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«Salazar dominava a actualidade política francesa. Sabia da substituição de Charles De Gaulle por Georges Pompidou [ocorrida em Abril desse ano]. Era bizarro: sabia tudo quanto se passara em França com De Gaulle e ignorava o que se passara consigo mesmo...»
L'Aurore - entrevista a Salazar depois da "queda da cadeira" (in Expresso) |
» Durante a sua doença, até que ponto participou na direcção dos negócios do Estado?
»» Ainda não estou completamente restabelecido e a minha única e verdadeira preocupação é de conservar força suficiente para continuar a assumir as minhas funções.
» Recebe aqui os ministros do Governo? (Sem hesitação, o doutor Salazar responde:)
»» Sim, aqui mesmo, é mais agradável neste jardim que dentro de casa.
» Todos os ministros vêm aqui prestar conta do respectivo departamento?
»» Sim.
» E dá-lhes directivas?
»» Eu não imponho as decisões. Elas são tomadas colectivamente pelo Conselho de Ministros.
» Que se reúnem aqui?
»» Não, as decisões aqui esboçadas são tomadas oficialmente nos conselhos a que preside o Presidente da República no seu palácio.
» Mas todos os ministros do actual Governo foram escolhidos por si e têm a sua confiança?
»» Sim, evidentemente.
» E se algum deles não aplicasse a política por si definida, demitia-o e substituía-o por outro?
»» Pois claro (diz, com toda a naturalidade, com um gesto negligente da mão direita.)
(...) Eu sabia que só dispunha de mais três ou quatro minutos, o tempo para a governanta regressar do interior da casa, acompanhada de outros visitantes. Arrisquei então uma última questão: aquela que eu talvez não devesse colocar.
» Desde há algum tempo que se fala muito de um dos seus antigos ministros, Marcello Caetano. Que pensa dele? (Dez segundos de silêncio que me pareceram demasiado longos.) Depois, o doutor Salazar disse muito naturalmente:
»» Conheço bem Marcello Caetano. Foi várias vezes meu ministro e aprecio-o. Ele gosta do poder: não para retirar quaisquer benefícios pessoais ou para a família: é muito honesto. Mas gosta do poder pelo poder. Para ter a impressão exaltante de deixar a sua marca nos acontecimentos. É inteligente e tem autoridade, mas está errado em não querer trabalhar connosco no Governo. Porque, como sabe, ele não faz parte do Governo. Continua a ensinar Direito na Universidade e escreve-me às vezes, a dizer-me o que pensa das minhas iniciativas. Nem sempre as aprova - e tem a coragem de mo dizer. Admiro a sua coragem. Mas parece não compreender que, para agir com eficácia, para ter peso sobre os acontecimentos, é preciso estar no Governo.
» Mas diz-se que foi o senhor que não o quis mais como ministro...
»» Talvez, talvez...