Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Contas antigas

23.10.13
A grande quantidade e variedade de fósseis é uma das principais razões para aceitar um nexo evolutivo num contexto terrestre, sem necessidade de elementos externos. 
Não se trata do nexo darwiniano em que o nada explica tudo... essa filosofia de casino atirou para os jogos de sorte e azar uma justificação infantil de tudo o que se passa e passou - a probabilidade de ocorrer tem bastado como justificação da ocorrência.
Por estranho que pareça, é mais simples e informativa a posição oposta - não somos fruto de um acaso, ao contrário, os "acasos" do passado servem o nexo da nossa existência.
De um lado temos aqueles que têm um nexo de causalidade parcial - as causas precedem os efeitos, o que é a visão tipicamente científica; do outro lado, temos aqueles que usam uma causalidade total - os efeitos servem em si mesmo de causas, o que é uma visão mais poética e religiosa.
Para uns, a humanidade é um acidente probabilístico, para os outros a humanidade é a causa desse acidente probabilístico. A insuficiência explicativa do acidente probabilístico é tão grande, tem tantas falhas explicativas, e erros epistemológicos, que só uma profunda insanidade teimosa insistirá na sua validade. Mas, percebe-se o porquê da insistência... porque a alternativa parece esbarrar num círculo vicioso de argumentação. Se nos cingirmos à ideia de que o futuro não existe, então o futuro não pode ser causa do presente. A ciência nega o futuro, porque apenas vê o presente como resultado do passado, e quando isso não foi argumento suficiente socorreu-se da "sorte e azar", o que é basicamente um desespero argumentativo. Os poetas usam uma causalidade diferente - a constatação do futuro servia a causalidade no passado. Por exemplo, constatado o engenho de Ulisses, então a causa era uma protecção passada, por via da deusa Atena. Constatada uma tormenta no mar, bastava invocar algo que poderia ter irritado Poseidon.

Esta perspectiva dos poetas antigos era uma perspectiva religiosa, que ainda hoje é muito usada. A sua originalidade era um inverter da lógica temporal, sendo praticamente inútil do ponto de vista da previsão, mas serviria sempre uma repetitiva argumentação estéril. 
Do ponto de vista da previsão, é óbvio que só a perspectiva científica é útil, porque o desconhecimento do futuro é uma realidade incontornável, e por isso só nos interessa a causalidade que se pode estabelecer do passado para o futuro, e nunca a outra. No entanto, isso não significa que essoutra não exista. Pelo contrário, são as insuficiências do passado como causa única do futuro que mostram a sua presença. Quando aceitamos igual probabilidade de ocorrer A ou B, só a constatação futura o esclarece... e de nada vale dizer que poderia ser B se afinal foi A que ocorreu. Dizer que foi por "sorte" que aconteceu A, é o mesmo que dizer o futuro ditou que fosse A a ocorrer. Assim, escondidos noutros conceitos, a ciência tem mascarados argumentos poéticos ou religiosos no seu discurso, simplesmente porque é inevitável considerar que o futuro existe, e tal como o passado, serve o nexo do presente.

O que é engraçado é que um cientista aceita bem "um nada", a que chama sorte, para os acasos que levaram ao aparecimento de vida, de animais, de homens, na Terra. Fá-lo por constatação do futuro, e por isso a concretização desse acaso aparece ligada ao futuro. No entanto, dificilmente aceita que esses acasos passados foram determinados pelo futuro. O cientista vê os acasos e o futuro ligados, mas por convicção fundamentalista aceita apenas a causalidade no sentido do passado para o futuro, e não do futuro para o passado. Não há nada racional que lhe permita fazer isso, é mera convicção filosófica ou religiosa, de quem se habituou à previsão e nega a interpretação da pós-visão. Ora, a interpretação da pós-visão mostra que sem os acasos que levaram ao aparecimento de inteligência, o universo nem teria existência, pela simples lacuna de observador que o constatasse. Por isso, o passado serve sempre para o nexo do aparecimento do observador inteligente, sob pena de sem ele nem haver consciência de existência no universo.

No meio da multitude de fósseis, que dão nexo a um passado que justifica o presente, encontramos alguns que são verdadeiramente surpreendentes. Alguns parecem parafusos:
Tentaculites (Era Devoniana, Ontário-Canadá) [foto daqui]

... e pode haver quem seja levado a pensar que se tratam mesmo de parafusos de alguma maquinaria antiga.
Esse tipo de argumentação e contra-argumentação tem sido difundido na internet, por via de redes sociais, onde são comuns os enganos, e há uma apetência aos pseudo-factos por ausência de verificação especialista. Fez parte de notícias especulativas (ultimamente vindas da Rússia) um "parafuso com 300 milhões de anos", e o remeter para estes fósseis não afasta a suspeita de quem já acreditou. Trata-se de um jogo de fé com múltiplas vertentes. A confusão tanto serve a desconfiança generalizada, como servirá para a desconfiança perante futuros achados verdadeiros, fora do tempo convencional. 
Contra quem desconfia do registo do status quo oficial, este responde com uma desconfiança generalizada, onde se torna de novo a única referência. Algo semelhante passou-se com a "Revolução Francesa". O regime caiu pela desconfiança contra a sua competência, mas voltou a instalar-se após um período de caos, onde a desconfiança se generalizou, e deixou de haver referências de verdade.
Por isso, quem questiona os registos oficiais, deve salvaguardar que há registos falsos, ou enganadores, lançados até pelo próprio sistema, contra si, como forma de depois ganhar crédito. O sistema espera que injustificadas desconfianças lhe devolvam a confiança.

Outro exemplo que pode envolver confusão entre material fóssil facilmente identificável por um paleontólogo, mas sujeito a fácil confusão por um não especialista, é uma notícia de 2012 sobre eventuais peças fossilizadas de uma máquina, que apontariam para 400 milhões de anos
A notícia (que nos foi gentilmente comunicada por Paulo Cruz) mostra um amontoado de peças:
Registo fossilizado do que poderiam ser peças de uma máquina (ver notícia),
mas que será um amontoado fossilizado de vulgares crinóides.

Estas peças com um centro bem definido e a sugestão de rodas dentadas, tal como os "parafusos" anteriores, levam à sugestão de que se trata de maquinaria perdida. A combinação dos dois achados, pode ainda ser mais sugestiva. No entanto, podemos ver que este aspecto é comum num tipo de fósseis denominados "crinóides" ou ainda "contas índias". 
Concretamente o caso apresentado é de uma espécie de crinóide, denominada "Laudonomphalus regularis" (ver artigo na Acta Palaeontologica Polonica 51 (4), 2006, página 700 - figura 3 - crinóide da letra I), e uma parte da foto está na Wikipedia associada justamente a esse crinóide:
A foto identificada pela Wikipedia é a mesma (ver canto superior esquerdo da anterior) 
o registo diz que foi aí colocada em 2007, trata-se de uma foto tirada no 
Museu de História Natural de Lille (França)... e não um recente achado russo.

Já agora, uma página útil que me levou a concluir serem crinóides é a do Kentucky Geological Survey que permite uma identificação para classificação mais fácil dos fósseis por um amador.

Outro caso conhecido, mas em que o achado era real, e estranho... mereceu atenção durante os anos 1960, e tratou-se de um geode que foi visto como uma vela de ignição moderna, tendo ficado conhecido como o "Artefacto de Coso":
Artefacto de Coso. Uma separação do geode e um seu raio X.

Havendo diversas especulações, pode tratar-se de uma vela Champion, semelhante às de 1920, conforme é sustentado no artigo de que faço o link. Esse artigo conclui isso, e considera que houve uma rápida sedimentação, num espaço de 40 anos... e é esta a conclusão mais precipitada do artigo. É que o facto de ser semelhante a uma vela Champion de 1920, não significa que seja de 1920... Faltou considerar a hipótese de que as velas Champion não fossem uma invenção recente, mas uma mera reposição de invenção antiga.
Não dizemos que sim, é natural até que não... mas já apresentámos vários dados e achados que apontam para tecnologia antiga que foi retomada e registada como invenção recente.

Afinal, o processo de ocultação, que ocorre por "acasos passados" não deixa de fazer parte de um nexo que visou um futuro... mas que também foi visado por esse mesmo futuro. Um julgou que se iria cumprir, o outro irá cumprir-se sem qualquer dúvida.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:22

Contas antigas

23.10.13
A grande quantidade e variedade de fósseis é uma das principais razões para aceitar um nexo evolutivo num contexto terrestre, sem necessidade de elementos externos. 
Não se trata do nexo darwiniano em que o nada explica tudo... essa filosofia de casino atirou para os jogos de sorte e azar uma justificação infantil de tudo o que se passa e passou - a probabilidade de ocorrer tem bastado como justificação da ocorrência.
Por estranho que pareça, é mais simples e informativa a posição oposta - não somos fruto de um acaso, ao contrário, os "acasos" do passado servem o nexo da nossa existência.
De um lado temos aqueles que têm um nexo de causalidade parcial - as causas precedem os efeitos, o que é a visão tipicamente científica; do outro lado, temos aqueles que usam uma causalidade total - os efeitos servem em si mesmo de causas, o que é uma visão mais poética e religiosa.
Para uns, a humanidade é um acidente probabilístico, para os outros a humanidade é a causa desse acidente probabilístico. A insuficiência explicativa do acidente probabilístico é tão grande, tem tantas falhas explicativas, e erros epistemológicos, que só uma profunda insanidade teimosa insistirá na sua validade. Mas, percebe-se o porquê da insistência... porque a alternativa parece esbarrar num círculo vicioso de argumentação. Se nos cingirmos à ideia de que o futuro não existe, então o futuro não pode ser causa do presente. A ciência nega o futuro, porque apenas vê o presente como resultado do passado, e quando isso não foi argumento suficiente socorreu-se da "sorte e azar", o que é basicamente um desespero argumentativo. Os poetas usam uma causalidade diferente - a constatação do futuro servia a causalidade no passado. Por exemplo, constatado o engenho de Ulisses, então a causa era uma protecção passada, por via da deusa Atena. Constatada uma tormenta no mar, bastava invocar algo que poderia ter irritado Poseidon.

Esta perspectiva dos poetas antigos era uma perspectiva religiosa, que ainda hoje é muito usada. A sua originalidade era um inverter da lógica temporal, sendo praticamente inútil do ponto de vista da previsão, mas serviria sempre uma repetitiva argumentação estéril. 
Do ponto de vista da previsão, é óbvio que só a perspectiva científica é útil, porque o desconhecimento do futuro é uma realidade incontornável, e por isso só nos interessa a causalidade que se pode estabelecer do passado para o futuro, e nunca a outra. No entanto, isso não significa que essoutra não exista. Pelo contrário, são as insuficiências do passado como causa única do futuro que mostram a sua presença. Quando aceitamos igual probabilidade de ocorrer A ou B, só a constatação futura o esclarece... e de nada vale dizer que poderia ser B se afinal foi A que ocorreu. Dizer que foi por "sorte" que aconteceu A, é o mesmo que dizer o futuro ditou que fosse A a ocorrer. Assim, escondidos noutros conceitos, a ciência tem mascarados argumentos poéticos ou religiosos no seu discurso, simplesmente porque é inevitável considerar que o futuro existe, e tal como o passado, serve o nexo do presente.

O que é engraçado é que um cientista aceita bem "um nada", a que chama sorte, para os acasos que levaram ao aparecimento de vida, de animais, de homens, na Terra. Fá-lo por constatação do futuro, e por isso a concretização desse acaso aparece ligada ao futuro. No entanto, dificilmente aceita que esses acasos passados foram determinados pelo futuro. O cientista vê os acasos e o futuro ligados, mas por convicção fundamentalista aceita apenas a causalidade no sentido do passado para o futuro, e não do futuro para o passado. Não há nada racional que lhe permita fazer isso, é mera convicção filosófica ou religiosa, de quem se habituou à previsão e nega a interpretação da pós-visão. Ora, a interpretação da pós-visão mostra que sem os acasos que levaram ao aparecimento de inteligência, o universo nem teria existência, pela simples lacuna de observador que o constatasse. Por isso, o passado serve sempre para o nexo do aparecimento do observador inteligente, sob pena de sem ele nem haver consciência de existência no universo.

No meio da multitude de fósseis, que dão nexo a um passado que justifica o presente, encontramos alguns que são verdadeiramente surpreendentes. Alguns parecem parafusos:
Tentaculites (Era Devoniana, Ontário-Canadá) [foto daqui]

... e pode haver quem seja levado a pensar que se tratam mesmo de parafusos de alguma maquinaria antiga.
Esse tipo de argumentação e contra-argumentação tem sido difundido na internet, por via de redes sociais, onde são comuns os enganos, e há uma apetência aos pseudo-factos por ausência de verificação especialista. Fez parte de notícias especulativas (ultimamente vindas da Rússia) um "parafuso com 300 milhões de anos", e o remeter para estes fósseis não afasta a suspeita de quem já acreditou. Trata-se de um jogo de fé com múltiplas vertentes. A confusão tanto serve a desconfiança generalizada, como servirá para a desconfiança perante futuros achados verdadeiros, fora do tempo convencional. 
Contra quem desconfia do registo do status quo oficial, este responde com uma desconfiança generalizada, onde se torna de novo a única referência. Algo semelhante passou-se com a "Revolução Francesa". O regime caiu pela desconfiança contra a sua competência, mas voltou a instalar-se após um período de caos, onde a desconfiança se generalizou, e deixou de haver referências de verdade.
Por isso, quem questiona os registos oficiais, deve salvaguardar que há registos falsos, ou enganadores, lançados até pelo próprio sistema, contra si, como forma de depois ganhar crédito. O sistema espera que injustificadas desconfianças lhe devolvam a confiança.

Outro exemplo que pode envolver confusão entre material fóssil facilmente identificável por um paleontólogo, mas sujeito a fácil confusão por um não especialista, é uma notícia de 2012 sobre eventuais peças fossilizadas de uma máquina, que apontariam para 400 milhões de anos
A notícia (que nos foi gentilmente comunicada por Paulo Cruz) mostra um amontoado de peças:
Registo fossilizado do que poderiam ser peças de uma máquina (ver notícia),
mas que será um amontoado fossilizado de vulgares crinóides.

Estas peças com um centro bem definido e a sugestão de rodas dentadas, tal como os "parafusos" anteriores, levam à sugestão de que se trata de maquinaria perdida. A combinação dos dois achados, pode ainda ser mais sugestiva. No entanto, podemos ver que este aspecto é comum num tipo de fósseis denominados "crinóides" ou ainda "contas índias". 
Concretamente o caso apresentado é de uma espécie de crinóide, denominada "Laudonomphalus regularis" (ver artigo na Acta Palaeontologica Polonica 51 (4), 2006, página 700 - figura 3 - crinóide da letra I), e uma parte da foto está na Wikipedia associada justamente a esse crinóide:
A foto identificada pela Wikipedia é a mesma (ver canto superior esquerdo da anterior) 
o registo diz que foi aí colocada em 2007, trata-se de uma foto tirada no 
Museu de História Natural de Lille (França)... e não um recente achado russo.

Já agora, uma página útil que me levou a concluir serem crinóides é a do Kentucky Geological Survey que permite uma identificação para classificação mais fácil dos fósseis por um amador.

Outro caso conhecido, mas em que o achado era real, e estranho... mereceu atenção durante os anos 1960, e tratou-se de um geode que foi visto como uma vela de ignição moderna, tendo ficado conhecido como o "Artefacto de Coso":
Artefacto de Coso. Uma separação do geode e um seu raio X.

Havendo diversas especulações, pode tratar-se de uma vela Champion, semelhante às de 1920, conforme é sustentado no artigo de que faço o link. Esse artigo conclui isso, e considera que houve uma rápida sedimentação, num espaço de 40 anos... e é esta a conclusão mais precipitada do artigo. É que o facto de ser semelhante a uma vela Champion de 1920, não significa que seja de 1920... Faltou considerar a hipótese de que as velas Champion não fossem uma invenção recente, mas uma mera reposição de invenção antiga.
Não dizemos que sim, é natural até que não... mas já apresentámos vários dados e achados que apontam para tecnologia antiga que foi retomada e registada como invenção recente.

Afinal, o processo de ocultação, que ocorre por "acasos passados" não deixa de fazer parte de um nexo que visou um futuro... mas que também foi visado por esse mesmo futuro. Um julgou que se iria cumprir, o outro irá cumprir-se sem qualquer dúvida.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:22

Nave espiritual

20.10.13
É suposto a palavra "nave" derivar de "navis" do latim, que por sua vez sairia de um "naos" grego.
Em todos os casos tratam-se de embarcações para... navegar.
Se "navio" pode advir do latim e "nau" do grego, é de notar que a letra "v" apresentou duplicidades, não apenas na troca dos "b" pelos "v", mas também na troca de "v" por "u"... ou seja, o "navis" latino poderia pronunciar-se "nauis", da mesma forma que "Julius" seria escrito "IVLIVS". 
Esta duplicidade entre o "u" e o "v" não desapareceu com a invenção do "w" que também manteve a duplicidade de ser lido como "u", pela via inglesa, e como "v", pela via francesa e germânica.

Ao contrário dos ingleses não falamos de "navio espacial", e a designação "nave espacial" parece ser tipicamente das línguas ibéricas, porquanto a palavra "nave" solitariamente teria perdido o significado marítimo e seria mais aplicada na arquitectura de catedrais, falando-se habitualmente da sua "nave central".
 
