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Véus (2)

10.12.15
Um dos principais problemas da humanidade, e que não vejo sinalizado em parte alguma, é o da posse de pessoas por ideias. Normalmente as pessoas vêem-se como proprietários de ideias e não se dão conta de como podem ficar escravas delas... ou pior, sabem disso, mas acham que a ideia vale a pena, e fazem sacrifícios por ela.

Há uma frase que tem sido repetida, atribuída a muitos, e que parece remeter-se a Sófocles:
- Pode-se matar um homem, mas não uma ideia.
Esta frase era-me simpática, revelando uma potência intemporal das ideias.
No entanto, este percurso que aqui fui fazendo, permitiu-me ser confrontado contra ideias que normalmente dava como boas, e não despendia tempo de reflexão com elas. Ora, uma das coisas que foi para mim clara desde o início é que não reivindicaria posse das muitas ideias que fui deixando, mantendo o estatuto de anonimato, para o melhor e para o pior. E se inicialmente isso teve razões mais estratégicas do que racionais, com o tempo apercebi-me de toda uma racionalidade subjacente - a relação de posse que se estabelece entre a pessoa e a ideia.

As pessoas julgam que beneficiam das suas convicções, e identificam-se com as ideias que adoptam.
A grande força disso é a partilha, o comungar da mesma ideia, como uma mais valia fraterna nas relações humanas.  
Esse processo levou à formação dos maiores monstros que acompanharam o Homem no domínio da Terra. Ao "Homem singular" sucedeu a par o "grupo de homens", um corpo normalmente formado por pastores e rebanhos, onde a cabeça está num pastor e o corpo é disperso pelo rebanho, não faltando, é claro, fiéis ajudantes caninos.
A estrutura imitou de tal maneira a formação de corpos biológicos, que as organizações adoptaram um mimetismo nas designações - "órgãos sociais", "corpos sociais", "membros", etc...

A sociedade apareceu assim com uma dupla faceta - o corpo social dava todas as vantagens de partilha de recursos, mas a estrutura de "grupo humano" passou a ser o maior predador contra o "homem individual".
Comparando o número de vítimas no confronto individual entre homens, com o número de vítimas resultante de acções de grupos humanos, sabemos que os monstros que dilaceraram milhões de vidas sem grande dano psicológico interno foram os "grupos humanos", um corpo em que a estrutura armada se apresenta normalmente na forma de exército. Quanto mais valor se dá à letra da lei, mais facilmente ficam essas estruturas desprovidas de humanidade, passando a funcionar como máquinas autónomas.

Esses exércitos movem-se de acordo com ideias, com pilares partilhados pelos vários membros, e para além dessas ideias usarem homens como rebanhos para a sua causa, têm pretensões de imortalidade. Assim, seja movidos por ideias religiosas, em nome de um deus, seja movidos por ideias de justiça, de verdade, de vingança, de família, de povo, de nação, de filosofia, ou quaisquer outras, criam-se dinâmicas de grupos, que não visam a eternidade do homem individual, mas sim do uso de homens em nome de ideias abstractas.
Curiosamente, os homens satisfazem-se nessa dinâmica de grupo, e aceitam bem o papel de verem o seu nome emparelhado com grandes ideias. O culto do indivíduo, enquanto promotor de ideias, foi bem patente durante a ascensão comunista, quando Lenine, Marx ou Mao serviam mesmo um corpo de ideias. O herói vivo pode ser um problema para a dinâmica de grupo, já que o indivíduo pode decepcionar a idealização que une o grupo em torno dele, mas o herói morto permitia toda a ambiguidade que satisfazia imprecisões, para os adeptos de uma certa continuidade ou de outra.

Por isso, se há ideia que tomo como boa, é a ideia de não ficar preso a nenhuma ideia. 
Adopto as ideias pela sua validade intemporal, em que não precisam de adeptos para se imporem. Não tenho nenhuma pretensão missionária, e não sirvo de corpo à disposição de nenhuma ideia. As boas ideias não precisam de mim para se imporem, mas não deixo de as acarinhar e admirar pela sua força abnegada natural. 
Sirvo essas ideias pelo simples facto de dizer, a quem quiser ouvir, que elas me servem, e porquê.
Não precisam de mais nada... se são boas, intemporais, não precisam que ninguém mude, porque quem não mudar, simplesmente está a lutar contra monstros eternos, de implantação global. Não se impõem antes de tempo, esperam que todas as idiotices façam o seu percurso suicida ou inconsequente, e aguardam que haja mentes capazes de as albergar. Essas ideias não fazem sentido antes do seu tempo próprio, que é o tempo de evolução individual de cada elemento em sociedade.

Assim, se há uma palavra que contém a principal ideia que me satisfaz, é compreensão.
Inicialmente podemos ser aliciados pela ideia de verdade, mas seria ilógico não compreender a falsidade, porque uma acompanhou a outra. Por que razão foi dado espaço de existência e tempo de proliferação às falsidades, a ponto de esconderem tanto a verdade passada? 

Portanto, estando aqui a transcrever um texto que faz uma feroz crítica à maçonaria, não é meu objectivo partilhar esse sentimento. Simplesmente deixo aqui o texto para que suscite uma compreensão da sua existência, olhando-o por uma perspectiva pretendida antagónica.

O autor do texto creio que procurava desmotivar os iniciados mações e os curiosos, naquela lógica do rebanho, em que um pastor procura evitar que ovelhas saiam do seu rebanho, indo na direcção do rebanho vizinho. A lógica de uma "vitória" pela imposição do número de adeptos, pela exibição do seu poder, ou das suas armas e tecnologia, foi simplesmente sobrevalorizada. Há um momento, em que tudo isso deixa simplesmente de ter mais sentido do que o de simples jogo inconsequente, e de mau gosto...

