lisboa.
Pode-se ler que os cenógrafos italianos do São Carlos, vão propor "demolir a galilé e a sala dos reis, construir os torreões do lado nascente do dormitório, a rosácea do coro alto, e substituir a cobertura piramidal da torre sineira por uma cobertura mitrada".
O problema foi que em 1878 dá-se a derrocada do corpo central do dormitório, que tinha o relógio, a reconstrução só é finalizada pouco antes das comemorações dos 400 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia, ou seja, em 1894-98.

O projecto de reconstrução fez alterações consideráveis, e tinha outra ambições:
digamos, que não foi só desaparecer o relógio...

Vemos aqui outra foto em que é possível ver o relógio, e as obras na parte superior, que levaram à subsequente derrocada:


Note-se que antes disto, a torre da igreja tinha a tal cobertura piramidal, conforme vemos na figura seguinte, e que foi substituída por um torreão mais alto, dita mitrada. Vemos ainda os alicerces para fazer os torreões do dormitório, junto à igreja (conforme os temos hoje):


Note-se ainda, aqui num esboço mais antigo, como os barcos chegavam praticamente até ao mosteiro (numa altura em que estes barcos à vela poluíam muito, e faziam aumentar o nível do mar... imagine-se o raspanete que a Greta não lhes teria dado).

O que se sabe disto?
Pois, o que é conhecimento público geral é que derrocou a parte central do Mosteiro, conforme está atestado em diversas outras fotografias.
Digamos que não será um assunto secreto... talvez sirva para surpreender uns iniciados na maçonaria, mas pouco mais que isso. 

Conhecendo os bichos que temos, não é nenhuma informação de espantar!
Tão facilmente alterariam o Mosteiro dos Jerónimos, quanto esconderiam os coches antigos de D. Afonso Henriques e de D. Dinis... e foi praticamente na mesma altura.
As fotos terem por vezes escrito "reservado", reportar-se-ia certamente a uma mesa na Trindade.

Agora, se o relógio dos Jerónimos estava lá desde o início, pois isso já é mais complicado saber... até porque houve ainda o Sismo de 1755. Sendo que como se sabe que caiu o Carmo e a Trindade, e não propriamente a Sé e os Jerónimos, é natural que aí o Marquês se tenha dedicado ao espectáculo dos seus horrores no campo ao lado, o chamado Chão Salgado.
Pelo menos, o autor da peça, António Aragão, acreditava que em 1640 estava lá o relógio.

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publicado às 06:54

Conforme assinalámos num postal anterior, sobre o computo pascal, apareciam na Bíblia dos Jerónimos ilustrações de relógios, e portanto aos hieronomitas não seria estranho o artefacto, que aliás era já comum nas torres das nossas igrejas.
Vejamos uma peça escrita em 1853, em que começa assim o 6º capítulo:
Acaba de soar a sexta hora da tarde no relógio do convento dos Jerónimos em Belém, no dia 6 de Novembro de 1640, quando num velho palácio (...)
Esquecendo o enredo, onde está o relógio do Mosteiro dos Jerónimos?
Ora, o Mosteiro dos Jerónimos não apresenta nenhum relógio... agora!
Com efeito, há fotografias do Mosteiro dos Jerónimos com o relógio, que perdeu há 150 anos:
Foto do Mosteiro ou Convento dos Jerónimos, em 1872, com o relógio (ao centro, à esquerda).

A informação relevante está num blog 
https://paixaoporlisboa.blogs.sapo.pt/mosteiro-dos-jeronimos-acervo-73486
que publicou parte do acervo fotográfico de Eduardo Portugal (1900-58), constante da Câmara Municipal de Lisboa.
Pode-se ler que os cenógrafos italianos do São Carlos, vão propor "demolir a galilé e a sala dos reis, construir os torreões do lado nascente do dormitório, a rosácea do coro alto, e substituir a cobertura piramidal da torre sineira por uma cobertura mitrada".
O problema foi que em 1878 dá-se a derrocada do corpo central do dormitório, que tinha o relógio, a reconstrução só é finalizada pouco antes das comemorações dos 400 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia, ou seja, em 1894-98.

O projecto de reconstrução fez alterações consideráveis, e tinha outra ambições:
digamos, que não foi só desaparecer o relógio...

Vemos aqui outra foto em que é possível ver o relógio, e as obras na parte superior, que levaram à subsequente derrocada:


Note-se que antes disto, a torre da igreja tinha a tal cobertura piramidal, conforme vemos na figura seguinte, e que foi substituída por um torreão mais alto, dita mitrada. Vemos ainda os alicerces para fazer os torreões do dormitório, junto à igreja (conforme os temos hoje):


Note-se ainda, aqui num esboço mais antigo, como os barcos chegavam praticamente até ao mosteiro (numa altura em que estes barcos à vela poluíam muito, e faziam aumentar o nível do mar... imagine-se o raspanete que a Greta não lhes teria dado).

O que se sabe disto?
Pois, o que é conhecimento público geral é que derrocou a parte central do Mosteiro, conforme está atestado em diversas outras fotografias.
Digamos que não será um assunto secreto... talvez sirva para surpreender uns iniciados na maçonaria, mas pouco mais que isso. 

Conhecendo os bichos que temos, não é nenhuma informação de espantar!
Tão facilmente alterariam o Mosteiro dos Jerónimos, quanto esconderiam os coches antigos de D. Afonso Henriques e de D. Dinis... e foi praticamente na mesma altura.
As fotos terem por vezes escrito "reservado", reportar-se-ia certamente a uma mesa na Trindade.

Agora, se o relógio dos Jerónimos estava lá desde o início, pois isso já é mais complicado saber... até porque houve ainda o Sismo de 1755. Sendo que como se sabe que caiu o Carmo e a Trindade, e não propriamente a Sé e os Jerónimos, é natural que aí o Marquês se tenha dedicado ao espectáculo dos seus horrores no campo ao lado, o chamado Chão Salgado.
Pelo menos, o autor da peça, António Aragão, acreditava que em 1640 estava lá o relógio.

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publicado às 06:54

O templo de Diana em Évora, não nos chegou com este aspecto:

Com efeito, ao que consta funcionava como açougue, desde o tempo de D. Manuel, e há cerca de 150 anos atrás, antes de ser intervencionado, o aspecto seria este:


Esta fotografia do Séc. XIX não conhecia e encontrei-a no blog:

Deverá ter sido tirada antes de 1870, pois foi nessa altura que começaram a ser demolidas as paredes e restantes estruturas superiores. Este tema será conhecido de alguns, mas a esmagadora maioria dos portugueses desconhece que o templo teria funcionado como açougue. E, de facto, era já um embaraço em 1836, quando o açougue passou para outro lugar, pois o assunto era mencionado pela "imprensa internacional". Por exemplo, os ingleses criticavam o desprezo ibérico pelas antiguidades, e não restar uma placa romana, ou qualquer coisa anterior aos árabes em Lisboa. Não podemos dizer que restasse também alguma coisa de Londinium, mas enfim, a crítica fazia sentido.

