Alguns a deusa da Fama guardou com mais carinho que outros...
Falemos hoje das referências a Árquitas de Tarento e a Pilâtre de Rozier:
Do antigo Architas se escureça a Pomba;
Maior prodigio guarda a idade nossa.
Eu vejo pelo ar volantes carros,
Quaes vão nas ondas os baixeis arfando;
(...) Eu vejo o golpe, e a victima primeira
Em Rosier intrepido, que sobe;
Elle o primeiro foi, mas prestes passa,
Do regaço da gloria ás mãos da morte.
Era já opinião de Macedo que se iria "escurecer" a invenção de Árquitas de Tarento, que foi passando nos registos da antiguidade como sendo a primeira máquina voadora... a chamada Pomba de Árquitas
Pomba de Árquitas. Segundo os registos antigos, o engenho da "pomba" terá voado 200 metros, por um sistema auto-propulsor de reacção...
conjectura-se que seria de ar comprimido.
Convém notar que voar com aparelhos de reacção acabou por ser o último passo da aviação. Os reactores superaram as hélices, assim como as hélices tinham suplantado o voo pelos mais leves, dirigíveis ou balões.
Pelo menos, o princípio do voo por reacção seria conhecido desde há praticamente 2400 anos.
Se o nome de Árquitas foi popular, sendo político e regente de Tarento, também o foi como um dos primeiros a aplicar princípios de matemática à mecânica.
Porém, há sempre trabalhos, registos que se perdem... as noções aparecem depois, passados milhares de anos, com o nome de outros, e não nos referimos apenas a Arquimedes, que terá sido um dos seguidores. A deusa da Fama escolhe os nomes que acarinha, por várias conveniências ilusionistas...
No registo mítico, temos Dédalo que constrói asas de cera para o seu filho Ícaro voar... e é claro que tal coisa só pode ser vista como mítica pelo peso educacional que nos amarra ao chão.
Afinal, que sentido faz conceber voo com asas?
Que sentido faz conceber voo com asa-delta?
Que parte tecnológica é que não estava ao dispor na Antiguidade, para conceber tal sistema? Certamente que não era falta de tecido leve, nem de estrutura sólida.
Quando o vento sopra forte, o que é difícil é mantermo-nos no chão, mas certamente que durante milénios ninguém terá pensado tampouco em levantar um papagaio. Só recentemente se libertou algum do génio preso na garrafa, e já se tenta enfiá-lo lá dentro de novo... sobre o
voo do Daedalus-88 já se passaram 25 anos, e mais nenhuma bicicleta parece ter ganho asas para superar aquela proeza de ligação aérea entre Creta e Santorini - a publicidade que nos dá asas, serve o propósito de as tirar.
Balão de Rosier. Se Ícaro caiu por querer voar mais alto, também o mesmo ocorreu com Pilatre de Rozier. Esquecendo o
gás na Passarola de Gusmão, que estranhamente Macedo nem menciona, em 1783, ao mesmo tempo que os irmãos Montgolfier faziam um balão de ar quente, Rozier usava também o princípio dos gases mais leves para o seu balão.
Ah! Coincidências incríveis... após milénios agarrado ao chão, no dia 15 de Outubro de 1783, o Homem erguia-se no ar de duas formas distintas. Primeiro, Etienne de Montgolfier com um balão de ar quente, e depois Pilatre de Rozier com um balão misto de gás e ar quente. No mesmo dia, no mesmo local, organizado por
Revéillon...
Após autorização real, foi mesmo a Rozier que coube o primeiro voo, com o balão desprendido do chão, a 21 de Novembro, e com a companhia do Marquês d'Arlandes.
Demorou mais de um mês a descoberta de que se podia soltar a corda...
Rozier... e o "primeiro" voo de balão
Rozier terminou mal, procurou evidenciar-se pela travessia do canal da Mancha, mas foi de novo suplantado, e acabou mesmo por perecer na queda, na sua tentativa.
Com a autorização real de Luis XVI, os franceses soltavam o seu génio, exibindo proezas nunca antes vistas (vamos esquecer, é claro,
Zhuge Liang,
Bartolomeu Gusmão, e outros... que não eram franceses).
Acordaram, com as feiras de Jean Baptiste Revéillon, e libertavam o génio soltando a rolha numa propulsão do champagne... e pareceria que a cabeça girava com tanta súbita descoberta.
Passados poucos anos, em 1789, muitos deles vieram mesmo a perder a cabeça - nas guilhotinas da Revolução Francesa.
Luis XVI acabou por ser uma impensável vítima desse (mau) génio dos seus compatriotas...