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O Véu Levantado ou o Maçonismo Desmascarado

CAPÍTULO I. 
Origem da Franc-Maçonaria, 

Os Pedreiros-Livres quanto maior mistério têm feito de sua origem, tanto mais se tem procurado descobri-la. Cada um tem pretendido ter a este respeito seu segredo, e contudo ele é conhecido de poucas pessoas. Todos os discursos que têm feito os Oradores nas lojas sobre a origem, e os progressos desta Arte Real da Maçonaria, ou não dizem nada, ou tendem só a desvairar os curiosos. 
Os livros impressos, assim em verso, como em prosa, substituem a Maçonaria Real à Maçonaria Moral e confundindo a origem de uma com a da outra, enganam continuamente os leitores pouco atentos. Os verdadeiros Mações, no sentido da Franc-Maçonaria, edificam templos para a virtude, e masmorras para os vícios; mas nunca levantaram algum monumento público; contudo, para darem um ar antigo, que lhes atraia respeitos, os Mações se associam a todos aqueles, que se distinguiram na antiguidade por alguma obra memorável, tais como Hiram, Adoniram, Solomão, Noé, Adão; alguns não temem elevar-se mesmo até Deus, e tomá-lo por Mestre da sua Arte, da qual ele deu lições formando a maravilhosa abóbada dos Céus. 

Eles não podiam ir buscar mais alto a sua origem, e se estivesse a seu alcance poderem dar-nos dela uma história seguida desde o principio do mundo até hoje, sem dúvida, que a sociedade dos Pedreiros-Livres seria o corpo mais respeitável, e mais nobre que tem havido no mundo; ao qual não seria possível recusar o primeiro lugar, nem contradizer suas máximas. 
Mas infelizmente não estão todos de acordo sobre uma tão bela origem, e por lisonjeira que ela seja para o corpo inteiro, e para cada individuo em particular, são obrigados, por falta de memórias autênticas, a aproximá-la aos nossos tempos, dos quais ela não está muito distante, se damos crédito à verdade da história. 

Alguns Pedreiros- Livres pretendem fixar seus primeiros princípios nos tempos das Cruzadas, quando os Europeus reedificaram as Cidades, que eles mesmos, ou os Sarracenos tinham destruído. Mas por total resposta podemos lembrar a estes senhores que, por sua própria confissão, a palavra Pedreiro não deve tomar-se no seu sentido próprio, mas em um sentido simbólico e figurado, e por conseguinte com significação inteiramente diferente daquela, que eles querem ligar-lhe. Além disso, como provarão eles, que a sociedade dos Pedreiros de que são membros, é quem reedificou as cidades da Palestina? quem lhes transmitiu as memórias sobre que estão apoiadas suas pretensões? Em parte nenhuma da história vemos, que os Pedreiros-Livres de hoje tenham empreendido um trabalho tão útil, como glorioso. 

É verdade que os Pedreiros-Livres de Inglaterra datam sua origem do ano 924, e por conseguinte de um tempo anterior ao das Cruzadas, de que ainda se não tratava; mas isto acaso prova que a sociedade dos Pedreiros- Livres existisse nesta época? 
Não sem dúvida; porque então seguir-se-ia, que aquela sociedade teria tomado sua origem na França, sendo certo que os mesmos Franceses convém que ela começou em Inglaterra. 

Os Pedreiros que Adelstan, filho do grande Alfredo mandou vir da França para Inglaterra, não eram com efeito Pedreiros-Livres, mas simples arquitectos, e oficiais de pedreiro, dos quais ele formou um corpo, a que deu Estatutos, e destinou lugares para suas assembleias. 

É verdade que os Pedreiros-Livres de Inglaterra se formaram ad instar dos pedreiros daquele reino; que eles se deram, ou elegeram Guardiães e Aprendizes, Serventes, Mesters, Companheiros, Arquitectos, que eles indicaram assembleias; que se formaram em associações; que eles se ligaram por meio de juramentos: mas são eles por isso Pedreiros-Livres? 
Não; eles não são mais que uns macacos, que os imitam; e a semelhança de suas corporações não prova de modo algum a semelhança de sua origem. 