Quer a página do blog, quer a da wikipédia, dão extensas informações sobre o assunto, que me abstenho de repetir. 
Gostaria apenas de frisar o seguinte:
- Vendo a fotografia, e pensando na largura de paredes de castelos, igrejas, e outras, quantos monumentos mais antigos não poderiam ter ficado emparedados, desta forma?

A ligação do templo à deusa Diana tem sido questionada mais recentemente, porque a fachada com 6 colunas coríntias seria dos templos imperiais. Acresce que se teria encontrado nas redondezas um dedo enorme (aproximadamente de meio metro), que segundo recentes interpretações seria de um imperador.
Deixo ao lado a imagem do dedo, no Museu de Évora, para ficar ao critério de cada um perceber se é dedo de imperador ou de deusa.
Encontrou-se também uma pátera, e no caso de ser deusa, seria mais normalmente de Vesta do que de Diana. Se bem que esta nossa Diana seria muito mais "de Ana", do rio Ana, agora Guadiana, uma deusa que se ligaria melhor ao culto Vestal.

Sertório e o Arco
Alguns eborenses, e outros escritores antigos (p.ex. Lavanha), teriam optado por indicar o Templo como construção de Sertório, já que Évora chegou a ser o principal aquartelamento do general romano, quando se juntou aos lusitanos para enfrentar os romanos. É dito que não, que nessa altura os romanos não conseguiriam fazer um templo daquela qualidade, etc... mas não vou perder tempo com argumentos aniquiladores de possibilidades, sem nexo. 

Introduzo Sertório, porque também existiria um "arco de triunfo" em Évora, ao que consta, na Praça do Geraldo, que teria sido feito na época de Sertório. 
No entanto, este teria sido demolido em 1570 por vontade do Cardeal D. Henrique, com o consentimento de D. Sebastião, seu sobrinho. Podemos ler no Archivo Pittoresco Vol.6, (1863), pág. 286, um pequeno artigo sobre o "Arco Triumphal Romano da Praça de Évora", onde se dá grande destaque a esse arco triunfal ou pórtico, em conjunto com um chafariz com leões, etc.

Mais recentemente, F. Bilou apresenta o texto:
O pórtico (ao)romano da Praça Grande, em Évora. Novas achegas para um velho equívoco
em que dá a opinião de que o pórtico não seria nada de monumental, sendo uma principal razão (e já sabida) a ausência de referência pelo ilustre eborense André de Resende, dominicano e talvez o primeiro arqueólogo português, que dedica um livro a Évora (1553). Bilou cita a despropósito Gaspar Barreiros, acerca da sua desvalorização de um "arco do triunfo" em Mérida, e não dá crédito à opinião do padre Manuel Fialho:
«do portico so agora ouvimos falar, e supomos que era couza magnifica, como frontespicio de algum templo, ou couza semilhante, e era todo de marmores que tomava a largura da praça que tinha três serventias ou portoens por bacho(…)»
Ao que parece daquele pequeno nada, que atrapalhara o Cardeal D. Henrique, ficaram 8 colunas de mármore do refeitório de Colégio do Espírito Santo:
e três dos quatro leões que estavam no chafariz. É muito nada para não merecer menção, até pelo dominicano André de Resende.

Dois desses leões estão a definhar à beira estrada, num outro chafariz público (Chafariz dos Leões):

enquanto um terceiro está no museu de Évora (creio que o outro andará fugido...) [ver Nota]

Poderá dizer-se que o leão do museu ficou melhor, mas do bicho só encontrei esta foto com quase 100 anos... se alguém o vir no Museu de Évora, pois envie-nos uma foto para saber se ele está bem. 
Quanto aos outros dois, estão aparentemente à mão de semear, mas o povo deixou-os ficar, ninguém chegou com um monta-cargas e uma pick-up para os levar... o tempo não tem sido meigo para eles, e parece que o chafariz estar classificado como monumento público não os protege da chuva. 
É apenas dito que estavam na Praça do Geraldo, mas pode-se suspeitar pela sua forma, que respeitem a tempos muito mais antigos, até talvez mais antigos que Sertório.

Sebastião e o Arco
Gostaria de terminar o texto, mas quando se abre o livro, o novelo desenrola-se...
Acontece que, ao mesmo tempo que D. Sebastião autorizava o tio a destruir a memória do passado, queixava-se de não haver nenhum monumento a comemorar a Batalha de Ourique!

Em visita a Évora em 1573, D. Sebastião arrancou com um projecto de fazer um templo e monumental arco nos campos de Ourique. Diz-se que terá contado com a colaboração de André de Resende, no seu último ano de vida, na inscrição que deveria aparecer no arco:
Heic contra Ismarium, quatorque alios Saracenorum Reges, innumeramque barbarorum multitudinem, pugnaturus felix Alphonsus Henricus , ab exercitu primus Lusitaniae Rex adpellatus est: et a Christo, qui ei crucifixus adaparuit, ad fortiter agendum commonitus, copiis exiguis tantam hostium stragem edidit, ut Cobris ac Tergis fluovirum confluentes cruore inundarit. Ingentis ac stupendae rei, ne in loco ubi gesta est, per infrequentiam, obsolesceret, Sebastianus I Lusitaniae Rex, bellicae virtutis admirator, et majorum suorum gloriae propagator, erecto titulo memoriam renovavit
O templo é a Igreja Matriz de Castro Verde, e segundo António Castilho (Quadros Históricos de Portugal, 1847) deveria ainda constar o arco... o Arco de Ourique, que desapareceu. 
Castilho critica aqueles que procuram encontrar esse arco nos arcos da igreja, comentando que nesses arcos faltava a inscrição pedida a Resende.

Interior da Igreja Matriz de Castro Verde

A igreja sofreu um restauro por D. João V, que terá adicionado os azulejos, e é especialmente curioso ver-se que ao centro está Nª Senhora e não a imagem de Cristo crucificado. Há de facto, arcos, mas não parece que se possam ajustar a um arco com uma inscrição... que não têm.

Bom, e que tem o assunto a ver com Évora?
Com a morte de D. Sebastião e do seu tio, Portugal perde a independência para Madrid, e conforme já tivemos oportunidade de escrever, a propósito da visita de Filipe III de Espanha, em Lisboa ergueram-se dezenas de arcos triunfais. Quando se trata de sabujice, em Portugal temos dos melhores exemplares, e esta visita do rei foi um bom exemplo disso. 

Ao que parece Évora quis seguir o exemplo, e construir apressadamente um arco triunfal, segundo o que reporta Lavanha, porque o rei só posteriormente considerou passar por Évora.
No entanto, F. Bilou comenta que a cidade estava preparada, tinha outros arcos preparados, apenas não estava à espera de uma chegada pela Porta da Lagoa.
Ao que se sabe, todos esses arcos triunfais erigidos, a quem poucos ou nenhuns triunfos teve, desapareceram rapidamente da vista, especialmente após a Restauração.

Interessa assim ao assunto ponderar a sequência de acontecimentos:
- Existiria um arco antigo, atribuído a Sertório, em Évora.
- Esse arco foi mandado abaixo por D. Sebastião a pedido do Cardeal D. Henrique em 1570
- D. Sebastião decide mandar construir em 1573 em Castro Verde um arco monumental
- Esse arco monumental desapareceu (... ou estará incluso na Igreja de Castro Verde?)
- Évora manda construir apressadamente um arco triunfal para a entrada de Filipe III em 1619
- Não restam sinais desses arcos...

