O dia da espiga é uma tradição de Maio, perdida nos tempos... por um lado relacionada muitas vezes com cultos pagãos associados à primavera, pode ter sofrido alterações na sua colocação no calendário, relativamente a Março.
O nome Maio, Maia, foi ficando... nalgumas regiões de Portugal ainda subsiste a tradição de fazer uma boneca de palha, chamada Maia!
Maia seria uma deusa filha de Atlas, e de uma ninfa oceânica da Arcádia, figura como uma das sete estrelas nas Plêiades. Será dos raros casos em que o seu nome não sofre grande alteração ao longo dos tempos, e é sonoramente idêntico em várias línguas. Numa pequena variação, Ésquilo terá aparentemente tentado associá-la a Gaia!
Por outro lado, teve com Zeus/Júpiter um filho que seria Hermes/Mercúrio, e protegeu Arcas de Hera (que tinha transformado a mãe Calisto num urso, no céu ficando a Ursa Maior, e Arcas como a Ursa Menor).
Já na tradição romana, Maia é muito associada aos
ritos de primavera e assim há uma ligação a esta tradição da espiga em Maio e a uma boneca com o seu nome. Este dia de descanso em Maio, tradição milenar, está na origem de tradições mais recentes que o estabelecem a 1 de Maio.
Se por um lado o dia de espiga foi ligado à quinta-feira de Ascensão, por influência católica, está também ligado ao movimento laboral.
O nome Maia é ainda indissociável de outras particularidades...
- Os Senhores da Maia, estiveram na fundação de Portugal. Começando com Trastamiro Aboazar (cujo nome é de origem desconhecida, talvez árabe), temos talvez o mais marcante Gonçalo Mendes da Maia, "o Lidador", amigo próximo de D. Afonso Henriques.
- Os Maias, o romance de Eça de Queirós...
- Os Maias, povo que "curiosamente ostentou este nome, do outro lado do Atlântico...
- Ilha de Maio, que é nome de ilha em Cabo Verde, mas também foi nome de ilha nas Caraíbas.
Porém, regressando à espiga, a tradição de Maio, junta-lhe outras "flores":
- malmequeres, papoilas, alecrim, oliveira, videira...
Cada uma destas "flores" parece ter um certo significado, mas nem sempre unânime.
Por exemplo, foi-me dito ouro/prata para malmequeres amarelos/brancos, liberdade pela papoila, e o alecrim parece estar relacionado com a saúde...
Alecrim
De António José da Silva tivémos as Guerras de Alecrim e Manjerona onde, logo de ínicio e um pouco a despropósito, diz o personagem Semicúpio:
- Já fica assinalada na Carta de Marear toda a costa de leste a oeste, com seus cachopos e baixios!
É claro que é uma referência semelhante à de Pedro Nunes, quando se refere às cartas de marear, e à maior ignorância na leitura de leste a oeste... que a tal rotação do portulano de Pedro Reinel parece associar ao México. Talvez por este tipo de impertinências, António José da Silva acabou por dificuldades na aceitação do seu trabalho, e acabou por terminar à mão da Inquisição.
Talvez por causa de um acréscimo de impertinências o terramoto de 1755 não seja apenas um sismo, seja também um incêndio que delapidou a nossa memória documental, e um período ilustrado pelas inúmeras execuções e autos-de-fé subsequentes:
Fez hoje 561 anos que, a 20 de Maio de 1449, o Infante Dom Pedro foi morto na Batalha de Alfarrobeira, e proscrito da história nacional (excepto no breve período de seu neto, D. João II). Olhando para o seu eterno semblante jovem, aqui:
... não podemos deixar de ler Camões, a despropósito (Canto 7, §77) de um velho de aspecto venerando:
Cujo nome não pode ser defunto
Enquanto houver no mundo trato humano:
No trajo a Grega usança está perfeita,
Um ramo por insígnia na direita.
Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego!
Eu, que cometo insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário,
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo.