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Besouro

08.08.14
Pode ler-se, no Archivo Popular (de 6 de Agosto de 1842):
É por certo para lamentar, que não haja sido possível descobrir a chave para a inteligência dos hieróglifos, que acompanham estas exumações egípcias. Consta que os sábios do Egipto usavam de três métodos de comunicação, a epistolográfica ou vulgar; a hierática ou sagrada; e a hieroglífica ou misteriosa. Alguns antiquários nestes dois últimos séculos procuraram decifrar estes hieroglíficos, especialmente um literato francês, Champollion; mas depois de ter desperdiçado muitos anos em procurar desentranhar estes misticismos, morreu de enfado por não o poder conseguir. Outro francês pretendeu ultimamente ter encontrado uma chave para descobrir o sentido daqueles escritos por meio das iniciais de alguns nomes antigos da língua egípcia, porém é já certo que a sua descoberta reduz-se a algumas inscrições em que havia maior probabilidade de as decifrar, sendo em geral falhas de exactidão. A destruição da Biblioteca de Alexandria contribuiu sem dúvida para envolver nas trevas a literatura egípcia; e até os primeiros filósofos gregos e romanos, que viajaram naquele país, berço de todos os conhecimentos intelectuais, não nos comunicaram noticia alguma do estilo hieroglífico usado naquelas academias.
Ou seja, antes das Revoluções de 1848 que varreram a Europa, parecia haver um consenso de que não tinha sido possível decifrar a linguagem hieroglífica. O artigo refere explicitamente Champollion, que é considerado hoje como aquele que conseguiu decifrar os hieróglifos, usando a Pedra de Roseta:
A Pedra de Roseta, com inscrições hieroglíficas 
e uma provável tradução em grego, foi usada para decifração.

A pedra de Roseta ficou tão famosa que também serviu de nome a uma sonda espacial que foi anunciado agora ter atingido um cometa (ver artigo da Euronews)
(não se encontram imagens reais)

Sobre toda a filmografia e enredo das novelas espaciais uso normalmente o blog Odemaia, aqui deixo apenas a interrogação sobre Champollion, e o seu famoso decifrar dos hieróglifos. Em 1842, alguns anos após a sua morte, tal estava muito longe de ser minimamente reconhecido, como foi peremptoriamente afirmado no Archivo Popular (publicação muito credível à época).
Essa dúvida, sobre a validade das traduções dos hieróglifos e da escrita cuneiforme, já a tínhamos aqui levantado, sem conhecer este texto.
Este texto surgiu por mero acaso... pelo caso do momento. Como já não publicava aqui há algum tempo, e quis ligar ao caso BES, pensei no bes-ouro, ou seja no besouro. Há coisa de uma hora atrás procurei nestes textos do Séc. XIX se havia algo escrito sobre os besouros egípcios. Neste texto do Archivo Popular dizia-se então sobre a mumificação:
Algumas vezes pintavam sobre o peito um escaravelho, insecto que em suas ideias alegóricas significava regeneração; outras vezes um ídolo como símbolo da fé que o defunto havia professado.
A regeneração aparecia assim no ciclo solar. Desaparecia um Sol ao anoitecer e depois reaparecia ao amanhecer, movimento que era visto ser simulado nos Besouros se encarregavam de empurrar os dejectos em forma de pequenas bolas.
Mas, o mais interessante não eram os besouros, era a Roseta - e não a sonda que tinha feito notícia ontem por atingir um cometa - mas sim a pedra que afinal não tinha convencido ninguém sobre a decifração dos hieróglifos, nem o próprio Champollion.

Portanto, e como já afirmei aqui, continuo a usar como fontes passadas principais as traduções do latim e do grego, e não outras linguagens supostamente decifradas. Interpretações há muitas, e até eu sem perceber patavina de hieróglifos posso fazer uma e ser tão consistente com ela, como são os outros que usam e abusam de várias interpretações, ditas oficiais.

O outro ponto importante, bem frisado no Archivo Popular, é que apesar de romanos e gregos terem sido perfeitamente contemporâneos da civilização egípcia, nada restou que pudesse esclarecer a tradução. Só este facto por si seria suficientemente estranho para podermos ver o tipo de selecção cuidada do que foi permitido guardar da Antiguidade. Aparentemente, os escribas árabes e os monges europeus, tão entretidos no seu copismo, esqueceram-se de transportar esse conhecimento. Azar... ou parece que é azar, e há de facto quem tenha a chave e se entretenha a validar traduções aqui e ali, conforme aprouver à narrativa.

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publicado às 01:33


4 comentários

De Anónimo a 08.08.2014 às 02:37

Lathe Turned Stone - Robert Francis - Hard evidence of Old Kingdom or pre-dynastic stone turning from the Cairo museum.
Other pieces turned out of granite, porphory or basalt are fully hollowed with narrow undercut flared openings, and some even have long necks. Since we have yet to reproduce such pieces it is safe to say that the techniques or machinery they employed to produce these bowls has yet to be replicated. http://www.theglobaleducationproject.org/egypt/articles/hrdfact3.php

Quem eram originalmente os egípcios?
Nas suas próprias histórias os antigos egípcios atribuem a grandeza da sua civilização à inspiração e sabedoria de uma liderança espiritual que se estendeu durante dezenas de milhares de anos [antes do inicio das suas dinastias Faraónicas].
Vários dos documentos históricos que sobreviveram até aos nossos dias como a Pedra de Palermo, o Papiro de Turim e a História do Egipto de Manetho, referem-se às várias eras da civilização egípcia.

A primeira era foi a dos Neteru ou Nechru (22 Deuses), onde o Egipto foi governado por 22 Deuses durante milhares de anos. Este período terminou com o último Deus neter ou necher Horus.

A segunda foi a era dos Shemsu Hor (seguidores de Horus). Este período terminou com Menes / Narmer.

A terceira era é a época das dinastias dos Faraós. Este é o período que os egiptólogos estudam actualmente apoiando-se na arqueológica.

(…) Os egípcios não incluíam os sons de vogais (a, e, i , o, u ), na linguagem hieroglífica, aparentemente para manter em segredo a pronúncia real do poderoso estatuto mágico. Como não pudemos pronunciar palavras sem vogais, os egiptólogos têm adicionado as que entendem segundo às suas preferências e língua nacional.

Ler o resto em inglês aqui;
Who Were the Original Egyptians?
http://www.theglobaleducationproject.org/egypt/studyguide/2originalegyptians.php

A E I O U o que nos escondes tu?
Publié il y a 26th June 2010 par José Manuel de Oliveira

De Alvor-Silves a 09.08.2014 às 03:47

Certo, José Manuel, já aqui tinhamos falado dessa questão interpretativa dos hieroglifos, e a questão de ausência de vogais, que se manifestará também nos textos hebraicos. Porém, ao mesmo tempo que ouvimos isso, também vemos estas traduções que incluem vogais (no caso de Cleopatra):
http://www.psifer.com/hier.htm
Portanto, tanto é suposto haver uma correspondência fonética, como depois argumentam com uma interpretação simbólica, tudo com uma grande arbitrariedade e pouca objectividade.

Este texto procura só mostrar uma fonte concreta, onde se contradiz a afirmação da decifração dos hieroglifos por Champollion.
Já havia uma dúvida sobre as traduções, agora trata-se de ter certeza sobre como nem Champollion reconhecera saber decifrá-los. Terá morrido sem considerar que o tinha conseguido.

Abraços.

De Anónimo a 11.08.2014 às 03:06

Re: “Este texto procura só mostrar uma fonte concreta, onde se contradiz a afirmação da decifração dos hieroglifos por Champollion”

E com todo o mérito e felicitação de o publicar aqui, caro Alvor, pois o que se aprende nas TV’s é a disputa entre um britânico e o francês que decifra o texto “egípcio” desse calhau, pouco se sabe realmente sobre quem foram os fundadores desta civilização... eu só quis aproveitar para fazer um pouco de publicidade, lobbying, sobre os meus calhaus, a diorite dos vasos ocos encontrados nas pirâmides do Egipto:

“Other pieces turned out of granite, porphory or basalt are fully hollowed with narrow undercut flared openings, and some even have long necks. Since we have yet to reproduce such pieces it is safe to say that the techniques or machinery they employed to produce these bowls has yet to be replicated”
http://www.theglobaleducationproject.org/egypt/articles/hrdfact3.php

O resto queira desculpar é como ir a um julgamento, já tenho uma longa experiência de tribunal do trabalho, quem mais produzir prosa e montanhas de papelada ganha a causa, pois consegue baralhar o fundo com a forma... foi o que fez o Jean-François Champollion (nommés docteurs ès lettres par décret impérial, ce diplôme correspondant à la charge de professeur) um bibliotecário analfabruto protegido pelo rico irmão e pelo regime... assim se escreve a estória da treta que se aprende nas escolas.

“Il faudra encore deux ans à Champollion pour publier aux frais de l'État son Précis du système hiéroglyphique des anciens Égyptiens et ouvrir les portes de l'égyptologie scientifique.”

Quando um Estado paga para impor a sua estória à humanidade... entre ciganos e franceses que venha o diabo e faça a escolha.

Cpts.
Boa continuação
José Manuel CH-GE

De Alvor-Silves a 12.08.2014 às 01:53

Fez muito bem em lembrar esses calhaus, José Manuel.
A ideia de que os antigos estagnaram e não tinham desenvolvido técnicas apuradas está cada vez mais posta em causa, especialmente desde que a Máquina de Anticitera mereceu a atenção devida. Vi um programa interessante em que se estabelecia toda a conexão aos subtis ciclos lunares, e mostrava como o número nas rodas dentadas tinha sido calculado de forma matematicamente perfeita.
Porém, ao invés de se admitir que era um conhecimento difundido, acabavam por tentar remeter a origem para uma invenção isolada... escolhendo para isso um "génio de serviço" - Arquimedes.
Convém mais admitir que era invenção isolada e perdida, do que admitir que houve um propositado e longo esconder de todo o material técnico e científico, até à sua recuperação na Idade Moderna, onde depois foi atribuído como invenção dos "génios" ingleses, franceses, etc...

Agora a farsa tornou-se demasiado grande para poder ser revelada... quem o tenta cai nos imensos processos de legalidade que Kafka descreveu. Por isso é que considero que é preferível não insistir no conflito em tribunais cuja legalidade está viciada... é preferível apresentar simplesmente a versão alternativa, ainda que fique marginal e aparentemente perdida.

abraço.

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