Poderá em todos estes casos se ter tratado de desmontar e voltar a montar?
Tendo as pedras do arco original sido retiradas, a questão também seria o que fazer com elas, e por que não haveria D. Sebastião de aproveitá-las, e refazer o monumento no sítio que lhe parecia mais adequado? - Fica apenas como hipótese em aberto... 

Termino, referindo ainda que o tamanho das paredes da Igreja Matriz de Castro Verde são, segundo Castilho, de 16 palmos e meio! Ou seja, estamos a falar de mais de 3 metros de largura nas paredes.
Pode ver-se que as janelas têm de facto uma grande profundidade (mas não me parece chegarem aos 2 metros):

Voltando à pergunta inicial:
- Vendo esta fotografia, será ou não possível que, em vez de uma parede maciça tenhamos uma parede oca, com dimensões suficientes para conter quartos, ou múltiplas divisões, dentro de si?


________________________
Notas adicionais: (04.06.2020)
Em comentário a este postal, Carlos Figueiredo teve a amabilidade de fornecer imagens tiradas por si, dos dois leões que estão no Museu de Évora:

Portanto, o conjunto de 4 está presente, dois no museu, e dois no chafariz, na estrada.
Repare-se que, o museu não teve problemas em juntar os leões a outras antiguidades "romanas".
E coloco "romanas", entre aspas, porque o friso superior tem um conjunto de escudos e cabeças bovinas, que não me parecem se enquadrarem no contexto romano conhecido.

Ao mesmo tempo, é habitual dizer-se que os leões faziam parte do chafariz da Praça do Geraldo. Veja-se que não há qualquer referência ao tempo "romano" quando se fala do Chafariz dos Leões:
Arquitectura infraestrutural, quatrocentista. Chafariz quatrocentista de tipologia semelhante à do Chafariz d’el Rei, do Chafariz das Bravas e do Chafariz de São Bartolomeu. As gárgulas de mármore em forma de cabeça de leão são provávelmente originárias do antigo Chafariz da Praça do Geraldo. 
Ver os leões como gárgulas, apenas porque lhes abriram um buraco para escoar água, é outra coisa frequente. Mas se é mais ou menos claro que o leão da esquerda era o que se encontrava na foto antiga do museu, o que aconteceu ao leão da direita?
 
Na placa do leão à direita, que se consegue ler na foto de Carlos Figueiredo, está escrito "Convento de S. Bento de Castris". Numa descrição desse convento (neste link) lê-se:
No mencionado quintal da Lavagem subsistem, além deste tanque, com velha gárgula constituída por leão de mármore, quinhentista, mais dois poços, a saber: (...)
Como a descrição não parece ter origem no blog, não consigo saber a data, e assim saber se este mencionado leão poderá coincidir com o que foi parar ao museu.
Caso contrário, há bastantes leões em redor de Évora, e não serão propriamente "quinhentistas"... existindo uma probabilidade razoável de nem sequer serem romanos. Com efeito, se repararmos nos traços capilares do leão, uns traços que decoram o dorso, esse padrão está ausente de outras representações romanas ou gregas, que normalmente os viam com juba mais encaracolada, ainda que o leão grego de Knidos (Sec. II a.C) tenha certas semelhanças (na posição e cauda).

Como se não bastasse o destino mais degradado dos leões do chafariz na estrada, alguém da câmara, ou da junta, terá tido a bizarra ideia de caiar os leões, conforme Carlos Figueiredo fez notar:

Tratando-se de problemas que acumulam mais de 400 anos, é de esperar que 400 minutos não cheguem para o resolver, nem tão pouco 400 dias.

______________________
Nota Adicional (05.06.2020)
Ainda num outro comentário, foi apontada a existência de uma fotografia do Séc.XIX da parte anterior do Açougue, antes da sua demolição, que encontrei num artigo brasileiro (An. mus. paul. vol.26, Epub Nov 23, 2018) sobre Évora e a missão jesuíta de São Miguel:
Parte anterior do Templo de Diana, que serviu de açougue, antes de ser destruído.
Conforme apontado no comentário é possível ver na parede anterior um brasão de armas, que aparenta ser real.

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publicado às 04:22

Comentários ao postal anterior, e em particular um comentário de A. Saavedra suscitou a questão sobre quais seriam os objectivos que teriam motivado os diversos agendamentos, em particular, os mencionados - descolonização, colonização, descolonização, globalização...

Se formos pelo lado da maçonaria, veremos invocado o "humanismo", o que seria um propósito muito nobre, se não tivéssemos também sido habituados aos aspectos pouco "humanos" que as lengalengas de boas intenções nos trazem. A esse propósito, e para que fique claro, ainda pior registo nos deixaram todos aqueles que, em nome de boas intenções, fossem estas cristãs, muçulmanas, judiarias, ou outras, trouxeram à Terra um pouco do pior inferno que lhes atravessava o espírito.

Auto-de-fé, no Terreiro do Paço em Lisboa, Séc. XVII.
Deve entender-se em português "Auto" como "Acto", ou seja, Acto-de-fé.

Portanto, não podendo fiar nas próprias respostas, de gente pouco fiável, resta a arte de especular.
Especular significa observar de forma inteligente, algo que é conveniente confundir com disparatar.

Etimologia
Uma das primeiras coisas interessantes é tentar perceber se as palavras nos indicam algum caminho, já que o Português não é apenas uma língua, aparenta ter toda uma filosofia encapsulada... assim o queiramos perceber.

Objectivo, deriva de objecto, ob-jecto, e vou aqui citar algo que escrevi há uns anos:
Projectar resulta da composição do prefixo "pro" com "jactar" de onde vem "jacto".
Ora, jactar é lançar (como em "alea jacta est", os dados estão lançados).
Projectar é assim lançar para a frente, ou para o futuro.
Rejeitar, que é desvio português de rejectar (inglês: reject), será lançar para trás.
Outras variantes são "dejectar" ou "enjeitar" ambas ligadas a lançar para fora.
Outra ainda está no "sujeitar" (inglês: subject) ficar abaixo do lançado, ou em "injectar" como inserir no jacto.
O jeito português misturou essas raízes... o jeito de lançar substituiu o jacto.
Mas esse jeito de lançamento, provavelmente do dardo, ficou no gesto ou na gesta, e nalgumas povoações ainda se ouve o "ter jêto" em vez do "ter jeito".
O prefixo "ob" é de oposição, como em "obstar" (estar contra), e portanto "objecto" é algo que obsta ao jacto, ao arremesso, ou ao jeito. Esse algo pode ser o alvo, e assim funciona enquanto "objectivo", mas também o arremesso pode ser parado, quando alguém se põe à frente do alvo, e nesse caso diz-se "ele objectou"... O objector colocando-se como objecto, é alvo intermédio do jeito de arremesso.
De igual modo funcionam as palavras:
- "abjecto", arremetido para fora ("ab"), sem jeito; 
- "trajecto", que será o caminho através ("trans") do jacto, ou do jeito; 
- "ejectar", quando o jacto, ou o jeito, é de saída ("ex").

