As razões para a 1ª Grande Guerra são normalmente ligadas ao assassinato do herdeiro do trono Austro-Húngaro, Franz Ferdinand(*) por um nacionalista sérvio, mas a guerra que se iria travar entre a Sérvia e a Áustria, em 28 de Julho de 1914, dificilmente teria consequências globais apenas por isso.
Uns dias depois a Rússia, aliada Sérvia, declara guerra, a que responde a Alemanha, e em menos de uma semana, estão envolvidas a França e a Inglaterra, por alianças declaradas.
Encontrar uma causa ou dizer que se trata de uma soma de vários factores, é só parcialmente informativo.
A ideia de uma causa estruturada, e que basicamente se resume à disputa de hegemonia entre Alemanha e Inglaterra, é mal vista, e até nalguns casos, alargando-se o seu âmbito, passa por "teoria da conspiração". Prefere-se assim algo mais politicamente correcto - distribuir culpas por diversas causas, respeitando as razões dos vencedores fora de um plano hegemónico global de longa data e extensão até ao presente.
No entanto, convém lembrar o nexo estabelecido por Engdahl em "
A Century of War", que neste ponto aponta para o abastecimento petrolífero alemão, pela via férrea Berlim-Istambul-Bagdade.
A via começou a ser construída em 1903, e em 1904 a França e a Inglaterra estabeleciam a Cordiale Entente, como oposição ao crescimento alemão.
Assim, se podemos ver a crise começar na vontade independentista da Sérvia face à Áustria, com a chamada "
Guerra dos Porcos"... um problema de tentativa de independência económica sérvia, apoiada pelos franceses (1906-08), a crise dos Balcãs seria apenas um dos vários pontos de tensão, tal como o foram as
crises marroquinas, pelo apoio alemão à independência de Marrocos face à França.
Desde a vitória de Waterloo, em 1815, a França abdicara de combater a única potência de cariz global - a Inglaterra... mas da reunificação alemã-prussiana surgira outro pretendente a essa hegemonia mundial - a Alemanha de Bismarck, que infligira em 1870 uma pesada derrota à França.
A 1ª Guerra seria o conflito europeu global que sucedia quase 100 anos após o término do outro - levado por Napoleão. A diferença de posições é que a Alemanha que se substituía à França. Do outro lado, estavam ainda a Rússia e a Inglaterra, como aliadas... situação que se vai repetir na 2ª Guerra.
Portanto, o poderio inglês foi desafiado primeiro pela França de Napoleão, e cem anos depois pela Alemanha, em duas guerras mundiais. Ora, desde a Guerra dos Cem Anos que a França era rival de eleição da Inglaterra, e só perdeu esse estatuto com a derrota napoleónica, entrando-se num período de paz relativa, cimentada por vários tratados de partilha das colónias.
No entanto, este equilíbrio do Séc. XIX parecia algo instável, e foi desafiado no Séc. XX, com o renascer de movimentos nacionalistas. O nacionalismo foi sempre visto como a maior ameaça ao imperalismo. O imperialismo é uma conformação à pax imperial, e o nacionalismo é visto como motivação imediata para disputas territoriais, e um constante confronto das nações.
Porém, ou a pax imperial satisfaz as nações, ou estas irão gerar movimentos que a questionarão.
A 1ª Guerra Mundial é ainda a primeira guerra tecnológica, e isso é importante.
Ou seja, de alguma forma poderia ser questionado se um domínio maior da técnica criaria uma vantagem tal que esmagasse os adversários rapidamente. Antes as guerras viviam mais de estratégia com armas algo convencionais.
É na 1ª Guerra Mundial que passam à acção todo o tipo de invenções:
- submarinos, aviões, tanques, guerra química, etc...
Curiosamente, se um lado aparecia com uma invenção, ela nunca era suficientemente decisiva, e o opositor tinha tempo de desenvolver algo semelhante, ou mais eficaz.
O tempo de interlúdio dos anos 1930 foi algo diferente, porque o secretismo nazi permitiu sofisticar o armamento, e aparecer logo em vantagem na Blitzkrieg da 2ª Guerra Mundial.
Assim, a 1ª Guerra Mundial é caracterizada por um estranho equilíbrio, que se saldava num número incontável de mortes, numa frente de batalha que mal mexia. O equilíbrio é tal que os EUA só entram na Guerra em Abril de 1917 para compensar a saída da Rússia em Março de 1917. Uma entrada antecipada dos EUA teria decidido o evento mais rapidamente, quando o afundamento do Lusitania em 1915 teria servido o pretexto, na morte de civis americanos.
Lusitania - afundado por um submarino alemão em 1915
Curiosamente, o Lusitania será ainda usado como pretexto de entrada em guerra pelos EUA, mas com dois anos de atraso...
No uso da guerra química, podemos ver uma característica típica dos beligerantes.
Havia tratados que impediam o uso de armas químicas, na forma de projéctil. A Alemanha para não ser acusada de quebrar o acordo, decide mesmo assim libertar químicos, mas aproveitando os ventos...
A certa altura, quebrada a restrição dos químicos, já se enviavam mesmo os projécteis.
A atitude é muito diferente, porque no lado anglo-saxónico deu-se valor ao espírito da lei, enquanto o lado alemão foi-se à sua letra... isto é recorrente, em várias circunstâncias.
Interessa talvez mais notar que o grande resultado da 1ª Guerra Mundial foi ver que a tecnologia não seria exclusivo de uma parte, e não iria alterar tão dramaticamente o resultado do confronto.
Agora, é claro que após as duas Guerras Mundiais, a paz obtida foi ainda assim intermitente, mantêm-se questões insanáveis, prontas a servir de desculpa para novas aventuras. De um lado, porque não se quer ficar inferior, do outro lado porque não se quer perder a superioridade... e esse medo é o principal rastilho para criar razões de "ataques preventivos".
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(*)... que curiosamente, é também nome de banda.