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Recuperamos um mapa do Cáucaso aqui colocado há uns meses:

Quando o fizemos, referimos o relato de António Galvão sobre a vinda de Túbal, neto de Noé, do Cáucaso para a península Ibérica, onde constaria ter fundado Setúbal. Essa descrição tem alguma consistência pela primeira habitação da zona do Monte Ararat após o dilúvio, e constituição de Saga Albina, a primeira cidade.
Muito provavelmente essa Saga Albina, seria na Albania... do Cáucaso, junto ao Mar Cáspio.
Falámos então da confusão entre a Iberia e Albania enquanto províncias caucasianas, que foram ao mesmo tempo localizadas como regiões europeias, muito maiores, pelos gregos. Em particular, a Iberia tanto pode referir-se à caucasiana como à hispânica.
Faltará Colchis, transcrita Cólquida... mas que na transcrição também se lê colchis, como colcha. Talvez colcha venha do francês antigo, por via de culche, mas os franceses não usam a palavra, nem têm a tradição de muitas gerações, como temos em Arraiolos. É apenas um detalhe...

Já mencionámos várias vezes que um nível do mar superior alteraria profundamente a geografia... mas vejamos como, citando Estrabão (Strabo, Geography):
As we pass from Europe to Asia in our geography, the northern division is the first of the two divisions to which we come; and therefore we must begin with this. Of this division the first portion is that in the region of the Tanaïs River, which I have taken as the boundary between Europe and Asia. This portion forms, in a way, a peninsula, for it is surrounded on the west by the Tanaïs River and Lake Maeotis as far as the Bosporus and that part of the coast of the Euxine Sea which terminates at Colchis; and then on the north by the Ocean as far as the mouth of the Caspian Sea; and then on the east by this same sea as far as the boundary between Albania and Armenia, where empty the rivers Cyrus and Araxes, the Araxes flowing through Armenia and the Cyrus through Iberia and Albania; and lastly, on the south by the tract of country which extends from the outlet of the Cyrus River to Colchis, which is about three thousand stadia from sea to sea, across the territory of the Albanians and the Iberians, and therefore is described as an isthmus. But those writers who have reduced the width of the isthmus as much as Cleitarchus has, who says that it is subject to inundation from either sea, should not be considered even worthy of mention. Poseidonius states that the isthmus is fifteen hundred stadia across, as wide as the isthmus from Pelusium to the Red Sea. "And in my opinion," he says, "the isthmus from Lake Maeotis to the Ocean does not differ much therefrom."
A citação é grande, porque tem várias informações.
A divisão entre a Ásia e a Europa era considerada compreendendo uma península... e isso só pode ser compreendido através daquilo que seria o Rio Tanais, hoje identificado ao Rio Don. Se entendermos que o mundo manteve sempre o mesmo aspecto nos últimos milhares de anos, e que as diferenças só ocorreram em termos de milhões de anos, o relato dos geógrafos antigos será sempre fantasioso.
Recuperamos um mapa anterior, a propósito da viagem de Jasão

Este mapa é apenas ilustrativo de um nível marítimo superior. Porém, desta forma haveria uma eventual ligação entre o Mar Negro e o Oceano Setentrional, feito através de uma estreita passagem... que seria então denominada Rio Tanais. O progressivo assoreamento fez desaparecer essa passagem, haverá talvez alguma associação entre registos arqueológicos interiores e o curso dessa passagem.
Por outro lado, a célebre Lagoa Meotis tanto se poderia referir inicialmente ao grande lago interno que deveria estar localizado nas planícies húngaras, como poderia depois ser identificado a um grande lago próximo do Mar de Azov (com que é hoje identificado), formado pelo assoreamento e descida das águas.

Estes detalhes são secundários, face à informação suplementar:
- o território dos Albaneses e Iberos era descrito como um istmo!
Este istmo tinha de um lado o Mar Negro e do outro o Mar Cáspio... como o Mar Negro fechou primeiro do que o Cáspio, isto terá parecido estranho.
Aliás Estrabão já duvidava das descrições do tempo de Cleitarco (séc. IV a.C) que falavam de inundações que colocavam os mares Negro e Cáspio em contacto, e porém já vimos que isso seria possível, em tempos anteriores aos romanos, pela subida de águas.