Neste caso, funcionando de forma similar nas línguas de raiz latina, haveria necessidade de invocar o português? Com efeito, "efeito" é suposta conjugação latina de "efectuar" enquanto "effectus", o que significa "é feito", só que em português não é preciso ir ao latim, para tirar "é feito" de "efeito".
Isso não acontece com o "effect" inglês, ou o "efet" francês, não tomam o sentido em "is done" ou mesmo em "est fait", que sonoramente é similar a "efet".
Só que o português vai mais longe, e numa arte milenar que hoje se chama "para inglês ver", não tem o verbo "efazer", tem o verbo "enfeitar".
A diferença entre "efeito" e "enfeito", é que no último caso não é preciso fazer, basta enfeitar...
Tal como passar por ter isso feito, ou ter feito isso, é "feitiço".
Na arte do feitiço, chamada feitiçaria, o povo era ludibriado pelos feiticeiros de serviço.

Filosofia dos abjectos
Este pequeno intróito serve para deixar claro que, na liturgia das palavras adquiridas, um objectivo pressupunha um trajecto e algo que se opusesse a esse trajecto. Ou seja, não supõe alcançar algo sem que nada objecte, sem que ninguém se queixe. Não se pretende algo que "que caia em saco roto".
Curiosamente, a minha perspectiva de "objectivo" foi sempre oposta, no sentido em que a comunidade é útil, mas dispensável, para avaliar da solidez dos objectivos. A solidez deve ser objectiva e não subjectiva, e não é por ter avalo de um ou de um milhão que isso se altera.

Uma necessidade de mérito por confrontação, que é essência do chamado "método científico", reflecte uma mentalidade tortuosa, que dá apenas valor ao que é alcançado por conflito - contra os outros, ou contra os elementos.
O valor sai de unanimismos e nisso não se afasta da mentalidade medieval.

Enquanto numa sociedade primitiva, nómada, um objectivo familiar seria afastar-se para procurar territórios de caça, sem conflitos com os vizinhos... quando a sociedade passou à filosofia agrícola, em que a dependência da terra obrigava à sedentarização, e à inserção numa hierarquia social de alimentação, a expulsão dessa sociedade passou a ser vista como um pior mal.
Abjecto, banido, ou ostracizado (na versão grega), o exílio era um castigo visto por muitos como mais severo do que a prisão ou a morte. Digamos, a prisão não existia, porque ninguém pensava em alimentar e alojar presos de graça. A prisão era o trabalho escravo. A escravatura foi simplesmente uma solução entendida como inteligente para resolver um problema prisional. Nenhuma família romana queria ter que alimentar prisioneiros gauleses, mas se estes servissem como escravos, pois aí dava jeito, mais jeito do que construir inúteis campos de concentração em Roma.

No Séc. XIX aquando da organizada política de emigração europeia, organizada pela maçonaria (e pela cúria romana), os pobres migrantes europeus sonhavam com propriedades americanas, e partiram em debandada como nunca antes. Partiam em magotes para países novos, independentes, muitos deles para uma língua completamente estranha. Curiosamente, na mesma altura que as potências europeias cimentavam o seu poder colonial em África e na Ásia, a maioria da emigração não se destinava a essas colónias. No caso português, a emigração ia essencialmente para o Brasil ou EUA, e em muito menor escala para Angola ou Moçambique. A maioria dos portugueses em África chegou só no Séc. XX, depois dos anos 50.

Vejamos isto em contraste com o que se passou no Séc. XV e XVI. Se a colonização da Madeira e Açores foi rápida e eficaz, não seria de esperar que os marinheiros contassem às suas gentes dos paraísos tropicais que viam?
No entanto, Portugal sempre quis reduzir a sua presença além-mar ao mínimo - a pequenas povoações fortificadas, destinadas ao comércio - as feitorias. Funcionavam como enfeitorias, disfarçando uma efectiva vontade de não-colonização.

As capitanias hereditárias do Brasil, pelo reduzido número, 14 dadas a 12 famílias da pequena nobreza, procuraram resolver o problema ao estilo feudal... ou seja delegar na nobreza o controlo de desses territórios, estendendo o braço da coroa real.

Assim, se a quase totalidade da população europeia não tinha qualquer posse de terra, também não iria ficar com ela, quando ao mesmo tempo haveria uma imensidão de posse a distribuir.
Da posição de servos na Europa, para os camponeses que emigrassem pouco se iria modificar o seu estatuto, já que iriam ficar apenas com diferentes senhores, diferentes paisagens, clima e doenças.
O entusiasmo com a ida para paisagens exóticas só entusiasma os cidadãos actuais. O nobre paraíso seria mais o jardim artificial do que a exuberância natural.
Na altura, ser remetido para paraísos tropicais, era um degredo, uma expulsão da pátria, e só com condenados ao exílio se conseguia uma povoação razoável no ultramar.

Tal como no caso das famílias romanas, as famílias das capitanias viram maior interesse na utilização de escravos, para aproveitar a extensão colonial, do que propriamente em incentivar um estabelecimento de marinheiros nacionais, que poderiam questionar a sua posse. Quando esse incentivo existiu, como para colonizar a Austrália, já no Séc. XIX, e à falta de melhor, uma solução era remeter para lá os condenados... e as despedidas eram encaradas como uma morte, já que dificilmente aos desterrados era pensado conseguir regressar à Inglaterra.

Em contra-corrente com esta filosofia de ver a tropicalidade como lugar de abjectos, mas ainda assim não se afastando dela, surgiu o movimento evangelizador dos jesuítas. Voluntariamente, ofereciam-se ao sacrifício missionário de cristianizar os indígenas. Não se afastava da visão medieval, porque era entendido como um sacrifício em favor da cristandade, e das "almas perdidas" dos indígenas.

No entanto, a vontade de libertação do senhorio alheio manifestou-se fortemente, e apareceram mesmo "reinos piratas", em Nassau, e noutras paragens caribenhas, que fracamente se aguentaram face ao poderio colonial europeu. Até ao fim do Séc. XVIII a ordem europeia visava manter as cabeças coroadas na Europa, e não criar novos reinos satélites... tal como Cartago punia os desertores que abandonassem os seus navios, escapando-se para paraísos tropicais.

Daquilo que sabemos, e podemos concluir, é que o processo de atribuir propriedade a qualquer cidadão foi um desiderato maçónico, iniciado com as repúblicas americanas, especialmente nos EUA.
Nesse aspecto, contribuíram para o efectivo fim do feudalismo no mundo medieval.

A maçonaria, enquanto organização de cariz secreto, mexeu todos os cordelinhos, e em conjunto com os judeus europeus, conduziu um controlo financeiro e editorial, começando a formar a mentalidade das populações na revolução industrial. Não bastava tirar as pessoas das aldeias, era preciso tirar a mentalidade aldeã dessas pessoas. Por isso, se empenhou tanto em formatar a escola, ao ponto de ser impingida uma outra história, que retirasse o catecismo do centro do indivíduo. Como tinha ficado claro, se ninguém interviesse, as pessoas continuariam a ver os paraísos tropicais como infernos, se tais paragens fossem entendidas como um desterro.