Mas poder-se-à dizer: eles têm, como os Pedreiros-Livres aventais, esquadrias, prumos, estampas de desenho, martelos, trolhas, e compassos; isto é verdade; mas os pedreiros levantam edifícios, e templos à imitação dos cidadãos: pelo contrário os Pedreiros-Livres só os querem derrubar, e destruir. Se dizem que se ocupam em levantar templos à virtude, e fazer masmorras para os vícios, tudo isto deve entender-se em um sentido moral: e não quer dizer outra cousa, senão que os Pedreiros-Livres se lisonjeiam de estabelecer a virtude sobre as ruínas do vicio. Eles não são por conseguinte Pedreiros propriamente ditos, segundo o sentido natural do nome, que eles se atribuem. Mas não é aqui a ocasião de examinar, se os Pedreiros- Livres tem por objecto fazer os homens mais virtuosos; nós reservamos este exame para outro lugar. 
Alguns daqueles que sustentam que a sociedade Pedreiral teve seu nascimento em Inglaterra, não remontam mais alto que até Cromwel; e o Autor do livro intitulado «Os Pedreiros Livres esmagados» ou a«Ordem dos Pedreiros-Livres traída» é deste sentimento. 
«O seu fim, diz ele, era edificar um novo edifício, isto é reformar o género humano, exterminando os Reis, e os poderosos, de que aquele usurpador era flagelo. Ora, para este dar a seus partidistas uma ideia sensível dos desígnios deles, lhes propôs o restabelecimento do Templo de Salomão.
Este Templo tinha sido edificado pela ordem, que Deus fez intimar a este Príncipe, Era o santuário da Religião, era o lugar especialmente consagrado a estas augustas cerimónias; era para esplendor deste Templo que aquele sábio Monarca tinha estabelecido tantos ministros encarregados do asseio, e embelecimento dele. Em fim, depois de muitos anos de glória e magnificência, vem um exército formidável, que arrasa este ilustre monumento. O povo que nele rendia suas homenagens à Divindade, é carregado de ferros, e conduzido à Babilónia, donde, depois do cativeiro mais rigoroso, se vê retirado pela mão de seu Deus. Um Príncipe idólatra, escolhido para ser o instrumento da clemência divina, permite a este povo desgraçado não reedificar o Templo no seu primeiro esplendor, mas também aproveitar-se dos meios, que ele lhe fornece, para o bom sucesso da obra.
Ora, é debaixo desta alegoria que os Pedreiros-Livres encontram a exacta semelhança de sua sociedade. Este Templo, dizem eles, considerado em seu primeiro lustre, é a figura do estado primitivo do homem ao sair do nada, Esta religião, estas cerimónias, que nela se praticavam, não são outra cousa, senão aquela lei comum, que está gravada em todos os corações, e acham o seu principio nas ideias de equidade, e de caridade, a que os homens estão obrigados entre si. A destruição deste Templo, e a escravidão daqueles adoradores, são o orgulho e a ambição que introduziram a dependência entre os homens. Os Assírios, aquele exército bárbaro e cruel, são os Reis, os Príncipes, os Magistrados , cujo poder tem feito encurvar tantos desgraçados, que eles tem oprimido: em fim, aquele povo escolhido, encarregado de reedificar aquele Templo magnífico, são os Pedreiros- Livres que devem restituir ao Universo a sua primeira beleza. 
Estou bem persuadido que os Pedreiros-Livres têm podido discorrer desta maneira, e ainda com maior extravagância; porque se julgam feitos para reformar o género humano: mas eu não convirei tao facilmente que a Seita dos Pedreiros-Livres deve sua origem a Cromwel, nem que este grande protector da Inglaterra tivesse o projecto de fundar uma nova Religião, e fazer-se seu chefe. Os que melhor o tem conhecido nunca lhe atribuíram tais sentimentos. Politico profundo, limitou sua ambição a usar bem da autoridade, e do poder, que tinha sabido reunir em sua pessoa. Pareceu zombar da religião pela destreza, com que fez mover, segundo suas vistas, os diferentes sectários que então dividiam a Inglaterra por meio de suas opiniões. Nunca adoptou alguma delas por gosto nem de boa fé, e é uma injustiça imputar-se-lhe o ter querido formar um sistema de irreligião, ou traçar o plano dos Pedreiros-Livres.

Podemos assegurar que bem longe de ser certo que Cromwel quisesse fundar a sociedade Maçónica está demonstrado que não é na Inglaterra que ela teve seu nascimento. Os que tem discorrido mais justamente sobre sua origem a fazem vir do Norte. Com efeito dos países Setentrionais é que ela passou para o meio dia, e que se espalhou depois por todos os países do mundo habitado.

(continua)
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Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 04:11

Véus (2)

10.12.15
Um dos principais problemas da humanidade, e que não vejo sinalizado em parte alguma, é o da posse de pessoas por ideias. Normalmente as pessoas vêem-se como proprietários de ideias e não se dão conta de como podem ficar escravas delas... ou pior, sabem disso, mas acham que a ideia vale a pena, e fazem sacrifícios por ela.

Há uma frase que tem sido repetida, atribuída a muitos, e que parece remeter-se a Sófocles:
- Pode-se matar um homem, mas não uma ideia.
Esta frase era-me simpática, revelando uma potência intemporal das ideias.
No entanto, este percurso que aqui fui fazendo, permitiu-me ser confrontado contra ideias que normalmente dava como boas, e não despendia tempo de reflexão com elas. Ora, uma das coisas que foi para mim clara desde o início é que não reivindicaria posse das muitas ideias que fui deixando, mantendo o estatuto de anonimato, para o melhor e para o pior. E se inicialmente isso teve razões mais estratégicas do que racionais, com o tempo apercebi-me de toda uma racionalidade subjacente - a relação de posse que se estabelece entre a pessoa e a ideia.

As pessoas julgam que beneficiam das suas convicções, e identificam-se com as ideias que adoptam.
A grande força disso é a partilha, o comungar da mesma ideia, como uma mais valia fraterna nas relações humanas.  
Esse processo levou à formação dos maiores monstros que acompanharam o Homem no domínio da Terra. Ao "Homem singular" sucedeu a par o "grupo de homens", um corpo normalmente formado por pastores e rebanhos, onde a cabeça está num pastor e o corpo é disperso pelo rebanho, não faltando, é claro, fiéis ajudantes caninos.
A estrutura imitou de tal maneira a formação de corpos biológicos, que as organizações adoptaram um mimetismo nas designações - "órgãos sociais", "corpos sociais", "membros", etc...

A sociedade apareceu assim com uma dupla faceta - o corpo social dava todas as vantagens de partilha de recursos, mas a estrutura de "grupo humano" passou a ser o maior predador contra o "homem individual".
Comparando o número de vítimas no confronto individual entre homens, com o número de vítimas resultante de acções de grupos humanos, sabemos que os monstros que dilaceraram milhões de vidas sem grande dano psicológico interno foram os "grupos humanos", um corpo em que a estrutura armada se apresenta normalmente na forma de exército. Quanto mais valor se dá à letra da lei, mais facilmente ficam essas estruturas desprovidas de humanidade, passando a funcionar como máquinas autónomas.

Esses exércitos movem-se de acordo com ideias, com pilares partilhados pelos vários membros, e para além dessas ideias usarem homens como rebanhos para a sua causa, têm pretensões de imortalidade. Assim, seja movidos por ideias religiosas, em nome de um deus, seja movidos por ideias de justiça, de verdade, de vingança, de família, de povo, de nação, de filosofia, ou quaisquer outras, criam-se dinâmicas de grupos, que não visam a eternidade do homem individual, mas sim do uso de homens em nome de ideias abstractas.
Curiosamente, os homens satisfazem-se nessa dinâmica de grupo, e aceitam bem o papel de verem o seu nome emparelhado com grandes ideias. O culto do indivíduo, enquanto promotor de ideias, foi bem patente durante a ascensão comunista, quando Lenine, Marx ou Mao serviam mesmo um corpo de ideias. O herói vivo pode ser um problema para a dinâmica de grupo, já que o indivíduo pode decepcionar a idealização que une o grupo em torno dele, mas o herói morto permitia toda a ambiguidade que satisfazia imprecisões, para os adeptos de uma certa continuidade ou de outra.

