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Cobertura

21.05.13
Por vezes é conveniente sintetizar algumas ideias, revendo o panorama geral a partir das várias análises parcelares. Já fiz isso nalguns textos, mas é talvez altura de fazer nova revisão, explicando algumas das razões que podem ter ficado menos claras. 
Há muitas opções que se podem tomar... quem quiser seguir a via da História oficial ficará descansado na conveniência de estórias com a documentação oficial seleccionada que sustenta períodos isolados, mas deixa múltiplas questões globais em aberto, às quais nem se procura responder. 
Quem quiser seguir as teorias de civilizações extraterrestres, poderá fazê-lo, mas faltará mostrar a sua necessidade. Ou seja, o que foi encontrado que não possa ser alcançado por tecnologia humana desenvolvida num espaço de dois ou três séculos? - que eu saiba, nada! 
Outra hipótese é ir pela versão das grandes civilizações desaparecidas, ao estilo Atlântida. Já escrevi sobre a versão Atlântida=América que circulou à época dos descobrimentos (Séc. XVII), mas faço notar uma outra hipótese que tem sido ignorada. A estória de Platão contava que os Atlantes dominavam a zona mediterrânica, e mesmo todo o mundo. Depois desapareceram, por via de um cataclismo... 
- Será que desapareceram? - E esse desaparecimento seria ou não conveniente? 
- Afinal quem colocava sempre os limites da expansão no Mediterrâneo nas Colunas de Hércules?
- Por que razão não se prosseguia pela África? Só o Infante D. Henrique obterá autorização?
Ou seja, por que razão não considerar que toda a zona europeia estava sob controlo de uma potência "atlântica-atlante", ou seja "americana"? - Porque será isso apenas coisa moderna, ou muito antiga, perdida no tempo? - Havia ou não fortes restrições na condução das políticas europeias, quase desde sempre?

Como vemos, mesmo esquecendo outras vertentes místicas/religiosas, há sempre muitas formas de abordar os problemas. A que me parece melhor é também talvez a mais difícil... ou seja, aceitar tanto quanto possível as histórias oficiais, e só sair delas quando não houver respostas ou nexo lógico. Ainda que esse seja um caminho cheio de armadilhas, pelo menos seguimos o rasto de um nexo já criado, em vez de fazermos fé numa qualquer hipótese mais fantasiosa, só porque há uma grande corrente de seguidores.

1) A ocultação greco-romana.
Todo o propósito do blog se deve à ideia de ocultação persistente, e para isso bastam algumas provas que deixei bem claras no texto sobre "contas". Podemos ir buscar os mapas, a documentação, etc... mas tudo isso é acessório, bastam simples contas. Basta saber que a andar normalmente, com muito tempo de descanso, os homens podem caminhar 1000 Km num mês. Isso destrói por completo a ideia de limitação de exploração do mundo aos sítios convencionais. A única barreira à exploração seriam imposições humanas, a partir do momento em que o Homem tinha capacidade de lidar com outros obstáculos.

Desde quando vem essa limitação?
No texto sobre "Era dos Cobres" sugeri que poderia ter acontecido na época de aparecimento dos metais. Porquê tão remotamente? Primeiro, porque me parece claro que os Romanos sofreram de restrições às suas explorações, circunscrevendo-se à bacia mediterrânica. Para uma civilização que idolatrava os feitos de Alexandre Magno, parece improvável que os imperadores romanos não se preocupassem em enviar barcos para explorar a costa africana, ou simplesmente enviar legiões expedicionárias - mesmo a pé - com o intuito de traçar o continente africano (resolveriam o assunto num par de anos). Note-se ainda o registo de animais exóticos encontrados nos frescos de algumas povoações romanas, como em Villa Romana del Casale.
Não poderiam ser ameaçadas as suas povoações norte-africanas por algum inimigo vindo desse grande continente africano, que lhes era desconhecido? Estranhamente, isso não os parecia preocupar. Tal como sabiam bem dos registos de circum-navegação africana dos cartagineses, e não se interessaram em segui-los nesse feito marítimo.
Também não seguiram muito a senda de Alexandre em direcção à Índia, apesar de terem sido herdeiros de parte do Império Seleucida, o que os colocava na zona do Médio Oriente, a pouca distância da Índia. 
Foram contemporâneos do Império Greco-Báctrio e depois do Império Indo-Báctrio, ambos de grandes raízes gregas, o que permitiria uma ligação facilitada, pelo menos linguística, com os Romanos.
Édito de Ashoka (rei Indiano), em língua grega e aramaica, em Kandahar (Afeganistão)

O báctrio Demetrius, fundador do Reino Indo-Grego (c. 180 a.C.)

Portanto, apesar de uma presença "ocidentalizada" na Índia, durante alguns séculos, a partir do Séc. I (ano 10 d.C.) esse reino de herança greco-báctria irá sucumbir a invasores Citas, e a Índia ficará afastada do contacto ocidental próximo até à chegada dos portugueses.

Os Romanos pareciam estar assim limitados.
O mesmo se tinha passado antes com os Gregos, e quem tivera o ensejo de modificar isso fora Alexandre Magno, sob influência do seu mentor Aristóteles.
De acordo com o registo greco-romano, mesmo Cartagineses e Fenícios, apesar da sua grande capacidade naval tinham razoáveis limitações. Aristóteles referia a pena de morte para quem ousasse permanecer nas terras exploradas. 
Porquê? - poderia ser apenas para evitar a saída, e a constituição de colónias rivais, tal como Cartago o foi face a Tiro e Sídon... mas isso não parece ser consistente com a constituição de outras colónias, como por exemplo as colónias ibéricas, nomeadamente Cartagena, na Espanha.

2) Ocultação anterior aos Gregos.
As descrições gregas, começando por Heródoto, revelam um conhecimento circunscrito, semelhante ao que se verificaria em período Romano. Os egípcios, apesar de terem enviado algumas embarcações exploratórias, como as do faraó Senusret, anteriores à Guerra de Troia, também parecem não ter tido grande interesse pela parte restante do continente africano - excepção feita à Núbia, território contíguo ao sul do Egipto.
Há referências soltas a explorações significativas. Ao rei Salomão são atribuídas expedições rentáveis a um indeterminado país de Ofir, expedição com o auxílio de Hirão, rei de Tiro (há uma curiosa "Lenda dos Cavalos de Fão", na Praia de Ofir, que remete a essa origem salomónica). Para além dos Fenícios, temos ainda os registos Aqueus, os antigos gregos, quer das viagens de Ulisses e Menelau, ou ainda antes de Jasão e dos Argonautas.
Uma possível situação marítima à época da viagem de Jasão.

Dante na sua Divina Comédia, coloca Ulisses no 8º fosso do 8º círculo do Inferno... o herói grego era colocado bem nas profundezas dos infernos medievais, mas aí se veria também o seu "renascimento".
Porém, associa-lhe claramente uma viagem atlântica (canto 26), quando refere que na "mão direita deixou Sevilha e na outra Ceuta", ou seja, parte para além das Colunas de Hércules, e quando "os astros do outro pólo à noite via", refere-se claramente a uma passagem da linha equatorial - alusão semelhante que Camões usará nos Lusíadas. Há ainda quem considere que Dante poderia sugerir mesmo que Ulisses tivesse alcançado a América...
Dante - Divina Comédia - coloca Ulisses no Inferno, mas também lhe 
associa uma viagem pelo Atlântico Sul, passando a linha Equatorial.

Para outra provável referência a grandes viagens, ainda anteriores, já referimos Sargão, o seu reino de Acádia, e até a designação dos Sargaços. E será nos textos sumérios c. 2000 a.C. que encontramos os eventuais primeiros relatos exploratórios. Podemos ainda referir os Tartéssios, na zona do Guadiana - Guadalquivir, talvez ilustrados no mito de "Jonas e da Baleia", que refere uma eventual fuga da violenta Ninive para um refúgio em Tarsis.

Aqui já estamos no final de todos os registos sejam históricos ou estóricos, parece haver um limite por volta de 3000 a.C, onde até os mitos escasseiam. Ainda que os Caldeus invocassem registos astronómicos de vários milhares de anos, diz-se que a sua medida de "ano" seria o "mês lunar", pelo que uma divisão por 12 remeteria valores de 30 mil "anos" para aquele período. Será nessa época que poderemos colocar o lendário Nimrod (Nembroth) da Torre de Babel, um nome hebraico que não consta na lista de reis sumérios, talvez sendo o avô de Sargão. A lista mais extensa dos assírios parece remeter mesmo a reis nómadas enquanto "reis que viviam em tendas".

Quanto aos egípcios, ainda que os mitos remetam a períodos anteriores, também os seus registos mais antigos surgem por volta de 3000 a.C. com uma primeira dinastia fundada pelo faraó Menes. Durante esses 3000 anos até à chegada dos Romanos, o Egipto parece ter-se mantido como uma forte nação independente, não sujeita a tantas instabilidades como as vividas pelos vizinhos mesopotâmicos ou persas.

É claro que uma prolongada estabilidade poderia ter levado a grandes viagens, não apenas pelo Mediterrânico, onde teriam sido óbvias, mas também pelo Índico, dado o acesso directo através do Mar Vermelho... e navegando pelo mais calmo Oceano Índico, poderiam ter chegado longe... até à Austrália?
Recentemente houve uma polémica acerca dos hieróglifos de Gosford (Austrália):
 Hieroglifos de Gosford na Austrália (imagens)

Tratam-se de hieróglifos algo "toscos", encontrados gravados numa rocha de New South Wales (Austrália), e é claro houve alguma pressa em classificá-los como fraude, ou então como brincadeira antiga (de um militar estacionado no Egipto na 1ª Guerra Mundial), juntando-se a isto novas inscrições que iam aparecendo, ridicularizando mais, ou deturpando as anteriores.
Lembremo-nos que, aquando das figuras de Foz Côa, também houve candidatos que apareceram como pretensos autores de fraude, dizendo que "tinham desenhado os bois quando eram crianças"... Acaba por ser mais fácil encontrar mentiras prontas para encobrir estes achados do que propriamente os achados resultarem de mentiras...

3) A Síria, Assíria, Ciro e Tiro... 
A estes primeiros registos reportados a 3000 a.C. podemos juntar os registos do fim do Neolítico europeu, com a Cerâmica Campaniforme, de que falámos nas "Linhas Velhas de Torres".

Porém, fora desta cronologia ocorrem importantes registos soltos.
Já falámos de Gobekli Tepe ou Çatal Huyuk na Turquia, cuja datação aponta para mais de 10 000 a.C., tal como na Síria, nomeadamente em Tell Qaramel e Tell Aswad, ou Jericó (na Palestina), com datações entr 10 000 e 8 000 a.C., ou ainda Ain Ghazal (na Jordânia), c. 6500 a.C.
No caso de Tell Aswad e Jericó há uma semelhança na tentativa de preservação do rosto através de uma cobertura de barro, conforme se verifica neste crânios revestidos:
Tell Aswad (Síria)
Jericó (Palestina)
Ain Ghazal (Jordânia)

As formas humanas em Ain Ghazal mostram uma estilização com ênfase nos olhos, trazendo uma rápida lembrança da estilização que se popularizou na figura de humanóides. Há por vezes aspectos estranhos em representações humanas que remetem para esse tipo de especulações recentes. Fazemos notar que a associação entre duas representações tem dois sentidos... Só depois de se popularizarem as figuras de capacetes astronautas é que se começaram a ver capacetes de astronautas em muitas figuras antigas. Portanto, nessas associações convém sempre perceber a origem e motivo das interpretações.

Há ainda registos orientais muito antigos, nomeadamente em Yangshao (China), c. 5000 a.C, com registos cerâmicos muito notáveis até 10 000 a.C., havendo mesmo uma datação de fragmentos de cerâmica na Caverna Xianren que é colocada no Paleolítico, c. 20 000 a.C.
Vaso da fase Majiayao c. 3000 a.C (Yangshao, China)

Regressamos à zona da Síria, Turquia, Jordânia, relembrando o texto sobre o Campo Damasceno, nomeadamente a frase algo enigmática de Camões (Lusíadas Canto III, 9):
"Para que do mais certo se informara, ao campo Damasceno o perguntara".
Segundo Camões a disputa sobre a antiguidade humana seria mais certamente informada com os registos da zona de Damasco, na Síria. Consequência de muitas guerras com pretextos infernais ou primaveris, tem havido uma considerável devastação em muitos destes sítios arqueológicos... seja pela intervenção externa na Mesopotâmia/Iraque, ou pelas acções externas-internas mais recentes, na Líbia ou Síria, etc...

Aquilo que fazemos notar é que haveria uma História... ou Estória, que se enredava numa parte lendária, com teor religioso que remetia o seu início para um período c. 4000-3500 a.C. Até há pouco mais de 150 anos era considerado por cristãos, judeus, árabes, etc... que o primeiro homem teria surgido por essa altura. Ora, isso correspondia aproximadamente ao início dos registos históricos, desde Egípcios, Sumérios, etc...
A arqueologia com as suas datações subsequentes veio alterar muito esse panorama, mas não propriamente com o aparecimento de grandes culturas anteriores, excepção feita a alguns casos, como estes que aqui referimos. No entanto, estes registos soltos, à excepção de Jericó, não se enquadram em nenhum registo antigo, nem mesmo mítico.

Grande parte da tradição que sobreviveu passou por muitas influências, cada uma colocando maior ou menor deturpação para as gerações seguintes. Uma considerável influência passou-se com a acção das primeiras monarquias, dos Assírios/Babilónios, e depois pelos persas de Ciro.
Quando Ciro faz regressar os povos escravizados ao pretenso lugar de origem, nomeadamente os judeus/ hebreus, estes levam já uma versão adaptada pelos próprios magos Assírios. As semelhanças entre mitos babilónicos e mitos bíblicos não pode ser desligada do longo período de cativeiro.
É ainda na altura de Ciro que a cidade fenícia de Tiro começará a perder a sua relevância, já muito abalada pelo cerco de Nabucodonosor. Mesmo os Egípcios não ficaram incólumes a esta influência.

Se os sacerdotes egípcios acusavam os gregos de Sólon de serem crianças sem memória, quando lhes relataram a oposição heróica Aqueia/grega face ao domínio Atlante, não parece haver um enquadramento cronológico desse evento em função da Guerra de Tróia. Corresponderiam os Atlantes aos Troianos, na perspectiva egípcia? Sólon ou Platão não se teriam lembrado dessa vitória grega sobre uma potência externa para, ao menos, levantarem a questão?
21/05/2013

(continua...)

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 04:03

Cobertura

21.05.13
Por vezes é conveniente sintetizar algumas ideias, revendo o panorama geral a partir das várias análises parcelares. Já fiz isso nalguns textos, mas é talvez altura de fazer nova revisão, explicando algumas das razões que podem ter ficado menos claras. 
Há muitas opções que se podem tomar... quem quiser seguir a via da História oficial ficará descansado na conveniência de estórias com a documentação oficial seleccionada que sustenta períodos isolados, mas deixa múltiplas questões globais em aberto, às quais nem se procura responder. 
Quem quiser seguir as teorias de civilizações extraterrestres, poderá fazê-lo, mas faltará mostrar a sua necessidade. Ou seja, o que foi encontrado que não possa ser alcançado por tecnologia humana desenvolvida num espaço de dois ou três séculos? - que eu saiba, nada! 
Outra hipótese é ir pela versão das grandes civilizações desaparecidas, ao estilo Atlântida. Já escrevi sobre a versão Atlântida=América que circulou à época dos descobrimentos (Séc. XVII), mas faço notar uma outra hipótese que tem sido ignorada. A estória de Platão contava que os Atlantes dominavam a zona mediterrânica, e mesmo todo o mundo. Depois desapareceram, por via de um cataclismo... 
- Será que desapareceram? - E esse desaparecimento seria ou não conveniente? 
- Afinal quem colocava sempre os limites da expansão no Mediterrâneo nas Colunas de Hércules?
- Por que razão não se prosseguia pela África? Só o Infante D. Henrique obterá autorização?
Ou seja, por que razão não considerar que toda a zona europeia estava sob controlo de uma potência "atlântica-atlante", ou seja "americana"? - Porque será isso apenas coisa moderna, ou muito antiga, perdida no tempo? - Havia ou não fortes restrições na condução das políticas europeias, quase desde sempre?

Como vemos, mesmo esquecendo outras vertentes místicas/religiosas, há sempre muitas formas de abordar os problemas. A que me parece melhor é também talvez a mais difícil... ou seja, aceitar tanto quanto possível as histórias oficiais, e só sair delas quando não houver respostas ou nexo lógico. Ainda que esse seja um caminho cheio de armadilhas, pelo menos seguimos o rasto de um nexo já criado, em vez de fazermos fé numa qualquer hipótese mais fantasiosa, só porque há uma grande corrente de seguidores.

1) A ocultação greco-romana.
Todo o propósito do blog se deve à ideia de ocultação persistente, e para isso bastam algumas provas que deixei bem claras no texto sobre "contas". Podemos ir buscar os mapas, a documentação, etc... mas tudo isso é acessório, bastam simples contas. Basta saber que a andar normalmente, com muito tempo de descanso, os homens podem caminhar 1000 Km num mês. Isso destrói por completo a ideia de limitação de exploração do mundo aos sítios convencionais. A única barreira à exploração seriam imposições humanas, a partir do momento em que o Homem tinha capacidade de lidar com outros obstáculos.

Desde quando vem essa limitação?
No texto sobre "Era dos Cobres" sugeri que poderia ter acontecido na época de aparecimento dos metais. Porquê tão remotamente? Primeiro, porque me parece claro que os Romanos sofreram de restrições às suas explorações, circunscrevendo-se à bacia mediterrânica. Para uma civilização que idolatrava os feitos de Alexandre Magno, parece improvável que os imperadores romanos não se preocupassem em enviar barcos para explorar a costa africana, ou simplesmente enviar legiões expedicionárias - mesmo a pé - com o intuito de traçar o continente africano (resolveriam o assunto num par de anos). Note-se ainda o registo de animais exóticos encontrados nos frescos de algumas povoações romanas, como em Villa Romana del Casale.
Não poderiam ser ameaçadas as suas povoações norte-africanas por algum inimigo vindo desse grande continente africano, que lhes era desconhecido? Estranhamente, isso não os parecia preocupar. Tal como sabiam bem dos registos de circum-navegação africana dos cartagineses, e não se interessaram em segui-los nesse feito marítimo.
Também não seguiram muito a senda de Alexandre em direcção à Índia, apesar de terem sido herdeiros de parte do Império Seleucida, o que os colocava na zona do Médio Oriente, a pouca distância da Índia. 
Foram contemporâneos do Império Greco-Báctrio e depois do Império Indo-Báctrio, ambos de grandes raízes gregas, o que permitiria uma ligação facilitada, pelo menos linguística, com os Romanos.
Édito de Ashoka (rei Indiano), em língua grega e aramaica, em Kandahar (Afeganistão)
 
O báctrio Demetrius, fundador do Reino Indo-Grego (c. 180 a.C.)

Portanto, apesar de uma presença "ocidentalizada" na Índia, durante alguns séculos, a partir do Séc. I (ano 10 d.C.) esse reino de herança greco-báctria irá sucumbir a invasores Citas, e a Índia ficará afastada do contacto ocidental próximo até à chegada dos portugueses.

Os Romanos pareciam estar assim limitados.
O mesmo se tinha passado antes com os Gregos, e quem tivera o ensejo de modificar isso fora Alexandre Magno, sob influência do seu mentor Aristóteles.
De acordo com o registo greco-romano, mesmo Cartagineses e Fenícios, apesar da sua grande capacidade naval tinham razoáveis limitações. Aristóteles referia a pena de morte para quem ousasse permanecer nas terras exploradas. 
Porquê? - poderia ser apenas para evitar a saída, e a constituição de colónias rivais, tal como Cartago o foi face a Tiro e Sídon... mas isso não parece ser consistente com a constituição de outras colónias, como por exemplo as colónias ibéricas, nomeadamente Cartagena, na Espanha.

2) Ocultação anterior aos Gregos.
As descrições gregas, começando por Heródoto, revelam um conhecimento circunscrito, semelhante ao que se verificaria em período Romano. Os egípcios, apesar de terem enviado algumas embarcações exploratórias, como as do faraó Senusret, anteriores à Guerra de Troia, também parecem não ter tido grande interesse pela parte restante do continente africano - excepção feita à Núbia, território contíguo ao sul do Egipto.
Há referências soltas a explorações significativas. Ao rei Salomão são atribuídas expedições rentáveis a um indeterminado país de Ofir, expedição com o auxílio de Hirão, rei de Tiro (há uma curiosa "Lenda dos Cavalos de Fão", na Praia de Ofir, que remete a essa origem salomónica). Para além dos Fenícios, temos ainda os registos Aqueus, os antigos gregos, quer das viagens de Ulisses e Menelau, ou ainda antes de Jasão e dos Argonautas.
Uma possível situação marítima à época da viagem de Jasão.

Dante na sua Divina Comédia, coloca Ulisses no 8º fosso do 8º círculo do Inferno... o herói grego era colocado bem nas profundezas dos infernos medievais, mas aí se veria também o seu "renascimento".
Porém, associa-lhe claramente uma viagem atlântica (canto 26), quando refere que na "mão direita deixou Sevilha e na outra Ceuta", ou seja, parte para além das Colunas de Hércules, e quando "os astros do outro pólo à noite via", refere-se claramente a uma passagem da linha equatorial - alusão semelhante que Camões usará nos Lusíadas. Há ainda quem considere que Dante poderia sugerir mesmo que Ulisses tivesse alcançado a América...
Dante - Divina Comédia - coloca Ulisses no Inferno, mas também lhe 
associa uma viagem pelo Atlântico Sul, passando a linha Equatorial.

Para outra provável referência a grandes viagens, ainda anteriores, já referimos Sargão, o seu reino de Acádia, e até a designação dos Sargaços. E será nos textos sumérios c. 2000 a.C. que encontramos os eventuais primeiros relatos exploratórios. Podemos ainda referir os Tartéssios, na zona do Guadiana - Guadalquivir, talvez ilustrados no mito de "Jonas e da Baleia", que refere uma eventual fuga da violenta Ninive para um refúgio em Tarsis.

Aqui já estamos no final de todos os registos sejam históricos ou estóricos, parece haver um limite por volta de 3000 a.C, onde até os mitos escasseiam. Ainda que os Caldeus invocassem registos astronómicos de vários milhares de anos, diz-se que a sua medida de "ano" seria o "mês lunar", pelo que uma divisão por 12 remeteria valores de 30 mil "anos" para aquele período. Será nessa época que poderemos colocar o lendário Nimrod (Nembroth) da Torre de Babel, um nome hebraico que não consta na lista de reis sumérios, talvez sendo o avô de Sargão. A lista mais extensa dos assírios parece remeter mesmo a reis nómadas enquanto "reis que viviam em tendas".

Quanto aos egípcios, ainda que os mitos remetam a períodos anteriores, também os seus registos mais antigos surgem por volta de 3000 a.C. com uma primeira dinastia fundada pelo faraó Menes. Durante esses 3000 anos até à chegada dos Romanos, o Egipto parece ter-se mantido como uma forte nação independente, não sujeita a tantas instabilidades como as vividas pelos vizinhos mesopotâmicos ou persas.

É claro que uma prolongada estabilidade poderia ter levado a grandes viagens, não apenas pelo Mediterrânico, onde teriam sido óbvias, mas também pelo Índico, dado o acesso directo através do Mar Vermelho... e navegando pelo mais calmo Oceano Índico, poderiam ter chegado longe... até à Austrália?
Recentemente houve uma polémica acerca dos hieróglifos de Gosford (Austrália):
 
Hieroglifos de Gosford na Austrália (imagens)

Tratam-se de hieróglifos algo "toscos", encontrados gravados numa rocha de New South Wales (Austrália), e é claro houve alguma pressa em classificá-los como fraude, ou então como brincadeira antiga (de um militar estacionado no Egipto na 1ª Guerra Mundial), juntando-se a isto novas inscrições que iam aparecendo, ridicularizando mais, ou deturpando as anteriores.
Lembremo-nos que, aquando das figuras de Foz Côa, também houve candidatos que apareceram como pretensos autores de fraude, dizendo que "tinham desenhado os bois quando eram crianças"... Acaba por ser mais fácil encontrar mentiras prontas para encobrir estes achados do que propriamente os achados resultarem de mentiras...

3) A Síria, Assíria, Ciro e Tiro... 
A estes primeiros registos reportados a 3000 a.C. podemos juntar os registos do fim do Neolítico europeu, com a Cerâmica Campaniforme, de que falámos nas "Linhas Velhas de Torres".

Porém, fora desta cronologia ocorrem importantes registos soltos.
Já falámos de Gobekli Tepe ou Çatal Huyuk na Turquia, cuja datação aponta para mais de 10 000 a.C., tal como na Síria, nomeadamente em Tell Qaramel e Tell Aswad, ou Jericó (na Palestina), com datações entr 10 000 e 8 000 a.C., ou ainda Ain Ghazal (na Jordânia), c. 6500 a.C.
No caso de Tell Aswad e Jericó há uma semelhança na tentativa de preservação do rosto através de uma cobertura de barro, conforme se verifica neste crânios revestidos:
 
Tell Aswad (Síria)
Jericó (Palestina)
Ain Ghazal (Jordânia)

As formas humanas em Ain Ghazal mostram uma estilização com ênfase nos olhos, trazendo uma rápida lembrança da estilização que se popularizou na figura de humanóides. Há por vezes aspectos estranhos em representações humanas que remetem para esse tipo de especulações recentes. Fazemos notar que a associação entre duas representações tem dois sentidos... Só depois de se popularizarem as figuras de capacetes astronautas é que se começaram a ver capacetes de astronautas em muitas figuras antigas. Portanto, nessas associações convém sempre perceber a origem e motivo das interpretações.

Há ainda registos orientais muito antigos, nomeadamente em Yangshao (China), c. 5000 a.C, com registos cerâmicos muito notáveis até 10 000 a.C., havendo mesmo uma datação de fragmentos de cerâmica na Caverna Xianren que é colocada no Paleolítico, c. 20 000 a.C.
Vaso da fase Majiayao c. 3000 a.C (Yangshao, China)

Regressamos à zona da Síria, Turquia, Jordânia, relembrando o texto sobre o Campo Damasceno, nomeadamente a frase algo enigmática de Camões (Lusíadas Canto III, 9):
"Para que do mais certo se informara, ao campo Damasceno o perguntara".
Segundo Camões a disputa sobre a antiguidade humana seria mais certamente informada com os registos da zona de Damasco, na Síria. Consequência de muitas guerras com pretextos infernais ou primaveris, tem havido uma considerável devastação em muitos destes sítios arqueológicos... seja pela intervenção externa na Mesopotâmia/Iraque, ou pelas acções externas-internas mais recentes, na Líbia ou Síria, etc...