Para um observador exterior, é fácil concluir que, mais fácil do que levar alguém ao paraíso, seria  tentar convencê-lo de que tinha chegado... Percebeu-se que seria preciso dar um certificado carimbado de que era ali! O chavão "terra da liberdade" foi de tal forma assumido pelos EUA, e propalado pela Europa, pelas publicações editoriais, que a vaga migratória passou a ser vista como a única oportunidade de se verem livres do jugo senhorial.

Na Europa, as mentalidades começaram  a mudar pelo despoletar sincronizado de revoluções liberais, em 1848, que veio forçar um parlamentarismo em quase todos os reinos, abrindo os portões de poder.
Este plano maçónico foi trabalhado na Inglaterra, disso não parecem restar grandes dúvidas, mas a forma como conseguiu adesões estrangeiras, em todos os reinos europeus, continua a ser um notável caso de sucesso. Além disso, resultando de herança templária, as ligações à Ordem de Cristo, parecem-me inevitáveis, uma vez que o fim prático da autonomia da Ordem de Cristo em Portugal, em 1551, terá levado a uma consequente migração dos seus protagonistas e promotores internos.

Filosofia de eunucos
Os abjectos, excluídos da sociedade, desde tempos egípcios, foram inevitavelmente os escravos.
A prole de escravos gerava escravos, tal como depois a prole de servos gerava servos.
Como o postal vai longo e já falei bastante sobre este assunto:


realço apenas que se gerou nos bastidores do poder, através de serviçais dos impérios, em boa parte eunucos, uma filosofia de descendência que ia para além do benefício da própria prole.
No caso dos eunucos, escravos, isso era bastante claro, e essa tentativa de controlo da sociedade por uma elite de homens, abnegados da reprodução sexual, foi ainda promovida pelo próprio cristianismo - sem constasse em parte alguma dos seus requisitos fundadores que os padres devessem ser castos.

Assim, foi sendo criada a ideia de um objectivo humanitário além do grupo familiar, da tribo, do povo, do reino, cujo propósito maior foi sendo estabelecido pelos movimentos missionários católicos (nomeadamente os jesuítas), ao mesmo tempo que se invocava uma filosofia cristã desprendida do pressuposto religioso, o chamado humanismo. Todo este caldo esteve em ebulição na Europa do Séc. XVI. Já teria ingredientes mais antigos e muito semelhantes na disseminação do budismo, e similares religiões orientais, onde também era requisito uma abstinência dos seus monges.

O propósito de ser pela humanidade, e não tanto por uma classe, por um grupo, por um povo, ou por uma nação, passou a constar de novo da ementa mundial, como nunca antes teria acontecido, ainda que certas noções já existissem de forma localizada no império romano, e na civilização grega, mas que encravavam na noção do estranho, enquanto bárbaro.

Este propósito, não sendo alcançável na sua utopia, estilhaça as diferenças entre nações, ao querer vergar a diferença a uma unidade monocromática. Tornou-se anti-nacionalista em vez de celebrar as diferenças virtuosas dos diversos nacionalismos. Numa tentativa progressista desesperada, foi buscar mais igualdades, onde elas pouco sentido faziam... chegando-se ao cúmulo jurídico de pretender igualdade de direitos para animais, quando estes direitos estão ainda muito longe de ser adquiridos por muitos humanos.
Quando se continua a caminhar em frente, ignorando a paisagem à volta, é que se percebe que os supostos pastores só continuam a ostentar a vara, porque não querem assumir a sua cegueira.
Nada mais vêem em frente, mas ninguém os ensinou a largar o cajado do comando.

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publicado às 04:01

Estava convencido que tinha publicado aqui um texto sobre os dois processos de descolonização, mas constato que não publiquei.
O assunto é interessante, e em ambos os casos envolve a maçonaria... com um pequeno detalhe, a maçonaria esteve fortemente envolvida no segundo processo de colonização, que começou assim que fez terminar o primeiro.
Apesar das evidências serem mais que muitas, ninguém menciona o assunto.

1) Descolonização das Américas
Na transição para 1800, quando Napoleão exibia o seu poder, as únicas colónias independentes eram os recém-formados EUA e o Haiti.
Em 1825, passados apenas 25 anos, em praticamente toda a América havia reinos independentes.
E é claro, já havia repúblicas feitas à medida dos EUA, ou seja, produtos da maçonaria.

Repare-se que na 1ª Grande Guerra "Mundial" (1803-1815) o adversário era Napoleão, o grande portador da Revolução Francesa, que foi completamente derrotado, não sem que os ideais dessa revolução, ou seja, uns tantos versos da maçonaria francesa, dita do "grande oriente", se tivessem imposto nas agendas liberais, e tivessem alterado a sociedade do Séc. XIX.
Aqui, a Inglaterra derrotou a França, sem ajuda dos Estados Unidos.

Será que a descolonização na América foi total?
É claro que o império espanhol foi totalmente estilhaçado, ficou com umas ilhas, entre as quais Cuba.
Os portugueses, antecipando destino similar no Brasil, com a liderança de D. Pedro IV, inventaram uma independência manhosa, mantendo o território ligado à coroa nacional.
Mas e os outros, a Inglaterra libertou o Canadá, a França e a Holanda saíram das Guianas?
Claro que não! Aí o ardente desejo de independência não ardeu.
Libertadores, segundo o credo da maçonaria: San Martin, D. Pedro IV, Simon Bolivar

2) Colonização da África e da Ásia
Ok, mas os ideais maçónicos eram bons, visavam a igualdade, a libertação do homem, etc, etc...
De facto, os ideais maçónicos parece que visaram sempre atacar as dimensões ibéricas, e pouco mais do que isso. Nesse aspecto, parecia cumprir-se o rancor judaico contra as potências ibéricas que os expulsaram, com requintes inquisitórios.
Ao mesmo tempo que a Espanha e Portugal eram libertados das suas colónias americanas, poderia pensar-se que os holandeses iriam ter movimentos independentistas na Indonésia, os ingleses iriam ser pressionados na África do Sul, na Índia, Austrália, etc... 
Nada disso!

Com efeito, se a colonização americana pelos europeus já tinha sido feita, a presença dos europeus em África, ou na Ásia, mesmo na Índia, era razoavelmente suave. 
Não tinha havido propriamente uma exterminação das culturas anteriores, como aconteceu no caso azteca ou inca. A África talvez por ser demasiado caótica, e a Ásia por ser demasiado populosa, tinham resistido, e mantinham-se sob grande influência europeia (exceptuando talvez a China e Japão), mas ainda como reinos razoavelmente autónomos.

Como poderia a maçonaria entrar subrepticiamente nesses poderes, desconfiados dos europeus?
Pois, por isso, antes de descolonizar, era preciso forçar a colonização.
Surgiu assim na segunda metade do Séc. XIX, uma vontade incontrolável de colonizar.
Foi o tempo dos grandes (!) "exploradores de África", como Stanley e Livingstone, que basicamente se arrastavam, e arrastavam consigo inúmeros carregadores, para se conseguirem deslocar em África.

É claro que, como os "descobrimentos terrestres portugueses" não podiam ser sabidos, agora era tudo coisa nova, novidade do mais novo e progressista, que só a maçonaria poderia alcançar.
Tudo o que era projecto de país na Europa ocidental teve direito à sua nesga de terreno para colonizar, inclusive a Bélgica, que garantiu o Congo. É claro que o pedaço de leão ia para a Inglaterra e a França, duas versões do mesmo avental. Portugal aguentou Angola e Moçambique, que antes pouco mais eram que Luanda e Benguela, Lourenço Marques, Nampula e Sofala.
À Espanha, para não ficar a chorar de pranto, depois de ter perdido todas as colónias americanas, ficou com a Guiné Equatorial. 

A França abocanhou quase toda a África Ocidental, para além da Indochina, na Ásia.
Onde andavam os direitos humanos, aquela linda carta que a revolução francesa trazia?
Estavam em stand-by... por mais umas décadas, que era preciso entrar em força, para depois sair.

Convém lembrar que o Sião, talvez por causa do nome que agradava à judiaria, escapou à colonização, mas os seus reis (da Tailândia) tudo fizeram para não apoquentar os europeus. 
A China depois das Guerras do Ópio, viu-se forçada a ceder na influência, e quando tal correu mal, foram as 8 nações dar um pulinho para invadir Pequim em 1900. O Japão, apesar dos prantos dos samurais e da Madame Butterfly, acabou por aceder à modernização, e tratou de invadir a Coreia, como forma de se juntar aos grandes, e evitar a pressão do vizinho gigante... a Rússia.

Com efeito, a Rússia foi o primeiro país a efectuar a grande colonização, tão grande que ninguém se lembra da Tartária que era suposto existir antes de Pedro I, o Grande. É que antes disso, a Rússia não passava do campo europeu... só depois ousou atravessar os Urais até Vladivostok.
A agenda maçónica nesse aspecto sempre trabalhou bastante bem na Rússia.

3) Descolonização da Ásia e da África 
Estando garantidos todos os desejos, certamente existentes (na Ásia), e quando inexistentes, inventados (na África), após a 2ª Guerra Mundial - e é de perguntar - por que não após a 1ª Grande Guerra? - reuniram-se as condições, para as conspirações da treta, que levaram os países à independência. 
É claro que houve um Ghandi, um Amílcar Cabral, e outros tantos heróis locais que lutaram pela independência dos respectivos países... mas o problema é que todos se podem reduzir às mesmas décadas 1950-1970, o que torna os seus actos heróicos num aspecto menor, do maior acto encenado, que era a descolonização.
Já antes teriam havido movimentos, em muitos casos, mais louváveis, porque sem apoios lutaram contra uma dimensão incomensurável para si, mas estiveram condenados ao insucesso.
No entanto, após 1950, a ordem era descolonizar, e foi cumprida quase sem atrasos, e nem mesmo o caso português se atrasou muito... pois, porque afinal de contas não surgiram os guerrilheiros da Guiana, e mesmo assim a Holanda lá libertou o Suriname, mas só em 1975.
Quanto à França... não nos digam que a França se esqueceu de libertar a Guiana Francesa?
Ah! É claro, é para lançar os foguetões da ESA...

Sim, porque isto havia alucinados portugueses que viam o país de Timor ao Corvo, mas já quando são franceses, ingleses ou americanos, não são alucinados.

4) Globalização ou Colonização (2)
A fase de descolonização tinha que estar pronta nos anos 70, porque vinham aí as décadas da globalização. Com efeito, logo no princípio dos anos 70, acabada a Guerra do Vietname, Nixon foi à China tratar desse papel principal na fase seguinte, que seria liderada por Deng Xiaoping.

A Rússia tinha sido importante na fase de experimentar o comunismo... e com que consequências(!), mas era tempo de finalizar o ensaio, arrumar tudo, e declarar o capitalismo como vencedor da Guerra Fria. Claro que foi bastante útil no apoio a todos os movimentos independentistas, contra o colonialismo europeu, mas havia chegado o fim dessa fase, e entrava-se na nova era.

Qual o propósito da Globalização?
A Globalização é a versão 2.0 do Colonialismo. Pode-se falar em Colonização (2).
Porquê?
Porque todos os estados quiseram ser independentes, para depois concluírem que é melhor estarem todos unidos, numa grande família. 
Qual seria o melhor exemplo? - A união europeia!
Não havia estados com maiores rivalidades, cuja acção tivesse dilacerado vidas atrás de vidas.
A Europa era o barril de pólvora, que seria apaziguado em união, na prodigiosa UE.
Isso serviria para um domínio global?

O que ficava claro é que os países (africanos, em especial), que tinham acabado de ficar independentes, estavam imediatamente dependentes de ajudas externas, endividavam-se até ao tutano, e eram corrompidos de alto a baixo, pelas elites locais.
No fundo, a sua independência passava a ser uma dependência completa dos mercados.

Só que isto não acontecia apenas para os recentes países, acabava por acontecer com todos!
Governos sobreviviam ou caíam, consoante a saúde financeira da sua economia, e portanto passava-se a um novo termo experimental de colonização, já praticada pelos portugueses na Índia - os marajás que se portavam bem, eram favorecidos, enquanto os outros tinham problemas (ver texto).

Por muito que isso custe aos franceses, ganhou-se uma língua universal de comunicação, que é o inglês, e esse aspecto, a que se uniu a circunstância "casual" de existir uma internet, uma organização mundial de comércio, um fundo monetário internacional, etc... são tudo pequenos detalhes que foram relevantes para o sucesso desta história.

Agora estamos na fase de perceber se isto serve para alguma coisa, para algo mais do que inventar mentiras (como o aquecimento global, ou a ameaça islâmica), e fazer com que todos acreditem nelas...

No fundo, o ponto primordial de todo o animal é ser auto-suficiente, e com isso livre. Isso só não acontece em animais sociais, por clara incapacidade de sucesso, de outra forma.
Se a sociedade quiser continuar a evoluir no sentido de formar monstros gigantescos, a que se chamam estados, organizações, companhias, sociedades, empresas, grupos, etc... só mais tarde perceberá que esse caminho não levará a lado nenhum, que não seja irracionalidade e desgraça.
Como já aqui mencionei, a única organização social que deve existir é aquela que, garantindo a máxima liberdade aos cidadãos, impeça qualquer protagonismo de outra organização social. Nenhum homem deve ficar exposto solitariamente contra a vontade de uma multidão.

Ficamos à espera... entretanto, se esta pandemia serve para alguma coisa, é para perceber do quanto dependemos uns dos outros, e que o isolamento não será certamente nenhum caminho a trilhar.

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publicado às 06:22

Num artigo intitulado
The End of the Carnival’: The UK and the Carnation Revolution in Portugal
publicado na revista científica Contemporary British History, em 2014, Oscar Martin Garcia, um investigador espanhol, comenta sobre a quase inexistência de artigos sobre o papel inglês na "Revolução dos Cravos". Porém o objecto do artigo serve ainda para ver esta revolução como a última de uma série de revoluções europeias, que entendeu como carnavalescas, citando:
«To help remedy this oversight, this article analyses the economic, political and diplomatic measures employed by the British Foreign Office to establish parliamentary democracy in Portugal, which brought an end to the final chapter in the ‘carnival’ of revolutions that had spread throughout Europe over the preceding two decades.»
O 1º de Maio de 1974 foi o último de paz e alegria revolucionária - a festa durou uma semana.
A diferença para o 1º de Maio de 2020, mostra que ao Estado Novo uma pandemia do tipo Covid teria sido uma panaceia sem contra-indicações conhecidas.
1º de Maio em 2020 (à esquerda) em 1974 (à direita).