Naves centrais do Mosteiro de Alcobaça e do Mosteiro da Batalha

A relação da nave marítima com a estrutura das catedrais é bem conhecida. Havia uma grande semelhança invertida entre o fundo dos navios e o tecto das catedrais. Os fiéis seriam assim convidados para uma embarcação que teria a sua quilha penetrante nos céus, tal como a quilha dos navios entraria nas águas... afinal também a parte espiritual sediada na cabeça estaria mais próxima dos céus do que os pés que conduziam o corpo.
É num mundo medieval, onde as navegações marítimas estavam praticamente proibidas que vamos encontrar alusões a outras naves, de carácter espiritual. Ao contrário de anfiteatros, o formato linear, sob o comprido, que passaria a ser característica típica das igrejas, não era o mais adequado para comunicar a uma plateia de fiéis. Envolvia uma direcção - as igrejas estavam normalmente viradas a Nascente, e o próprio sacerdote, virando costas aos fiéis, tomava posição semelhante na embarcação, primeiro na proa em direcção a esse renascimento figurado numa alvorada (após o controverso Concílio do Vaticano II, em 1962, estas tradições caem, diz-se que por influência maçónica na igreja).

Movendo-nos um pouco para outra parte do globo, para as Caves de Ellora, Índia, datadas do Séc. VII, encontramos uma estrutura de topo curiosamente semelhante... em que o tecto poderia bem representar o fundo de um navio:
Nave da Cave... Cave 10 (dita do Buda Carpinteiro)

De acordo com a Revista Panorama (número de 8 Julho 1837), já Diogo Couto dava conta da existência destas Grutas de Ellora, bem como da Ilha de Elefanta (ou Elefante) e da Ilha de Salsete. É interessante que a Ilha de Elefanta tenha feito parte do dote de Catarina de Bragança a Carlos II de Inglaterra, o que simbolicamente mostra já uma cedência do poder aos ingleses sobre a Índia. No entanto, creio que na Ilha de Elefanta, dedicada a Xiva não se apresenta este tipo de estrutura.

As estruturas dedicadas a Xiva envolviam mais construções de Pirâmides, como são os vários templos Tamil, como seja Chidambaram (partes atribuídas ao Séc. XIII):

ou os templos hindús de Annamalayiar (datados do Séc. XV):

ou ainda, do mais recente Templo de Meenakshi (datado do Séc. XVII):

bem como de vários outros (ver lista). Estes templos piramidais têm também uma linha de orientação definida, ao contrário do que acontece com as habituais pirâmides... mas não deixam de exibir características que remetem para conjuntos monumentais egípcios ou mexicanos. É mais difícil perceber aqui se havia algum significado religioso especial, mas a orientação não é constante, e o efeito de nave não estará presente nestes templos. 

Finalmente, sobre as construções com forma do fundo de barco, convém lembrar a menção que já fizemos às mapalias da Numídia, no relato do Rei Hiempsal II. Segundo esse relato, os persas que acompanharam Hércules na expedição que este fez à Hispânia, ficaram a habitar a costa africana, usando os cascos invertidos dos seus navios para fazerem casas. Esta tradição ter-se-ia mantido como forma de construção no Norte de África, no fabrico das mapalias (também chamadas magalias). 
Mapalias da Numídia - inversão dos cascos dos barcos dos companheiros persas de Hércules.


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:04

Nave espiritual

20.10.13
É suposto a palavra "nave" derivar de "navis" do latim, que por sua vez sairia de um "naos" grego.
Em todos os casos tratam-se de embarcações para... navegar.
Se "navio" pode advir do latim e "nau" do grego, é de notar que a letra "v" apresentou duplicidades, não apenas na troca dos "b" pelos "v", mas também na troca de "v" por "u"... ou seja, o "navis" latino poderia pronunciar-se "nauis", da mesma forma que "Julius" seria escrito "IVLIVS". 
Esta duplicidade entre o "u" e o "v" não desapareceu com a invenção do "w" que também manteve a duplicidade de ser lido como "u", pela via inglesa, e como "v", pela via francesa e germânica.

Ao contrário dos ingleses não falamos de "navio espacial", e a designação "nave espacial" parece ser tipicamente das línguas ibéricas, porquanto a palavra "nave" solitariamente teria perdido o significado marítimo e seria mais aplicada na arquitectura de catedrais, falando-se habitualmente da sua "nave central".
 
Naves centrais do Mosteiro de Alcobaça e do Mosteiro da Batalha

A relação da nave marítima com a estrutura das catedrais é bem conhecida. Havia uma grande semelhança invertida entre o fundo dos navios e o tecto das catedrais. Os fiéis seriam assim convidados para uma embarcação que teria a sua quilha penetrante nos céus, tal como a quilha dos navios entraria nas águas... afinal também a parte espiritual sediada na cabeça estaria mais próxima dos céus do que os pés que conduziam o corpo.
É num mundo medieval, onde as navegações marítimas estavam praticamente proibidas que vamos encontrar alusões a outras naves, de carácter espiritual. Ao contrário de anfiteatros, o formato linear, sob o comprido, que passaria a ser característica típica das igrejas, não era o mais adequado para comunicar a uma plateia de fiéis. Envolvia uma direcção - as igrejas estavam normalmente viradas a Nascente, e o próprio sacerdote, virando costas aos fiéis, tomava posição semelhante na embarcação, primeiro na proa em direcção a esse renascimento figurado numa alvorada (após o controverso Concílio do Vaticano II, em 1962, estas tradições caem, diz-se que por influência maçónica na igreja).

Movendo-nos um pouco para outra parte do globo, para as Caves de Ellora, Índia, datadas do Séc. VII, encontramos uma estrutura de topo curiosamente semelhante... em que o tecto poderia bem representar o fundo de um navio:
Nave da Cave... Cave 10 (dita do Buda Carpinteiro)

De acordo com a Revista Panorama (número de 8 Julho 1837), já Diogo Couto dava conta da existência destas Grutas de Ellora, bem como da Ilha de Elefanta (ou Elefante) e da Ilha de Salsete. É interessante que a Ilha de Elefanta tenha feito parte do dote de Catarina de Bragança a Carlos II de Inglaterra, o que simbolicamente mostra já uma cedência do poder aos ingleses sobre a Índia. No entanto, creio que na Ilha de Elefanta, dedicada a Xiva não se apresenta este tipo de estrutura.

As estruturas dedicadas a Xiva envolviam mais construções de Pirâmides, como são os vários templos Tamil, como seja Chidambaram (partes atribuídas ao Séc. XIII):

ou os templos hindús de Annamalayiar (datados do Séc. XV):

ou ainda, do mais recente Templo de Meenakshi (datado do Séc. XVII):

bem como de vários outros (ver lista). Estes templos piramidais têm também uma linha de orientação definida, ao contrário do que acontece com as habituais pirâmides... mas não deixam de exibir características que remetem para conjuntos monumentais egípcios ou mexicanos. É mais difícil perceber aqui se havia algum significado religioso especial, mas a orientação não é constante, e o efeito de nave não estará presente nestes templos. 

Finalmente, sobre as construções com forma do fundo de barco, convém lembrar a menção que já fizemos às mapalias da Numídia, no relato do Rei Hiempsal II. Segundo esse relato, os persas que acompanharam Hércules na expedição que este fez à Hispânia, ficaram a habitar a costa africana, usando os cascos invertidos dos seus navios para fazerem casas. Esta tradição ter-se-ia mantido como forma de construção no Norte de África, no fabrico das mapalias (também chamadas magalias). 
Mapalias da Numídia - inversão dos cascos dos barcos dos companheiros persas de Hércules.


Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 06:04

Banho maria

17.10.13
A minha falta de cultura hermética nacional revela-se em pequenos detalhes, como o simples "usar sem pensar" de algumas expressões que nos foram legadas.
Uma delas estava em banho-maria.
É claro que é uma expressão conhecida desde criança, no que diz respeito a aquecer coisas... porém faltou a curiosidade de perguntar - quem era a Maria?
Como esta há tantas outras... e simplesmente não inspeccionamos a língua que herdámos.
Muitos podem considerar que é uma invocação da figura temperada de Santa Maria, e isso levaria a um texto mais indicado para o 13 de Outubro, e não para hoje.

Maria, a judia.
Maria, a judia, alquimista do Séc. III a.C.

Do que pude apurar, a expressão refere-se a uma percursora do alquimismo - Maria, a judia, também dita Maria, a profetisa, ou a copta.
Sendo uma figura semi-mítica, aparece em dois contextos diferentes. Ou como Miriam, irmã de Moisés, ou como discípula copta de um hermetismo de Hermes Trimegisto, onde é referida como tendo influência em Demócrito (o que a remeteria para o Séc. V a.C.), ou ainda vivendo já no período romano, sendo citada por Zosimo de Panopolis, numa panóplia de atribuições alquimistas. Para o gnóstico Zósimo os anjos caídos teriam ensinado às mulheres a arte da metalurgia, e o conhecimento fundamental estaria guardado pelos egípcios e hebreus, ou seja, passando a tempos modernos, é legado da maçonaria e judiaria.

Isto é praticamente irrelevante face aquilo a que se chama o Axioma de Maria, e que foi relacionado com a filosofia alquimista dos quatro elementos (terra, água, ar, fogo):
Um passa a Dois, Dois passa a Três, e pelo Terceiro aparece o Um como Quarto.

Esta aritmética hermética é praticamente a mesma que encontramos no taoísmo, em Laozi, conforme referi num texto anteriorO Caminho faz nascer a Unidade, a Unidade faz nascer a Dualidade, a Dualidade faz nascer a Trindade, e a Trindade faz nascer uma miríade de criaturas.

Nesse texto anterior (Arquitecturas-5) procurei dar um nexo a estas afirmações que parecem gratuitas, mas podem ter um substrato racional, se bem entendidas... algo que não está presente, mesmo hermeticamente, nas frases transmitidas. Não é o "um" que passa a "dois", nem é a "unidade" que gera a "dualidade", etc...
Para dar nexo racional, pode observar-se o boneco que coloquei no Odemaia:
... em que a construção é um simples enquadrar do desenhado anteriormente. 
Outra explicação pode ser vista como uma charada - "escreva numa frase tudo o que foi escrito":
0 - nada
1 - foi escrito "nada"
2 - foi escrito "nada" e ainda "foi escrito "nada""
3 - foi escrito "nada" e ainda "foi escrito "nada"" e ainda "foi escrito "nada" e ainda "foi escrito "nada""" 
etc...

O que parece uma brincadeira infantil é intrinsecamente mais que isso, pois evidencia uma inevitabilidade de uma geração, qualquer que seja o ponto de partida... mesmo que se comece do "nada".

Ver nisto uma brincadeira é infantil. Os antigos filósofos sabiam bem disso, pois prezavam a profundidade da simplicidade complexa. É nesse sentido que nos aparecem as frases herméticas, como o Axioma de Maria, ou o Caminho de Laozi.

A inexistência implicaria uma existência da inexistência, e o processo não pára.
É indiferente de onde se parte. Podemos chegar ao terceiro ponto e dizer que tudo aquilo é nada... mas voltar ao zero não nos deixa de remeter aos pontos seguintes. A tentativa de redução, de anulação, não resolve nada.
Quando dizemos "nada" podemos dizer "qualquer coisa", ou até "tudo"... o processo está lá e não pára, mesmo com tudo. Afinal, o tudo não tem fim, não é estático.
Numa visão estática isto parece contraditório, e baralhou filósofos e lógicos, como Russell, no início do Séc. XX... e é ainda hoje ensinado como paradoxo. Mas não há nenhum paradoxo... simplesmente não faz sentido querer parar o processo para o analisar. É tão ridículo quanto os propalados milhões gastos na investigação para descobrir o funcionamento profundo do cérebro humano. O ridículo é que um cérebro pode entender outro cérebro, mas não o próprio... a análise a qualquer momento seria desactualizada, pois não incluiria o novo conhecimento entretanto analisado.
Até uma criança percebe isto, mas mesmo assim o assunto colecta dinheiro e propaganda pseudo-científica, para disfarçar as insuficiências epistemológicas da ciência moderna.

Isto não significa que não haja matéria para o conhecimento profundo. Há. Simplesmente não envolve bisturis, envolve apenas pensar seriamente, sem os preconceitos induzidos pela modernidade.
O método experimental serve a experiência, e pouco serve à descoberta. A experimentação revela mais novos mundos por descobrir do que serve para a descoberta do inicial. E o ponto crucial é que todos os mundos são mundos, diferentes nuns aspectos, iguais noutros. E quando se trata do geral, olhar para as particularidades das diferenças é mera distracção.
À descoberta filosófica basta a simples observação e reflexão... o velho método aristotélico. Não foi esse o caminho seguido pelos alquimistas, que forçaram a experimentação aos limites, interessando-se pelo detalhe, pelo particular. Não se compreende melhor a água sabendo que é H2O, porque isso não responde em nada aos porquês. Por que razão a soma dos números atómicos da água é 1+1+8=10? Tudo isso serve apenas para levantar novas questões, esquecendo as fundamentais.

O Axioma de Maria, ou o Caminho de Laozi, têm uma tradução filosófica simples, própria dos gnósticos. 
A unidade começa por ser a consciência do eu, só que essa consciência do eu está para além do eu que observa, revela um não-eu, levando à dualidade entre o "eu" e o "não-eu". A unidade que se vê a si própria separa-se no observador e observado - o um gera o dois. Porém, "ver os dois" é uma terceira identidade, mas não deixa de ser ainda o observador, o eu inicial, o um. Ou seja, quem tem a consciência do "eu e não-eu" é o próprio eu, e a trindade fecha-se. O terceiro é o primeiro.
Na perspectiva mais abstracta não há qualquer necessidade de quarto ou quinto elemento... 
A sequência que leva ao quarto segundo Maria, ou a sequência de Laozi que leva à miríade natural, é já uma crença facultativa.
E isto é mais complicado de escrever, porque não se vê escrito em parte alguma... mas encarar o não-eu como uma entidade múltipla é uma mera opção do observador. O eu prefere encarar o mundo numa multiplicidade, em que o não-eu são muitas coisas e não uma só, uma única entidade que lhe é dual. Pior, isso é válido para o eu e para o não-eu... ou seja, o eu, que se vê como unitário, aparece ao não-eu como múltiplo. Esta dança a dois, com o seu carácter abstracto, aplica-se a tudo. Se o "eu" se vê pequeno e impotente perante um ameaçador "não-eu", que inclui os outros e toda a natureza restante, convém lembrar que o "eu" é o "não-eu" desse outro imenso. As dimensões equivalem-se pela complementaridade, tudo o que falha a um está no outro. Algo completamente diferente é a consciência do eu presente, já que essa complementaridade vai para além desse tempo. A nossa história não é feita a um tempo só, foi feita a dois tempos... o que já se cumpriu em potência, e o que se cumpre, que é uma revisitação em consciência.

Em suma, ambas as afirmações, de Maria ou Laozi, fazem sentido dentro de um hermetismo, mas é preciso entendê-las racionalmente.
Agora, é de facto um pouco estranho saber destas coisas em "banho-maria".

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 02:48

Banho maria

17.10.13
A minha falta de cultura hermética nacional revela-se em pequenos detalhes, como o simples "usar sem pensar" de algumas expressões que nos foram legadas.
Uma delas estava em banho-maria.
É claro que é uma expressão conhecida desde criança, no que diz respeito a aquecer coisas... porém faltou a curiosidade de perguntar - quem era a Maria?
Como esta há tantas outras... e simplesmente não inspeccionamos a língua que herdámos.
Muitos podem considerar que é uma invocação da figura temperada de Santa Maria, e isso levaria a um texto mais indicado para o 13 de Outubro, e não para hoje.

Maria, a judia.
Maria, a judia, alquimista do Séc. III a.C.

Do que pude apurar, a expressão refere-se a uma percursora do alquimismo - Maria, a judia, também dita Maria, a profetisa, ou a copta.
Sendo uma figura semi-mítica, aparece em dois contextos diferentes. Ou como Miriam, irmã de Moisés, ou como discípula copta de um hermetismo de Hermes Trimegisto, onde é referida como tendo influência em Demócrito (o que a remeteria para o Séc. V a.C.), ou ainda vivendo já no período romano, sendo citada por Zosimo de Panopolis, numa panóplia de atribuições alquimistas. Para o gnóstico Zósimo os anjos caídos teriam ensinado às mulheres a arte da metalurgia, e o conhecimento fundamental estaria guardado pelos egípcios e hebreus, ou seja, passando a tempos modernos, é legado da maçonaria e judiaria.

Isto é praticamente irrelevante face aquilo a que se chama o Axioma de Maria, e que foi relacionado com a filosofia alquimista dos quatro elementos (terra, água, ar, fogo):
Um passa a Dois, Dois passa a Três, e pelo Terceiro aparece o Um como Quarto.

Esta aritmética hermética é praticamente a mesma que encontramos no taoísmo, em Laozi, conforme referi num texto anteriorO Caminho faz nascer a Unidade, a Unidade faz nascer a Dualidade, a Dualidade faz nascer a Trindade, e a Trindade faz nascer uma miríade de criaturas.

Nesse texto anterior (Arquitecturas-5) procurei dar um nexo a estas afirmações que parecem gratuitas, mas podem ter um substrato racional, se bem entendidas... algo que não está presente, mesmo hermeticamente, nas frases transmitidas. Não é o "um" que passa a "dois", nem é a "unidade" que gera a "dualidade", etc...
Para dar nexo racional, pode observar-se o boneco que coloquei no Odemaia:
... em que a construção é um simples enquadrar do desenhado anteriormente. 
Outra explicação pode ser vista como uma charada - "escreva numa frase tudo o que foi escrito":
0 - nada
1 - foi escrito "nada"
2 - foi escrito "nada" e ainda "foi escrito "nada""
3 - foi escrito "nada" e ainda "foi escrito "nada"" e ainda "foi escrito "nada" e ainda "foi escrito "nada""" 
etc...

O que parece uma brincadeira infantil é intrinsecamente mais que isso, pois evidencia uma inevitabilidade de uma geração, qualquer que seja o ponto de partida... mesmo que se comece do "nada".

