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9) Lendas segundo a genética
O desenvolvimento moderno da genética abriu novas perguntas às teorias habituais da migração humana. No entanto, tem-se visto uma tentativa de manter as versões anteriores, que parecem ser inconsistentes com aquilo que a genética tem apresentado. É claro que, como em todas as coisas, há duvidas, e haverá quem as coloque quando as hipóteses não interessam. As teses acabam por ser compromissos comunitários, que mais do que seguirem a verdade, tentam seguir o consenso... para evitar problemas com quem teima na sua intransigência. Mas, para além disso, não é muito claro saber se as populações são mesmo nativas da área, ou quando ali se instalaram. De qualquer forma, há dados razoavelmente credíveis, que já levantam algumas dúvidas.
Esquematizamos num quadro alguns gráficos disponíveis na Wikipedia sobre a distribuição dos haplogrupos-Y, que seguem a linha masculina da ascendência (começou entretanto a investigação sobre os haplogrupos mitocondriais, que seguem pela linha feminina).
Há uma hierarquização genética, que começa nos grupos mais antigos A, até aos mais recentes NOQR, isto sem contar com as múltiplas variações. Sobre as variações em subgrupos mostramos apenas a diferença entre o R1a e R1b.
O resultado geral parece apontar para a chamada teoria "out of Africa"... ou seja, estes estudos parecem confirmar uma origem africana dos nossos ancestrais.

A--E) Dos haplogrupos mais antigos, o E manifesta-se especialmente por quase toda a África, com incidências a atingir os 100% em diversas partes. Essa variação "E" teve grande sucesso no continente africano, onde sempre se manteve e consolidou, a menos de pequenas excepções. 
F-G-H) A variação de que partirá a grande maioria da restante população humana será a F, que terá saído de África. Podemos suspeitar que tenha começado a entrar em territórios Euro-asiáticos, pelas suas variações G e H de que se encontram pequenos registos espalhados na Ásia central, até à India (H) e Europa (G). Variantes do "F" encontram-se ainda hoje entre ciganos e mongóis.

Convém aqui explicar que a forma como estamos a analisar difere do usual. Apesar da esmagadora presença do haplogrupo E em África, há quem sustente que a sua origem é da Ásia (porque a variante "irmã" D encontra-se residualmente em Tibetanos ou em Ainos no Japão).
Porém o ponto mais importante é outro. Há uma espécie de ancestralidade que se manifesta em 10 gerações principais até ao N-O-Q-R. Podemos ver o A como "trisavô" do E e do F, que seriam "primos".
Nas teorias habituais tem-se acomodado que o "trisneto" é mais velho que o "irmão"... e ainda que não seja impossível, parece-nos um exagero de forçar datação às crenças pré-definidas. Assim, é suposto o G ter-se originado há cerca 20 mil anos, mas o "irmão" IJK iria gerar um trisneto "O" que aparecia 10 mil anos antes, ou seja, há cerca de 30 mil anos. Todos sabemos de casos em que o irmão pode ser mais novo que o filho, e em vista de populações seria perfeitamente admissível situações dessas, mas não exageremos...

Por isso, vamos evitar essa "ginástica acrobática de datação", e seguir uma datação genética que seria natural, sabendo que não segue uma datação consensual e suas múltiplas justificações acessórias.

Uma questão antropológica é que a tez negra parece estar ligada aos grupos africanos A, B e E. Assim, o seu aparecimento noutras populações (por exemplo, indianas e australianas), pode ter resultado de uma expansão alargada de um destes grupos (provavelmente o CT, antepassado do E). Quando as novas populações chegavam às mesmas paragens, a sua "confraternização" poderia manter a tez negra materna, e o haplogrupo paterno.

Assim, será de admitir que o grupo original CT possa ter sido o primeiro a propagar-se globalmente atingindo a Europa, Ásia e depois a Oceânia. Uma razão para isso pode ter sido uma primeira "idade glacial", em que os limites continentais eram mais ténues pelo abaixamento do nível marítimo.

As razões para uma significativa diferença de "raças" pode ter a ver com subsequentes aumentos do nível marítimo, que isolavam populações. Ou seja, por um lado a época glacial forçava a uma migração para zonas equatoriais, e a baixa das águas permitiria uma expansão, mas depois essas zonas passavam a ilhas... quando o nível marítimo voltava a subir. Se as populações ficavam isoladas das outras, definiam-se particularidades genéticas distintivas, que levaram à noção de "raça". Isto aconteceria com todos os animais, e não apenas como humanos, como é claro...
Podemos ilustrar isto com um pequeno esquema:
Numa primeira fase, a população vermelha aparece no continente, e numa segunda fase, pela baixa de águas, pode entrar na ilha. Mas numa terceira fase o aumento de águas volta a isolar a ilha, que nesse novo ambiente pode adquirir, numa quarta fase, novas características (a azul) - por exemplo, adaptação ao frio. Um novo abaixamento de águas, numa quinta fase, pode gerar uma competição entre essas populações, que já se vêem como diferentes... e assim sucessivamente.
Assim, a oscilação do nível de águas, provocado por períodos glaciares/diluvianos, pode ter definido diferenças evolutivas significativas.