A marcar o 1º de Maio de 1974 estava o protagonismo dado a Álvaro Cunhal e a Mário Soares. 
Os militares do 25 de Abril, nem passada estava uma semana, e já tinham ido para casa, plantar batatas. Um detalhe importante, normalmente varrido para baixo do tapete...
A Junta de Salvação Nacional, formada a 26 de Abril, dispensou os capitães, até porque se eram capitães de Abril, já não estavam a fazer nada no 1º de Maio.
  • Presidente: General António Spínola (Exército);
  • Exército (2): General Costa Gomes, Brigadeiro Silvério Marques;
  • Força Aérea (2): General Diogo Neto, Coronel Galvão de Melo;
  • Marinha (2): Capitão mar-e-guerra Pinheiro de Azevedo; Capitão de fragata Rosa Coutinho.

Maçonaria impõe Palma Carlos
O primeiro-ministro seria Palma Carlos, um nome ditado pela maçonaria, decidido numa reunião do Grande Oriente Lusitano na Av. Manuel da Maia. Ao que consta, em artigo do Expresso, Spínola quereria um governo militar, ou então Veiga Simão como primeiro-ministro. No entanto, o MFA, enquanto entidade abstracta detinha poder de veto, e manifestava-se algum controlo maçónico.

Este primeiro governo tinha como ministros Sá Carneiro, Mário Soares, Álvaro Cunhal, entre outros, como Maria de Lourdes Pintasilgo, Magalhães Mota, Salgado Zenha, Almeida Santos, etc. 
A misturada estava destinada a terminar menos de 2 meses depois de tomar posse.

Em Julho de 74, Spínola aceita nomear Vasco Gonçalves, e parece ficar claro quem coordenou o processo revolucionário dentro de portas, pois foi ele quem sucedeu a Spínola:

General Francisco da Costa Gomes
Conforme era assinalado pela revista Time, durante o Verão quente de 1975, havia a Lisbon Troika, que era constituída por Otelo, Vasco, e Costa Gomes.

Para esse efeito, convém entender que o próprio Costa Gomes, talvez um bocado farto do "mito dos capitães" veio depois notar que  (ver texto de Rui Ramos):
Sem os generais, a revolução nunca provavelmente teria acontecido, como aliás um desses generais, Costa Gomes, fez questão de notar anos depois: no dia 25 de Abril de 1974, as tropas mobilizadas para a revolução – 150 oficiais e 2000 soldados, a maior parte instruendos das “escolas práticas”, sem qualquer experiência de combate — nunca, em circunstâncias normais, teriam sido suficientes para derrubar um regime que, nesse ano, mantinha mais de 150 000 homens em armas
O golpe de bastidores, teve como cabeça em Portugal o general Costa Gomes, que tinha sido nomeado por Marcelo Caetano como Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, em 1972.
Quando Marcelo dizia que a PIDE não conseguia "entrar no exército", parece claro que o problema estava na chefia, ou seja no próprio Costa Gomes.

Costa Gomes conhecia bem a NATO porque esteve no comando SACLANT de Norfolk com Humberto Delgado. Além disso, foi secretário de estado quando o General Botelho Moniz era ministro, ou seja, trabalhou directamente com dois dos opositores a Salazar. Mas foi o seu sucesso em Angola, onde optou por cativar as populações, em vez de confrontar os guerrilheiros, que lhe granjeou o prestígio no Estado Novo, já que a situação em Angola ficou totalmente controlada.
Já antes havia sido referido pela embaixada americana que Costa Gomes, melhor que Botelho Moniz, poderia fazer a mudança de regime. Ou seja, é natural que os EUA encarassem positivamente a mudança sob liderança de Costa Gomes.

Mesmo num relatório sobre a situação em 1975, enviado ao General Walters, da CIA, é dito:
Options about Costa Gomes' role ranged from his being a very powerful figure to a balancer between the left and the moderates, to one with a very little influence.
Essa ambiguidade conseguiu-a  manter até ao fim. Enquanto figura tremiclitante, sem poder, até aquele que se foi mantendo como figura de topo no Estado, independentemente do sentido da revolução. 
  • Era Costa Gomes, e não Spínola, o chefe de todo o aparelho militar em Março de 1974.
  • Se Spínola foi indicado por Caetano, isso pode ter agradado a Costa Gomes, que precisava de uma primeira transição menos abrupta. Ele manteve-se como 2ª figura, o que levou à sua designação para a sucessão de Spínola, em Setembro.
  • Sustentou todos os governos caóticos de Vasco Gonçalves, com o país em pseudo-estado revolucionário de semi-anarquia, com assaltos a propriedades e "reforma agrária".
  • Apadrinhou todo o caótico processo de descolonização, tendo presidido aos Acordos do Alvor.
  • Figurou como figura de esquerda, até 25 de Novembro de 1975, sendo completamente passivo face à hostilidade da esquerda revolucionária, ligada a Otelo e aos Gonçalvistas.
  • Mais complicado foi certamente dar meia volta, no 25 de Novembro, aparecendo ligado aos "moderados" vencedores.

Spínola e Costa Gomes seriam os dois únicos a serem nomeados Marechais pelo novo regime.

Curiosamente, se o Marechal Gomes da Costa implantou o Estado Novo, o Marechal Costa Gomes, terminou com ele. Provavelmente, nem sequer este detalhe será tão casual, quanto possa parecer.

Turismo revolucionário
Um dos focos do artigo mencionado, é que a revolução portuguesa serviu de transição entre os movimentos revolucionários esquerdistas, de Che e Fidel, às Brigate Rossi, aos Baader-Meinhof, às revoluções no sentido ocidental, da Espanha e Grécia, até à queda do muro, e ocidentalização dos antigos regimes comunistas.

Com efeito, é sabido que o estatuto soft da revolução tuga, revolução das flores, paz e amor, etc, causava um fascínio na intelectualidade, que é sempre de esquerda, e que durante 1975 veio ver as novas "instalações democráticas", ao nível de curiosidade turística... Com efeito, dada a anarquia que se foi instalando, era um excelente campo de novidades sociológicas.

O artigo fala do papel do governo de Harold Wilson nessa evolução 1974-76, no sentido de promover contactos e apoios para que Portugal não descarrilasse para a extrema-esquerda, mas pouco menciona do papel inglês anterior a 1974. Esse seria o período a ser investigado, sem acesso limitado pela maçonaria, amigos ou análogos.

O papel da maçonaria não passou só por apontar o nome de Palma Carlos, se o fez era porque tinha estado completamente a par, e apoiado o MFA. Dito de outra forma, isso significava o conhecimento de Londres e Paris. Acontecia o mesmo que se garantira na República, com a vantagem de não ter havido nenhum Paiva Couceiro a oferecer resistência pelo anterior regime.

