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No ano de 1543, um oficial da marinha, chamado Blasco de Garay, ofereceu-se a mostrar ao imperador Carlos V uma máquina, por meio da qual se faria andar um navio sem a ajuda de velas ou remos. Não obstante que a proposta se julgasse ridícula, o homem mostrava-se tão certo do que afirmava, que o imperador nomeou uma comissão para examinar, e dar conta do resultado da experiência. Com efeito teve ela lugar em 17 de Junho de 1543, em um navio chamado a Trinidad, do lote de duzentas toneladas, o qual pouco antes havia chegado de Colibre com uma carga de trigo.
O navio, diz o escriptor, foi visto, no dia aprazado, andar rapidamente, e virar em todos os bordos, segundo se quería, sem ser impelido por velas ou remos, e mesmo sem que se lhe percebesse mecanismo algum, à excepção de uma enorme caldeira com água a ferver, e um certo jogo de rodas e pás.
A multidão que se achava presente rompeu em gritos de admiração , e o porto de Barcelona ressoou com os seus aplausos. Os comissários do governo participaram do entusiasmo geral, e deram conta favorável ao imperador, excepto um deles, o tesoureiro Ravago. Este homem, por algum motivo que se ignora, declarou-se contra o inventor e a sua máquina: fez toda a diligência por a desacreditar, dizendo entre outras cousas que a invenção não oferecia vantagem alguma, pois que apenas podia fazer andar uma embarcação duas léguas no espaço de quatro horas; que a máquina era dispendiosa, e complicada, e finalmente que apresentava o grande e frequente perigo de arrebentar a caldeira. Acabada a experiência, Garay retírou o seu maquinismo, entregando no arsenal o que aí se fizera, levou o resto para sua casa.
Apesar das invejosas observações de Ravago, Garay foi aplaudido pelo seu invento. O imperador o protegeu, promoveu-o ao posto imediato, e lhe mandou dar dozentos mil maravis; ordenando mais que o tesoureiro invejoso pagasse todas as despesas da experiência. Mas Carlos V achava-se então muí ocupado com suas expedições militares, e tratando só de devastar a humanidade deixou desaproveitado o novo invento que a podia beneficiar; inventor e invenção ficaram no esquecimento; e a honra que Barcelona poderia ter recebido do aperfeiçoamento desta tão útil descoberta, ficou reservada para uma cidade, que ainda então não havia entrado na carreira da existência.