Voltando aos haplogrupos de que falávamos, podemos admitir uma idade glacial que permitiu a expansão CT, mas que depois, por factor diluviano - aumento de águas, distinguiu as populações, especialmente o F  que separadamente adquiria tez mais clara, do E (que teria evoluído no continente africano).
Acresce a este sinal, os dados que colocam descendentes directos do F na zona do Cáucaso (G) e na Índia (H), ou alguns D no Tibete ou Japão, e os C em paragens semelhantes (que se estendiam também à Oceânia).

Portanto podemos ter aqui uma primeira separação de características.

I-J-K) Da variante IJK "filha" de F, surgem dois grupos separados que ainda são hoje dominantes nas respectivas regiões. O grupo "I" que pode ser visto como "germânico", com incidências até 50% na Escandinávia, Lituânia, e superiores a 50% na zona da Croácia... ou seja, populações com grande estatura.
Por outro lado, o grupo "J" estará mais associado a populações semitas, com concentrações que chegam a 100% na Arábia, estando espalhadas desde o sul ibérico, pela bacia mediterrânica até à India.
Curiosamente haveria um ascendente comum IJ... talvez saindo Cáucaso, com a descida de águas, uns tivessem seguido o frio para norte (I), e outros regressado às paragens quentes a sul (J).

O que aparece como notável é que o outro "neto" do grupo F será um grupo K, de onde irá aparecer a maioria da população mundial - as populações orientais, europeias, nativas americanas e siberianas.
Isso foi o que mais me surpreendeu, já que aparentemente nos vemos mais próximos dos IJ do que dos N, O, ou Q... que são "primos" dos R.

NO-P) Surge assim o problema do K... de como se vai espalhar por todos os continentes.
A sua origem parece ser indiana. Ou seja, se os IJ sairam do Cáucaso, o K parece sair dos Himalaias (devido ao registo L na zona do Indo, mas também pelos vestígios T da Índia até à Ibéria, na zona concorrente com a presença dominante do J).
Parece fixar-se em território euro-asiático, mas surpreendentemente aparecerá no continente americano (talvez pela passagem de Bering, ou alternativamente via Irlanda-Terra Nova).
Quando se dá novo degelo diluviano, mais uma vez as populações teriam ficado isoladas. Só isto justificaria a posterior divisão do K. Por um lado um grupo NO tipicamente asiático, por outro lado o seu grupo "irmão" P que se estende da América até à Europa Ocidental. Em menor escala aparecem os grupos M e S, na Oceânia. A difusão do grupo K parece ter sido global...

Q-R) O isolamento do continente americano definiria a divisão do grupo P nos grupos Q (índios americanos) e R (europeus ocidentais)... enquanto que, pelo outro lado, a inundação do Mar Cáspio até ao Ártico teria definido uma diferença entre N (siberianos) e O (orientais).

A outra surpresa é uma dominância do R em parte dos nativos da América do Norte, especialmente Canadá (onde atinge quase 100%), havendo alguns focos na zona do Brasil e Perú.
No entanto, isso explica-se provavelmente doutra forma - pela cobertura, pela ocultação das viagens marítimas atlânticas, que instalaram populações de origem europeia na Terra Nova e Canadá. Entretanto a essas populações é dado o estatuto de indígena, e aparecem nestas estatísticas como nativos e não como colonizadores.
Normalmente os mapas do grupo R são focados na Europa e Ásia, para evitar mostrar esse "problema" evidente das navegações (há também um registo R na Austrália, mas bem mais pequeno).

R1a,b) Detalho o grupo do R, porque teve uma grande expansão europeia e asiática, mas há uma diferença geográfica razoável entre o R1a e R1b, o que pode indiciar nova separação por aumento do nível marítimo, numa separação do Mar Negro. A parte R1a está essencialmente a leste, estendendo-se até à Índia, enquanto que a parte R1b ficou mais concentrada na zona Atlàntica.

Para a conclusão...
Estes dados, apesar de terem suporte científico (acreditando na informação disponibilizada na Wikipedia), não devem ser sobrevalorizados face às outras informações, inclusivé míticas. Quando as informações vão sendo concordantes, é um sinal de seguir nesse caminho... quando não são, é preciso rever o que está em causa, e quem defende o quê, e porquê! 
Aquilo que coloquei foi a linha racional que encontrei que me pareceu fazer sentido, face aos dados disponíveis. Mesmo sem ter em atenção múltiplos outros factores, já não é muito fácil fazer uma teoria consistente que se limite a englobar estes dados, que parecem descoordenados, a menos que se usem teses mais fantasiosas, mas politicamente correctas.

Para uma conclusão retiram-se algumas novidades, que devem ser agora enquadradas com outros dados, nomeadamente as raízes linguísticas, culturais, os legados arqueológicos, míticos, etc... mas isso fica para outra oportunidade, pela óbvia complexidade.

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publicado às 20:28



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