Harold Wilson, em 1973 (na oposição) recebera Mário Soares, e promovera o boicote à viagem de Marcelo Caetano. Conforme já referimos, em 1973 deu-se a constituição do PS, com um financiamento da Fundação Ebert e da CIA. Mário Soares, também ele mação, encontrou apoios pela Europa, para fundar um partido de poder em Portugal... o que veio a acontecer, da noite para o dia.

Quando Harold Wilson ganha as eleições em Fevereiro de 1974, estavam criadas as condições para uma benção inglesa à revolução portuguesa, ao mesmo tempo que nos EUA, Nixon estava no fim da linha devido ao escândalo Watergate. O livro de Spínola sai em Fevereiro, e a crise da demissão de Spínola e Costa Gomes dá-se a 13 de Março, uma semana depois de Wilson tomar posse. Logo de seguida há o golpe das Caldas a 16 de Março, que terá direito a um bis em 25 de Abril... agora já com o apoio estratégico da frota da NATO em Lisboa.

As acções do MFA só ganham sentido se colocarmos Costa Gomes à cabeça de uma conspiração feita por dentro e por fora, com a cumplicidade da maçonaria (que estava proibida).
Foi Costa Gomes que chamou Spínola para vice-chefe do Estado Maior, que o incentivou a publicar o livro, de certa forma permitindo que ele encabeçasse a face visível do 25 de Abril.
Otelo nunca referiu quem lhe dava ordens, nem qual era o plano do MFA... que aparentemente não era nenhum, até chegar Spínola para negociar com Caetano. 
Só aparentemente era nenhum, porque tudo se desenrolou com uma precisão notável, ao ponto de no 1º de Maio, o futuro político do país, com Mário Soares e Álvaro Cunhal juntos, dava garantias de ser passado o Estado Novo.

O carnaval revolucionário que decorreu entre 1974-76 não foi do agrado americano, sendo sabido que Kissinger pensou em intervir militarmente. No entanto, ainda mais nos bastidores, testava-se a vacina contra o romantismo de golpes anárquicos. Ao fim de um ano de regime Gonçalvista, sob patrocínio de Costa Gomes, o direito às experiências sociais tinha-se acabado, e era tempo de arrumar as coisas nos seus lugares. Tal como sempre acontecera, Costa Gomes limitou-se a gerir tendências, acordos, e pacificações, de forma a que Portugal não terminasse num cenário de guerra civil, o que seria péssimo para o turismo revolucionário, encantado com a revolução dos cravos.
Esse aspecto foi plenamente conseguido, o que não deixou de ser notável, dadas as circunstâncias.
__________
02.05.2020

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publicado às 06:49

Um relatório para ser entregue a Henry Kissinger, feito pelo oficial da CIA na Europa Ocidental, foi assim apresentado no dia 26 de Abril de 1974. Apenas algumas partes foram "desclassificadas", e têm acesso público.

O relatório pode surpreender, falando de 40 famílias de oligarcas que seriam as únicas beneficiárias efectivas dos rendimentos coloniais, e que de um modo geral, o preço que Portugal pagava, por manter as colónias, não compensava o retorno do investimento. Segundo o memorando, das colónias, apenas Angola conseguia devolver 60% da despesa do Estado lá investida.



Com o efeito, o relatório afirma que Marcelo Caetano tentava uma autonomia dos territórios africanos, ao que a oligarquia familiar (dos 40 barões) tentou fazer Américo Thomaz depô-lo em Dezembro de 1973, no que foram contrariados por pressão militar dos seus apoiantes.

Diz que "evidentemente Caetano aprovou o livro de Spínola", fazendo notar que o livro de Spínola continuou a ser vendido em Lisboa, mesmo depois do "golpe das Caldas". Assinala que os planos de Caetano para lidar com os focos de tensão seriam obscuros...

Só faltou dizer que o 25 de Abril de 1974 teria sido aprovado por Marcelo Caetano!
Não é certamente isso que o próprio disse no seu livro a "Verdade sobre o 25 de Abril", afirmando: "A única informação extensa e concreta que dos serviços recebi, já nas vésperas do 25 de Abril, sobre as intenções dos militares, veio de Moçambique", acrescentando que "só na madrugada do dia 25 de Abril o Director-Geral da PIDE telefonou a comunicar que a revolução estava na rua".

deixámos aqui a pergunta... quem decidiu ocultar a Salazar que este tinha sido substituído por Marcelo? Quem tinha o poder para tal?
Não seria Américo Thomaz sem os 40 barões que dominavam o país (segundo o relatório, dominavam-no não apenas economicamente, mas também nos jornais, rádio e televisão, na representação nos corpos legislativos, e tinham ligação aos altos cargos governamentais). Precisaram desse completo domínio para convencer Salazar de uma ficção, em que permanecia a governar.

Marcelo Caetano, poderia ter promovido/aceitado um golpe de estado contra si mesmo?
Não parece, mas parece claro que quem o apoiou não o deixou cair, e cuidou que fosse exilado em segurança no Brasil.
Parte dos 40 ladrões, desde a Lapa até Cascais, podem ter passado por algumas contrariedades nos anos seguintes, não sem que tivessem regressado e aparecido outros tantos, ou muitos mais.
Sempre cá estiveram, se dirá...
Sim, mas durante o tempo de D. João II podem ter falado mais fininho.
Os que ainda não perceberam por que caíram então, vão falando alto, para se ouvirem a si mesmos.
Os outros, porque não são surdos, não precisam.

Segue-se o memorando, que pode ser encontrado no site da CIA:






Onde se diz que o interesse das colónias está num reduzido número de famílias oligarcas:
Except for Portuguese Guinea, the African provinces do in fact offer significant immediate and long-term economic returns to certain economic groups in Portugal. Large corporations in the metropole, owned by a few powerful families, control virtually all aspects of the territories’ modern economic sectors, including local industry, commerce, banking, and plantation agriculture. The metropole receives preferential trade treatment, and it controls the territories’ sizable foreign exchange receipts.
Repare-se como as partes sublinhadas a negro são ocultadas da referência ao memorando da CIA, feita por S. R. Butler, na sua tese de doutoramento "Into the Storm: American Covert Involvement in the Angolan Civil War, 1974-1975" numa nota da página 221.

A tese é de 2008, e provavelmente Butler teve acesso a uma versão censurada a negro, diferente da que foi disponibilizada em 2010, que é aquela que transcrevemos. Repare-se qual foi a escolha de palavras a serem censuradas... no mínimo, os piquenos são engraçadíssimooos!




Note-se ainda neste delicioso parágrafo sobre a Oligarquia das 40 famílias, da cosa nostra:
The Oligarchy
12. In the context of the authoritarian system that as prevailed so long, these stirrings of dissident were, of course, unusual. Since Salazar's time a group of perhaps 40 families who control most of the country's wealth have played a decisive role in the exercise of political power. Their position is derived from their control of the economy, ownership of news media, representation in the legislative bodies, and their close connection with top government officials. Consequently, government policy has reflected the conservative political, economic, and social views of this group. Their business interests in Portuguese Africa are immensely profitable, and hence they have long opposed any loosening of Portugal's overseas ties even though this meant the continuation of a large and expensive military force to combat the African insurgents.







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