Por isso, se há ideia que tomo como boa, é a ideia de não ficar preso a nenhuma ideia. 
Adopto as ideias pela sua validade intemporal, em que não precisam de adeptos para se imporem. Não tenho nenhuma pretensão missionária, e não sirvo de corpo à disposição de nenhuma ideia. As boas ideias não precisam de mim para se imporem, mas não deixo de as acarinhar e admirar pela sua força abnegada natural. 
Sirvo essas ideias pelo simples facto de dizer, a quem quiser ouvir, que elas me servem, e porquê.
Não precisam de mais nada... se são boas, intemporais, não precisam que ninguém mude, porque quem não mudar, simplesmente está a lutar contra monstros eternos, de implantação global. Não se impõem antes de tempo, esperam que todas as idiotices façam o seu percurso suicida ou inconsequente, e aguardam que haja mentes capazes de as albergar. Essas ideias não fazem sentido antes do seu tempo próprio, que é o tempo de evolução individual de cada elemento em sociedade.

Assim, se há uma palavra que contém a principal ideia que me satisfaz, é compreensão.
Inicialmente podemos ser aliciados pela ideia de verdade, mas seria ilógico não compreender a falsidade, porque uma acompanhou a outra. Por que razão foi dado espaço de existência e tempo de proliferação às falsidades, a ponto de esconderem tanto a verdade passada? 

Portanto, estando aqui a transcrever um texto que faz uma feroz crítica à maçonaria, não é meu objectivo partilhar esse sentimento. Simplesmente deixo aqui o texto para que suscite uma compreensão da sua existência, olhando-o por uma perspectiva pretendida antagónica.

O autor do texto creio que procurava desmotivar os iniciados mações e os curiosos, naquela lógica do rebanho, em que um pastor procura evitar que ovelhas saiam do seu rebanho, indo na direcção do rebanho vizinho. A lógica de uma "vitória" pela imposição do número de adeptos, pela exibição do seu poder, ou das suas armas e tecnologia, foi simplesmente sobrevalorizada. Há um momento, em que tudo isso deixa simplesmente de ter mais sentido do que o de simples jogo inconsequente, e de mau gosto...

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O Véu Levantado ou o Maçonismo Desmascarado

CAPÍTULO I. 
Origem da Franc-Maçonaria, 

Os Pedreiros-Livres quanto maior mistério têm feito de sua origem, tanto mais se tem procurado descobri-la. Cada um tem pretendido ter a este respeito seu segredo, e contudo ele é conhecido de poucas pessoas. Todos os discursos que têm feito os Oradores nas lojas sobre a origem, e os progressos desta Arte Real da Maçonaria, ou não dizem nada, ou tendem só a desvairar os curiosos. 
Os livros impressos, assim em verso, como em prosa, substituem a Maçonaria Real à Maçonaria Moral e confundindo a origem de uma com a da outra, enganam continuamente os leitores pouco atentos. Os verdadeiros Mações, no sentido da Franc-Maçonaria, edificam templos para a virtude, e masmorras para os vícios; mas nunca levantaram algum monumento público; contudo, para darem um ar antigo, que lhes atraia respeitos, os Mações se associam a todos aqueles, que se distinguiram na antiguidade por alguma obra memorável, tais como Hiram, Adoniram, Solomão, Noé, Adão; alguns não temem elevar-se mesmo até Deus, e tomá-lo por Mestre da sua Arte, da qual ele deu lições formando a maravilhosa abóbada dos Céus. 

Eles não podiam ir buscar mais alto a sua origem, e se estivesse a seu alcance poderem dar-nos dela uma história seguida desde o principio do mundo até hoje, sem dúvida, que a sociedade dos Pedreiros-Livres seria o corpo mais respeitável, e mais nobre que tem havido no mundo; ao qual não seria possível recusar o primeiro lugar, nem contradizer suas máximas. 
Mas infelizmente não estão todos de acordo sobre uma tão bela origem, e por lisonjeira que ela seja para o corpo inteiro, e para cada individuo em particular, são obrigados, por falta de memórias autênticas, a aproximá-la aos nossos tempos, dos quais ela não está muito distante, se damos crédito à verdade da história. 

Alguns Pedreiros- Livres pretendem fixar seus primeiros princípios nos tempos das Cruzadas, quando os Europeus reedificaram as Cidades, que eles mesmos, ou os Sarracenos tinham destruído. Mas por total resposta podemos lembrar a estes senhores que, por sua própria confissão, a palavra Pedreiro não deve tomar-se no seu sentido próprio, mas em um sentido simbólico e figurado, e por conseguinte com significação inteiramente diferente daquela, que eles querem ligar-lhe. Além disso, como provarão eles, que a sociedade dos Pedreiros de que são membros, é quem reedificou as cidades da Palestina? quem lhes transmitiu as memórias sobre que estão apoiadas suas pretensões? Em parte nenhuma da história vemos, que os Pedreiros-Livres de hoje tenham empreendido um trabalho tão útil, como glorioso. 

É verdade que os Pedreiros-Livres de Inglaterra datam sua origem do ano 924, e por conseguinte de um tempo anterior ao das Cruzadas, de que ainda se não tratava; mas isto acaso prova que a sociedade dos Pedreiros- Livres existisse nesta época? 
Não sem dúvida; porque então seguir-se-ia, que aquela sociedade teria tomado sua origem na França, sendo certo que os mesmos Franceses convém que ela começou em Inglaterra. 

Os Pedreiros que Adelstan, filho do grande Alfredo mandou vir da França para Inglaterra, não eram com efeito Pedreiros-Livres, mas simples arquitectos, e oficiais de pedreiro, dos quais ele formou um corpo, a que deu Estatutos, e destinou lugares para suas assembleias. 