Ver nisto uma brincadeira é infantil. Os antigos filósofos sabiam bem disso, pois prezavam a profundidade da simplicidade complexa. É nesse sentido que nos aparecem as frases herméticas, como o Axioma de Maria, ou o Caminho de Laozi.

A inexistência implicaria uma existência da inexistência, e o processo não pára.
É indiferente de onde se parte. Podemos chegar ao terceiro ponto e dizer que tudo aquilo é nada... mas voltar ao zero não nos deixa de remeter aos pontos seguintes. A tentativa de redução, de anulação, não resolve nada.
Quando dizemos "nada" podemos dizer "qualquer coisa", ou até "tudo"... o processo está lá e não pára, mesmo com tudo. Afinal, o tudo não tem fim, não é estático.
Numa visão estática isto parece contraditório, e baralhou filósofos e lógicos, como Russell, no início do Séc. XX... e é ainda hoje ensinado como paradoxo. Mas não há nenhum paradoxo... simplesmente não faz sentido querer parar o processo para o analisar. É tão ridículo quanto os propalados milhões gastos na investigação para descobrir o funcionamento profundo do cérebro humano. O ridículo é que um cérebro pode entender outro cérebro, mas não o próprio... a análise a qualquer momento seria desactualizada, pois não incluiria o novo conhecimento entretanto analisado.
Até uma criança percebe isto, mas mesmo assim o assunto colecta dinheiro e propaganda pseudo-científica, para disfarçar as insuficiências epistemológicas da ciência moderna.

Isto não significa que não haja matéria para o conhecimento profundo. Há. Simplesmente não envolve bisturis, envolve apenas pensar seriamente, sem os preconceitos induzidos pela modernidade.
O método experimental serve a experiência, e pouco serve à descoberta. A experimentação revela mais novos mundos por descobrir do que serve para a descoberta do inicial. E o ponto crucial é que todos os mundos são mundos, diferentes nuns aspectos, iguais noutros. E quando se trata do geral, olhar para as particularidades das diferenças é mera distracção.
À descoberta filosófica basta a simples observação e reflexão... o velho método aristotélico. Não foi esse o caminho seguido pelos alquimistas, que forçaram a experimentação aos limites, interessando-se pelo detalhe, pelo particular. Não se compreende melhor a água sabendo que é H2O, porque isso não responde em nada aos porquês. Por que razão a soma dos números atómicos da água é 1+1+8=10? Tudo isso serve apenas para levantar novas questões, esquecendo as fundamentais.

O Axioma de Maria, ou o Caminho de Laozi, têm uma tradução filosófica simples, própria dos gnósticos. 
A unidade começa por ser a consciência do eu, só que essa consciência do eu está para além do eu que observa, revela um não-eu, levando à dualidade entre o "eu" e o "não-eu". A unidade que se vê a si própria separa-se no observador e observado - o um gera o dois. Porém, "ver os dois" é uma terceira identidade, mas não deixa de ser ainda o observador, o eu inicial, o um. Ou seja, quem tem a consciência do "eu e não-eu" é o próprio eu, e a trindade fecha-se. O terceiro é o primeiro.
Na perspectiva mais abstracta não há qualquer necessidade de quarto ou quinto elemento... 
A sequência que leva ao quarto segundo Maria, ou a sequência de Laozi que leva à miríade natural, é já uma crença facultativa.
E isto é mais complicado de escrever, porque não se vê escrito em parte alguma... mas encarar o não-eu como uma entidade múltipla é uma mera opção do observador. O eu prefere encarar o mundo numa multiplicidade, em que o não-eu são muitas coisas e não uma só, uma única entidade que lhe é dual. Pior, isso é válido para o eu e para o não-eu... ou seja, o eu, que se vê como unitário, aparece ao não-eu como múltiplo. Esta dança a dois, com o seu carácter abstracto, aplica-se a tudo. Se o "eu" se vê pequeno e impotente perante um ameaçador "não-eu", que inclui os outros e toda a natureza restante, convém lembrar que o "eu" é o "não-eu" desse outro imenso. As dimensões equivalem-se pela complementaridade, tudo o que falha a um está no outro. Algo completamente diferente é a consciência do eu presente, já que essa complementaridade vai para além desse tempo. A nossa história não é feita a um tempo só, foi feita a dois tempos... o que já se cumpriu em potência, e o que se cumpre, que é uma revisitação em consciência.

Em suma, ambas as afirmações, de Maria ou Laozi, fazem sentido dentro de um hermetismo, mas é preciso entendê-las racionalmente.
Agora, é de facto um pouco estranho saber destas coisas em "banho-maria".

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 02:48

"Mistério" é uma palavra açoriana associada a formações de lava, que incluem os "biscoitos".

Embora os mistérios sejam formações de lava de vária ordem, num inventário do Concelho de S. Roque, na ilha do Pico, encontrámos de novo os carris, ou valetas sobre a lava:




CAMINHO ANTIGO - SANTANA AO LAJIDO

-----------------------------
SANTO ANTÓNIO • AO LONGO DA COSTA, SANTANA, CABRITO, ARCOS E LAJIDO
PAISAGEM PROTEGIDA DE INTERESSE REGIONAL (Decreto Legislativo Regional nº12/96/A, de 27 de Junho)
ÉPOCA DE CONSTRUÇÃO INICIAL: SÉC.XV/SÉC.XVII
DESCRIÇÃO: Antiga via de comunicação que, junto à costa, ligava a Vila da Madalena e outras localidades deste concelho ao Lajido (Santa Luzia), Arcos (Santa Luzia), Cabrito (Santa Luzia) e Santana (Santo António), onde terminava.
Em alguns locais existem vestígios de calçada, enquanto noutros está à vista a utilização de lajes de pedra. Ainda em outros locais desta via, onde a estrada actual não os cobriu, são visíveis trilhos vincados nas lajes, alguns com considerável profundidade (Lajido), resultantes da passagem intensa de carros de bois.
Ao longo desta via, em alguns pontos, existem ainda os muros, em alvenaria de pedra, que a ladeavam.
--------------------------------------------------------

Lava que lava
A lava que lava é algo que parece ter tido significado literal, já que ainda em S. Roque são visíveis os tanques esculpidos em basalto:
São Roque - tanques de lava...

Por toda parte nos Açores se celebra o culto do Espírito Santo.
As ilhas que serviam de base para a exploração atlântica foram armazém dos mistérios que já tinham, antes da colonização oficial portuguesa, e que continuaram a alimentar em secretismo nos séculos seguintes, do XV ao XVII. 

O meu conhecimento do hermetismo nacional é quase nulo.
Num dos blogs que mais se esforça por divulgar as múltiplas facetas desse hermetismo literário:

podemos encontrar dois excertos de uma obra de Paulo Loução: A Alma Secreta de Portugal, que tem entrevistas com José Manuel Anes (Grão Mestre da Grande Loja Regular de Portugal) e António Cândido Franco, que referem justamente esse antigo culto do Espírito Santo:
Esculpidos na entrelinhas de uma literatura surgem assim detalhes que nos levam aos mistérios da entidade nacional... como se o legado greco-romano invocasse um outro legado. Como é referido nesses excertos, um ponto que parece fundamental é a característica desse legado ter sido transportado na essência pela tradição popular, já que na tradição erudita tudo aparece mais confuso pela exigida ligação clássica ao legado greco-romano.

No texto Quinotauro de Chauvet, falámos da representação do mito do Minotauro que parecia ser sugerido numa gravura rupestre da Gruta de Chauvet. No entanto, pudemos depois ver que a imagem era parcial, e haveria uma continuação que levava a um desenho de uma leoa (consorte de um rei leão ou rei Minos?)...
A leoa e o mito do Minotauro na Gruta de Chauvet.

Portanto, até pela própria mistura de desenhos, que já ocorria nas antigas pinturas, o legado ficou sobreposto, deixado a uma confusão cuja intenção, ou se perdeu na noite dos tempos, ou ficou guardada sigilosamente em organizações ancestrais. Porém, à distância de milénios todo o legado pouco mais é que uma crença de continuidade. É fácil em poucas gerações iludir ligações milenares, a ponto de que as confirmações pouco mais sejam do que um reforçado querer acreditar. 

Quando vemos os cavalos nas imagens de Chauvet, podemos também descobrir outros desenhos, fazendo notar um retoque, uma sobreposição conveniente, adaptada a novo desenho:
Será que os cavalos foram imagem original, ou foram mera alteração de desenhos anteriores, que representavam cervos? (note-se a presença dos chifres) 
Coloco aqui um excerto de um comentário de José Manuel, que faz notar a melhor qualidade de desenho existente em tempos remotos, e que parece até sugerir uma capacidade fotográfica de grande resolução. De acordo com um artigo em LaPresse.ca
LES HOMMES DES CAVERNES DESSINAIENT MIEUX
Les hommes des cavernes dessinaient mieux que les artistes modernes selon une étude publiée dans une revue scientifique américaine.