Aquilo que fazemos notar é que haveria uma História... ou Estória, que se enredava numa parte lendária, com teor religioso que remetia o seu início para um período c. 4000-3500 a.C. Até há pouco mais de 150 anos era considerado por cristãos, judeus, árabes, etc... que o primeiro homem teria surgido por essa altura. Ora, isso correspondia aproximadamente ao início dos registos históricos, desde Egípcios, Sumérios, etc...
A arqueologia com as suas datações subsequentes veio alterar muito esse panorama, mas não propriamente com o aparecimento de grandes culturas anteriores, excepção feita a alguns casos, como estes que aqui referimos. No entanto, estes registos soltos, à excepção de Jericó, não se enquadram em nenhum registo antigo, nem mesmo mítico.

Grande parte da tradição que sobreviveu passou por muitas influências, cada uma colocando maior ou menor deturpação para as gerações seguintes. Uma considerável influência passou-se com a acção das primeiras monarquias, dos Assírios/Babilónios, e depois pelos persas de Ciro.
Quando Ciro faz regressar os povos escravizados ao pretenso lugar de origem, nomeadamente os judeus/ hebreus, estes levam já uma versão adaptada pelos próprios magos Assírios. As semelhanças entre mitos babilónicos e mitos bíblicos não pode ser desligada do longo período de cativeiro.
É ainda na altura de Ciro que a cidade fenícia de Tiro começará a perder a sua relevância, já muito abalada pelo cerco de Nabucodonosor. Mesmo os Egípcios não ficaram incólumes a esta influência.

Se os sacerdotes egípcios acusavam os gregos de Sólon de serem crianças sem memória, quando lhes relataram a oposição heróica Aqueia/grega face ao domínio Atlante, não parece haver um enquadramento cronológico desse evento em função da Guerra de Tróia. Corresponderiam os Atlantes aos Troianos, na perspectiva egípcia? Sólon ou Platão não se teriam lembrado dessa vitória grega sobre uma potência externa para, ao menos, levantarem a questão?
21/05/2013

(continua...)

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publicado às 04:03

Sirenes

26.12.12
Na 2ª Parte da Monarquia Lusitana, Frei Bernardo de Brito vai arriscar um tema controverso:
- "Homens Marinhos", que é como quem diz no feminino "sereias" ou "sirenes"...
Brito sabe que o tema é controverso, e diz (pág 7, livro 5):
Nem pareça isto coisa impossível aos leitores escrupulosos de coisas pouco vulgares, porque no mesmo tempo, mandaram os Franceses outra embaixada ao Imperador Tibério, sobre um número grande destes monstros, que o mesmo mar lançara mortos na praia, e afirma Plínio (...)
Brito já antes tinha citado Plínio para falar numa "mulher marinha" que o mar lançara na costa de Lisboa, "cujos gritos ou uivos, ao tempo que morria, ouviram os moradores da terra a grande distância". Talvez faltasse a Brito o termo "sirene" que para além de designar "sereia", foi depois (no Séc. XIX) usado para designar um som característico de alarme. Mas, de entre os inúmeros exemplos que Brito cita, é também frequente serem mudos - "Meyer Baliollano, nos Anais da Flandres, conta que em 1403 foi tomada e trazida à cidade de Harlem uma mulher marítima muda, mas perfeita e proporcionada nas demais partes, a qual viveu muitos anos(...)".

A sereia, da Copenhaga de Hans Christian Andersen.

A questão habitual com que nos defrontamos ao ler textos antigos é misturar-se uma sequência de relatos perfeitamente concordantes com a história oficial - Brito está a relatar a época de Tibério - com relatos inverosímeis - Brito relata uma embaixada Lusitana a Roma por causa de um "homem-marinho" [cf. Nota 1].
Como Brito sabe que o assunto seria risível, avança com uma dezena de exemplos documentados (Plínio, Damião de Goes, Nicephoro Calisto, Mariano, Meyer Baliollano, Guiciardino, Luis Veues, Alberto Magno, Pineda, Cornelio de Amsterdam, Pyerio Valeriano e o Conde D. Pedro).

Não se pode acusar Bernardo de Brito de falta de citações e documentação. A História actual usa os mesmos métodos. A sua diferença face a qualquer autor moderno é que hoje há uma auto-censura educacional, que leva a omitir assuntos, sob pena de ser alvo de chacota, por não ser "sério".  
É isso que fará a Escola que faz Escola a partir de Alexandre Herculano. Corta todas as fontes antigas que contrariem o "politicamente incorrecto", que invoquem o "fabuloso". É uma forma diferente de censura, é mais poderosa, benigna e eficaz - aparece sob a forma de auto-censura para evitar a exposição ao ridículo. Um pensador que estiver certo de uma teoria contra-corrente sofre hoje uma censura tão poderosa quanto a que sofreu Galileu. Galileu não conseguiu convencer os outros, hoje ao fim de algum tempo o pensador é levado a desconfiar da sua sanidade. Galileu viu os seus livros banidos, o tal pensador nem conseguiria publicar um livro sério.

Em condições normais, rir-me-ia desta crença em "homens-marinhos", explicitada por Bernardo Brito. Porém, as condições estão longe de ser normais... houve uma ocultação demasiado grande de demasiados assuntos. Há razões objectivas de desconfiar - não apenas das afirmações de Brito, mas também da sua negação, pelos opositores naturais.
Resta-nos o bom senso, que vamos acumulando pela experiência... e sob esse aspecto, não tenho nenhuma informação que me permita eliminar definitivamente a hipótese de "homens-marinhos", e ainda que considere implausível, não a vou rejeitar a priori essa possibilidade.

Acabando de falar de sereias, no correr do texto sobre o tempo de Tibério, Brito vai abordar logo de seguida a morte de Jesus Cristo. Mais uma vez parece-nos estranho, politicamente incorrecto, mas Brito parece cingir-se à cronologia - ambos os factos teriam ocorrido na mesma governação.
Sob esse assunto, Bernardo Brito não será menos polémico, mas a fácil censura encontrará aí a oposição da  fé católica, a quem não interessam sereias, mas para quem os acontecimentos da vida de Jesus fazem parte da sua religião. Diz Brito
Tornando pois à continuação do império e vida de Tibério Caesar, conta Paulo Orósio, e Eutropio, que aos anos 16 da sua monarquia, no mês de Março houve um terramoto universal no mundo, acompanhado de um eclipse tão extraordinário, que não houve sábio (havendo grandes naquele tempo) que soubesse dar razão a tão novo modo de oposição como então tiveram o Sol e a Lua : tudo o qual foi aquele geral sentimento que a Natureza mostrou na morte do seu Criador, e nosso Redentor Jesus Cristo, referido no Evangelho Sagrado (Mateus, Marcos), e por coisa tão notável, e que não menos se viu nestas partes de Portugal e Espanha (onde diz Laimundo que se mostravam rochas abertas deste terramoto), que nas de Ásia e Judeia (...)
Também sobre este assunto poderia Bernardo Brito citar Plínio, já que conforme aqui referimos é suficientemente estranho o registo de anomalias que poderiam estar na causa do desajuste do Solarium Augusti, o enorme relógio solar que Octávio Augusto fizera no Campo de Marte, e que a partir dessa altura tinha ficado inútil.
É ainda curioso Brito estabelecer exactamente o dia da morte de Jesus - sexta-feira, 25 de Março, incluindo o nome dos "ladrões" também crucificados (Dimas, arrependido, e Gestas), falando ainda da ressurreição a 27 de Março, de ter feito S. Pedro seu vigário a 4 de Abril, junto ao mar da Galileia, e da "subida ao céu" apenas a 6 de Maio... tendo após 10 dias "consolado e confirmado os seu discípulos com a vinda do Espírito Santo, dando-lhe a força e sabedoria necessárias (...)"
Creio que estes detalhes, com datas precisas, estão completamente omissos na tradição católica.
Ao contrário, as datas adoptadas para a Sexta-Feira Santa usam como referência a Páscoa judaica, ajustada ao calendário lunar e não solar. Isto não deixa de ser interessante porque o carácter universal que tomou o cristianismo, não deixou de se vergar à agenda judaica. Isso poderia ser aceitável no islamismo, que vê Jesus apenas como um profeta, e usa ainda o calendário lunar. No entanto, a Bíblia católica, apesar de considerar Jesus como o Messias, não deixou de integrar o Testamento dos Velhos, incorporando por completo toda a tradição judaica fundamental, enquanto nos Evangelhos são raras as referências a esse texto, praticamente dispensando a sua leitura.

Nota 1: (26/12/2012) Sobre a embaixada que os lusitanos enviaram a Tibério diz Bernardo Brito:
"Por este próprio tempo conta Plínio que mandaram os portugueses de Lisboa uma solene embaixada a Roma, e com ela dar conta ao imperador de um portento que aparecia naquela costa, que era um homem marinho, da forma que vulgarmente o pintam, e saindo em terra, entre as rochas que pendiam sobre o mar, e faziam uma semelhança de cova, tocava uma buzina feita de concha de búzio, com tanta força, que o som dela fez advertir os moradores da terra, em quem a tangia, ficando tão admirados de sua visita, que lhe pareceu matéria bastante para com ela formarem a embaixada."

Nota 2: Convirá não esquecer também a descrição do "monstro-marinho", a Ipupiara de Pero de Magalhães Gandavo.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:23

Sirenes

26.12.12
Na 2ª Parte da Monarquia Lusitana, Frei Bernardo de Brito vai arriscar um tema controverso:
- "Homens Marinhos", que é como quem diz no feminino "sereias" ou "sirenes"...
Brito sabe que o tema é controverso, e diz (pág 7, livro 5):
Nem pareça isto coisa impossível aos leitores escrupulosos de coisas pouco vulgares, porque no mesmo tempo, mandaram os Franceses outra embaixada ao Imperador Tibério, sobre um número grande destes monstros, que o mesmo mar lançara mortos na praia, e afirma Plínio (...)
Brito já antes tinha citado Plínio para falar numa "mulher marinha" que o mar lançara na costa de Lisboa, "cujos gritos ou uivos, ao tempo que morria, ouviram os moradores da terra a grande distância". Talvez faltasse a Brito o termo "sirene" que para além de designar "sereia", foi depois (no Séc. XIX) usado para designar um som característico de alarme. Mas, de entre os inúmeros exemplos que Brito cita, é também frequente serem mudos - "Meyer Baliollano, nos Anais da Flandres, conta que em 1403 foi tomada e trazida à cidade de Harlem uma mulher marítima muda, mas perfeita e proporcionada nas demais partes, a qual viveu muitos anos(...)".

A sereia, da Copenhaga de Hans Christian Andersen.

A questão habitual com que nos defrontamos ao ler textos antigos é misturar-se uma sequência de relatos perfeitamente concordantes com a história oficial - Brito está a relatar a época de Tibério - com relatos inverosímeis - Brito relata uma embaixada Lusitana a Roma por causa de um "homem-marinho" [cf. Nota 1].
Como Brito sabe que o assunto seria risível, avança com uma dezena de exemplos documentados (Plínio, Damião de Goes, Nicephoro Calisto, Mariano, Meyer Baliollano, Guiciardino, Luis Veues, Alberto Magno, Pineda, Cornelio de Amsterdam, Pyerio Valeriano e o Conde D. Pedro).

Não se pode acusar Bernardo de Brito de falta de citações e documentação. A História actual usa os mesmos métodos. A sua diferença face a qualquer autor moderno é que hoje há uma auto-censura educacional, que leva a omitir assuntos, sob pena de ser alvo de chacota, por não ser "sério".  
É isso que fará a Escola que faz Escola a partir de Alexandre Herculano. Corta todas as fontes antigas que contrariem o "politicamente incorrecto", que invoquem o "fabuloso". É uma forma diferente de censura, é mais poderosa, benigna e eficaz - aparece sob a forma de auto-censura para evitar a exposição ao ridículo. Um pensador que estiver certo de uma teoria contra-corrente sofre hoje uma censura tão poderosa quanto a que sofreu Galileu. Galileu não conseguiu convencer os outros, hoje ao fim de algum tempo o pensador é levado a desconfiar da sua sanidade. Galileu viu os seus livros banidos, o tal pensador nem conseguiria publicar um livro sério.

Em condições normais, rir-me-ia desta crença em "homens-marinhos", explicitada por Bernardo Brito. Porém, as condições estão longe de ser normais... houve uma ocultação demasiado grande de demasiados assuntos. Há razões objectivas de desconfiar - não apenas das afirmações de Brito, mas também da sua negação, pelos opositores naturais.
Resta-nos o bom senso, que vamos acumulando pela experiência... e sob esse aspecto, não tenho nenhuma informação que me permita eliminar definitivamente a hipótese de "homens-marinhos", e ainda que considere implausível, não a vou rejeitar a priori essa possibilidade.