É verdade que os Pedreiros-Livres de Inglaterra se formaram ad instar dos pedreiros daquele reino; que eles se deram, ou elegeram Guardiães e Aprendizes, Serventes, Mesters, Companheiros, Arquitectos, que eles indicaram assembleias; que se formaram em associações; que eles se ligaram por meio de juramentos: mas são eles por isso Pedreiros-Livres? 
Não; eles não são mais que uns macacos, que os imitam; e a semelhança de suas corporações não prova de modo algum a semelhança de sua origem. 

Mas poder-se-à dizer: eles têm, como os Pedreiros-Livres aventais, esquadrias, prumos, estampas de desenho, martelos, trolhas, e compassos; isto é verdade; mas os pedreiros levantam edifícios, e templos à imitação dos cidadãos: pelo contrário os Pedreiros-Livres só os querem derrubar, e destruir. Se dizem que se ocupam em levantar templos à virtude, e fazer masmorras para os vícios, tudo isto deve entender-se em um sentido moral: e não quer dizer outra cousa, senão que os Pedreiros-Livres se lisonjeiam de estabelecer a virtude sobre as ruínas do vicio. Eles não são por conseguinte Pedreiros propriamente ditos, segundo o sentido natural do nome, que eles se atribuem. Mas não é aqui a ocasião de examinar, se os Pedreiros- Livres tem por objecto fazer os homens mais virtuosos; nós reservamos este exame para outro lugar. 
Alguns daqueles que sustentam que a sociedade Pedreiral teve seu nascimento em Inglaterra, não remontam mais alto que até Cromwel; e o Autor do livro intitulado «Os Pedreiros Livres esmagados» ou a«Ordem dos Pedreiros-Livres traída» é deste sentimento. 
«O seu fim, diz ele, era edificar um novo edifício, isto é reformar o género humano, exterminando os Reis, e os poderosos, de que aquele usurpador era flagelo. Ora, para este dar a seus partidistas uma ideia sensível dos desígnios deles, lhes propôs o restabelecimento do Templo de Salomão.
Este Templo tinha sido edificado pela ordem, que Deus fez intimar a este Príncipe, Era o santuário da Religião, era o lugar especialmente consagrado a estas augustas cerimónias; era para esplendor deste Templo que aquele sábio Monarca tinha estabelecido tantos ministros encarregados do asseio, e embelecimento dele. Em fim, depois de muitos anos de glória e magnificência, vem um exército formidável, que arrasa este ilustre monumento. O povo que nele rendia suas homenagens à Divindade, é carregado de ferros, e conduzido à Babilónia, donde, depois do cativeiro mais rigoroso, se vê retirado pela mão de seu Deus. Um Príncipe idólatra, escolhido para ser o instrumento da clemência divina, permite a este povo desgraçado não reedificar o Templo no seu primeiro esplendor, mas também aproveitar-se dos meios, que ele lhe fornece, para o bom sucesso da obra.
Ora, é debaixo desta alegoria que os Pedreiros-Livres encontram a exacta semelhança de sua sociedade. Este Templo, dizem eles, considerado em seu primeiro lustre, é a figura do estado primitivo do homem ao sair do nada, Esta religião, estas cerimónias, que nela se praticavam, não são outra cousa, senão aquela lei comum, que está gravada em todos os corações, e acham o seu principio nas ideias de equidade, e de caridade, a que os homens estão obrigados entre si. A destruição deste Templo, e a escravidão daqueles adoradores, são o orgulho e a ambição que introduziram a dependência entre os homens. Os Assírios, aquele exército bárbaro e cruel, são os Reis, os Príncipes, os Magistrados , cujo poder tem feito encurvar tantos desgraçados, que eles tem oprimido: em fim, aquele povo escolhido, encarregado de reedificar aquele Templo magnífico, são os Pedreiros- Livres que devem restituir ao Universo a sua primeira beleza. 
Estou bem persuadido que os Pedreiros-Livres têm podido discorrer desta maneira, e ainda com maior extravagância; porque se julgam feitos para reformar o género humano: mas eu não convirei tao facilmente que a Seita dos Pedreiros-Livres deve sua origem a Cromwel, nem que este grande protector da Inglaterra tivesse o projecto de fundar uma nova Religião, e fazer-se seu chefe. Os que melhor o tem conhecido nunca lhe atribuíram tais sentimentos. Politico profundo, limitou sua ambição a usar bem da autoridade, e do poder, que tinha sabido reunir em sua pessoa. Pareceu zombar da religião pela destreza, com que fez mover, segundo suas vistas, os diferentes sectários que então dividiam a Inglaterra por meio de suas opiniões. Nunca adoptou alguma delas por gosto nem de boa fé, e é uma injustiça imputar-se-lhe o ter querido formar um sistema de irreligião, ou traçar o plano dos Pedreiros-Livres.

Podemos assegurar que bem longe de ser certo que Cromwel quisesse fundar a sociedade Maçónica está demonstrado que não é na Inglaterra que ela teve seu nascimento. Os que tem discorrido mais justamente sobre sua origem a fazem vir do Norte. Com efeito dos países Setentrionais é que ela passou para o meio dia, e que se espalhou depois por todos os países do mundo habitado.

(continua)
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publicado às 04:11

Véus

09.12.15
Nalguns textos seguintes irei transcrever uma obra sobre a maçonaria que apareceu em 1822, ou seja em plena época das lutas liberais.
Não me interessa especialmente o caso da maçonaria, interessa-me mais enquanto forma mais visível de estabelecimento de algum controlo ou poder global.

O dominó
O jogo do dominó sempre me pareceu pouco interessante, mas começa por ter o interesse no seu nome, cujo acento no "ó" serve apenas um mero disfarce. Da mesma forma é menos interessante a alegoria das peças de dominó que caiem umas após as outras, tocando na inicial. O jogo do dominó não consiste nisso, isso é apenas um subproduto do que se faz com as peças de dominó.
O seu nome na tradução literal deveria ser domínio.