Les chercheurs ont notamment observé les dessins des grottes de Lascaux.
Les hommes des cavernes dessinaient mieux la démarche des animaux que les artistes modernes, selon des comparaisons effectuées par des chercheurs dont les résultats sont publiés mercredi dans une revue scientifique américaine.
La plupart des quadrupèdes ont une séquence similaire dans le déplacement de leurs pattes, qu'ils marchent, trottent ou courent.
Ces mouvements ont été étudiés scientifiquement à partir du début des années 1880 par Eadweard Muybridge, un photographe britannique célèbre pour ses décompositions photographiques du mouvement dont se sont ensuite inspirés de nombreux artistes.
Les auteurs de cette recherche ont examiné les peintures préhistoriques de boeufs et d'éléphants dans plusieurs grottes comme celle de Lascaux en France ainsi que des tableaux et des statues modernes représentant aussi des quadrupèdes en mouvement.
Ils ont évalué l'exactitude de la reproduction du mouvement dans ces peintures et sculptures par rapport aux observations scientifiques des démarches de ces animaux.
Taux d'erreur plus faible
Ils ont découvert que souvent les animaux représentés marchant ou trottant avaient leurs pattes dans des positions erronées.
Les peintures préhistoriques, elles, avaient un taux d'erreur nettement plus faible (46,2%) que les oeuvres modernes (83,5%) datant d'avant 1887, année à laquelle remontent les travaux de Muybridge. Ce taux d'erreur est tombé après cette date à 57,9%.
Cette étude effectuée par Gabor Horvath de l'Université Eotvos à Budapest en Hongrie, paraît dans la revue scientifique américaine PLOS ONE datée du 5 décembre.
Acresce que na Gruta de Chauvet vemos mesmo uma sequência de desenhos, que parece pretender dar a ideia de movimento, como é o caso de uma sobreposição de imagens de rinoceronte:

Porém, a questão principal não é colocada sobre as imagens que existem...
... a questão principal é colocada sobre as imagens que desapareceram!

O aparecimento de pinturas, que foi recuperado em grutas perdidas, inacessíveis por milénios, deixa como questão principal o destino que tiveram todas as outras pinturas, que certamente haveria em muitas outras cavernas acessíveis.
O que se passou com essas pinturas?
Houve uma lava, uma lavagem de paredes?
Foram aqueles registos passados vistos como "graffitis" incómodos por gregos e romanos?

Na Índia, Ajanta junta uma série de pinturas, que podem sugerir uma sobreposição sucessiva:

... portanto aqui a questão não foi uma "lava" de lavagem, mas sim uma provável "lavagem" com sobreposição sucessiva de novas pinturas. O registo das várias cavernas de Ajanta indica pinturas que vão desde o Séc. II a.C. ao Séc. VII d.C., num período de quase mil anos, em que o local serviu de registo icónico.

No entanto, será que podemos reduzir o registo de cavernas indiano a esse período "recente"?
Já vimos que não... falámos sobre Bhimbetka, mas há ainda outros registos, que eram conhecidos no início do Séc. XX e que parece que desapareceram de menção recente.

Um caso notável seriam as pinturas de Singanpur, que se encontram mencionadas num livro de 1927:
Cena de caça em Gruta de Singanpur

Hoje parece dificil reencontrar os lugares mencionados por Panchanan Mitra há um século atrás... as cavernas parecem ter voltado a ficar esquecidas, o caso de Singanpur é apenas um dos exemplos aí referido. 
Portanto, a lava continua a escorrer de um vulcão de esquecimento programado.

A questão muito simples, mas tortuosa é a seguinte:
- O que sabe a geração seguinte se a geração anterior se empenhar na ocultação?
- Que língua falariam os filhos se os pais se recusassem a ensiná-los a falar?

Os filhos a quem os pais decidissem "não ensinar a falar" seriam assumidamente condenados a um "estatuto quase animalesco"... e que pais seriam capazes de tal discriminação?
Pois bem, foi quase a esse nível que as coisas foram colocadas pela nossa herança humana... onde a escolha dos eleitos para a herança, condenaria os restantes a um nível bastante inferior de desenvolvimento, numa perspectiva que chegou a ver esses excluídos como "animais" destinados ao serviço dos restantes.

Pois bem, essa atitude tem um reverso complicado... pois o desenvolvimento é uma questão subtil.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 21:56

"Mistério" é uma palavra açoriana associada a formações de lava, que incluem os "biscoitos".

Embora os mistérios sejam formações de lava de vária ordem, num inventário do Concelho de S. Roque, na ilha do Pico, encontrámos de novo os carris, ou valetas sobre a lava:

  
CAMINHO ANTIGO - SANTANA AO LAJIDO
-----------------------------
SANTO ANTÓNIO • AO LONGO DA COSTA, SANTANA, CABRITO, ARCOS E LAJIDO
PAISAGEM PROTEGIDA DE INTERESSE REGIONAL (Decreto Legislativo Regional nº12/96/A, de 27 de Junho)
ÉPOCA DE CONSTRUÇÃO INICIAL: SÉC.XV/SÉC.XVII
DESCRIÇÃO: Antiga via de comunicação que, junto à costa, ligava a Vila da Madalena e outras localidades deste concelho ao Lajido (Santa Luzia), Arcos (Santa Luzia), Cabrito (Santa Luzia) e Santana (Santo António), onde terminava.
Em alguns locais existem vestígios de calçada, enquanto noutros está à vista a utilização de lajes de pedra. Ainda em outros locais desta via, onde a estrada actual não os cobriu, são visíveis trilhos vincados nas lajes, alguns com considerável profundidade (Lajido), resultantes da passagem intensa de carros de bois.
Ao longo desta via, em alguns pontos, existem ainda os muros, em alvenaria de pedra, que a ladeavam.
--------------------------------------------------------

Lava que lava
A lava que lava é algo que parece ter tido significado literal, já que ainda em S. Roque são visíveis os tanques esculpidos em basalto:
São Roque - tanques de lava...

Por toda parte nos Açores se celebra o culto do Espírito Santo.
As ilhas que serviam de base para a exploração atlântica foram armazém dos mistérios que já tinham, antes da colonização oficial portuguesa, e que continuaram a alimentar em secretismo nos séculos seguintes, do XV ao XVII. 

O meu conhecimento do hermetismo nacional é quase nulo.
Num dos blogs que mais se esforça por divulgar as múltiplas facetas desse hermetismo literário:

podemos encontrar dois excertos de uma obra de Paulo Loução: A Alma Secreta de Portugal, que tem entrevistas com José Manuel Anes (Grão Mestre da Grande Loja Regular de Portugal) e António Cândido Franco, que referem justamente esse antigo culto do Espírito Santo:
Esculpidos na entrelinhas de uma literatura surgem assim detalhes que nos levam aos mistérios da entidade nacional... como se o legado greco-romano invocasse um outro legado. Como é referido nesses excertos, um ponto que parece fundamental é a característica desse legado ter sido transportado na essência pela tradição popular, já que na tradição erudita tudo aparece mais confuso pela exigida ligação clássica ao legado greco-romano.

No texto Quinotauro de Chauvet, falámos da representação do mito do Minotauro que parecia ser sugerido numa gravura rupestre da Gruta de Chauvet. No entanto, pudemos depois ver que a imagem era parcial, e haveria uma continuação que levava a um desenho de uma leoa (consorte de um rei leão ou rei Minos?)...
A leoa e o mito do Minotauro na Gruta de Chauvet.

Portanto, até pela própria mistura de desenhos, que já ocorria nas antigas pinturas, o legado ficou sobreposto, deixado a uma confusão cuja intenção, ou se perdeu na noite dos tempos, ou ficou guardada sigilosamente em organizações ancestrais. Porém, à distância de milénios todo o legado pouco mais é que uma crença de continuidade. É fácil em poucas gerações iludir ligações milenares, a ponto de que as confirmações pouco mais sejam do que um reforçado querer acreditar. 

Quando vemos os cavalos nas imagens de Chauvet, podemos também descobrir outros desenhos, fazendo notar um retoque, uma sobreposição conveniente, adaptada a novo desenho:
Será que os cavalos foram imagem original, ou foram mera alteração de desenhos anteriores, que representavam cervos? (note-se a presença dos chifres) 
Coloco aqui um excerto de um comentário de José Manuel, que faz notar a melhor qualidade de desenho existente em tempos remotos, e que parece até sugerir uma capacidade fotográfica de grande resolução. De acordo com um artigo em LaPresse.ca
LES HOMMES DES CAVERNES DESSINAIENT MIEUX
Les hommes des cavernes dessinaient mieux que les artistes modernes selon une étude publiée dans une revue scientifique américaine.
Les chercheurs ont notamment observé les dessins des grottes de Lascaux.
Les hommes des cavernes dessinaient mieux la démarche des animaux que les artistes modernes, selon des comparaisons effectuées par des chercheurs dont les résultats sont publiés mercredi dans une revue scientifique américaine.
La plupart des quadrupèdes ont une séquence similaire dans le déplacement de leurs pattes, qu'ils marchent, trottent ou courent.
Ces mouvements ont été étudiés scientifiquement à partir du début des années 1880 par Eadweard Muybridge, un photographe britannique célèbre pour ses décompositions photographiques du mouvement dont se sont ensuite inspirés de nombreux artistes.
Les auteurs de cette recherche ont examiné les peintures préhistoriques de boeufs et d'éléphants dans plusieurs grottes comme celle de Lascaux en France ainsi que des tableaux et des statues modernes représentant aussi des quadrupèdes en mouvement.
Ils ont évalué l'exactitude de la reproduction du mouvement dans ces peintures et sculptures par rapport aux observations scientifiques des démarches de ces animaux.
Taux d'erreur plus faible
Ils ont découvert que souvent les animaux représentés marchant ou trottant avaient leurs pattes dans des positions erronées.
Les peintures préhistoriques, elles, avaient un taux d'erreur nettement plus faible (46,2%) que les oeuvres modernes (83,5%) datant d'avant 1887, année à laquelle remontent les travaux de Muybridge. Ce taux d'erreur est tombé après cette date à 57,9%.
Cette étude effectuée par Gabor Horvath de l'Université Eotvos à Budapest en Hongrie, paraît dans la revue scientifique américaine PLOS ONE datée du 5 décembre.
Acresce que na Gruta de Chauvet vemos mesmo uma sequência de desenhos, que parece pretender dar a ideia de movimento, como é o caso de uma sobreposição de imagens de rinoceronte:

Porém, a questão principal não é colocada sobre as imagens que existem...
... a questão principal é colocada sobre as imagens que desapareceram!

O aparecimento de pinturas, que foi recuperado em grutas perdidas, inacessíveis por milénios, deixa como questão principal o destino que tiveram todas as outras pinturas, que certamente haveria em muitas outras cavernas acessíveis.
O que se passou com essas pinturas?
Houve uma lava, uma lavagem de paredes?
Foram aqueles registos passados vistos como "graffitis" incómodos por gregos e romanos?

Na Índia, Ajanta junta uma série de pinturas, que podem sugerir uma sobreposição sucessiva:

... portanto aqui a questão não foi uma "lava" de lavagem, mas sim uma provável "lavagem" com sobreposição sucessiva de novas pinturas. O registo das várias cavernas de Ajanta indica pinturas que vão desde o Séc. II a.C. ao Séc. VII d.C., num período de quase mil anos, em que o local serviu de registo icónico.

No entanto, será que podemos reduzir o registo de cavernas indiano a esse período "recente"?
Já vimos que não... falámos sobre Bhimbetka, mas há ainda outros registos, que eram conhecidos no início do Séc. XX e que parece que desapareceram de menção recente.

Um caso notável seriam as pinturas de Singanpur, que se encontram mencionadas num livro de 1927:
Cena de caça em Gruta de Singanpur

Hoje parece dificil reencontrar os lugares mencionados por Panchanan Mitra há um século atrás... as cavernas parecem ter voltado a ficar esquecidas, o caso de Singanpur é apenas um dos exemplos aí referido. 
Portanto, a lava continua a escorrer de um vulcão de esquecimento programado.

A questão muito simples, mas tortuosa é a seguinte:
- O que sabe a geração seguinte se a geração anterior se empenhar na ocultação?
- Que língua falariam os filhos se os pais se recusassem a ensiná-los a falar?

Os filhos a quem os pais decidissem "não ensinar a falar" seriam assumidamente condenados a um "estatuto quase animalesco"... e que pais seriam capazes de tal discriminação?
Pois bem, foi quase a esse nível que as coisas foram colocadas pela nossa herança humana... onde a escolha dos eleitos para a herança, condenaria os restantes a um nível bastante inferior de desenvolvimento, numa perspectiva que chegou a ver esses excluídos como "animais" destinados ao serviço dos restantes.

Pois bem, essa atitude tem um reverso complicado... pois o desenvolvimento é uma questão subtil.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 21:56

Muito oportunamente recebemos hoje um comentário de Olinda Gil sobre a descoberta de um banco com formato piramidal por um velejador açoriano, Diocleciano Silva, em mais uma reportagem da RTP Açores.

Com base nesse comentário, no blog Portugalliae (de J.M. Oliveira) está já uma compilação que relaciona com outras descobertas subaquáticas na zona dos Açores:
http://portugalliae.blogspot.pt/2013/09/teoria-da-atlantida-no-arquipelago-dos.html

Este é mais um achado, que se junta a outros que têm vindo a merecer atenção sobre os Açores (já aqui falámos das Pirâmides da ilha do Pico, da Grota do Medo, dos hipogeus na Terceira e Corvo, etc., não esquecendo também a estranha formação submarina ao largo da Madeira... agora disfarçada no Google Maps)

Apenas aproveito para complementar com alguma outra informação relacionada.
Começamos por uma informação batimétrica dessa zona, entre a Terceira e São Miguel, onde é muito bem conhecido o Banco de D. João de Castro.
Imagem batimétrica, onde se vê o Banco D. João de Castro (info daqui
e assinalamos com uma seta o outro banco que pode ser a formação pirâmidal mencionada.

A seta preta assinala uma proeminência que se destaca, que parece ter uma forma piramidal pronunciada, e que é a única tão próxima da superfície do mar, sem ser o conhecido Banco de D. João de Castro. Aliás as montanhas submarinas dos Açores têm sido alvo de exploração recente, como mostra o vídeo da Univ. dos Açores:
Vídeo da Univ. Açores sobre montanhas submarinas açorianas.

Portanto, é claro que o velejador Diocleciano Silva não será o primeiro a deparar-se com a estrutura, que será bem conhecida de todos os que realizaram estudos batimétricos na zona da fossa planalto Hirondelle (... andorinha, era o nome do barco do princípe Alberto I do Mónaco).
A página de onde retirei a figura batimétrica é sobre uma outra formação, chamada o Banco do Mónaco, mais a sul, sudoeste de S. Miguel. Trata-se de um vulcão submarino, e é curiosa a menção feita na página de vulcanologia:
The volcano is unusual for a European volcano as it has never been studied.

Os Açores têm destas coisas... há coisas que nunca foram estudadas.
Por isso são naturais as tentativas de descobrir - ou seja de retirar do encobrir, já que Portugal é feito da matéria do Encoberto.

É claro que a questão do velejador seria prontamente resolvida se houvesse informação disponível, mas assim fica encoberta por toda a ausência de informação divulgada. Estes "achados" são assim falados por uns tempos, correm o facebook por um par de dias, e depois aguarda-se que entrem naturalmente no esquecimento.
Como a população tem uma curiosidade não persistente, o assunto merece uma atenção fugaz, já que as pessoas se conformaram a ter uma informação não esclarecida. Rapidamente haverá outro assunto que prenderá a atenção, e o mistério desaparece naturalmente.

No caso em concreto convém notar apenas que a formação pode ser natural, pois o aparelho usado pelo velejador parecia estar no limite da sua resolução, e nessa altura as linhas curvas podem ser apresentadas simplificadamente por quatro linhas, e a forma quadrangular pode sugerir uma forma piramidal (as curvas de nível da montanha do Pico numa má resolução poderiam aparecer da mesma maneira).
De qualquer forma, mais importante do que haver ali ou não uma pirâmide, é não haver logo um esclarecimento ao velejador, e o assunto ser alvo de reportagem como se a Marinha não soubesse, nem se tivesse passado ali com um sonar antes...
Ora, este conhecimento vai mesmo para além dos 100 anos, já que há esses estudos reportados a Alberto do Mónaco, e também ao nosso rei D. Carlos, que foi igualmente um oceanógrafo reconhecido.

Muito antes, no Séc. XVI, o próprio D. João de Castro ficou conhecido pelos seus estudos sobre os baixios.
Nessa altura chamavam-se "baixios" e não "bancos", mas agora é mais fácil associar a riqueza que guardam estes bancos e perceber como pode haver uma crise com a revelação dos segredos dos bancos (... velando pirâmides financeiras).
O significado das palavras serve vários propósitos.

Esses baixios apareciam representados nos Roteiros de D. João de Castro, vice-rei da Índia, como é exemplo na próxima gravura, e visavam evitar problemas de navegação com profundidades baixas.
(Roteiros de D. João de Castro, Biblioteca da Univ. Coimbra)

É claro que esta precisão de contornos dos baixios envolveu uma pesquisa sistemática na navegação.
Na altura seria provavelmente usado o esquema clássico de lançar uma corda ao fundo e medir as braças.
Esta menção aos baixios pode ter sido mais sistematizada por ordem de D. João de Castro, mas já seria encontrada em mapas anteriores.
Alguns baixios em frente da costa de Moçambique já estavam delineados no Livro de Marinharia de João de Lisboa e apareceram designados depois com a referência a D. João de Castro. Por isso, antes da designação desse Banco D. João de Castro nos Açores (vulcão submarino que originou uma ilha temporária em 1720-22) havia outros "bancos de D. João de Castro", na costa próxima de Moçambique, junto às Ilhas Comores.