Acabando de falar de sereias, no correr do texto sobre o tempo de Tibério, Brito vai abordar logo de seguida a morte de Jesus Cristo. Mais uma vez parece-nos estranho, politicamente incorrecto, mas Brito parece cingir-se à cronologia - ambos os factos teriam ocorrido na mesma governação.
Sob esse assunto, Bernardo Brito não será menos polémico, mas a fácil censura encontrará aí a oposição da  fé católica, a quem não interessam sereias, mas para quem os acontecimentos da vida de Jesus fazem parte da sua religião. Diz Brito
Tornando pois à continuação do império e vida de Tibério Caesar, conta Paulo Orósio, e Eutropio, que aos anos 16 da sua monarquia, no mês de Março houve um terramoto universal no mundo, acompanhado de um eclipse tão extraordinário, que não houve sábio (havendo grandes naquele tempo) que soubesse dar razão a tão novo modo de oposição como então tiveram o Sol e a Lua : tudo o qual foi aquele geral sentimento que a Natureza mostrou na morte do seu Criador, e nosso Redentor Jesus Cristo, referido no Evangelho Sagrado (Mateus, Marcos), e por coisa tão notável, e que não menos se viu nestas partes de Portugal e Espanha (onde diz Laimundo que se mostravam rochas abertas deste terramoto), que nas de Ásia e Judeia (...)
Também sobre este assunto poderia Bernardo Brito citar Plínio, já que conforme aqui referimos é suficientemente estranho o registo de anomalias que poderiam estar na causa do desajuste do Solarium Augusti, o enorme relógio solar que Octávio Augusto fizera no Campo de Marte, e que a partir dessa altura tinha ficado inútil.
É ainda curioso Brito estabelecer exactamente o dia da morte de Jesus - sexta-feira, 25 de Março, incluindo o nome dos "ladrões" também crucificados (Dimas, arrependido, e Gestas), falando ainda da ressurreição a 27 de Março, de ter feito S. Pedro seu vigário a 4 de Abril, junto ao mar da Galileia, e da "subida ao céu" apenas a 6 de Maio... tendo após 10 dias "consolado e confirmado os seu discípulos com a vinda do Espírito Santo, dando-lhe a força e sabedoria necessárias (...)"
Creio que estes detalhes, com datas precisas, estão completamente omissos na tradição católica.
Ao contrário, as datas adoptadas para a Sexta-Feira Santa usam como referência a Páscoa judaica, ajustada ao calendário lunar e não solar. Isto não deixa de ser interessante porque o carácter universal que tomou o cristianismo, não deixou de se vergar à agenda judaica. Isso poderia ser aceitável no islamismo, que vê Jesus apenas como um profeta, e usa ainda o calendário lunar. No entanto, a Bíblia católica, apesar de considerar Jesus como o Messias, não deixou de integrar o Testamento dos Velhos, incorporando por completo toda a tradição judaica fundamental, enquanto nos Evangelhos são raras as referências a esse texto, praticamente dispensando a sua leitura.

Nota 1: (26/12/2012) Sobre a embaixada que os lusitanos enviaram a Tibério diz Bernardo Brito:
"Por este próprio tempo conta Plínio que mandaram os portugueses de Lisboa uma solene embaixada a Roma, e com ela dar conta ao imperador de um portento que aparecia naquela costa, que era um homem marinho, da forma que vulgarmente o pintam, e saindo em terra, entre as rochas que pendiam sobre o mar, e faziam uma semelhança de cova, tocava uma buzina feita de concha de búzio, com tanta força, que o som dela fez advertir os moradores da terra, em quem a tangia, ficando tão admirados de sua visita, que lhe pareceu matéria bastante para com ela formarem a embaixada."

Nota 2: Convirá não esquecer também a descrição do "monstro-marinho", a Ipupiara de Pero de Magalhães Gandavo.

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Sirenes

25.12.12
Na 2ª Parte da Monarquia Lusitana, Frei Bernardo de Brito vai arriscar um tema controverso:
- "Homens Marinhos", que é como quem diz no feminino "sereias" ou "sirenes"...
Brito sabe que o tema é controverso, e diz (pág 7, livro 5):
Nem pareça isto coisa impossível aos leitores escrupulosos de coisas pouco vulgares, porque no mesmo tempo, mandaram os Franceses outra embaixada ao Imperador Tibério, sobre um número grande destes monstros, que o mesmo mar lançara mortos na praia, e afirma Plínio (...)
Brito já antes tinha citado Plínio para falar numa "mulher marinha" que o mar lançara na costa de Lisboa, "cujos gritos ou uivos, ao tempo que morria, ouviram os moradores da terra a grande distância". Talvez faltasse a Brito o termo "sirene" que para além de designar "sereia", foi depois (no Séc. XIX) usado para designar um som característico de alarme. Mas, de entre os inúmeros exemplos que Brito cita, é também frequente serem mudos - "Meyer Baliollano, nos Anais da Flandres, conta que em 1403 foi tomada e trazida à cidade de Harlem uma mulher marítima muda, mas perfeita e proporcionada nas demais partes, a qual viveu muitos anos(...)".

A sereia, da Copenhaga de Hans Christian Andersen.

A questão habitual com que nos defrontamos ao ler textos antigos é misturar-se uma sequência de relatos perfeitamente concordantes com a história oficial - Brito está a relatar a época de Tibério - com relatos inverosímeis - Brito relata uma embaixada Lusitana a Roma por causa de um "homem-marinho" [cf. Nota 1].
Como Brito sabe que o assunto seria risível, avança com uma dezena de exemplos documentados (Plínio, Damião de Goes, Nicephoro Calisto, Mariano, Meyer Baliollano, Guiciardino, Luis Veues, Alberto Magno, Pineda, Cornelio de Amsterdam, Pyerio Valeriano e o Conde D. Pedro).

Não se pode acusar Bernardo de Brito de falta de citações e documentação. A História actual usa os mesmos métodos. A sua diferença face a qualquer autor moderno é que hoje há uma auto-censura educacional, que leva a omitir assuntos, sob pena de ser alvo de chacota, por não ser "sério".  
É isso que fará a Escola que faz Escola a partir de Alexandre Herculano. Corta todas as fontes antigas que contrariem o "politicamente incorrecto", que invoquem o "fabuloso". É uma forma diferente de censura, é mais poderosa, benigna e eficaz - aparece sob a forma de auto-censura para evitar a exposição ao ridículo. Um pensador que estiver certo de uma teoria contra-corrente sofre hoje uma censura tão poderosa quanto a que sofreu Galileu. Galileu não conseguiu convencer os outros, hoje ao fim de algum tempo o pensador é levado a desconfiar da sua sanidade. Galileu viu os seus livros banidos, o tal pensador nem conseguiria publicar um livro sério.

Em condições normais, rir-me-ia desta crença em "homens-marinhos", explicitada por Bernardo Brito. Porém, as condições estão longe de ser normais... houve uma ocultação demasiado grande de demasiados assuntos. Há razões objectivas de desconfiar - não apenas das afirmações de Brito, mas também da sua negação, pelos opositores naturais.
Resta-nos o bom senso, que vamos acumulando pela experiência... e sob esse aspecto, não tenho nenhuma informação que me permita eliminar definitivamente a hipótese de "homens-marinhos", e ainda que considere implausível, não a vou rejeitar a priori essa possibilidade.

Acabando de falar de sereias, no correr do texto sobre o tempo de Tibério, Brito vai abordar logo de seguida a morte de Jesus Cristo. Mais uma vez parece-nos estranho, politicamente incorrecto, mas Brito parece cingir-se à cronologia - ambos os factos teriam ocorrido na mesma governação.
Sob esse assunto, Bernardo Brito não será menos polémico, mas a fácil censura encontrará aí a oposição da  fé católica, a quem não interessam sereias, mas para quem os acontecimentos da vida de Jesus fazem parte da sua religião. Diz Brito
Tornando pois à continuação do império e vida de Tibério Caesar, conta Paulo Orósio, e Eutropio, que aos anos 16 da sua monarquia, no mês de Março houve um terramoto universal no mundo, acompanhado de um eclipse tão extraordinário, que não houve sábio (havendo grandes naquele tempo) que soubesse dar razão a tão novo modo de oposição como então tiveram o Sol e a Lua : tudo o qual foi aquele geral sentimento que a Natureza mostrou na morte do seu Criador, e nosso Redentor Jesus Cristo, referido no Evangelho Sagrado (Mateus, Marcos), e por coisa tão notável, e que não menos se viu nestas partes de Portugal e Espanha (onde diz Laimundo que se mostravam rochas abertas deste terramoto), que nas de Ásia e Judeia (...)
Também sobre este assunto poderia Bernardo Brito citar Plínio, já que conforme aqui referimos é suficientemente estranho o registo de anomalias que poderiam estar na causa do desajuste do Solarium Augusti, o enorme relógio solar que Octávio Augusto fizera no Campo de Marte, e que a partir dessa altura tinha ficado inútil.
É ainda curioso Brito estabelecer exactamente o dia da morte de Jesus - sexta-feira, 25 de Março, incluindo o nome dos "ladrões" também crucificados (Dimas, arrependido, e Gestas), falando ainda da ressurreição a 27 de Março, de ter feito S. Pedro seu vigário a 4 de Abril, junto ao mar da Galileia, e da "subida ao céu" apenas a 6 de Maio... tendo após 10 dias "consolado e confirmado os seu discípulos com a vinda do Espírito Santo, dando-lhe a força e sabedoria necessárias (...)"
Creio que estes detalhes, com datas precisas, estão completamente omissos na tradição católica.
Ao contrário, as datas adoptadas para a Sexta-Feira Santa usam como referência a Páscoa judaica, ajustada ao calendário lunar e não solar. Isto não deixa de ser interessante porque o carácter universal que tomou o cristianismo, não deixou de se vergar à agenda judaica. Isso poderia ser aceitável no islamismo, que vê Jesus apenas como um profeta, e usa ainda o calendário lunar. No entanto, a Bíblia católica, apesar de considerar Jesus como o Messias, não deixou de integrar o Testamento dos Velhos, incorporando por completo toda a tradição judaica fundamental, enquanto nos Evangelhos são raras as referências a esse texto, praticamente dispensando a sua leitura.

Nota 1: (26/12/2012) Sobre a embaixada que os lusitanos enviaram a Tibério diz Bernardo Brito:
"Por este próprio tempo conta Plínio que mandaram os portugueses de Lisboa uma solene embaixada a Roma, e com ela dar conta ao imperador de um portento que aparecia naquela costa, que era um homem marinho, da forma que vulgarmente o pintam, e saindo em terra, entre as rochas que pendiam sobre o mar, e faziam uma semelhança de cova, tocava uma buzina feita de concha de búzio, com tanta força, que o som dela fez advertir os moradores da terra, em quem a tangia, ficando tão admirados de sua visita, que lhe pareceu matéria bastante para com ela formarem a embaixada."

Nota 2: Convirá não esquecer também a descrição do "monstro-marinho", a Ipupiara de Pero de Magalhães Gandavo.

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publicado às 23:23

Obelisco de 7

22.04.12
No centro da Praça de São Pedro, no Vaticano... bem à vista de todos os olhares do mundo, ergue-se um obelisco. A história do obelisco é relacionada com os cristãos, no sentido em que Tácito associou a sua presença no meio do Circo de Nero, onde cristãos teriam sido executados (incluindo S. Pedro). Não havendo erro Tácito (suspeitas de autenticidade começadas por Voltaire), esta seria a razão da colocação de um antigo monumento pagão no meio do centro cristão... foi aliás algo complicado, já que a deslocação do obelisco em Roma envolveu grandes meios, conforme ilustra a imagem (em baixo, à direita):
 
Obelisco do Vaticano, após a sua deslocação em 1586 (imagem à direita)

O obelisco encontra-se limpo de inscrições hieroglíficas (restam inscrições de imperadores romanos), mas não estava assim à altura do seu transporte... Quem organizou o transporte, Domenico Fontana, a mando do Papa Sisto V, deixou ainda uma descrição do que estava inscrito no obelisco:
Desenho do obelisco do Vaticano no livro de Fontana, aquando da deslocação
Pilar de Seth
Há obeliscos egípcios em diversas capitais mundiais - Washington, Londres, Paris, Roma (ver Agulhas de Cleopatra)... mas no caso do Vaticano, a lembrança de ser egípcio foi completamente apagada. 
É compreensível isso, dado o contexto cristão, mas ao mesmo tempo encontramos um texto de Diego Haedo (Topografia e Historia Geral de Argel, 1608), que se baseia numa descrição de Flávio Josefo nas Antiguidades Judaicas (Séc. I):
And that their inventions might not be lost before they were sufficiently known, upon Adam's prediction that the world was to be destroyed at one time by the force of fire, and at another time by the violence and quantity of water, they made two pillars, 19 the one of brick, the other of stone: they inscribed their discoveries on them both, that in case the pillar of brick should be destroyed by the flood, the pillar of stone might remain, and exhibit those discoveries to mankind; and also inform them that there was another pillar of brick erected by them. Now this remains in the land of Siriad to this day.
Esta descrição de Josefo é sobre Seth, e a partir desse momento falou-se dos Pilares de Seth, onde estaria inscrito um legado escrito do filho de Adão e seus descendentes. Quando Josefo diz que o pilar de pedra se mantinha até aos seus dias na "terra de Siriad", geram-se várias confusões. Primeiro, a céptica, dos que gostem de observar uma contradição "entre o pilar ter resistido e ser visível após o dilúvio", depois a geográfica, já que "Siriad" confunde Egipto e Síria. As dúvidas de resistência do pilar ao dilúvio, parecem algo ridículas (após o recúo das águas, seria possível tentar reencontrar o pilar e reergue-lo), já que normalmente provêm de quem também considera que o dilúvio não foi mais que uma cheia de um rio porque na Bíblia se fala num aumento de água de apenas 15 cúbitos (menos de 7 metros)... que cobria todos os montes.

Já a confusão geográfica sobre a Síria, ou Siriad, é interessante pois adiciona-se à existência dos templos de Heliopolis - havia a Heliopolis de Baalbek (Síria/Líbano) e a Heliopolis egípcia, curiosamente associada a um pilar do faraó Sesostris I, ou Senusret, que tem sido associado a Seti I e o liga directamente ao deus Set

 
Pilar de Set I ou Sesostris (Heliopolis, Egipto... actual e no Séc. XIX)

É provável que Josefo se referisse a este obelisco, enquanto o Pilar de Seth, filho de Adão. No entanto, convém dizer que o Obelisco do Vaticano terá também como origem a mesma Heliopolis (egípcia)...
Pode conjecturar-se que Josefo mencionava o Obelisco do Vaticano, ainda que o seu deslocamento para Roma seja contemporâneo a Josefo, e nada de concreto aponte nesse sentido... excepto que seria o mais importante obelisco a deslocar para o centro do Vaticano, a acreditar na sua mítica origem em Seth ou Adão.

O que diz Haedo?
Nuestro sapientissimo padre Adan (como Iosepho autor gravissimo dexó escrito) viendo que sus nietos y descendientes (que ya eran multiplicados en gran numero) començavam apartar-se del conocimiento verdadero, y fiel servicio de Dios, que el les enseñara ansi, como de Dios fuera enseñado: y temideo como hombre tan prudente, que siendo los pensamientos, y sentidos de los hõbres tan inclinados al mal, por discurso de algun tiempo, entre ellos se acabasse de perder todo el conocimiento de Dios: acordo de hazer como hizo, para remediar este mal, dos muy grandes, y muy altas colunas: una de ladrillo, y otra de piedra marmol rezio. De manera que el tiempo consumidor de todas cosas, o nunca o tarde las consumirsse: y en ellas de su mano entallo, y escrivio la doctrina de la Fé, y conocimiento de Dios, y la manera de su culto, y veneracion, conque de los hombres avia de ser honrado e venerado: y el mysterio de la venida del Messias: y juntamente muchas otras cosas de philosofia, astrologia, movimiento de los ciclos, curso de los planetas, y durasiõ de los tiempos y meses del año.
Y estas dos colunas ansi escritas, y entalladas (dize) que las puso en alto, para que todos las mirassen, y como eh unos libros pudiessen todos ler en ellas: de manera que fuesse (como el otro dezia de los libros) unos mudos, maestros q sin estruendo de bozes, advirtissen a los hõbres lo que devian de crer, y hazer en todo tiempo, y hedad: de manera que podemos dezir y afirmar con razon, que fueron estos los primeros libros de mundo; porq importa poco fuessen de piedra, y bronze, o de cortezas de Arboles y hojas, o de pergamino y papel, como despues por discurso de tiempo acostumbraron hazer los hombres.
(...)
... ou seja, citando Josefo, vai um pouco mais longe e diz que o "livro" escrito sob forma de pilar remontaria directamente a Adão, e preveria directamente a vinda do Messias, para além de conter considerações filosóficas e astronómicas. Juntar-se-ia a prática e conversação dos Santos Patriarcas, que por linha e sucessão directa herdaram de Adão e do terceiro filho Seth, listando depois Noé, Sem, Arphaxat, Chaynã, Sala, Heber, Ragau, Saruch, Nachor, Thare, Abraão, Isaac, Jacob e seus filhos.
(...) porque muchos tiempos, y por muchas edades se conservo el conocimiento de Dios en el mundo y q entre muchas naciones de Oriente, como Assírios, Chaldeos, Arabios, Egypcios, y otrostales quedasen despues perdido, muchas reliquias de buena y santa dotrina: y de todas las artes y ciencias liberales: de las quales naciones, deprendiendo los Griegos todo esto, por el discurso de tiempo (porque muchos deles, como Solon, Licurgo, Archita y Platon passaron en aquellas partes), y ornandolo, y poliendolo con artificiosas palabras, y añadienno algun poco de su casa, lo vienderon al mundo por suyo.
Explicitamente, Haedo denuncia aqui que o conhecimento grego (nomeadamente de Solon e Platão) teria bebido directamente de fontes primevas, e não reportava devidamente essa origem antiga.
Não é muito diferente do que sugerimos num texto anterior (Teogonias-3), porém aí era colocado o centro dos dois pólos na babilónia/caldeia... e de facto, a deslocação do centro de influência para a egípcia Heliópolis faz mais sentido, já que são conhecidas as boas relações greco-egípcias, e nem será surpresa que os gregos tenham sido herdeiros do conhecimento egípcio, já que a mistura que ocorre com a dinastia Ptolomaica trata como gregos uma multiplicidade de legados egípcios, e por exemplo Eratóstenes, Euclides, Ptolomeu, são tidos como gregos, bem como a generalidade do conhecimento vindo da egípcia Alexandria. A razão disto está muito ligada aos textos serem escritos em grego e que, com a mesma ligeireza, assumir-se-ia que todo o conhecimento actual, escrito em inglês, seria de origem americana ou inglesa.

Sete, Seti, Seth
Na Enéade divina de Heliópolis é natural que Seth fosse considerado o sétimo deus, depois dos cinco primeiros deuses cósmicos, a que se seguia a primeira geração: Isis, Seth e Osiris, e depois Horus.
Reparamos na ligação da apresentação de Isis alada e no estandarte aqueménida de Ciro:
 

As asas de Isis voam para o pavilhão aqueménida, com o detalhe suplementar de termos ao invés de Isis, um falcão, o símbolo de Hórus, seu filho. A relação entre Isis e Hórus surge ainda como mais uma manifestação de maternidade apropriada para o postal sobre o Puto de Vénus
Isis e Hórus, aqui a ligação maternal

Na mitologia ibérica de Tubal faz-se referência a reis Osiris-Júpiter e Hórus-Hércules Líbico.
Estes personagens seriam reis do Egipto que empreendem uma questa imperial contra a tirania, chegando à Ibéria para expulsar o tirano Gerião e os filhos Lomínios. Na versão ibérica Osíris mata Gerião, mas acaba morto pelos Lomínios e é vingado pelo filho Hórus. Na versão egípcia, Osíris é morto pelo irmão Seth, mas há também vingança do filho Hórus que, com ajuda da mãe Isis, acaba por destronar o tio Seth.

Se atendermos a que na Enéade egípcia o papel de Deus criador é desempenhado por Atum-Rá, a luta entre Osiris e Seth, filhos de Geb (deus da Terra, associado à Serpente), toma aspectos da rivalidade entre Abel e Caim, no sentido em que também Abel, o preferido, é morto por Caim.
Curiosamente, o terceiro filho de Adão, toma o nome Seth... e será deste Seth que surge a sucessão hebraica. Assim, o nome Seth aparece ligado ao mito hebraico pelo lado "bom", e ao mito egípcio pelo lado "mau". Não será tanto assim, já que o mesmo Seth é identificado a Tot, enquanto filho ou enquanto sua manifestação. Ora, acaba por ser Tot/Seth que tornará vivo o morto Osíris, e curará as feridas de Hórus, que substitui o Olho esquerdo (lunar) perdido no combate com Seth por uma serpente no chapéu (que seria usada pelos faraós). Como detalhe adicional esse olho de Hórus, estaria ligado a aplicações médicas...

 
Seguindo uma notável observação na Wikipedia, a ligação do olho de Hórus à
Medicina era representada pelo grafismo do R (semelhante a parte do olho),
mas deveria ser cortado... lê-se RX e fala-se só em conexões ao símbolo de Júpiter?

Pergunto - por que não reparar que a conexão directa da abreviatura "RX", para o olho de Hórus, é exactamente a abreviatura de "Raios X" ??
A escolha de um falcão como símbolo de Hórus, ao invés de uma habitual águia, à semelhança do que fará depois o imperador Ciro, é algo que merece alguma reflexão. Há algumas diferenças, no que diz respeito à velocidade, mas parece claro que é a acutilância da visão do falcão que marca a escolha de Hórus.
A "prenda" de Tot (também associado a Hermes) é literalmente uma visão RX. É natural que o significado RX seja uma "graça" do misticismo moderno, mas o ocultismo caminha lado a lado com a ocultação, a ocultação do conhecimento passado...

As colunas
Aparentemente estavam duas colunas em Heliopolis, e um site interessante, com ligações sobre este assunto encontra-se neste link... em particular apresenta um modelo do que teria sido Heliopolis:
Obeliscos em Heliopolis - modelo no Brooklyn Museum (NY)

O mesmo site apresenta uma "bizarra" ligação a Saturno... fantasmas pavlovianos, com  uma "ligação a Satan". É sempre engraçado ver coisas destas, ao mesmo tempo que deveriam saber que "Saturday", o dia de Saturno, é também Sabbath, o dia de Deus judaico. Mas aqui é ainda mais engraçado, pois a ligação a Saturno é feita pelo Sol... e "Sunday", o dia do Sol, é o dia de Deus cristão. 
Quando se vê o Sol, ou a luz, como algo mau... só pode corresponder a quem vê nas trevas algo bom para si!

A existência de duas colunas em Heliópolis, na "Siriad" egípcia... provavelmente uma cópia da original síria, com importação de monumentos, leva-nos assim às afirmações de Josefo e Haedo, sobre as colunas de Seth, onde se liga a coluna do Vaticano.
Curiosamente, foi-me agora indicado um texto maçon que dá conta das duas colunas, com o conhecimento pré-diluviano, que teriam sido descobertas por Hermes (filósofo) e Pitágoras (matemático):
No antigo manuscrito maçônico Cooke, (cerca de 1.400) da Biblioteca Britânica, lê-se nos parágrafos 281-326 que toda a sabedoria antediluviana foi escrita em duas grandes colunas. Depois do dilúvio de Noé, uma delas foi descoberta por Pitágoras, a outra por Hermes, o Filósofo, que se dedicaram a ensinar os textos ali gravados. Isto se encontra em perfeita concordância com o testemunhado por uma lenda egípcia, da qual já dava conta Manethon, segundo o mesmo Cooke, vinculada também com Hermes. 
É óbvio que essas colunas, ou obeliscos, semelhantes aos pilares J. e B., são as que sustentam o templo maçônico e, ao mesmo tempo, permitem o acesso ao mesmo e configuram os dois grandes afluentes sapienciais que nutrirão a Ordem: o hermetismo, que assegurará o amparo do deus através da Filosofia, quer dizer do Conhecimento, e o pitagorismo, que dará os elementos aritméticos e geométricos necessários, que reclama o simbolismo construtivo; deve-se considerar que ambas as correntes são direta ou indiretamente de origem egípcia. Igualmente que essas duas colunas, são as pernas da Mãe loja, pelas quais é parido o Neófito, quer dizer pela sabedoria de Hermes, o grande iniciador, e por Pitágoras, o instrutor gnóstico.  
in TRADIÇÃO HERMÉTICA E MAÇONARIA (1) de FEDERICO GONZALEZ
 (link cafc)

É claro que se sabe que a tradição maçónica é hermética... algo que contradiz a figura de Hermes, afinal o deus mensageiro. Felizmente este texto de Gonzalez parece seguir na direcção mais mensageira e menos hermética! 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 04:30

Obelisco de 7

22.04.12
No centro da Praça de São Pedro, no Vaticano... bem à vista de todos os olhares do mundo, ergue-se um obelisco. A história do obelisco é relacionada com os cristãos, no sentido em que Tácito associou a sua presença no meio do Circo de Nero, onde cristãos teriam sido executados (incluindo S. Pedro). Não havendo erro Tácito (suspeitas de autenticidade começadas por Voltaire), esta seria a razão da colocação de um antigo monumento pagão no meio do centro cristão... foi aliás algo complicado, já que a deslocação do obelisco em Roma envolveu grandes meios, conforme ilustra a imagem (em baixo, à direita):
 
Obelisco do Vaticano, após a sua deslocação em 1586 (imagem à direita)

O obelisco encontra-se limpo de inscrições hieroglíficas (restam inscrições de imperadores romanos), mas não estava assim à altura do seu transporte... Quem organizou o transporte, Domenico Fontana, a mando do Papa Sisto V, deixou ainda uma descrição do que estava inscrito no obelisco:
Desenho do obelisco do Vaticano no livro de Fontana, aquando da deslocação
Pilar de Seth
Há obeliscos egípcios em diversas capitais mundiais - Washington, Londres, Paris, Roma (ver Agulhas de Cleopatra)... mas no caso do Vaticano, a lembrança de ser egípcio foi completamente apagada. 
É compreensível isso, dado o contexto cristão, mas ao mesmo tempo encontramos um texto de Diego Haedo (Topografia e Historia Geral de Argel, 1608), que se baseia numa descrição de Flávio Josefo nas Antiguidades Judaicas (Séc. I):
And that their inventions might not be lost before they were sufficiently known, upon Adam's prediction that the world was to be destroyed at one time by the force of fire, and at another time by the violence and quantity of water, they made two pillars, 19 the one of brick, the other of stone: they inscribed their discoveries on them both, that in case the pillar of brick should be destroyed by the flood, the pillar of stone might remain, and exhibit those discoveries to mankind; and also inform them that there was another pillar of brick erected by them. Now this remains in the land of Siriad to this day.
Esta descrição de Josefo é sobre Seth, e a partir desse momento falou-se dos Pilares de Seth, onde estaria inscrito um legado escrito do filho de Adão e seus descendentes. Quando Josefo diz que o pilar de pedra se mantinha até aos seus dias na "terra de Siriad", geram-se várias confusões. Primeiro, a céptica, dos que gostem de observar uma contradição "entre o pilar ter resistido e ser visível após o dilúvio", depois a geográfica, já que "Siriad" confunde Egipto e Síria. As dúvidas de resistência do pilar ao dilúvio, parecem algo ridículas (após o recúo das águas, seria possível tentar reencontrar o pilar e reergue-lo), já que normalmente provêm de quem também considera que o dilúvio não foi mais que uma cheia de um rio porque na Bíblia se fala num aumento de água de apenas 15 cúbitos (menos de 7 metros)... que cobria todos os montes.