Uma página sobre a etimologia da palavra dominó dá-nos uma pista interessante:
from French domino (1771), perhaps (on comparison of the black tiles of the game) from the meaning "hood with a cloak worn by canons or priests" (1690s), from Latin dominus "lord, master" (see domain), but the connection is not clear. Klein thinks it might be directly from dominus, "because he who has first disposed his pieces becomes 'the master.' " Metaphoric use in geopolitics is from April 1954, first used by U.S. President Eisenhower in a "New York Times" piece, in reference to what happens when you set up a row of dominos and knock the first one down.
A referência sublinhada é de Ernest Klein (A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language. Elsevier, 1971), e a menção é importante.
Com efeito, quem primeiro conseguiu colocar todas as suas peças no jogo, encaixando nas peças dos outros, tornou-se senhor do tabuleiro.

Do registo histórico que nos foi instruído, vemos poucas ocasiões em que houve um poder que se conseguiu encaixar nas peças adversárias, passando a senhorear todos os acontecimentos como peças num jogo.

Um poder com registo de aspirações globais terá sido o do Império Romano, e forma como emerge é quase tão enigmática como quando submerge numa "invasão bárbara". Não vou antes na história, ao poder egípcio ou mesopotâmico, porque os registos são ainda mais vagos. No entanto, é na tradição judaica da aliança fenícia entre Salomão e Hirão, que a maçonaria vai colocar as suas pedras fundacionais, buscando uma tradição dos cavaleiros do Templo de Salomão, os Templários.

Em vários momentos poderiam ter sido evitadas as invasões bárbaras que levaram ao sucumbir da estrutura de poder dos Romanos. Acresce que só a parte ocidental do império sucumbiu, e se tivesse havido qualquer vontade de Roma restaurar o velho império, bastaria conjugar esforços com os exércitos de Constantinopla.
Roma quis cair propositadamente, e não quis voltar a reunir a parte ocidental com a oriental.
Os cristãos foram acusados de terem levado à ruína romana, e Santo Agostinho, ao tentar contestar esta tese propalada no seu tempo, dá-lhe sentido. 
Santo Agostinho morrerá mesmo no cerco de Hipona, enquanto o Conde Bonifácio e Flávio Aécio disputavam o poder de Roma, trocando favores da imperatriz regente Gala Placídia, ao mesmo tempo que convocavam para as suas causas os exércitos de vândalos (Bonifácio) ou de hunos (Aécio).

Há vários indícios que apontam para uma propositada mudança de sociedade, tendo em vista o modelo cristão medieval que iria permanecer durante um milénio. Roma iria subsistir como capital do mundo ocidental, com exércitos de bispos e padres, conselheiros imprescindíveis dos monarcas bárbaros. A população via arruinada a vida nas antigas cidades romanas, que caíram sem comércio numa rápida degradação. Restava à população o regresso à vida campesina, em terras que não eram suas, e onde trabalhariam como servos... numa versão em que a escravatura era imposta pela fome e não pela espada. 
O processo não foi imediato, teve a idealização e construção de um inimigo sarraceno, que concentrou as preocupações de Constantinopla a oriente... após Justiniano não mais os imperadores bizantinos ousaram grandes incursões a ocidente.
A situação é de tal forma caricata que quando Constantino estabeleceu o cristianismo como religião oficial romana, a escolha de Bizâncio para nova capital faz tanto sentido, quanto não ter optado pela escolha natural que seria... Jerusalém!
As duas formas de cristianismo - católico e ortodoxo, resultaram exclusivamente desses dois focos de poder terem por base a divisão do império entre ocidente (Roma) e oriente (Constantinopla).

A imposição do modelo medieval no seu esplendor só foi conseguida com Carlos Magno, ou seja, praticamente 4 séculos depois do início da sua idealização. Só a partir daí se consolidou o processo de apagamento da memória, da conversão de todas as tradições e registos pagãos, fechando a Europa num esquema de reis e príncipes dependentes da obediência directa a Roma. 
Toda a documentação oficial continuava a ser escrita em latim, como se fosse essa a língua de Cristo... enquanto o latim desaparecia por completo da fala e dos ouvidos, mesmo em Roma - não sendo de forma alguma banido, quando até as missas eram recitadas em latim.
O único registo algo singular era o da corte inglesa, normanda, que usava o francês, preservando a sua raiz recente, e esquecendo a sua origem normanda... de paragens vikings. Os restantes regentes bárbaros usavam a língua das populações - que não se tinha perdido, nem durante o domínio romano.

Este poder romano só começou a ter real contestação após as Cruzadas. O mundo medieval que se fechara na Europa ocidental, voltaria a abrir-se, em especial com a inclusão dos escandinavos, dos vikings, como reinos cristãos.
A aniquilação dos cátaros, e a extinção formal dos Templários, foram alguns dos exemplos de como se iria preparar uma mudança de mentalidades na Europa, liderada nos bastidores pela comunidade judaica. Pouco a pouco, o comércio voltou a ganhar importância, e cada vez mais no final da época medieval. Seria através do poder do dinheiro, enquanto sangue do comércio, que se iria processar a grande mudança que levaria ao fim da Idade Média. A existência de papas e anti-papas, especialmente com os papas de Avinhão, começou a colocar em causa a ordem de Roma.
Foi após a instabilidade dos antipapas, que surgiram sucessivamente autorizações papais para "descobrir", e a Europa fechada nos campos, começou a reviver o comércio nas cidades, abrindo-se ao mundo. 
O ponto final que selou a mudança do poder de Roma deu-se com a contestação luterana, e a contra-reforma católica, que terminou com a derrota do poder papal na Guerra dos Trinta Anos.
É a partir daí que se começa a definir uma nova ordem mundial, pelos tratados entre nações, sem intermediação papal. O novo poder complexifica-se com o comércio liderado pelas Companhias das Índias, e o modelo de sociedade medieval representado por D. Quixote, depressa desaparecerá. 
Passado o milénio medieval, o comércio irá impor-se de novo, e as grandes cidades vão retomar o esplendor passado.
É neste contexto pós-Guerra dos Trinta Anos, quando o poder papal está em declínio, mas não perdeu o seu dominó, que a maçonaria irá definir-se numa forma de religião alternativa, com os seus próprios segredos, contestando o poder aristocrático. 
O aparente vazio de poder global, concentrado durante quase dois milénios em Roma, irá estabelecer-se na Grande Loja Maçónica de Londres, numa altura em que a nossa princesa D. Catarina é prometida para o restauro do poder monárquico inglês de Charles II, finda a experiência de Cromwell.