Costa de Moçambique. Baixios de D. João ... de Castro.
No Livro de Marinharia (c. 1514-60) a menção aos baixios, 
e sua localização no Google Maps (seta amarela).


Repare-se que a menção aos baixios envolve um conhecimento de grande profundidade no Séc. XVI.
E, é literalmente profundo, pois marcas envolvem medições que iriam muito além de várias centenas de metros.

Nota adicional: (12/10/2013) __________________
A Marinha parece ter reduzido o problema à confusão do navegador com o Banco D. João de Castro:

É engraçada a forma de desinformação dos tempos recentes - basta a uns dizerem que sim, e a outros dizem que não.
Um é velejador solitário, o outro é a Marinha com os registos oficiais de maior "sensibilidade".
Não foi preciso confrontação dos dois registos. 
Ficamos a saber que até à comunicação à RTP Açores, o velejador pesquisou durante vários meses sem saber da existência de tal banco, que aparece em todos os mapas. Por outro lado, os repórteres da RTP Açores fazem uma reportagem sem se informarem com mais nenhuma fonte. A Marinha demora 12 dias a concluir uma trivialidade poderia ter sido esclarecida em 5 minutos. 
Uma trapalhada!... uma sucessão de enganos e incompetências, que afectam instituições com algum prestígio - mas é suposto ser normal as instituições darem como perdida a sua respeitabilidade. Haja paciência!

De qualquer forma, já antevendo desfechos deste género como os únicos possíveis num quadro de ocultação, este texto foi feito para ter relevância para além da observação de Diocleciano Silva.
Entre outras coisas, fica claro pelo mapa que apresentámos aqui que há uma estrutura de forma piramidal acentuada, que não é o Banco D. João de Castro, é aquela que está assinalada pela seta a negro, e que mais uma vez não foi mencionada.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:55

Muito oportunamente recebemos hoje um comentário de Olinda Gil sobre a descoberta de um banco com formato piramidal por um velejador açoriano, Diocleciano Silva, em mais uma reportagem da RTP Açores.

Com base nesse comentário, no blog Portugalliae (de J.M. Oliveira) está já uma compilação que relaciona com outras descobertas subaquáticas na zona dos Açores:
http://portugalliae.blogspot.pt/2013/09/teoria-da-atlantida-no-arquipelago-dos.html

Este é mais um achado, que se junta a outros que têm vindo a merecer atenção sobre os Açores (já aqui falámos das Pirâmides da ilha do Pico, da Grota do Medo, dos hipogeus na Terceira e Corvo, etc., não esquecendo também a estranha formação submarina ao largo da Madeira... agora disfarçada no Google Maps)

Apenas aproveito para complementar com alguma outra informação relacionada.
Começamos por uma informação batimétrica dessa zona, entre a Terceira e São Miguel, onde é muito bem conhecido o Banco de D. João de Castro.
Imagem batimétrica, onde se vê o Banco D. João de Castro (info daqui
e assinalamos com uma seta o outro banco que pode ser a formação pirâmidal mencionada.

A seta preta assinala uma proeminência que se destaca, que parece ter uma forma piramidal pronunciada, e que é a única tão próxima da superfície do mar, sem ser o conhecido Banco de D. João de Castro. Aliás as montanhas submarinas dos Açores têm sido alvo de exploração recente, como mostra o vídeo da Univ. dos Açores:
Vídeo da Univ. Açores sobre montanhas submarinas açorianas.

Portanto, é claro que o velejador Diocleciano Silva não será o primeiro a deparar-se com a estrutura, que será bem conhecida de todos os que realizaram estudos batimétricos na zona da fossa planalto Hirondelle (... andorinha, era o nome do barco do princípe Alberto I do Mónaco).
A página de onde retirei a figura batimétrica é sobre uma outra formação, chamada o Banco do Mónaco, mais a sul, sudoeste de S. Miguel. Trata-se de um vulcão submarino, e é curiosa a menção feita na página de vulcanologia:
The volcano is unusual for a European volcano as it has never been studied.

Os Açores têm destas coisas... há coisas que nunca foram estudadas.
Por isso são naturais as tentativas de descobrir - ou seja de retirar do encobrir, já que Portugal é feito da matéria do Encoberto.

É claro que a questão do velejador seria prontamente resolvida se houvesse informação disponível, mas assim fica encoberta por toda a ausência de informação divulgada. Estes "achados" são assim falados por uns tempos, correm o facebook por um par de dias, e depois aguarda-se que entrem naturalmente no esquecimento.
Como a população tem uma curiosidade não persistente, o assunto merece uma atenção fugaz, já que as pessoas se conformaram a ter uma informação não esclarecida. Rapidamente haverá outro assunto que prenderá a atenção, e o mistério desaparece naturalmente.

No caso em concreto convém notar apenas que a formação pode ser natural, pois o aparelho usado pelo velejador parecia estar no limite da sua resolução, e nessa altura as linhas curvas podem ser apresentadas simplificadamente por quatro linhas, e a forma quadrangular pode sugerir uma forma piramidal (as curvas de nível da montanha do Pico numa má resolução poderiam aparecer da mesma maneira).
De qualquer forma, mais importante do que haver ali ou não uma pirâmide, é não haver logo um esclarecimento ao velejador, e o assunto ser alvo de reportagem como se a Marinha não soubesse, nem se tivesse passado ali com um sonar antes...
Ora, este conhecimento vai mesmo para além dos 100 anos, já que há esses estudos reportados a Alberto do Mónaco, e também ao nosso rei D. Carlos, que foi igualmente um oceanógrafo reconhecido.

Muito antes, no Séc. XVI, o próprio D. João de Castro ficou conhecido pelos seus estudos sobre os baixios.
Nessa altura chamavam-se "baixios" e não "bancos", mas agora é mais fácil associar a riqueza que guardam estes bancos e perceber como pode haver uma crise com a revelação dos segredos dos bancos (... velando pirâmides financeiras).
O significado das palavras serve vários propósitos.

Esses baixios apareciam representados nos Roteiros de D. João de Castro, vice-rei da Índia, como é exemplo na próxima gravura, e visavam evitar problemas de navegação com profundidades baixas.
(Roteiros de D. João de Castro, Biblioteca da Univ. Coimbra)

É claro que esta precisão de contornos dos baixios envolveu uma pesquisa sistemática na navegação.
Na altura seria provavelmente usado o esquema clássico de lançar uma corda ao fundo e medir as braças.
Esta menção aos baixios pode ter sido mais sistematizada por ordem de D. João de Castro, mas já seria encontrada em mapas anteriores.
Alguns baixios em frente da costa de Moçambique já estavam delineados no Livro de Marinharia de João de Lisboa e apareceram designados depois com a referência a D. João de Castro. Por isso, antes da designação desse Banco D. João de Castro nos Açores (vulcão submarino que originou uma ilha temporária em 1720-22) havia outros "bancos de D. João de Castro", na costa próxima de Moçambique, junto às Ilhas Comores.

Costa de Moçambique. Baixios de D. João ... de Castro.
No Livro de Marinharia (c. 1514-60) a menção aos baixios, 
e sua localização no Google Maps (seta amarela).


Repare-se que a menção aos baixios envolve um conhecimento de grande profundidade no Séc. XVI.
E, é literalmente profundo, pois marcas envolvem medições que iriam muito além de várias centenas de metros.

Nota adicional: (12/10/2013) __________________
A Marinha parece ter reduzido o problema à confusão do navegador com o Banco D. João de Castro:

É engraçada a forma de desinformação dos tempos recentes - basta a uns dizerem que sim, e a outros dizem que não.
Um é velejador solitário, o outro é a Marinha com os registos oficiais de maior "sensibilidade".
Não foi preciso confrontação dos dois registos. 
Ficamos a saber que até à comunicação à RTP Açores, o velejador pesquisou durante vários meses sem saber da existência de tal banco, que aparece em todos os mapas. Por outro lado, os repórteres da RTP Açores fazem uma reportagem sem se informarem com mais nenhuma fonte. A Marinha demora 12 dias a concluir uma trivialidade poderia ter sido esclarecida em 5 minutos. 
Uma trapalhada!... uma sucessão de enganos e incompetências, que afectam instituições com algum prestígio - mas é suposto ser normal as instituições darem como perdida a sua respeitabilidade. Haja paciência!

De qualquer forma, já antevendo desfechos deste género como os únicos possíveis num quadro de ocultação, este texto foi feito para ter relevância para além da observação de Diocleciano Silva.
Entre outras coisas, fica claro pelo mapa que apresentámos aqui que há uma estrutura de forma piramidal acentuada, que não é o Banco D. João de Castro, é aquela que está assinalada pela seta a negro, e que mais uma vez não foi mencionada.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:55


Alojamento principal

alvor-silves.blogspot.com

calendário

Julho 2020

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031



Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2018
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2017
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2016
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2015
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2014
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2013
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2012
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2011
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2010
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D