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É com estas palavras: 
"este local forma uma linha divisória entre a terra, o mar e os céus",
que Plínio coloca o Promontório Magno, hoje dito simplesmente Cabo da Roca.
Promontório Magno, Artabrum, ou de Olisipo,
dizia Plínio... ou seja, dizemos hoje - Cabo da Roca (foto)

Não é apenas assim... apesar de começar no 3º Livro com a Bética, Plínio vai descrever a Europa até fechar o ciclo e regressar à Lusitânia, no 4º Livro, Cap. 35. Começa a Europa na Bética, numa margem do Rio Ana (Guadiana) e termina na outra, na Lusitânia. Maneira curiosa de fazer o périplo europeu...

"Onde a terra acaba e o mar começa...", Camões terá usado outra expressão para esta Finisterra, agora a parte mais ocidental da Europa continental.
Este "agora" é aqui propositado, devido à descrição de Plínio, que parece confundir a Roca Lisboeta com a Finisterra Galega... o tradutor inglês queixa-se disso, aliás.
Porquê?
Porque Plínio faz neste ponto a divisão - de um lado fica o Norte, o mar Gálico, e do outro lado o Oeste, a face de Espanha. Esta descrição apenas seria compreensível hoje referindo-se ao Cabo Finisterra - é isso que o tradutor diz. Porém, toda a sequência da Lusitania, começada no Douro, descendo por Conimbriga, Collipo (~Leiria), Eburobritum (~ Obidos), confirma a posição do Promontório Magno, que é adicionalmente referido como próximo de Lisboa ~ Olisipo.
Acresce uma descrição ainda mais estranha - o promontório avança no mar, na forma de um grande corno... e dá essas dimensões de penetração - entre 60 e 90 milhas (na tradução inglesa).
- Que sentido faz isto?
- Aparentemente nenhum, e só o erro explicaria... mas podemos ser consistentes com mapas já apresentados aqui e aqui, ou seja usar a hipótese de um nível do mar mais elevado, e de uma orientação terrestre no alinhamento piramidal de Gizé:

A orientação por rotação pode ser circunstancial, mas adaptada ao alinhamento das pirâmides daria um sentido consistente com Norte e Oeste, conforme Plínio. 
Quanto ao incremento do nível do mar, parece aqui mais convicente, transformando o conjunto montanhoso da Serra dos Candeeiros até à Serra de Sintra numa península - o dito "corno" - que teria facilmente as 90 milhas de extensão.

Plínio fala ainda de uma Arrotrebae que autores situariam em fronte dum Celtico Promontório... algo que terá algum nexo toponímico se entendermos que neste mapa a Arrábida surgiria como ilha em face.
Por outro lado, Plínio diz ainda que o Promontório Sacro projectar-se-ia do meio da face da Hespanha, algo que toma sentido com a orientação colocada no mapa. 
A denominada "face" teria topo no Promontório Magno, meio no Promontório Sacro, e base no Promontório Calpe, um dos pilares de Hércules.
E sobre a "face" de Hespanha, completamos a citação de Camões
      Eis aqui, quase cume da cabeça 
      De Europa toda, o Reino Lusitano, 
      Onde a terra se acaba e o mar começa,
      E onde Febo repousa no Oceano.

Pela descrição que faz, Plínio nunca terá visitado a Hispânia, e por isso é de conceder que fosse influenciado por erros - a habitual justificação oficial - ou então por relatos referentes a tempos muito anteriores, que justificariam a concepção de um mundo muito anterior aos Romanos, talvez à época de Jasão e Argonautas...

Um outro pormenor interessante que Plínio aponta no sentido da memória perdida, e nas suas bases, é a referência que faz ao Rio Lima. Diz que os "antigos" chamavam a este rio, o "Rio do Esquecimento"... Na por vezes designada "mesopotâmia" de Entre Douro-e-Minho, o outro rio, o Lima esqueceu essa designação do Esquecimento, e de "histórias fabulosas" - que Plínio refere, mas por outro lado há sempre uma tradição subreptícia que é possível encontrar. O Lima acabou por ficar conhecido pelo seu Queijo Limiano, e o Esquecimento associou-se indirectamente por esse mito popular de relacionar "queijo" à perda de memória. 

[publicado em 11/05/2011, antes do crash do Blogger]

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publicado às 02:50


23 comentários

De Unknown a 05.09.2014 às 02:36

Acho que cá cheguei, por uma com-cha!

Vou introduzir uns dados para baralhar e dar de novo.

A zona da Arrábida, em termos paleontológicos, indica uma leitura que apresenta (segundo os especialistas das medições) fósseis de invertebrados como: moluscos e equinodermes; e de vertebrados como: peixes e répteis (crocodilos, tartarugas e dinossáuros).
Aponta-se para a transição do Jurássico Superior (há cerca de 150 milhões de anos) para o Cretácico Inferior (110-120 milhões de anos) em que se encontram os registos de dinossáurios. Estas evidências aconteceram com as vasas moles de sedimentos que constituíam o fundo de uma zona de grandes pântanos lagunares (portanto, uma lagoa à + de 100 milhões de anos), ou charcas salobras (daí os moluscos) e pouco profundas (seriam interditais); após o seu soterramento por sedimentos em estratos horizontais que permitiram a litificação (conversão de sedimentos em rocha consolidada) dando origem a em margas e calcários (o binómio que faz o cimento); posteriormente, a actividade tectónica fracturou estas camadas que se erguem actualmente, quase a prumo e sobrepostas como folhas, por vezes com + de 120 metros de altura, testemunho de violentas convulsões geológicas que transformaram o local.

As leituras efectuadas (sobre o Jurássico Superior), na zona Pedra da Mua (praia dos Lagosteiros, Cabo Espichel) sugeriram abundancia de microfauna como de Anchispirocyclina Lusitanica http://lusodinos.blogspot.pt/2014/03/sobre-o-foraminifero-anchispirocyclina.html e outras camadas com vºarias pistas de dinossáuros: grande saurópode com envergadura superior a 15 metros (Neosauropus lagosteirensis), a um outro saurópode (Megalosauropus gomes), a terópodes (possivelmente Megalosaurus Iguanodon) e a um pequeno bípede (tipo o Camptosaurus)...coisas medonhas e com muitas toneladas!

Num pequeno trilo desta zona presume-se, do Cretácico Inferior, uma laguna abrigada por recifes coralíferos, onde se encontram pegadas de um ornitópode (pé de galinha, mas com algumas toneladas), de um terópode (daqueles maus que aparecem nos filmes) bípede. Entre a praia dos Lagosteiros e a Boca do Chapim, foi ainda encontrado diverso material como vértebras, costelas e dentes de dinossáuros carnívoros e herbívoros.

(I)....cont

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