Segue a introdução da obra que irei transcrever.


___________________________________________________________________


https://archive.org/stream/ovolevantadoouom00palm
___________________________________________________________________

O Véu Levantado ou o Maçonismo Desmascarado,

isto é
o ímpio e execrando sistema dos Pedreiros-Livres
conspirados contra a Religião Católica e contra o trono dos soberanos.


Obra traduzida do Francês para instrução dos Portugueses: acrescida com um Apêndice que contém os sinais e senhas dos Pedreiros-Livres, e a constituição Maçónica em Portugal.


Impressão Liberal

LISBOA,
ANNO 1822
Rua Formosa Nº42.

------------------------------------------------------


INTRODUÇÃO


Ainda que muitos Autores têm tentado dar-nos uma história da Franc-maçonaria, podemos dizer que ninguém até agora nos tem instruído perfeitamente do verdadeiro estado desta execranda sociedade.


Tudo é mistério, tudo emblema e segredo desta Arte Real e o verdadeiro segredo escapa no meio dos segredos simulados de que se acham envolvidas todas as suas ridículas cerimónias. Há poucos mações em estado de descobrirem nelas a verdade, ainda que se lhes assegure que só se acha na loja e que está escondida aos olhos dos profanos. Com tudo uma vez que hoje, mais que nunca, é interessante aos mações e aos que o não são, mas que infelizmente o podem vir a ser, o saberem em que consiste esta Ordem, e o fim para que ela foi estabelecida, nós vamos examinar o mistério de sua origem, de suas cerimónias, o seu fim, e as obrigações que contraem os que nela entram; da união destas coisas é que nós esperamos fazer sair uma grande luz, mais interessante, e mais luminosa do que aquela que brilha aos olhos pasmados de um jovem mação. Uma só toca e deslumbra os olhos de seu corpo; a outra pelo contrário ilustrará sua alma, e lhe descobrirá um projecto sinistro, e a consumação da iniquidade a mais condenável em seus ímpios projectos e a mais perigosa, que até hoje se tem manifestado ao mundo desde a origem do Cristianismo.


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publicado às 04:26

Véus

09.12.15
Nalguns textos seguintes irei transcrever uma obra sobre a maçonaria que apareceu em 1822, ou seja em plena época das lutas liberais.
Não me interessa especialmente o caso da maçonaria, interessa-me mais enquanto forma mais visível de estabelecimento de algum controlo ou poder global.

O dominó
O jogo do dominó sempre me pareceu pouco interessante, mas começa por ter o interesse no seu nome, cujo acento no "ó" serve apenas um mero disfarce. Da mesma forma é menos interessante a alegoria das peças de dominó que caiem umas após as outras, tocando na inicial. O jogo do dominó não consiste nisso, isso é apenas um subproduto do que se faz com as peças de dominó.
O seu nome na tradução literal deveria ser domínio.

Uma página sobre a etimologia da palavra dominó dá-nos uma pista interessante:
from French domino (1771), perhaps (on comparison of the black tiles of the game) from the meaning "hood with a cloak worn by canons or priests" (1690s), from Latin dominus "lord, master" (see domain), but the connection is not clear. Klein thinks it might be directly from dominus, "because he who has first disposed his pieces becomes 'the master.' " Metaphoric use in geopolitics is from April 1954, first used by U.S. President Eisenhower in a "New York Times" piece, in reference to what happens when you set up a row of dominos and knock the first one down.
A referência sublinhada é de Ernest Klein (A Comprehensive Etymological Dictionary of the English Language. Elsevier, 1971), e a menção é importante.
Com efeito, quem primeiro conseguiu colocar todas as suas peças no jogo, encaixando nas peças dos outros, tornou-se senhor do tabuleiro.

Do registo histórico que nos foi instruído, vemos poucas ocasiões em que houve um poder que se conseguiu encaixar nas peças adversárias, passando a senhorear todos os acontecimentos como peças num jogo.

Um poder com registo de aspirações globais terá sido o do Império Romano, e forma como emerge é quase tão enigmática como quando submerge numa "invasão bárbara". Não vou antes na história, ao poder egípcio ou mesopotâmico, porque os registos são ainda mais vagos. No entanto, é na tradição judaica da aliança fenícia entre Salomão e Hirão, que a maçonaria vai colocar as suas pedras fundacionais, buscando uma tradição dos cavaleiros do Templo de Salomão, os Templários.

Em vários momentos poderiam ter sido evitadas as invasões bárbaras que levaram ao sucumbir da estrutura de poder dos Romanos. Acresce que só a parte ocidental do império sucumbiu, e se tivesse havido qualquer vontade de Roma restaurar o velho império, bastaria conjugar esforços com os exércitos de Constantinopla.
Roma quis cair propositadamente, e não quis voltar a reunir a parte ocidental com a oriental.
Os cristãos foram acusados de terem levado à ruína romana, e Santo Agostinho, ao tentar contestar esta tese propalada no seu tempo, dá-lhe sentido. 
Santo Agostinho morrerá mesmo no cerco de Hipona, enquanto o Conde Bonifácio e Flávio Aécio disputavam o poder de Roma, trocando favores da imperatriz regente Gala Placídia, ao mesmo tempo que convocavam para as suas causas os exércitos de vândalos (Bonifácio) ou de hunos (Aécio).