Já a confusão geográfica sobre a Síria, ou Siriad, é interessante pois adiciona-se à existência dos templos de Heliopolis - havia a Heliopolis de Baalbek (Síria/Líbano) e a Heliopolis egípcia, curiosamente associada a um pilar do faraó Sesostris I, ou Senusret, que tem sido associado a Seti I e o liga directamente ao deus Set

 
Pilar de Set I ou Sesostris (Heliopolis, Egipto... actual e no Séc. XIX)

É provável que Josefo se referisse a este obelisco, enquanto o Pilar de Seth, filho de Adão. No entanto, convém dizer que o Obelisco do Vaticano terá também como origem a mesma Heliopolis (egípcia)...
Pode conjecturar-se que Josefo mencionava o Obelisco do Vaticano, ainda que o seu deslocamento para Roma seja contemporâneo a Josefo, e nada de concreto aponte nesse sentido... excepto que seria o mais importante obelisco a deslocar para o centro do Vaticano, a acreditar na sua mítica origem em Seth ou Adão.

O que diz Haedo?
Nuestro sapientissimo padre Adan (como Iosepho autor gravissimo dexó escrito) viendo que sus nietos y descendientes (que ya eran multiplicados en gran numero) començavam apartar-se del conocimiento verdadero, y fiel servicio de Dios, que el les enseñara ansi, como de Dios fuera enseñado: y temideo como hombre tan prudente, que siendo los pensamientos, y sentidos de los hõbres tan inclinados al mal, por discurso de algun tiempo, entre ellos se acabasse de perder todo el conocimiento de Dios: acordo de hazer como hizo, para remediar este mal, dos muy grandes, y muy altas colunas: una de ladrillo, y otra de piedra marmol rezio. De manera que el tiempo consumidor de todas cosas, o nunca o tarde las consumirsse: y en ellas de su mano entallo, y escrivio la doctrina de la Fé, y conocimiento de Dios, y la manera de su culto, y veneracion, conque de los hombres avia de ser honrado e venerado: y el mysterio de la venida del Messias: y juntamente muchas otras cosas de philosofia, astrologia, movimiento de los ciclos, curso de los planetas, y durasiõ de los tiempos y meses del año.
Y estas dos colunas ansi escritas, y entalladas (dize) que las puso en alto, para que todos las mirassen, y como eh unos libros pudiessen todos ler en ellas: de manera que fuesse (como el otro dezia de los libros) unos mudos, maestros q sin estruendo de bozes, advirtissen a los hõbres lo que devian de crer, y hazer en todo tiempo, y hedad: de manera que podemos dezir y afirmar con razon, que fueron estos los primeros libros de mundo; porq importa poco fuessen de piedra, y bronze, o de cortezas de Arboles y hojas, o de pergamino y papel, como despues por discurso de tiempo acostumbraron hazer los hombres.
(...)
... ou seja, citando Josefo, vai um pouco mais longe e diz que o "livro" escrito sob forma de pilar remontaria directamente a Adão, e preveria directamente a vinda do Messias, para além de conter considerações filosóficas e astronómicas. Juntar-se-ia a prática e conversação dos Santos Patriarcas, que por linha e sucessão directa herdaram de Adão e do terceiro filho Seth, listando depois Noé, Sem, Arphaxat, Chaynã, Sala, Heber, Ragau, Saruch, Nachor, Thare, Abraão, Isaac, Jacob e seus filhos.
(...) porque muchos tiempos, y por muchas edades se conservo el conocimiento de Dios en el mundo y q entre muchas naciones de Oriente, como Assírios, Chaldeos, Arabios, Egypcios, y otrostales quedasen despues perdido, muchas reliquias de buena y santa dotrina: y de todas las artes y ciencias liberales: de las quales naciones, deprendiendo los Griegos todo esto, por el discurso de tiempo (porque muchos deles, como Solon, Licurgo, Archita y Platon passaron en aquellas partes), y ornandolo, y poliendolo con artificiosas palabras, y añadienno algun poco de su casa, lo vienderon al mundo por suyo.
Explicitamente, Haedo denuncia aqui que o conhecimento grego (nomeadamente de Solon e Platão) teria bebido directamente de fontes primevas, e não reportava devidamente essa origem antiga.
Não é muito diferente do que sugerimos num texto anterior (Teogonias-3), porém aí era colocado o centro dos dois pólos na babilónia/caldeia... e de facto, a deslocação do centro de influência para a egípcia Heliópolis faz mais sentido, já que são conhecidas as boas relações greco-egípcias, e nem será surpresa que os gregos tenham sido herdeiros do conhecimento egípcio, já que a mistura que ocorre com a dinastia Ptolomaica trata como gregos uma multiplicidade de legados egípcios, e por exemplo Eratóstenes, Euclides, Ptolomeu, são tidos como gregos, bem como a generalidade do conhecimento vindo da egípcia Alexandria. A razão disto está muito ligada aos textos serem escritos em grego e que, com a mesma ligeireza, assumir-se-ia que todo o conhecimento actual, escrito em inglês, seria de origem americana ou inglesa.

Sete, Seti, Seth
Na Enéade divina de Heliópolis é natural que Seth fosse considerado o sétimo deus, depois dos cinco primeiros deuses cósmicos, a que se seguia a primeira geração: Isis, Seth e Osiris, e depois Horus.
Reparamos na ligação da apresentação de Isis alada e no estandarte aqueménida de Ciro:
 

As asas de Isis voam para o pavilhão aqueménida, com o detalhe suplementar de termos ao invés de Isis, um falcão, o símbolo de Hórus, seu filho. A relação entre Isis e Hórus surge ainda como mais uma manifestação de maternidade apropriada para o postal sobre o Puto de Vénus
Isis e Hórus, aqui a ligação maternal

Na mitologia ibérica de Tubal faz-se referência a reis Osiris-Júpiter e Hórus-Hércules Líbico.
Estes personagens seriam reis do Egipto que empreendem uma questa imperial contra a tirania, chegando à Ibéria para expulsar o tirano Gerião e os filhos Lomínios. Na versão ibérica Osíris mata Gerião, mas acaba morto pelos Lomínios e é vingado pelo filho Hórus. Na versão egípcia, Osíris é morto pelo irmão Seth, mas há também vingança do filho Hórus que, com ajuda da mãe Isis, acaba por destronar o tio Seth.

Se atendermos a que na Enéade egípcia o papel de Deus criador é desempenhado por Atum-Rá, a luta entre Osiris e Seth, filhos de Geb (deus da Terra, associado à Serpente), toma aspectos da rivalidade entre Abel e Caim, no sentido em que também Abel, o preferido, é morto por Caim.
Curiosamente, o terceiro filho de Adão, toma o nome Seth... e será deste Seth que surge a sucessão hebraica. Assim, o nome Seth aparece ligado ao mito hebraico pelo lado "bom", e ao mito egípcio pelo lado "mau". Não será tanto assim, já que o mesmo Seth é identificado a Tot, enquanto filho ou enquanto sua manifestação. Ora, acaba por ser Tot/Seth que tornará vivo o morto Osíris, e curará as feridas de Hórus, que substitui o Olho esquerdo (lunar) perdido no combate com Seth por uma serpente no chapéu (que seria usada pelos faraós). Como detalhe adicional esse olho de Hórus, estaria ligado a aplicações médicas...

 
Seguindo uma notável observação na Wikipedia, a ligação do olho de Hórus à
Medicina era representada pelo grafismo do R (semelhante a parte do olho),
mas deveria ser cortado... lê-se RX e fala-se só em conexões ao símbolo de Júpiter?

Pergunto - por que não reparar que a conexão directa da abreviatura "RX", para o olho de Hórus, é exactamente a abreviatura de "Raios X" ??
A escolha de um falcão como símbolo de Hórus, ao invés de uma habitual águia, à semelhança do que fará depois o imperador Ciro, é algo que merece alguma reflexão. Há algumas diferenças, no que diz respeito à velocidade, mas parece claro que é a acutilância da visão do falcão que marca a escolha de Hórus.
A "prenda" de Tot (também associado a Hermes) é literalmente uma visão RX. É natural que o significado RX seja uma "graça" do misticismo moderno, mas o ocultismo caminha lado a lado com a ocultação, a ocultação do conhecimento passado...

As colunas
Aparentemente estavam duas colunas em Heliopolis, e um site interessante, com ligações sobre este assunto encontra-se neste link... em particular apresenta um modelo do que teria sido Heliopolis:
Obeliscos em Heliopolis - modelo no Brooklyn Museum (NY)

O mesmo site apresenta uma "bizarra" ligação a Saturno... fantasmas pavlovianos, com  uma "ligação a Satan". É sempre engraçado ver coisas destas, ao mesmo tempo que deveriam saber que "Saturday", o dia de Saturno, é também Sabbath, o dia de Deus judaico. Mas aqui é ainda mais engraçado, pois a ligação a Saturno é feita pelo Sol... e "Sunday", o dia do Sol, é o dia de Deus cristão. 
Quando se vê o Sol, ou a luz, como algo mau... só pode corresponder a quem vê nas trevas algo bom para si!

A existência de duas colunas em Heliópolis, na "Siriad" egípcia... provavelmente uma cópia da original síria, com importação de monumentos, leva-nos assim às afirmações de Josefo e Haedo, sobre as colunas de Seth, onde se liga a coluna do Vaticano.
Curiosamente, foi-me agora indicado um texto maçon que dá conta das duas colunas, com o conhecimento pré-diluviano, que teriam sido descobertas por Hermes (filósofo) e Pitágoras (matemático):
No antigo manuscrito maçônico Cooke, (cerca de 1.400) da Biblioteca Britânica, lê-se nos parágrafos 281-326 que toda a sabedoria antediluviana foi escrita em duas grandes colunas. Depois do dilúvio de Noé, uma delas foi descoberta por Pitágoras, a outra por Hermes, o Filósofo, que se dedicaram a ensinar os textos ali gravados. Isto se encontra em perfeita concordância com o testemunhado por uma lenda egípcia, da qual já dava conta Manethon, segundo o mesmo Cooke, vinculada também com Hermes. 
É óbvio que essas colunas, ou obeliscos, semelhantes aos pilares J. e B., são as que sustentam o templo maçônico e, ao mesmo tempo, permitem o acesso ao mesmo e configuram os dois grandes afluentes sapienciais que nutrirão a Ordem: o hermetismo, que assegurará o amparo do deus através da Filosofia, quer dizer do Conhecimento, e o pitagorismo, que dará os elementos aritméticos e geométricos necessários, que reclama o simbolismo construtivo; deve-se considerar que ambas as correntes são direta ou indiretamente de origem egípcia. Igualmente que essas duas colunas, são as pernas da Mãe loja, pelas quais é parido o Neófito, quer dizer pela sabedoria de Hermes, o grande iniciador, e por Pitágoras, o instrutor gnóstico.  
in TRADIÇÃO HERMÉTICA E MAÇONARIA (1) de FEDERICO GONZALEZ
 (link cafc)

É claro que se sabe que a tradição maçónica é hermética... algo que contradiz a figura de Hermes, afinal o deus mensageiro. Felizmente este texto de Gonzalez parece seguir na direcção mais mensageira e menos hermética! 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 04:30

Obelisco de 7

21.04.12
No centro da Praça de São Pedro, no Vaticano... bem à vista de todos os olhares do mundo, ergue-se um obelisco. A história do obelisco é relacionada com os cristãos, no sentido em que Tácito associou a sua presença no meio do Circo de Nero, onde cristãos teriam sido executados (incluindo S. Pedro). Não havendo erro Tácito (suspeitas de autenticidade começadas por Voltaire), esta seria a razão da colocação de um antigo monumento pagão no meio do centro cristão... foi aliás algo complicado, já que a deslocação do obelisco em Roma envolveu grandes meios, conforme ilustra a imagem (em baixo, à direita):
 
Obelisco do Vaticano, após a sua deslocação em 1586 (imagem à direita)

O obelisco encontra-se limpo de inscrições hieroglíficas (restam inscrições de imperadores romanos), mas não estava assim à altura do seu transporte... Quem organizou o transporte, Domenico Fontana, a mando do Papa Sisto V, deixou ainda uma descrição do que estava inscrito no obelisco:
Desenho do obelisco do Vaticano no livro de Fontana, aquando da deslocação
Pilar de Seth
Há obeliscos egípcios em diversas capitais mundiais - Washington, Londres, Paris, Roma (ver Agulhas de Cleopatra)... mas no caso do Vaticano, a lembrança de ser egípcio foi completamente apagada. 
É compreensível isso, dado o contexto cristão, mas ao mesmo tempo encontramos um texto de Diego Haedo (Topografia e Historia Geral de Argel, 1608), que se baseia numa descrição de Flávio Josefo nas Antiguidades Judaicas (Séc. I):
And that their inventions might not be lost before they were sufficiently known, upon Adam's prediction that the world was to be destroyed at one time by the force of fire, and at another time by the violence and quantity of water, they made two pillars, 19 the one of brick, the other of stone: they inscribed their discoveries on them both, that in case the pillar of brick should be destroyed by the flood, the pillar of stone might remain, and exhibit those discoveries to mankind; and also inform them that there was another pillar of brick erected by them. Now this remains in the land of Siriad to this day.
Esta descrição de Josefo é sobre Seth, e a partir desse momento falou-se dos Pilares de Seth, onde estaria inscrito um legado escrito do filho de Adão e seus descendentes. Quando Josefo diz que o pilar de pedra se mantinha até aos seus dias na "terra de Siriad", geram-se várias confusões. Primeiro, a céptica, dos que gostem de observar uma contradição "entre o pilar ter resistido e ser visível após o dilúvio", depois a geográfica, já que "Siriad" confunde Egipto e Síria. As dúvidas de resistência do pilar ao dilúvio, parecem algo ridículas (após o recúo das águas, seria possível tentar reencontrar o pilar e reergue-lo), já que normalmente provêm de quem também considera que o dilúvio não foi mais que uma cheia de um rio porque na Bíblia se fala num aumento de água de apenas 15 cúbitos (menos de 7 metros)... que cobria todos os montes.

Já a confusão geográfica sobre a Síria, ou Siriad, é interessante pois adiciona-se à existência dos templos de Heliopolis - havia a Heliopolis de Baalbek (Síria/Líbano) e a Heliopolis egípcia, curiosamente associada a um pilar do faraó Sesostris I, ou Senusret, que tem sido associado a Seti I e o liga directamente ao deus Set

 
Pilar de Set I ou Sesostris (Heliopolis, Egipto... actual e no Séc. XIX)

É provável que Josefo se referisse a este obelisco, enquanto o Pilar de Seth, filho de Adão. No entanto, convém dizer que o Obelisco do Vaticano terá também como origem a mesma Heliopolis (egípcia)...
Pode conjecturar-se que Josefo mencionava o Obelisco do Vaticano, ainda que o seu deslocamento para Roma seja contemporâneo a Josefo, e nada de concreto aponte nesse sentido... excepto que seria o mais importante obelisco a deslocar para o centro do Vaticano, a acreditar na sua mítica origem em Seth ou Adão.

O que diz Haedo?
Nuestro sapientissimo padre Adan (como Iosepho autor gravissimo dexó escrito) viendo que sus nietos y descendientes (que ya eran multiplicados en gran numero) començavam apartar-se del conocimiento verdadero, y fiel servicio de Dios, que el les enseñara ansi, como de Dios fuera enseñado: y temideo como hombre tan prudente, que siendo los pensamientos, y sentidos de los hõbres tan inclinados al mal, por discurso de algun tiempo, entre ellos se acabasse de perder todo el conocimiento de Dios: acordo de hazer como hizo, para remediar este mal, dos muy grandes, y muy altas colunas: una de ladrillo, y otra de piedra marmol rezio. De manera que el tiempo consumidor de todas cosas, o nunca o tarde las consumirsse: y en ellas de su mano entallo, y escrivio la doctrina de la Fé, y conocimiento de Dios, y la manera de su culto, y veneracion, conque de los hombres avia de ser honrado e venerado: y el mysterio de la venida del Messias: y juntamente muchas otras cosas de philosofia, astrologia, movimiento de los ciclos, curso de los planetas, y durasiõ de los tiempos y meses del año.
Y estas dos colunas ansi escritas, y entalladas (dize) que las puso en alto, para que todos las mirassen, y como eh unos libros pudiessen todos ler en ellas: de manera que fuesse (como el otro dezia de los libros) unos mudos, maestros q sin estruendo de bozes, advirtissen a los hõbres lo que devian de crer, y hazer en todo tiempo, y hedad: de manera que podemos dezir y afirmar con razon, que fueron estos los primeros libros de mundo; porq importa poco fuessen de piedra, y bronze, o de cortezas de Arboles y hojas, o de pergamino y papel, como despues por discurso de tiempo acostumbraron hazer los hombres.
(...)
... ou seja, citando Josefo, vai um pouco mais longe e diz que o "livro" escrito sob forma de pilar remontaria directamente a Adão, e preveria directamente a vinda do Messias, para além de conter considerações filosóficas e astronómicas. Juntar-se-ia a prática e conversação dos Santos Patriarcas, que por linha e sucessão directa herdaram de Adão e do terceiro filho Seth, listando depois Noé, Sem, Arphaxat, Chaynã, Sala, Heber, Ragau, Saruch, Nachor, Thare, Abraão, Isaac, Jacob e seus filhos.
(...) porque muchos tiempos, y por muchas edades se conservo el conocimiento de Dios en el mundo y q entre muchas naciones de Oriente, como Assírios, Chaldeos, Arabios, Egypcios, y otrostales quedasen despues perdido, muchas reliquias de buena y santa dotrina: y de todas las artes y ciencias liberales: de las quales naciones, deprendiendo los Griegos todo esto, por el discurso de tiempo (porque muchos deles, como Solon, Licurgo, Archita y Platon passaron en aquellas partes), y ornandolo, y poliendolo con artificiosas palabras, y añadienno algun poco de su casa, lo vienderon al mundo por suyo.
Explicitamente, Haedo denuncia aqui que o conhecimento grego (nomeadamente de Solon e Platão) teria bebido directamente de fontes primevas, e não reportava devidamente essa origem antiga.
Não é muito diferente do que sugerimos num texto anterior (Teogonias-3), porém aí era colocado o centro dos dois pólos na babilónia/caldeia... e de facto, a deslocação do centro de influência para a egípcia Heliópolis faz mais sentido, já que são conhecidas as boas relações greco-egípcias, e nem será surpresa que os gregos tenham sido herdeiros do conhecimento egípcio, já que a mistura que ocorre com a dinastia Ptolomaica trata como gregos uma multiplicidade de legados egípcios, e por exemplo Eratóstenes, Euclides, Ptolomeu, são tidos como gregos, bem como a generalidade do conhecimento vindo da egípcia Alexandria. A razão disto está muito ligada aos textos serem escritos em grego e que, com a mesma ligeireza, assumir-se-ia que todo o conhecimento actual, escrito em inglês, seria de origem americana ou inglesa.

Sete, Seti, Seth
Na Enéade divina de Heliópolis é natural que Seth fosse considerado o sétimo deus, depois dos cinco primeiros deuses cósmicos, a que se seguia a primeira geração: Isis, Seth e Osiris, e depois Horus.
Reparamos na ligação da apresentação de Isis alada e no estandarte aqueménida de Ciro:
 

As asas de Isis voam para o pavilhão aqueménida, com o detalhe suplementar de termos ao invés de Isis, um falcão, o símbolo de Hórus, seu filho. A relação entre Isis e Hórus surge ainda como mais uma manifestação de maternidade apropriada para o postal sobre o Puto de Vénus
Isis e Hórus, aqui a ligação maternal

Na mitologia ibérica de Tubal faz-se referência a reis Osiris-Júpiter e Hórus-Hércules Líbico.
Estes personagens seriam reis do Egipto que empreendem uma questa imperial contra a tirania, chegando à Ibéria para expulsar o tirano Gerião e os filhos Lomínios. Na versão ibérica Osíris mata Gerião, mas acaba morto pelos Lomínios e é vingado pelo filho Hórus. Na versão egípcia, Osíris é morto pelo irmão Seth, mas há também vingança do filho Hórus que, com ajuda da mãe Isis, acaba por destronar o tio Seth.

Se atendermos a que na Enéade egípcia o papel de Deus criador é desempenhado por Atum-Rá, a luta entre Osiris e Seth, filhos de Geb (deus da Terra, associado à Serpente), toma aspectos da rivalidade entre Abel e Caim, no sentido em que também Abel, o preferido, é morto por Caim.
Curiosamente, o terceiro filho de Adão, toma o nome Seth... e será deste Seth que surge a sucessão hebraica. Assim, o nome Seth aparece ligado ao mito hebraico pelo lado "bom", e ao mito egípcio pelo lado "mau". Não será tanto assim, já que o mesmo Seth é identificado a Tot, enquanto filho ou enquanto sua manifestação. Ora, acaba por ser Tot/Seth que tornará vivo o morto Osíris, e curará as feridas de Hórus, que substitui o Olho esquerdo (lunar) perdido no combate com Seth por uma serpente no chapéu (que seria usada pelos faraós). Como detalhe adicional esse olho de Hórus, estaria ligado a aplicações médicas...

 
Seguindo uma notável observação na Wikipedia, a ligação do olho de Hórus à
Medicina era representada pelo grafismo do R (semelhante a parte do olho),
mas deveria ser cortado... lê-se RX e fala-se só em conexões ao símbolo de Júpiter?

Pergunto - por que não reparar que a conexão directa da abreviatura "RX", para o olho de Hórus, é exactamente a abreviatura de "Raios X" ??
A escolha de um falcão como símbolo de Hórus, ao invés de uma habitual águia, à semelhança do que fará depois o imperador Ciro, é algo que merece alguma reflexão. Há algumas diferenças, no que diz respeito à velocidade, mas parece claro que é a acutilância da visão do falcão que marca a escolha de Hórus.
A "prenda" de Tot (também associado a Hermes) é literalmente uma visão RX. É natural que o significado RX seja uma "graça" do misticismo moderno, mas o ocultismo caminha lado a lado com a ocultação, a ocultação do conhecimento passado...

As colunas
Aparentemente estavam duas colunas em Heliopolis, e um site interessante, com ligações sobre este assunto encontra-se neste link... em particular apresenta um modelo do que teria sido Heliopolis:
Obeliscos em Heliopolis - modelo no Brooklyn Museum (NY)

O mesmo site apresenta uma "bizarra" ligação a Saturno... fantasmas pavlovianos, com  uma "ligação a Satan". É sempre engraçado ver coisas destas, ao mesmo tempo que deveriam saber que "Saturday", o dia de Saturno, é também Sabbath, o dia de Deus judaico. Mas aqui é ainda mais engraçado, pois a ligação a Saturno é feita pelo Sol... e "Sunday", o dia do Sol, é o dia de Deus cristão. 
Quando se vê o Sol, ou a luz, como algo mau... só pode corresponder a quem vê nas trevas algo bom para si!

A existência de duas colunas em Heliópolis, na "Siriad" egípcia... provavelmente uma cópia da original síria, com importação de monumentos, leva-nos assim às afirmações de Josefo e Haedo, sobre as colunas de Seth, onde se liga a coluna do Vaticano.
Curiosamente, foi-me agora indicado um texto maçon que dá conta das duas colunas, com o conhecimento pré-diluviano, que teriam sido descobertas por Hermes (filósofo) e Pitágoras (matemático):
No antigo manuscrito maçônico Cooke, (cerca de 1.400) da Biblioteca Britânica, lê-se nos parágrafos 281-326 que toda a sabedoria antediluviana foi escrita em duas grandes colunas. Depois do dilúvio de Noé, uma delas foi descoberta por Pitágoras, a outra por Hermes, o Filósofo, que se dedicaram a ensinar os textos ali gravados. Isto se encontra em perfeita concordância com o testemunhado por uma lenda egípcia, da qual já dava conta Manethon, segundo o mesmo Cooke, vinculada também com Hermes. 
É óbvio que essas colunas, ou obeliscos, semelhantes aos pilares J. e B., são as que sustentam o templo maçônico e, ao mesmo tempo, permitem o acesso ao mesmo e configuram os dois grandes afluentes sapienciais que nutrirão a Ordem: o hermetismo, que assegurará o amparo do deus através da Filosofia, quer dizer do Conhecimento, e o pitagorismo, que dará os elementos aritméticos e geométricos necessários, que reclama o simbolismo construtivo; deve-se considerar que ambas as correntes são direta ou indiretamente de origem egípcia. Igualmente que essas duas colunas, são as pernas da Mãe loja, pelas quais é parido o Neófito, quer dizer pela sabedoria de Hermes, o grande iniciador, e por Pitágoras, o instrutor gnóstico.  
in TRADIÇÃO HERMÉTICA E MAÇONARIA (1) de FEDERICO GONZALEZ
 (link cafc)

É claro que se sabe que a tradição maçónica é hermética... algo que contradiz a figura de Hermes, afinal o deus mensageiro. Felizmente este texto de Gonzalez parece seguir na direcção mais mensageira e menos hermética! 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 20:30

Recuperamos um mapa do Cáucaso aqui colocado há uns meses:

Quando o fizemos, referimos o relato de António Galvão sobre a vinda de Túbal, neto de Noé, do Cáucaso para a península Ibérica, onde constaria ter fundado Setúbal. Essa descrição tem alguma consistência pela primeira habitação da zona do Monte Ararat após o dilúvio, e constituição de Saga Albina, a primeira cidade.
Muito provavelmente essa Saga Albina, seria na Albania... do Cáucaso, junto ao Mar Cáspio.
Falámos então da confusão entre a Iberia e Albania enquanto províncias caucasianas, que foram ao mesmo tempo localizadas como regiões europeias, muito maiores, pelos gregos. Em particular, a Iberia tanto pode referir-se à caucasiana como à hispânica.
Faltará Colchis, transcrita Cólquida... mas que na transcrição também se lê colchis, como colcha. Talvez colcha venha do francês antigo, por via de culche, mas os franceses não usam a palavra, nem têm a tradição de muitas gerações, como temos em Arraiolos. É apenas um detalhe...

