... e barretes também!
Um dos barretes que não deixa muitas dúvidas de identificação é o barrete frígio:
Ao ter
falado sobre o filme "Nazaré, praia de pescadores", de Leitão de Barros, de 1929, a certa altura não deixei de reparar que ele faz uma observação sobre as silhuetas fenícias. A semelhança pareceu-me estranha, e apenas consegui encontrar uma figura que possa ser enquadrada à época e contexto:
Apesar da expressão "chapéus há muitos..." fazer parte do cinema português da época, não é de nenhum filme de Leitão de Barros, que menciona a silhueta, mas mostra outros chapéus usados pelas mulheres da Nazaré:
Quando olhei para o mercado, com as mulheres usando aqueles trajes, só me pareceu uma cena boliviana. Os chapéus nazarenos parece que entretanto perderam as abas, e esse detalhe que os tornava próximos dos chapéus bolivianos, perdeu-se. Quando existia era demasiado evidente para não ser notado, e até mesmo uma
flor do lado direito pode ser encontrada nalguns chapéus aimaras.
São 4 a 5 as saias (
polleras) usadas na comunidade aimara/quechua, mas o valor de 7 saias, tipicamente falado para as nazarenas, também parece pouco fixo, e mais relacionado com o mar, ou com os 7 mares. A manta também perdeu o colorido, e passou a ser presa pelo chapéu.
As cores vivas perdiam-se facilmente na Nazaré... as fatalidades do contexto, em que o mar era apenas um dos visíveis executores, são ilustradas no filme
Maria do Mar, também de Leitão de Barros, que o filma logo no ano seguinte, 1930.
Leitão de Barros esclarece que a saída para o mar é decidida pelos "entendidos"... a cena do documentário aponta para dois indivíduos (ver figura seguinte, central). Um apresenta um barrete normal, típico da Nazaré, o outro entendido parece enfiar outro tipo de barrete. Remetendo à comunidade aimara/quechua, podemos encontrar barretes com um berloque semelhante ao do pescador. O que pescador ganhou em comprimento, perdeu na cor e nas abas laterais. Já o barrete do entendido da direita... ou é um saco de batatas, ou remete para outro tipo de barretes (à direita, desfile do KKK nos EUA).
Amaro
Sobre os barretes frígios, o seu uso é extenso, remetido a várias épocas e contextos... ser usado em banda desenhada belga, não tem nada de especial, até porque grande parte da banda desenhada de referência parece ter ganho raízes na Bélgica.
Waterloo é na Bélgica, e ali caíram as esperanças napoleónicas, mas o liberalismo despontou. Com Leopoldo I, tio da rainha Vitória, começou a construir-se uma nova Bruxelas, e uma outra ordem mundial,
de que já falámos.
É por aqui que fazemos ligação de escrita a uma outra pequena coincidência, através do liberalista J. Ferreira de Freitas, um dos muitos portugueses que alinharam pelo exército napoleónico, numa senda de um liberalismo europeu.
"
Padre Amaro" foi uma publicação feita por Ferreira de Freitas no exílio londrino.
Quando passado meio século, Eça de Queirós escandaliza com o romance "O
Crime do Padre Amaro", estaria ou não a referir-se implicitamente ao autor do jornal com o mesmo nome que saía de Londres?
Mas, não é pelo Padre Amaro que fazemos uma ligação atlântica, é através de
Santo Amaro, que tal como São Brandão é conhecido por uma hipotética viagem atlântica, em direcção a "paraísos terrestres"... ou seja, provavelmente em direcção às Bahamas. É curiosa a sua referência ao Mar Vermelho... que seria início do Atlântico -
como já vimos noutros casos. Seguindo depois o curso do Sol, ou seja, em direcção ao Poente, Amaro só poderia chegar à América. Esta história, mais ibérica, parece estar ligada a outras referências irlandesas, não só de São Brandão, mas de outras aventuras (
Immram) que também desembarcariam em ilhas paradisíacas.
Porém, o que prenderia os pescadores da Nazaré a terra, perdido o medo do mar? O contexto familiar, certamente, mas também todo o contexto educacional, simbolizado pelos "entendidos". Assim, os pescadores de toda a costa atlântica, mais do que presos pela imensidão do mar, estavam presos a terra pelos laços que circunscreviam a sua acção aos valores herdados e a um pensamento condicionado. Só esses os impediam de progredir na direcção do Sol Poente, onde estavam os paraísos terrestres.
Barreul e Robison
O condicionamento da acção pode ser feito de muitas maneiras, e é mais subtil quando o próprio nem se apercebe que está a ser condicionado. Se isso afecta uns pela consequência, afecta outros pela causa. O predador sabe que tem que comer, mas não sabe o que o obriga a comer. Pode encontrar um nexo, mas não encontra nexo para esse nexo.
Em 1798, o
Abade Barreul, jesuíta, e
John Robison, maçon, publicam textos que alertam para um plano de controlo mundial que se instalava a partir da Maçonaria:
Os textos são longos, e apenas li alguns excertos... que não me motivaram muito a prosseguir.
Procuro gerir o meu tempo não olhando demasiado para informação que não me desperta interesse imediato, e que considero ir parar mais aos detalhes, do que propriamente a matéria auto-suficiente.
Os dois textos são mais do que suficientes para mostrar que a chamada "Teoria da Conspiração" é coisa antiga, com pelo menos 200 anos... e terá certamente mais séculos, e até milénios. Serve tanto de argumento para desvalorizar - dizendo que "sempre houve", como de argumento para valorizar - dizendo que "sempre houve", também... pois isso só significa que a conspiração é antiga.
As posições levam sempre à tentativa de baralhação, onde o argumento num sentido, é usado contra o próprio sentido... ao estilo do judo, onde se procura que a investida do adversário seja usada contra ele.
Por isso, não merece muito relevo enquanto jogo de palavras.
Barreul era jesuíta, e atacava os maçons... por sua vez um maçon escocês denunciava a mesma infiltração Illuminati dentro da Maçonaria. Desde aí, sempre houve acusações de que os jesuítas infiltravam a maçonaria, e de que a maçonaria infiltrava os jesuítas, já para não falar em remeter a culpa para uma terceira entidade - neste caso os Illuminati.
O propósito que constituíam as associações eram sempre os mistérios antigos... no fundo, os segredos milenares, que alguns sabiam que existiam, e poucos saberiam verdadeiramente quais eram. Pior, nem era claro que os que soubessem estivessem seguros de estarem no último degrau da pirâmide, já que a confusão tinha sido de tal ordem que se prestava a todas as confusões.
Provavelmente, o que se leria no último degrau é que não era claro que aquele fosse o último degrau... e se não leram isso é porque não chegaram ao último degrau!
No entanto, o que é claro é que uma biblioteca de conhecimento não é mais do que uma grande cadeia informativa, que transporta registos do passado, tal como uma cadeia de DNA transporta informação genética para a geração seguinte. Como
já mencionei, nessa solução de armazenamento informativo ganham as amebas, e não os humanos!
As amebas podem ter aprendido a manobrar a sua forma notavelmente, podem guardar cristais bipiramidais surpreendentes, mas a sua compreensão do universo reduz-se a um charco de água. Nos seres multicelulares, as células aprenderam a ser dependentes, a confiar, e a merecer confiança, porque todas as células dependiam do sucesso do conjunto. Com essa colaboração emergiu uma percepção do universo de conjunto, superior a cada célula. Todas as células tinham um propósito, uma função, e eram praticamente indispensáveis para o sucesso desse conjunto. A consciência do organismo pôde emergir acima do corpo, mas não deixou de lhe estar completamente ligada, e essa ligação é cobrada até à morte física - esse é um preço devido à lógica individual de cada célula.