Há vários indícios que apontam para uma propositada mudança de sociedade, tendo em vista o modelo cristão medieval que iria permanecer durante um milénio. Roma iria subsistir como capital do mundo ocidental, com exércitos de bispos e padres, conselheiros imprescindíveis dos monarcas bárbaros. A população via arruinada a vida nas antigas cidades romanas, que caíram sem comércio numa rápida degradação. Restava à população o regresso à vida campesina, em terras que não eram suas, e onde trabalhariam como servos... numa versão em que a escravatura era imposta pela fome e não pela espada. 
O processo não foi imediato, teve a idealização e construção de um inimigo sarraceno, que concentrou as preocupações de Constantinopla a oriente... após Justiniano não mais os imperadores bizantinos ousaram grandes incursões a ocidente.
A situação é de tal forma caricata que quando Constantino estabeleceu o cristianismo como religião oficial romana, a escolha de Bizâncio para nova capital faz tanto sentido, quanto não ter optado pela escolha natural que seria... Jerusalém!
As duas formas de cristianismo - católico e ortodoxo, resultaram exclusivamente desses dois focos de poder terem por base a divisão do império entre ocidente (Roma) e oriente (Constantinopla).

A imposição do modelo medieval no seu esplendor só foi conseguida com Carlos Magno, ou seja, praticamente 4 séculos depois do início da sua idealização. Só a partir daí se consolidou o processo de apagamento da memória, da conversão de todas as tradições e registos pagãos, fechando a Europa num esquema de reis e príncipes dependentes da obediência directa a Roma. 
Toda a documentação oficial continuava a ser escrita em latim, como se fosse essa a língua de Cristo... enquanto o latim desaparecia por completo da fala e dos ouvidos, mesmo em Roma - não sendo de forma alguma banido, quando até as missas eram recitadas em latim.
O único registo algo singular era o da corte inglesa, normanda, que usava o francês, preservando a sua raiz recente, e esquecendo a sua origem normanda... de paragens vikings. Os restantes regentes bárbaros usavam a língua das populações - que não se tinha perdido, nem durante o domínio romano.

Este poder romano só começou a ter real contestação após as Cruzadas. O mundo medieval que se fechara na Europa ocidental, voltaria a abrir-se, em especial com a inclusão dos escandinavos, dos vikings, como reinos cristãos.
A aniquilação dos cátaros, e a extinção formal dos Templários, foram alguns dos exemplos de como se iria preparar uma mudança de mentalidades na Europa, liderada nos bastidores pela comunidade judaica. Pouco a pouco, o comércio voltou a ganhar importância, e cada vez mais no final da época medieval. Seria através do poder do dinheiro, enquanto sangue do comércio, que se iria processar a grande mudança que levaria ao fim da Idade Média. A existência de papas e anti-papas, especialmente com os papas de Avinhão, começou a colocar em causa a ordem de Roma.
Foi após a instabilidade dos antipapas, que surgiram sucessivamente autorizações papais para "descobrir", e a Europa fechada nos campos, começou a reviver o comércio nas cidades, abrindo-se ao mundo. 
O ponto final que selou a mudança do poder de Roma deu-se com a contestação luterana, e a contra-reforma católica, que terminou com a derrota do poder papal na Guerra dos Trinta Anos.
É a partir daí que se começa a definir uma nova ordem mundial, pelos tratados entre nações, sem intermediação papal. O novo poder complexifica-se com o comércio liderado pelas Companhias das Índias, e o modelo de sociedade medieval representado por D. Quixote, depressa desaparecerá. 
Passado o milénio medieval, o comércio irá impor-se de novo, e as grandes cidades vão retomar o esplendor passado.
É neste contexto pós-Guerra dos Trinta Anos, quando o poder papal está em declínio, mas não perdeu o seu dominó, que a maçonaria irá definir-se numa forma de religião alternativa, com os seus próprios segredos, contestando o poder aristocrático. 
O aparente vazio de poder global, concentrado durante quase dois milénios em Roma, irá estabelecer-se na Grande Loja Maçónica de Londres, numa altura em que a nossa princesa D. Catarina é prometida para o restauro do poder monárquico inglês de Charles II, finda a experiência de Cromwell.

Segue a introdução da obra que irei transcrever.


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O Véu Levantado ou o Maçonismo Desmascarado,

isto é
o ímpio e execrando sistema dos Pedreiros-Livres
conspirados contra a Religião Católica e contra o trono dos soberanos.


Obra traduzida do Francês para instrução dos Portugueses: acrescida com um Apêndice que contém os sinais e senhas dos Pedreiros-Livres, e a constituição Maçónica em Portugal.


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INTRODUÇÃO


Ainda que muitos Autores têm tentado dar-nos uma história da Franc-maçonaria, podemos dizer que ninguém até agora nos tem instruído perfeitamente do verdadeiro estado desta execranda sociedade.


Tudo é mistério, tudo emblema e segredo desta Arte Real e o verdadeiro segredo escapa no meio dos segredos simulados de que se acham envolvidas todas as suas ridículas cerimónias. Há poucos mações em estado de descobrirem nelas a verdade, ainda que se lhes assegure que só se acha na loja e que está escondida aos olhos dos profanos. Com tudo uma vez que hoje, mais que nunca, é interessante aos mações e aos que o não são, mas que infelizmente o podem vir a ser, o saberem em que consiste esta Ordem, e o fim para que ela foi estabelecida, nós vamos examinar o mistério de sua origem, de suas cerimónias, o seu fim, e as obrigações que contraem os que nela entram; da união destas coisas é que nós esperamos fazer sair uma grande luz, mais interessante, e mais luminosa do que aquela que brilha aos olhos pasmados de um jovem mação. Uma só toca e deslumbra os olhos de seu corpo; a outra pelo contrário ilustrará sua alma, e lhe descobrirá um projecto sinistro, e a consumação da iniquidade a mais condenável em seus ímpios projectos e a mais perigosa, que até hoje se tem manifestado ao mundo desde a origem do Cristianismo.


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