Já mencionámos várias vezes que um nível do mar superior alteraria profundamente a geografia... mas vejamos como, citando Estrabão (Strabo, Geography):
As we pass from Europe to Asia in our geography, the northern division is the first of the two divisions to which we come; and therefore we must begin with this. Of this division the first portion is that in the region of the Tanaïs River, which I have taken as the boundary between Europe and Asia. This portion forms, in a way, a peninsula, for it is surrounded on the west by the Tanaïs River and Lake Maeotis as far as the Bosporus and that part of the coast of the Euxine Sea which terminates at Colchis; and then on the north by the Ocean as far as the mouth of the Caspian Sea; and then on the east by this same sea as far as the boundary between Albania and Armenia, where empty the rivers Cyrus and Araxes, the Araxes flowing through Armenia and the Cyrus through Iberia and Albania; and lastly, on the south by the tract of country which extends from the outlet of the Cyrus River to Colchis, which is about three thousand stadia from sea to sea, across the territory of the Albanians and the Iberians, and therefore is described as an isthmus. But those writers who have reduced the width of the isthmus as much as Cleitarchus has, who says that it is subject to inundation from either sea, should not be considered even worthy of mention. Poseidonius states that the isthmus is fifteen hundred stadia across, as wide as the isthmus from Pelusium to the Red Sea. "And in my opinion," he says, "the isthmus from Lake Maeotis to the Ocean does not differ much therefrom."
A citação é grande, porque tem várias informações.
A divisão entre a Ásia e a Europa era considerada compreendendo uma península... e isso só pode ser compreendido através daquilo que seria o Rio Tanais, hoje identificado ao Rio Don. Se entendermos que o mundo manteve sempre o mesmo aspecto nos últimos milhares de anos, e que as diferenças só ocorreram em termos de milhões de anos, o relato dos geógrafos antigos será sempre fantasioso.
Recuperamos um mapa anterior, a propósito da viagem de Jasão

Este mapa é apenas ilustrativo de um nível marítimo superior. Porém, desta forma haveria uma eventual ligação entre o Mar Negro e o Oceano Setentrional, feito através de uma estreita passagem... que seria então denominada Rio Tanais. O progressivo assoreamento fez desaparecer essa passagem, haverá talvez alguma associação entre registos arqueológicos interiores e o curso dessa passagem.
Por outro lado, a célebre Lagoa Meotis tanto se poderia referir inicialmente ao grande lago interno que deveria estar localizado nas planícies húngaras, como poderia depois ser identificado a um grande lago próximo do Mar de Azov (com que é hoje identificado), formado pelo assoreamento e descida das águas.

Estes detalhes são secundários, face à informação suplementar:
- o território dos Albaneses e Iberos era descrito como um istmo!
Este istmo tinha de um lado o Mar Negro e do outro o Mar Cáspio... como o Mar Negro fechou primeiro do que o Cáspio, isto terá parecido estranho.
Aliás Estrabão já duvidava das descrições do tempo de Cleitarco (séc. IV a.C) que falavam de inundações que colocavam os mares Negro e Cáspio em contacto, e porém já vimos que isso seria possível, em tempos anteriores aos romanos, pela subida de águas.

Por outro lado, encontra-se como origem do nome Mar Negro uma profunda mudança nas suas características... ou seja, de um mar vai passar quase a um lago, e esse "negro" foi associado a uma quebra de movimento das suas águas, que passaram a ser entendidas pelos moradores como quase mortas. Dito de outra forma, o fim do rio Tanais terá fechado o Mar Negro a norte, definitivamente...

A semelhança de situações começa a acentuar-se, para além dos nomes serem idênticos no que diz respeito à Iberia hispânica e à Iberia caucasiana, há um novo detalhe, o território era visto como uma península, em que o Cáucaso faria o papel de istmo, como os Pirinéus.

Até que ponto é possível levar mais longe esta confusão toponímica?
Estrabão também se interroga, conforme se transcreve: "unless they call them Iberians, by the same name as the western Iberians, from the gold mines in both countries".
Poderia ter resultado de um mimetismo de designações, conforme sugere a tradição, pela migração de Túbal da região do Cáucaso para a Ibéria, mas também pode ter sido um propositado baralhar de designações, de forma a ocultar o local de origem. Acrescente-se a menção a Cleitarco de Eretria, sendo que o nome Eritheia já foi aqui ligado à mítica ilha na costa ibérica, e confunde-se com a cidade na ilha grega, ao mesmo tempo que também foi decidido colocar na mesma ilha grega uma cidade Calchis ou Cálquida.
Seria como definir que todas as referências a Óbidos e Santarém portuguesas passassem para a bacia do Amazonas. As colonizações têm destes processos mímicos, e isso justifica que qualquer conjectura seja risível, já que haverá semelhanças toponímicas que se explicam inventando uma história noutras paragens, e consolidando essa história com uma academia hierarquicamente colaborante.

Já que Possidónio é citado por Estrabão na afirmação sobre o istmo caucasiano, podemos ser estoicamente possidónios, e avançar numa outra semelhança... entre montes Arménios e montes Hermínios. Curiosamente já falámos aqui de Armínio, também dito Ermínio (e depois Hermann), um líder teutónico romanizado, que depois venceu os Romanos. Não será problema ligar Armínio a Ermínio, já que no processo de alteração tem que ir parar a Hermann, mas já será problema ligar Arménia a Hermínia. No entanto, dadas as diversas semelhanças apontadas, nada impede uma eventual derivação dos montes Hermínios a partir dos Arménios (ou vice-versa).

As teorias étnicas e linguísticas do Séc. XIX foram parar a uma conclusão de uma raiz ancestral, caucasiana, situada nessa península entre os mares Negro e Cáspio. Porém, há outros enquadramentos recentes, com base no DNA, que mostram uma distribuição de um haplogrupo R1b que colocará um foco populacional justamente na zona ibérica, ocidental.
Distribuição do haplogrupo R1b           (Nova imagem em 2013)

Parece haver alguma unanimidade na raiz cultural e genética na zona da Ibéria, resta saber se é a Iberia do Cáucaso, ou a Iberia da Hispânia...

Há ainda uma outra informação de Estrabão que torna as coisas complicadas:
The Greeks would permit none of them to lay hold of the seaboard, but were not strong enough to keep them altogether away from the interior; indeed, to this day the Siceli, the Sicani, the Morgetes, and certain others have continued to live in the island, among whom there used to be Iberians, who, according to Ephorus, were said to be the first barbarian settlers of Sicily.
 ... ou seja, os primeiros povoadores da Sicília teriam sido ibéricos. Julgo que aqui não haverá dúvida sobre qual Iberia estamos a falar - basta aliás notar a semelhança cultural que ainda se manifesta no povoamento das diversas ilhas mediterrânicas... autênticos últimos redutos de tradições passadas.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 07:38

Recuperamos um mapa do Cáucaso aqui colocado há uns meses:

Quando o fizemos, referimos o relato de António Galvão sobre a vinda de Túbal, neto de Noé, do Cáucaso para a península Ibérica, onde constaria ter fundado Setúbal. Essa descrição tem alguma consistência pela primeira habitação da zona do Monte Ararat após o dilúvio, e constituição de Saga Albina, a primeira cidade.
Muito provavelmente essa Saga Albina, seria na Albania... do Cáucaso, junto ao Mar Cáspio.
Falámos então da confusão entre a Iberia e Albania enquanto províncias caucasianas, que foram ao mesmo tempo localizadas como regiões europeias, muito maiores, pelos gregos. Em particular, a Iberia tanto pode referir-se à caucasiana como à hispânica.
Faltará Colchis, transcrita Cólquida... mas que na transcrição também se lê colchis, como colcha. Talvez colcha venha do francês antigo, por via de culche, mas os franceses não usam a palavra, nem têm a tradição de muitas gerações, como temos em Arraiolos. É apenas um detalhe...

Já mencionámos várias vezes que um nível do mar superior alteraria profundamente a geografia... mas vejamos como, citando Estrabão (Strabo, Geography):
As we pass from Europe to Asia in our geography, the northern division is the first of the two divisions to which we come; and therefore we must begin with this. Of this division the first portion is that in the region of the Tanaïs River, which I have taken as the boundary between Europe and Asia. This portion forms, in a way, a peninsula, for it is surrounded on the west by the Tanaïs River and Lake Maeotis as far as the Bosporus and that part of the coast of the Euxine Sea which terminates at Colchis; and then on the north by the Ocean as far as the mouth of the Caspian Sea; and then on the east by this same sea as far as the boundary between Albania and Armenia, where empty the rivers Cyrus and Araxes, the Araxes flowing through Armenia and the Cyrus through Iberia and Albania; and lastly, on the south by the tract of country which extends from the outlet of the Cyrus River to Colchis, which is about three thousand stadia from sea to sea, across the territory of the Albanians and the Iberians, and therefore is described as an isthmus. But those writers who have reduced the width of the isthmus as much as Cleitarchus has, who says that it is subject to inundation from either sea, should not be considered even worthy of mention. Poseidonius states that the isthmus is fifteen hundred stadia across, as wide as the isthmus from Pelusium to the Red Sea. "And in my opinion," he says, "the isthmus from Lake Maeotis to the Ocean does not differ much therefrom."
A citação é grande, porque tem várias informações.
A divisão entre a Ásia e a Europa era considerada compreendendo uma península... e isso só pode ser compreendido através daquilo que seria o Rio Tanais, hoje identificado ao Rio Don. Se entendermos que o mundo manteve sempre o mesmo aspecto nos últimos milhares de anos, e que as diferenças só ocorreram em termos de milhões de anos, o relato dos geógrafos antigos será sempre fantasioso.
Recuperamos um mapa anterior, a propósito da viagem de Jasão

Este mapa é apenas ilustrativo de um nível marítimo superior. Porém, desta forma haveria uma eventual ligação entre o Mar Negro e o Oceano Setentrional, feito através de uma estreita passagem... que seria então denominada Rio Tanais. O progressivo assoreamento fez desaparecer essa passagem, haverá talvez alguma associação entre registos arqueológicos interiores e o curso dessa passagem.
Por outro lado, a célebre Lagoa Meotis tanto se poderia referir inicialmente ao grande lago interno que deveria estar localizado nas planícies húngaras, como poderia depois ser identificado a um grande lago próximo do Mar de Azov (com que é hoje identificado), formado pelo assoreamento e descida das águas.

Estes detalhes são secundários, face à informação suplementar:
- o território dos Albaneses e Iberos era descrito como um istmo!
Este istmo tinha de um lado o Mar Negro e do outro o Mar Cáspio... como o Mar Negro fechou primeiro do que o Cáspio, isto terá parecido estranho.
Aliás Estrabão já duvidava das descrições do tempo de Cleitarco (séc. IV a.C) que falavam de inundações que colocavam os mares Negro e Cáspio em contacto, e porém já vimos que isso seria possível, em tempos anteriores aos romanos, pela subida de águas.

Por outro lado, encontra-se como origem do nome Mar Negro uma profunda mudança nas suas características... ou seja, de um mar vai passar quase a um lago, e esse "negro" foi associado a uma quebra de movimento das suas águas, que passaram a ser entendidas pelos moradores como quase mortas. Dito de outra forma, o fim do rio Tanais terá fechado o Mar Negro a norte, definitivamente...

A semelhança de situações começa a acentuar-se, para além dos nomes serem idênticos no que diz respeito à Iberia hispânica e à Iberia caucasiana, há um novo detalhe, o território era visto como uma península, em que o Cáucaso faria o papel de istmo, como os Pirinéus.

Até que ponto é possível levar mais longe esta confusão toponímica?
Estrabão também se interroga, conforme se transcreve: "unless they call them Iberians, by the same name as the western Iberians, from the gold mines in both countries".
Poderia ter resultado de um mimetismo de designações, conforme sugere a tradição, pela migração de Túbal da região do Cáucaso para a Ibéria, mas também pode ter sido um propositado baralhar de designações, de forma a ocultar o local de origem. Acrescente-se a menção a Cleitarco de Eretria, sendo que o nome Eritheia já foi aqui ligado à mítica ilha na costa ibérica, e confunde-se com a cidade na ilha grega, ao mesmo tempo que também foi decidido colocar na mesma ilha grega uma cidade Calchis ou Cálquida.
Seria como definir que todas as referências a Óbidos e Santarém portuguesas passassem para a bacia do Amazonas. As colonizações têm destes processos mímicos, e isso justifica que qualquer conjectura seja risível, já que haverá semelhanças toponímicas que se explicam inventando uma história noutras paragens, e consolidando essa história com uma academia hierarquicamente colaborante.

Já que Possidónio é citado por Estrabão na afirmação sobre o istmo caucasiano, podemos ser estoicamente possidónios, e avançar numa outra semelhança... entre montes Arménios e montes Hermínios. Curiosamente já falámos aqui de Armínio, também dito Ermínio (e depois Hermann), um líder teutónico romanizado, que depois venceu os Romanos. Não será problema ligar Armínio a Ermínio, já que no processo de alteração tem que ir parar a Hermann, mas já será problema ligar Arménia a Hermínia. No entanto, dadas as diversas semelhanças apontadas, nada impede uma eventual derivação dos montes Hermínios a partir dos Arménios (ou vice-versa).

As teorias étnicas e linguísticas do Séc. XIX foram parar a uma conclusão de uma raiz ancestral, caucasiana, situada nessa península entre os mares Negro e Cáspio. Porém, há outros enquadramentos recentes, com base no DNA, que mostram uma distribuição de um haplogrupo R1b que colocará um foco populacional justamente na zona ibérica, ocidental.
Distribuição do haplogrupo R1b           (Nova imagem em 2013)

Parece haver alguma unanimidade na raiz cultural e genética na zona da Ibéria, resta saber se é a Iberia do Cáucaso, ou a Iberia da Hispânia...

Há ainda uma outra informação de Estrabão que torna as coisas complicadas:
The Greeks would permit none of them to lay hold of the seaboard, but were not strong enough to keep them altogether away from the interior; indeed, to this day the Siceli, the Sicani, the Morgetes, and certain others have continued to live in the island, among whom there used to be Iberians, who, according to Ephorus, were said to be the first barbarian settlers of Sicily.
 ... ou seja, os primeiros povoadores da Sicília teriam sido ibéricos. Julgo que aqui não haverá dúvida sobre qual Iberia estamos a falar - basta aliás notar a semelhança cultural que ainda se manifesta no povoamento das diversas ilhas mediterrânicas... autênticos últimos redutos de tradições passadas.

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