Por outro lado, encontra-se como origem do nome Mar Negro uma profunda mudança nas suas características... ou seja, de um mar vai passar quase a um lago, e esse "negro" foi associado a uma quebra de movimento das suas águas, que passaram a ser entendidas pelos moradores como quase mortas. Dito de outra forma, o fim do rio Tanais terá fechado o Mar Negro a norte, definitivamente...

A semelhança de situações começa a acentuar-se, para além dos nomes serem idênticos no que diz respeito à Iberia hispânica e à Iberia caucasiana, há um novo detalhe, o território era visto como uma península, em que o Cáucaso faria o papel de istmo, como os Pirinéus.

Até que ponto é possível levar mais longe esta confusão toponímica?
Estrabão também se interroga, conforme se transcreve: "unless they call them Iberians, by the same name as the western Iberians, from the gold mines in both countries".
Poderia ter resultado de um mimetismo de designações, conforme sugere a tradição, pela migração de Túbal da região do Cáucaso para a Ibéria, mas também pode ter sido um propositado baralhar de designações, de forma a ocultar o local de origem. Acrescente-se a menção a Cleitarco de Eretria, sendo que o nome Eritheia já foi aqui ligado à mítica ilha na costa ibérica, e confunde-se com a cidade na ilha grega, ao mesmo tempo que também foi decidido colocar na mesma ilha grega uma cidade Calchis ou Cálquida.
Seria como definir que todas as referências a Óbidos e Santarém portuguesas passassem para a bacia do Amazonas. As colonizações têm destes processos mímicos, e isso justifica que qualquer conjectura seja risível, já que haverá semelhanças toponímicas que se explicam inventando uma história noutras paragens, e consolidando essa história com uma academia hierarquicamente colaborante.

Já que Possidónio é citado por Estrabão na afirmação sobre o istmo caucasiano, podemos ser estoicamente possidónios, e avançar numa outra semelhança... entre montes Arménios e montes Hermínios. Curiosamente já falámos aqui de Armínio, também dito Ermínio (e depois Hermann), um líder teutónico romanizado, que depois venceu os Romanos. Não será problema ligar Armínio a Ermínio, já que no processo de alteração tem que ir parar a Hermann, mas já será problema ligar Arménia a Hermínia. No entanto, dadas as diversas semelhanças apontadas, nada impede uma eventual derivação dos montes Hermínios a partir dos Arménios (ou vice-versa).

As teorias étnicas e linguísticas do Séc. XIX foram parar a uma conclusão de uma raiz ancestral, caucasiana, situada nessa península entre os mares Negro e Cáspio. Porém, há outros enquadramentos recentes, com base no DNA, que mostram uma distribuição de um haplogrupo R1b que colocará um foco populacional justamente na zona ibérica, ocidental.
Distribuição do haplogrupo R1b           (Nova imagem em 2013)

Parece haver alguma unanimidade na raiz cultural e genética na zona da Ibéria, resta saber se é a Iberia do Cáucaso, ou a Iberia da Hispânia...

Há ainda uma outra informação de Estrabão que torna as coisas complicadas:
The Greeks would permit none of them to lay hold of the seaboard, but were not strong enough to keep them altogether away from the interior; indeed, to this day the Siceli, the Sicani, the Morgetes, and certain others have continued to live in the island, among whom there used to be Iberians, who, according to Ephorus, were said to be the first barbarian settlers of Sicily.
 ... ou seja, os primeiros povoadores da Sicília teriam sido ibéricos. Julgo que aqui não haverá dúvida sobre qual Iberia estamos a falar - basta aliás notar a semelhança cultural que ainda se manifesta no povoamento das diversas ilhas mediterrânicas... autênticos últimos redutos de tradições passadas.

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publicado às 07:38



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